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Tribunal Regional Federal da 1° Regido PJe - Processo Judicial Eletrénico Numero: 1032349-05.2022.4.01.0000 Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO Orgo julgador colegiado: 5* Turma Orgao julgador: Gab. 13 - DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE Uttima distribuigao : 12/09/2022 Valor da causa: R$ 739.278,96 Proceso referéncia: 1051579-18.2022.4.01.3400 Assuntos: Flies Segredo de justiga? NAO. Justiga gratuita? SIM Pedido de liminar ou antecipagao de tutela? SIM 15/09/2022. Partes: Procurador/Tercelro vinculado |ANA BEATRIZ DE OLIVEIRA SANTOS (AGRAVANTE) IMARIANA COSTA (ADVOGADO) FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUGACAO (AGRAVADO) JUNIAO FEDERAL (AGRAVADO) ICAIXA ECONOMICA FEDERAL - CEF (AGRAVADO) TPAC INSTITUTO TOCANTINENSE PRESIDENTE ANTONIO CARLOS S.A (AGRAVADO) Documentos i. Datada __|Documento Tipo Assinatura 125994] 1310912022 12:08 [Decisao Deciséo 3522 AGRAVO DE INSTRUMENTO (202) 1032349-05.2022.4.01.0000 Processo de origem: 1051579-18.2022.4.01.3400, RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE AGRAVANTE: ANA BEATRIZ DE OLIVEIRA SANTOS Advogado do(a) AGRAVANTE: MARIANA COSTA - GO50426-A AGRAVADO: FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCACAQ, UNIAO FEDERAL, CAIXA ECONOMICA FEDERAL - CEF, ITPAC INSTITUTO TOCANTINENSE. PRESIDENTE ANTONIO CARLOS S.A DECISAO Cuida-se de agravo de instrumento interposto contra decisao proferida pelo julzo da 21* Vara Federal da Segao Judiciaria do Distrito Federal, nos autos da agao ajuizada por ANA BEATRIZ DE OLIVEIRA SANTOS contra a Unido Federal, a Caixa Econémica Federal e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educagao — FNDE, em que se busca a concessao de provimento judicial, no sentido de que seja assegurado a suplicante o direito ao financiamento estudantil, com recursos do Fundo de Financiamento Estudantil — FIES, independentemente das restrigdes impostas pelo Ministério da Educagdo, no ponto em que inibem a participagéo de estudantes no aludido Programa, segundo a nota por eles obtida no Exame Nacional de Cursos - ENEM. © juizo monocratico indeferiu 0 pedido de antecipagao da tutela formulado nos aludidos autos, nestes termos: Trata-se de agao de procedimento comum ajuizada com o objetivo de, em sede de tutela de urgéncia, ver determinado a parte demandada que "proceda 4 matricula do aluno no programa de financiamento estudantil — FIES", Alega, em sintese, que apesar de cumprir os requisitos necessérios para inscrigao no processo seletivo, sendo eles: nota minima de 450 pontos no ENEM, nota na prova de redagao superior a 0 (zero) e renda familiar mensal bruta per capita de até 03 (trés) salérios minimos, nao consegue classificagao dentro do ntimero de vagas ofertadas para o curso requerido, em razéo da regra que impée uma nota de corte elevada, baseada na média aritmética das notas obtidas nas provas do ENEM, em cuja edigéo 0 candidato tenha obtido a maior média. Com a inicial, vieram documentos. Eo relat6rio. Decido. A antecipagao dos efeitos da tutela jurisdicional pretendida, em face de sua natureza eminentemente mandamental, impée, para a sua concessao, a demonstracao concomitante de elementos que evidenciem a probabilidade -Assinadoosronicamente por ANTONIO OF SOUZA PRUDENTE - 1319/2022 1209.07 Num. 259943522 - Pag. 4 do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado util do proceso (art. 300, do CPC). Mas da andlise dos fundamentos esposados pela parte autora, em um juizo de cogni¢ao suméria a que estou adstrito neste momento, nao vislumbro a presenga dos requisitos necessarios a autorizar a concessao da pretendida tutela de urgéncia 0 objetivo do FIES esta determinado no art. 1° da Lei n° 10.260/2001, com a redagao dada pela Lei 12.513/2011, que assim preconiza: Art. 1° E instituido, nos termos desta Lei, 0 Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), de natureza contabil, destinado a concesséo de financiamento a estudantes regularmente matriculados em cursos superiores néo gratuitos @ com avaliagao positiva nos processos conduzidos pelo Ministério da Educagao, de acordo com regulamentagao prépria §1° 0 financiamento de que trata 0 caput podera beneficiar estudantes