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LEVANTAMENTO DA ARQUITECTURA POPULAR DO ARQUIPELAGO DA MADEIRA BASES PARA A SUA REABILITACAO ENQUANTO PATRIMONIO CULTURAL Arquitecto Vietor Mestre - 1997 I" Mestrado em Recuperagio do Patriménio Arquitectnico e Paisagistico - Universidade de Evora Levatamento da Arquitectura Popular do Arquipélago da Madeira Bases para a sua Reabilitacio Enquanto Patriménio Cultural Arquitecto Victor Mestre 1997 ERRATA (Continuagao) Principais drvores ¢ arbustos indigenas sio (81): Adémno (Heberdenca Excelsa): Arvore - EX Alindres ou Figueira do Inferno (Euphorbia mellifera)*: Arbusto - E Azevinho (Ilex canariensis)*: Arvore - E Barbusano (Apollonias Barbujana)*: Arvore -1, EN ‘Ceairo (Juniperus cedrus)*: Arvore - I, EN Codégo Dragociro (Dracaena Draco)*: Arvore - 1, EN Faia (Myticafaya)*: Arvore - 1 Folhado (Clethra arborea)*: Arvore - I, EN Fustéte (Berberis Maderensis): Arbusto - E, EN Ginjeira brava (Prunus lusitanica)*: Arvore - I, EN Loureiro (Laurus Azorica)*: Arvore - I, EN ‘Marmulano (Sideroxylon marmulano)*: Arvore - I, EN Massaroco (Echium Nervosum)*: Arbusto - E Mocano (Visnea Mocarena): Arbusto - I, EN ‘Malfurada (Globularia Salicina)*: Arbusto - E Marta (Mirtus Murta): Arbusto - 1 Oliveira (Olea Europeia Maderensis): Arvore - 1, EN au Branco (Picconia excelsa)*: Arvore - I, EN erado (Ilex Perado): Arvore - E, EN Piorno (Teline madcrensis)*: Arbusto -E Sabugueiro (Sambucus lanceolata)*: Arbusto -E Sanguinho (Rhamnus glandulosa)*: Arvore - E Seisseiro (Salix canariensis)*: Arvore I, EN Sorveira (Sorbus maderensis): Arbusto - E Teixo (Taxus Bacatta): Arvore =I Til (Ocotea foetens)*: Arvore - 1, EN Tintureira Frangola Azorica): Arvore - I, EN Urze das Vassouras (Erica scoparia ssp. platycodon)*: Arbusto - 1, EN Urze Molar (Erica Arborea)*: Arbusto/Arvore - I, EN Uveira (Vacciniom Padifotium): Arbusto - E, EN ‘Vinhitico (Persea indica)*: Arvore - I, EN Zimbreiro Juniperus Phoenilea): Arvore - 1 E - Endémico da Madeira EN - Endémico da Macaronésia - Indigena da Madeira Esta informagdo foi getilmente corrigida e completada pelo Eng’. Costa Neves, actual Director dos Parques e Reservas da Regido Auténoma da Madeira, 11 Corogafs Benen do Aguipigy de Maka Alberto Same, Jaa Gar Aonms Dist Pacha 2 trig Finca, 196 As oss separa oso * Zam tins de A Vis de’. Viel, tea do denice ang (174 190) Char Manca de Vz, 1908 pg 11-102 Levantamento da Arquitectura Popular do Arquipélago da Madeira Bases para a sua Reabilitagao Enquanto Patriménio Cultural Arquitecto Victor Mestre 1997 ERRATA Il Mestrado em Recuperagao do Patrimonio Arquitecténico e Paisagistico - Universidade de Evora sutadas, em que algumas delas rodam em eixos laterais comandados simulténeamente por uma pa vertical interior Pags. Onde se 16 Leia-se 2 Da fa vontade do infant Da fime vontade do Duque 0. Manuel B Palacio dos Césulos Palacio dos Cénsulos 64 ‘Aenistncia entéo de Marbolano ‘A existncia entéo de Barbuzano 12 Implantaram com os cénons Implantaram com os c&non 5 Os tapa-sois também em ripas de madeira Os tapa-sois também em ripas de madeira sutadas, em que algunas delas (denominades bilhardeiras) rodam em eixos laterais comandados simuitineamente por uma ripa vertical interior 765 10 quacro denominado “Principals vores @ arbustos indigenas so” sora substtuido pelo que se apresenta em anexo completado pele infomagdo do tipo e origom das espécies. 769 ‘A cultura do pastel nd teve ineremento, assim | A cultura do pastel teré tio algum incremento na ‘como a conchinilha Ribeira dos Socorrdos, ao invés da conchinitha 170 Sr. Nuno Bazenca Sr. Nuno Bazenga 7 ‘Séo Martinho, Funchal ‘Santo Anténio, Funchal 181 ‘quer dos portugueses quer dos espanhdis ‘quer dos portugueses quer dos castefhanos 187 condigao fipoligia ‘condigao tipoldgica 187 ‘A peda utiisada ‘Apedra utiizada 189 Verifica-se auséncia de parte do texto partir da linha 20, Transcrigao Nota f 490 Tiucidério Madeirense Elucidrio Madsirense 180 ‘Saber de controle de medidas 6 métidos ‘Saber de controle de medidas e métodos construtves construtvos: 199 Sanla Cruz, Fell Santa Cruz, Faial 215 ‘Sendo 0 exemplo plone @ [grea de Penacova de | sendo o exemplo pioneiro a lgreja das Aguas em Nuno Teoténio Pereira Penamacor 78 (Casa na Boa-Nova, Funchal - Arqutecto Piaxo | Casa na Goa Nova, Funchal Arqultecto Paixao anos 80 anos 60 233 ‘para tabalhar a amdoira para Wabalhar a madeira 254 Pereira, Eduardo C. N.-Iias de Zarco Poreira, Eduardo C. N.- has de Zarco Nota 1 - Transcrigéo do texto em falta da pg. 189 a partir da linha 20, “Ainda digno de nota seré a mética quase sempre constante em cada tipologia@ entre tipologias diferentes, Exstra uma ‘concepyéo geométrca e modular pré-estabelecida (por infuéncia da arquitectura erudta, nomeadamente fruto da construgdo da Sé, da Alféndega, das Fortalezas, dos Conventos @ de outros edifcios nobres), ou apenas sera o Conhesimento empirioo que permite a estabilizagdo de um sistema de medidas fixo? Plantae algados responders assim & uilzagéo de uma medida fxa, © respectivos miliplos, que inluem na tridimensionalidade das construgbes, Néo estamos a falar de uma malha reguladora mas num simples mélodo coevo de quem sabe, reproduzido fielmente de casa para casa, {ue teré parmitide a construgdo homogénea das casas garantindo uma proporéo constante. Eslaré assim presente também uma ideia de “médulo" que, associado, permite a multiplicaggo da comparimentagdo face &s necessidades de ‘quem mandou construir, e provavelmente da cepacidade dos materais, nomeadamente do comprimento admissivel das varas que compBem as armagées dos telhados @ a estabilidade das paredes face aos impuisos lalerais, Teréo estas ‘medidas, tal como as tecnicas construtvas, sido importades do Continente? Alravés de uma pequena sobreposigéo de levantamentos, @ sem a certeza de um rigor cientfco, diamos que haverd pontos de contacto, ‘As principals unidades de medida utiizadas no arquipélago terdo sido, desde 0 povoamento, 0 cévado, a vara, a braga, 0 Nota 2 - Por deficiéncia do sistema informatica verifica.se que alguma acentuagdo se encontra errada, com especial destaque para o acento agudo que passou incorectamente a grave. LEVANTAMENTO DA — ARQUITECTURA ARQUIPELAGO DA POPULAR DO MADEIRA BASES PARA A SUA REABILITACAO ENQUANTO PATRIMONIO CULTURAL Arquitecto Vietor Mestre - 1997 IIP Mestrado em Recuperagio do Patriménia Arquiteténico e Paisagistico - Universidade de Evora Imagem da cape: Rosso, Camacho, LEVANTAMENTO DA. ARQUITECTURA POPULAR DO ARQUIPELAGO DA MADEIRA Dissertagdo expressamente elaborada para o I/* Mestrado