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2 Usurpadora de Sangue - A Vila - Loud Chaos
2 Usurpadora de Sangue - A Vila - Loud Chaos
sumário
sumário
aviso
prefácio
prólogo
capítulo 1
capítulo 2
capítulo 3
capítulo 4
capítulo 5
capítulo 6
capítulo 7
capítulo 8
capítulo 9
capítulo 10
capítulo 11
capítulo 12
capítulo 13
capítulo 14
capítulo 15
capítulo 16
capítulo 17
capítulo 18
capítulo 19
capítulo 20
capítulo 21
capítulo 22
capítulo 23
capítulo 24
capítulo 25
capítulo 26
capítulo 27
capítulo 28
capítulo 29
capítulo 30
capítulo 31
capítulo 32
capítulo 33
capítulo 34
capítulo 35
capítulo 36
capítulo 37
capítulo 38
capítulo 39
capítulo 40
capítulo 41
capítulo 42
capítulo 43
capítulo 44
capítulo 45
av i s o
genial
letal
Este livro é sobre a minha jornada com a Usurpadora de
Sangue
Na verdade
terá momentos em que será difícil de passar de página
Acordei suando.
— Sim, Majestade.
— Acha que o Rei Sarkian vai estar lá? — Dessa vez, foi
Willow quem indagou.
E o beijei, pensei.
— Por quê?
Não respondi.
— Claro.
— Eventualmente — completei.
— Parar de quê?
— De ficar gritando.
Passei os olhos pelo resto dos reis presentes, até que não
consegui evitar. Meu olhar pousou em Sarkian.
Minha atenção era completamente sugada por ele. Como em
qualquer cômodo ou situação, podia não ter meus olhos diretamente
nele, podia estar até mesmo de costas para ele, mas tinha total e
plena consciência dele.
— Willow.
— Uhm?
— Rei Sarkian.
— O que que tem? — Ela indagou com a boca cheia.
— No que ele está pensando?
— Os pensamentos dele.
Olhei para Sarkian mais uma vez. Ele tinha um dos cotovelos
apoiados nos braços da cadeira e o queixo descansando na mão
direita. E ainda me fitava.
— Vocês se beijaram.
Merda.
— E você gostou!
MERDA.
— Que rei?!
Sabia que aquela não era uma cena muito agradável para
uma rainha, mas precisava impedi-la. Não queria que Allegra
soubesse, muito menos uma criada aleatória.
Aquele segredo era meu.
Acalme-se.
Eu me levantei. Minhas mãos tremiam, e rezei para que meu
nervosismo não fosse visível.
— Não sei.
— Não sabe?
— Não.
Ela fixou o olhar nele por uma fração de segundo até que
disse:
— Só isso.
— Quer usá-los.
— O quê?
— Tudo bem.
— E uma criada pessoal.
— Como assim?
— Por quê?
— Me parece besteira.
— Não é.
Willow respondeu rápido demais, o que me levou a
questionar:
— Por quê?
As palavras me surpreenderam.
Quis dizer que sentia muito, por mais que eu não entendesse
o sentimento. Mas as palavras não saíram. Suspirei fundo e me
remexi na cama, tentando encontrar uma posição confortável.
Estava definitivamente na hora de dormir. Fechei os olhos e pensei
nos acontecimentos do dia.
Abri os olhos.
— O quê? — indaguei.
— O quê?
— Sombrio.
— Então?
Alguém pisou no meu pé. Ou, pelo menos, foi isso que pensei
até olhar para baixo e ver a ponta de uma bengala. Subi um pouco
meu olhar, e o dono da bengala era uma figura pequena, curvada e
extremamente… velha.
— O quê?
— Ruim de mira?
— Não é o meu ponto forte.
— Facas. Acho.
Eu pisquei, confusa.
Eu sorri.
— Dezenove.
— Sim.
— Então, vá em frente. — Ele fez um breve movimento de
cabeça, e a porta do lado oposto do salão se abriu. — Prove.
Eu me virei.
Ele merecia.
Fiz uma nota mental para descobrir mais sobre aquele rei
mais tarde.
— Parabéns, Majestade.
Eu engoli em seco.
— Qualquer coisa?
Ele soltou uma risada. Um som abafado, rouco e um pouco
desagradável.
— Diamantes.
O silêncio pesou.
O velho se virou.
Era para ser uma pergunta, mas soou muito como uma
acusação.
Mas ele não parecia culpado. Nem mesmo abalado pelo fato
de ter sido pego.
Respirei fundo.
Semicerrei os olhos.
— E se eu o tivesse matado?
— Por quê?
Merda.
Dei mais alguns passos até notar que estava cercada apenas
por árvores e a centenas de metros de distância do palácio.
— Não deixou.
Vá embora.
Mas aconteceu.
Sarkian apareceu diante de mim.
capítulo 6
Agora não era apenas uma guerra entre mim e ele, era uma
guerra entre reinos.
Engoli em seco.
— E o que eu sou?
Um monstro. Uma aberração. Um demônio.
