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Tudo

 o  que  ele  precisava  era  de  um  milagre  ...


 Matthew  Reed  já  teve  sua  quota  de  problemas.  Mas  ele  é  um  Reed  e  os  Reed
 podem   superar   qualquer   coisa.   Matt   trabalha   no   estúdio   de   tatuagem   da
 família   junto   com   seus   irmãos.   A   única   coisa   que   lhe   falta   é   formar   a
 própria   família.   Então,   sua   luta   contra   o   câncer   o   leva   a   encontrar   uma
mulher  que  pode  precisar  dele  tanto  quanto  ele  precisa  dela.
 
Ela  não  precisava  de  nada...
 Skylar   Morgan   é   feliz.   Ela   tem   um   namorado.   Tudo   bem,   ele   não   faz   seu
 coração   bater   mais   rápido   e   não   a   apoia   quando   ela   precisa,   mas   ela   não
 precisa   disso.   Ela   é   feliz   sendo   autossuKiciente   e   por   não   ter   muitas
 
responsabilidades.  É  educada,  tem  um  bom  emprego  e  dinheiro  suKiciente
 
para  se  sustentar.  Mas  ela  sequer  havia  se  dado  conta  do  que  não  possuía
 até   conhecê-­‐lo.   E   conhecê-­‐los.   As   pessoas   que   mudarão   sua   vida   para
sempre.
SKYLAR

H oje, seria um belo dia se não fosse pelo caixão e as três crianças com
rostos molhados e olhos vermelhos sentadas ao meu lado no banco da
frente. O serviço ainda não foi iniciado, e as pessoas continuam vagando
para olhar para a minha meia-irmã, Kendra. Alguns sussurram palavras
suaves próximo a ela e chegam a tocar sua mão fria. Toquei-a também. Essa
foi a segunda e última vez que toquei nela. Ela é a irmã que só conheci no
dia em que morreu.
Assusto-me quando o banco balança. Seth, o filho mais velho de Kendra,
fica de pé e grita:
— Vovô!
Vovô? O quê? Ele tem um avô? Olho para cima e vejo meu próprio pai.
Ele está aqui? Hã? Ele envolve Seth em seus braços e o aperta. Então,
afasta-se um pouco e olha em seus olhos.
— Como você está? — ele pergunta baixinho.
Os olhos de Seth viajam em direção ao caixão.
— Estamos bem — diz ele, engolindo em seco. Posso ouvi-lo de onde
estou sentada.
Papai segura seu rosto e olha em seus olhos.
— Vai ficar tudo bem — ele fala. — Ela está em um lugar melhor. —
Olha por cima do ombro de Seth, em minha direção. — E vocês têm Skylar
agora — ele sussurra. Seth balança a cabeça.
Um lugar melhor? Quando eu posso ir para lá? Qualquer lugar seria
melhor do que esta igreja, onde meu pai está fazendo uma homenagem a
sua filha ilegítima.
Ele caminha até mim e beija minha bochecha.
— Como você está, Sky? —pergunta. Seu tom não é tão amigável comigo
como é com os netos, que eu sequer sabia que ele tinha até poucos dias
atrás.
— Tudo bem — resmungo.
Papai se senta e movimenta-se em direção às meninas de Kendra. A
menor, que tem três anos, vai para o seu colo e a mais velha, com cinco,
inclina-se para o lado. Ele passa o braço ao redor de seu corpo e a segura
próximo a ele. Ele conhece mais essas crianças do que a mim. Isso me irrita
tanto que até me remexo.
As sobrancelhas dele se erguem em um aviso sutil. Paro de me mover.
Acho que preciso aprender a olhar desse jeito agora que sou mãe.
Sim. Sou mãe. Meu pai apareceu há mais ou menos uma semana,
pedindo minha ajuda. E em um estalo, virei mãe.

— SKYLAR — papai fala, calmamente. —, preciso que que você faça algo para
mim.
Levanto os olhos do meu canelone e forço um sorriso. Eu deveria ter
imaginado que ele queria algo. Jamais teria me convidado para almoçar se
não precisasse de mim.
— Recebeu outra multa? — pergunto. Sou uma advogada recém-
formada.
— Não — diz ele lentamente. Ele não me olhar nos olhos. — É sobre
Kendra.
Deixo meu garfo cair, fazendo um barulho bem alto contra o prato. Luto
para pegá-lo de volta e, em seguida, apoio minhas mãos sobre a mesa.
— O que tem ela? — pergunto.
Sei quem é Kendra. É a filha que ele teve com sua amante. Descobri há
alguns anos, quando minha mãe ficou bêbada e abriu seu coração. E
sobrecarregou o meu.
Kendra é a filha que meu pai adora. Sua mãe era a mulher que ele amava.
Não importava o fato de ele ser casado com minha mãe. Não importava que
ele teve três filhos com ela. Não fazia sequer diferença o fato de sermos uma
família perfeita que morava nas colinas e tinha uma linda casa de veraneio
em Cape. Nossa família era perfeita até descobrirmos que ele tinha outra.
Alguém que ele realmente amava.
Ele teve uma vida com a mãe de Kendra até ela morrer. Eles
compartilharam um apartamento e tiveram uma filha. Papai ficou entre a
casa dela e a nossa por muitos anos, mas nunca foi muito presente quando
estava com a gente Mamãe sempre se sentiu muito ressentida. Assim, ele se
afastou cada vez mais. E ficou com elas.
Então, de repente, um dia ele voltou. Seus olhos estavam avermelhados, e
ele se isolou em seu escritório com uma garrafa de Glenlivet. Não saiu de lá
por dias. Quando finalmente saiu, minha mãe passou uma semana
cantarolando “Ding-dong, a cadela está morta”. Nesse época, Kendra já era
adulta e estava casada.
Mas depois daquele dia, tive meu pai de volta. Não entendia muito bem o
que havia acontecido. Na época, eu não sabia que ele tinha outra filha. Outra
mulher que amava. Outra vida. Mas ele tinha. E agora, ele queria falar sobre
isso?
— Kendra está morrendo — diz ele. Seus olhos se enchem de lágrimas,
mas não permite que elas caiam. Ele pisca furiosamente, com o rosto
avermelhado.
— Oh — murmuro. Como vou responder a isso? Ding-dong, a cadela está
morta... — O que aconteceu?
— Ela está com câncer. Descobriu quando ficou grávida da filha mais
nova, Mellie. — Ele limpa os olhos com um guardanapo de pano e pede ao
garçom que lhe traga uma bebida. — Ela deveria ter feito quimioterapia,
mas quis esperar o nascimento de Mellie. — Ele solta um suspiro. — Se não
tivesse ficado grávida, poderia ter feito o tratamento. Podia ter feito um
aborto, mas recusou. Ela esperou muito tempo. O câncer vai levar a melhor e
ela não tem ninguém para ficar com as crianças.
Não posso respirar. Sinto meu peito doer e parece que estou prestes a
desmaiar. Papai empurra um copo de água para mim, e eu o levo aos lábios.
Dou um gole, engulo e respiro profundamente. E espero. Porque há mais.
Sempre há mais com meu pai.
— Ela tem três filhos. Seth tem dezesseis anos. Joey, cinco. E Mellie tem
três. — Ele cobre minha mão com a sua e aperta. — Eles não têm ninguém
além de mim. E não posso ficar com eles. — Ele se senta e esfrega a ponte de
seu nariz. — Você sabe como sua mãe é — explica.
Sim, e sei como ela foi traída. Sei como ela descobriu sobre sua amante.
Sei como ela odeia o chão que elas pisam. Às vezes, acho que ela me odeia
também. É difícil dizer. Não consigo me convencer de que ela ame algo ou
alguém.
Ele me olha nos olhos.
— Preciso que você me ajude. Eles são seus sobrinhos, não importa o que
sua mãe te ensinou.
Estou atordoada. Absolutamente atordoada.
— Você os ama — digo em voz baixa.
Ele balança a cabeça.
— Amo.
— Você a ama. — As palavras saem como rachaduras de trovão.
— Sim.
Inclino-me para trás contra a cadeira.
— Posso te perguntar uma coisa?
Ele balança a cabeça. É um movimento rápido, mas eu vejo.
— O que eles têm que nós não temos? — pergunto. Sequer choro. Apenas
pergunto. Sempre quis saber.
— Sua mãe dificultou bastante que eu fizesse parte da nossa família —
diz ele. — Depois que ela descobriu — Ele levanta a mão para me parar
quando abro minha boca para reclamar. — Espere — diz ele. — Me ouça.
Concordo. Não posso falar mesmo que eu quisesse.
— Amei você e seus irmãos. Mas também amei a mãe de Kendra e deveria
ter me divorciado de sua mãe e ter saído de casa.
— Sem nós — digo.
— Não, eu teria levado vocês comigo se pudesse. Mas não podia. Sua mãe
teria me arruinado financeiramente, e sei que eu superaria isso, mas ela
conseguiria a custódia de vocês. E eu não podia simplesmente deixá-la
influenciá-los com seu ódio contra mim sem ao menos tentar impedir. — Não
me lembro de ele impedir nada. Lembro dele como o homem que eu mal
conhecia. Ele aperta as mãos firmemente. — É por isso que nunca saí de casa
totalmente. Sua mãe é meio vingativa, como você sabe. — Ele passa a mão
pelo cabelo branco perfeito. — Às vezes, acho que ela teria aceitado isso se a
mãe de Kendra fosse branca.
O quê? A mãe de Kendra não era branca? Meu pai teve um caso com uma
mulher de raça diferente?
— Se você fizer isso por mim, sua mãe ficará muito zangada com você.
Merda nenhuma! Ela vai me odiar. Mas acho que ela já odeia mesmo.
— Entendo se você disser que não — diz ele com um suspiro. — Mas eles
não têm mais ninguém.
— Onde está o pai deles? — pergunto.
Ele dá de ombros.
— Pais — diz ele, no plural. — O pai de Seth o visita uma ou duas vezes
por ano e o pai das meninas tem uma nova família e não tem tempo para
elas.
— Então o que você quer que eu faça? — pergunto. Coloco meu
guardanapo no prato. Meu canelone está fermentando no estômago.
— Quero que você vá buscá-los e fique com eles.
— Você pediu a Tim? Ou Lydia? — Eles são meus irmãos e ambos são
mais velhos do que eu.
Ele balança a cabeça.
— Eles têm suas próprias famílias.
— Eu sei. — Merda, não tenho ninguém. Ninguém além de um namorado
que quase nunca vejo. Minha mãe é uma maluca, e o coração do meu pai
pertence a outra família.
— Você é solteira. Seria maravilhosa com eles. — Ele abaixa a voz e olha
ao redor do restaurante. — Você não vai olhar para eles como se fossem
crianças mestiças indesejadas. Você vai amá-los. Sei que vai. — Ele olha para
mim. — Será que você poderia, pelo menos, conhecê-los? Por favor? Sei que
seria um desafio. Você teria que aprender muito, mas Seth tem dezesseis anos.
Ele ajuda a cuidar das pequeninas. Inferno, em dois anos ele pode assumir a
custódia sozinho. E é isso que ele quer.
Meu pai parece implorar.
— Nunca te pedi nada — diz ele.
Ele tem razão. Ele nunca me pediu um beijo de boa noite ou qualquer uma
das coisas que os pais desejam. Bem, provavelmente ele pediu à Kendra.
— Tudo bem — digo. Eles são apenas crianças, afinal. E crianças
precisam ser amadas. Eu não fui, mas posso agir melhor com os filhos de
Kendra, não posso? Há um pequeno pedaço dentro de mim que gostaria de
deixar meu pai orgulhoso. Para fazê-lo me amar.
Ele esvazia como um balão, seu corpo relaxa.
— Oh, graças a Deus — diz ele, colocando a mão no peito. Em seguida, se
levanta, segura-me pelos cotovelos e me puxa para si. Não me lembro de
algum dia já ter recebido um abraço dele, e não sei o que fazer. Ele me segura
assim, respirando na parte superior da minha cabeça por um momento.
Então, me faz recuar. Seus olhos estão molhados, com lágrimas não
derramadas.
— Obrigado — diz ele. — Muito obrigado.
Concordo. Não posso fazer mais nada. Sinto-me como se alguém tivesse
enfiado um dedo em minha garganta.

