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YORUBA: AS ROTAS EAS RAZES DA NaC TRANSATLANTIC, 1830-1950 * J. Lorand Matory Harvard University - Estados Unidos Tenho estudado as religides na Africa Ocidental e religides afro- latinas como o Candomblé, a Umbanda, o Xangé ¢ o Batuque no Brasil. Te- tnho estudado também a Santeria ou Ocha e Palo Mayombe, religides de Cuba € de todo € qualquer lugar nas Américas em que @ mésica cubana ou latino- caribenha estiver. As vezés, comparadas ao Vodou do Haiti, estas religides se caracterizam tanto pela pritica de oréculo quanto por seus rituais de transe, cura. sactficio. Séo religides com um ritual muito rico e extraordinariamen- te belo, com miisica e danga sagradas. Desde os anos 50, muitos negros dos Estados Unidos acharam estas religides bastante sedutoras ¢ as tomaram como suas, como sua pr6pria religito ancestral africana. Geralmente descritas como “sobrevivencias” do passado ancestral africano, estas religides fazem parte, de fato, de um movimento bastante moderno e multinacional de inspiragao politica ¢ literéria. Desde a virada do século, um movimento que pode ser chamado de “a Renascenga yoruba” tem atingido Brasil, Cuba, Porto Rico, Venezuela, Trinidad, Estados Unidos e varios outros paises. Este trabalho trata da génese deste movimento e, especificamente, do papel pouco conheci do dos viajantes e nacionalistas negros no crescimento da hegemonia yorubé no Atlantico Negro." Estas religides invocam poderosas identidades hist6ricas e poli- ticas, vinculando-se a lugares especificos na Aftica. Por exemplo, existe uma nnagdo reivindicando a origem yorubé chamada “Iucumt” em Cuba, “nagé "ou “queto” no Brasil e “nago” no Haiti. Nao quer dizer que estas religides nas Américas normalmente se chamem de “nago yorubs”, mas sim que, apesar da variagao terminolégica entre elas, devotos ¢ etndgrafos acabaram equipa- ‘Agradego a Ondina Fachel Leal ¢ a Andeéa Fachel Leal pelas sugesides na versio em portgués deste trabalho. 1 Argumentou Nina Rodrigues que, secundariamente, foi 0 uso extensive da lingua nag faciltou ocrescimento da religiso dos nagd. Horizontes Antropol6gicos, Porto Alegre, ano 4, n. 9, p. 263 -292, outubro de 1998 264 J. Lorand Matory rando suas “nagdes” coma assim chamada “nagio yoruba” da regio do Gol- fo de Guiné na Africa Ocidental — isto ocorreu a partir do final do século passado. Hé também uma nagdo afirmando vi ewe e fon, chamada “arara” em Cuba, Haiti. Hé também a nagdo Congo em Cuba e Haiti, ou, no Brasil, as nagdes convergentes de Congo e Angola. No passado, os povos destas nagdes esta- vam unidos como grupos de trabalhadores, como sociedades ou confrarias que reuniam esforgos para 2 compra de alforria, como irmandades religiosas ou em exércitos rebeldes. Hoje, eles estio unidos — as vezes com grande sucesso — pela obediéncia aos deuses que compartitham, pelos rtuais ¢ pela lingua comuns e, em certo sentido, por uma mesma lideranca. Desde. século XIX, uma destas nagées destacou-se sobre todas as demais, sendo proeminente em riqueza, grandeza e prestigio internacional Mais do que qualquer outra, ela é estudada, escreve-se a seu respeito € ela é imitada — no apenas por seus seguidores, mas por antrop6logos, historiado- res da arte, escritores ¢ critics literdrios. Trata-se da nagao yorubé ¢ aqueles a ela afilhados. Entre as maiores metrépoles desta naga transatlantica, esto Lagos, Ibadan e Oyo na Nigéria: a Havana, Cuba; Oyotunji (na Carolina do Sul), Nova lorque, Chicago, Los Angeles e Miami nos Estados Unidos; e, no Brasil, Salvador, Recife, Rio de Janeiro e Sio Paulo. Este trabalho analisa o papel dos escravos vindos da Africa ocidental e de migrantes ou viajantes negros livres, mercadores e peregri ‘nos na criago, ndo apenas de uma elaborada religido, de inspiragao aftica- ‘nano Brasil e em Cuba, mas na criago do préprio grupo étnico yoruba, que tanto 0s seus fiéis quanto os estudiosos do tema tomam como a origem des- tas religibes. Este ensaio aborda dois temas centrais: (1) 0 que € africano nas religides afro-americanas — isto 6, nas religides negras do Novo Mundo? E, neste sentido, o que as diésporas em geral — a judaica, a irlandesa, a chinesa assim por diante — tém a ver com os seus locais de origem? (2) Este capitu- lo também diz respeito ao trabalho de etnogéneses — isto é as formas de “agency”, agenciamento, ou as formas de ago deliberada dos sujeitos soci- ais, envolvidas na construgio de identidades raciais ou éinicas, que geralmen- te n6s tendemos a ver como primordiais e puras. Gostaria de mostrar que, neste caso, € €m muitos outros, a identidade ética e as reivindicagdes de pureza cultural ndo se dio simplesmente em fungio de reminiscéncias ou de culos com os povos de fala Horizontes Antropoldgicos, Porto Alegre, ano 4, 9.9, p. 263 -292, urubro de 1998 ‘Yorubé: as rouse as razes da Nagio Transatlintica, 1830-1950, 265 inércia mas, diferente disto, sao essencialmente resultado doimaginétio e do poder coletivo. A narrativa dominante a respeito da hist6ria das religides africa nas nos € dada por Melville J. Herskovits e suas legides de seguidores que contam? a hist6ria dos escravos e seus descendentes — separados pelo tempo, pela distancia e pelo destino cruel — heroicamente lembranéo e preservando sua cultura antiga e ancestral. Entre os mais bem sucedidos, estavam os escra vos na Bahia, Brasil, € os seus descendentes que praticavam rituais e canta- vam em uma fala que os observadores benevolentemente identificavam como “perfeito yoruba’. Os descendentes dos yorubés — membros da nagio nagé ou da nago quéto — obtiveram tanto sucesso que algumas “casas” se autode- ‘nominam “africana pura” ou “nago pura”. Hé vérias explicagies para este sucesso. Primeiro, Nina Rodri- ‘gues € seus seguidores explicam que, na época do tréfico de escravos, os “nagés” da Africa Ocidental possufam um sacerdécio mais organizado ¢ ura mitologia mais evoluida e, por isso, tratar-se-ia de uma religio mais comple- xa que a de outros povos africanos, igualmente numerosos, levados ao Brasil (e-g., Rodrigues 1945(1905]:342). Ao contrério, Robert Farris Thompson ¢ Bunseki Fu-Kiau (Thompson 1983:101-159) mostram a complexidade da cosmologia dos bakongo da Africa Central e provam que a religiao dos povos proto-yorubé nao possufa qualquer monopélio neste assunto. De qualquer forma, nada nos leva a crer que religides mais complexas, mitica ou instituci onalmente, atraem mais adeptos que as religides menos complexas. O cristia- nismo ndo deslocou a religido greco-romana em fungo de uma suposta maior complexidade mitica do cristianismo. Esta explicagao também nao sustenta a difusdo do budismo ou do ist. Quer mais simples, quer mais complexa que a cultura proto-yorubé, as culturas dos povos da Africa central, oriental, e me- ridional