em Recuperagéo do Patriménio Arquitecténico e Paisagistico da Universidade de Evora, sob a orientagéo do Professor Arquitecto Femando Tévora. O candidato agradece 0 seu apoio e acompanhamento em todo o desenvolvimento deste trabalho agora presente. [LEVANTAMIENTO DA ARQUTTECTURA POPULAR DO ARQUIFELAGO DA MADFIRA LEVANTAMINTO DA ARQUITECTURA POFULAR DO AROUIDELACO DA MADEIRA LEVANTAMENTO DA ARQUITECTURA POPULAR DO ARQUIPELAGO DA MADEIRA. I Parte Enquadramento Histérico e Geografico Levantamento e Identificagao das Tipologias I Parte Renascimento da Arquitectura Popular Bases para a sua Reabilitagdo enquanto Patriménio Cultural Arg®’. Victor Mestre 13 de Junho de 1997 oer Mote Aeiee s LLEVANTAMENTO DA. AROUITECTURA POFLLAR BO AROUIPELAGO DA MADEIRA Dedico este trabalho de investigagdo & minha filha Raquel que me acompanhou na tiima eampanha em Abril / Maio de 1996, apesar de ainda nio ter completado um ano de idade. ie Ma te 6 [REVANTAMIENTO DA. ARQUITECTURA POPULAR DO ARQUIPELAGO DA MADEIRA Abreviaturas Entidades Consultadas na Regio Autonoma da Madeira A.D.F. Arquivo Distrital do Funchal ARM. Arquivo Regional da Madeira C.M.F.F Casa Museu Frederico de Freitas, C.M. F. Cémara Municipal do Funchal .S.C. Convento de Santa Clara D.RA C. Direcgdo Regional dos Assuntos Culturais, P.=M. V. Photografia - Museu Vicentes M.A.S.F. Museu de Arte Sacra do Funchal QC. Quinta das Cruzes Entidades Consultadas em Lisboa A.H.M. doM.M. Arquivo Histérieo Militar do Museu Militar A.H.M.doP. E. Arquivo Historico Ultramarino Palécio Ega B. N. Biblioteca Nacional D.GEMN Direceio Geral dos Edificios e Monumentos Naci D.R.M.L. Direogio Regional de Monuments de Lisboa M.E. Maseu de Etnologia M. M, Museu da Marinha tr Mats Aas 7 LEVANIAMENTO DA ARQUIFECTURA POPULAR DO ARQUIPELAGO DA MADEIRA Ribera do Inferno, 8. Veent, Seva «sino ‘quart do XIX, (PPI, ex campo, eg 124 wdeo(P-MV. or Mate Avie § [LEVANTAMENTO DA ARQUTTECTIRA POPULAR DO ARQUIPELAGO DA MADEIRA Agradecimentos Este trabalho sé foi possivel realizar com o auxilio de pessoas © entidades a quem recorri, muitas das quais permaneceram anénimas, umas por sua vontade, outra pela impossibilidade de a todas referenciar. Incluem-se aqui todos os madeirenses ¢ porto- santenses que me proporcionaram horas de franco convivio © aprendizagem em suas casas, nos seus campos e nas suas lidas didrias, A todos eles quero agradecer profundamente a sincera © desinteressada disponibilidade com que me confiaram tanto do seu saber e da sus experifucia quotidiana. Em grande parte aeles devo este trabalho. Correndo o isco de injustamente ndo mencionar alguém que terd de algum modo contribuide directa ou indirectamente para esta investigaglo, deixo os meus sinceros agradecimentos és seguintes Entidades e Pessoas, Fundago Calouste Gulbenkian, com especial atenglo para 0 Director da Secgio de Bolsas Pintor Manuel da Costa Cabral; Universidade de Evora, com especial atengo para 0 Coordenador do II°Mestrado em Recuperagao do Patrimonio Arguitecténico e Paisagistico, Prof. Dr. Arat®. Virgolino Jorge; Direcgio Regional dos Assuntos Culturais da Madeira Dr. José de Sai ‘Nelson Verissimo; Director da Casa Museu Frederico de Freitas, Dr. Paulo de Freitas. -Truevae Dr. Arq, Sofia Aleivo a quem agradgo especialmente pelo entusiasmo © empenhamento pessoal em tomar possivel este trabalho nomeadamente na parte da campanha realizada em 1996 © respectivotatamento da informagio recolhida. E ainda, Arg. José Rafael Bote, Argt. Nuno Teotni Pereira, Eng’. Carlos Aguiar, Irene Felicidade Mestre, Alfredo de Jesus Oliveira, Maria Helena Teixeira Aleixo, Tenteiro Aleixo, Dr. Benjamim Perera , Dr. Pais, de Brito, Dr*, Maria Helena D’ Araijo, Dr. Cindido Pereira Andrade, Sir Alexander Zino, Luisa e Ferdinando Bianchi eras fate ° LEVANTAMENTO DA ARQUITECTURA POPULAR DO ARQUIFELAGO DA MADEIRA LEVANTAMENTO DA ARQUITECTURA POPULAR BO ARQUIRELAGO DA. MADEIRA indice TPARTE LEVANTAMENTO E IDENTIFICAGAO DAS TIPOLOGIAS: Capitulo 1 - Memérias do um Levantamento ........ 18 Capitulo 2-Aapectos Gendsicos no Ambito da Arqutectra Popular 21 Capitulo 3 - Uma Primeira Leitura Genética da ha da Madeira .... 25 Capitulo 4- Breve Descrigo Geografica do Arquipélago da Madeira. 35 4. ha da Madeira .0....0.0.ccseecsseseees 37 4.1.1, Goograia eeemenne ns 31 4.2, Goologia......eesseeesceeereeeeeeee 31 4.1.3, Orografia © Costa 8) 4.1.4, Clima e Preciptasio pxroesooon 39 4.2. ha do Porto Santo coe . 45 4.2.1, GrograBia 2. es es 5 4s 4.2.2, Geologia ee 45 4.2.3. Otografiae Costa.......- ce 6 4.2.4, Cima e Precipitasio cesses 46 Capt 5 - Bases de Sopot pare a nticagso das Tipologias Habitacionais 49 CCapitul 6 - ldentificagto das Tipologias Hatitacionsis no Arquipélago da Madeira femeeret6 6.1. ha da Madeira... a 6.1.1. Az Css Antga ou Sectlces eral 6.1.2, AFuma 6) 6.1.3, A Casa Elomentar costes B 6.1.3.1, A Casa Elementar de Cobertura do Tetha 3 6.1.3.2. A Casa Elementar de dois pisos ...-....- 99 6.1.4. ACasaem Esquadsia ea Casa Duplicads .... 10s 6.1.5. A Casa Complexa de Cobertura de Telha ..2.2...0s+ee0e¢ MM 6.1.8. As Casas de Fo Meio Fie... +--+ us 6.1.7, ACasa Toreada «2.2.0.5. cee 11 6.1.8. As Casas Modemnas cee 12S 6.2. Ientfcago das Tipolgis Hatitaconas da Tha do Porto Santo ....... ui Capitulo 7 -Aspctos Formas da Arquitectra Madcirense 14s (Capitulo 8 - Os Matersis que se Usizaram nas Construgées do Arquipélage . . 149 4.1. Os Materiais de Consrto Utizdos na ha da Madeira... 153 BALL. Cantarin(s) 0... .eeee ee sess 153 B12. ACA - 17 813 Mnertes 2.20... ceteteeeeseee 161 8.1.4, AMadsira eed 8.1.5. Tintas cee 169 8.1.5.1. Os Pigmentos Adicionados & Cale Tintas Tradicionais ... 169 8.1.5.2. Tintas © Técnicas de Preparasio 13 8.1.5.3. Tintas de Oleo: Os Pigmentos Adicionados 20 leo de Linhaga .. . 1s 82. Os Mateias Técnicas de Constusio Uilzados za Tha de Porto Santo — . 179 8.2.1. A construgdo -téenicas materinis ......... 179 eter Mee Ace u LLEVANTAMIESTO DA ARQUITECTUA FOFULAR DO ARQUIPELAGO DA MADEIRA 8.22, As caractriticas funcionais.. sete = 180 8.3. RelagBes Entre as Construgdes da lha do Porto Santo das has Canétias..-.0.. 0.20. 11 83.1. A fixagio de comunidades e a sua origem .. 181 8.3.2. Astéenieas do construglo de coberturas do Arquipélage das Canitias «algunas relagdes com a ha do Porto Santo - 181 Capitulo 9 - Breves Conclusies sobre as Tipologias Hialitacionaise Sistemas Construtves ... 18s 9.1. ha da Madeira 2.2... 