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Perda da memoria judaica na escrita histérica brasileira ANA PAULA CAVALCANTE ALENCAR DA SILVA* Resumo ax criagdo do Estatuto da Pureza do Sangue, de Toledo, Espa- nha, em 1449, século XV e, a posterior conversdo forgada dos judeus da Peninsula Ibérica (mais precisamente em 1492, em Castela, ¢ em 1497, em Portugal) constituem parte de um processo histérico que desencadeou interesse especial pelas terras recém descobertas na América. De acordo com RAIZMAN (1937), tais terras, distantes daquelas em que aconte- ciam as perseguigdes aos judeus, apresentaram-se como possibilidade de recomego de vida, livre dos olhares dos inquisidores apoiados pelo poder dos reis. O presente trabalho, por meio da andlise das circunstancias, envolvendo a imigragdo dos cristos-novos para Brasil, explica de que forma o quadro de perseguigo e antissemitismo ibérico, influenciando na transferéncia do preconceito e da exclusao do elemento semita para o extrato social do brasileiro camuflando a presenga judaica, quando nio, excluindo-a da escrita histérica e, por conseguinte, do curriculo escolar da disciplina de Historia do Brasil. Desta forma, analisamos a relagdo entre o desconhecimento dessa parte de nossa histiria e o dano por ele ocasionado no proceso de formagao da Meméria e da Identidade da po- pulagdo brasileira a partir da ocultagdo, nos livros de Historia de ensinos Fundamental e Médio, da temética relativa a presenga ¢ influéncia dos, judeus na formagao do povo brasileiro. Palavras-chave: Meméria. [dentidade. Antissemitismo, “Professors do Colégio Militar de Fortaleza 138 | Revsta da Insti da Ceard- 2017 Introdusio ‘Suponho que o que fiz em todas esses anos foi acumular aprendizados. Mas, naquela época, pareceu-me que eu estava tentando descobrir 0 {que fazer em seguida eadiar um balango: analisarasituagao, avaliar as possibilidades, escapar is consequéncias, epensar tudo. Ndo se chega a ‘muitas conclusdes dessa maneira, ou, pelo menos, a nenhuma duradou- 1a, de forma a resumir tudo perante Deus © 0 mundo é de certo modo uma farsa. Um bocado de gente ndo sabe exatamente para onde vai, suponiso; mas eu sei com certeza onde estive(GEERTZ, 2001, p. 15) Geertz (2001), falando sobre “Paisagem e acidente: Uma vida de aprendizagem”, relata 0 quanto é complicado, no final de uma vida improvisada, chamar essa vida de sabia. Todavia, ao dizer que, ao longo dos anos, o que fez foi acumular aprendizado, 0 autor afirma que pelo ‘menos uma coisa aprendeu ao ir juntando os retalhos de sua carreira académica: “tudo depende do momento”. Concordamos com Geertz no tocante a0 tempo e oportunidade, entendemos ser 0 momento oportuno para promover uma reflexio das interfaces estabelecidas entre meméria ¢ identidade partindo da premissa do desconhecimento de parcela con- siderdvel da populagdo brasileira a respeito da vinda dos cristios novos para o Brasil, associada ao quadro de perseguigdo religiosa na Peninsula Ibérica, A assertiva ora apresentada é pautada na pratica como docente do Ensino Médio do SCMB ~ Sistema Colégio Militar do Brasil, onde nos foi possivel observar o distanciamento da abordagem académica sobre 0 assumto em relago aos registros nos livros de hist6ria produzidos para 0 pliblico de Educagdo Bésica. Acreditamos ser o momento oportuno em face das muitas lacunas nos livros didéticos no que concemne a presenga dos cristdos novos no Brasil Colénia, Identificamos muitos trabalhos académicos cuja ténica repousa sobre a temética Inquisigao no Brasil, todavia percebemos uma dicotomia na forma como os cristdos novos sto representados na escrita da histéria; nos artigos académicos a exemplo da Conspiragdo do Siléncio de Anita Novinsky (neste o bandeirante Antonio Raposo Tavares é apresentado como um homem com historia de familia destruida pela perseguicao religiosa) ¢ nos manuais produzidos para 0 Ensino Fundamental e Médio (ora apresentado como bandeirante respon- sdvel pela expansio territorial do Brasil, ora como o bandeirante violento Prd da memiiajudsic ma eseritahistricaraieie | 139) que destruia as aldeias, aprisionava os indios. Acreditamos ser necesséio facilitar 0 acesso do referido conhecimento ao piiblico da Educagao Bi- sica a fim de que 0 mesmo retina as condigdes essenciais para responder questes elementares pertinentes a sua prépria historia. Como dito anteriormente, e, apesar do crescente interesse pela temitica Inquisigo no Brasil, assim como a presenga dos cristios no- ‘vos no Brasil Colénia, observamos a auséncia de informagao nos livros didéticos acerca da contribuigo daquele segmento populacional para 0 desenvolvimento do Brasil e de seu papel na construgao da identidade do ovo brasileiro, sequer encontramos mengio sobre quem eram os cristios ‘novos e porque estavam vindo para o Brasil. Embora ndo encontremos nos livros didéticos as informagdes necessérias para identificarmos a presenga dos cristios novos nos primérdios da colonizacao brasileira, percebemos seus habitos ¢ costumes espalhados pelas terras do Brasil, os quais perma- necem destacando as marcas de uma cultura semita entranhada nas ratzes da populagdo brasileira, visiveis para quem as conhece, porém ocultas para © segmento social que dela se apropriou e reproduziu em mais de cinco séculos de existéncia; na verdade no podemos afirmar que tal grupo de suas origens se esqueceu se Ihe foi cerceado o direito de conhecé-la, LE GOFF (2013, p.21) considera que a histéria nfo € uma ciéncia como as outras, considera também que falar de historia nao é facil, al disso, as dificuldades de linguagem introduzem-nos ao proprio amago das ambiguidades da historia, Ambiguidades se ndo bem compreendidas, as vezes, geram perturbagdes da meméria, é evidente que as perturbagdes da meméria advindas de uma amnésia coletiva em relagio a presenga dos cristios novos no Brasil jé & coisa do passado no meio académico, necessdrio & que fato semelhante ocorra no ensino bésico. Se herdamos costumes e priticas de origem judaica, e as mesmas evidenciam-se a cada momento em pesquisas cientificas, em reportagens, e, se a antroponimia é uma realidade no Brasil, adiar uma andlise da si- tuagdo certamente nio nos serd de grande utilidade no conhecimento de nossas origens. Entendemos como relevante saber de onde viemos, quem realmente somos, para entio termos condigio de decidir para onde ir. As abordagens feitas em sala de aula ~ 1° Ano do Ensino Médio do CMF- frequentemente em torno da Meméria e Identidade despertou um. novo olhar dos alunos culminando em questionamentos como: quem eram 6s portugueses que vieram para o Brasil nos séculos XV e XVI? Quais os 140 1 Revista da Insti da Ceard- 2017 reais interesses dessas pessoas ao virem para o Brasil? O que realmente estava no imaginario