AFASTO AS LEMBRANÇAS quando alguém se senta à minha esquerda. Olho para


cima e, instantaneamente, reconheço Matthew Reed. Ele era amigo de
Kendra do centro de oncologia. Fui até lá pouco antes de Kendra morrer
para pegar as crianças. Matt estava esperando por ela. Ficou com Seth para
que ele estivesse ao lado dela quando desse o último suspiro. Levei as
meninas para casa. Não achei que elas precisassem se lembrar da mãe
assim.
Seus olhos azuis olham para os meus, e ele estende a mão para apertar a
minha. Não fala nada. Olho para ele, que veste camiseta azul com uma
camisa preta de botão por cima, calça social e paletó. Ele puxa a gola, e vejo
uma de suas tatuagens.
— Você parece bem — falo. Sorrio para ele, porque não sei mais o que
fazer.
— Obrigado — ele diz calmamente. Seu cabelo loiro está preso com
uma faixa de couro na nuca, mas uma mecha se solta e ele a prende atrás da
orelha. Ele tem uma série de piercings por toda a orelha e eu os conto
mentalmente. Sinto um desejo enorme de ver seu cabelo solto.
Ele olha para a minha saia preta e blusa branca.
— Você também.
Acho que estava usando algo semelhante na última vez que o vi, mas
sorrio mesmo assim. Ele aperta minha mão e se afasta. Acho que não
deveria tê-la segurado por tanto tempo. Sou uma idiota. Ele se inclina sobre
mim e aperta a mão do meu pai.
— Sr. Morgan — diz ele, com um aceno de cabeça. —, sinto muito pela
sua perda.
Papai acena, agradecendo e aperta a mão de Matt com força. Volta a
falar com as meninas e elas estão cada vez mais grudadas nele enquanto ele
murmura baixinho para elas.
Matt inclina-se para Seth, que sorri quando ele lhe dá um soquinho na
mão. Então, o pastor vai para a frente da igreja, fecha o caixão e começa o
serviço religioso.
Matt pega minha mão novamente e sinto meus olhos arderem pelas
lágrimas. Pisco para ele, que sorri suavemente para mim. Ele aperta minha
mão suavemente e escuta o pastor. Mas não deixa que eu me afaste.
M AT T


E la parece só — Emily fala, dando uma cotovelada em mim. Ela é
mulher do meu irmão, Logan, e é dona de um pedaço do meu coração. Mas
às vezes, sinto vontade de dar uma cotovelada de volta quando ela me
cutuca com as pernas magricelas. — Você deveria checar como ela está —
ela sussurra com veemência. Seu cotovelo levanta novamente e eu a seguro
antes que ela possa me empurrar.
— Tudo bem — resmungo. Levanto-me, pisando nos pés dos meus
quatro irmãos quando passo por eles. Claro, estou no centro do corredor e
tenho que passar por todos. Reagan, a namorada de Pete, estende a mão e
aperta a minha quando passo por ela. Amo Reagan, assim como Emily. Mas
Emily é um pouco mais franca. Reagan é famosa por sua suavidade, já
Emily, é o oposto.
Arrumo o paletó e a gravata que Logan me emprestou. Ele ganha muita
coisa da Madison Avenue, a loja de roupas de luxo que pertence ao pai de
Emily. Sinto-me como um macaco velho vestido com um casaco e chapéu,
parecido com aqueles que dançam no carnaval. Dança, macaco, dança.
Sento-me ao lado de Skylar, a meia-irmã de Kendra e aperto sua mão.
Ela a segura um pouco mais de tempo que o necessário, mas não me
importo. Ela parece cansada. Seu pai está sentado ao lado, mas é como se
tivesse um oceano entre eles. São apenas alguns centímetros, mas posso
perceber o grande fosso que existe entre os dois.
Cumprimento-o e bato com os nós dos dedos nos de Seth. Estávamos
juntos quando Kendra se foi. Compartilhamos o momento mais duro de sua
vida e isso é algo que jamais esquecerei.
Vi Kendra dar seu último suspiro, e tudo que consegui pensar era em
como eu tinha sorte por não ser eu morrendo ali, naquela cama. Poderia
facilmente ter sido eu. Nós dois fazíamos quimioterapia no mesmo lugar,
mas consegui passar por isso e entrei em remissão. Ela, não.
Ela morreu.
Eu estou vivo.
Olho para Skylar. Ela não se parece em nada com Kendra, que era
mestiça; sua pele era da cor do café, e seus cabelos eram cacheados, mas
curtos. Skylar tem a pele clara; é loira, de olhos azuis. Ela usa um par de
óculos de sol incrustado de strass no alto da cabeça, afastando o cabelo de
seu rosto. Ele cai no meio de suas costas em ondas suaves.
O pastor começa a falar na frente da igreja e Skylar fecha os olhos. Ela
aperta as mãos no colo, e não posso imaginar o que está acontecendo em
sua cabeça. Gostaria de saber.
Seguro sua mão na minha, sem sequer pensar nisso. Entrelaçou os
dedos nos dela e aperto sua mão suavemente. Ela me olha e pisca
lentamente, seus olhos azuis, assustados. Mas então, eles suavizam, ela
pisca para mim novamente e, desta vez, realmente olha para mim. Ela
aperta minha mão de volta, e eu não a solto. Seguro-a até que elas comecem
a suar.
Fico tão envolvido na sensação da sua mão na minha e no zumbido
suave do pastor que me assusto quando uma tosse me tira do transe. Olho
para cima e vejo um homem alto olhando-me de encontro. Ele cutuca meu
joelho.
— Acho que você está no meu lugar — diz ele.
Olho para Skylar e ela parece tão chocada quanto eu. Ela puxa a mão da
minha e a enxuga na saia. Afasto-me e ele se senta ao lado dela, passando o
braço ao redor dos seus ombros. Ela se inclina para pressionar os lábios
nos dele. É um beijo rápido, que me faz pensar quantas vezes ele faz isso e
se é sempre assim, tão casto.
Ótimo, agora estou pensando sobre como seria beijá-la. Merda. De onde
veio isso?
Finalmente, tiram o caixão da igreja, e seguimos até a sepultura.
Tiro o cravo da minha lapela, coloco-o em cima do caixão e me afasto
para ficar com os meus irmãos por trás da multidão.
Emily enfia o braço no meu.
— Quem é o cara? — ela pergunta, apontando para o homem que está
de pé com Skylar.
Dou de ombros.
— Não faço ideia.
— Será que ela tem namorado? — Reagan pergunta.
Meus irmãos estão silenciosos. Queria que Logan e Pete mandassem
que suas garotas ficassem quietas por alguns minutos e parassem de ser
tão intrometidas. Aperto o nariz de Emily, que faz uma careta.
— Pare de ser tão curiosa — digo a ela.
Passo o braço em torno Reagan e puxo-a para mim. Gosto quando ela
fica toda macia contra meu corpo, porque quando não está assim, está
pronta para me derrubar com um golpe de caratê. Já fui vítima de uma
Reagan assustada antes e, particularmente, não quero estar na mesma
posição novamente.
— Você está bem? — ela pergunta em voz baixa.
Dou um suspiro.
— Acho que sim. — Balanço a cabeça. — Ainda não posso acreditar que
ela se foi — digo.
Reagan beija minha bochecha e depois passa o polegar para limpar o
batom que deve ter deixado na minha pele e sorri.
— Estou feliz por você estar melhor — diz ela, calmamente.
Aperto sua mão.
— Eu também.
Mas, merda. Me sinto culpado. Kendra deixou três filhos para trás.
Vejo Skylar caminhando em nossa direção. Emily e Reagan dão um
passo para trás. Os sapatos de salto alto que Skylar está usando afundam na
terra, e ela cambaleia um pouco por causa disso. Estendo a mão para ajudá-
la a se estabilizar. Ela para na minha frente.
— Obrigada por estar lá com ela —diz calmamente.
— Ela era minha amiga — explico. Não sei mais o que dizer.
Ela olha em meus olhos.
— Ela sentiu dor? —pergunta e balança a cabeça. — Tentei falar com
Seth sobre isso, mas ele, praticamente, finge que não existo.
Enfio as mãos nos bolsos.
— Como assim? Ele não está te dando trabalho, não é?
Ela balança a cabeça novamente.
— Não. Ele é perfeito. Leva suas irmãs para a creche de manhã e as pega
depois da escola. Dá banho e comida a elas. Ele não me deixa fazer nada.
Acho que o problema sou eu. — Ela respira pesadamente.
Coço a cabeça. Não sei como dizer a ela o que quero dizer.
— O quê? — ela pergunta, arqueando sobrancelha delicada.
— Kendra pediu para que ele facilitasse as coisas para você — admito.
— Quando estava morrendo, ela disse a ele algumas coisas sobre como ser
um bom homem. Abrir sempre a porta do carro; levar um lenço quando for
a um encontro, pois você nunca sabe quando ela vai chorar; Nunca deixá-la
pagar o jantar. — Respiro fundo. — E ela lhe disse para facilitar as coisas
para você.
Sua boca se abre como se ela quisesse dizer algo, mas não sai nada. Ela
está sem palavras.
— O que mais ela disse a ele?
— Apenas coisas normais sobre a morte — digo a ela. Foi duro assistir.
Tive que sair do quarto para não aborrecê-los com meus soluços. Perdi
algumas coisas em decorrência disso.
— Não sei o que fazer com as crianças — diz ela.
— Eles realmente não precisam de muito — digo. — Só que você os
ame.
— Estou tentando — diz ela.
Quero colocar minha mão na parte de trás de seus cabelos e alisá-los.
Aposto que são macios como seda.
— Hum, acho que deveria apresentar-lhe meu namorado — diz ela. —
Quer conhecê-lo?
Balanço minha cabeça. Vejo-o conversando com o Sr. Morgan e ele não
parece impressionado.
— Quando você, hum, pegou minha mão... — diz ela. — Eu deveria ter
dito.
— Por quê? — Olho para ela. Mesmo de salto, ela fica na altura dos
meus ombros.
— Eu, hum, não queria que você tivesse a ideia errada.
Desta vez eu é que arqueio as sobrancelhas para ela.
— Por que você acha que segurei sua mão?
Seu rosto cora.
— Não sei ao certo — diz ela.
Envolvo minha mão em seu pulso e aperto suavemente.
— Segurei sua mão porque você estava tremendo — digo. — Só por
isso. — Ela está tremendo agora também, mas não faço nada.
— Oh — ela respira.
Seu telefone está em uma das mãos e eu o pego e adiciono meu número.
— Faça-me um favor? — peço.
Ela olha para mim e, em seguida, para o telefone.
— Ligue para mim se precisar de alguma coisa. Qualquer coisa. Prometi
a ela.
— Ok — ela responde. — Obrigada por tudo. — Seus olhos azuis
encontram os meus e nunca vi ninguém parecer tão perdido. Mas, em
seguida, eles se estreitam enquanto sua atenção se volta para um ponto
atrás de mim. — Merda —de repente, ela resmunga.
— O quê? — pergunto, olhando por cima do ombro para o sedan que
acabou de parar.
— Minha mãe está aqui — diz ela. Seus ombros caem e vejo uma
centelha que não estava lá um pouco antes. — Pode ficar de olho nas
crianças por um minuto? — ela pergunta.
— Por quê?
— Não tem porquê — diz ela. Ela range os dentes e olha para mim. —
Prometa que não vai deixá-la se aproximar das crianças.
Que porra é essa? Olho para o sedan. A porta se abre e uma versão mais
velha — e muito mais severa — de Skylar sai.
— Tudo bem... — digo lentamente. Ela acena com a cabeça, a espinha
reta como aço, e caminha em direção a sua mãe.
A rigidez em sua postura me faz pensar em minha própria mãe quando
Johnny Rickles chutou minhas costas e depois viu todas as outras crianças
rirem. Ela ficou fula quando viu. É um olhar que diz que qualquer um
precisará passar por cima dela antes de se aproximar das crianças e acho
que acabei de conhecer a nova mãe de Seth, Mellie e Joey. Seu nome é
Skylar Morgan, e ela é minúscula, linda e impressionante.
SKYLAR