185 92, Beves Cencluses sb as TpoogasHatitacionsis daha do Porto Santo - 191 IPARTE RENASCIMENTO DA ARQUITECTURA POPULAR DO ARQUIPELAGO DA MADEIRA - BASES PARA A SUA REABILITACAO ENQUANTO PATRIMONIO CULTURAL Capitulo 1 -Os Ciclos da Arquitectura Popular Madeirense 195 1.1. Preservar a Horanga «++ —— 195 Capitulo 2 -Novas Realidades ...... = 199 Capitulo 3 -Intervengio: Restauro, Reailtagfo, Transformagio, Ampliagio, Demolisio, Construgso sees 201 3.1. Taterpretagdo - 201 3.2. Os Piméros dn"Casa Reon”. Mata de eflexio ‘em redor da Casa Portuguesa até a actualidade = 204 43.3. Uma Bica na Construgdo Contemporinea .. ee 27 Capitulo 4 -Btica da Conservagio 1.2... ore 4.1. Agpectos Gerais 221 4.2, Aspectos Partculares ..... 002.2. 28 43. As diferentes fases por que passa actualmente (0 Patriménio ArquitetOnico Rural ........-2+e+ssseeeeeeeeess 232 43.1, APreservagio 2.2.60. ba ve BD 43.2.0 Restauro ees 43.3. AAlteragd0 oo... cs cseeeeeeeeeee - 223 43.4, Ampliagdo soe. cscceseeseseeseeeene coves BBM 43.5, ADemali 7 234 4A. "Opgtee’ de Prost, Ree, Atrajiow Amp |. 238 Capitulo 5 - Proposta de Ampliaglo das ClassifcagSes do Patiménio Arquitecténico & Arquitectura Popular 238 5.1. Agpectos Gerais de uma Classificaglo 238 5.2. Proposta de Classificaglo.......+c+seseeeeseseeveesess 241 Capitule 6 - Breves Conclusées 247 287 283 Vice Mt Asti 2 LLEVANTAMSTO DA ARQUITECTURA FOPLLAK DO ARQUIPELAGO DA MADEIRA IPARTE LEVANTAMENTO E IDENTIFICACAO DAS TIPOLOGIAS or Mae Arte a [LEVANTAMESTO DA ARQUITECTURA POPLLAR DO AROLIPELAGO DA MADFIRA ey 1 BE og | : plleney Machico - casa de meio fio: Leventamento de (Campo pig 3.3.96. as je on wo Sie Sse” “Tels: cao de boit -Levantamanto de Campo pig 37/Fev. Mar 96 Vile Mate Ame LEVANTAMENTO DA ARQUITECTURA POPULAR DO ARQUIPELAGO DA MADEIRA CapiruLo 1 - Memérias de um Levantamento Este trabalho surgiu por iniciativa exclusiva do autor © prende-se fundamentalmente com a sua paixdo pela vida dos campos e das Aldeias do Pais, com especial destaque para o Arquipélago da Madeira, teritério da sua predilecgdo pelas gentes, costumes, labor e pela Arquitectura Popular, sem esquecer 0 Territério e a Paisagem. Tem como antecedentes o valioso Inguérito Arquitectura Popular em Portugal, efectuado nos anos 50 (*) eo Levantamento da Arquitectura Popular dos Agores iniciado em 1982 (), Sao também fundamentais ainda dentro desta linha de investigagao e divulgagao 0 Inquérito 4 Habitagao Rural editado em 1943 (°), ¢ a Arquitectura Tradicional Portuguesa que reine um grande niimero de textos dispersos e editados em varios periddicos (*), bem como toda uma imensidao de livros, revistas, opiisculos e conferéncias, da responsabilidade de uma "geragao de ouro" da Geografia e da Etnologia Portuguesa (*). Todavia e dada a formagio de Arquitecto pretende-se com este trabalho tdo sémente contribuir para a divulgagdo da Arquitectura Popular Madeirense, identificando tipologias € técnicas construtivas e procurando ainda a sua contextualizagao com as gentes e respectivos costumes, respectivamente no trabalho do campo ena sempre numa perspectiva das suas influéncias na Arquitectura, Pretende-se assim nao se esgotar 0 assunto ou ‘mesmo ter qualquer pretensio de incursdo em areas para as ida doméstica’, quais no se considera preparado, nomeadamente a Geografia, a Etnografia, a Etnologia, a Sociologia, entre outras. ° Angutectra Popular em Portugal, AAP. vicios mores, oligo, 1980. » Levaamento de Argutectura Popular dos sores, Aaa Toss, Filipe Jorge ‘iva, Tato Viera Caldas, Jo Manuel Femandes, Maria de Lardes Jani, Nise Barcdlos e Vitor Meste, AAP, 1982 (eto em prepara). » Inquéit & Hobltogdo Rural Hable do Rural nas provincis do Nore de Portigal, EA Lima Bastoe, Henrique de Barros, Universidade Técnica de Lisboa, vel Lisboa, 1943, + Arauitectura Traicional Portuguesa, Eovsto Veiga de Olvera, Fomando Galbmo, Pbliaptes D. Quinte, Lshoo, 1992, * Componeses da Madeira~As bases materius do quotsiano ne Arquipélog, (0750-1900), kege Frets Braco, PubliagtesD. Quist, Lisboa, 1987, Vier Ante 1s Lombo do Meio, Pata do Sol - Romeirs do Espirito Sate kein da Sera ~ Fests do Espirito Sato: "barca ‘ds rife” LEVANEAMINTO DA ARQUITECTURA POPULAR DO AROUITELAGO DA MADEIRA Este trabalho iniciou-se em 1983 com uma investigagio documental, tendo continuidade no Arquipélago nos anos de 1984/85. Durante um ano percorreu as Sextas, Sabados ¢ Domingos (*) ailha, preferencialmente a pé, onde conviveu ‘com os habitantes participando nalgumas actividades rurais ‘edomésticas, tendo por vezes pemoitado em palheiros, para melhor observar os ciclos das sementeiras e respectivas colheitas, Nesse periodo efectuaram-se alguns levantamentos arquitecténicos que vieram inclusivamente a ser postos 4 disposigio da equipa que efectuara 0 mesmo trabalho no Arquipélago dos Agores (’). E ainda no final de 1985 que o autor parte para as ilhas Canarias onde inicia uma campanha de pesquisa das tipologias e tecnologias construtivas locais, com 0 propésito de identificar possiveis semelhangas e/ou parentescos formais construtivos e tipolégicos com as Arquitecturas Populares dos Agores ¢ Madeira. Assim percorre a Gran-Canaria, ‘Tenerife, Fuerte-Ventura e Lanzarote ficando Hierro Gomeira La-Palma para uma segunda campanha. Contra sua vontade regressa ao Continente interrompendo investigagio. Tinha entio recolhido cerca de dois milhares de registos fotogrificos, levantamentos _arquitecténicos, apontamentos escritos ¢ desenhados, para além de diversa documentagao adquirida nos e sobre 0s Arquipélagos da Madeira e Canarias. No Continente continua ligado 4 investigagao nesta Area publicando alguns artigos, © contribuindo para a conclusdo do Levantamento da Arquitectura Popular do Arguipélago dos Agores. Da inicio 4 recolha de documentagao sobre © Arquipélago de Cabo Verde. Finalmente, e em virtude da frequéncia no 11° Mestrado em Recuperag@o do Patriménio Arquitecténico e Pasagistico iniciado em 1994 na Universidade de Evora, surgiu de novo a ideia e © estimulo por parte de Professores e amigos de retomar a investigagdo no ambito da Tese de Mestrado. Surgiu assim a sinopse do trabalho e com ela 0 dnimo para terminar esta iniciativa. * Dararte qprosinadamente um ao stor resiiv no Funchal integrando 8 ipa coordenada pelo Arg, Joxé Rafael Botebo para a elaberaglo do Trabalho " rospecei Andis eSalvoguanda do Centro Histérico de Funchal”, wo abit ddarevisio do Pano Dzetor. > idem nore? oes Mat Are 16 LEVANTAMENTO DA ARQUITECTERA POFULAR DO AKQLIPELAGO DA. MADEIRA Ultrapassadas algumas dificuldades financeiras com 0 apoio da Fundagao Calouste Gulbenkian, assegurada a orientago pedagégica por parte do Arq”. Fernando Tavora, e apés duas viagens de preparagao, estruturou-se uma campanha de dois