do europeu que abandonou sua terra, sua zona de comodidade, para explorar uma terra distante e desconhecida? Somente as demandas econdmicas seriam suficientes para justificar 0 deslocamento para o Brasil? Esses questionamentos, dentre tantos outros, so complexos, para serem respondidos somente com o auxilio do livro didatico, ainda ‘que sejam de grande valor para elucidar as demandas ora elencadas. Assim, buscando valorizar a contextualizagZo, a intertextualidade, a interdisciplinaridade ¢ os conhecimentos prévios e de mundo dos alunos, desafio de grande monta, seguindo a concep da Historia Integrada, 0 trabalho desenvolvido pela disciplina de Historia no 1° Ano do Ensino ‘Médio do CMF, nos anos de 2015 e 2016, proporcionou ao corpo discen- te uma compreenso mais plena dos fatos histéricos abordados em sala, desta maneira como na montagem de um grande quebra cabeya, as pegas comegaram a se encaixar, 0s fatos histéricos conectados em um emara- nhado de interesses comegaram a ser desnudados. A Historia do Brasil Colénia ganhou significado diferenciado, mais conectado com a Histéria europeia, os tragos ambiguos, antes pouco perceptiveis da mentalidade luso-brasileira nos trés primeiros séculos da colonizagdo além de se tor- narem visiveis, tomaram-se inteligiveis. Da mesma forma, a preocupay culo mais consistente acenou a possibilidade de trabalho com temas como Meméria, Patriménio e Preservacio, aproximando realidade e conteiido, ressignificando velhos conhecidos personagens de uma histéria caleada ‘em uma narrativa polarizada entre herdis e vildes, selvagens e civiliza- dos, a exemplos de Gaspar da Gama e de Femnio de Noronha ¢ Antonio Raposo Tavares. Tomemos como mote a interagdo entre passado e presente em Le Goff (2013, p 28) pensemos o passado como uma construgio e uma re terpretacio constante a fim de identificarmos a fungdo social do pasado nahhist6ria, Nesse sentido, a construgao da escrita historiografica brasileira melhor compreendida na medida em que o conhecimento do mesmo € suas miiltiplas reinterpretagdes buscam harmonizar passado, presente & futuro. Evidentemente que existem rupturas e descontinuidades na escrita historica as quais precisam ser consideradas, todavia, existem conectores, de grande relevancia necessitando de visualizagio e valora¢o, caso claro dos costumes judaicos no Brasil Prd da meméiajudsica na eeritahistrica rails | 147 Considerando, portanto, a interagdo entre passado e presente, ou seja, a fungdo social do passado na histéria, verificamos que os arquivos do passado continuam incessantemente a enriquecer-se na medida em que novas leituras de documentos sio realizadas a exemplo dos processos inquisitoriais da Torre do Tombo em Portugal, 4 relagio passado-presente, actescenta-se 0 horizonte futuro. Desse modo, nao seriam exatamente essas novas leituras de do- cumentos referentes a Inquisigdo, entre tantos outros espalhados pelo Brasil uma legitima fonte do historiador contemporaneo. Acreditamos ser necessério que a informagio hist6rica, fornecida pelo historiador de oficio, intimeras vezes vulgarizada pela escola, venha a corrigir esta his- téria tradicional falseada, Desta forma, a historia cumpriré seu papel de esclarecera meméria e retificard os erros cometidos. Sabemos que passado e presente sio diferenciados e muitas vezes se opdem, mas reconhecemos ser indispensavel a atencao ao discurso da Igreja e Estado em relago aos Jjudeus e cristios novos tanto na Peninsula Ibérica quanto no Brasil, os processos inquisitoriais e testemunhos daquele periodo fornecem uma di- ‘mensdo do passado cujos dominios cientificos necessitam ser expandidos. Desenvolvimento reordenamento da disciplina de Historia, proposto SCMB, em 2011, possibilitou uma maior integracao entre os contetidos, pois a proposta de um curriculo escolar intenso favoreceu, sobretudo a partir do ano de 2015, o trabalho em sala de aula com maior aproximagao de teméticas comumente pesquisadas nas universidades relacionadas ao povo portugués que veio para o Brasil entre os séculos XV ¢ XVIII. Assim, o estudo da Hist6ria por meio de datas, fatos e nomes, jé em desuso no SCMB, passow a ser substituido por um estudo voltado para a Historia Social e Cultural © cotidiano tomou-se mais presente nas aulas, 0 etnocentrismo cedeu espago para o regional. A valorizagao da Histéria local propiciou abordagens de temas pouco valorizados nos livros didaticos, especialmente no que tange a Historia do Brasil. Nesse contexto de conquistas, a leitura do artigo sobre jesuitas e bandeirantes (NOVINSKY, 1992) favoreceu a abertura de novas frentes de pesquisa referentes 4 Histéria do Brasil, associando 0 presente, costumes judaicos no nordeste brasileiro, ao pas- sado, Inquisigdo, perseguigdo, intolerdncia religiosa ¢ a contribuigao do 142 elemento semita na formagao e entendemos que: mnémica ¢ social do Brasil. Isso porque, A meméria, por conscrvar certas informagées, contribui para que © ppassado no seja totalmente esquecido, pois ele acaba por eapacitar © homem a atualizar impressGes ou informagSes passadas, fazendo com que a histéria se elemize na conscineia humana. O passado sb permanece “vivo” através de trabalhos de sintese da meméria, que nos dio a oportunidade de revivé-lo a partir do momento em que © individuo passa a compartilhar suas experiéncias, tomando com isso a meméria “viva”. (LE GOFF, 1982, p. 15. Grifos do autor) Assim, compreendendo as relagdes entre o contetido de Histéria do Brasil no periodo colonial e os costumes presentes na meméria brasilei- 1a, tidos como “naturais”, “de familia”, a partir do cotidiano familiar do brasileiro, pretendemos promover um debate entre o pensar, o escrever e © fazer do historiador. Nossa proposta se justifica pelos questionamentos surgidos durante as aulas de Histéria, nas turmas do 1° Ano do Ensino Médio, no ano de 2015, conforme jé nos reportamos. No que diz respeito a ideia de patriménio, entendemos que ele nilo se limita apenas ao sentido de heranga ou de mero valor afetivo. Refere- se também aos bens produzidos por nossos antepassados que resultam em experiéncias e memérias individuais, das quais € formada a meméria coletiva, Nesse sentido, ha que se pensar a heranga cultural como fonte de informagdes significativas, no que diz respeito & historia de um pats, a0 passado de uma sociedade e, dessa maneira, ao elemento formador da identidade de grupos ou categorias sociais, A partir do conceito de meméria coletiva constitufda das memérias individuais CASCUDO (1967, p. 13) nos alerta para o fato de precisarmos nos habituar a considerar os fatos triviais de nossa vida popular como fontes historicas, enfatiza que em forga testemunhavel eles em nada ficam atrés dos velhos documentos e erénicas, 0 autor se utiliza entre outros argumentos