— Um caído.
— É um fato. Eu vi.
Eu senti.
— Lê mentes? — atirei.
— Quem?
— Sua amiga.
Eu congelei.
Ele sabia. Claro que sabia.
Preferi que ele pensasse que esse era o plano. Não fazia
ideia de qual poderia ser a sua reação se soubesse do poder de
Willow.
— Não confio em você.
Sangue negro.
— Ai, meu Deuses... — Ela soprou tão baixo que mal fui
capaz de escutar. — Eu consegui.
E Willow abriu a boca para sussurrar, mas tudo o que saiu foi
um gemido estrangulado.
Eu notei o movimento, mas foi tão rápido que não pude fazer
nada além de assistir. Em um instante, Sarkian estava a mais de
três metros de distância e no outro, estava ao nosso lado.
injusta
sanguinária
e paciente
Willow.
Willow.
Eu caí de joelhos.
E eu queria matá-lo.
Sarkian fez pressão nas minhas costas até que meu rosto
estivesse colado na grama. Ele só aliviou o aperto quando eu estava
completamente deitada, completamente derrotada.
Tudo congelou.
O tempo. O mundo. Ele.
Engoli em seco.
Ele queria me matar.
Mas então…
Eu comecei a correr.
capítulo 8
A pancada foi tão forte que eu quase caí no chão. Mas fui
segurada. Senti dedos ao redor dos meus braços.
Foi tudo o que disse. Por que o que eu mais diria? Que
estava sendo perseguida por uma mulher que se transformava em
uma pantera?
— Sarkian.
— Foi minha culpa. Ele descobriu sobre ela, sobre seu poder.
Ela iria o expor.
— Deuses...
Eu assenti.
— E o que é?
— É — rebati. — É, sim.
— Ótimo.
— Quem é?
Ele virou ao escutar seu nome e fez uma reverência sutil com
a cabeça.
— Majestade.
Pisquei um par de vezes. Ainda estava em choque.
Semicerrei os olhos.
— E o que você quer?
— Ajudá-la.
— Mas o que quer em troca?
— Nada.
Sorri.
— Majestade — corrigi.
— É permanente?
Seu rosto mudou de expressão.
Assenti.
Ele olhou para o nosso pai, então voltou a olhar para mim
com um sorriso fraco no rosto.
— Mas acho que eu seria muito mais útil em…
— Mas eu…
— Está decidido.
— Como assim?
— Nusa, controle-se!
Ele assentiu.
Tão previsível.
Era o que sempre havia desejado. O que sempre havia
buscado.
— O quê?
Ele abriu a boca uma vez. Então, outra. E, por fim, a fechou.
E era verdade.
Mas não.
Era... tomate.
É claro, pensou
ele não tornaria aquilo tão fácil
c a p í t u l o 11
Ainda não o tinha visto, mas sabia que ele estava ali. E sabia
que eventualmente iria encontrá-lo.
Não haveria escapatória.
— No quê?
— Nesta dança. Nunca dancei com uma rainha antes. — Ele
fez uma pausa e, então, desviou o olhar quando suas bochechas
coraram. — Ainda mais com uma tão bonita.
Podia sentir.
— Covarde.
— Assassino — devolvi.
— Hipócrita.
— Tem certeza?
Eu tentei guiar o passo, mas ele resistiu. Isso fez com que eu
tropeçasse. Mas Sarkian segurou firme na base das minhas costas,
me estabilizando e nos fazendo voltar em sincronia.
Ainda assim
antes de soltá-la
ele aproximou o nariz
apenas o suficiente
para sentir o cheiro do cabelo dela
capítulo 12
Dei de ombros.
Eu o encarei.
Eu sorri.
— Rainha Cera.
Virei-me e me surpreendi com o homem à minha frente. Era
tão pequeno que precisei abaixar o olhar para encará-lo. Ele era
ainda mais baixo que Mirvin. E usava uma coroa.
— Obrigada.
Wullfric hesitou.
— O Duque.
— Como sabe?
— Sou um soldado, já lutei o suficiente para reconhecer um
bom lutador.
Taron me fitou.
— Ouviu?
Assenti.
— Sou ok.
— Eu...
Eu pisquei.
Também não era meu lugar dizer a ele o que fazer ou deixar
de fazer.
Arrogante.
Era selvagem.
Eu fiquei impressionada.
Um sorriso atravessou meu rosto.
Foi quando notei que Sarkian ainda não tinha atacado uma
vez sequer. Minutos se passaram, Taron já tinha ido para o chão, e
Sarkian ainda não tinha levantado a espada em ataque uma única
vez.
O tempo pareceu congelar. Cada segundo era uma década.
Eu podia sentir a tensão por toda a arena.
Foi um erro.
Eu sabia disso antes mesmo do choque entre as espadas.
Porque, depois que Sarkian defendeu o golpe, ele começou a de
fato atacar. Taron driblou os primeiros golpes, mas com dificuldade.