hoje chamadas de “bantus,” inclusive os bakongo, so produtos de ‘uma conquista demogréfica e cultural dentro da Africa muito mais ampla do 2. Ver Soto do Rio (1976{1906)) sobre a virada do século e Prandi(1991:108-109) sabre 0 crescimento mais recente da nagio nag no Centro-Sul. 3 Considerar aqui também Isadora Maria Hams, que nasceu em Cachoeira, Bahia,em 1888, ‘Com seis anos e dade, foi para Lagos com um parent ficou por oto anos, aprenden- do yorubé inglés, Nos anos 30 40, ela fazia comércio em Sio Felix (perto de Cachoeira) era uma das Iideres da religto afto-basileia & (Lorenzo Turner 194264), Horizontes Antropolégicos, Porto Alegre, ano 4, n.9, p. 263 292, outubro de 1998 ABBE Pp es | 266 J. Lorand Matory que aexpansdo ultramarina dos yoruba. Antes do século VII, as linguas “ban- tus” haviam se expandido desde um pequeno miicleo, atualmente da Nigéria para. ilha de Zanzibar na Africa Oriental (Curtin et al 1978:25-30). Os falan- tes de banto chegaram a dominar inteiramente desde a metade até 0 extremo sul do continente, ‘Verger props uma explicagdo néo evolucionista e menos popu- lar para 0 sucesso nag6 na Bahia, atribuindo a forga da influéncia yorubé & “chegada recente ¢ maciga desde povo” e & “presenga, entre os iorubas, de ‘numerosos prisioneiros de guerra advindos de classe social elevada, além de sacerdotes conscientes do valor de suas instituigdes e firmemente ligados aos preceitos de sua religiio” (Verger 1987:10; 1976{1968]:1). Quanto & explica- ‘do demografica, €verdade que a chegada dos ancestrais dos nag6s no Brasil cesté concentrada no século XIX, na titima etapa do tréfico. Estes seriam, por isso, os chegados mais recentes e os menos aculturados entre as grandes etnias, africanas no Brasi* Mas € verdade também que os ancestrais dos nag6s brasi leiros chegaram em grande nimero. Porém, estudos de outras culturas africano- americanas indicam @ influéncia desproporcional, nao dos grupos que chega- ram mais tarde mas, sim, dos grupos que chegaram mais cedo (Mintz and Price 1992[1976}:48-50; Cree! 1988; Hall 1992; Aguirre Beltran 1989a; 1989b). Além disso, a proeminéncia das divindades nag6/yorubs no Centyo-Sul do Brasil, j& ‘emergindo na virada do século, nfo dependem da predominancia numérica de te povo.'O outro caso que compromete a explicago demografica é o do Hait onde a proeminéncia das divindades daomeanas nfo resultou da predomindncia, dos daomeanos na populacao cativa do Haiti. Estudiosos da diéspora afticana discordam radicalmente da hipétese de uma relago de causa e efeito entre 0 tamanho da populagio de uma dada etnia e sua predomindincia cultural. Poder- sevia dizer que a religido nag6/yorubé prevaleceu no Brasil apesar da chegada tardia dos prote-yorubé, mesmo em regides do Brasil e do mundo atlantico onde cativos desta etnia nunca predominaram numericamente. Além disso, mesmo nas regides em que os nagés eram numericamente significativos ¢ ser 4 Aparentemente de origeas egba, esta dinastia de médicos, advogados e chefes, alguns eles tendo estudado na Inglaterra, apareceu em jomas, revistase livros publicados no Brasil, Nigéra e Estados Unidos. 5 Estadefesa apaixonada da lingua yorub foi inspirada pela Ondenagdo de Educagdo (Edu cation Ordinance) de 1882, a qual exigiu que os estudantes lessem e escrevessem exclust ‘vamente em inglés e proibiu 2 insrusSo em lingua aficanas (Omu 1978:107-108), Hortzontes Antropolégicos, Porto Alegre, ano 4, n. 9, p. 263 - 292, outubro de 1998 ‘Yorubé: as rotase as rales da NagZo Transatlintica, 1830-1950 267 nnag6 era “comum”, quantidade nunca foi garantia de que uma sub-cultura tor- \ar-se-ia tdo prestigiosa quanto a religiio nago veio a tomar-se. Aliés, 0 fato de ‘ser comum’, em muitas sociedades, é exatamente 0 que exclui muitas praticas cculturais dos padrées da cultura de elite, ‘ais contradigdes podem ter contribufdo & manutengio da explica- ‘¢20 evolucionista de Nina Rodrigues. A opiniao de Nina Rodrigues, atribuindo sucesso dos nagés brasileiros & “evolugao” social e biolégica superior dos seus ancestrais africanos, foi repetida por virias geragdes de etndgrafos a partir de Nina Rodrigues, inclusive Arthur Ramos, Edison Cameiro, Ruth Landes, Roger Bastide, e, em Cuba, Femando Ortiz, assim como os leigos que acles se eferem. ‘Aqueles, mais recentemente, que advogam um terceiro modelo explicativo, negam vigorosamente a relevancia da histéria cultural africana e dda demografia da escravidao brasileira. Por sua vez, os novos etndgrafos des- construcionistas argumentam que 0 lugar de honra dado 3 nagio nagé ¢ & nogao da sua “pureza” sdo produtos de uma invengao local ¢arbitréria, elabo- rada por elites euro-brasileiras a partir dos anos 1930. Contra aqueles que proclamam a pureza e superioridade yorubd, um exército de criticos neo-mar- xistas ou desconstrucionistas (como Henfrey, Dantas, Fry, Frigerio, Brown and Bick, Wafer e Santana) argumentam que se estas religices tivessem qual- quer coisa de puras, seria o fato de serem “puramente brasileiras”, nfo “‘pura- mente afticanas”. De fato, o prestigio vinculado a reivindicagao da “pureza yoruba” é a de que estudiosos culturalmente ou racialmente curopeus consen- tem em proteger apenas aquelas Casas que se filiam & definigéo de “afticani- dade” sugerida por estes préprios estudiosos, o que inclui uma desaprovago de “feitigaria” e, eu posso acrescentar, a desaprovagdo do envolvimento de travestis © homossexuais. Argumenta-se ainda que a conseqiéncia extra desta ficticia “afticanizagao” do Candomblé foi o esvaziamento para os afto-brasi- leiros do exercicio de sua cidadania plena na hierarquia politica brasileira, 0 {que os levou a reivindicar uma cidadania paliativa € o seu pertencimento a algum imagindrio e distante outro-mundo, a “Africa”. A cesta altura, todos sabemos que “‘tradigdo € inventada”, que a cultura negra nas Américas é sobretudo um resultado da dominagao branca € da pobreza e que o sistema capitalista mundial globalizedo arrasa toda € qualquer cultura local. Portanto, nao hé surpresa alguma em que a cultura afro-brasileira, celebrada por Nina Rodrigues, Edison Cameiro, Herskovits herskovitsianos como de alguma maneira resistente As avassaladoras forgas Horizontes Antropolégicos, Porto Alegre, no 4, n.9, . 