meses no Arquipélago com o objectivo de recolher de forma sistematica e metédica toda a informagao possivel no émbito da identificago de tipologias e processos construtives da Arquitectura Popular ( Territério, Habitagdo e Edificios Agricolas), bem como de utensilios domésticos, da lavourae do artesanato, observado ainda 0 Territorio, a Paisagem e 0 Espago Humanizado. Complementarmente, pretendia-se analisar a lida dos campos ¢ as actividades decorrentes, através da recolha de testemunhos orais dos habitantes, Por fim recolher dados em Museus e outras Instituig6es locais Como resultado imediato foram efectuados seis mil registos fotogrificos (slides e negativos a preto ¢ branco 6x6, slides € negatives cér e preto e branco 35 mm) centenas de levantamentos arquitecténicos detalhados (para além do edificio enquanto plantas, algados e cortes, foram desenhadas portas, janclas, portadas, tapa-séis, ferragens, cantarias, detalhes construtivos, etc.). Procedeu-se ainda 20 levantamento de objectos, pegas de mobiliério, ferramentas, etc. O método de trabalho de campo basicamente apoiou-se no mapa da(s) ilha(s) onde préviamente se preparava a vviagem do dia, na véspera, em fichas tipo por objecto onde se registava a informago indispensdvel 4 sua localizagao © identificagdo, a0 registo fotogrifico e a0 recurso a0 Ievantamento desenhado rigoroso, sempre que se verificou tratarse de um edificio representativo das tipologias ‘dentificadas ou de um objecto de forte caracter, tornando-se por isso paradigmatico no seu contexto. Foram percorridos na Tha da Madeira cerca de 5. 400 km de carro, acrescentado-se- -lhes ainda as centenas de percursos a pé feitos diariamente por veredas ou & beira de levadas, num sobe e desce continuo. No Porto Santo as deslocagdes de carro nao chegaram 20 meio milhar de quilometros, e os percursos a pé tonaram-se preferénciais. Finalizada a fase de recolha deu-se inicio ao tratamento dos dados, respectivamente inventariago, classificagio passagem a limpo dos levantamentos desenhados. Para além da identificagdo e divulgagdo da Arquitectura Popular Madeirense, respectivamente raizes e evoluglo, 0 objective alargou-se face ao ambito do Mestrado. Assim pretende-se ae Mate Are ” Jani da Sara - Fas do Espirito Sato: coat LLEVANTAMENTO DA AROUITECTERA POPULAR BO ARQUIPELAGO DA MADEIRA com este trabalho contribuir para a salvaguarda e revitalizagdo deste patriménio, apontando pistas para a sua rmanutengdo através de metodologias de restauro, reabilitagao e/ou ampliago dos exemplos significativos, com vista 4 salvaguarda da Identidade, do Cardcter e da Alma Este importante legado poderd & partida revelar-se modesto na sua aparéncia arquitecténica, se comparado com monumentos ¢ edificios histéricos notiveis, mas tera certamente uma importancia crucial na identidade do Povo Madeirense, pela coeréncia no cojunto das tipologias e respectivas qualidades, espaciais formais e construtivas que respondem as necessidades basicas dos seus utilizadores. Ainda que por vezes transmita uma impressdo rudimentar, a Arquitectura Popular Madeirense nao deixa de espantar pelas solugdes encontradas face 4 exiguidade de recursos, a extrema dificuldade territorial e 4 endémica falta de recursos econdmicos. ‘A Arquitectura Popular Madeirense, essencialmente dispersa no territério, é ainda um contributo valioso na Humanizagéio da paisagem, constituindo um elo de ligagao entre o Homem eaNatureza.E agora necessério voltar a vé-la no como uma imagem perdida ou parada no passado repleto de memérias, de dificuldades e de alegrias e tristezas mas antes, como um testemunho a reabilitar pela eficécia, harmonia, beleza, originalidade, por um conjunto de qualidades que podero contribuir para a manutengao da paisagem cultural deste territério. Propomo-nos deste modo identificar os espagos, as formas, 0s materiais, as técnicas construtivas e a alma desta(s) arquitectura(s) para se abrirem perspectivas de reabilitagao num contexto contempordneo. Na esperanga de seevitar a sua perda total, sem sequer se ter questionado da viabilidade da sua manutengo, bem como evitar as razdes exclusivas do turismo industrial ou de um pretenso regionalismo, mas, e sobretudo, na defesa dos interesses directos das populagdes, na sua identificagéo com a cultura ancestral que os toma tinicos e distintos dos outros poves. sr Ma, Ags 8 [LEVANTAMETO DA ARQUITECTURA FOPULAR DO ARQUIPELAGO DA MADEIRA INTAMENTO. DA ARQUITECTURA POPULAR D0 ARQUIPELAGO, DA MADEIRA (iva on enorme ‘ } ee CADA{S) - HABITAGRO oT TR) POLOGIA(S) IDERT TT worratorr er a ace 9 Ficha tipo de lavetriagio utiliza no Levintawanto da Argutecura Popular do ‘Asqupélago da Madera: = canpanha de ‘AbrVMaio 1996 (fcha 6) de Cademo dos Levantamentos Desde (Gehan. 4DSiev.43/Abe Mai 96: Camacha, Pato Sato) [LEVANTAMENTO DA. ARQUITECTURA FOPLLAR DO ARQUIPLAGO DA MADEIRA LEVANTAMENTO DA ARQUITECTURA POPULAR BO ARQUIMELAGO DA MADEIEA CaPiruLo 2 - Aspectos Genéricos no Ambito da Arquitectura Popular As arquitecturas de tradi¢ao so hoje apreciadas como importantes herangas culturais, indispensaveis para decifrar longo caminho do Homem na aste de construir espagos para seu abrigo, de animais, para arrumos, e também para resguardo de mecanismos de transformago dos produtos da lavoura e da natureza. E ainda relevante a acedo do Homem sobre a Natureza ao fazer surgir uma paisagem humanizada fortemente marcada por uma economia agréria, Uma grande diversidade regional caracteriza essa acco que tem em ‘comum a harmonizagao do construido com o natural. Muitos serdo 0s factores que contribuem para esse equilibrio, com especial destaque para o meio fisico-social que naturalmente engloba a Geografia, a Historia, os Tragos Psicologicos da Comunidade, de entre outros. Estas arquitecturas aparentemente expontdneas, tém as suas raizes na prépria fundagao da tradi¢ao de uma comunidade, nos seus costumes, na ac¢do desta sobre a terra de onde tira o seu sustento. Surgem, desenvolvem-se e aperfeigoam-se a partir de uma economia rural e revelam na arte da construgao 0 engenho dos homens em criar tecnologias de tratamento ¢ utilizagao dos materiais disponiveis, quase sempre recolhidos nos préprios locais e na sua compatibilizagao com a criagdo de espagos, ambientes e escalas harmoniosas, pretendidos ou tio somente resultantes de um proceso exponténeo repetitive. A nogio de espago, utiidade, conforto, equilibrio volumétrico, 6 obra e viséo de pessoas dotadas de talento inato, de capacidades que Ihe conferem a qualidade de Mestres de Oficios. Estes conduzem e coordenam os varios mesteres de