N ão sei porque ela está aqui, mas sei que não pode ficar. Mamãe
empurra o chapéu preto com véu da frente de seus olhos e sorri para mim.
— Boa tarde, querida — diz ela, inclinando-se apenas o suficiente para
não me tocar enquanto beija o ar perto da minha bochecha. Sua respiração
cheira a uísque e ela balança um pouco sobre os pés.
— O que você está fazendo aqui? — resmungo. Mantenho-a perto do
carro e ela fica de pé, junto à porta aberta. Seu motorista parece
desconfortável e, imediatamente, sinto pena dele.
— Vim prestar meu respeito, querida — diz ela. Sua voz é doce, mas ela
não tem uma gota de bondade.
— Volte para o carro, mãe — digo. Faço um movimento com a mão.
— Isto não é maneira de tratar sua mãe — diz ela. O tom doce deixou
sua voz, mas a máscara permanece lá. Pelo menos, por enquanto.
— Mãe — aviso com um grunhido.
Ela solta um suspiro.
— Só queria prestar meu respeito — diz ela novamente.
— Enviasse um cartão — respondo.
Ela olha pelo cemitério em direção ao túmulo, e seus olhos se estreitam.
— Aquelas são as crianças? — ela pergunta. Seu rosto se contorce como
se estivesse sentindo cheiro de algo ruim.
— Não — eu digo.
— Então, seja boazinha e me diga quem são, querida — diz ela. —
Quero conhecê-las.
— Não.
— Rachel — meu pai chama enquanto caminha rapidamente em nossa
direção.
— Oh, olá — mamãe murmura.
— Entre no carro, Rachel — diz ele, pegando minha mãe pelo braço e
empurrando-a para dentro.
— Mas... — ela esbraveja. Ele fecha a porta e se dirige ao motorista, que
está de pé perto do carro.
— Dirija — diz ele.
— Sim, senhor — o homem responde e desliza para seu lugar.
— Ligo para você amanhã — papai fala. — Preciso tirá-la aqui —
explica ele.
Concordo.
— Por que ela veio? — pergunto, mais para mim do que para ele.
— Porque ela não está no controle desta parte da minha vida — ele
murmura.
Olho para ele.
— Você já se perguntou como sua vida seria como se não tivesse se
casado ela? — deixo escapar. Não faço ideia de onde veio isso.
Ele aperta os lábios na minha testa muito rapidamente.
— Nunca, porque se não, não teria vocês.
Meu estômago se aperta, e minha cabeça gira.
— O quê?
— Skylar, eu te amo — diz ele. Em seguida, desliza para dentro do carro
com minha mãe e saem do cemitério. Fico olhando até que as luzes
traseiras desaparecem ao longe.
— Está tudo bem? — uma voz pergunta, vindo em minha direção. Olho
para cima e vejo Matthew Reed e quatro pessoas que se parecem,
notavelmente, com ele.
— Tudo bem — respondo, minha mão acenando alegremente no ar
porque eu não sei o que fazer com ela. — Era a minha mãe tentando se
intrometer onde não deveria.
Os olhos de Matt se estreitam, mas ele não diz nada. Ele aponta para os
homens ao seu lado e apresenta um de cada vez.
— Meus irmãos, Paul, Logan, Sam e Pete. — Todos apertam a minha
mão. Há três mulheres com eles também. — Esta é a esposa de Logan,
Emily, e Reagan você já conhece — Conheci Reagan por acidente no dia que
Kendra morreu. Dei uma carona a ela.
A última, uma moça bonita de cabelos pretos e tatuagens até a lateral do
pescoço aproxima-se, estendendo a mão.
— Friday — diz ela.
— Hoje é sábado — respondo.
Ela ri.
— Não, meu nome é Friday — ela esclarece e me sinto envergonhada
por fazer confusão com se nome, que significa sexta-feira. Ela se inclina
para o maior dos irmãos — acho que seu nome é Paul — e envolve um
braço nos ombros dele. — Trabalho com esses cabeçudos no estúdio de
tatuagem.
— Estúdio de tatuagem? — pergunto. Devo soar como um papagaio,
pois tudo que pareço ser capaz de fazer é repetir o que todo mundo está
dizendo.
— Reed’s — diz Matt. — Todos nós trabalhamos lá.
— Oh — suspiro. Normalmente sou muito mais eloquente do que isso.
Pelo menos, espero que seja.
Olho em volta e vejo que Seth está com suas irmãs. Cada uma delas
segura uma de suas mãos. Todo mundo já deixou o cemitério. Ficamos aqui
por tanto tempo assim?
Matt movimenta a mão na direção dos irmãos.
— Estávamos indo comer uma torta — diz ele. — Achamos que você
poderia gostar de ir com a gente.
— Não sei — respondo. Seth aproxima-se com as irmãs e então olho
para eles. Ele parece esperançoso. Não o vi parecer interessado por nada
além do bem-estar das meninas na última semana. Arqueio uma
sobrancelha, perguntando-lhe o que ele gostaria de fazer.
Ele balança a cabeça. Então, olha para longe, quase como se estivesse
com medo de ter esperança. Ele olha para o caixão que está sendo abaixado
no túmulo.
— Nós adoraríamos acompanhá-los — eu digo.
Joey olha para o irmão e pergunta:
— Mamãe também vai?
Seth tentou explicar às meninas durante toda a semana que a mamãe se
foi, e elas parecem não conseguir entender o conceito de morte. Continuam
esperando que a mãe entre pela porta.
— Não — Seth diz, e vejo-o engolir em seco. — Mamãe não pode vir.
— Talvez mais tarde — ela diz baixinho, o rosto triste. Ele a segura no
colo e ela coloca a cabeça em seu ombro. Mellie vai ao seu lado, e nós
caminhamos na direção dos carros funerários.
— O Rico’s fica perto daqui — explica Matt, olhando para o carro como
se ele fosse mordê-lo. — Quer nos encontrar lá?
— Vamos caminhar com vocês — diz Seth e todos nós vamos na direção
da pizzaria. Olho em volta, procurando por Phillip, meu namorado, mas ele
deve ter ido embora. Isso não me surpreende nem um pouco. Pego meu
telefone e envio-lhe uma mensagem de texto rápida.
Eu: Onde você está?
Coloco o telefone de volta no bolso.
Seguimos em fila, Matt ao meu lado, no final dela.
— Como vão as coisas? — ele pergunta.
— Terríveis — admito. Sinto lágrimas se formarem em meus olhos. Ele
pega um lenço e o oferece a mim. Levo-o aos olhos. — É muito difícil. As
crianças não me conhecem, e Seth não está realmente interessado em
permitir que eu me aproxime das meninas. Ele sequer permite que eu leia
uma história para elas dormirem. Ele cozinha, limpa, lava a roupa, faz tudo,
e eu nunca me senti mais inútil na vida. — Olho para cima e vejo Matt
prestando atenção. Ele está realmente, realmente ouvindo.
— Seth cuida de suas irmãs há muito tempo — ele diz suavemente. —
Está acostumado a fazer tudo sozinho. Ele fez isso enquanto a mãe estava
fazendo quimioterapia. E também durante seus tratamentos. É normal para
ele. Ele não se importa, porque é o que sabe fazer.
— As meninas não param de perguntar quando ela vai voltar, como se
ela estivesse de férias ou no escritório. — Minha garganta está tão
embargada que sinto como se fosse sufocar.
Ele estremece.
— Isso é duro — diz ele.
— Só gostaria de saber o que fazer a partir daqui — admito. Não faço
ideia de como ser mãe. Não sei o que fazer em caso de febre e mal sei trocar
uma fralda. Graças a Deus, a menor já usa o penico na maior parte das
vezes. Mas estou aprendendo como lidar com a fralda por pura
necessidade. Se colocá-la torta, você está ferrado.
— Vai ficar com eles? — ele pergunta.
— Não sei o que fazer — admito. — Não sei. Não tenho que voltar ao
trabalho ainda. Eles me deixaram trabalhar de casa. Bem, estou na casa de
Kendra.
— Você ainda está hospedada lá? — pergunta ele.
Concordo.
— Por enquanto. Achei que era melhor ficar com eles em um lugar
conhecido, cercados por seus brinquedos, suas próprias camas e até
mesmo as coisas da mãe. Pelo menos, por um tempo.
Matt segura meu cotovelo e me faz parar.
— Skylar — diz ele.
— O quê? — Olho em seus olhos azuis e estou quase assustada com a
intensidade de seu olhar.
— Você pode amá-los? Amá-los de verdade? Porque não é vergonha
admitir que não quer ou não pode cuidar deles. Eles merecem o melhor.
— Eles merecem alguém melhor do que eu — sussurro. — Mas sou
tudo que eles têm. Honestamente, Matt — eu digo —, não posso sequer
manter uma planta viva em casa. O que estou pensando?
Ele tira uma mecha de cabelo da minha testa.
— Quer saber o que acho? — ele pergunta.
— O quê? — Estamos no meio de uma rua movimentada, mas nunca me
senti tão separada do resto do mundo.
— Acho que você pode fazê-lo. Tenho fé em você.
— Por quê? — pergunto. — Você nem me conhece.
— Porque você se importa — diz ele. — Isso é tudo que as crianças
precisam. Alguém que cuide delas.
— Você tem filhos? — pergunto.
Ele balança a cabeça enquanto um véu cai sobre seus olhos.
— Não. Pode me emprestar os seus algumas vezes?
Eu rio.
— Como uma espécie de xícara de açúcar?
Ele balança a cabeça.
— Eu não iria devolver a xícara de açúcar. As crianças, por outro lado...
— Ele levanta e abaixa as mãos como se estivesse pesando suas palavras.
Eu rio.
— Não posso ter filhos — diz ele. — Ou, pelo menos, as chances são
pequenas.
Ele coloca uma mão sobre minha boca quando a abro para fazer uma
pergunta. Sei que ele teve câncer, mas não sei que tipo ou qual seu
prognóstico.
— Não ser realmente capaz de ter algo parece fazer com que você
queira mais ainda aquilo. — Ele aponta para as costas de Seth. — Veja, você
ganhou três de uma vez, e eu sequer posso ter um. — Ele ri e cutuca meu
ombro com o seu. Ele continua andando, e eu fico ao seu lado. — Como seu
namorado se sente sobre eles? — ele pergunta.
Encolho os ombros.
— Não discutimos isso.
— Você não acha que deveria? — Sua testa franze ao olhar para mim.
— É complicado.
Matt respira profundamente
— Tenho uma confissão a fazer — diz ele. — Quer ouvir?
— Claro.
— Na igreja, quando segurei sua mão, não foi só porque você estava
tremendo.
Meu coração balança, mas agora chegamos ao restaurante. Ele me
conduz pela porta com uma mão na parte baixa das minhas costas, e o
momento da conversa acaba. Porcaria.
M AT T