263 - 292, oumbro de 1998 i i 268 J.Lorand Matory da assimilagao cultural, seja, enfim, apenas mais uma conseqiiéncia da domi- nagdo euro-americana. Nos dias de hoje, todo mundo sabe que o contexto real para interpretar o desenvolvimento das religides afro-brasileiras é a historia e a sociedade brasileiras, ndo a Africa daquele velho lusco-fusco das “sobrevi véncias” de Nina Rodrigues, de Herskovits e de seus seguidores. Quer em termos etnogréficos ou analiticos, o presente ensaio nao trata da questdo sobre se as religides afro-brasileiras sfo afticanas ou nao. Estas religiées me parecem nio menos africanas que varios protestantismos no Novo ‘Mundo seriam, por exemplo, europeus. Isto, é claro, s6 depende de nossa defi- nigo de “africanidade”, de “europeidade” e de “americanidade”. O que me interessa mais, no momento, é 0 papel emergente da cultura transatlantica con- formando aquilo que todos nés concordamos que seja africano na Africa. Além_ isto, eu estou interessado no papel da vontade humana, ou agency, em gerar 0 que tanto nativos e estrangeiros, quanto etmégrafos e informantes, vieram a chamar a culrura africana, Eu estou interessado nao apenas no processo através do qual uma coisa chamada cultura yorubd passa a ser reificada e reproduzida, ‘mas em como esta cultura passa a ser privilegiada em detrimento de outras reivindicagoes de pertencimento éinico e de prestigio no Attantico negro. Termos tais como “yoruba”, “nag6”, “olikumi” e “ket” (em ‘suas possiveis grafias) provavelmente so anteriores a didspora “transatlanti cca" de escravos, mas 0 uso destes termos para nomear todos estes povos hoje chamados “yoruba” é, sem duivida, recente. Igualmente recente € a idéia de que eles compartilham uma cultura primordial. Chamar os grupos que se auto- identificam como oyo, egba, egbado, ijebu e ekiti como cativos, mesmo que seja do século XIX, “yoruba” é, como Law (1984; 1977) mostrou, um ana- cronismo. Mas esta identidade "yoruba" faz parte do senso comum do século XX, desde um perfodo em que esta realidade estava apenas comegando a ser produzida por uma populagio de ex-escravos de Oyo, Egbayflesa, que “retor- naram” para a “Costa” € 0 interior ao redor de Lagos no periodo colonial. ‘Uma explicagio anterior a isto se faz necesséria, Professors de inglés ‘Vamos considerar, primeiro, uma das mais surpreendentes dis- tingdes das pessoas que se auto denominam yorubé no final do século XIX Horizontes Antropoldgics, Porto Alegre, ano 4, n.9, p. 263 - 292, ourubro de 1998 ‘Yoruba rots ¢asrafzes da Nagio Teansatlintica, 1830-1950, 269 eno inicio do século XX na Bahia. De fato, alguns destes eram também os informantes que convenceram os primeiros etndgrafos da superioridade dos yorubé. Muitas entre as figuras mais proeminentes na literatura sobre afro- baianos de 1890 aos anos 40, ficaram conhecidos por anglicizarem seus nomes, pela fluéncia na lingua inglesa, ou por suas conecgdes sociais com anglo-saxos. Seus contemporaneos os identificavam, sem intengo de iro- nizar, como ambas as coisas: como sacerdotes excepcionais ou como exem- plos de uma tradiga0 “puramente yoruba” e como “professores de inglés”. primeiro deles foi Eliseu Martiniano do Bonfim, nascido no 16 de outu- bro de 1859 de pais afticanos libertos na Bahia, Em 1875, seu pai o levou a Lagos para ser educado, Fle permaneceu 16 por onze anos. Durante este perfodo, uma vez ele visitou seus pais, na Bahia, ¢ seu pai, uma vez, tam- bbém o visitou em Lagos. Em Lagos, ele estudou na Faji School, uma escola presbiteriana em que todos os professores eram afticanos que falavam in- glés. Apesar de nunca ter viajado para o interior da Africa, ele absorveu profundamente a emergente literatura de Lagos sobre a religido yorubé ¢ teve sua iniciagdo como babalaé (como sacerdote oracular de Ifa), em La- g05, entre 1875 ¢ 1886, Seu contempordneo nos anos 30 ¢ 40, 0 jornalista baiano Edison Carneiro, relata que Martiniano néo apenas era fluente em yorubé mas visitou a Inglaterra ¢ ensinou inglés para negros “remediados”” nna Bahia (Carneiro 1986{1948):120).* 0 Giltimo dos babalads afro-baianos foi Felisberto Sowzer, que, como alguns outros brasileiros que retornaram para Lagos, anglicizaram seu sobrenome — originalmente Souza. Alguns de seus descendentes me disseram ‘que ele tinha orgulho em ser “inglés”, j& que Lagos era uma colénia britanicae, naquela época, no Brasil, ele valorizava a distingdo de saber falar inglés. Car- neiro diz que Felisberto também falava inglés yorubé com fluéncia’. © Porexemplo, a palestra de Blyden, “Christianity and the Negro Race” (25 agosto 1883, ‘Tomo I, No, p.3-4; 29 set. 1883, Tomo I, #7, pp-1-3 também no 9, pp.1-3)e seu artigo sobre “The Education ofthe Negro” (The Lagos Weekly Record, 2 mato 1896, p.5). Ver referencias explicitas as idias de Blyden, e.g, em The Lagos Standard, | avril 1896, p3. Vero artigo re-publicado de Booker T. Washington, “The Blackman's View" (The Lagos Standard, 22 aril 1896, p3). Ver 0 atigo de W.E.B. Du Bois, “The Conservation of the Races," r-impresso em The Lagos Weekly Record, 31 julho 1897, pp.2, 5-6) 7 Carneiro 1986(1948):120; rene Topézio Sowzer dos Santos, comunicagdo pessoal, 3 de Janeiro 1995, Salvador Horlzoates Antropoléglcos, Poro Alegre, ano 4, n.9, p. 263 - 292, outubro de 1998 270 J.Lorand Matory Como muitos homens da elite de Lagos e da Bahia daquele tem- po, ele era macom, uma afiliagao que ele expunha com orgulho junto com a sua “ingletude” € a sua competéncia como sacerdote de Ifa. Ao lado de sua casa em Salvador, na Bahia, tinha uma placa indicando o sacerdote de Ifa, 0 compasso magénico,¢ 0 provérbio yoruba Suru ni oogun aiye — significando “Paciéncia é o remédio para tudo na vida", e duas inscrigdes biblicas em inglés: The Lord is my helper ("O Senhor € minha ajuda”) ¢ Wait on the Lord and keep his way (“Espere o Senhor ¢ siga Seu caminho”) (ver Pierson 1942:259). De fato, Sowzer é parte de uma impressionante dinastia de viajan- tes € sacerdotes brasileiros-lagosianos, iniciando com seu av6, oréculo de Oyo, Manoel Rodolfo Bamgbose e terminando com numerosos netos que S40 sacerdotes em Lagos, Bahia e no Rio de Janeiro. Talvez a nica dinastia transatlantica mais famosa que a linha- gem de Bamgbose seja a familia Alakija. Embora nao tendo nenhuma conec- gio direta com 0 Candomblé, eles sfo figuras centrais nas memérias mais recentes sobre a relagao entre Bahia e “Africa” de onde 0 Candomblé se ori- ginou. Por exemplo, Adeyemo Alakija era um famoso advogado na Nigéria colonial. Conforme seus descendentes na Bahia, ele foi também o iltimo pre- sidente da Irmandade Ogbonj Reformada (que foi fundada em 1930 como uma reago nativista 4 expl6sao de burgueses africanos das casas magénicas brancas). Através de geracdes que viviam no século XX na Bahia, no lado brasileiro desta familia, continuam surgindo nomes ingleses como George and Maxwell (Pierson 1942:243). Durante sua pesquisa na Bahia na metade dos anos 30, Donald Pierson viu uma c6pia do Nigerian Daily Times de dezembro de 1932. Um dos artigos detalhava as conquistas profissionais desta familia, que inclufa um advogado, um otorrinologista ¢ um engenheiro civil. O orgulho que os viajantes re-ingressados na Bahia e seus filhos tinham pela Africa que eles conheciam pode ser resumido em um depoimento dado a Pierson: Estas pessoas aqui na Bahia pensam que os