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“O tempo Saquarema: a formação do Estado Imperial”

Ilmar Rohloff de Mattos

 Contexto Segundo Reinado;

 Saquarema: conservador; Luzia: liberal;

 O empenho dos saquaremas contra os luzias consistiu em reduzir, intencionalmente,


seus esforços por uma revolução à condição de “rebelião” com o objetivo de
desclassificar as demandas dos liberais (Câmara dos deputados: sessão de 23 de
janeiro de 1843);

 Paulino José Soares de Souza, Visconde de Uruguai, fez, na sessão da Câmara dos
Deputados acima referida, uma declaração de repúdio às “rebeliões” como principais
responsáveis por comprometer a paz pública e reivindica mais poderes ao governo
(conservador), conferindo-lhe, inclusive, o poder de extirpar todas essas forças
arbitrárias em nome da preservação do país.

 Câmara dos deputados: sessão de 23 de janeiro de 1843;

 Na página 143: breve crítica à Historiografia no sentido de não captar a diversidade e


oposição de ideias de governo no segundo reinado, ou seja, apaga as disputas
ideológicas desse contexto, não identificando suas diferenças intrínsecas; “Ora insiste
unicamente na semelhança entre Luzias e Saquaremas; ora sublinha apenas a
diferença entre conservadores e liberais; quase sempre ignora a relação
hierarquizada que se estabeleceu entre ambos.” (p. 143 – 144)

 Saquaremas e Luzias como semelhantes, diferentes e hierarquizados, tudo ao mesmo


tempo;

 Hierarquização, complementaridade e contradição entre os partidos;

 Mundo do Governo composto por duas faces complementares e contraditórias: Casa e


Estado.

 Primeiro momento: oposição Casa x Estado (Liberdade x Autoridade); ilustra uma


dualidade mais reduzida, numa perspectiva evolucionista; Esta produção
historiográfica teria suas raízes nos panfletos de Justiniano José da Rocha, editado em
1856. Presente em parte considerável da Historiografia. Segundo Reinado reduzido à
dicotomia Liberdade x Autoridade, na qual à primeira são atribuídos conteúdos de
ordem privada, localismo e descentralização político-administrativa e, à segunda,
conteúdos de ordem pública, poder central e centralização político-administrativa. (p.
146)

 Crítica ao evolucionismo nas produções do século XIX. Chama a atenção para a


necessidade de romper com a visão linear de tempo dos acontecimentos e com o
pressuposto de que estes se sucediam numa lógica teleológica e abrir espaço para a
compreensão de modo mais amplo, analisando as múltiplas faces e fatores que se
influenciam mutuamente. Em suma, romper com a redução dicotômica para explicar o
mundo “natural”. (Ex: inferior – superior; desorganizado – organizado)

 Segundo momento: período da ação, predomínio do princípio democrático; definido


pelo jornalista conservador J. J. Rocha. 1822 – 1836;
 Caráter memorialista dos jornalistas do período XIX;
 Rompimento com a concepção de tempo de Justiniano;
 Evaristo de Veiga: sugestão de uma nova análise que traz à luz acontecimentos
simultâneos e divergentes dentro do mesmo polo, rompendo assim com a concepção
dicotômica evolucionista;
 Rompimento com a proposição primeira (casa x estado) e surgimento de um terceiro
elemento: rua (revolução);

 Contexto da abdicação de Dom Pedro I, alusão ao “Campo da Honra” de 1831.


Coexistência das três forças: Casa (Liberdade) – Estado (Autoridade) – Rua
(Revolução). Essa última instância composta por posições diversas e relativas, segundo
as quais podia-se ser favorável ao Estado sem enxergar na Casa um empecilho para tal,
uma vez que esta seja amparada pela ideia de liberdade antiga ou positiva (nada
superando a supremacia do Estado).

 Reconstituição da associação entre Liberdade e Igualdade. Ruas e praças públicas


povoadas por parlamentares cujo objetivo consistia em reivindicar uma redistribuição
do poder aos que pretendiam exercer cargos legislativos nas Regências.

 Princípios de isonomia e isogonia nas discussões políticas. O princípio democrático


ganhava conteúdo de uma República. Senda esta correspondente á definição de
Rosseu, segundo a qual consiste em “todo Estado regido por leis, sob qualquer forma
de administração que possa conhecer, pois só nesse caso governa o interesse público e
a coisa pública passa a ser qualquer coisa.” (nota 99 – p. 149) Importante ressaltar que
esse princípio não se confunde com a forma republicana de governo.

 Desunião de exaltados e moderados no que diz respeito à inclusão da plebe nos


termos de igualdade.
 Moderados buscavam conter medidas que conferisse expansão à “Liberdade”; de
outro lado, exaltados tentavam reforçar sua concepção de Liberdade, nas praças
públicas e Sociedade Federal.