formagio tradicional ¢ artesanal. Surgem assim solugdes, testadas e aceites por sucessivas geragdes que dio continuidade a esta heranga cultural, com que se identificam. ‘A casa rural, sinal maior das arquitecturas de tradigfo, revela-se ndo sé na utilizagao sabia de parcos recursos ou na graciosidade de um qualquer formalismo, mas antes na espiritualidade que emana, na alma que cria e junta 4 natureza estatica tornando-se parte una, LEVANTAMENTO DA ARQUITECTURA FOFCLAR BO ARQUIPELAGO DA MADEIRA ‘A Arquitectura Popular serd, por assim dizer, um conjunto de alojamentos e de acgées num determinado meio geogrifico conde o abrigo da familia - a casa rural - por vezes se estende ‘a um conjunto de espagos ¢ actividades interligados resultando num conjunto de edificios que em muitos casos, apesar de independentes, formam um todo. Verificamos também a existéncia de "espagos construidos" de grande interesse para as actividades inerentes ao trabalho rural e & valorizagdo da vida social: as eiras, o "sequeiro de chfo' o tanque comunitirio, sitio de "estacionamento" ou aparelhamento das alfaias, ou ainda os espagos de acolhimento e convivio ao ar livre como o terrago, a latada, 0 terreiro fronteiro 4 casa, o caminho entre muros, sebes, ou qualquer outra paligada quebra-vento Ainda sobre a casa rural, que mais 4 frente nos iremos debrugar detalhadamente, podemos adiantar desde ja que no Arquipélago da Madeira surge com realidades ambientais, espaciais e construtivas diversas nas Ilhas da Madeira e do Porto Santo. Se na primeira a variedade de tipologias processos construtivos é signficativa, no Porto Santo assiste- se a.uma sintese na tipologia e no uso quase exclusivo de trés ‘ou quatro materiais de recolha local, sem contudo Ihe associarmos o sentido redutor de pobreza. Com eftito, néo iremos exclusivamente procurar nos aspectos ‘geogrificos e climaticos a justificagdo para 0 surgimento de Anaclto | RodrigiegJAR eo(P.-MLV. Vr Mts Asia 3 [LEVANTAMESTO DA ARQUITECTORA POPULAR DO ARQUIPELAGO DA. MADEIRA Gizko, Bacto da Cathts; Men, Iden Iden: Recta de Cans. ovr Mae Anette ™ CapituLo 3 - Uma Primeira Leitura Genérica da Itha da Madeira A. vegetagdo exuberante da ha da Madeira ainda hoje predomina apesar do imparével avango da ocupagao humana (*). Todavia acontece que a acgtio do Homem em quase todo o perimetro da itha e a0 longo de séculos, alterou a Natureza e fez surgir um paisagem humanizada, uma paisagem cultural, profundamente identificadora deste “lugar do mundo" Como resultado imediato desta acgo, temos a circunscri¢ao da floresta endémica, de matiz sub-tropical milenar, aos vales profundos, com especial destaque para o vale da Ribeira da Janela e do Rabagal, sogobrando também alguns macleos da zona Norte muito declivosa e de dificil acesso. Numa geografia to acidentada, a ocupagao e transformago do territério logo apés a implantagao das capitanias ¢ respectivos direitos de propriedade a0 longo dos séculos impuseram as diversas regras administrativas dos morgados, rendeiros, sesmeiros, meciros entre outras formas de exploragio dos campos. Iniciou-se essa exploragao agricola nos terrenos férteis de aluvido, que tero igualmente dado corigem 4s principais povoagdes da Madeira, com especial destaque para as zonas ribeirinhas: Machico, Funchal, Camara de Lobos, Santa Cruz, Porto da Cruz, Porto Moniz, ete. Com o aumento da populagao, e a necessidade de conquistar mais riqueza proveniente dos campos, dew-se inicio & conquista de cotas mais altas ocupadas por densa floresta. O seu desbaste permitiu a exportagao de ricas madeiras para 0 Continente e naturalmente para o consumo crescente local. (*) * Pornigt Esboo Breve de Geografi Humana, Calos Alberto Medios, Tera ig 123 -"Apesar de ecohecias em tempos anteriores, fi Veo ga, logo nos priméedios da eqpansto Portugues, que ‘= desthav oopasio 6 povearnato dedas ists. Por veka de 1425, promovense 2 instalagio dun gp de pena, sob a riextao de Jodo Gngalves Zao € ‘Tito Tetra, ua Madeira, ede Batolomeu Peesrelo, no Paro Seto" * Portugal, 0 Medierrineo ¢ 0 Aildnice, Orlado Ribcire, Si da Cosa Etor, 6 of, 1991 -* Revolvndoo leva, larando a sara, plantand,regando, sdubando,cesomdo, mas eparandos 90 cdo que escassea, ee pov, donde Siem or averurror gue srr cmnizho das otras pares do mundo, canser-se preso a0 torte, como aguas drvores que oferexan a0 vento o 30 de novas Sementsras, mac coda vez mais fimidam as aiesna era era Arete 2s Saitma ‘Vita do Jardim da Sara 469 - Cavadores. Aguarela do ste. XI dinensdes:20 13 em, in Bstampas, guarelas € Desenles da Madeira Romdmice, CMEF., eee pear etic zy Caldees, Quinta Grende Cmigo-Azaia, Sitio a Tera do Baptista, Porto da Cruz S10 DA ARQUTECT(RA POPULAR DO ARQU A partir desta nova realidade, surgem as plataformas em socalcos, em locais cada vez mais ousados, fixando as terras, que garantiam a exploragdo agricola possivel. Pareddes sdbiamente construides, quer na técnica construtiva onde ndo faltam as escadas integradas entre muros, ou 0s graciosos degraus dependurados em consola, até 4 forma delicada de adugar as plataformas suavemente as linhas de cota, serpenteando nas encostas numa conhecida manta de retalhos, de diversos tons. Surgiram assim os "poios", nome local para as plataformas que representam a pirémide intermindvel da exploraggo agricola madeirense. E a partir deles, em percursos imperceptiveis, que se escoam os produtos da terra as energias dos homens. Neste laborioso contacto com a terra, o madeirense teve ainda de “domar" outro elemento: a gua, Sinal maior da acgo do Homem sobre as adversidades deste territério. Desviada na sua maioria da encosta Norte por percursos esculpidos na rocha virgem, as "levadas" sio, conjuntamente com as veredas, os primeiros caminhos de contacto por terra entre locais de dificil acesso, principalmente entre o Sul e o Norte. Por elas passa a maior riqueza desta ilha, Esta acco do Homem, durou séculos e é reveladora da sua persisténcia infinita sobre a Natureza A partir deste contacto directo, desencadeou-se certamente ‘um conjunto de relagées entre 0 Homem e o meio natural sgerando muitos dos valores da sociedade rural desde ento estabelecida nestas paragens. E € curioso verificar-mos que a acglio do Homem rural neste territrio tera surgido com maior incidéncia na sua conquista efectiva, para assegurar a produgdo do sustento para uns, ¢ a riqueza ambicionada de outros, do que para assegurar a propria residéncia, que tera sido no inicio precéria vindo lentamente a evoluir nos espagos, formas materiais cada vez mais generosos © aperfeigoados, na medida