afticanos sao todos barbaros e ndo-civilizados. Eles nfo acreditam que nossa lingua é escrita, que existem publicagdes... Eles ndo sabem que em La- {05 ha boas escolas, melhores que as que eles tém na Bahia. Othe isto [mostrando uma foto da escola em Lagos}! Tem algu- ma coisa assim na Bahia? (Pierson 1942:272).. Horizontes Antropol6gicos, Porto Alegre, ano 4, n. 9, p. 263 - 292, ourubro de 1998 ‘Yorub: as rota ¢as rates da Nagdo Transatlintica, 1830-1950 2 Estas so as memérias da Africa proeminentes na Bahia durante primeira metade do século XX. Estas memérias nfo sdo da cultura ancestral e “puramente” africana que as vitimas da escravidao nas Américas cultivam resquicios para reter, conservar ¢ preservar. Sdo memérias baseadas em vi- véncias, lembrangas,e fotografias de uma classe de africanos ilustrados, via- jados, que ~ ¢ este é 0 meu argumento central — ajudaram a eriar “cultura yorubs”, estabeleceram seu prestigio no perimetro Atlanticoe a canonizaram ‘como um padrao cléssico de cultura africana no Novo Mundo. Os estudos sobre o movimento de pessoas livres entre Brasil € Africa geralmente enfatizam a volta dos afro-brasileiros para a Africae a sua influéncia ocidentalizante, em detrimento dos viajantes que re-ingressaram a0 Brasil, daqueles que iam e vinham entre os dois mundos, e da sua influén: cia no Brasil (e.g., Manuela Carneiro da Cunha 1985; Marianno Cameiro da ‘Cunha 1985; Lindsay 1994: J.M. Tuer 1975(1974]; Comhaire 1949; Laotan 1943; L. Tuer 1942; também, sobre a volta dos Afro-Cubanos, ver Sarraci- no 1988). Faz sentido empregar 0 termo “retornados” para quem voltou para Africa, no entanto usarei o termo “re-ingressados” para aqueles que retorna- ram novamente ao Brasil, re-ingressando no Brasil e deixando a Africa. O que me interessa mais aqui so aqueles viajantes que voltaram a Africa e re- ingressaram no Brasil por diversas vezes, trocando bens ¢ idéias nos dois sentidos durante este periodo importantissimo na formagao do Candomb! Este grupo deve ser denominado pelo termo que indica a fonte da sua influé cia transformadora na histdria cultural do Brasil — os “viajantes”. Entre os anos 1890 ¢ 1940, o que muitos baianos — sacerdotes, cstudiosos, e leigos — “lembravam” da Africa veio por intermédio destes via- jantes. Chamava-se a “Costa referindo-se & costa atlantica da Africa — termi- nol6gicae historicamente uma zona de contato, de intercomunicagao e de resis- téncia entre mundos. Nos séculos XIX e XX — durante a época de viagens por Martiniano do Bonfim, Lourengo Cardoso, Manoe! Rodolfo Bamgbose, Felis- berto Sowzer, ¢ muitos outros — jé era uma “Costa’ na qual a lingua inglesa, a eserita romana, templos magénicos e uma imprensa viva faziam parte da uotidiana. Seus dislogos com o precursor etnégrafo baiano Nina Rodrigues, no final do século passado ¢ inicio deste, produziram imagens de um mundo ccosmopolita mas, em suas representagoes, ainda de uma cultura “puramente africana”. So estas imagens que povoaram minha prépria investigagao atrav de histéria oral ¢ em arquivos nos tltimos anos. Seja 1é o que “africanidade" Horlzontes Antropol6gicos, Porto Alegre, ano 4, . 9, p.263-292, outubro de 1998 212 4.Lorand Matory “pureza” tenham significado para estes viajantesafro-brasileiros e seus descen: dentes, isto certamente no foi uma invengo dos pesquisadores euro-brasilei- ros que os entrevistaram e, mais tarde, defenderam sua causa. Chegamos agora perto de entender a sofisticagdo cultural € a competéncia lingifstica dos afro-brasileiros que propagaram a cultura yoruba na Bahia durante a tltima metade do século XIX e no inicio do século XX. No entanto, temos ainda que ver como o discurso ¢a ago dos afro-brasileiros ajudaram a gerar a assim chamada cultura “yonubé” ou nagao “yoruba” que no é mais antiga que sua diéspora brasileira. De onde ven a pressuposta unidade da cultura? Como isto veio a ser tio firmemente identificado com 0 que é chamado de nagao “nagé “ ou “quéto” no Brasil ede nagao “Iucumi” em Cuba? De onde surgiu a ideologia da superioridade yoruba sobre outras cultu- ras africanas e seu poder de persuasio para tantos negros, mulatos e brancos do Novo Mundo? ‘Outra questao ainda: se estudiosos euro-brasileiros séo a fonte desta idéia (como argumentam os desconstrucionistas), de onde vem 0 valor extremado colocado na “pureza” cultural, ¢ por vezes, racial, da nagdo nagé no Brasil? A nagio afro-brasileira identificada com os yorubé ocorre em um. Brasil do século XX dominado pela valorizagao piblica da hibridez racial ¢ cultural, e declara sua descendéncia da religido da Africa Ocidental que, por todas as evidéncias disponiveis, manifesta também uma valorizagao de mis- tura e hibridizagio cultural (ver Matory 1994). Nenhuma das narrativas des: tes estudiosos convencionalmente dadas como explicagdes para a origem do Candomblé — tanto a de uma meméria de uma antiga religifo africana ou a de uma invengao burguesa euro-brasileira — parece direcionar-se no sentido a valorizagao da pureza racial e cultural do Candomblé dos anos 20€ 30. De onde surgiu esta valorizagao? A sociedade regional que emergiu no século XIX no Golfo de Guiné — de Freetown até Lagos — foi precedida por formagées politicas no interior do continente e de rotas mercantes, mas foi profundamente transfor- mada pelo comércio transatlintico. Apesar de seus predecessores no interior do continente, a identidade yoruba nao foi simplesmente remodelada pela influéncia ocidental na “Costa.” Ao contrario, como uma identidade politica e concomitante ideologia nacionalista, a identidade e etnia "yorubé” foi cria- da em uma sociedade crioula da “Costa”, que estava em constante didlogo ‘com as nagGes religiosas emergentes da didspora afro-latina, Horizontes Antropoligicos, Porto Alegre, ano 4, n.9, p. 263 - 292, outubro de 1998 Yorubé: as rota ¢asrafzes da Nago Transatlintca, 1830-1950 273 No final do século, Oyo, cuja populagdo os hausa e os fulani chamaram de “yoruba” (Bascom 1969:5), tinha, pouco a pouco, conquistado uum tergo, quase metade, do que hoje é chamado Yorubaland. Conseguiu isto através de seu monopélio 20 acesso a cavalos de guerra do norte e através da rede de delegadas — “esposas” e também delegados — “esposos” (iyawo ari) do rei. Isto incluiu, sobretudo, os mediuns, ou “cavalos” (elegun, ou sin) do deus Xangé (Matory 1994). Estes reinos que os oyos vieram a domi- nar vieram também, em varios niveis, a falar dialetos muito similares a0 oyo © a praticar celebragées religiosas profundamente vinculadas ao ritual e & + mitologia oyo. ‘Coma queda do império oyo por volta de 1830, lideres militares da etnia oyo, que govemavam da cidade de Tbadan, passarem a dominar um territério ainda maior, ¢ através de sua esfera de influéncia, os deuses oyo tornaram-se potente fonte de poder simbélico (ver, por exemplo, Apter 1992;36). O comércio de panos tecidos a mao, espalhado por um amplo terri- {rio no interior do Golfo da Guiné, é mais uma evidéncia da projegao exten- siva, pré-colonial, dos valores culturais oyo (Aderibigbe 1975) Além disto, houve tempos na costa da Africa ocidental, quando oreino de Benim pode ter se tomado ou permanecido 0 poder cultural sobera- no na regido. Lagos mesmo havia sido uma aldeia de pouca importancia sob 0 Império de Benim em expansio. Ainda nos meados do século XIX, Lagos estava tdo firmemente sob a influéncia de Benim e situada to perifericamen- te a0 imperialismo de oyo que dificilmente era “yoruba” — nem no sentido hhausa, nem, como veremos, no sentido dado, posteriormente, pelos mission4- rios de Serra Leoa. A medida que o trafico de escravos cresceu, a partir do final do século XVIII, mercadores de Lagos também tomaram-se mais ricose poderosos e, pouco a pouco, independentes do império de Benim (Aderibighe 1975). Nupe e futuros grupos de fala yorubé origindrios de Hlesa, Oyo, Egba e especialmente Ijebu foram tomando conta de Lagos 4 medida que sua economia cresceu. A colonizagao britinica em 1861 finalizou a eclipse da influéncia de Benim, assim como a Pax britanica fez de Lagos a meca cultural comercial de miltiplos grupos culturalmente diversos. Porém, 0 apogeu do colonialismo briténico trouxe consigo formas de racismo que sisténcia politica ¢ cultural. O mais importante antecessor do anti-colonialis- mo nigeriano do século XX foi a articulagao paiblica e ufanista de um nacio- Horizontes Antropol6gicos, Porto Alegre, ano 4, n. 9, p. 263 -292, outubro e 1998 mrt ty nalismo racial negro, do qual a tradigao e identidade pan-yorubé freqliente- ‘mente se tomnaram em um simbolo paradigmético. No século XIX, para mui- tos norte-americanos, afro-caribenhos, afro-latinos, serra leoninos "retorna- dos” a Lagos (lugar de uma intensa interagdo Atldntica-negra, ainda nao su- perado nem pelo Harlem!), a cultura “yoruba” tomou-se a cultura negra por exceléncia, papel inglés nesta convergéncia cultural ndo foi predestina- do. Muitos séculos de atividade comercial portuguesa na “Costa” jé tinham estabelecido um eixo de fala portuguesa no Golfo de Guiné, O fato de am- bos, Lagos ¢ Porto-Novo, ainda manterem nomes portugueses é sintomtico do enraizamento da presenca portuguesa. Foi ao tentar suprimir o tréfico de escravos que 0s ingleses primeiro estabeleceram dominio politico em La- 0s, em meados do século XIX. Entio, a disputa dos ingleses e franceses para estabelecer domfnio de fato sobre éreas mais amplasna regio, no final do século XIX, criou novas formas de unidade entre cidades ¢ povos, bem como novas divisées entre eles. Porém, nao houve forga unificadora maior do que 0 “retomo” de ex-escravos ocidentalizados do Brasil, Cuba e Serra Leoa para as cidades da “Costa”, préximas de sua morada ancestral, © as formas inter-regionais de comunicaco que estes “retomados” estabelece- ram entre eles. Na regido da “Costa,” de Lagos & Freetown, cativos africanos ‘retomados” tinham um papel especial no apenas em formular uma nova identidade para si préprios, mas em conformar um ethos trans-cultural nacio- nalista. Brasileiros de fala “nag6” acabaram tendo um papel econdmico ¢ politico central, néo apenas nas cidades da “Costa” da Africa Ocidental fran- cesa, mas através em comércio continuado com o Brasil, em certa forma, na mesma medida, que os de fala yorubé nao-oyo de Lagos e Freetown tiveram sob 0 dominio inglés. Em sama, apesar dos originais “yorubés” serem oyo, assim como uma pluralidade de africanos da costa ocidental que foram levados & Serra Leoa e Bahia no século XIX, foi a cidade de Lagos, no final do século XIX, que se transformou na capital de um povo “yoruba” concebido de forma mui- to diferente do Oyo histérico. Tomou-se capital também de vérias formas sobrepostas de identidade politica ¢ cultural que tomaram uma regido trans- nacional ¢ uma raga transnacional como campos de ago igualmente impor- tantes. Horizontes Antropoldgicos, Porto Alegre, ano 4 n. 9, p. 263 292, outubro de 1998 eRe ‘Yoruba rotas e a ratzes da Nagio Transtlanica, 1830-1950 215 Othemos mais para atrés ainda, para as circunstincias hist6ricas através das quais 0 ethos da “Costa” se desenvolveu. No final do século XVI. até metade do século XIX, 0 declinio do reino de Oyo e o surgimento do reino de Daomé coincidiram ao produzir uma populagio de escravos originais de Oyo, Egba, Egbado, Ijesa ¢ outras regides do que se tomaria Yorubé-land, Eles foram capturados e forgados a embarcar em navios nos portos de Lagos, Badagry, Porto-Novo ¢ Ouidah. Um grande niimero deles desembarcaram no Brasil e em Cuba. Os cativos que chegaram ao Brasil, entre eles, especialmente os mugulmanos, estiveram envolvidos de forma destacada em uma série de in: surreigdes € conspiragdes na Bahia entre 1807 ¢ 1835. Em nimero menor, alguns tinham retomado para a regio do Golfo de Guiné de 1810 em diante, mas 0 niimero de retomados atingiu o seu auge entre 1835. 1842, depois da maior das insurreigdes, in 1835 (Verger 1976[1968]; J.M. Tuer 1975{1974]; ‘Manuela Cameiro da Cunha 1985). © governo da Bahia ordenou a expulsao de varios suspeitos de participagao nas rebelides. Uma atmosfera de forte repressio, taxacao de imposto individual, punigdes severas, toque de reco- ther, restrigdes a ir-e-vir e assim por diante, acabou levando muitos dos baia- nos-africanos alforriados a agir no sentido de seus antigos sonhos de retorno 20 lar. Alguns, como os escravos libertos Antonio da Coste ¢ Joao Monteiro, comissionaram navios para levar grupos de amigos ¢ suas familias, enquanto outros compraram passagem em navios cargueitos € comerciais (Verger 1976[1968):317). ‘A maioria deles retornou a Lagos, Porto-Novo ¢ a outros por- tos do Golfo de Guiné, o que € hoje Nigéria ocidental, « Repablica de Be- nim, Togo € Gana. De 1820 até 1899, cerca de 8000 afto-brasileiros retor- naram para a regiao do Golfo de Guiné. Estes brasileiros retornados contri- buiram muito como uma mo-de-obra especializada na arquitetura ¢ outras técnicas, através das quais Lagos colonial foi construfda, Por volta de 1889, mesmo enquanto a populagio geral de Lagos continuave a inchar, um em. cada sete Lagosianos tinha vivido em Cuba ou no Brasil — isto 6, cerca de ‘5000 dos 37.500 (Lindsay 1994: 27fn31). Eles sofreram inomindveis abu- 505 fisicos e onerosas taxagGes nas mios dos reis de Daomé e dos reis afri- ‘eanos da costa, Suas vidas eram inseguras em qualquer lugar, mas em me- nor escala, eles descobriram, no protetorado inglés em Lagos (Verger 1976[1968}). Horlzontes Antropol6gicos, Porto Alegre, ano 4, n.9, p. 263 292, euubro de 1998 216 oo Se Igualmente crucial a emergéncia da sociedade da costa guineana €8 sua didspora latino-americana foi