 Apesar de o Ato Adicional de

 Defensores da liberdade antiga inspiravam-se nos acontecimentos da Europa no


contexto da Revolução Francesa (1789);
 Relação das forças era mais dialética que dicotômica;

 Terceira fase por J. J.: regresso 1836 – 1852; expressar certo “pacto” de união entre
Moderadores, Exaltados e Restauradores, não dissolvia a hierarquização que constituía
intimamente as relações entre estas categorias. Esse fator (hierarquias) é o argumento
principal do autor para romper com a minha primeira proposição de que as relações
entre Liberais e Autoridade baseava-se apenas em oposição (historiografia tradicional
que até então predominava e com a qual o autor rompe definitivamente).

 Como o autor destaca, esse rompimento não só representa a ruptura com a visão
dicotômica da relação entre o governo do Estado e o governo da Casa, mas reflete um
interesse maior em analisar os fatos que os envolve, mais do que a definição que se
queira a dar à cada uma categoria em questão.

 Terceiro momento: Reação ou Regresso Conservador. (1836 – 1852, segundo


Justiniano José da Rocha)

 Expansão e intensificação do Regresso reduzindo as possibilidades de a Liberdade


alinhar os discursos às ações. Divergência entre ambos em termos de interpretação de
nação, sendo para os Liberais a associação política do Povo, indo contra os limites pré
definidos pelo posicionamento conservador dos Regressistas.

 Contexto do Regresso não se limita ao avanço do princípio de autoridade, tampouco


representava a exclusão definitiva da Liberdade, mas sim sua requalificação.

 O que mais distingue o contexto regressista: crescimento das insurreições escravas,


distúrbios da malta e rebeliões ameaçando sua ordem.

 Marcado por contradições e limites, fraquezas da política do Estado... Verifica-se,


neste, o problema de conciliar toda a diversidade de ‘liberdades” sem afetar a ordem.
Para sustentar tal argumento, o autor alude à Fala do Trono de Abertura da
Assembléia-Geral Legislativa de 1838.

 Importância desta sessão da Assembléia – quarta legislatura – para compreender os


conceitos de Liberdade e Revolução dentro desse contexto. Discussões entre
Progressistas ou Liberais – Limpo de Abreu, Teófilo Otôni, José Antônio Marinho, na
Câmara Temporária; Feijó, Barbacena, Vergueiro, Alves Branco e Alencar, no Senado –
e os Regressistas – Paulino, Rodrigues Torres, Clemente Pereira, Honóro Hermeto
Carneiro Leão, entre outros.

 Regressistas compostos por velhos defensores do 7 de abril, reacionários do Primeiro


Reinado e antigos liberais.

 Remonta à ideia de organização e ordem.

 Empenho de liberais em destacar suas diferenças em relação aos Regressistas.


Reivindicavam maior poder à Câmara Temporária (Corpo Legilativo, Representação
Nacional); e os últimos: reforço ao poder Executivo como única condição para superar
a anarquia.

 Alusão à fala de Francisco de Sales Torres Homem (Timandro), segundo o qual a Nação
é soberana e diante dela que o rei/imperador deve inclinar-se. Afirmação que norteou
o princípio democrático. Subordinação da Coroa e Executivo ao poder da
Representação Nacional, ilustrando a tentativa de impedir que os privilégios e poderes
estivessem restritos a essas duas forças, com mais potência sobre a Luberdade.

 Situação paradoxal da Liberdade, que implicava uma Igualdade, ameaçando romper as


fronteiras da distinções que eles mesmos faziam entre si no Mundo do Governo.

 Apesar da relativa oposição ao Regresso, aderiam ao discurso da ordem tendo em


vista as rebeliões inerentes no contexto da Abdicação. Culminou em diversas
restrições também ao Povo e apagamento da plebe nas representações e direito de
voz.

 “Assim, a desigualdade na política correspondia á desigualdade na sociedade.” (p. 155)

 Apoio dos liberais ao golpe da maioridade. Festas das luzes, inspirada em princípios de
Liberdade, na qual as diferenças só poderiam ser atestadas, naquele contexto, pelos
tamanhos das luminárias. Contradições dos Liberais: Liberdade passa a se atrelar aos
princípios de Ordem e da Monarquia.

 Essa incorporação seria inevitável para que eles conseguissem avançar em seu objetivo
de criar condições necessárias para o governo da Casa. Surgem, então, os Luzias.

 Crítica ao elemento português colonizador como não condizentes com o progresso,


como se estivessem parados no tempo. A crítica avança do colonizador ao próprio
processo de colonização.

 A ideia de Revolução vai ganhando forma e se cristalizando nos discursos liberais, â


medida em que o Regresso progride. “Mito do Revolução” inspirada nas ideias
francesas.
 Nos discursos conservadores ou regressistas, prevalece a ideia de que se prevaleça
uma política executada pelo Executivo com forte poder da Coroa, contando com o
apoio do Legislativo, a eles subordinado.

 Nesse contexto da terceira proposição apresentada pelo autor, os discursos liberais


estavam mais detidos à associação de “Liberdade à noção de Segurança (isto é, à
noção de Ordem), à Monarquia Constitucional e à manutenção da integridade
territorial” (p. 158). Soma das liberdades também correspondia à grande força do
Poder Executivo.