Ele começou a recuar. Vinham rápidos demais, imprevisíveis
demais. Sarkian mal colocava força, mas sabia exatamente o
momento de pressionar e avançar.
Era assustador.
Um pesadelo.
— Chega! — O grito quebrou o silêncio da arena. Procurei
pela voz e me deparei com o Rei de Miscam de pé enquanto
encarava o sobrinho-neto com clara revolta e desespero. — Chega!
— Seu bastardo…!
Funcionou.
Engoli em seco.
Silêncio caiu sobre nós mais uma vez. Mas eu não recuaria.
Porque eu não era louca. Eu havia repassado aquele
momento em minha cabeça tantas vezes que chegava a me sentir
repulsiva. Lembrava de cada segundo, cada toque.
Me atormenta.
— Não.
Éramos iguais agora. Eu era uma rainha tanto quanto ele era
um rei.
— Isso é medo?
A frase saiu mais como uma afirmação do que uma pergunta.
— O quê?
de vencer
capítulo 14
Suspirei.
— Em quê?
— Por quê?
— Ele… olha muito para você. E acho que ser o objeto de
tanta atenção de um homem como ele não é uma coisa boa.
Ergui as sobrancelhas.
— Sonha comigo?
— São mais como pesadelos.
— Está bêbado.
— Não, obrigada.
— Não está envenenada, se é isso que a preocupa. — Ele
ergueu uma sobrancelha. — Esse é mais o seu estilo.
Ignorei a provocação.
Durante toda a minha vida, quis ser vista. Quis deixar de ser
invisível e finalmente ser notada. E ali estava eu, odiando a forma
como alguém parecia ter sua completa e indubitável atenção em
mim. Era como se Sarkian conseguisse ver através de mim, como
se eu fosse a única coisa na Terra.
O silêncio pesou.
— É desesperador.
Eu pisquei.
— O quê?
Engoli em seco.
Prendi a respiração.
Fechei os olhos.
Era só ele.
Tanta dor.
— Me solta. — Eu arfei.
— Vamos de novo.
Entrei em posição.
Ataquei de novo.
O som metálico ecoou e, em menos de três segundos, ele
tinha sua lâmina próxima da minha jugular.
— Cinco.
Eu grunhi, jogando a minha espada no chão.
Franzi o cenho.
— O que é, então?
— Quem?
— Seus caídos.
Ele assentiu.
— Shiv Galene.
Levantei-me do trono.
Mais homens foram para cima dela.
— Parem!
A garota podia ser forte, mas, com certeza, não era à prova
de espadas. Mas, ao mesmo tempo, eu estava dividida em proteger
meus soldados. Não sabia a extensão do estrago que Shiv poderia
causar.
Meus Deuses...
Inspirei e me recompus.
— Estamos ouvindo.
— Possivelmente.
Dei de ombros.
— O que desejarem.
— Qualquer coisa?
— Vou fazer o melhor para atender seus desejos. Precisam
ser razoáveis, no entanto.
Assenti.
— Feito.
Ela piscou, meio surpresa, meio emocionada. Aquele tal de
Ragnfred deveria ser importante para ela porque desde que havia
chegado aquela foi a primeira vez que vi sua expressão mudar para
algo que não fosse dureza.
Assenti, satisfeita.
— Eu sou rápido.
Ele assentiu.
Deuses.
— Por quê?
— Eles são... selvagens. Não temos como treiná-los ou...
controlá-los.
— E o seu exército?
— Temos os caídos.
— Eles não estão prontos. Não para esse tipo de combate.
Podem ajudar, mas não na proporção que precisamos.
Eu assenti.
Eu o fitei.
— Como assim?
— Se o atacarmos por onde ele não espera.
— Não posso.
Mirvin voltou a se sentar e me fitou.
— Acho que não é uma boa ideia, Majestade. Ela pode tentar
alguma coisa e…
— Pode ir — interrompi, dessa vez como uma ordem.
— Por quê?
— Não sinto por ter feito o que fiz, mas sinto muito por como
te afetou. Você sempre foi uma boa princesa, bondosa... Nunca tive
intenção de feri-la.
— Vai me matar?
— Para onde?
— Uhm?
Eu provavelmente me arrependeria daquilo no futuro, mas já
havia tomado a minha decisão.
— Porque estou.
— Majestade.
— É uma proposta.
— Eu não imploro.
— Dar um passeio.
Levantei-me e me virei para fitar os soldados que nos
observavam de longe, me esperando. Estava prestes a fazer um
sinal para DeLarosa, mas escutei a sua voz:
— A sós.
Vesper piscou.
— Perdeu a cabeça?!
Eu o fitei.
— É o calor.
Maldito.
— Não consigo.
Meu coração pulou uma batida assim que processei o que ele
tinha dito.
Então, por mais que eu odiasse admitir, até para mim mesma,
algo no meu peito, pequeno, porém pulsante, murchou.
Respire, Cera.
— Não preciso, mas quero — reformulei, na defensiva. — Vai
tornar muito mais fácil.
Eu o fitei.
— O quê?