de dois livros: DENUNCIAGOES DE PERNAMBUCO. (S.Paulo, 1929), eo LIVRO DAS DENUNCIAGOES referentes a 1618- 1619 (Rio de Janeiro, 1936). Os dois, conforme Cascudo, registram “os uusos € costumes judaicos na quotidianidade brasileira, os essenciais © caracteristicos. ” (Grifo nosso). Consideremos a atuac3o do Santo Oficio em terras brasileiras como a mais longa da histéria, visto que, em nenhum ria nda a seria histrica brasilcita | 143 outro lugar a inquisi¢do prolongou-se por tanto tempo quanto em territério brasileiro, enti & de se pensar que aqueles “fatos triviais da vida popular” enfatizados por Cascudo, mantiveram-se resistentes ao tempo como fontes histéricas espalhadas pelo Brasil. Nao nos interessa nesse momento mapear os costumes de origem. Judaica disseminados entre a populagao brasileira, mas alertar para o valor dos referidos habitos e costumes enquanto fragmentos de meméria, Em 18 de novembro de 1536, D. Diogo da Silva, em Evora, Portu- gal,criou o cédigo orientador das densincias e confissdes, incluindo indice da falsa f6. O Monitério mandava denunciar ou confessar (Cascudo, 1967, p. 125) os objetos suspeitos ao exercicio da fé legitima, elencando uma relagdo de costumes denunciantes da origem judaica de seu praticante. Entre eles estavam: guardar os sibados em modo e forma judaica, no fazendo trabalho algum, fazendo uso de vestidos e joias de festa, fazendo limpeza de suas s sextasefeiras, entre outros; degolar a came ¢ as aves & forma e ao modo judaicos, atravessando-Ihes a garganta, provando o cutelo na unha do dedo da mao e cobrindo o sangue com terra, além de se solenizam ou solenizaram a piscoa do pao azimo. Tudo isso sem falar nas restrigdes alimentares. Os elementos identificadores de judaizantes enumerados no Mo- nitério ainda podem ser encontrados no dia a dia de familias brasileiras, principalmente naquelas que residem em cidades interioranas. Nao signi- fica dizer que toda familia identificada com “costumes de judeus” tenha raizes judaicas, mas apresentam costumes e tradigdes aprendidos com 0 pai, que aprendeu com o avé, ou mae que aprendeu com avé, e assim por diante. Esses elementos, portanto, constituem-se reveladores do vinculo com aquele grupo, Quando faltam palavras, os costumes falam, na fala de Cascudo, fatos triviais do cotidiano, Nesse sentido, a preservago do patrimdnio é essencial para 0 de- senvolvimento de uma nagao, tendo em vista ser ele, espelho da formagao sociocultural e afirmagao da identidade cultural de um grupo, de um pov. Mas como valorizar ou preservar aquilo que nfo conhecemos ou sequer reconhecemos como nosso? A situago agrava-se quando, em nome da aparente naturalidade do cotidiano, negligenciamos a percepedo do dife- rente © massificamos clementos culturais de diversas etnias no ideal de construgao da identidade de um povo. No nosso caso, do povo brasileiro. Na aparéncia, 0 povo brasileiro, catdlico praticante; na esséncia, isto & na intimidade, judeu. 1441 Revista da Insti da Ceard~ 2017 Assim, diante da diversidade étnica e cultural ¢ dos resquicios de judaismo, nas terras mais distantes do serto nordestino brasileiro, com 0 trabalho rduo do historiador poderemos desmistificar as falsificagdes dos discursos nada inocentes a respeito do saber histérico no tocante a origem do branco-portugués que colonizou o Brasil. Examinemos 0 caso a seguir, cujas abordagens foram revisadas a partir de novas leituras. ‘Ao tratarmos dos miiltiplos processos histéricos em tomo da Inqui sigo na Peninsula Ibérica, Expansdo Maritima e Comercial, ocupagao colonizagao do Brasil ao longo dos séculos XV ¢ XVI nas aulas do 1° Ano do Ensino Médio- CMF, como dito em momento anterior, a permanéncia de conectores interligando tais processos histéricos imbricados entre a politica e a religido, na Peninsula Ibérica atrairam a atengao dos discen- tes a0 ponto de os mesmos relacionarem OS SABIOS DE PORTUGAL COM OS DESCOBRIMENTOS E A PERSEGUIGAO DA IGREIA. Nesse momento, pergunta-se: quem eram os detentores do conhecimento ‘que possibilitou as grandes expedigdes maritimas e comerciais da época? Quantos sio os livros didéticos que trazem informagdes sobre Abraio Cresques, agraciado com o titulo de “Mestre de mapas e compassos” Isaac Naffucci, especialista na execugdo de relégios e quadrantes, Abraio Zacuto, médico, astrénomo, matemitico, também conhecido como “o astrénomo do rei Joo”, tantas cias das relagdes entre os sibios ¢ reis da Peninsula Tbérica que forneceriam material para vi- rios livros, entretanto, nosso interesse em cité-los tem por objetivo tinico demonstrar que a importincia dos judeus (¢ arabes) no desenvolvimento cultural e econdmico daquela regio da Europa nao foi empecilho para as, praticas antissemitas no momento da alianga entre Estado ¢ religido, esta liltima personificada pela Igreja Catélica. As praticas dos soberanos portugueses e espanhdis em consonan- cia com a Igreja, sejam elas por razdes econdmicas ou ideologicas, cada ‘vez mais se impdem as investigagdes realizadas, e, a cada nova pesquisa perpetrada, a dos mecanismos mediante os quais os grupos de interesse tém focado suas atengdes, deparamo-nos com estreitas relagdes entre cristios-novos, inquisigao e colonizagio do Brasil Tomando essa questo inicial como ponto de reflexdo, constatamos a necessidade de se fazerem consideragdes criticas acerca da escrita his- toriogrifica brasileira, no que diz respeito & postura dos livros didaticos com relagdo aos reflexos do antissemitismo ibérico na formagao do povo Ponda da meméiajudsic na eseritahistrica rai 145 brasileiro. Especialmente, no que tange a auséncia do papel desempenhado pelos cristios-novos nos aspectos econdmico, social e cultural do Brasil Colénia do curriculo escolar, Decorrente de tal obscurantismo acerca da questéo apresentada, imp®e-se um desconhecimento por parte da grande maioria dos brasileiros, quanto & presenga de judeus tanto na regido agucareira quanto na drea de mineragao, 0 registro nos livros didaticos é alusivo ao branco, a0 europeu ou ao portugués. Quem realmente era esse portugués? Qual a bagagem cultural por ele transportada para a “terra de papagaios”? Surpreendentes constatagdes fazemos quando evocarmos & memiéria 0 passado desse grupo no tocante as tenses ¢ a carga de preconceito envolvendo-os na Peninsula Ibérica, sobretudo nos séculos XV, XVI, XVII e XVII, inclusive na ago da Inquisigdo em tervitério brasileiro, Fato é que, se na Peninsula Ibérica, a conversio forgada eas chamas da fogueira, queimando came humana, eram instrumentos uilizados com 0 fim de apagar a meméria judaica, no Brasil, decisSes como as do Primeiro Sinodo Diocesano de Fortaleza (1888) refletem as relagdes de conflito € exclusio consotidadas pela alianga entre Estado e Igreja, extensio das ages praticadas pelos colonizadores. Os fragmentos extraidos do Sinodo Diocesano Fortalezense, celebrado na Igreja Catedral de Fortaleza, a época sob o bispado de Dom Joaquim José Vieira, so provas incontestes da continua disctiminagao ¢ exclusio daqueles que professassem fé diferente, notadamente os judeus. £ proibido pelos Sagrados Canones dar sepultura em Iugar sagrado 10s judeus, pagios e a toda classe de infiis, aos catélicas apostatas ‘ou excomungados ~ V..., € © durante-; aos que se suicidaram por ia, desespero ou outra causa semelhante =... Enfim, a todos aqueles ‘a quem por dircito canénico deve-se nogar sepultura eclesiéstica (VIEIRA. 