da propria evolugao econdmica, quase sempre insuficiente. ("°) Muitas das téenicas construtivas e habitos de vida trazidos do Continente terdo tido capacidade de adaptagao a esta regio € por certo constituiram as iinicas referéncias conhecidas € Para a Histéria do Funchal - Pequenos Passos da sua Memiria, Aatéaio ‘Arogio , See Reg, da Eéucagio e Culture, Di. Reg, dos Assinics Culturas, Fd, 197, pip 45-" Ropareseeartnto na "pobre" de materias que extio ina se usavam nos eifcioe da ru mais deascada.F, embora vis edificapes {i fosse eras em pd, de supa que mts dels tl como se passova ex Santa Maria do Caliat, do consegussan ir ale de modaias censtugées de ‘madeira shafadas de con” co Mat Ate 26 LEVANTAMENTO DA ARQUFTECTIRA FOFULAR BO ARQUIFELAGO DA. MADEIRA porisso 0 garante do "saber fazer" no amanho das terras, na construgao de utensilios ("), e também na construgao da propria casa rural, Todavia as adaptagdes e reinvengdes dos modelos 20 longo do tempo terfo dado origem a uma identidade muito propria, fruto das novas raizes que se fixaram na terra do "Novo Mundo" sendo assim também possivel que tenham surgido ‘modelos expontineos provenientes das novas necessidades, de novos equilibrios econémicos e sobretudo da combinacio entre os materiais disponiveis, o engenho de os moldar, e a arte de fixar modelos com proporgdes espacialidades facilmente reproduziveis. Nesta grande aventura, a Arquitectura Popular surgiu aqui, ‘como em outras regiées, numa dimenso que extravasa a casa de viver, fixando também outras construgdes ligadas as actividades produtivas e de armazenamento; so disso exemplo os moinhos, as serras de égua, os palheiros, as adegas, entre outros. Estes engenhos, assim como as. alfaias, teréo vindo decalcados dos modelos Continentais, _fisicamente desembarcados ou recriados pelo mester dos carpinteiros. Estes encontraram madeiras novas que sabiamente utilizaram consoante as suas caracteristicas, como a rigidez, trabalhabilidade e durabilidade. Fabricaram ferramentas € com elas fabricaram utensilio, alfaias e casas. Para além do ciclo inicial dos cereais também surgiram novas culturas € a partir delas se evoluiram adaptaram e introduziram novos engenhos como é © caso do agiicar, priticamente desconhecido no Continente. Outros porém, como os lagares de azeite, ndo chegaram a ser implantados apesar da importéncia que tinham na tradigao mediterrénica, visto no haver plantagdo e exploragdo de oliveiras. Os tradicionais carros de bois, juntamente com os arados, sio também 0 grande fio de ligagdo 4 terra mae, muito embora extremamente condicionados ds condigdes orogrificas. J4 0 Porto Santo terd sido o territério onde melhor se teré adaptado a tecnologia agricola Continental. Neste periodo viverem-se experiéncias tinicas que puseram prova 0 "if Agricola Portuguese, Exveso Veiga de Oliveira, Femando Galbano © ‘Bajania Pra, ttuto Nacional de Ivesigaco Cicatifica, Cato de Exudos de Einologia «do Caxro de Estudos de Antopologa Cultural, 2° Edigdo, Lisboa, 1983, pag 203 -" Como obsrvou Jorge Dias, es velbosarados da Madeira prtncun 9 poral, mostrando um ero paretesco com os aados rains do ‘Minho Sarano eda Beira Ala.) ge Dias cham a atens3o para aidetidate gcexe ce eorelas ds aradas da Madeira ca dos adic o Minbo Serano" a Mae Are ” Postal = Union Poutlle Universelle: MOP. Madeira - Carro no Campo. Potal-Unlon Postale Universelle: MOP. a°44, Madkra - Logar de Vino ‘Amassadcira tbua de tender @ massa do p30, ‘roolidos darate a canara de Abri/Maio 96 - lV. Meare, Guibarwesctacs reoolides durante a campasha de Abil/Msio 96 - col, V. Mate Pravre, Cathets CCaldsira, Quinta Grande, [LEVANTAMMENTO DA. ARQUITECTURA POPULAR DO ARQUIPELAGO DA MADEIRA caracter do Homem Novo. Aqui nao se deu continuidade & longa marcha da evolugao "tout cour" da tradigao rural iniciada no Continente, nos primérdios da nacionalidade, mas antes, e apesar de serem esses os conhecimentos herdados e transportados mentalmente, deu-se inicio a algo que provavelmente também se queria novo, e quiga diferente nas formas, espacos e vivéncias de habitar ("). Contudo néo negamos a origem espacial, formal e construtiva de alguns modelos e utensitios mas tdo s6mente pretendemos reforgar a nova personalidade que surgiu com a stibita mudanga de uma Civilizago milenar estivel para o vazio cultural que constituiram 0s novos territérios envolvidos em mistérios: lugares teliricos, mégicos e principalmente desconhecidos onde o Homem voltou a sentir-se num "estado primitivo" face & grandiloquéncia da Natureza. E € curioso que, apesar desta situago na Tiha da Madeira, 0 povoamento ¢ predominantemente disperso, mesmo nos lugares mais adversos, nio se tendo estabelecido aldeias comunitérias. As casas rurais so uma afirmagao individual na paisagem e representam 0 esforgo do Homem sobre a Natureza, Esta expresso afirmativa resulta numa mplantago de dominio, voltada para a paisagem acidentada ‘ou mesmo para o mar sem qualquer temor. E mesmo no caso de um aglomerado, este apresenta uma configuragao dispersa, de unidades habitacionais autonomizadas. Quando o povoamento se implanta na crista de um monte, nas conhecidas Lombas ou Lombos, as casas tém sempre um sentido individual, colocando-se preferencialmente na perpendicular 4 via estruturante, e nunca lado a lado a formar correnteza, A casa unifamiliar é assim individual por op¢o, e ocentro da forga espiritual e produtiva ligada a terra. E esta a dimensdo base que durante séculos constituiu a estrutura econémica do arquipélago. A casa ¢ o cere das actividades rurais de cada familia, ¢ a sua estrutura espacial esta inserida num mais amplo e complexo sistema de necessidades © Arguitecturo. Exe Veiga 4 Oliveira, Femando Gatbano, Centro de Etudes de Biologia Peassilr da Universidade do Porto -" A casa mais que um mero roto do daemon grgifce loca, eos pamnanores da sua ferme estilo nto ‘So cpancsarenante never do solo que inpeo expeego de eros mates {de consrusto que exige cates dspostives espera, das condigbs da agpicutura ‘goeropuran plan ntegado odoquado, Todos ete elementos coastituem, Som ‘Sivida, fstores da moi inpertincia na elaboragfo de um datcrminado tipo de ‘is sea aca detudo, a obra do homer, un acto de cultura, econo tl ‘808 aoe mfodasia de ods o demas facteres que interven mas elizap Ses Jemanas F € sina! no priprio Hemnem ena le da sua cragocutural que se deve procurar a expicagodecinva da casa que ele coast, Veter Main Argo 28 [LEVANTAMESTO DA ARQUITECTURA POFULAR DO ARQUIFELAGO DA MADE consoante o tipo de agregado familiar e actividades agricolas, desempenhadas. E