M eus irmãos são uns idiotas. Já sei disso há muito tempo, mas é muito
mais evidente quando estão todos juntos em um só lugar. E em público.
Sam e Pete estão fazendo um concurso de queda de braço na mesa
enquanto esperamos a garçonete trazer a conta. Mellie e Joey já dormiram.
Elas estão enroladas em Seth, em um ângulo que não parece ser
remotamente confortável, mas acho que ele está acostumado com suas
irmãs ao redor de si. Sua mão acaricia, distraidamente, as costas de Mellie e
ele olha para ela com carinho, sorrindo suavemente. Vou até ele e me sento
ao seu lado.
— Como vão as coisas, Seth? — pergunto.
Ele encolhe os ombros e desvia o olhar.
— Tudo bem —responde.
Aceno e aguardo um momento. Certifico-me de que ninguém esteja
prestando atenção em nós, então falo o que sinto em meu coração. —
Lembro-me de quando minha mãe morreu. As pessoas ficavam me
perguntando se eu estava bem e eu dizia que sim, mas não estava. Não
mesmo.
Seu olhar encontra o meu.
— Sua mãe morreu?
Concordo. Odeio falar sobre mamãe, pois tenho que falar também sobre
meu pai.
— Minha mãe morreu. Eu era um pouco mais jovem que você. Então,
pouco tempo depois, nosso pai também nos deixou. — Aceno em direção
aos meus irmãos. — Ficamos os cinco sozinhos.
Seth solta um suspiro.
— Que barra — ele resmunga. Deixa a cabeça cair para trás e,
finalmente, consigo ver. Vejo um pouco da exaustão.
— Barra pesada — respondo. — Mas só podemos jogar com as cartas
que temos. — Aponto para Skylar, que está falando com Reagan, Emily e
Friday. Ela é tão linda que quando sorri tira o meu fôlego. Mas se há uma
mulher totalmente fora do meu alcance, é Skylar Morgan. — Como vão as
coisas com sua tia? — pergunto.
— Bem — ele resmunga. Ele olha para ela, mas há mais curiosidade do
que carinho.
— Está tentando conhecê-la melhor?
Ele dá de ombros.
— Você deveria dar uma chance a ela — sugiro. — Ela disse que está se
sentindo deixada um pouco de lado.
Seu olhar dispara até os meus novamente.
— Ela falou isso?
Concordo.
— Você acha que ela só vai ficar até que você não precise mais dela?
— Não preciso dela agora.
— Você não pode fazer tudo sozinho, Seth. Ninguém pode.
Ele aponta para o peito.
— Eu posso.
— Você tem dezesseis anos.
Ele contorce o rosto e, honestamente, é a maior expressão de emoção
que já vi em sua face até agora.
— Sei quantos anos tenho. Também sei que prometi à minha mãe que
cuidaria delas.
— Seria ruim aceitar ajuda? — pergunto. Então, cutuco seu ombro. —
Quando o treino de luta começa?
— Na semana que vem, mas não vou. — Sua testa franze. — Não tenho
tempo.
— De quanto tempo você precisa?
Ele suspira pesadamente.
— São duas horas todos os dias depois da escola. Competições em fins
de semana e uma noite por semana. Mellie e Joey já ficam na creche o dia
todo. Não posso deixá-las com uma babá.
— Você não tem que deixá-las com uma babá. Deixe-as com sua tia. —
Aponto para Skylar, que me pega no flagra, seus olhos se estreitando.
Balanço a cabeça para ela. Ela entende, mas ainda está curiosa. — Ela é a
tutora legal, Seth, não você.
Sua voz soa calma quando ele fala, tão baixa que mal posso ouvi-lo, mas
entendo suas palavras.
— Tenho medo de exigir demais dela e ela ir embora. Se isso acontecer,
nós seremos levados para abrigos e ficaremos separados. Ninguém mais
nos quer. — Sua mandíbula endurece. — Sabia que eu perguntei ao meu pai
se ele poderia ficar conosco?
Não sabia disso.
— E?
— Ele disse que ficaria comigo, mas com Mellie e Joey, não. — Ele olha
para as duas, seu olhar suavizando, mas ainda está com raiva. — Pode
acreditar nisso? Ele as entregaria a um estranho. Qualquer um que quisesse
ficar com elas. Minha mãe ficaria louca se soubesse disso. — Ele balança a
cabeça. — Que barra.
— Barra pesada — digo novamente.
Seth sorri.
— Barra pesada — ele repete.
Pete anda na minha frente e, quando passa, empurro seu quadril. Ele
olha para mim.
— Vocês estão falando sobre a minha bunda? — ele pergunta e olha
para a bunda, fazendo um grande gesto. — Tudo bem, caramba, sei que é
grande, mas não precisam falar.
Coloco meu pé em seu traseiro e o empurro. Ele se esconde atrás de
Reagan.
— Olha o que ele fez, princesa — diz ele. — Me chutou. — Ele envolve
seus braços ao redor dela e diz: — Chute a bunda dele por mim, está bem?
— E a empurra em minha direção. Todo mundo sabe que Reagan é
especialista em artes marciais e ela já me derrubou mais de uma vez
durante treinos. Ergo minhas mãos em sinal de rendição.
— Por favor, não — eu digo. — Eu tive câncer. — Relembro a eles.
Ainda tenho vantagem na hora de comer uma quantidade maior de
brownies.
Reagan ri.
— Você não pode mais usar a desculpa do câncer — diz ela. — Dois
anos em remissão. — E ergue dois dedos. — Lembra que fizemos uma festa
para comemorar? — Ela para ao meu lado, e coloco meu braço ao seu
redor, puxando-a para beijar sua testa. Houve um tempo em que ela não
conseguia ficar em uma sala lotada sem se sentir nervosa e ansiosa, mas
agora isso não faz mais parte de sua vida. Não desde que seu agressor foi
preso. Ele morreu na cela, então, ela não precisou enfrentá-lo em um
tribunal. Reagan é muito mais autoconfiante agora. Claro, ela não confia
plenamente em todo mundo, mas na maior parte do tempo ela é a nossa
princesa. Reagan é namorada do Pete e parte da família.
Noto que todo mundo começa a se levantar.
— Vocês pagaram a conta? — pergunto.
Paul balança a cabeça. Skylar está tentando empurrar o dinheiro para
ele, mas ele recusa. Depois, tenho que me lembrar de pagar-lhe a parte dela
do jantar. Ela protesta, mas ele a ignora, como nossa mãe nos ensinou. Ela
bufa e coloca o dinheiro na bolsa.
— Obrigada por nos convidar — diz Ela vai até Seth e começa a tirar
Mellie de cima dele, mas eu me aproximo e pego a menina, que está
dormindo. Mellie envolve seus braços em meu pescoço, as pernas na minha
cintura e se agarra a mim como se fosse um daqueles macacos de pelúcia
que têm velcro nas mãos. Meu coração aperta um pouco. Gosto desse
sentimento. Gosto muito e meu coração dói porque nunca terei isso.
— Posso levá-la — diz Skylar, estendendo as mãos.
— Já peguei — eu digo e Seth se levanta com Joey no colo. Seguro Mellie
um pouco mais firmemente e ela faz um barulho, ressonando contra meu
pescoço. Não tenho qualquer desejo de afastá-la de mim.
— Vejo você em casa? — Paul pergunta, me lançando um olhar
interrogativo.
Concordo. Ele sai com nossos irmãos enquanto Reagan, Emily e Friday
se despedem de Skylar. Ouço alguns murmúrios com palavras de carinho,
estimulando-a a ligar para elas caso precise de ajuda e ela sorri e abraça a
todas. Saímos para a calçada, e ela me diz novamente:
— Posso carregá-la. O apartamento não é muito longe. — Ela levanta as
mãos novamente, e balanço a cabeça, impedindo-a.
— Vou levá-los para casa — digo. Eu me sentiria um idiota se não
fizesse isso e sei que ela jamais seria capaz de carregar Mellie por todo o
caminho usando aqueles saltos. E secretamente, estou feliz por ter a
oportunidade de passar algum tempo com as crianças.
Ela nos permite entrar no apartamento e Seth caminha em direção ao
quarto das meninas. Afasta a coberta de uma das camas e coloca Joey sobre
os lençóis. Ele tira seu casaco e os sapatos, colocando a coberta sobre ela.
Faço o mesmo com Mellie e fico feliz por não ter que dar banho ou colocar
pijamas, pois eu saberia como fazer isso.
— Obrigado pela ajuda — Seth diz, calmamente.
— Quando precisar — respondo. Ele se vira para sair do quarto, mas
seguro seu ombro. — Seth — eu digo. — Você não está sozinho, garoto.
Ele olha para o meu rosto.
— Eu sei — ele responde em voz baixa. — Boa noite. — Ele olha para
Mellie e Joey novamente, apaga luz e fecha a porta atrás de nós.
— Boa noite — eu digo.
Suspiro pesadamente, caminhando de volta para a sala de estar. Seth
desaparece em seu quarto sem fazer nenhum um comentário sequer para
Skylar.
Balanço o polegar em direção ao quarto de Seth.
— Você sempre recebe dele o tratamento do silêncio? — pergunto.
Sinto vontade de dar uma palmada em sua bunda, mas ele não é meu filho.
E não acho que ele esteja fazendo isso para ser desrespeitoso. Acho que age
assim para aliviar a carga dela. Não sei se deveria sacudi-lo ou dar-lhe uma
medalha.
Ela encolhe os ombros.
— Tudo bem — ela fala, mas sua voz é baixa. — As meninas dormiram?
— ela pergunta.
— Sim — respondo. Sigo-a para a cozinha. Gostaria de poder dizer que
vou atrás dela apenas para que possamos conversar, mas eu meio que
gosto de olhar para o seu traseiro. Ela tirou os saltos e está calçando apenas
a meia fina. Eu me pergunto se elas vão até o meio da coxa, presas por uma
daquelas pequenas ligas. Passo a mão no rosto tentando afastar os
pensamentos. Ela tem namorado.
Skylar pega uma garrafa de vinho da geladeira e enche um copo.
— Quer um pouco? — ela pergunta.
Não sou realmente um apreciador de vinho.
— Não, obrigado.
Seus olhos se estreitam. Ela vai até a geladeira e pega uma cerveja.
— Agora eu aceito —digo com uma risada.
— Kendra devia gostar de cerveja — diz ela. — Isso estava na geladeira.
— Ela levanta a taça. — Mães não bebem vinho? — ela pergunta.
— A minha bebia — respondo. Sigo-a para a sala e sento-me em uma
extremidade do sofá. Ela se senta na outra.
— Ela foi uma boa mãe? — ela pergunta.
— A melhor.
— Sorte sua — diz ela com um ruído na parte de trás de sua garganta.
— Fui criada por babás, cozinheiras e governantas. Tinha uma variação
constante delas. — Ela deita a cabeça no encosto do sofá e olha para o teto
por um momento. Então, bebe o último gole do vinho em sua taça e a coloca
sobre a mesa lateral. Ela boceja, cobrindo a boca com delicadeza. —
Desculpe-me — diz ela. — Semana longa. — Ela sorri, e minha respiração
falha. que então me lembro que deveria ter entrado e saído.
— Eu deveria ir — eu digo.
— Não precisa ir embora — diz ela. — É bom ter alguém para
conversar.
Resolvo ficar. Não quero ir. Gosto desse silêncio calmo com ela, embora
não saiba o porquê.
— Você quer alguns conselhos não solicitados? — pergunto.
Ela bufa. E é tão bonitinho que não posso deixar de sorrir.
— Vou aceitar todos os conselhos que puder conseguir.
— Diga a Seth que ele deveria fazer o treino de luta.
Suas sobrancelhas arqueiam.
— Luta? — ela pergunta.
Eu concordo.
— Ele ama o esporte. Foi campeão regional de luta livre no ano passado.
Ela se ajeita no sofá.
— Quando começa? — ela pergunta.
— Próxima semana.
— Por que ele não me contou?
— Humm... — Não sei o quanto devo dizer a ela. — Ele tem medo de te
dar muito trabalho e você resolver abrir mãos deles. Se isso acontecer, o
Estado irá colocá-los em um orfanato.
Ela rosna e inclina-se para a frente.
— E você soube disso tudo no jantar?
Concordo com a cabeça e levo minha cerveja aos lábios.
— Eu os conheço há mais tempo — digo.
— Durante quanto tempo você e Kendra saíram? — ela pergunta.
Engasgo com minha cerveja e tusso com o punho fechado em frente a
boca por um minuto.
— O quê?
— Você e Kendra — diz ela novamente. — Por quanto tempo vocês
saíram juntos?
— Oh, não saímos — apresso-me em dizer. — Éramos apenas amigos.
— Oh — diz ela. Então, o silêncio cai sobre a sala. Finalmente, ela diz: —
Então, luta, hein? Não é um pouco bárbaro?
Sorrio.
— Não. É estratégia, força e condicionamento. É bom para ele.
— E se ele se machucar?
— Ele é menino. Vai se machucar.
— Você tem todas as respostas, não é? — ela pergunta.
Infelizmente, não tenho nenhuma resposta. Sobre nada.
— Se ele for treinar, tem que sair da escola e ir direto para lá todos os
dias. Isso pode dar-lhe algum tempo para conhecer Mellie e Joey, quando
for buscá-las na creche.
Ela balança a cabeça.
— Parece-me um plano.
— Todo mundo precisa de um plano — eu digo com um sorriso. Ela
sorri, e sinto uma pequena vibração em meu coração.
Ouço uma porta se abrir atrás de nós e Seth sai de seu quarto. Ele olha
para nós, seu olhar vai de Skylar para mim e volta para ela.
— Tudo bem? — ele pergunta.
Skylar descansa os cotovelos sobre os joelhos.
— Matt estava me contando sobre a luta — diz ela.
Seth geme e joga a cabeça para trás, me olhando como se desejasse que
eu tivesse mantido minha boca fechada.
— Acho que você deveria fazer — diz ela. Sua voz treme um pouco.
— E as meninas? — ele pergunta.
— O que têm elas? — ela pergunta de volta. — Vou começar a buscá-las
todos os dias.
Seth coça a cabeça.
— Você está bem com isso?
Ela balança a cabeça e sorri para ele.
— Estou, sim.
Seth sorri para ela também.
— Tudo bem — diz ele.
— Você vai me avisar quando tiver jogos para que eu possa assistir? —
ela pergunta.
— Campeonatos — Seth e eu falamos ao mesmo tempo.
Ela ri e levanta ambas as mãos em sinal de rendição.
— Campeonatos — ela repete. — Desculpem-me — diz ela, mas está
rindo também. — Então, posso ir aos seus campeonatos? — ela pergunta.
Seth balança a cabeça.
— Claro. — Ele olha para a cozinha como se quisesse se afastar. — Só
vou beber um pouco de água e vou para a cama — ele fala.
— Boa noite — Skylar responde.
Ele olha para trás, por cima do ombro e diz baixinho:
— Boa noite, tia Sky.
Ele se afasta, e eu olho para Skylar. Ela parece um pouco chocada.
— Você está bem? — pergunto.
Ela ri e balança a cabeça.
— Você ouviu isso? — ela pergunta.
— Que ele vai lutar? — Estou um pouco perplexo.
— Não — ela diz baixinho. — Ele me chamou de Tia Sky. — Seus olhos
estão um pouco enevoados, então, aperto seu joelho. Ela cobre minha mão
com a sua e olha para mim. Seu olhar volta-se diretamente para o meu. —
Obrigada pela ajuda. — De repente, o telefone, em seu bolso, emite um som
e ela solta minha mão para alcançá-lo. — Meu namorado — diz ela, mas
não parece muito feliz em ter notícias dele.
— Eu deveria ir. — Ela tem uma porra de um namorado, rei dos
babacas, se bem me lembro. Levanto e jogo minha garrafa de cerveja na
lixeira. Ela me segue até a porta. — Ligue-me se precisar de alguma coisa —
falo. Ou se você não precisar de nada, quero acrescentar, mas não falo.
Ela se inclina contra o batente da porta.
— Pode deixar —responde, e eu acredito nela. Só espero que algo
terrivelmente errado aconteça para que ela possa realmente me ligar. Nada
de casos de vida ou morte, ferimentos graves ou algo tão drástico. Talvez
um vazamento na pia ou um vaso sanitário entupido. — Boa noite — ela
fala.
— Boa noite — respondo. Ela fecha a porta, e fico ali por um momento,
pois não consigo pensar em qualquer outro lugar que eu gostaria de estar.
A porta se abre de repente, e Sky coloca a cabeça para fora. Ela bate em
meu peito, e eu a seguro, agarrando seus cotovelos. Tento tirar o sorriso do
rosto, mas é quase impossível.
— Você precisa de algo mais? — pergunto com uma risada.
— Você ainda está aqui — diz ela em meu peito. O calor do seu hálito
faz coisas engraçadas dentro de mim. Em mim por inteiro. — Queria te
perguntar uma coisa — diz ela, com a voz entrecortada.
Ela se inclina, encostando um ombro na porta e olha para mim com os
olhos tão claros e azuis que eu poderia cair neles e ficar lá. Ela morde o
lábio inferior e, em seguida, diz rapidamente.
— Quando estávamos caminhando para o restaurante, você comentou
que não segurou a minha mão só porque ela estava tremendo. Fiquei
pensando... hum... por que mais você faria isso?
Levanto o braço e puxo a faixa de couro que segurava meus cabelos,
deixando-os cair em volta do rosto. Então, levo um tempo prendendo-os de
volta, mas minha intenção é só ganhar tempo para descobrir como
responder a ela.
Sorrio.
— Mencionei que não foi a única razão, não é?
Ela balança a cabeça, ainda mordiscando o lábio inferior. Suas
bochechas estão rosadas e seus olhos, brilhantes.
Não sei qual a melhor forma para responder, então, abaixo meu rosto e
beijo sua bochecha. Hesito por um breve momento, deixando-a respirar em
meu ombro enquanto sinto seu perfume. Ela tem cheiro de limpeza e de
mulher, com uma pitada de citrus. É de tirar o folego e mal consigo parar de
cheirá-la. Inspiro uma última vez e sussurro.
— Fiz isso porque gosto de você.
Ela treme levemente, e vejo os pelos em seus braços se eriçarem. Forço-
me a ir embora. Preciso fazer um esforço enorme para não me virar e olhá-
la novamente. Mas não olho. E continuo andando.