Ele passou os olhos por todo o meu rosto, como se me
analisasse antes de responder:
— A crueldade.
Pisquei.
— A Rainha Visha não era a sua mãe?
Ele negou com a cabeça.
— Que rumores?
— Criativo.
— Não intencionalmente.
— Pretende usar?
— É difícil?
Mais silêncio.
“Eu vou te destruir, Sarkian. Talvez não agora. Talvez não tão
cedo. Mas eu vou. Eu juro.”
— Três.
Pisquei.
— O quê?
— Nunca.
— Armas?
Balançou mais uma vez.
— Terras?
E, então, de novo.
Ele me fitou por vários segundos sem dizer uma palavra. Por
um momento, seus lábios entreabriram, e eu tive a impressão de
que diria algo, mas não.
Sarkian não respondeu. Virou-se, finalmente tirando o olhar
do meu. Em completo silêncio, ele esticou o braço, alcançando as
frutas grandes e maduras que eu estava olhando há pouco, mas
que estavam altas demais para alcançar. Ele nem precisou ficar na
ponta dos pés para pegá-las, simplesmente esticou o braço direito e
as tinha em mãos. Mas, em vez de comê-las, as estendeu para
mim. Eu ofereci a palma, e sem dizer uma palavra, ele abriu o
punho, as deixando cair sobre a minha mão, sem que nossa pele se
tocasse.
Eu as levei até a boca, o fitando. Confusa, irritada e
fascinada. Mas Sarkian já tinha se virado e pegava frutas em outros
galhos.
Dei um passo à frente, com a intenção de terminar com
aquela negociação que não parecia ir a lugar nenhum, mas, então,
escutei algo.
Por mais que soubesse que não daria tempo, fui até Zoran.
Aquilo durou pelo que pareceu uma eternidade. Mas pode ter
sido apenas alguns segundos.
— Sarkian...
Como?
— Não… consigo.
Meu corpo pesava.
— O Rei Sarkian.
— E vocês aceitam ordens dele?
— Como?
Engoli em seco.
— E o Sarkian?
— Está… bem?
Antes que Vesper pudesse responder, a senhora voltou, mas
agora acompanhada. Sarkian estava ao lado do batente da porta,
tinha os olhos em mim enquanto ela falava alguma coisa em
selkiano.
— Para dor.
Eu o fitei por alguns segundos. O silêncio pesou. E não fui
capaz de segurar a minha língua.
— Por pouco.
Franzi o cenho.
Pisquei devagar.
A imagem de todos aqueles homens caídos, pouco antes de
eu apagar por completo, me veio à mente.
— Precisa descansar.
— Interessante.
— O quê?
— O quê?
Sarkian voltou a me fitar.
Ele riu.
Sarkian literalmente riu. Mas uma risada sem humor algum,
que aos poucos se tornou melancólica, beirando à frustrada e
exausta.
— Por quê?
— De que?
Seus lábios entreabriram e demorou algumas batidas do meu
coração para que ele por fim dissesse:
— De mim
Pisquei.
— Eu não… entendo.
— Como?
— Com a mente... — ele fez uma pausa e encarou a mão
que segurava meu braço sob o couro — e com o toque.
— Sim.
— Já usou em mim?
Ele hesitou.
E, então, me veio.
Acreditei naquilo.
— É diferente.
— Por quê?
— Porque, com você, eu não tenho o mesmo controle. Passei
toda a minha infância e adolescência aprendendo a dominar os
impulsos. Me manter calmo. Manter a pulsação controlada diante de
qualquer situação. E geralmente sou muito bom nisso. Mas desde
que te conheci…
E eu o deixei ir.
Foi então
era na verdade
o Rei da Dor
capítulo 22
Filho e pai.
Assassino e vítima.
— Ei, senhora!
Virei-me.
O homem tremia.
— É muita bondade su…
— Estava explorando.
Touché.
Eu semicerrei os olhos em sua direção.
Como era possível eu querer socá-lo com a mesma
intensidade que queria beijá-lo?
— Ainda não.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— O que falta?
— Quero ir lá fora — respondi. — Ver a neve.
— Nunca viu?
Sarkian me encarou.
— Eles me respeitam.
— Eles têm pavor de você.
Aquilo não pareceu abalá-lo. Nem mesmo pareceu
surpreendê-lo.
Fixamente.
Mas não era. Pelo menos, não para mim. Até ontem, eu
ainda não tinha certeza se ele sentia completa repulsa em me tocar.
E mesmo assim, mesmo aquele tipo mais excêntrico e seco
de elogio, tinha um efeito arrebatador em mim.
Franzi o cenho.
— Seu poder?
Ele assentiu.
— Me ajuda a relaxar, equilibra a minha pulsação.
Basicamente me deixa anestesiado — explicou. — Quando não
estou com você, não preciso usar tanto.
Pisquei.
— Oh.
— Ah — ouvi —, achei você!
Virei-me.
Vesper estava logo atrás de mim. Ele olhou para Sarkian, que
agora o fitava também. O rosto de Vesper ficou sério e ele fez uma
sutil reverência com a cabeça.