é neste contexto que a casa de habitar ganha outros espagos e/ou outros edificios complementares, consoante as actividades agricolas e os respectivos picos de mplantadas na ilha, surgindo assim os ciclos econémicos dominantes ¢ exploragao das diversas culturas determinantes para o desenvolvimento da vida rural, Os cereais, a madeira, o asiicar, a vinha, o vime, o linho (este em pequena escala), ea bananeira (ambos ja muito tardios) ainda o bordado como " Artesanato Produtivo" ("), terdo sido ‘0s mais representativos, e tero contribuido econémicamente para a “reinvengao", inven¢o e inovago das tipologias actualmente mais representativas, e, naturalmente também dos tipos formais (quase ausentes de artficios supérfulos na fase inicial do povoamento), que vém adquirindo novos valores decoratives acabando por se imporem na identificago da Arquitectura Madeirense. Vencendo 0 Atlantico, e com ele o imaginario de quimeras ‘monstros marinhos, teré no Arquipélago da Madeira nascido (© "Homem Novo" com o surgimento do "Novo Mundo", onde varios factores psicolégcos ero. __influenciado comportamentos ao longo de 500 anos, muitos dos quais passados num isolamento condicionante mesmo na propria ilha, entre lugares e povoagdes. As comunicagdes ou a sua falta, tro sido aqui mais do que em qualquer outro territério, ‘Continental e Insular, um factor condicionante a uma troca de valores sécio-culturais, a um "desenvolvimento" por constante contacto. Com uma costa muito agreste, sem portos naturais (& cexcepedo do Funchal) com especial destaque para o Norte da tha, bem como um acidentado territério interior impossibilitando a construgdo de estradas dignas deste nome até a0 primeiro quartel so séc. XX, contribuiram para que as comunicagées ficassem sempre aquém das necessidades. Escoar os produtos da terra assim como o contacto entre Novos Gulas de Portugal, Luiza Helena Clode, José Vicor Aéragio Madeira, [Editeral Presenga 1989, Lisoa, pg 208 =” Dede temps recto, que vBo 8 poe do povoumaito, senpre se bordow ne ho, pois ese savidadefeminina er ‘nate ao quctidian da vide da mulher, Os brdadossonam smeThates 205 qe ‘flan no Cantinenle Portugués, pois lamemonos que veram fnlias dese © Nerte 20 Sul do pas.) O grande exemeato e divulgasdo do bordadona Ths © fara dla pareve deverse a Mss Elsabah Phelps, senberaBrtnica, co failia ‘acicadano Funda, que ensinow aun grupo de rapargas de Santa Clare ospantos Ingles do seu crecimiento, quando veri a alidades manuais da mater Madazense.(..) 0 bordado.na Madeira aparece ela primira vez em piblico en 18501na Expoigdo da Indra Madeirense que so ealizou em Junho dese 230 ar Mate atte » Pasal - Union Postale Universelle: BP. 163, Madeira - Costumes Bordadeira). Podal-Union Postale Univrselle: 48, Madeira = Scouring the Linen. (1909, ta do carbo face poseic), Postal - Union Postale Universelle: BP. 183, Madera -Entrosa da Boa Ventura otal - Feo Figueras, Cminko parao Porto da Cruz, Madeira Posal - Union Postlle Universlle: BP. 196 Madina = Porto Santo (1908, data do caribou face poster). Posal = Union Postale Universelle: MOL. Madkira- Ponta Delgada (1913, deta do cai ‘poraso) Postal - Union Postale Universelle: Madeira - Praia do Funchal 459 + Na Eira. Aguorela do. sie. XO ‘inensdes:20x 11 emia Estampas, Aguarelas € Dersnhos da Madeira Romdwice, CMF, DRACISRIC, Funchal, Julho Dezembro, 1988. LLEVANTAMENTO DA AKQUITECTLRA FOPULAR DO ARQUIPELAGO DA MADEIRA comunidades, durante séculos, s6 foi possivel através da cabotagem em portos quase sempre improvisados (*), No interior, d forga de longas caminhadas, tudo se carregou 4s costas, a0 ombro, ou numa rede porque na maior parte das vvezes ndo era possivel a ajuda de animais. O burro e 0 cavalo séo preciosos auxiliares mas nem sempre eficazes, e a carreta cu o carro de bois so algo que s6 era possivel funcionar nas localidades. E esta a saga do homem rural, o viléo, como & localmente conhecido, e também dos homens de "carrego" do comércio por cabotagem. Ambos empreenderam um esforgo fisico constante, uma vida inteira a "carregar a ilha’ aos ‘ombros que depressa desfez a idéia de riqueza facil, ou de trabalho compensador. Esta idéia ter-se-4 desvanecido com as condiges de aquisigo ou de arrendamento das terras. O que se verificou foi uma total dependéncia do Capito Donatério, e dos Morgados, proprietérios poderosos que impuseram sempre as regras e mantinham a populagdo rural praticamente escravizada ("), A inseguranga esteve sempre presente na exploragio agricola, 0 sustento adquirido da terra acabava sempre por se revelar insuficiente para pagar a renda, ou ‘meias, ou quarta parte, consoante a época e 0 acordo com 0 senhorio, A agravar tudo isto, repetidas vezes se mudaram as produgdes de eleigdo por terem surgido outros mercados mais ricos como € © caso do agiicar do Brasil, ou com as ccalamidades das pragas sobre a vinha, Todos estes factores terdo contribuido para uma vida de constante trabalho com ‘escassos resultados econémicos bem expressos nas casa, nos utensilios, e na prépria vida social. E 6 neste contexto que ailha vai merguthando ciclicamente em crises de fome. A agravar verifica-se um sobrepovoamento derivado da acentuada taxa de natalidade, idem nota 5 pig. 22.€23 "A ha € muito montenhoes¢ compacta, a cota ‘coranamae roche eect, Preisamente por ete mauve a cabuagen eve fa pleao sculo XX, ua papel de hasente maior flevincia do que 35 lignes tarot (.)Apraia ni, (Ribeira Brava), com todas as restantes daha N30 ‘nb aca, 8 alta, Desa forma, crregar a pequmnasenbarcoqbes de cabtogern fesueria ua Gaica expeciica a ana ran vara, carregadaseforga de brapose com or remor na rebetaplo a aula, lngodas& gia. Logo que 8 gua eubarcapSo parecia ucrerfutar, ea altura de ipidaments gar 0 pan, fig aoinpto das vagas eda ma.) Quando se ratava de ma embrcayao ‘once porte ¢copacidade, nto ocategamento era asepirodo por Homans qe ‘nadando com appa 4 frente, as mpurravam até ao arco * ° idem nota $ ~* Os Morgalis, chamados neta época ( Sée. XIX ) j8 inditintamente tabs vinculse, eran indvsives e aliens, fanmdese 3 hheranga sempre dentro da familia e exchusivamentesravés do bo mais veh, © (pepe veo tea sido causa de cmplicadesdapas. No caso de no ser pessivel ‘Staclocerdescndéncia em na directa até ao décimo gra, 0 vinelorepresav Shaca do estado, ou see cnos,(.) © Morgado rabahava a sua tea. Pars tal eacedia ose uso 3 populagio ot ja ae campaneus, de acordo com Feasas precios aticionalmenteesipulados * ter Mat Aste 30 [LEVANTAMESTO DA ARQUITECTURA POPULAR DO ARQUIPELAGO DA MADEIRA © excesso de populacdo foi