You are on page 1of 6
E.H.CARR VINTE ANOS DE CRISE 1919 - 1939 Colegio CrAsstcos IPRI Tocioiwes “Hitiria da Guerra do Peloponeso” Preficio: Hélio Jaguaribe ELH. Carr, "Vinte Anos de Crise 1919-1939. Uma Introdu- sao 20 Estudo das Relais Internacionais” Preficio: Eiiti Sato J.-M Keynes "As Conseguéncias Econdmicas da Pag” Preficio: Marcelo de Paiva Abreu Raywonp ARON “Paz e Guerra entre as Nogées” Preficio: Antonio Paim Maquaver “Exuritos Selecionados” Preficio e organizagio: José Augusto Guilhon Albuquerque HucoGromus “O Direito da Guerra e da Pag” Prefacio: Celso Lafer Atpas De TocqueviLLE “Exoritos Selecionados” Organizagio ¢ preficio: Ricardo Velez Rodrgues ‘Hans Morcenraau ‘A Politica entre as Nagées” Preficio: Ronaldo M. Sardenberg Inaganven Kant ‘Esertos Politicas" Preficio: Raimundo Faoro Sanvet. PUFENDORF “Do Direito Natural e das Gentes” Preficio: Tércio Sampaio Ferraz Jinior Cant. von Crausewrrz, "Da Guerra” Preficio: Domicio Proensa G.WF Hece. “Tests Selecionados” Organizagio e preficio: Franklin Trein Jean-Jacques Rousseau ‘Texios Selecionados” Organizacio e preficio: Gelson Fonseca Jr. NORMAN ANGELL ‘A Grande Vusaa” Preficio: Carlos Henrique Cardim THomas More “Unopia” Preficio: Joio Almino “Conselbos Diplométicos” ‘Varios autores Organizacio e preficio: Luiz Felipe de Seixas Cortéa Enteric De VATTEL “O Direito das Gentes” Traducio e preficio: Vicente Marotta Rangel THonas Honpes ‘Textos Selecionados” Organizacio ¢ preficio: Renato Janine Ribeiro “Apsé be SaINT PIERRE “Prajeto para wma Pax Perpetua para a Enrgpa” SaINT SIMON “Reorgenizapao da Sociedade Européi Organizagio € prefacio: Ricardo Seitenfuss Hepury Bu. ‘A Sociedade Anérguica” Preficio: Willians Goncalves Francisco Virona “De Indi et De Jure Bell” Preficio: Fernando Augusto Albuquerque Moutio Copyright © 1939, 1946 by Edward Hallett Carr Copyright © 1981 by Editora Universidade de Brasilia pela traduco Titulo original: The Twenty Years Crisis. 1919-1939. An Introduction to the ‘Study of International Relations. Publicado originalmente em 1939 pela Macmillam & Co. Ltd., London, and St. Martin's Press Inc. New York. Direitos © desta edigao: Editora Universidade de Brasilia SCS Q. 02 bloco C n°. 78, 2°. andar 70300-500 Brasilia, DF AA presente edigao foi feita em forma cooperativa da Editora Universidade de Brasilia com © Instituto de Pesquisa de Relagdes Internacionais (IPRUFUNAG) e a Imprensa Oficial do Estado de So Paulo. Todos os direitos reservados conforme a lei. Nenhuma parte desta publicago poderd ser armazenada ou reproduzida por qualquer meio sem autorizag3o por escrito da Editora Universidade de Brasilia. Equipe técnica: Enrri Sato (Planejamento editorial); Euctnta Dé Cart DE ALMEIDA (Edicao gréfi- ca); RAINALDO AMANCIO E SILva (Programagio visual) Impressto e acabamento: Quick Prov L1Da_ Carr, Edward Hallett, 1892-1982 c3ilt ‘Vinte Anos de Crise: 1919-1939. Uma Introdugao ao Estudo das Relagdes Internacionais. Trad. Luiz Alberto Figueiredo Machado. Brasilia, Editora Universidade de Brasilia, Instituto de Pesquisa de Relacoes Internacionais, Imprensa Oficial do Estado de Sao Paulo. 2, edigao setembro, 2001. xxviii, 305 p.,23 em —(Clssicos IPRI, 1) Titulo original: The Twenty Years Crisis, 1919-1939. An Introduction to the Study of International Relations. ISBN: 85-230-0635-4 1 Politica Internacional; 2 — Relagdes Internacionais; I. Titulo. I. Série. CDU-327 Capituto I O COMECGO DE UMA CIENCIA A ciENcIA da politica internacional esté em sua infancia. Até 1914, a condugao das relagdes internacionais era preocupacao das pes- soas profissionalmente engajadas nela. Nos paises democrati- cos, a politica internacional sempre foi vista como fora do cam- po de aco dos partidos politicos; ¢ os érgios parlamentares nao se sentiam competentes para exercitarem um controle cuidado- so sobre as misteriosas operagdes das chancelarias. Na Gra- Bretanha, a opiniao publica prontamente levantava-se se ocor- resse uma guerra em qualquer regifo tradicionalmente vista como dentro da esfera do interesse britanico, ou se a esquadra inglesa momentaneamente deixasse de possuir aquela margem de supe- rioridade sobre possiveis rivais que fosse, entéo, considerada essencial. Na Europa continental, o alistamento militar e o medo crénico de invasao estrangeira haviam criado uma conscientizaco popular dos problemas internacionais mais am- pla ¢ continua. Mas esta conscientizacio encontrou expresso ptincipalmente no movimento operdrio que, de tempos em tem- pos, publicava resolugdes um tanto académicas contra a guerra. A Constituigao dos Estados Unidos da América continha a rara prescricdo de que tratados deveriam ser concluidos “pelo Presi- dente, com o conselho e consentimento do Senado”. Entretan- to, as relagdes exteriores dos Estados Unidos pareciam muito paroquiais para conferirem algum significado maior a esta exce- Gio. Os aspectos mais pitorescos da diplomacia possuiam certo valor como noticia. Mas em lugar algum, seja em universidades ou em circulos intelectuais mais amplos, havia qualquer estudo 4 E. H. Carr organizado das questées internacionais correntes. A guerra ain- da era vista principalmente como negécio de soldados e o corolario disto era que a politica internacional era um negécio de diplomatas. Nao havia um desejo geral de retirar a condugio dos assuntos internacionais das mos dos profissionais, nem mesmo de prestar atengao séria € sistemética a0 que eles esta- vam fazendo. A guerra de 1914-18 pés um fim na opiniao de que a guerra € um assunto que afeta unicamente soldados profissionais e, fa- zendo isto, dissipou a impressio correspondente de que a politi- ca internacional podia ser deixada com seguranga nas mos dos diplomatas profissionais. A campanha pela popularizacao da po- litica internacional comegou, nos paises de lingua inglesa, sob a forma de uma agitagio contra tratados secretos, que foram ata- cados, sem provas suficientes, como uma das causas da guerra. A culpa pelos tratados secretos deveria ter sido imputada, nio a imoralidade dos governos, mas 4 indiferenga dos povos. Todos sabiam que tais tratados eram celebrados. Mas, antes da guerra de 1914, poucas pessoas sentiam alguma curiosidade acerca de- les ou os achava condendveis'. A agitacao contra eles foi, con- tudo, um fato de imensa importancia. Foi o primeiro sintoma da demanda pela popularizacao da politica internacional, e anun- ciou 0 nascimento de uma nova ciéncia. OsjETIVO E_ANALISE EM CIENCIA PoLitIcA A ciéncia da politica internacional, portanto, surgiu em resposta a uma demanda popular. Foi criada para servir a um objetivo e, neste ponto, seguiu o padrao de outras ciéncias. A primeira vis- * Um recente historiador da Alianga Franco-Russa, tendo registrado 0 protesto de uns poucos radicais franceses contra o segredo que envolvia a transagao, continua: “Parlamento ¢ opinio publica toleraram este completo siléncio, e contentaram-se em permanecer em absoluta ignorancia acerca das determinacdes ¢ alcance do acordo” (Michon, L’Alliance Franco-Rusie, pig. 75). Em 1898, na Cimara dos Deputados, Hanotaux foi aplaudido por declarar ser a revelagzo dos seus termos “absolutamente impossive!” (idem, pig, 82) O Comego de uma ciéncia 5 ta, este padrao pode parecer ilégico. Nosso primeiro trabalho € coletar, classificar e analisar os fatos, e deles tirar nossas inferéncias; e estaremos, desse modo, prontos a investigar o objetivo 2 que nossos fatos ¢ dedugées podem ser relacionados Os processos da mente humana, contudo, nio parecem desen- volver-se nesta ordem légica. A mente humana trabalha, por as- sim dizer, na ordem inversa. O objetivo, que seguiria logicamente a anilise, € necessario para dar-lhe o impulso € direcao iniciais. “Se a sociedade tem uma necessidade técnica”, escreveu Engels, “isto serve como impulso maior a0 progresso da ciéncia do que dez universidades”?. O mais antigo livro didatico de geometria existente “ensina um conjunto de regras praticas destinadas a resolver problemas concretos: regra para medir um pomar circu- lar; regra para projetar um campo; cémputo da rago consumida por gansos e gado”?. A razio, diz Kant, deve pesquisar a nature- za “no... como um aluno, que presta atencao a tudo o que seu mestre decidir contar-Ihe, mas como um juiz, que obriga a teste- munha a responder-lhe todas as perguntas que ele mesmo ache apropriadas a seu fim”*. “Nao podemos estudar nem mesmo es- trelas, rochas ou atomos”, escreve um socidlogo moderno, “sem estarmos de alguma forma condicionados pelos interesses hu- manos diretos, seja em nossas formas de sistematizacao, na proe- minéncia dada a uma ou outra parte do nosso assunto, ou na forma das perguntas que fazemos e tentamos responder”. Eo objetivo de dar satide que cria a ciéncia médica, e 0 objetivo de construir pontes que cria a ciéncia da engenharia. O desejo de curar as doengas do corpo politico deu impulso e inspiracio 4 ciéncia politica, Objetivo, estejamos cénscios disto ou nao, é uma condi¢io para opensamento; € pensar pelo prazer de pensar é t3o anormal quanto a acumulacio de dinheiro feita pelo usu- 2 Apud Sydney Hook, Towards the Understanding of Karl Marx, pig. 279. 2 J. Rueff, From she Physical to the Sacial Sciences (trad. ing.) pag, 27. “Kant, Critigue of Pure Reason (ed. Everyman), pig. 11 5 Maclver, Community, pag. 56.

You might also like