Sarkian o encarou com o rosto impassível.
Eu o encarei.
— Ele não gosta de ninguém.
— Uhm?
— Nem um sorrisinho!
Empurrei seu braço para cima com toda a força que tinha, me
livrando de seu aperto. Esse era um golpe de defesa que havia
treinado dezenas de vezes com Bax. Ela se surpreendeu com o
movimento, o que me deu tempo de tirar as costas da parede e me
afastar.
— Você…
Estava surpresa demais para sequer terminar a frase e as
palavras se perderam antes mesmo de saírem.
Despinna era um caído.
Claro.
Mas eu queria.
Eu queria tanto matá-la.
— Me mate — implorou.
Engoli em seco.
E foi quando entendi. Despinna não tinha escolha. Havia tido
um illyrium por Sarkian.
Levantei o olhar.
Sarkian me fitava.
E ele se lembrava.
— Cinco.
Balancei a cabeça.
— Morta? Sim.
— Como?
— Assassinada.
Aquilo me fez hesitar. Quis perguntar por quem, mas o
conhecia o suficiente para entender seus limites. Se empurrasse
demais, Sarkian se fecharia por completo.
— Não entendi.
Rolei os olhos.
— Cala a boca.
Voltei a cortar a carne, mas sua atenção não me deixou.
Sarkian estava parado, apenas me observando.
— Ela te ama.
— O quê?
Voltei a fitá-lo.
— Como posso desejar você.
O prata cintilou.
— E qual é?
— E você não?
— Hum.
Queria vê-lo.
Não fazia ideia de como seria o quarto de Sarkian. Será que
ele havia tomado o quarto do pai como eu havia feito com o antigo
Rei Boran?
Dei de ombros.
— É o seu castelo — argumentei. — A segurança é a sua
responsabilidade.
Franzi o cenho.
— Nada aqui.
— Ótimo.
— Excelente.
— O quê?
— Nada aqui também. — Sarkian se colocou de pé. — Está
segura.
— Mesmo que aquele ataque não tenha nada a ver com ele?
Colocando ambas as mãos nos bolsos, Sarkian assentiu de
novo.
— Jamais.
Dei um passo à frente e ergui levemente a cabeça para fitá-
lo.
— Jamais.
— Não vai.
— Vou.
— Eu aguento — rebati.
— Não entende.
Eu tinha o controle.
Eu tinha controle sobre Sarkian Varant. O Rei das Trevas. O
homem mais poderoso e temido de Khrovil. Era enervante.
Deuses.
Dor.
Eu queria desmaiar.
Deuses.
Eu ia morrer.
Eu queria morrer.
Não sabia quanto tempo aquilo tinha durado, podiam ter sido
segundos ou horas. A sensação foi de décadas.
— Aqui, Majestade.
Ele assentiu.
— Sou. E sabe o que isso te faz?
Ele balançou a cabeça negativamente e me encarou em
expectativa.
— Um príncipe.
Ele pareceu confuso.
— Eu sou um píncipe?!
Assenti.
— Isso é muito legal, sabia? Quer dizer que pode ter todos os
gizes de cera do mundo!
Ele me fitou, sua boca fazendo um pequeno e delicado “O”.
— Quelo vê a mamãe.
— Vai vê-la em breve. Enquanto isso, o que você acha de ver
a sua nova coleção de giz de cera?
Assenti.
Claro.
— Conseguiram prendê-los?
Suspirei de frustração.
— Coloque mais soldados de vigia na cidade, principalmente
à noite. Não quero que isso escale. — Virei-me para ele. — O que
mais sugere que façamos?
— Vão em frente.
— O que é, então?
— Eu te pressionei.
— Talvez devesse.
Ergui o olhar.
— Como conseguiu isso?
— Uma nymeria.
Eu o fitei, incrédula.
— Achei que nymerias fossem lendas.
— E funciona mesmo?
Ele demorou um par de batidas do meu coração para
responder.
Assenti.
E a destranquei.
Quem eu queria enganar?
Esperei.
— Ah.
Ele arrastou a boca pela minha pele até chegar nos meus
lábios.
— Tem certeza? — perguntou contra a minha boca.
Da dor.
Fechei os olhos com força, tentando afastá-la.
— Tudo bem.
— Junte os braços acima da cabeça.
Arfei.
Deuses...
Contorci-me.
— É ainda melhor.
Ela assentiu.
Eu sorri.
— Nem eu.
Eu sorri.
— Nos abraçar?
— Que seja. Ainda assim, não acho que isso seja uma boa
ideia.
Hesitei.
Vesper riu.
— Você é uma garota inteligente demais para dizer algo tão
estúpido.
Eu suspirei fundo.
— Jamais.
Estavam todos à postos quando deixei o portão do palácio.
De um lado, meu extenso exército de homens em vermelho e
armaduras pratas. Do outro, um cobertor de homens de máscaras e
trajes negros.
Começamos a viagem.