desde muito cedo um sério problema. A Madeira ter sido o primeiro territério Atléntico a assist a0 fendmeno da emigrago por efectiva necessidade de procurar melhores condigdes. Esta emigragdo precose tera embarcado logo nos sée.XV e XVI para 05 novos territérios da América do Sul, para as vizinhas Canérias, e para as diversas Pragas Afficanas ('), Logo que se assitiu 4 quebra dda produgo agucareira, muitos casais partiram para o Brasil, continuando o éxodo pelos séculos XVII e XVIII para o ‘mesmo destino. Naturalmente que esta "primeira" emigragéio ainda resultava das descobertas de novas terras sempre apeteciveis e cheias de esperancas para se iniciar novos ciclos de colonizago, No entanto é no inicio do séc. XIX, cerca de 1840, que a emigragao surgiu tal como a conhecemos neste sée, XX. O destino era as indias Ocidentais, Guiana e ‘Demerara, com retomo certo 4 terra natal e consequentemente trazendo as primeiras repercussdes da “arquitectura de emigrante" para ailha, Seguiu-se um novo ciclo do Brasil e ‘ais recentemente o da Venezuela e Africa do Sul (") Para além destes fendmenos de retomo de emigrantes, haverd ainda outros que terdo contribuido para a "evolugao" ou surgimento ou to sémente influéncias epidérmicas, de ‘modelos e aspectos formais da Arquitectura Madeirense, quer ‘a popular quer a vernacula. Este territério foi e continua a ser tum local de "toma viagem", de visita ciclica, de atracgo "idem nota 10, pigS4 -* Digamos sida, a propdsto, que as dificuldades ‘enna na Madr pls comadas mais baisas da popula durante rica fase ‘Sucrirs kal cm casequdnca sobrtudo da etrtzademinal de rizmeival ‘is laces soins demimantes, fram fotamesteacetuadaschepando 0 poo de setem cng a hdc ara gu ja haviam adeptad, Relmente omedenho avr das femes porque passaram, Ievou muitorhabaantes 8 enigrar para a has Canirias, logo apée 1483, sa, mesmo aes da pacicag de La Palma © “Tani (.) Trata-se porto ds primiraemigyagso de habitats da Madcira que tcnosactiia. Empurados para Canis an vitude da ma dsrbuigo da iqueza fda concomiaca da mlo-dechra exava apicada os tabalhos da cultura © {bdria carina nfo se depromde de varia documento, a verdade & que ‘capobres emigrants que fazer corn que sur} ns bas vianas ua propera ‘ndsaria aque" ucidrio Madeirense, Pee Femando Angas de Silva, Carlos Azevedo de ‘Meneas, Janta Disrtal do Distrito Auténomo do Fancsl vol 1 (AE), Funchal, 1940, pig. 392 - " A emiggasio para Demerea ¢ coldaasinglsas das Indias Ocidentas parece que so cmnepo farce en larga excala por 1840. Ema 1841 subiu a 4.045 onimero de emigrate, em 1646 a 945, om 1847 24.720 em 1853 2 3.060, tendo do uma bos pate dees indi vidus para aguces pases, para nde dcade 18420 govimo ingle agave os wanspotes,devido fala que bvia ai db trago de trabalio..) O demerriza qu 4 csta de peelsinstrababos ede ‘ager dota epics consegiia amcor epitas bose esqueia em geal da sua tera, era aq que goava de vr pasar o reo da sa vida, rodcado de rmodidadese confrtos a que no fra babituado na mocidade. Desde 183 até 1855 saram da Madeira otfca de 40.000 pesoa, das quai apenas mas 20.000 levaram pasaporte, tendo ido muitas dle para o Brasil e Fsaos Unidos da ‘América, nde por ese expo alguns paticio nosis consegiram também Fat enna.” sr Mane Anat 31 Podal = Bilhete Postal Madeira: BP. 155 repstedo Madeira. ipanha de canes. (Sets © Solar Wel no Pal Jo Mar?) [Patal-Post Card (177) Funchal. from the Nor Madeira - 83078. £70 - Vo com burres. Aguarela do sée. XIX, ‘dinonsdes: 20. 18cm in Estampes, Aguarelas ¢ Derenhos da Medeira Ronamica, CMF, DRACARTC, Fis, Su Dezeniro, 1988. Postal -Madeira East 465» Procisso. Aguarela do sée . ‘donates: 12x12 emia Estampes, Aguarelas € Desenkas de Madeira Romantica, MEF. DRACISRTC, Funchal, Juho-Dezembro, 1988. LLEVANTAMENTO DA ARQUITECTIRA FOPCLAR BO AROUIPELAGO DA MADEIRA permanente, Daqui se partiu como primeira plataforma estratégica para outros deconhecidos territorios, efectuando- se as primeiras experiéncias com novos produtos agricolas assim como se procedeu ao primeiro povoamento fora da Europa, e onde nasceu inclusivamente uma nova urbanidade. Fundada de raiz, a cidade do Funchal, e a diminuta Vila Baleira, so a experiéncia real daquilo que viria a ser a grande aventura urbana dos Portugueses no Mundo. Durante séculos © Funchal tomou-se paragem obrigatéria. Logo no séc. XV conseguiu uma posigo de destaque no contexto Europeu, atraindo e fixando familias de negociantes © mestres de oficios das principais Pragas do Continente Europeu ('*). No sée. XVIII chegam os Ingleses para a comercializagio do vinho da Madeira acabando por ficar nas suas magnificas quintas até aos nossos dias. Sem interrupgao, a Madeira continuara a sua vocagao exportadora de produtos da terra e apoio logistico as frotas mercantes. Destes contactos muitos femémenos de "cultura de viagem" terdo partido, chegado e permanecido nos hébitos domésticos, nos costumes, no trabalho, nos utensilios, nas casas, enfim, na cultura local Por outro lado é também fundamental referir e reforgar "cultura me” que desde © povoamento e em particular da firme vontade do Infante mandar fazer uma “cidade modelo" ("), ao surgimento das companhias religiosas cuja implantagio dos respectivos conventos vieram reforgar determinadas linhas de forga de composigo urbana e garantir arte de bem construir. A Madeira sempre dispds através de Mestres Artifices e de Arquitectos do Reino @) ou por ele ° sem nota 10,989, 44 -* Enmore modest, com muita cases cberas de coo, nk, ( Pancha negocivam, mesno no Tavera, 15220 lojas demercadores Era ‘in povoada de trtemrcaderes ranger (600 a 700 ) qu, mts dle, no ‘sconrando alergie para roorada, provetavam a simples abrigs. dress se transforma na pincipalartésia do nove powoado," ° idem nota 10, pg, $9 ~* Em Iubo do memno ao (1493 ) 0 Duque volta 2 ‘nsirnacomtrago da Marae do Fancbal gual devsia ir, pela treat dom, ‘desde as ribirar de Sbo Francisco (hoje Sto Joo )& de Sota Luzi e sera da ‘pandcra da de Sail (,) nolese a referencia as Mavaas de Sata, a uss Sova ar ead como odo. Realmente tanto ammeira de ems on sj ‘temologia enpregads, camo opripri estilo ou goto das construe, Ingavam ‘suas rales nas fonts Buropeias que 8 Potugucses trmspertavam para 0 ‘Ailtio. > idem nota 10, 8, 89 © 95 -* Na amlgama da gente deofico Iborendo no Fanci aos is d qutroento, diingiase uma dvesificada gama de scales dro die epstver seers profisionis. (..) Fm recuadas postures exaradaspela (Cémara Municipal por vol da segunda made do se. XVI cu meso atric,

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