o subseqiiente retomo dos “saro” a La- ‘gos e seu interior (e.g.. Spitzer 1974; Kopytoff 1965). Desde a primeira déca- dda do século XIX, os ingleses fizeram esforgos para impor a legislagao ingle- sac holandesa, banindo o tréfico escravo. Um dos pilares deste esforgo foi a ccaptura, pela armada inglesa, de navios negreiros que partiam do Golfo de Guiné. Os cativos africanos assim resgatados eram geralmente realocados em Freetown, Serra L20a, onde eles e seus descendentes vieram a ser chamados “creoles” ou “krios”. Missionérios ingleses rapidamente estabeleceram pro- gramas para converté-los ¢ escolarizé-los, criando uma classe muito influente de africanos com educagio ocidental, cujas familias originaram, em grande maioria, aquilo que eles ajudaram a denominar Yoruba-land. A partir de seu retomo para Lagos. eles vieram a ser chamados “saro’ ‘A repentina proximidade dos povos oyo, egba, egbado, ijesa e assim por diante, em seu exilio em Serra Leoa, produziu um numero de conse- aléncias relevantes & nossa discussio. Primeiro, os levou a reconhecer suas similaridades e suas diferengas em comum com as populagées locais do interior de Serra Leoa, tornando possivel uma identidade étnica "yoruba", ou neste caso, “aku, Processos similares provavelmente aconteceram no Brasil eem Cuba no século XIX — no processo da genesis das “nacdes” chamadas “ago” ou “que- to” no Brasil e “Lucumf" em Cuba (ver Cortes de Oliveira 1992; Brandon 1993:55-56). Segundo, o papel dos krios nos projetos coloniais filantrépicos e missionarios dos ingleses 0s privilegiava econémica e politicamente em rela- ‘gdo aos grupos éinicos nativos de Serra Leoa. Os krios, e especialmente os akus, tinham relativamente, em muito maior nimero, uma educacio ocidental ‘quando comparados a outros grupos. Eram em grande nimero alfabetizados, cristios, comercialmente ativos € présperos. Eles, portanto, tinham acesso a ‘empregos piblicos, escolas e misses, em uma razo muito maior que os ou- ‘ros, desproporcional a0 seu miimero. A sociedade krio produziu numerosos administradores, professores, € sacerdotes que os projetos coloniais e missioné- rios dispersaram para varias partes da Africa Ocidental. Por volta de 1880, o nimero de saros em Lagos quase se igualava 0 miimero de retomados afro-latinos, mas a educagao dos saros em inglés € 0 seu dominio das convengées sociais inglesas os capacitoua atingiremum maior sucesso comercial ¢ a terem um maior niimero de postos no governo colonial inglés emergente em Lagos. Mais importante ainda, sua formago mais erudita Horizontes Antropoligicos, Porto Alegre, ano 4,n.9, p. 263 - 292, outubro de 1998 Yorubé: as rotas © as raizes da Nagio Transatlincca, 1830-1950 271 permitiu que sacerdotes saros produzissem os padres ortogréficos ¢ léxicos ppelos quais 0 yoruba’ seria estabelecido como lingua escrta. De fato, no pro- ccesso de tradugdo da biblia em uma lingua que os povos oyo, egba, ijesa, ekiti, condo, ijebu, egbado, ¢ anago pudessem todos entender, os saros produziram ‘uma linguagem “standard”, a lingua que reificou a unidade étnica “yoruba”. Nascido perto de Iseyin, na regido de fala oyo, 0 missionério africano Samuel Ajayi Crowther escreveu Um Vocabuldrioda Lingua Yoruba em 1843 e, em 1844, pregou para ex-cativos de Oyo, Egba, Ijesa e outros reunidos em Freetown, em uma linguagem hfbrida, predominantemente oyo em sua morfologia sintaxe, e mais egha em seus fonemas. Em seu léxico, foi entiquecida por expressdes idiomaticas e por expressées recentemente cu- ‘nhadas em Lagos ena diéspora da regidio (Adetugbo 1967 cited in Pee! 1993:67; Ajayi 1960). Nascido oyo, mas educado pelos ingleses, Samuel Johnson tot- nou-se missionério da igreja anglicana. Ele, assim como outros, ajudou a es- tabelecer 05 cénones literdrios, incluindo no apenas a tradugao yorubé da biblia, mas grandes narrativas da supostamente compartilhada heranga cultu- ral yorubé. Johnson escreveu o segundo texto mais lido e farmoso da literatura yorubé — A Histéria dos Yorubds, no qual ele integrou e tornou real algo que ‘nunca foi imaginado como tal antes do século XIX — algo que Johnson cha- mou de “Nagao Yoruba”. © pensamento destes missionérios anglicanos negros influen- ciou de tal forma o discurso colonial inglés que por volta dos 1880, quando o governador de Lagos, Alfred Moloney, empenhou-se em promover 0 desen- volvimento econdmico de Lagos e de seu interior, o fez, através do convite para o retomo de mais afto-brasileiros. Moloney se dirigiu a uma reunido de retornados desta forma: “Vocés sio a personificagao representativa do fluxo anual constante de africanos vindos do Brasil, numa instincia, para vossa propria terra, em outa, para a terra dos vossos pais ¢ ancestrais (0 vasto, rico ¢ intelectual pais yorubé)..” THo dedicado estava Moloney & realidade ¢ & dignidade da etnia yorubé, que dectarou que era errado chemar 0s retornados de “brasileiros”: eles eram, falando com preciso, “yorubésrepatriados”, Anos mais tarde, ele os distinguiu, anacronicamente, por terem “mantido” sua lin- gua digna ¢ ancestral, o yorubd, viva no Brasil e em Cuba (Verger 1976[1968):551-54). Digo anacronicamente porque no existia uma Iingua chamada “yoruba na época que os cativos oriundos desta regio foram leva- dos 20 Brasil Hortzontes Antropoldgicos, Porto Alegre, ano 4,0. 9, p.263 - 292, outubro de 1998 i i 278 J. Lorand Matory Portanto, a realidade da etnia “yorubs” € o discurso de sua an- cestralidade e dignidade, particularmente destacada entre outras nagdes aft ‘canas, tornou-se uma verdade oficial. Qualquer vantagem econémica que os oficiais coloniais ingleses desejassem obter, usavam este discurso oficial para asseguré-las. Estes oficiais vieram entdo a reforgar, autorizar, validar e valor zar uma nova identidade, nascida da experiéncia da diéspora. Moloney ¢ outros adicionaram peso oficial & uma identidade que atravessava fronteiras coloniais de diferentes estados € mesmo fronteiras maritimas. De fato, em 1890 e 1891, 0 governo colonial subsidiou viagens regulares, € uma linha experimental de navio a vapor entre Lagos ¢ as cidades da costa do Brasil, Apesar de se comprovar, mais tarde, que a linha era muito onerosa para ser mantida, 0 projeto demonstra a vontade dos oficiais coloniais ingleses em encorajar esta identidade transatlantica, que por varias vezes igualmente re- cebeu suporte ¢ incentivo similar dos governos brasileiro e nigeriano pés coloniais do século XX. Como o chauvinismo Yorubé tomou-se nacionalismo racial Assim, a nago yorubé nasceu com um complexo de superiori- dade. Com certeza, a influéncia cultural de Ife e Oyo antecedeu os meados do século XIX, mas nio excedeu a dos falantes do bantu, a néo mencionar tais ‘outros povos culturalmente expansivos como os hausa ¢ os falantes de man- de. A consolidagao de uma