Não quis soar magoada quando falei, então meu tom saiu
mais autoritário e rancoroso do que eu pretendia.
— O que é isso?
— Uma armadura.
Pisquei.
— Já tenho uma.
Deuses.
Eu precisava me controlar.
Deu um passo para trás e me analisou por um instante, sério.
— Perfeita — murmurou.
Achava que eu tinha corado.
— É álpago.
— Obrigada.
— Eu…
A pantera.
É claro.
Ela se transformava em animais. Qualquer animal.
Na hora, me veio em mente o corvo na minha sacada. Aquele
corvo que parecia estar sempre ali, por mais que em Umbra fosse
um animal raríssimo.
Era ela.
— Eles souberam do ataque. — Ela anunciou, fitando
Sarkian. Notei que não tentava se cobrir, parecia extremamente
confortável com sua nudez.
Assenti.
Não ter o elemento de surpresa era ruim para nós, mas o que
Wullfric estava fazendo era burrice. Ir nos encontrar no meio do
caminho definitivamente não era a melhor ideia. Se ficasse na
cidade e fechasse os portões, pelo menos, teria a proteção dos
muros em sua vantagem.
— Já que não vamos pegá-los de surpresa, é melhor
esperarmos aqui. Nos estabelecermos no local. — Eu disse. —
Deixe que venham até nós.
capítulo 29
— Por quê?
O tempo parou.
se apaixonou
Esteja vivo.
Merda.
Deixe que lutem por você. Deixe que morram por você.
— Tenho um plano!
Bati os calcanhares na barriga de Zoran e avancei, cruzando
o exército. Eu o ouvi gritar atrás de mim, mas não parei. Não parei
até conseguir avistar Rooke, Brasa e Kit.
— Rooke!
— O quê?!
— Derrube a ponte!
Mas era tarde demais. Brasa não reagia. Em seus braços, ele
era um monte de membros sem vida. Seu irmão o chacoalhou,
gritou, chamou seu nome... Porém nada aconteceu.
Ao meu lado, Rooke começou a tremer. Sua feição mudou.
Havia lágrimas em seus olhos ao fitar Brasa e Kit.
Ele chegou a olhar para mim, mas não havia nada em sua
íris. Rooke parecia anestesiado. Piscou um par de vezes e, então,
foi em direção ao Kit e seu irmão. Perdi os três de vista conforme a
luta à minha volta se intensificava.
Por mais que não estivesse chegando mais homens do
exército inimigo, ainda havia os milhares de homens que
permaneciam lutando ao nosso redor.
Um soldado veio em minha direção depois de decapitar um
dos meus homens. Era enorme, não usava um escudo. Em uma das
mãos, tinha uma espada e na outra, um machado. Seus olhos
brilharam ao me ver, claramente faminto para matar a rainha do
reino inimigo.
Eu fechei os olhos.
Abri os olhos.
DeLarosa tinha fincado sua espada no tronco do soldado.
Mas eu vi.
Não...
Não!
O alívio que correu por meu corpo foi tanto que, por um
instante, achei que meus joelhos fossem ceder. A adrenalina e o
medo que me mantinham de pé simplesmente abandonaram o meu
corpo.
Então, começou.
— Cera.
Escutei meu nome.
Assenti devagar.
Ele me observou por mais um momento, até que um som alto
nos fez desviar. Passamos os olhos pelo campo de guerra.
Soldados corriam na direção oposta, alguns a pé e alguns — mais
sortudos — em suas montarias.
Ele se virou.
Recompondo-me, me virei.
— Cadê o Vesper?! — indaguei aos soldados que me
fitavam.
Eles trocaram um olhar e apenas balançaram a cabeça, sem
saber o que responder.
Engoli em seco, analisando em volta.
Você não, Vesper...
Uma mão.
— Cera.
Ergui a cabeça, ainda de joelhos.
Completamente vivo.
Um palavrão escapou da minha boca conforme eu me ergui o
mais rápido que consegui e avancei em sua direção. Alívio
atravessou meu corpo, deixando meus membros dormentes.
— Nossa, isso é tudo saudade? — Ele indagou quando eu
coloquei meus braços ao seu redor. — A gente se viu não tem mais
de algumas hor...
— Com o quê?
Então, decidi.
Apenas um aviso.
Sarkian não estava lá. Pelo menos, não ainda. Ele não
costumava chegar cedo em eventos como aquele. Provavelmente,
seria o último a aparecer.
— Por quê?
Sorri.
— É um prazer conhecê-lo.
Tentei não olhar, mas falhei. Meus olhos voltaram até Sarkian
e a garota.
Estavam em mim.
— É claro. — O príncipe falou e, então, fez uma pequena
pausa. — Se me permite dizer, é ainda mais bonita ao vivo do que
dizem.
— Obrigada.
— É realmente trágico.
— O quê?
Engoli em seco.
— O quê?
— Por quê?
um aviso
capítulo 33
— Não acho que seja uma boa ideia — disse Mirvin, assim
que a carruagem negra parou na frente do palácio, à minha espera.