1888, p. 197) Estatuimas que os Cemitérios, que d’hoje em disnte se originem, se reserve uma parte, 4 qual se no estenderd a bengo da Igreja, e onde se dard sepultura aos parvulos que fallecerem sem Baptismo ea todos aquele a quem se nega sepultura ecclesiastica Nao se exige absolutamente, que aquella part seja separada por mura ‘ cerea: basta que ~ aliquo modo discemi possi. IBIDEM, p. 197) As determinagées registradas no livro do Primeiro Sinodo de For- taleza so enfaticas quanto a proibigdo de sepultar judeu em cemitério 146 administrado pela Igreja Catélica, embora posteriormente tenham sido criadas areas segregacionais. Egon e Frida Wollf (1983) nos alertam para © fato de os cemitértios, espagos aparentemente democraticos, represen- tarem fontes inestiméveis no tocante & pesquisa sobre a presenga judaica no Brasil. 0 cemitério So Jodo Batista, em Fortaleza, inaugurado em 5 de abril de 1866, possuia a parte final destinada ao sepultamento das ca- ‘madas mais pobres ¢ de individuos tidos como andtemas, notemos que a inauguragdo do cemitério data de 1866, ou seja, anterior ao Sinodo (1888), a parte frontal estava reservada para as familias ricas da cidade. Nesse sentido, o sinodo de 1888 institucionalizou uma pritica discriminatoria j4 corrente na cidade. Assim, as fontes documentais que compdem o cenétio, seja ele urbano materializado no Cemitério ou rural apresentado nas andlises do padre Lira (1988), demonstram que a meméria é prova inconteste da Aiscriminagdo ¢ do preconceito nos primeitos séculos de nossa historia, ‘© que constatamos ao olharmos os cemitérios, prineipalmente os mais, antigos. Desta maneira, esse espago da cidade apresenta-se como lugar de segregagio. Por conseguinte, é ambiente de cultura ¢ aprendizado. Analisando as imagens esculpidas nas lapides ¢ a demarcagio de tertitério dos catélicos e ndo catélicos, reconhecemos que essas ocorréncias to comuns a época, merecem atengio na compreensio do Cemitério Sao Jodo Batista, em Fortaleza, como um livro de histéria a céu aberto, cuja leitura de suas ” pode ser de grande proveito se observarmos as ss, em alguns casos, revelam a origem do sepultado, ‘em outros, tal origem foi camuflada, Tal constatagdo foi observada, a partir de 2004, quando o Papa Joao Paulo II reconheceu publicamente as atrocidades cometidas pelo tribunal do Santo Oficio aos judeus, naquele ‘momento o sumo pontifice fez um pedido de perdao aquele grupo social, coincidentemente, alguns timulos da drea frontal que eram tidos como jazigos de catdlicos, passaram a ter suas lapides substituidas por novas lipides com inscrigdes em hebraico ou simbolos da cultura judaica, Asraizes dessa questo, mormente no que se refere aos cristdos-no- vos, adquiriu forga nos iiltimos anos em fungo dos trabalhos realizados nos arquivos inquisitoriais resultando em detalhado material como o li- vro Gabinete de Investigagdo da pesquisadora Anita Waingort Novinsky (2007)), cujas paginas revelaram aspectos desconhecidos sobre a histéria dos judeus sefaraditas no Brasil, uma historia que esta a disposigao para ser (re) conhecida pelos brasileiros, por meio dos livros diditicos. jndaica na cteria istics brasileira | 147 0 fatos outrora ocultados, cujo desconhecimento explicava-se pela impossibilidade de acesso as fontes de pesquisa dos arquivos inuisitoriais, constituem obsticulo superado a partir da segunda metade do século XX, apés a abertura dos arquivos da Torre do Tombo em Portugal. Apés libe- ado 0 acesso a fonte documental preservada na Torre do Tombo, novos aspectos ¢ interpretagdes acerca da historiografia brasileira vinculada a historia judaica na Peninsula Tbérica adquiriram visibilidade. Segundo Novisky, “Portugal abriu os depdsitos do Santo Oficio para o grande piblico e revelou uma histéria colonial jamais escrita”. (NOVISKY,1992.). Paralelamente, portais abriram-se permitindo novas andlises documentais, assim como novas e intrigantes interpretagbes sobre a ocupagao ea colonizagao do Brasil no periodo colonial, oportunizando a reinterpretagdo histérica de tematicas sedimentadas na escrita da historia, brasileira. Trata-se da andlise do passado na intengdo de esclarecer alguns aspectos facilitadores da compreensio do presente de familias amussins. Le Goff, ao tratar da relago passado-presente, no discurso histérico, ressalta que o “[..] futuro, tal como o passado, atrai os homens de hoje, que procuram suas raizes e sua identidade e, mais que nunca, fascina-os. ” (LE GOFF, 1982, p 223). Nesse sentido, o passado é sempre atual, porque nele se encontra 0 fio que nos conduz as razdes do nosso hoje. Assim, a origem semita, o papel desempenhado por parte do europeu que veio para Brasil no periodo colonial, o contexto em que se deu safda deles de Portugal, associada a possivel ascendéncia judaica de parte da populagao brasileira, originam questdes impossibilitadas de solucionar somente com a leitura do livro didatico, Desta forma, podemos inferir que as abordagens a respeito do assunto desenvolvidas no ambito escolar precisam aproximar arealidade de mundo e o contetido curricular. Seguindo a trilha da histéria, nas andtises do jé citado artigo “A Conspiragio do siléncio, uma historia desconhecida sobre os bandeirantes Judeus no Brasil”, encontramos a tentativa de ressignificar a figura de An- ténio Raposo Tavares, personagem a quem a histéria oficial transformou. de assassino violento a her6i nacional, apresentado pela historiografia classica na vertente do bandeirismo enquanto movimento de fiiria de- vastadora cujos agentes movidos por interesses econdmicos atacaram violentamente as Redugdes Jesuiticas. (NOVINSKY.2016, p.154). De acordo com a pesquisadora, “Que interesses econémicos tenham feito parte dos planos dos bandeirantes & bem compreensivel, mas os docu- 1481 Revista do Insti da Ceard- 2017 ‘mentos mostram que existia uma razdo ideologica muito forte que influiu nessa guerra sangrenta” (IBIDEM).A simples perspectiva de investigar as razdes da violenta agdo dos bandeirantes jd se apresenta como ponto de interesse diferenciado para o estudante do Ensino Médio, constituindo-se como momento de rever conceitos