ENTRO EM NOSSO apartamento e paro quando vejo alguém sentado no sofá


conversando com Paul. Meu irmão se levanta, parecendo muito
desconfortável.
— Olha quem apareceu — Paul fala, apontando para o visitante. Minha
euforia termina imediatamente. Todos os bons pensamentos que tive
quando saí da casa de Sky subitamente são jogados contra uma parede de
traição e engano.
Seu nome é Kenneth e ele costumava ser meu melhor amigo. Até o
momento em que transou com minha noiva, April.
— Ken — resmungo —, que merda você está fazendo aqui?
Paul fica entre nós, como se pudesse me manter longe caso eu quisesse
arrancar um pedaço dele. E eu realmente quero.
— Bem — diz Ken. —, eu... hum... estava esperando que pudéssemos
conversar. — Ele olha para Paul como se não quisesse dizer nada na frente
dele.
Paul para ao meu lado.
— Você quer que eu saia?
Dou de ombros. Posso chutar o traseiro de Ken com ele aqui ou no
quarto.
— Você é quem sabe — eu digo.
Vou até a geladeira, pego uma cerveja e abro-a apoiando-a na beira do
balcão e batendo na tampa da garrafa. Atiro a tampinha de metal no centro
da lata de lixo.
— Cesta — sussurro para a lata quando a tampa entra.
Vou para o sofá e me sento, descansando os pés sobre a mesinha de
centro enquanto começo a zapear pelos canais da televisão.
— Chame se precisar de mim — diz Paul e, em seguida, desaparece em
seu quarto. Eu não teria que chamá-lo. Ele vai ficar com a orelha colada à
porta até Ken ir embora.
Ken senta-se no sofá em frente a mim, seu traseiro junto à beirada. Ele
descansa os cotovelos sobre os joelhos e se inclina em minha direção.
— Por que você está aqui, Ken? — pergunto. Quero que ele fale logo
para que possamos terminar de uma vez com esse encontro longo e
desconfortável.
— Bem — ele começa. Então, para e pigarreia, passando a mão para
cima e para baixo na cabeça. Na verdade, seu desconforto me faz sentir um
pouco melhor sobre toda a situação.. — Queria falar com você sobre o
casamento — diz ele lentamente, enunciando cuidadosamente.
Finjo indiferença, apesar de não saber do que ele está falando.
— Quem vai se casar? — pergunto.
Era melhor que ele não dissesse que era ele e a porra da April.
— Bem, pedi April em casamento — ele deixa escapar, parecendo ainda
pior do que há um instante. Ele estremece como se estivesse com medo que
eu fosse bater nele. Inferno, eu ainda poderia.
— Parabéns — falo, inexpressivo. Tento não colocar qualquer
sentimento em minha voz, porque se eu o fizesse, estaria gritando, e
gritando, e gritando como se fosse um urso ferido, pois sinto como se
alguém estivesse empurrando um ferro em brasa nas minhas entranhas.
— Queria que você soubesse por mim — diz ele. —, considerando a
situação. — Ele torce as mãos.
— Considerando o fato de que você trepou com a minha namorada —
falo e, em seguida, tomo o último gole da minha cerveja. Acho que ela vai
direto para minha cabeça, já que bebi tão rápido. Mas não me importo.
— Ela estava so... sofrendo — ele gagueja. — quando soube do seu
diagnóstico e tudo mais, entende? — Ele olha para mim como se estivesse
esperando a confirmação. Vou confirmar que ele é um idiota. Um
mentiroso, enganador, filho da puta de melhor amigo. — Nós meio que nos
deixamos levar.
— Você se deixou levar e caiu bem no meio da boceta dela, não é? — Ele
levanta a mão e começa a gaguejar, mas continuo a falar, sem me importar
em ouvi-lo. — Entendo completamente. Aconteceu comigo uma vez ou
duas. Provavelmente, nas mesmas noites que aconteceu com você.
— Matt — diz ele. —, sei que já disse que sinto muito antes, mas, por
favor, saiba que nós não tínhamos a intenção de que isso acontecesse.
Nunca quisemos machucar você.
Fiquei machucado por um longo tempo, mas agora estou um degrau
acima. Irado soa muito melhor.
— Quantas vezes você quer que eu o parabenize? — Pergunto.
Ele suspira.
— Só não queria que você ouvisse isso de outra pessoa — ele fala. —
Lidei muito mal com as coisas, mas ainda tenho o maior respeito por você
como amigo.
— Obrigado — falo irônico.
— Ah, ouvi dizer que você está em remissão — diz ele. Ele sorri como se
estivesse feliz por mim. — Estou tão feliz por você estar bem.
— Obrigado — grunho. Aparentemente, transformei-me em um homem
das cavernas. Um homem das cavernas que não dá a mínima para esse
babaca.
Ele fica de pé.
— Bem, eu provavelmente deveria ir. — Ele estende a mão para mim.
Ela fica entre nós até que ele chega à conclusão de que não vou tocá-lo.
Nem fodendo.
— Quando é o casamento? — pergunto, levantando-me.
— Próximo fim de semana — diz ele.
Minha testa franze e eu bufo.
— Tá em cima, hein? Vocês devem estar planejando isso há um bom
tempo.
Ele começa a coçar a parte de trás da cabeça novamente.
— Hum ... na verdade, não. Bem, estávamos planejando, mas decidimos
mudar a data com certa urgência. Hum... — Ele olha nos meus olhos como
se estivesse esperando suavizar o golpe. — April está grávida.
Minha respiração falha. Fecho os olhos e inspiro, porque sinto que vou
vomitar. Forço-me a abrir os olhos e vou até a porta. É o máximo que posso
fazer para não colocar meu pé no rabo dele e chutá-lo porta afora.
— Bem... hum... é realmente importante para April termos a sua bênção.
— Você não precisou da minha bênção quando transou com ela — digo.
— Por que precisa dela agora que você a engravidou?
— Ela se sente terrível com a maneira como as coisas aconteceram —
diz ele.
— Bom — grunho. — Ela deve se sentir mesmo. — Ela deveria se odiar
por cair nos braços de outro cara enquanto eu estava passando pela quimio
e quase morri, porra.
— Ela não é uma pessoa má — diz ele. — Só cometeu um erro. Nós dois
erramos.
— Um erro acontece uma vez — explico, levantando um dedo. — Não
dezenas de vezes. — Fora as vezes que não sei. — Depois da primeira vez, é
uma escolha, não um erro.
— Ela só não soube como lidar com a situação.
— Você quer dizer, como me apoiar quando precisei? — Ergo as minhas
mãos como se não quisesse que ele respondesse. Não consigo entender
isso. De jeito algum.
— Gostaria que pudéssemos ser amigos novamente — ele fala. Sua voz
é quase suplicante. Isso me faria rir, se não me fizesse querer chorar.
— Nunca vai acontecer — digo. Abro a porta e faço um movimento com
a mão para que ele saia.
Ele se ilumina por um segundo.
— Ei, Paul estava me dizendo que você está saindo com alguém.
Paul fez o quê?
— E?
— Acho que isso é ótimo. Estou feliz por você. — Ele bate a mão no meu
ombro e o aperta até que eu olho em sua direção, pensando em como vou
quebrar cada um de seus dedos. Ele sacode a mão para trás. — Acho que
você deveria trazê-la para o casamento. Vai ser como nos velhos tempos. O
que você diz?
Apenas olho para ele.
— Bem — ele diz, sorrindo como se tivesse resolvido o problema da
fome no mundo em uma noite. — Vou me certificar de que April lhe mande
mais um convite. Adoraríamos que você estivesse lá.
O diabinho no meu ombro me insulta.
— Ei, como April se sentiu quando você trepou com a melhor amiga
dela? — pergunto. Os rumores são divertidos quando não são sobre você.
Um músculo em sua mandíbula treme.
— Isso foi um erro.
— Você cometeu um monte deles, não é? — pergunto.
— Sou humano — diz ele.
Ele é um ser humano sem moral ou consciência. No entanto, não posso
dizer que April não teve o que mereceu.
— Se você for ao casamento, eu apreciaria que você não mencionasse
essa coisa com a melhor amiga dela. — Ele desvia o olhar. Aponto para o
corredor, e ele vai nessa direção.
Não digo mais nada. Ele acena ao passar pela porta, e eu a bato atrás
dele. Minha força é tanta que as paredes vibram. Paul sai de seu quarto.
Pego outra cerveja da geladeira e repito a forma de abrir, murmurando
“Cesta” em um sussurro veemente quando a tampinha cai dentro do lixo.
— Você está bem? — pergunta Paul.
— Tudo bem.
— Tem certeza?
— Sim.
— Você não parece bem.
— Foda-se.
Paul solta um suspiro.
— Quanto você ouviu? — pergunto.
Ele estremece.
— Tudo?
Sento-me no sofá sem dizer qualquer coisa que está em minha cabeça.
Verdade seja dita, eu estaria enlouquecido se Paul não estivesse aqui.
— Não posso acreditar que eles querem que você vá ao casamento. —
Ele bufa.
— Por que você disse a ele que estou saindo com alguém?
Paul sorri.
— Pareceu apropriado no momento. O bastardo estava sendo todo
presunçoso me dizendo como sua vida é maravilhosa.
— Então você criou uma vida impressionante para mim.
Paul dá de ombros.
— Não me pareceu ruim.
Essa porra dói. Minha vida pode ser solitária, mas é minha. É tudo o que
tenho e, quando você chega perto da morte como eu cheguei, você passa a
apreciar cada aspecto dela.
— Você vai ao casamento? — pergunta Paul.
Dou de ombros.
— Não sei. — Brinco com a espuma da almofada, envolvendo-a em
meus dedos.
— Talvez seja bom fazer um encerramento — diz ele.
— Já está encerrado.
— Não está.
Eu me inclino para ele.
— Você quer falar sobre encerramento, Paul? Então vamos falar sobre
você e Kelly. Vamos falar sobre o fato de que você ainda está transando
com a mãe da sua filha, mesmo que vocês dois estejam saindo com outras
pessoas.
Paul pressiona os lábios. Em seguida, ele se levanta e vai para o quarto,
fechando a porta suavemente atrás dele. Ele não me dá um soco, que é o
que eu mereço. Ele simplesmente vai embora. Acho que bati muito perto da
ferida.
Meu coração dói pelo que fiz a ele. Mas era a única maneira de fazê-lo
parar.
Encerramento. Foda-se o encerramento. Essa ferida ainda está aberta,
inflamada, dolorosa e crua. E é tão irritante que não sei o que fazer com ela.
Isso nunca vai melhorar? Não vejo como.
SKYLAR