matriculados em cursos da educagao profissional e tecnolégica, bem como em programas de mestrado e doutorado com avaliagao positiva, desde que haja disponibilidade de recursos. E, quanto a gestéo, a mesma Lei determina no art. 3° o seguinte: Art. 3° A gestéo do FIES cabera: 1- a0 Ministério da Educagao, na qualidade de: a) formulador da politica de oferta de vagas e de selegao de estudantes, nos termos do que for aprovado pelo CG-Fies; b) supervisor do cumprimento das normas do programa; ¢) administrador dos ativos @ passivos do Fies, podendo esta atribuigao ser delegada ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educagao (FNDE); 11 - a instituigao financeira publica federal, contratada na qualidade de agente operador, na forma a ser regulamentada pelo Ministério da Educagao; Ill - a0 Comité Gestor do Fundo de Financiamento Estudantil (CG-Fies), que teré sua composigdo, sua estrutura e sua competéncia instituidas e regulamentadas por decreto, na qualidade de: a) formulador da politica de oferta de financiamento) supervisor da execugéo das operagdes do Fies sob coordenagao do Ministério da Educagao. § 1° O Ministério da Educagao, nos termos do que for aprovado pelo CG- Fies, editar regulamento sobre: 1 - as regras de selegao de estudantes a serem financiados, devendo ser -Assinadoeeronicament por ANTONIO OF SOUZA PRUDENTE - 131092022 12.09.07 Num, 259943522 - Pag. 2 considerados a renda familiar per capita © outros requisites, e as regras de oferta de vagas; - nosso destaque Assim, a Lei autorizou ao MEC estabelecer e editar as regras de selegao para 0 financiamento pelo FIES. Além disso, nos termos do art. 1°, § 6°, da Lei 10.260/2001, com redagao dada pela Lei 13.530/2017, 0 Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), tem natureza contabil e carater social, sendo destinado a concessao de financiamento a estudantes de cursos superiores ndo gratuitos e com avaliacéo positiva nos processos conduzidos pelo Ministério, de acordo com regulamentagéo propria. A autora se insurge contra as regras e procedimentos estabelecidos para a concesséo do FIES na Portaria MEC n° 209, de 07/03/2018, em especial, quanto ao critério de classificagdo de acordo com a nota de corte do Enem, sendo essa nota a média aritmética das notas obtidas nas provas do Enem em cuja edi¢ao 0 candidato tenha obtido a maior média: Art. 37. As inscrigdes para participagao no processo seletivo do Fies ¢ do P- Fies serao efetuadas exclusivamente pela internet, em enderego eletrénico, e em periodo a ser especificado no Edital SESu, devendo o estudante, cumulativamente, atender as condigées de obtencdo de média aritmética das notas no Enem e de renda familiar mensal bruta per capita a serem definidas na Portaria Normativa do MEC a cada processo seletivo. Art. 38. Encerrado o periodo de inscrigéo, os estudantes serao classificados em ordem decrescente de acordo com as notas obtidas no Enem, na op¢do de vaga para a qual se inscreveram, na sequéncia a ser especificada em Portaria Normativa a cada proceso seletivo, nos termos do art. 1°, § 6°, da Lei n° 10.260, de 2001. § 1° A nota de que trata o caput consideraré a média aritmética das notas obtidas nas provas do Enem em cuja edicdo o candidato tenha obtido a maior média. § 2° No caso de notas idénticas, calculadas segundo o disposto no § 1° deste artigo, o desempate entre os candidatos seré determinado de acordo com a ordem de critérios a ser especificada na Portaria Normativa do MEC. Art. 39. O estudante seré pré-selecionado na ordem de sua classificagao , nos termos do art. 38 desta Portaria, observado o limite de vagas disponiveis no curso e turno para o qual se inscreveu, conforme os procedimentos e prazos previstos no Edital SESu. Pardgrafo Unico. A pré-selegao do estudante assegura apenas a expectativa de direito a vaga para a qual se inscreveu no processo seletivo do Fies e do P-Fies, estando a contratagao do financiamento condicionada & conclusao da inscri¢ao no FiesSelegao no caso da modalidade Fies, a pré-aprovagao de algum agente financeiro operador de crédito na modalidade P-Fies e, em -Assinadoeeronicament por ANTONIO DF SOUZA PRUDENTE - 131092022 12.09.07 Num, 259943522 - Pag. 3 ambas modalidades, a0 cumprimento das demais regras @ procedimentos constantes desta Portaria e da Portaria Normativa que regulamenta cada processo seletivo - nosso destaque Como visto, a Portaria ora combatida néo desborda do poder regulamentador, Jegalmente autorizado. Ademais, a selegao para o FIES pressupée que cada grupo de preferéncia possui um niimero de vagas disponiveis e para classificar os candidatos, 0 sistema verifica a prioridade indicada entre as trés opgdes de curso, de turno e de local de oferta escolhidos. Nesse contexto, tem mais chances de conseguir o financiamento aqueles candidatos com maiores notas, os que ainda nado tenham terminado o ensino superior @ os que ainda nao foram beneficiados pelo financiamento estudanti. E, como se viu, a regra imposta 6 decorréncia natural dos préprios limites orgamentarios dos recursos destinados a essa politica publica, além de configurar previsao razoavel e alinhada aos ditames estudantis. Curioso apontar, ainda, que 0 autor diz se insurgir contra a Portaria MEC n® 535/2020, de 12/06/2020, sem, contudo, esclarecer em que ela constitui obstaculo ao seu interesse, ja que dita Portaria regulamenta as transferéncias de utilizagao do financiamento do FIES que, até onde se tem informago nos autos, néo 6 o caso do demandante. Sendo assim, sobre esse ponto, ndo vou me pronunciar neste momento, ja que demanda futuro esclarecimento autoral, 0 que poder ser feito em fase de réplica. De todo modo, é oportuno destacar, por fim, que a Primeira Segao do egrégio STJ, apreciando caso anélogo ao dos autos, firmou entendimento no sentido de que "o estabelecimento de condigdes para a concessdo do financiamento do FIES insere-se no 4mbito da conveniéncia e oportunidade da Administragao, e, portanto, ndo podem ser modificados ou afastados pelo Judiciério, sendo reservado a este Poder apenas o exame da legalidade do ato administrativo, sendo-the defeso qualquer incurséo no mérito administrativo" (STJ, MS n? 20.074/DF, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Die de 19/07/2013) Ademais, 6 defeso ao Poder Judiciério imiscuir-se nos atos levados a efeito no Ambito interno da Administragao, quando inseridos no campo que Ihe confere 0 ordenamento juridico, cabendo-Ihe unicamente examina-los sob 0 aspecto da legalidade, isto é, se foi praticado conforme ou contrariamente 4 lei. No presente caso, neste juizo de cogni¢éo suméria, inexiste comprovagao de qualquer forma de violagao as normas regentes do financiamento estudantil, a autorizar 0 deferimento da medida pleiteada, -Assinadosoronicament por ANTONIO OF SOUZA PRUDENTE - 131092022 12.0907 Num, 259943522 - Pag. 4 Ante 0 exposto, INDEFIRO 0 pedido de tutela proviséria de urgéncia. Defiro a gratuidade judiciaria. Em suas razées recursais, insiste a recorrente na concessao da almejada antecipagao da tutela mandamental postulada nos autos de origem. Nao obstante os fundamentos em que se amparou a decisdo agravada, vejo presentes, na espécie, os pressupostos do art. 1019, |, do CPC, a ensejar a concessao da almejada antecipagao da tutela recursal, notadamente em face do seu cardter manifestamente precautivo e, por isso, compativel com a tutela cautelar do agravo, manifestada nas letras e na inteligéncia do referido dispositivo legal, de forma a possibilitar a formalizagao de novos contratos de financiamento estudantil e assegurar, por conseguinte, o pleno acesso ao ensino superior, como garantia fundamental assegurada em nossa Constituigéo Federal, na determinagao cogente e de eficacia imediata (CF, art. 5°, § 1°), no sentido de que “a educagdo, direito de todos e dever do Estado e da familia, sera promovida e incentivada com a colaboragao da sociedad, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exerc cidadania e sua qualificagao para o trabalho" (CF, art. 205). ‘Ademais, impende consignar que 0 mencionado Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior — FIES foi criado pela Lei n° 10.260/2001, posteriormente modificada, que, em seu art. 1°, assim estabelece: Art.1° E instituido, nos termos desta Lei, o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), de natureza contabil, vinculado ao Ministério da Educagao, destinado & concessao de financiamento a estudantes de cursos superiores, na modalidade presencial ou a disténcia, ndo