etnia chamada “yorubé,” tanto quanto o seu pres- tigio inigualado entre os povos da “Costa,” tém raizes na diéspora serra-leoni- nia, em que este povo emergente, mais do que qualquer outro na Africa, segu- rou os meios literérios ¢ comerciais de explorar o imperialismo britanico. No entanto, 0s anos 1880 ¢ 1890 foram tempos dificeis para a burguesia de retor- nados. Primero, por volta de 1880, houve um declinio econdmico no qual Brandes estabelecimentos comerciais ingleses sobreviveram muito mais fa- cilmente do que os estabelecimentos dos homens de negécios africanos. Se- ‘gundo, o progresso do colonialismo inglés no interior de Lagos nos anos 1890 parece ter comprometido as formas de cooperagao preexistentes entre euro- ppeus ¢ afticanos na costa do Golfo de Guiné, o que propiciou o surgimento de ‘uma politica oficial de privilégios raciais brancos. Além disto, & medida que a medicina tropical européia estava, mais desenvolvida, um niimero maior de administradores, médicos e missio- Horizontes Antropoligics, Porto Alegre, ano 4,n.9, p.263 -292, oursbro de 1998 ‘Yorubé: as rotas¢ as raizes da Nagio Transatlintca, 1830-1950 279 nérios ingleses brancos chegaram para tomar cargos previamente ocupados por africanos ocidentalizados, eos brancos recém-chegados estavam prontos a invocar o discurso racista para garantir seus privilégios de acesso as almeja- dos postos. Tornou-se evidente entio, para muitos africanos ocidentalizados, que racismo era o motivo real para muitas das exclusdes, transferéncias € demissdes de que eles foram vitimas no servigo publico colonial enas igrejas, mesmo quando raga nao era dada como a explicagio oficial. A rejeigao da lideranga do bispo Samuel Ajayi Crowther por jovens missionérios brancos € sua conseqiiente demissio da Missio Niger em 1890 foi o mais conhecido evento assim interpretado pelos retornadas saros € afto-latinos (ver, e.g.,Omu 1978:109), precipitando um movimento de maiores proporgées no sentido da formagao de igrejas africanas independentes. Estes eventos também contribuiram significativamente para um ethos que o historiador J.F.A. Ajayi (1961) ¢ varios outros estudiosos mais recentes descreveram como “nacionalismo cultural”. Por exemplo, Omu (1978:107-114) descreve este nacionalismo cultural de Lagos na virada do século como uma “cruzada” ou “campanha” realizada principalmente por jomnalistas, escritores ¢ compositores. Os proponentes deste movimento ten- taram estimular interesse em “hist6ria, lingua, indumentéria, nomes, vida familiar, religigo, danga, teatro e formas de arte africanos (Ibid. 107). Ape- sar disto ter ocorrido principalmente nos 1890, esta campanha teve prece- dentes nos 80, na forma de artigos jomalisticos no Lagos Times (um tema proeminente era a “preservagio” da lingua yorubé, uma vez que —e eu cito 86 um destes artigos — ela é “uma destas marcas de distingo nacional ¢ racial que Deus nos deu”) (Ibid.:107-8). Assim, no espago de uma geracao, (5 saros parecem ter mudado de entusiasmados anglofilicos, gratos por sua liberagao da escravatura em maos inglesas, para advogar varias formas de nativismo nacionalista africano que se opunham & hegemonia cultural britd- nica. Através de seus escritos, 05 saros tornaram mais acessivel a documen- tago deste processo entre eles, mas € também claro que, como um gesto politico consciente, numerosos retornados afro-latinos também adotaram publicamente nomes, vestimentas e padres conjugais yorubés durante este perfodo (Ajayi 1961; Cole 1975a; .M. Tumer 1975; Cameiro da Cunha 1985; Lindsay 1994; Mann 1985; Omu 1978). Tornou-se agora Iugar-co- mum para devotos de orixés fazer o mesmo como uma marca de sua nacio- nalidade sagrada. Horizontes Antropolégicos, Porto Alegre, ano 4, n. 9, p. 263 - 292, outubro de 1998 280 J. Lorand Matory No openasnaionalismo cultural As mudangas nas auto-concepgées dos afticanos ocidentalizados 1no Golfo de Guiné no século XIX sto geralmente chamadas de “nacionalismo cultural”, tanto para distingui-las dos desafios politicos a politica governamen- tal britdnica quanto para marcé-las como precursoras das formas de ativismo ue, mais tarde, levariam 3 independéncia do estado-nagio nigeriano. Mas, dois ppontos ainda valema pena mencionar e estao curiosamente ausentes da maioria das discuss6es existentes sobre este periodo, ¢ certamente das implicagdes do rénulo de “nacionalismo cultural”. Primeiro, os nacionalistas identificaram o povo, cuja opressio os preocupou € cuja unidade eles pressupuseram, mais freqiientemente por sua “raga” do que por sua “cultura’ Varios escritores naci- ‘onalistas deste periodo pressupuseram que a “raga negra” tinha caracteristicas cculturais em comum que a diferenciava dos brancos, ou tomavam caracteristi- cas das varias culturas africanas que precederam a cultura crioula da “Costa” como mais “auténticas” e apropriadas para os membros da raga negra. Esses historiadores que explicitamente perceberam o essencia- lismo racial destes discursos tenderam a atribui-lo a uma adogao passiva feita pelos burgueses africanos de um vocabulério gerado por escritores ‘europeus, tais como Conde Joseph Arthur de Gobineau (ber como James Hunt) ¢ propagado por colonialistas europeus (ver, e.g., Okonkwo 1985:2- 3; Law 1990-81-99). Existem claramente paralelos entre alguns escritores da Africa Ocidental ¢ alguns nacionalistas europeus na tendéncia em confundir “raga”, cultura, lingua, religido e nago. No entanto, nao ha nenhuma razio para cret que a mistura peculiar destas idéias entre os nacionalistas africanos tenha tido um precedente especificamente europeu. De fato, parece haver mais clemen- tos na hist6ria social de Lagos do que na hist6ria européia para inspirar nati- vistas a igualarem o nacionalismo cultural yoruba com uma idéia de unidade racial negra. Para comegar, binarismo racial no era para os habitantes de Lagos um mero postulado filos6fico. Lagos de 1880 a 1915 estava cheio de discriminagGes raciais. Um Lagos que uma vez fora dividido entre europeus, brasileiros, saro e populagao local estava, em 1910, dividido entre negros € brancos (Cole 19752:75). Visitando Lagos em 1911, o historiador da arte Leo Frobenius relatou que até policiais e empregados do correio eram hostis em relagdo aos brancos (Frobenius 1913:38-40; Cole 1975a:89) Horizontes Antropotdgicos, Porto Alegre, ano 4, n. 9, p. 263 - 292, outubro de 1998 ‘Yorubé: as rotas€ as razes da Naglo Transatlatica, 1830-1950 281 ‘Muito além de lerem sua experiéncia em termos da histéria natu- ral de Arthur de Gobineau, eles a leram em termos da experiéncia altamente ‘publicizada dos negros norte-americanos, particularmente na forma apresenta- da noticias republicanas ¢ em editoriais de jorais negros norte-americanos € nos artigos de W. E. B. Du Bois e Booker T. Washington, para néo mencionar os do bem-viajado politico negro das Iihas Virgens dinamarquesas, Edward Wil- ‘mot Blyden. Na virada do século até 1910, os jomais de Lagos documentavam regularmente o linchamento de negros norte-americanos ¢ as formas “'raciais” de cooperagio por eles mobilizadas para escapar da opressio, tais como “repa- triagdo" para a Libéria. Jomais de Lagos trocaram muita correspondéncia com jomais negros norte-americanos. Além disto, é preciso apontar 0 fato que al- ‘guns dos mais proeminentes editores e lideres politicos na época tivessem ori- ‘gens sociais caribenhas, norte-americanas ou liberianas, bem como o mulato jamaicano Robert Campbell, que publicou o jomal The Anglo-African, ¢ John P. Jackson, editor do Lagos Weekly Record, que era filho de migrantes negros norte-americanos na Libéria. Muitos lagosianos, como Orishatukeh Fadumah, inclusive visitaram ou estudaram nos Estados Unidos.