E u tinha acabado de fechar meus olhos quando o telefone vibra no meu


bolso. Não falei mais com Phillip desde o funeral. Ele simplesmente foi
embora. Mas esse é bem o jeito dele. Em um minuto está lá, no outro,
desaparece por um bom tempo. Pego o aparelho e vejo seu rosto
sorridente. Preciso mesmo atender? Suspiro e atendo.
— Olá?
— Skylar, oi — ele fala. Quase posso ver seu sorriso cheio de dentes na
minha cabeça e isso me faz estremecer. Não deveria ser assim, deveria?
— Que bom que você, finalmente ligou — falo.
Posso ouvir o clique de seus sapatos contra o piso.
— Desculpe-me por isso. Tive que voltar ao trabalho. Estou deixando o
prédio agora. — Ouço a batida de uma porta e posso imaginá-lo entrando
em seu Mercedes.
— Trabalhando até tarde? — pergunto.
— Sim — ele diz baixinho. Ele fica em silêncio por um momento e isso
cai sobre as ondas celulares.
— Então, no que está trabalhando?
— Um grande caso — ele responde.
— Oh, me conte a respeito.
— Você sabe que não posso.
— Nós dois trabalhamos para a mesma empresa, Phillip! Pelo amor de
Deus.
— Sobre isso — ele começa.
Sento-me. Phillip é sócio-gerente do escritório. Ele tem o meu futuro em
suas mãos.
— Tivemos uma reunião do conselho hoje para discutir sua situação.
— Oh, sério. — Tento não bufar no final de meu comentário, e quase
tenho sucesso, mas sinto como se alguém tivesse tirado o ar de mim.
— Decidimos que você precisa tirar uma licença para resolver suas
coisas.
Sento-me e cruzo as pernas.
— Não acho que essa decisão seja sua.
— Acho que é o melhor para você, Sky — diz ele em voz baixa. — Você
precisa se instalar com as crianças, contratar uma babá, decidir onde vai
morar...
— Bem, vamos morar em meu apartamento. Estamos aqui apenas
temporariamente, enquanto as crianças se ajustam.
Há silêncio na linha.
— Por que você não diz o que quer dizer, Phillip?
— Nunca assinei contrato para ser pai, Sky.
— Não assinei um para ser mãe — eu o lembro.
— No entanto, você aceitou a ideia maluca do seu pai.
— Não é uma ideia maluca. As crianças não têm mais ninguém. —
Afasto o telefone e olho para baixo por um momento. — Você está
terminando comigo? Por causa disso?
— Estou dando-lhe tempo para descobrir as coisas — diz ele.
— Não preciso de tempo para descobrir as coisas.
Ele faz uma pausa.
— Eu ia te dizer hoje, mas você estava ocupada com a sua mãe.
— Você ia me contar no funeral? — pergunto. — É por isso que você
estava lá? — Deveria ter imaginado que não era porque ele se preocupava
comigo ou minha família.
— O que você vai fazer, Sky? — ele finalmente pergunta. — Você
realmente vai ficar com essas crianças? Crianças que não se parecem em
nada com a gente? Vai desfilar com elas em público? Levá-las para Cape em
férias? Vai ser a mãe deles? Por que você não contrata uma babá, pelo amor
de Cristo? Seu pai tem dinheiro suficiente.
Levanto-me e começo a andar de um lado para o outro.
— Não posso acreditar nesta merda — falo. — Nunca vi você falar de
alguém de forma preconceituosa. Quando você se tornou esse cara?
— Sou o mesmo cara que sempre fui! — ele grita comigo. — Foi você
que mudou. Quero alguém que possa trabalhar ao meu lado, jogar no meu
time e apenas estar comigo. Não quero crianças entre nós, especialmente,
se elas não são nossas.
O silêncio cai novamente. Paro na frente do armário para olhar para o
espelho. Há uma estranha sensação de paz no meu rosto.
— De qualquer maneira, não é como se tivéssemos relações sexuais.
Não conseguimos encontrar tempo. — Ele soa como um garoto de quatro
anos.
Faz um tempo.
— Não temos ficado juntos — diz ele.
— Não estamos falando de proximidade — cuspo de volta.
— Será que você, pelo menos, consideraria uma babá? — ele pergunta.
Eu nem sequer preciso pensar sobre isso. Fui criada por um desfile
constante de babás e não vou fazer isso a essas crianças. Não tenho uma
única pessoa na minha vida que possa sentar-se comigo e contar-me
histórias sobre minha infância, porque ninguém estava presente.
— Não — resmungo.
— Por que não? Isso não é nem sua responsabilidade! — ele grita.
— Posso não ser a mãe, mas sou tia. Sou a tia Sky e sou tudo o que eles
têm. Eles não têm qualquer outra pessoa, e sei como é isso. Não vou deixá-
los sozinhos. Estarei aqui para eles sempre que precisarem de mim. Pelo
resto da minha vida.
Para dizer a verdade, eu estava bastante assustada sobre a minha
situação, pois não conseguia saber onde estava pisando, mas agora eu sei.
Está bem sólido embaixo de mim.
— Vou ensinar Seth a dirigir, levarei Mellie para as aulas de dança, e
Joey vai fazer ginástica. — Ok, eu soo como uma lunática agora. — Eles
podem fazer ou ser o que quiserem. Porque não estarão sozinhos. —
Aponto o dedo para o ar. — Jamais ficarão sozinhos enquanto eu estiver
aqui. Entendeu? Jamais.
Minha voz está falhando e mal consigo controlar a respiração, mas
preciso que ele saiba como me sinto sobre isso. Às vezes, abro a porta do
quarto das meninas só para vê-las respirarem enquanto dormem. É o único
momento que consigo chegar perto delas.
— Não contei os dedos das mãos e pés quando eles nasceram, mas
posso contá-los todos os dias quando eles voltam para casa da escola. Posso
ser a tia Sky e, um dia, quando eu ganhar a confiança deles e for sortuda o
suficiente para que me amem, talvez eles queiram ser a minha família.
Quero uma família. Eu quero essas crianças.
— Sky, pense sobre o que você está fazendo — diz ele. — Você está
emotiva. Precisa se sentar e pensar sobre isso. Não faça algo de que você vá
se arrepender. Faça uma lista de prós e contras se precisar.
— Pro: Eles são incríveis — Começo a marcar itens em meus dedos,
mesmo que ele não possa me ver. — Pro: se eles me deixarem amá-los,
serei a mulher mais feliz na face da terra. Além disso, não estou emotiva.
Estou perfeitamente racional.
Ele zomba.
— Você não parece racional.
Ergo outro dedo.
— Pro: você já me largou, então, agora posso te dizer que você é
realmente ruim na cama, Phillip. Ruim. Você é egoísta. Se eu nunca mais
tiver que ver seu pênis novamente, serei uma mulher feliz. Muito feliz.
Exultante, na verdade.
— Não sou ruim de cama...
— Você é egoísta. E quase não chego ao orgasmo, Phillip. Você sabe
disso.
— Não sei — ele murmura.
— Sabe, sim. — Sorrio para mim mesma no espelho. Minha lista de prós
supera meus contras. — Vejo orgasmos em meu futuro sem você, Phillip.
Muitos orgasmos.
Ele assobia para mim.
— Contra: pelo resto de sua vida, sempre que você sair com essas
crianças em público, as pessoas vão te olhar de um jeito engraçado. Eles
nunca vão ver quem você é. Verão que essas crianças são pobres órfãos que
você adotou. Ou, ainda pior, vão assumir que você é a mãe deles.
— Não tenho problema com isso. Não me incomoda que sejam mestiços.
Amo a cor da pele deles, os olhos e os cabelos. — Mas preciso aprender a
fazer chuquinha no cabelo das meninas. A textura do cabelo delas é muito
diferente do meu. — Amo isso, porque os amo.
— Você os conheceu na semana passada! — ele grita.
— Mas sinto que meu coração os conhece desde sempre. — O som da
risada de Mellie me faz amolecer. O olhar de pura rendição no rosto de Seth
enquanto ele cuida das meninas me faz derreter. E Joey, quando fica toda
suja enquanto come, acho adorável. — Eu amo essas crianças. E vou lutar
até o meu último suspiro para cuidar delas. Então, nunca mais diga que eles
não são bons o suficiente para mim. Na verdade, acho que é o contrário. Eu
não sou boa o suficiente para eles. — Finalmente, uma lágrima cai. Tenho
muito a aprender, mas posso fazê-lo. — Mas eu serei.
— Se sua decisão está tomada — ele resmunga.
— Inequivocamente — atiro de volta.
Ele desliga. Só então desmorono. Apoio as palmas das mãos sobre a
cômoda e coloco meu peso sobre elas, mordendo o lábio inferior quando
um soluço sai.
— Tia Sky — ouço da porta.
Olho para cima e passo meus dedos debaixo dos olhos.
— Seth — eu digo. Deus, espero que ele não tenha ouvido nada disso.
— Você está bem? — ele pergunta baixinho e entra no quarto. Afasto o
olhar, porque ainda quero chorar.
Seth me alcança e envolve seu braço ao meu redor, me puxando contra
ele. Me mantém estranhamente presa, mas é bom. Ele me segura perto.
Observo que ele já é alguns centímetros mais alto que eu. Forço-me a não
soluçar.
— O que você ouviu? — pergunto baixinho.
— Não ouvi nada sobre orgasmos — diz ele com um sorriso, colocando
a mão sobre a boca.
Solto uma risada.
— Bem, isso é bom.
— E não ouvi nada sobre Phillip ser péssimo de cama. — Ele estremece.
— Ainda melhor. — Olho para ele. — Sinto muito por você ter ouvido
tudo isso.
— Não sinta — diz ele, de repente, se parecendo com um jovem adulto.
— Estou contente por ter escutado.
— Bem, eu não estou. Vou tentar ser mais silenciosa da próxima vez.
Ele se senta na beirada da minha cama.
— Ando muito preocupado — ele admite.
Sento-me ao lado dele.
— Eu também.
— Mas acho que, já que não temos mais uma mãe e você não tem
família, podemos fazer isso dar certo. — Ele não olha para mim, e sinto um
pouco de tremor em sua voz.
— Acho que podemos, sim.
Ele coloca o braço em volta dos meus ombros.
— Tenho uma pergunta para você.
Presumo que ele queira o meu currículo, que é totalmente inadequado,
especialmente, uma vez que Phillip acha que me colocou de licença.
— O quê? — pergunto.
— Você realmente quer me ensinar a dirigir? — Ele sorri para mim.
Eu rio. É bom rir com Seth.
— Sim, quero, sim. — Empurro seu ombro com o meu. — Foi o zelador
que me ensinou.
— Isso é triste — diz ele, estreitando os olhos.
— Sim. — Eu aceno. — Também acho.
M AT T

A cordei na manhã seguinte sabendo que precisava pedir desculpas a


Paul. Saí da linha na noite passada e não posso deixar isso para lá. Espero
ele acordar. Geralmente, ele vai para o estúdio de tatuagem antes de mim,
mas a porta do seu quarto ainda está fechada. Este fim de semana, ele não
vai ficar com Hayley, sua filha de cinco ano. Ela está com Kelly, sua mãe.
Então, quando não precisa ficar com ela, ele dorme até mais tarde. Ela se
levanta muito cedo e, embora seja adorável vê-la de pijama, um homem
precisa dormir um pouco às vezes. Trabalhamos até muito tarde na loja,
por isso, nem sempre dormimos oito horas.
Parece que Paul está recuperando o tempo perdido.
Logan mora com Emily; Pete, com Reagan e Sam voltou, de ônibus, para
a faculdade ontem à noite. Dessa forma, agora somos apenas Paul e eu no
apartamento, que parece tranquilo. Tranquilo demais, às vezes. Estou
acostumado com o barulho da TV porque Logan não sabe quando o volume
muito alto, já que é surdo; Sam e Pete, os gêmeos, costumam se embolar no
sofá. Agora somo só nós, dois caras velhos, e muito silêncio. Acho que não
gosto muito disso.
Ouço sua porta se abrir e, em seguida, o som dele indo ao banheiro. Não
nos incomodamos em fechar a porta quando não há garotas por aqui. Logo
em seguida, ele entra na cozinha, o cabelo loiro bagunçado para todos os
lados. Ele coça a barriga, a calça de flanela do pijama mostrando a tatuagem
com o nome de Kelly. Estou bem familiarizado com ela, já que fui eu quem
fez. E é uma puta tatuagem linda, se me permite dizer. Mas não tenho nome
de mulheres em meu corpo e tenho certeza de que jamais terei.
— Dia — Paul murmura, servindo-se de uma xícara de café.
— Bom dia — respondo. Abro o jornal e olho para ele, mas não consigo
ver as palavras na página. Posso sentir a vontade de Paul de jogar sua tigela
de cereal com mel em minha cabeça. Inferno, eu mereço.
— Desculpe-me por ontem à noite — murmuro.
Ele não desvia o olhar de seu cereal.
— Não se preocupe com isso.
— Agi como um idiota.
— Eu deveria ter mantido minha boca fechada.
— Eu deveria ter concordado com você. Você estava certo. Não está
terminado.
Ele fala com a boca cheia de comida.
— Se estivesse terminado, você não teria agido como se fosse dar um
soco no saco do babaca. O que será que ela vê nele? — ele pergunta.
— Ele não estava morrendo? — É o que acho.
Finalmente, ele olha para mim.
— Isso não é desculpa.
Não, não há nenhuma desculpa para isso.
— E você estava certo sobre Kelly e eu. — Ele continua comendo sem
olhar para mim.
— Não quero estar certo sobre isso.
— Que pena. Não sabia que vocês sabiam que nós ficamos juntos.
Balanço minha cabeça.
— Ninguém sabe, só eu.
— Espero que não sejamos óbvios demais. — Ele estremece.
— Não, vi vocês dois juntos quando Logan estava no hospital. O jeito
que ela olha para você... — Vejo seu rosto. — E a maneira como você olha
para ela.
Ele finalmente levanta o olhar.
— Nós apenas vamos para a cama de vez em quando. — Dá de ombros.
Ele parece realmente desconfortável e não é assim que costumo ver Paul.
— Isso é fácil. E confortável.
Não sei como é isso. Rio baixinho.
— O quê? — ele pergunta.
— Você fala sobre sexo com Kelly como se estivesse enfiando seu pé em
um sapato velho.
Ele suspira.
— Mas, assim como um sapato velho, ex-namoradas podem ser
confortáveis, mas não conseguem apoiá-lo do jeito que você precisa.
— Ding, ding, ding — ele grita, como se estivesse tocando um sino no ar.
— Hã? — Não tenho nenhuma ideia do que ele está falando.
— Eu já te contei o motivo de nos separarmos?
Ele nunca disse, mas faço ideia. Balanço a cabeça, de qualquer maneira.
— Ela não queria vocês.
— O quê? — Essa era a última coisa que eu esperava.
— Ela estava grávida de Hayley, e eu tinha quase vinte e um. Mamãe e
papai tinham partido, e ela não queria vocês. Eu queria me casar com ela.
Mas ela não queria a minha família.
— Ela fez você escolher?
Ele se levantou e bateu a tigela na pia um pouco forte demais.
— Não havia uma maldita escolha. Vocês eram a minha vida, e eu era
tudo o que vocês tinham. Simples assim.
Paul assumiu nossa paternidade da mesma forma como algumas
pessoas arrumam um trabalho depois da escola. Ele deu tudo o que tinha.
Temos apenas um ano de diferença, mas eu nunca poderia ter feito o que
ele fez. Ele desistiu de tudo — até mesmo da sua própria felicidade — por
nós. Deus. Agora me sinto horrível. Nós arruinamos sua vida.
— Eu não poderia ter tocado as coisas sem você — diz ele. — Quando
eu me sentia fraco, você era forte. E quando eu me sentia forte, você era
fraco. — Ele está certo. Nós nos complementamos.
— Você deu seu tempo com Hayley para nós. — Agora estou chateado.
— Sou o pai dela e sempre serei. Tenho-a pela metade do tempo e isso
funciona bem para nós dois.
Funciona. Realmente funciona.
— E agora, que todo mundo saiu de casa?
— O que tem isso?
— Agora que todo mundo está crescido, por que você não cuida de si
mesmo? Tenha sua própria vida. Você e Kelly continuam saindo. Por que
não tornar isso permanente?
Ele balança a cabeça.
— Eu não a amo.
— Mas...
— Gosto dela. Somos amigos. Mas é isso. — Ele dá de ombros. — E ela
está saindo com alguém. Está ficando muito sério.
— Quando foi a última vez que vocês...?
Ele sorri.
— Ontem.
Reviro os olhos.
— Então não pode ser muito sério com esse outro cara.
— Só o fato de que há um outro cara significa que não é sério comigo. —
Ele solta um suspiro. — E eu não a amo. Isso é uma coisa que tenho certeza.
Porque só o fato de pensar na mulher que amo dormindo com outro
homem deveria rasgar-me por dentro, mas isso não acontece. Há algo de
errado com isso.
— Ok. — Não sei mais o que dizer a ele.
— Então, com relação a April — ele fala.
— Não quero falar sobre ela.
Ele olha para mim.
— Que pena.
Paul é assim.
— O que você sugere?
— Ela está se casando, cara. É hora de encerrar com ela.
Balanço minhas mãos.
— Estou tentando.
— Você deve ir ao casamento. Tire tudo isso fora de seu sistema. Leve
uma garota sexy com você.
— Onde vou arrumar uma dessas?
Ele olha para mim como se eu tivesse ficado louco.
— Cara, você pode encontrar uma gostosa em qualquer lugar.
Talvez, eu esteja procurando nos lugares errados.
SKYLAR