estabelecidos, nao se trata de buscar razes para inocentar ou condenar Raposo Tavares em suas ages, mas sim entender a agdo violenta daquele bandeirante de forma contextualizada, Jaime Cortesio foi o primeiro autor que relacionou o fendmeno das Bandeiras com 0 Santo Oficio da Inquisigao ¢ apresenta o bandeirante — que nas palavras do Bardo do Rio Branco foi o iniciador e o principal idealizador da politica geogréfica da expansdo do Brasil para o sudeste — ‘como um Iutador contra a opressio e a teocracia dos jesuitas, defendendo a liberdade de cada homem de resistir a uma religido imposta pela forga. (CORTESAO, 1958). A imagem que os estudantes terdo dos bandeiran- tes e do movimento das Bandeiras ao concluir 0 Ensino Médio pode ser bastante ambigua; um assassino cruel ou um guerreiro lutando contra a opressio ¢ a teocracia jesuitiea em favor da liberdade, Situagdes como as descritas acima apresentam desafios tedricos, politicos e epistemolégicos na narrativa das Bandeiras ¢ bandeirantes. Por ‘um lado, aparece a imagem de um assassino cruel, vilio ou nas palavras de Jilio Mesquita Filho, “[...] Ant6nio Raposo Tavares foi heréi de uma das ‘mais famosas faganhas de que guarda meméria a historia da humanidade”. Os arquivos da Torre do Tombo revelam que Raposo Tavares co- nhecia pessoalmente todas as ceriménias judaicas, haja vista que Maria da Costa, sua madrasta, presa pela Inquisi¢ao juntamente com parte da familia, na confissdo perante o Inquisidor, refere-se a todas as tradigdes ‘que seguia em sua casa. Ela era cristi-nova, cripto-judia e fervorosa pra- ticante da religido judaica. Sua familia foi reduzida & miséria depois de passar seis anos nos cérceres do Santo Officio. De que forma toda a situagao familiar interferiu nas agdes do bandeirante jamais saberemos, pois, a sua vida é em grande parte uma lacuna, Todavia, a questio que desejamos trazer para 0 campo da reflexio é 0 quanto 0 pouco conhecimento ou desconhecimento dessas informagdes prejudicou a escrita historiografica brasileira. Se houve intencionalidade ou nao em ocultar tais dados, nesse ‘momento no nos interessa, mas a necessidade de inclusdo de tais aspectos histéricos nos manuais utilizados no ambito da Escola Basica acreditamos, ser uma causa justa Prd da meméia judi ma eseritahistrica rai 149) A medida que se reconhece o duplo ¢ contraditério viés (her6i/ viliio) relatado a respeito do bandeirante, necessdrio se faz também reconhecer 0 valor da pesquisa histérica nos arquivos inquisitoriais, ndo intencionando submeter jesuitas, bandeirantes ou quaisquer outras personagens ao tri- ‘bunal da Historia, Entretanto, seguir a trilha munido dos equipamentos disponiveis, desvendar a génese da Hist6ria do Brasil na perspectiva de ‘uma hist6ria integrada é essencial, pois a conexdo entre a Europa civilizada ea América ‘selvagem’ earece de maior compreensio. Em meio ao processo de reflexao hist6rica, consideramos a memoria como valioso recurso para se pensar 0 pasado, sua relago com a época presente ¢ o entrelagamento de tempos, fragmentos histéricos de lugares € objetos, potencializando elementos importantes na construgio do conheci- mento, 20 mesmo tempo, fornecendo, pegas essenciais para a construcao de pontes facilitadoras da compreensio entre o antissemitismo na Peninsula Thérica e a colonizacao do Brasil, bem como costumes judaicos no Brasil contempornco com perseguigdo religiosa na Peninsula Ibérica ea vinda de portugueses “catélicos” para o Brasil no periodo colonial. Nesse sentido, é possivel, observar que o lugar da meméria nos lltimos anos, vem se elastecendo consideravelmente, abrangendo ndo somente uma espacialidade em si, mas tudo aquilo que se relaciona com este espaco, sejam signos, monumentos, objetos ou imagens. Tais frag- mentos, no entanto, enquanto materiais da meméria, s6 ascendem a uma legitimidade e utilidade para a cigneia hist6rica, a partir de uma construga0 que & feita pelo historiador. Cascudo nos adverte: “O povo ainda vé o judeu pelos olhos quinhentistas. Vé uma figura abstrata, individualizada mentalmente, somando os atributos negativos imputados pela antiguidade acusadora”. (CASCUDO, 1967, p.121); 3 medida que as pesquisas histérias avangam comprovando a permanéncia de costumes judaicos no Brasil, surgem novas interrogagdes em tomo da verdadeira origem dos portugueses que vieram para o Brasil no periodo colonial, assim como, sobre as razes que os levava a adentrar no interior do territ6rio brasileiro, seriam somente de cunho econémico? Vale ressaltar que 0 século XVI fora hostil e cruel na sistematica regressiva ao prestigio judaico na Peninsula Ibérica, o Tribunal do Santo Oficio instalou-se realmente em 1547, como desejava D. Jodo IIL Para alguns historiadores, o Brasil munca teve um tribunal da in- quisigdo instalado oficialmente. Embora o inquisidor Heitor Furtado de 150 ‘Mendonga tenha ouvido € feito o registro de dentincias na Bahia (1593- 1595) e, em 1619, 0 bispo D. Marcos Teixeira tenha enviado para Lisboa, apés nova visita da Inquisigao ao Brasil, cerca de 90 pessoas acusadas de judaismo. Fato detectado & que os efeitos da agdo da parceria entre Estado Igreja que nortearam a colonizacdo do Brasil permanecem vistas, embora ‘mudas e muitas vezes invisiveis, a espera de serem lidas, Raizman esclaret “Histéria dos israclitas no Brasil”, ‘que a finalidade de sua obra era arredar as sombras que obscurecem certos pontos da Historia do Brasil que, quando omitidas, sdo focalizados sob luzes equivocadas. O autor se refere ao que chama de “[...] intencionados disfarces langados sobre o nome dos judeus célebres que sao apresentados ‘como portugueses sem que haja a mais leve mengdo das suas verdadeiras, origens. ” (RAIZMAN, 1937, p. 2). Assim, 0 autor, a0 tratar do descobrimento do Brasil, destaca 0 papel de importantes cristos novos, tais como: Mestre José Vizinho, Abuhab da Fonseca e Gaspar da Gama. Este dltimo, judeu vindo de Géa, experiente navegador, conselheiro de Vasco da Gama que “[...] prestou uma das mais eficientes colaboragdes para que Cabral aportasse na nova terra, ” (Tbidem, p.9). Ainda, segundo o autor: Gaspar da Gama, dotado de um espirito arguto e de grande iniiativa, ao pisaras bravias e belas plagas do Brasil, ogo compreendewa extra. ordinaria importincia desse nova descobrimento para os seus imos oprimidas e sem direitos, os judeus de Portugal, pelos beneticios & melhorias que ali poderiam encontrar. (Ibidem, p.9) © relato de Raizman (1937) enfatiza a contribuigdo do experiente navegador e conselheiro de Vasco da Gama, Gaspar da Gama, a mesma pessoa que 0 referido autor afirma ter sido envolvido em certa ocasido ‘em uma demincia levada as autoridades: Francisco Martins Pinheiro, fi- Iho do juiz de igual nome, deveria chegar do estrangeiro trazendo