— Por quê?
— É aqui?
— Entrem.
Fiz o que pediu, ficando diante dela. Sarkian ficou de pé, logo
atrás de mim.
Assentiu.
— Eu achei que…
Engoli em seco.
— Como assim?
Muito poderosa.
— Sou uma nymeria, sei das coisas. Sei sobre elas antes
mesmo de acontecerem.
Remexi-me na cadeira.
— O que mais precisa fazer? — indaguei, fitando o anel
ensanguentado no centro da mesa.
— Acabou?
Protegê-la dele.
Coloquei o anel no dedo anelar da mão direita.
Hesitei.
— Não — respondi.
— Tem certeza?
— Tire a roupa.
Foi a única coisa que disse. Sem sorriso, sem hesitação. E
sem qualquer resquício de sugestão na voz.
O ar pesou. Eu não me movi. Na verdade, congelei.
E ele esperou.
Inspirei fundo.
Fechei os olhos.
Estremeci.
Era impressionante.
Senti meu rosto esquentar.
— Sarkian... — pedi.
— Sarkian.
— Sarkian...! — rosnei.
— Implore — soprou.
E, claro, fome.
Seus olhos desceram pelo meu peito até o lugar em que nós
nos encaixávamos. Ele agarrou meus quadris. Mas eu me mantive
firme, não me movi. Coloquei as minhas mãos em seu peitoral e me
inclinei, aproximando o rosto do seu ouvido.
— Implore — soprei.
— Por favor.
Sorri de volta.
— Cera.
— Minha.
Assim que acordei, notei seu olhar sobre mim. Sarkian estava
de barriga para cima, com o rosto virado para o lado, em minha
direção. Eu tinha a cabeça apoiada em seu braço esticado.
— Como?
— Eu cochilei.
Semicerrei os olhos.
— Você ronca.
— Mentira.
— Na minha boca.
Sorri internamente.
Terrivelmente belo.
Uma sobrancelha lentamente se ergueu, em uma expressão
beirando a desafiadora.
— Fique de quatro.
Hesitei apenas por um segundo antes de apoiar meus joelhos
e palmas no colchão, de costas para ele. Minha respiração era
entrecortada e meu coração batia em antecipação.
Deuses.
Eu movi meus quadris descaradamente. Desesperada.
Empurrei em sua direção, buscando.
— Sarkian... — soprei.
Gemi em resposta.
E ele continuou o movimento.
Engoli em seco.
Gemi.
— Sim. — engasguei.
— De você.
— O suficiente.
— E você?
Franzi o cenho.
— Amaldiçoados como?
— Amor eterno.
Franzi o cenho.
Sarkian assentiu.
Voltei a fitá-lo.
— Como assim?
Batia meus dedos sobre a mesa de madeira maciça. A ponta
das minhas unhas fazendo barulho conforme se chocavam com a
superfície.
— Que rumores?
Eu sabia.
Porque foi assim que tudo havia começado. Foi assim que a
exterminação deles havia se iniciado. Eles eram abençoados na
visão dos humanos, tão poderosos que a maioria eram reis e
rainhas, mas nem todos souberam dosar seus poderes. Alguns
tornaram-se tiranos. Um caído por si só já era poderoso, mas um
caído rei era praticamente invencível. A revolução ocorreu depois de
muitos humanos terem sido abusados e assassinados por eles. O
jogo virou quando os homens viram que eram maioria e que caso se
juntassem, tinham chances.
Depois da revolução, nenhum caído jamais havia se tornado
rei outra vez.
— Está apaixonada?
— Praticamente.
— A qualquer momento?
— Sim. Mas precisa ter um espaço de tempo.
— Por quê?
— Por quê?
Assenti.
Claro.
— O que aconteceu?
O homem sem ferimento se pronunciou. Era um soldado
meu, de cabelos loiros que chegavam aos ombros.
— Isso é verdade?
— Por quê?
Engoli em seco.
Deuses.
— O que há de errado?
— Não é o quê?
O silêncio pesou.
Tudo em meu corpo dizia para jogar meus braços a sua volta
e deixar que me consumisse. Deixar que me arruinasse.
O entendimento cruel.
Farren.
Insignificante.
Eu não havia chegado até ali para colocar tudo na linha por
um sentimento nebuloso.
Não arriscaria meu reinado por um homem. Mesmo que fosse
um homem que eu amava ardentemente.
Mas continuei:
— Somos rei e rainha, Sarkian. Não escolhemos com quem
ficamos e não vivemos felizes para sempre.
Sim.
— Sim.
— É um tanto jovem para ser encarregado de seu próprio
pelotão.
Ele não respondeu, visto que nem era uma pergunta, mas
pareceu desconfortável. Seu olhar desviou por um momento para o
chão.
— Me informei sobre você. Entrou para o exército aos
dezesseis. Lutou em quatro batalhas, contando com a de Niverville.