P asso a segunda-feira inteira resolvendo questões referentes ao meu


emprego. Tive uma reunião com meu supervisor imediato, que fez o
máximo para assegurar-me que meu emprego não estava em perigo, que
minha situação foi discutida durante a reunião apenas como uma forma da
diretoria descobrir se poderiam fazer algo mais para me apoiar. Phillip é
um babaca. E o pior é que quase acreditei nele.
Estou feliz por esta situação ter me obrigado a cortar os laços com ele,
especialmente quando me aproximo do bebedouro e o vejo próximo a uma
novata. Ela parece um pouco assustada ao me ver e, rapidamente, caminha
para o outro lado.
Phillip começa a caminhar em minha direção, mas eu aceno para ele.
— Nem pense nisso — aviso e continuo andando.
Ele me segue por todo o caminho até o meu carro sem dizer uma
palavra. Ele não fala enquanto me observa colocar, atrapalhada, uma caixa
de papéis no carro. Ele não se oferece para me ajudar. Nem uma vez. Matt
ficaria parado enquanto me observava lutar com uma caixa? Algo me diz
que não. Eu realmente não deveria comparar ninguém a Matt, já que eu não
o conheço bem.
— Você não vai mudar de ideia, não é? — Phillip pergunta, cruzando os
braços sobre o peito.
— Mudar de ideia sobre o quê? — pergunto, soprando o cabelo do meu
rosto.
— Essas crianças — ele resmunga. — Vai ficar com elas.
Eu rio.
— Na verdade, eles pe que vão ficar comigo — respondo.
— Nunca imaginei que você fosse burra.
Solto um gemido baixo. Seu rosto fica vermelho.
— A única burrice que fiz na vida foi sair com você. Babaca — falo
baixinho, entrando no caro. Dou a partida e saio, enquanto ele fica lá me
olhando. Minha vontade é de colocar a mão para fora e acenar com o dedo
do meio. Mas sou mãe agora. Mães não fazem espetáculos públicos, não é?
Provavelmente, não. Resolvo fazê-lo em minha cabeça. Ele deve ter
pensado o mesmo, pois parece irritado.
Ligo o rádio em volume alto e dirijo pela cidade. Deveria me sentir mal
por nossa separação, mas não tenho o coração pesado. De modo algum. Na
verdade, sinto-me livre. Preciso que admitir que sinto um pouco de
esperança. Tenho a sensação de que Matthew Reed tem algo a ver com isso.
Deus! Acabei de terminar com alguém por quem achei que estava
apaixonada. Não deveria ter sentimentos por Matt. É muito cedo. Além
disso, tenho muita coisa acontecendo em minha vida para adicionar um
novo namorado a ela. Que homem, em seu juízo perfeito, iria querer a mim
e meus três filhos? Bufo com esse pensamento enquanto paro para pegar as
meninas. Uma outra mãe torce o nariz para mim e se afasta com seu filho
rapidamente. Acho que mães também não devem bufar.
Seth disse a Joey e Mellie que eu iria buscá-las na escola hoje, mas não
estou completamente certa de que elas sabem o que está acontecendo
quando paro na porta. Joey se esconde atrás da saia da sua professora e
Mellie coloca seu polegar na boca. Abaixo-me e falo:
— Oi, meninas. — Meu tom é suave. Uma voz suave não irá assustá-las,
não é? Droga. Sou péssima com essa coisa de mãe.
— Sra. Morgan? — a professora pergunta. Liguei para ela semana
passada e conversamos ao telefone sobre nossa situação. Ela foi muito
agradável e bastante compreensiva.
Estendo minha mão.
— Senhorita — corrijo-a. Definitivamente não sou casada e parece que
jamais serei.
Ela aperta minha mão e chega para o lado para que Joey saia de trás
dela. As meninas ainda estão no pré e a aula termina sempre no parquinho.
Elas, aparentemente, estão coladas uma à outra como cola. Será que isso é
normal? Eu não saberia o que é normal, a não ser que a normalidade
mordesse minha bunda.
— Srta. Morgan, gostaria de fazer uma sugestão... — A professora faz
uma careta.
Olho para ela. Joey e Mellie ainda não estão vindo em minha direção.
Moramos na mesma casa e, ainda assim, elas não criaram laços comigo.
Joey puxa a saia da professora e pergunta baixinho:
— Mamãe vem me pegar?
Sinto a dor me atravessar. Não sei como explicar a morte para elas. Seth
também não, aparentemente.
A professora se abaixa e fala:
— Conversamos sobre isso, não foi, Josephine?
Caramba, eu nem sabia que o verdadeiro nome de Joey é Josephine. Que
tipo de mãe eu sou?
Joey apenas pisca para ela.
— Mamãe se foi e não vai voltar — diz a professora.
Os olhos de Joey se enchem de lágrimas e passo pela professora para
pegá-la. Ela vem até mim, pesada e mole como um pano de prato úmido
quando a levanto. Ela deita a cabeça em meu ombro e se aconchega.
— Agradeceria se você não falasse assim da mãe delas — resmungo.
Tenho certeza de que a professora tem boas intenções. Mas, Deus, ela foi
meio fria, na minha opinião.
— Elas precisam entender que ela se foi — diz a professora.
Levanto um dedo.
— Shh — assobio em uma advertência nítida. A professora franze os
lábios.
— Mamãe não nos deixaria — diz Mellie. Ela dá um passo à frente e
pega a minha mão, os dedos molhados por estarem na boca, mas não me
importo. Ela está me tocando por vontade própria. Somos eu e as meninas
contra o mundo.
— É isso mesmo — digo a ela. — Mamãe nunca iria deixá-las de
propósito.
— Não lhes dê esperança de que ela vai voltar — adverte a professora.
— Shh — eu corto novamente.
Ela para de falar.
— Mamãe não pode voltar — explico. — Ela não queria ir, mas não teve
escolha.
— Mamãe vai voltar — Mellie diz, calmamente.
— Mamãe ama muito vocês — eu lhes digo.
— As meninas precisam de roupas novas — a professora interrompe.
Eu me viro para encará-la.
— O quê?
— Seth vinha cuidando delas há algum tempo, então, eu não disse nada,
mas suas roupas estão ficando muito pequenas. Os sapatos de Mellie estão
muito apertados, e as calças de Joey estão cerca de cinco centímetros mais
curtas. As crianças crescem, Srta. Morgan. Muito.
Mordo minha língua, porque não consigo pensar em nada de bom para
dizer, e sou advogada há um bom tempo para saber que nenhuma resposta
será adequada, tendo em vista o que está em minha cabeça. Porque estou
pensando que gostaria que ela fizesse uma longa caminhada em um
pequeno píer sobre o mar gelado.
Quando me transformei em um bárbaro?
— Obrigada por me avisar. Vou cuidar disso — respondo, mantendo a
calma. Elas têm que voltar para cá amanhã.
Olho para as meninas.
— Quem quer ir às compras? — pergunto.
Mellie me olha e sorri.
— Eu — ela fala.
Ouço um sussurro no lado direito do meu ouvido.
— Eu.
M AT T

Statuagem
ão quase sete da noite quando meu telefone toca. Estou finalizando a
de um cliente no Reed’s, então, não posso atender. Friday se
aproxima e faz um movimento com a mão em direção ao meu bolso.
— Quer que eu atenda? — ela pergunta.
Levanto a pistola de tinta e fico de pé para que ela possa pegar o
aparelho em meu bolso.
— Por favor — eu digo.
— É melhor eu ter cuidado ou Paul vai ficar roxo de ciúmes — ela
brinca enquanto pega o aparelho em meu bolso.
Paul faz um barulho. Ele está tentando conquistá-la há mais tempo do
que posso me lembrar.
— Acho que ele está é verde de inveja — digo em voz alta.
— Se o verde é o novo roxo — ela brinca e pega meu telefone,
colocando-o no ouvido. Nós não tivemos telefone por muito tempo, porque
simplesmente não podíamos pagar. Mas, no último Natal, o pai de Emily
comprou um aparelho para cada um de nós, já que ele tem mais dinheiro
que Deus e nada melhor para fazer com ele. Ele disse que era muito difícil
ter notícias nossas sem eles, mas acho que foi Emily que pediu para que
pudesse tomar conta de nós.
— Telefone do Matt — ela fala. — Oi, Seth — ela responde e franze o
rosto. — Sim, ele está aqui. Espere. — Ela pressiona o botão viva voz.
— Oi, Seth.
— Matt? — Seth parece um pouco sem fôlego.
— O que houve? — pergunto. Abaixo a máquina de tatuar e começo a
retirar as luvas.
— Você falou com a tia Sky hoje? — ele pergunta.
— Não — eu respondo. Os pelos em minha nuca ficam imediatamente
de pé. — Por quê?
— Hoje ela foi buscar as meninas pela primeira vez, mas cheguei em
casa e não tem ninguém aqui. E está ficando tarde...
— Não falei com ela — eu digo. — Quer que eu vá até aí? — Já estou
seguindo para a porta da frente e Pete está assumindo com meu cliente.
— Ligue se precisar de nós — Paul fala. Como se ele tivesse que me
lembrar. Aceno, olhando para ele por cima do ombro e ele concorda.
— Ligou para o telefone dela? — pergunto.
— Sim, mas vai diretamente para a caixa postal. E as mensagens de
texto que mandei são entregues, mas não lidas.
— A bateria deve ter acabado, Seth — falo. Não estou preocupado. Bem,
talvez um pouco.
— Ela deveria ter me ligado para dizer onde está — ele murmura, e
posso imaginá-lo puxando seus cabelos em frustração.
—Provavelmente, ela achou que você não estraria em casa — eu digo.
— Estou indo aí para lhe fazer companhia. O que acha de uma pizza? —
Adolescentes sempre gostam de comer pizza.