grande quantidade de Biblias Hebraicas. Um sério inquérito foi instaurado, mas demasiado tarde, pois numerosas Biblias haviam sido vendidas aos judews. Embora nada tenha sido apurado contra Gaspar da Gama (ou Almeida) foi verificado que sua esposa, em outra ocasio, também espalhara inémeras biblias para serem lidas nas sinagogas e consultadas pelos rabinos. O autor & categérico ao afirmar: Prd da meméia judi na eeritahistrica asics |1ST incgvel que Gaspar da Gama estava informado desse comercio e nelle consentia; sua prépria esposa, filha de ehristios-novos, lia a Biblia, conhecia correctamente o hebraico e esforcava-se ativamente pela difusio do judaismo, (Ibidem, p.16), Donde se conclui que © mesmo Gaspar da Gama, experiente na- vegador, profundo conhecedor dos caminhos dos mares, companheiro e conselheiro de Vasco da Gama, presente na armada de Pedro Alvares Cabral ao Brasil em 1500, era casado com uma cristi nova, quigé também o fosse. Teria o espirito arguto de Gaspar da Gama realmente visualizado 1no Brasil a possibilidade de um recomeso para os judeus perseguidos em Portugal? ‘Na tela que ora pintamos, no poderiamos deixar de trazera imagem dde Femio de Noronha, o qual, chefiando um consércio de judeus ~eristios novos ~ ¢ aproveitando-se do interesse da Coroa portuguesa no rico co- _mércio de especiarias, deu inicio (1502) a negociagses junto a Metropole com a intengdo de conseguir o arrendamento da terra recém-descoberta ‘Vale ressaltar que, por dez anos, o Brasil permaneceu arrendado a Fernio de Noronha, a quem D, Manoel permitin a realizagao da sugestio dada por Gaspar da Gama, quando este arrendou a colénia aquele. © acordo firmado em 1503, inicialmente por trés anos, foi, com algumas alteragdes, renovado em 1506, 1509, 1511 extensivel até 1515. Emmaio de 1503, Fernio de Noronha partiu de Portugal com destino a0 Brasil. A chegada do rico comerciante em solo brasileiro, acompanhado de uma frota de seis navios, data de 24 de junho de 1504, no mesmo ano em que seus navios retomaram a Portugal com um grande carregamento de pau-brasil, d época mais conhecido como “madeira judaica”. Ao tratar do assunto, NOVINSKY, A et al.2015, no capitulo inti- tulado Judeus pioneiros na agricultura, lemos: “A descoberta do Novo Mundo abriu novos horizontes e esperangas para os judeus convertidos, que enfrentaram numerosas dificuldades até se estabelecerem definitiva- ‘mente em terras em que eram aceitos. ” As muitas lacunas em livros didaticos, em relagdo & origem dos primeiros portugueses a ocupar as terras brasileiras e, efetivamente, iniciarem a colonizagio do Brasil, implicam em verdadeiros buracos ne- gros na génese da populagao brasileira. Desse modo, entendemos que 0 espago mais adequado para se trabalhar um tema de tamanha relevincia, €asala de aula da Educagio Bésica e, particularmente, do Ensino médio. 152 | Revsta da Insti da Ceard- 2017 0 conhecimento acerca das pesquisas realizadas em Ambito académico merece chegar aos jovens brasileiros, eles precisam conhecer suas ori- gens, assegurando-lhes o direito de avaliar melhor sua propria histéria, permitindo-lhes o reconhecimento de praticas cotidianas cujas origens perderam-se no tempo, pontos de meméria ofuscados pela escrita histdrica, Distribuidos por todo o Brasil, os cristdos-novos, cuja maioria era de cripto-judaizante, em suas migragdes forgadas pelas citcunstancias e com ‘claro intento de escapar da perseguigo que reinava na Peninsula Ibérica, ‘encontraram nas terras brasileiras um refiigio, um local onde pudessem recomegar stas vidas livres dos tentaculos da Inquisigao. temor de serem descobertos pelos inquisidores os impulsionou a construire uma vida recatada, com ritos judaicos praticados em se- gredo, Lira (1988, p. 5) comenta que foi tio desumana a perseguigdo aos, judeus que muitissimos deles chegaram, em nossa regido, a ensinar seus filhos a nunca se referirem a seus antepassados. Esses judeus podem ter calado suas vozes, porém os habitos © costumes transmitidos ainda fa- lam até hoje, revelando uma parte da identidade da populacao brasileira WIZNITZER (IBIDEM), logo no Prefaicio anuncia: “A historiografia negligenciou completamente a historia romantica ¢ fascinante dos judeus que, no Brasil-Col6nia, professavam livre ou seeretamente sua religio”. (WIZNITZER, 1966) Bezerra Neto (2016, p.23), tratando da evolugdo da tolerdncia para a discriminagio racial e religiosa, enfatiza o rompimento da convivéncia pacifica entre os diferentes grupos de mouros e judeus da Peninsula Ibé- rica por meio da criagao do Estatuto de Pureza de Sangue em 1449, em Toledo, Castela. (© Bstatuto determinava que os eristios deveriam ser de “sangue limpo”, Era entendido em termos de o sangue nio ter sida inoculado com o sangue das nagies infectas, Estas incluiam mouros, judeus & nnogros. Adiante foram incluidas os ciganos. Apés os descobrimentos, 09s indigenas. (REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA, 2016, p.23, Grifos do autor) Nao teria essa discriminagdo iniciada na Espanha, posteriormente cestendida a Portugal sido transferida para o Brasil colonial? De que maneira tal ideia se perpetuaria na escrita histériea? Queiroz (2013) ao tratar do discurso ideolégico presente na formagdo do Estado brasileiro no inicio jndaica na ctr histrca brasileira | 153 do século XX, ressalta que, 0 mito fundador brasileiro, em que se sustenta a fusdio das trés ragas (indio, negro e branco), surge, com a finalidade de negara diversidade cultural aqui existente, diversidade presente na génese de cada uma dessas “ragas”, desta forma dar-se-ia a consolidagdo da ideia de uma sé Nagio —a brasileira, “Com a formagio do Estado brasileiro no inicio do século XIX, a ideia de organizagao social ocidental que se apresentava a época refletia claramente a adogdo da formula: um Estado, ‘uma Nagao, Nesse sentido, a “eapula” detentora do poder politico-eco- ndmico entendia ser necesséria a identificagao dos habitantes do Brasil a uma jiniea Nagdo, um tinico Povo. “ Assim, observamos que a imposicdo violenta das normas criadas pelo poder politico-religioso assegurou a negagdo das tradigdes, reli- s Sociais ¢ territoriais ¢ dos proprios sistemas juridicos das etnias formadoras do “povo brasileiro”, ocasionando a construgao de uma cultura velada, quase imperceptivel em suas miltiplas formas. Nao obstante, intimeras etnias tenham resistido, algumas ainda resistem, isolando-se e/ou reconstruindo e reconfigurando seu modo de vida, em busca da possibilidade de manterem vivas suas identidades étnicas ¢ cul- turais, exemplo notério dessa realidade & produgo por Elaine Eiger & Luize Valente (2004/2005) do documentario “A Estrela Oculta do Sertdo” narrando a saga dos judeus no Nordeste brasileiro, a todo momento fica registrado no documentirio