gratuitos e com avaliagao positiva nos processos conduzidos pelo Ministério, de acordo com regulamentagao propria. § 1° O financiamento de que trata o caput deste artigo poderé beneficiar estudantes matriculados em cursos da educagao profissional, técnica e tecnolégica, e em programas de mestrado e doutorado com avaliago positiva, desde que haja disponibilidade de recursos, nos termos do que for aprovado pelo Comité Gestor do Fundo de Financiamento Estudantil (CG- Fies) () § 6° O financiamento com recursos do Fies sera destinado prioritariamente a estudantes que nao tenham concluido 0 ensino superior e nao tenham sido beneficiados pelo financiamento estudantil, vedada a concessao de novo financiamento a estudante em periodo de utilizagao de financiamento pelo Fies ou que nao tenha quitado financiamento anterior pelo Fies ou pelo Programa de Crédito Educativo, de que trata a Lei no 8.436, de 25 de junho -Asinadoesronicaments por ANTONIO OF SOUZA PRUDENTE - 131092022 12.09.07 Num, 259943522 - Pag. 5 de 1992. Por sua vez, estabelece o art. 15-D, caput, da referida Lei, com a redacdo dada pela Lei n° 13.530-2017, que “é instituido, nos termos desta Lei, 0 Programa de Financiamento Estudantil, destinado concessao de financiamento a estudantes em cursos superiores nao gratuitos, com avaliagao positiva nos processos conduzidos pelo Ministério da Educago, de acordo com regulamentagao propria, e que também trataré das faixas de renda abrangidas por essa modalidade do Fies". Da leitura dos dispositivos legais em referéncia, verifica-se que, efetivamente, no se vislumbra, dentre as condigées legalmente estabelecidas, a exigéncia de que aluno tenha sido submetido ao Exame Nacional de Ensino Médio — ENEM, nem, tampouco, que tenha obtido a média minima exigida nos atos normativos hostilizados nos presentes autos. E bem verdade que o art. 3° da referida Lei n° 10.260/2011, estabelece que a gestdo do FIES caberd ao Ministério da Educacdo, que editaré regulamento dispondo sobre “as regras de selegao de estudantes a serem financiados, devendo ser considerados a renda familiar per capita, proporcional ao valor do encargo educacional do curso pretendido, e outros requisitos, bem como as regras de oferta de vagas". De ver-se, porém, que, os tais “outros requisitos” a que se reporta o dispositivo legal em referéncia, nao podem extrapolar os limites estabelecidos pela prépria Lei de criagéo do FIES, como no caso, sob pena de violagao ao principio da legalidade, segundo o qual, “ninguém sera obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei" (CF, art. 5°, inciso Il), mormente em face da finalidade precipua do financiamento estudantil em referéncia, que consiste em propiciar, sem qualquer limitago, o livre acesso ao ensino superior, sintonizando-se, com o exercicio do direito constitucional 4 educagdo (CF, art. 205) ¢ com a expectativa de futuro retorno intelectual em proveito da nagdo, que ha de prevalecer sobre formalismos eventualmente inibidores e desestimuladores do potencial cientifico dai decorrente. Com estas consideragées, defiro 0 pedido de antecipacao da tutela recursal formulado na inicial, para assegurar & autora o direito & formalizagao do contrato de financiamento estudantil, com recursos do FIES, relativamente ao curso superior em que se encontra matriculada, independentemente das restrigdes descritas nos autos, até o pronunciamento definitive da Turma julgadora Comunique-se, com urgéncia, via e-mail, aos Srs. Presidentes da Caixa Econémica Federal e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educagao — FNDE, para fins de cumprimento desta decisao mandamental, cientificando-se, também, ao juizo monocrético, na dimensdo eficacial do art. 1.008 do CPC. Intimem-se os recortidos, nos termos e para as finalidades do art, 1.019, II, do referido diploma legal, abrindo-se vistas, apés, @ douta Procuradoria Regional da Repttblica. Assinadoseronicamente por ANTONIO OF SOUZA PRUDENTE - 131092022 12.0907 Num, 259943522 - Pag. 6 Publique-se. Intimem-se, Brasilia-DF.,em 13 de setembro de 2022. Desembargador Federal Souza Prudente Relator -Assinadoseronicamente por ANTONIO OE SOUZA PRUDENTE - 131092022 12.0907 Num, 259943522 - Pag. 7

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