 Complexidade da aderência de concepções de liberdade individual e delimitação da


atuação do poder sobre essas instâncias privadas e os pensamentos dos regressitas,
encontrando apoio em Hobbes, por exemplo, para reivindicar sua ampliação de
controle para que haja a liberdade, sempre subordinada à autoridade pois à ela se
assemelha.

 Conceito de liberdade pelos Regressistas: buscam reforçar o poder, amparados na


noção de Razão da Nacional. Estado como mediador da liberdade e segurança e o
indivíduo.

 Poder como representação do mantenedor da paz e ordem, pela sociedade.

 Dimensão pública: na qual os cidadãos e homens, a um só tempo, estavam isentos da


responsabilidade; dimensão privada: onde todos eram livres em consciência.

 Justificativas para a desigualdade natural entre os homens ser refletida nas


desigualdades na sociedade.

 Na dimensão pública, na concepção regressita: liberdade qualitativa. Naturalizaç~]ao


da sociedade política, na qual se tinha um lugar natural dos cidadãos ativos, e a
sociedade civil, na qual os cidadãos não ativos e sem o monopólio da responsabilidade
tinham sua posição também naturalizada.

 Desigualdade reforçada tanto em escala social quanto dentro do próprio Mundo do


Governo: hierarquização das relações entre o Executivo e a Câmara do Deputados;
discriminação entre votantes e eleitores;

 Saquaremas como camada Regressista expressiva da distinção na ordem pública:


governo e administração de coisas e homens.

 União das camadas pobres e submetidas ao Imperador e fortalecimento das distinções


dos homens livres.
 Reação e Transação corresponde, então, à força empenhada pelos Saquaremas em
pressionar as substituições das ideias dos Liberais, esvaindo suas ideias. DEissolução da
problemática nativista que opunham portugueses aos brasileiros.

 Consolidação do Estado Monárquico: diferenciação entre as pessoas – cidadão e


súditos e apenas súditos. Desigualdades como condições inerentes à existência do
Soberano.

 Ressiginifcação, pelos regressistas, do temro Revolução, remontando ao seu sentido


precedente a 1789. Revolução como Restauração. Revolução como objetivo
alcançado e não como ruptura. Passado explicando o presente. Historiografia da
restauração.

 Momento da “Ação”: rompimento com o Poder metropolitano, afirmando os


monopólios da classe senhorial, sua restauração e expansão. Tal rompimento não
implica enfraquecimento do poder centralizado e hierarquias, mas o alude como
necessário e mantenedor da ordem. Este período mais reafirma a “individualidade”.

Resumo do contexto das disputas e enfraquecimento das forças luzias:


Liberais – Liberdade da Casa e/ou Igualdade entre o Povo – não conseguem o governo
do Estado. “E o fracasso dos Liberais já ao final do Período das Regências anuncia a
derrota dos Luzias logo após a Maioridade.” (p. 168)

Rompimento historiográfico proposto sugere que a historiografia que concebe o


período regencial de modo teleológico e evolucionista não se distingue apenas pela
insuficiência, mas por seu caráter restritivo de interpretação, imponto limites à uma
compreensão mais apurada sobre as dinâmicas da política imperial e da sociedade
como um todo.
Concebe, portanto, o contexto da consolidação do Estado, palco da derrota da
direção que os Liberais tentavam estabelecer.
Analisa os conflitos além no interior da atuação do poder imperial.
Analisa a forma como os Saquaremas davam contorno aos seus avanços da
disseminação das “luzes” que intencionavam atrair mais associações da sociedade,
referida, é claro, aos cidadão ativos, ou seja, “boa sociedade”.
Diluir a noção de Governo que o delimita ao caráter dominial, trazendo sua
característica de líder intelectual de uma massa senhorial em constituição. Os
Saquaremas são, assim, definidos pelo autor. Estiveram portanto no governo da
Casa, por meio da “difusão das luzes” e “ideias de associação”. Autodefinição de
qualificações dos compomentes, definindo direções e fortalecendo suas
lefgimitimidade. Princípio monárquico difundido de forma. Consideração da
influência das forças sociais.
Destaque da Coroa por meio do incentivo à circulação monetária, propiciadora da
junção de colonizadores antigos e colonos.
Na luta que Liberais empenhavam contra os negócios de pactos entre antigos
monopólios, só conseguiam levar vantagem sobre o último em termos de mercado
interno.
Nesse sentido, as tentativas de Liberais estarem no Governo eram restringidas por
suas divergências quanto aos preceitos da política conservadora cuja Coroa deveria
ser soberana e a desigualdade era nutriente dessa estrutura. As investidas de liberais
provinham da reorientação da economia local e uma constante necessidade da
província outorgar a si direitos de expansão e decisão. Camadas sociais oriundas da
zonas cafeeiras em expansão, que reivindicavam direito social e político de
participação.
Trajetória diferentes dos diversos segmentos liberais e a dificuldade de se
estabelecer um consenso e agrupamento de todas.
Ênfase da relação dos Saquaremas e os traficantes negreiros, a política escravista no
movimento embrionário do Estado Imperial.
Ação do Estado sobre o governo da Casa e concepção da Coroa como partido nesses
processos.

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