* O historiador de Lagos, Michael Echeruo, conclui que “a maior fonte de estfmulo intelectual para esta elite {lagosiana] era a América Negra’ (1977:113). Portanto, 0 posterior equivoco implicito no termo “nacionalis- mo cultural” é que qualquer nacionalismo que se refere auto-conscientemen- te politica negra norte-americana, & repatriagdo e & unidade racial, especial- ‘mente na virada do século, dificilmente poderia ser representado como no- politico. Entretanto, também na virada do século, jomais de Lagos participa- ram em formas nao norte-americanas de “limpar” a linhagem de sangue de seus herdis. Todos seus herdis, de Africanus Horton e Alexander Crummell a W.E. B. Du Bois and Booker T. Washington, so aclamados como “negros de puro sangue”.” Desta forma, 0 purismo racial e cultural que apareceram na imprensa de Lagos antecipou os testemunhos recolhidos por Ruth Landes € Donald Pierson na Bahia nos anos 30 € 40. 3 Fadumah era um saro. 9 Por exemplo, “Dr. Crummel is a pure Negro” (The Lagos Standard, 2 set. 1896, p3). "Paul Lawrence Dunbar the young rising poet of América is of pure Altican blood” (The Lagos Standard, 11 nov. 1896.3). Ver também The Lagos Standard of 6 avi! 1898 sobre “the famous Askia the great" "a full-blood negro"; e The Lagos Weekly Record do 29 agosto 1891, p.2, sobre o sucesso extraordinirio dos “pure-blooded Negro youths” nas cescolas européias como evideneia contra as teorias da inferiridade negra. Um artigo n0 Horizontes Antropolégicos, Porto Alegre, ano 4, n. 9, p.263 - 292, oun de 1998 m2 ran any Por exemplo, Eliseu Martiniano do Bonfim ¢ varios dos seus contemporineos proclamaram a superioridade da pureza racial africana ou negra, que eles parecem ter associado e equalizaram com pureza cultural afri- cana (Landes 1947:23, 28 ete; ver também Pierson 1942:273,292). 0 discur- so sobre pureza racial na “Costa” da Africa ocidental certamente tem prece- dentes no desdém dos colonialistas britanicos pelos seus stditos cultural ¢ racialmente hfbridos (ver, e.g., Law 1990:88). Mencionarei, por exemplo, as relevantes idéias de Mary Kingsley sobre a dignidade de pureza racial e cul- tural africana, que eram amplamente citadas na imprensa de Lagos. Ainda mais amplamente difundidas eram opinides similares do politico pan-aftica- nista E. W. Blyden."® Ele associava a diluigao tanto da cultura africana quanto do sangue afticano com fraqueza, doenga e decadéncia social. Os etndgrafos desconstrucionistas do Candomblé esto, portanto, equivocadas ao atribuir a ideologia da “pureza nag6” a invengao de outros etndgrafos e patronos euro- brasileiros. De fato, esta ideologia parece ter suas origens na renascenga afri- cana de Lagos na virada do século. Raga, Religido, Texto e Comércio na Diéspora da Naso Yorubé Durante a renascenga cultural em Lagos, na virada do século, africanos ¢ pelo menos um europeu escreveram numerosos livros, panfletos € artigos na imprensa descrevendo e dando dignidade & assim chamada “tradi- ional religido Yorubé”."" A publicagao ¢ a disponibilidade destes escritos gos Weekly Record (23 maio 1896, 5), publicado riginalmene no joral negro nore americano, The Reformer, advoga orglho como condigdes necessirias para 0 melhoramento da roduc 30 artigo de Da Bois, “The Conservation of Races." descreve Du Bois como "a pure Negro” (The Lagos Weekly Record 31 jutho 1897, p.2). Verumbém Nigerian Chronicle (19 Nov. 1908, p.6), sobre 0 médico negro Africanus Horton 10 Ver Lagos Weekly Record, 27 margo 1897. 1 Ver, por exemple, The Yorubd-Speaking Peoples ofthe Slave Coas of West Africa (1898) de Col A.B. Ellis, Th Revelations ofthe Secret Onders of Wester Africa 1887)<"Astological Geomancy in Afres" de J. Abayomi Cole, “Religious Beliefs the Yorubs People” (1896) de Orishatukeh Fadamah, fa (1897) de E. M. Lijadu, as palesas do Dx. Abayomi Cole sobre areligito yoru os estudos do Rev. Mojola Aabebi sobre areligio dos arisaem Oyo, (Ova Owo (West Africa 22 agosto 1903, tomo VI, pp 211-14), "History ofthe Gods” (1906) de Oyesile Keribo, entre autos. Ver também Barber 1990. Horizontes Antropolégicos, Porto Alegre, ano 4, n. 9, p. 263 - 292, outubro de 1998 ‘Yorub: a5 rotas€ as rafzes da Nagio Transatlitica, 1830-1950 283 coincidem significativamente com o perfodo quando navegadores, comerci- antes ¢ professores de inglés negros e, ndo menos importante, navios correios estavam freqlientemente atravessando 0 Atlantico. ‘Nos incompletos arquivos baianos documentando 0 re-ingresso na Bahia dos brasileiros de Lagos, contei dizias de navios e centenas de africanos livres viajando de Lagos para a Bahia e através da Bahia até o Rio ou até o estado de Pemambuco entre 1855 e 1898. Muitos deles tinham passa- portes britanicos, e a maioria parecia estar engajada em comércio. Evidéncias de material da imprensa, de documentos pessoais e da histéria oral revelam. repetidas viagens de mais de uma vintena de afro-brasileiros até os anos 30 deste século.”” Estes mercadores parecem ter capitalizado sua nacionalidade intercontinental — fornecendo aos africanos da regio do Golfo de Guiné 12 Arquivo Piblico do Estado da Bahia (APE.B.), Regisuo de Entrada de Estangeiros, 1855-56, Segio Colonial e Provincial, livro #5667 (9 janeiro 1855, 21 margo 1855, 20-21 ovembro 1855, 11 janeiro 1866, 28 janeiro 1856); A.PE.B., Presidéncia da Provincia, Policia do Porto, Mapas de sada c entrada de embarcagées, 1886-1893, Segio Colonial ¢ Provincial, Mago #31945, 12 junbo 1869 (n.b., este item de 1869 est fora do lugar; foi achado na pasta de 1889]; A.PE.B., Presidéncia da Provincia, Policis do Porto, Mapas de saidae entrada de embarcagio, 1873-1878, Mago #3194-3, see 31 janeiro 1876, Ver ara bém A-PESB., Presidéncia da Provincia, Policia do Porto, Mapas de entradas e saidas de ‘embarcagbes, 1878-1885, Mapo #319449, pasta de 1879, 15 July 1879; A.PEB., Presi

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