Na segunda, em Ralsgrove, salvou mais de cinquenta homens de
caírem em uma armadilha. Foi premiado e ficou encarregado do
pelotão 9. Tinha vinte e um anos na época. — Cruzei os dedos das
mãos em meu colo e ergui o cenho em sua direção. — É um tanto
impressionante.
Ela piscou.
— Que olhar?
— Eu sou uma…
Ela não completou a frase.
Pisquei.
— Há algumas horas.
tomando almas
e tornando aquele
— Tem provas?
— Ele foi pessoalmente até a vila, Majestade. Matou a maior
parte dos homens com a própria espada.
Quão ingênua foi por pensar, sequer por um instante, que ele
poderia ser diferente?
Não importava.
— As pessoas não só vão querer vingança depois disso —
Mirvin disse —, como vão precisar.
Mas continuei.
— É — rebati. — É, sim.
Assenti.
Inspirei fundo e dei o sinal ao Kit.
Ele assentiu.
— Muitos homens já estão em formação.
Coragem, Cera.
Joguei-me na escuridão.
Respire, Cera.
Tentei racionalizar.
— Se entregue.
Verdade.
Ele era.
Assenti.
Pisquei.
— O quê?
— No campo.
Sorri diante da ideia ridícula.
— É arriscado demais.
— Sei me defender — rebati. — Sei lutar.
— No que?
Eu queria tudo.
como o dia
apunhalou
o próprio coração
capítulo 41
— Você!
Ter Vitrah do meu lado seria muito útil. Seu poder era
inacreditável, mas a sua lealdade era muito grande. Eu sabia o quão
improvável era aquela chance.
— Levem-na.
Fechei os olhos.
Eu tinha pesadelos.
E eram sempre iguais.
Eu voltava para aquela noite.
Para seus olhos prata me fitando ao sentir a minha faca
atravessando. Seu belo rosto se contorcendo em surpresa. Então, a
descrença. E depois, por fim, a mágoa.
— Entre.
— Quem?
— Não sei. Mas alguém de dentro, Majestade. — Matteo
engoliu em seco. — Alguém de sua confiança.
Alguém de confiança.
Eu não conseguia pensar em muitos. Na verdade, as
pessoas que eu podia considerar não completavam uma mão.
— Espere.
— Não.
Sangue vermelho.
Hesitei, surpresa.
Vulnerável.
Fraca.
Patética.
— Sabe — disse, quebrando o silêncio —, ele quase não
pergunta mais sobre você.
essa história
sempre foi
sobre a vilã
capítulo 43
— Majestade, eu…
— Não foi uma sugestão, general — interrompi, com a voz
cortante.
Se o povo não estava cedendo pelo jeito fácil, teria que ser
pelo difícil. Estava cansada de tentar conquistar seu respeito. Se
não podia ter o respeito, ficaria satisfeita com o medo.
Inventou desculpas
palavras vazias
Então
o traidor implorou
pediu perdão
Menos perdão
capítulo 44
A lâmina desceu.
Pânico.
Medo.
Arrependimento.
E eu finalmente me sentei.
Pouco depois de mandar chamá-los, Mirvin, Vesper, Allegra e
Matteo entraram na sala.
Ergui o cenho.
— Sucessão?
Um filho.
Fique comigo.
Reine ao meu lado.
— Não precisa fazer isso. Ele pode ser seu rei consorte.
Balancei a cabeça em negativa.
— Sem Rei.
Engoli em seco.
— Tudo bem, mas não pretendo fazer isso tão cedo —
anunciei. — E tenho Malakay. Por enquanto, ele é o meu herdeiro.
A única coisa que ouvi naquela frase foi “enquanto ele estiver
vivo”.
As palavras se repetiram em minha cabeça.
Desviei o olhar para uma das enormes janelas da sala de
reuniões.
Era Vesper.
Não cheguei a fitá-lo. Sabia o que iria encontrar em sua
expressão: choque, decepção, medo.
— Estão dispensados.
Virei-me e saí. O barulho dos meus saltos batendo no chão
de mármore era o único som que ecoava pelo ambiente.
Ao seu lado
Mirvin falou
Ela o fitou
confusa
O quê?
Sangue
capítulo 45
Suspirei fundo.
— Nada interessantes.
Mesmo sem ser capaz de ver seu rosto por completo, era
claro que, dos três, era de fato o mais atraente. Mas era novo
demais, não tinha nem completado dezenove anos.
— Não estou escolhendo o pai do meu herdeiro pela beleza,
Vesper.
Já tinha conversado com ele mais cedo e tive que lutar contra
a vontade de bocejar.
— Olá.
— Está se divertindo?
— Claro. Está tudo impecável — elogiou.
— Que bom.
Ele sorriu.
— Ah, sim. Isso mesmo.
Próximo demais.
Uma sensação estranha se apossou do meu corpo.
Não.
Os gritos se iniciaram.
E os homens atacaram.
Era um pesadelo.
Só podia ser.
Eu o havia matado.
Não!
Não.
Vesper caiu.
Um grito estrangulado deixou a minha garganta.
E eu desabei.
e o Rei da Dor
dançaram