a permanéncia de habitos e costumes de ori- gem judaica no interior do Nordeste do Brasil, cujas origens anteriormente eram desconhecidas. Observamos que na verdade, as normas de discriminagao eo pre- conceito, realidade, na Peninsula Tbérica dos séculos XV e XVI, foram transferidas para o tecido social brasileiro, por meio da parceria Estado e Ipreja Catdlica, fato que justificaria a necessidade de ocultamento ou diluigdo identitaria do segmento semita em territorio brasileiro Retomemos a Bezerra Neto (2016, p. 2223) esclarecendo quanto & légica do termo “sangue limpo” ou expressio “pureza de sangue”, o autor afirma que tal entendimento diz respeito a etnia “ser de “sangue limpo”, Fra entendido em termos de sangue cris- to nao ter sido inoculado com sangue de nagées infectas. Estas incluiam mouros, judeus e negros. Adiante foram incluidos os ciganos. Apds os descobrimentos os indigenas’ Vasta & a literatura que associa os judeus & imagem de um grupo fechado e prospero, caracteristicas presentes naqueles que controlavam 154 as bases da economia na Peninsula Ibérica, no momento em que se dew a criagio do Estatuto de Pureza de Sangue, e a posterior instituigao do ‘Tribunal do Santo Ofc tais instrumentos. As miltiplas ages, resultantes da alianga entre Estado e Igreja, assim como, a posterior construgdo no dizer de Queiroz (2013), do mito fundador do povo brasileiro, em que se sustenta a fusdo de trés ragas, pode ter cumprido seu papel com relago ao fato de negar a diversidade cultural presente no Ambito de cada uma dessas etnias, afirmando, por conseguinte, a existéncia no pais de uma s6 Nagdo—a brasileira. Todavia no logrou éxito na extingdo da meméria semita entranhada na mentalidade do brasileiro e conservada principalmente nas cidades do interior do pais, apesar da obsessdo de ndo parecer judeu ou judaizante. © que o constatamos nesse momento & a materialidade do passado fazendo-se presente nos habitos e costumes de uma histéria sufocada pela necessidade de sobrevivéncia de um grupo estigmatizado, discriminado € perseguido na Peninsula Ibérica. Perseguicdo transferida para o Brasil colonial, atualmente revelada através dos processos inquisitoriais, trata-se do passado enquanto objeto da historia ¢ da reconstrugdo incessante do saber hist6rico. Em Le Goff (2013) aprendemos a pensar que a historia é bem a ciéncia do passado, porém com a condigao de saber que este passado se toma objeto da histéria, por uma reconstrugdo incessantemente e ainda que “[...]a tomada de consciéncia da construgdo do fato histérico, da nao a do documento, langou luz reveladora sobre os processos de ‘manipulagdo que se manifestam em todos os niveis do saber histérico” (LE GOFF, p. 12). Desta forma, consideramos pertinente retomarmos 42 questo inicial do “momento oportuno” (GEERTZ, 2001, p. 15), mo- ‘mento de confronto das representagdes histéricas com as realidades que elas representam (Le Goff, p. 13), momento de contextualizar o Projeto de Lei 43/2013, aprovado em 30 de janeiro de 2015 pelo Governo Portu- gués, incluindo-o no artigo 169 da Constituigdo Portuguesa e aprovacao por parte do Conselho de Ministros da Espanha de um anteprojeto de lei visando modificar 0 artigo 23 do Cédigo Civil Espanhol para agilizar a concessio da nacionalidade espanhola aos judeus sefarditas, Em entrevista ao Jornal El Paris, 0 autor do Projeto que concede cidadania aos judeus sefaraditas, Ministro da Justiga da Espanha, Alber som todas as implicag s legais decorrentes de Prd da meméiajudsica na eseritahistrica ries | 15S to Ruiz Gallardén afirma que as medidas legais nada mais sio do que ‘uma tentativa de reparago daquilo que teria sido “um dos erros mais importantes na historia da Espanha como foi a expulsdo dos judeus em 1492.” Jornal BI Paris, Madri, 4 jun. 2014), Acreditamos que a adogao de medidas reparadoras como a restituigo da cidadania aos judeus sefar- ditas tém grande valor, todavia nao substituem a narrativa histérica nos manuais usados nas escolas brasileiras. As mudancas de atitude frente a0 consentimento ¢ aceitagdo da sociedade no que se refere a presenga e atuago dos ctistios novos na construgdo histérica do Brasil, facilitam a compreensio do contetido pertinente a historia do Brasil Colonial, per- mitindo que velhos conhecidos, personagens de uma histéria com uma narrativa polarizada em heris e vildes, selvagens e civilizados possam ser reconhecidos como pessoas com seus medos, fragilidades, ambicdes, lutas e conquistas. Por outro lado, possibilitard o estabelecimento da identidade escamoteada resultante de uma “amnésia coletiva” em relagdo a presenga dos cristdos novos no Brasil. Tal esquecimento, a nosso ver, tem acarre- tado problemas na construgio da meméria histética, social e coletiva da nagdo. Os saberes e linguagens concementes ao papel dos cristios novos na Historia brasileira, é foco de investigagdo crescente no meio académico. Faz-se necessario que da mesma forma, ocorra no Ensino Basico, Para além dos problemas oriundos da “cultura do siléncio” favorecida pela discriminagao, as informagGes ora expostas, a demarcagio de tertititio anteriormente mencionada e os dados extraidos do Primeiro Sinodo de Fortaleza, expdem uma pagina de nossa histéria conhecida no ambiente académico em concomitdncia com o despertar da histéria regional para uusos € costumes locais associados ao universo judaico, principalmente, no notdeste brasileiro. CONCLUSAO Os resultados da pesquisa evidenciam a natureza das relagdes en- tre os fatores politicos e religiosos como forga motriz da imigragdo dos cristdos novos para o Brasil, assim como a adequagao comportamental dos judeus as exigéncias politicas e religiosas da época com a finalidade de consolidar o processo de integragao dessas pessoas na sociedade colo- nial. Fato curiosamente comprovado no cemitério Sao Joo Batista desde 1866, ou seja, trés anos antes do Primeiro Sinodo Fortalezense quando 156 {jé era proibido dar sepultura aos ndo catdlicos. A legitimagdo da referida segregacio foi sacramentada pelo Sinodo de 1888, ele regulamentava a utilizago do espago através da separagao da parte final do cemitério para sepultamento dos mais pobres, dos andtemas e dos judeus, ea parte frontal da necrépole era destinada aos catdlicos, cuja exuberancia dos timulos sinalizava o status do sepultado. Tais situagdes ja seriam suficientes para demonstrat a segregagao ¢ a exclusdo presentes na sociedade, onde 0 es- ago funerério era regido pela mesma légica de organizagao da sociedade do outro lado dos muros da necrépole. A recente substituigdo de lipides € epitifios de timulos na parte frontal do cemitério, pertencentes a pessoas aparentemente catdlicas por outras com inscrigdes em hebraico ou sim- bolos judaicos, atestam a verdadeira origem do sepultado, demonstrando as estratégias utilizadas por familias ricas de Fortaleza com a finalidade de serem aceitas como catélicas, embora nio o fossem de origem, Seriam estes comportamentos verdadeiras negociagdes de identidades? Na verdade, entendemos ser possivel afirmar que a ago da Igreja respaldada pelo Estado primeiramente na Espana e posteriormente em Portugal submeteu os judeus daquela regio ao controle, vigiliincia e ex- proptiagdo de seus bens criando condigdes que os forgava a buscar uma forma de sobrevivéncia fora da Europa; nesse sentido, o éxito das Gran- des Navegagdes é em parte devido 20 conhecimento dos semitas, elite cultural na Peninsula Ibérica, assim como, resultado da necessidade de sobrevivéncia e do capital judaico, Podemos afirmar que na frota dirigida por Cabral, constitufda por mais de mil e quinhentos homens, viaja como conselheiro, Gaspar da Gama, judeu vindo de Géa, profundo conhecedor dos caminhos dos mares. O experiente navegador e conselheiro de Cabral visualizou a extraordinéria importincia daquelas tertas para seus irmaos oprimidos em Portugal © anscio por encontrar um lugar onde os judeus ndo seriam perse- ‘uidos, jé era fato na Espanha desde o século IX quando um homem que se dizia chamar Eldadhad-Dani apareceu na Espanha afirmando ser da tribo de Da. Entre 0s historiadores ele & conhecido como Eldade, o Danita, ¢ suas narrativas influenciaram fortemente o imaginario judaico e estimularam a busca pelas terras onde um povo ameagado ¢ sem pitria pudesse viver em paz. Nesse contexto, os documentos comprovam que as comunidades judaicas em Barcelona mantinham contato com as comunidades judaicas dos mais variados locais. No século XII, encontramos o disrio do rabino Prd da memiiajudsic na eseritahistrica rails 157 Benjamim de Tubela, que em 1159 havia partido em uma viagem de treze anos pela Europa, Asia e Africa; os relatos dessa viagem sao de grande relevancia historica, geogrifica e antropologica, além de demonstrarem ‘mais uma vez, 0 desejo de encontrar um local onde os judeus teriam li- berdade. Sabemos que no século XV, o conhecimento de mundo que se tinha era baseado em mapas exploratérios ~ Em sua maioria feito pelos semitas, arabes e judeus — narrativas de viagens ou historias de marinheiros c observamos que de igual mancira, os forgados, eristdos novos - séculos XV e XVI- foram contaminados pelo desejo de encontrar um lugar onde fosse possivel viver longe das desgraas ocasionadas pelo antissemitismo. Encontramos no século XVI, Fernando de Noronha, cristio novo, chefian- do um consércio de judeus (cristdos novos) aproveitando-se do interesse do Rei D. Manuel I, no rico comércio de especiarias para arrendar a terra recém-descoberta, mais uma vez nos foi possivel constatar que a agiio de Fernio de Noronha ocorreu sob orientacdo do influente Gaspar da Gama, © mesmo experiente navegador ¢ conselheiro de reis ¢ de Cabral. Tais afirmagGes so ratificadas pelo mais antigo documento, de 3 de outubro de 1502, sobre a concessio feita a0 cristo novo Fernando Dalla Rogna, também conhecido como Fernando de Noronha, ¢ o documento de 6 de outubro de 1503, primeira mengdo do nome Noronha em conexdo com 0 Brasil em um acordo firmado entre D. Manuel I e mercadores alemaes. ‘Vale ressaltar que 0 poderoso armador Femando de Noronha fez uso da sua fortuna para amparar os judeus entre os anos de 1498, 1506 ¢ 1536, anos marcados pela violenta perseguigo & comunidade judaica. Femando de Noronha comprava-lhes as propriedades, facilitando-Ihes o éxodo para terras distantes, fora do controle da Igreja e do Estado, portanto, mais liberais, onde pudessem realizar suas aspiragdes de viver em liberdade Certamente a histéria que ora narramos ndo consta nos manuais de historia utilizados pelos jovens brasileiros, nem to pouco a histéria de Jodo Ramalho sobre quem Rocha Pombo admite ter ele chegado ao Brasil em 1497, clemento muito itil no processo de colonizagdo da povoagdo de Sao Vicente e de Santos, a quem Martim Afonso de Souza elevou ao cargo de capitio mor. Joo Ramalho é mais um exemplo do europeu identificado através das “priticas de vida” como judeu. Nao so poucos os ‘brancos’, ‘portugueses’, “degredados’, marginalizados ou ndo que ‘tiveram suas histérias diluidas nas péginas dos manuais produzidos para ‘uso na Escola de Ensino Basico do Brasil 158 | Revista da Instat da Ceard- 2017 Em face destas ¢ tantas outras revelagdes, questionamos 0 desco- nhecimento da populagao brasileira acerca dos primeiros “brancos”, “por- tugueses” ou cristdos novos que forgados pelas circunstncias buscaram nas terras distantes a oportunidade de recomegar suas vidas. Entretanto, convém destacar que a ago do Tribunal do Santo Oficio atuou por tre- zentos anos na América, em nenhum outro lugar o Santo Oficio atuou por igual tempo. Essa longa atuagao seria um indicative das ‘anomalias’ cexistentes na estrutura social desta parte do mundo? Acreditamos que a exclusio dessas informagdes interfere na construgo da Meméria da populacao brasileira, no reconhecimento de sua propria identidade, visto que, os hébitos costumes deixados pelos ctistios novos fazem parte do imaginario do povo brasileiro; 0 uso de caixo coletivo que nunca era usado em algumas cidades do interior de Pernambuco, a utilizagdo de mesas coloniais com duas gavetas, uma para ‘guardar comida casher e outra com alimentos que fugiam a dieta alimen- tar do judeu. Tantos costumes cuja origem é desconhecida da populacao. Ressaite-se o falar “cantando do nordestino” com as oragdes cantadas de uso tio comuns entre os semitas, Nao pretendemos esgotar o assunto, nem o poderiamos, intenciona- ‘mos bem mais iniciar uma prospec¢io em dirego ao conceito sedimen- tado de povo brasileiro, mais quem € 0 povo brasileiro? Como vimos a idealizagao de tal conceito é por natureza questiondvel, tendo em vista, a elaboragao do mito fundador do povo brasileiro com fusio das trés ragas, tal mito por si s6jé reflete a ideia de homogeneizar o diferente, o conceito, ‘a nosso ver, erroneamente construido de raga brasileira contribuiu para a camuflar a diversidade cultural de forma a escamoteara verdadeira origem do chamado povo brasileiro. Em decorréncia das varias leituras e andlises realizadas a0 logo do presente trabalho nos foi possivel perceber que a escrita historiogréfica brasileira ainda é mesmo que inconscientemente, ‘marcada pelo preconceito no tocante ao papel desempenhado pelos cristios novos (judeus) na formagdo étnica e cultural do Brasil Prd da meméiajudsica na eseritahistrica raieite | 159) REFERENCIAS CASCUDO, Lda C. Mouros, Franceses ¢ Judeus, Rio de Janeiro: Letras e Artes, 1967. CORTESAO, JAIME, Obras completas, vol 9: Raposo Tavares, [8.1 [8] [5.6]. ESCROIGNARD, V. 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