PARO RAPIDAMENTE NO Rico’s para pegar duas pizzas e levá-las comigo. Quando
chego ao apartamento, vejo Sky tirando as meninas de dentro do carro, em
frente ao prédio. Ela tem várias sacolas de compras nas mãos.
— Precisa de ajuda? — pergunto.
Ela olha para cima e tira o cabelo do rosto com um assopro.
— Matt — ela fala, mas um pequeno sorriso no canto dos seus lábios
aparece, e é o suficiente para tirar meu fôlego. Ela tem namorado, idiota.
Não tenha ideias. — O que está fazendo aqui?
Sorrio.
— Seth me ligou em pânico quando viu que você não estava em casa —
admito.
Seu rosto demonstra espanto.
— Oh — diz ela, franzindo a testa. — Por que ele se sentiria assim?
Dou de ombros.
— Ele estava preocupado.
Ela bate a porta do carro, mesmo que ainda tenha mais pacotes lá.
Olho pela janela.
— Deixe-me ajudar com isso.
Ela balança a cabeça.
— Pego mais tarde — diz ela. — Depois que eu acalmar Seth. — Ela olha
com tristeza para mim e levanta as sacolas. — Fomos às compras.
— Estou vendo — eu digo.
Vou até Mellie e me agacho. Ela sobe nas minhas costas e prende-se
firmemente. Eu me levanto e balanço com ela do jeito que faria com minha
sobrinha e ela grita e ri. Ainda estou com as pizzas em uma mão, então,
coloco-as em cima do carro.
— Também quero — Joey pede, agarrada à minha perna.
Pego Joey e balanço-as em círculos.
Sky ri.
— Acho que elas gostam de você — diz ela calmamente. Há um olhar de
desejo em seu rosto.
Sou disputado pelas duas.
— Sim, elas gostam de mim. — As duas meninas gritam quando eu giro
com elas novamente. — Afinal — eu brinco —, o que há para não gostar? —
Arqueio minha sobrancelha para ela, brincando como se elas fossem uma
mulher por quem eu estivesse interessado. Mas não havia ninguém há
muito tempo.
Seu rosto cora e ela fica linda. Mas não diz nada. Seus olhos viajam pelo
meu corpo, da cabeça aos pés, permanecendo em alguns lugares mais do
que em outros. É interesse o que vejo em seus olhos? Ela lambe os lábios e
olha para longe.
— Cuidado — advirto calmamente.
Ela balança a cabeça como se quisesse que eu me calasse. Então eu faço-
me calo. Por enquanto.
Sigo-a para dentro do prédio com as meninas ainda agarradas a mim.
Estou segurando-as, além das pizzas, e elas gritam animadas enquanto
entramos no apartamento.
— Olha o que encontrei — digo em voz alta quando entramos na
cozinha. Seth redores vira, o rosto sério e ele começa a abrir a boca. Posso
apenas imaginar o que está prestes a sair, então, o corto. — Sua tia Sky foi
legal e levou as meninas para fazer compras esta tarde — falo. Encontro
seus olhos e dou-lhe um aviso sutil para manter a boca fechada.
Ele me olha e inclina-se para dizer a Sky:
— Você poderia ter me ligado para que eu não me preocupasse.
— Achei que você não estaria em casa ainda. — Ela olha para o relógio.
— Não queria preocupá-lo, Seth — diz. Ela está sendo sincera. E sabe que o
preocupou desnecessariamente. — Sinto muito por isso — diz ela
calmamente.
Dou uma olhada em Seth, e ele solta um suspiro. Ele caminha até ela e
envolve-a em um abraço estranho, como eu o vi dar em sua mãe uma
centena de vezes. Ele a levanta um pouco do chão.
— Fiquei preocupado com você também — ele explica.
Ela sorri e é lindo.
— Obrigada — diz ela. — Minha bateria acabou. Vou me certificar de
deixar um carregador no carro a partir de agora. Não estou acostumada a
avisar onde estou a ninguém. — Ela começa a colocar as sacolas no chão. —
Levei as meninas para comprar roupas — diz ela. Ela olha para Seth. —
Espero que esteja tudo bem.
Ele parece um pouco envergonhado.
— A professora delas ficou falando sobre isso por uma semana.
— Meninas — ela chama. — Venham mostrar a Seth o que vocês
compraram enquanto vou descarregar o resto.
Seth olha para mim e, em seguida, para baixo, para os muitos
embrulhos que estão espalhados por todo o lugar.
— Tem mais? — pergunta ele.
Sorrio e passo a mão pelo rosto. Vi tudo o que estava na parte traseira
de seu carro.
— Muito mais — eu digo. Sky caminha em direção à porta, e eu balanço
o polegar na direção dela. — Vou ajudar sua tia.
Ele sorri para mim.
— Ajudar? É assim que eles estão chamando isso agora?
Sky já saiu e eu realmente quero ajudá-la.
— Ela tem namorado — eu digo.
Ele balança a cabeça.
— Não mais. Ele terminou com ela ontem. Não foi bonito.
Então ela não tem mais namorado? Meu coração salta. Cacete.
— Ela chorou muito?
Ele balança a cabeça.
— Mas houve uma discussão estranha sobre orgasmos, sexo ruim e ele
ser egoísta na cama. — Ele estremece. — Muito mais do que eu queria
ouvir.
— Muito mais do que você deveria estar repetindo também — advirto.
Ele agarra meu ombro.
— Você precisa de toda a ajuda que puder conseguir, cara — diz ele,
dando-me um aperto. Ele sorri.
Faço uma careta para ele, sem que Joey e Mellie vejam e sigo Sky. Ela
ainda está esperando o elevador, então, corro até ela e paro, um pouco sem
fôlego. Não tenho certeza se minha falta de ar é porque estou aliviado por
ela não estar mais namorando ou pela corrida, mas minha aposta é na
primeira opção. E estou bem com isso.
SKYLAR

J esus, como ele é lindo! Matt está usando uma camiseta cinza e calça
jeans, e seu cabelo está preso com um elástico. Ele é tão alto que tenho
que erguer a cabeça para olhá-lo. Ele sorri para mim; está respirando com
um pouco de dificuldade e, tenho que admitir, eu também estou.
— Como foi seu dia? — ele pergunta. O elevador abre e nós entramos.
Ele encosta o quadril na caixa de metal e cruza os braços na frente do peito.
Corri do apartamento porque me senti emocionada. É lamentável que
uma criança possa me fazer perder o prumo só por ser bom para mim. Mas
quando Seth me abraçou e disse que ficou preocupado por eu estar
atrasada, percebi que faço parte de uma família e meu coração dobrou de
tamanho. Em seguida, meus olhos se encheram de lágrimas e tive que sair
de lá antes que perdesse o controle.
Abro um sorriso sem graça para Matt. Queria que ele tivesse me dado
alguns minutos sozinha, mas agora é tarde. Vou parecer uma idiota na
frente de um homem bonito.
A quem estou enganando? Ele é sexy demais! E estou prestes a começar
a soluçar. Por que fico chorosa toda vez que esse homem aparece?
— Sky? — ele pergunta baixinho. — O que está errado?
— Nada — murmuro. Limpo minha garganta, porque há um caroço do
tamanho do Texas nela.
Ele caminha em minha direção e toca o meu queixo com os dedos
suaves, inclinando meu rosto para ele.
— Então por que você está chorando?
— Porque sou uma garota — falo baixinho, como se isso fosse desculpa.
— Mentirosa — diz. Ele segura meu rosto com a palma da mão, as
pontas dos dedos acariciando a pele na frente da minha orelha, para frente
e para trás.
— Você vai achar que é besteira — eu digo.
— Tente — ele atira de volta.
— Não. — Fungo e balanço os ombros. — Estou bem, de verdade. Não é
nada.
As portas se abrem no térreo e nós saímos, mas em vez de caminhar em
direção às portas da frente, ele pega a minha mão e me puxa para a escada.
Fecha a porta, senta-se no primeiro degrau e dá um tapinha no local ao seu
lado.
— Faça uma pausa por um segundo.
Cautelosamente, me sento ao lado dele. Ele se aproxima até que seu
quadril toca meu. Afasto-me, mas ele se aproxima ainda mais. Olho para
cima, e não posso deixar de sorrir para ele.
— Você está em meu espaço — eu advirto.
— Gosto de estar em seu espaço. Eu meio que quero ficar no seu espaço
— diz ele com a voz brincalhona e provocante. Mas então, ele dá um
tapinha no ombro. — Deus não me deu ombros largos apenas para segurar
minhas camisetas. — E usa a mão para empurrar minha cabeça em seu
ombro. Ele fica quieto por um momento, mas então, fala: — Deixe-me
segurar um pouco do seu fardo, Sky. Me diga o que hã de errado.
Ele senta-se calmamente e apenas respira. Não diz mais nada. Sento-me
lá e sinto seu cheiro. É viril e limpo. É Matt, e gosto disso. Não quero mais
chorar. Quero subir em seu colo e beijá-lo.
— Oh, Deus — solto um gemido.
— Não. Sou apenas Matt — diz ele com uma risada.
Soco seu ombro de brincadeira. Ele finge cair para o lado, mas
aproxima-se ainda mais.
— É por causa do seu namorado? — ele pergunta em voz baixa.
Balanço a cabeça. Eu tinha quase me esquecido de Phillip.
— Não — começo. Mas não consigo formar uma frase. — Não importa.
Ele se endireita calmamente, e então começa a assobiar. Ele não vai me
deixar ir sem uma explicação.
— É só que eu nunca tive uma família. — Não. Eu disse isso. Agora, ele
pode sentir pena de mim. — Então, quando Seth ficou preocupado, não
apenas com suas irmãs, mas comigo também, fiquei um pouco emocionada.
— Dou de ombros. Parece ainda mais estúpido agora que saiu da minha
boca. — É isso. Sei que é besteira.
Ele não diz nada. Apenas balança a cabeça.
— Só estou tendo um pouco de dificuldade em encontrar o meu lugar
nesta situação. Mas acho que estou conseguindo.
Ele arqueia a sobrancelha.
— Então esse era um choro bom? — ele pergunta.
— Sim, era um choro bom. — Um sorriso surge do canto dos meus
lábios, embora eu ainda esteja balançada.
— Certo — ele fala com um aceno de cabeça. E dá um tapinha no ombro.
— Quer chorar um pouco mais? Eu meio que gosto quando você me toca. —
Ele sorri e abre os braços em convite. — E sou realmente bom em abraços
também.
Mordo o lábio inferior tentando não rir.
— Vou fingir que é uma tarefa árdua se isso fizer você se sentir melhor.
Posso até gemer em voz alta.
Desta vez eu rio. Não consigo segurar. Ele é tão doce.
— Isso é um não? — ele pergunta.
— Geralmente, não sou assim tão emotiva.
Ele dá de ombros.
— Todas as mulheres dizem a mesma coisa. Isso, geralmente, precede
um surto.
— Está me chamando de louca?
Ele balança a cabeça com veemência.
— Definitivamente, não. — Ele sorri. — Posso usar várias palavras para
descrevê-la, mas louca não é uma delas.
Agora estou intrigada.
— Diga.
— Você é incrivelmente linda — ele fala. Seus olhos passeiam pelo meu
corpo.
Sinto minha bochecha esquentar.
— E você é inteligente. Leal. E é corajosa, cuidando de três crianças que
não são suas.
Gosto do fato de que ele me acha inteligente. E leal.
— E você não é minha. — Ele se levanta e estende a mão para segurar a
minha. — Então, acho melhor sairmos da escada antes que eu faça algo
estúpido como beijar você.
Ele me puxa para cima, e passo a mão minha bunda para me limpar,
tentando descobrir o que fazer.
— Você quer me beijar?
— Mais do que qualquer coisa — diz, rapidamente.
Sorrio e olho para longe dele.
— Bom. — Abro a porta da escada e passo.
— O que isso quer dizer? — ele pergunta, me puxando de volta.
— Nada. — Meu coração está muito mais leve do que estava há poucos
minutos. Provavelmente, porque existem cerca de um milhão de borboletas
vibrando ao redor do meu estomago. — Estou feliz por você querer me
beijar, só isso. — Dou de ombros novamente.
— Então eu posso? —pergunta baixinho. Ele está me seguindo para a
rua em direção ao meu carro. Aperto o botão do alarme para que eu possa
abrir a porta. Começo a puxar as sacolas de compras.
— Pode o quê? — pergunto.
Ele sorri.
— Você sabe.
Minha voz sai em um sussurro.
— Você pode ter que soletrar para mim, Matt.
— E-U-Q-U-E-R-O-T-E-B-E-I-J-A-R — ele soletra, rindo.
Rio também.
— Bom — falo novamente. Pego o último pacote. Ele está carregando a
maioria deles, por isso, a minha carga é bastante leve. Passo por ele e fico
na ponta dos pés, beijando-o muito rapidamente na bochecha. — Obrigada
por me ajudar com as sacolas. E pela pizza. E por vir correndo quando Seth
ligou. Espero que ele não tenha arruinado sua noite.
— Você pode deixá-la melhor — ele fala.
Não consigo tirar o sorriso do rosto.
— Você vem? — pergunto.
Ele levanta as sacolas como se não tivesse outra escolha.
— Fuja enquanto pode, Sr. Reed — eu digo, e tento pegar uma sacola
dele.
— Acho que não — ele responde.
Meu estômago dá um nó novamente e, sem conseguir evitar, me
pergunto onde isso vai nos levar.
M AT T

SDeixei-a
uas bochechas estão coradas e ela evita olhar para mim no elevador.
seguir na minha frente pelo corredor, pois ela tem bunda mais
bonita e perfeita que já vi e quero uma desculpa para olhar. Ela está usando
um terninho com saia lápis, saltos e um bonito top.
Ela olha por cima do ombro para mim e morde o lábio inferior, o rosto
parecendo ainda mais otimista. Fico duro imediatamente. Se ela não parar
com isso, vou ter que fazer uma pausa no corredor até que possa entrar.
Respiro fundo e paro de olhar para sua bunda. Em vez disso, olho para as
sacolas de roupas que ela me entregou. Elas estão enfiadas em meus
braços, e tenho caixas de sapatos empilhadas nas mãos.
— Comprou a loja toda? — pergunto quando ela abre a porta.
Ela mostra quatro dedos.
— Fui em quatro lojas. Meninas usam muitas coisas. — Ela encolhe os
ombros e diz: — Comprei algumas coisas para Seth também. Só espero que
sirvam nele. Tive que adivinhar o tamanho.
Ele vai adorar isso. O garoto não teve ninguém para cuidar dele em um
longo tempo. Tenho a sensação de que ela poderia ter comprado um casaco
de pele cor de rosa e ele ficaria orgulhoso só porque foi presente.
— Tenho certeza de que vai dar certo.
Ela abre a porta, e eu começo a me livrar dos pacotes. Uma sacola
pesada, cheia de jeans, deixou marcas em meus pulsos. Viro-o para que ela
veja.
— Veja o que sua viagem de compras fez comigo — falo brincando.
Ela pega a minha mão na sua e vira meu braço, avaliando de perto. Suas
mãos são macias, e as unhas, cuidadas com perfeição. Ela arrasta o dedo
indicador em meu pulso.
— Sinto muito, Matt. Olhe para você: está ferido — Ela ri alto. Sua risada
é tão linda. Não é nada contida. Caramba, adoro isso, especialmente quando
ela inclina a cabeça para trás e, em seguida, começa a rir tanto que até bufa,
mas isso só a faz rir ainda mais alto.
— O que posso fazer para me redimir com você? — ela pergunta.
Levanto o pulso.
— Dar um beijinho para sarar? — sugiro.
Ela segura minha mão e pressiona os lábios em minha pele. Sinto medo
de que eu vá derreter ali mesmo em seu tapete, mas assim que seus lábios
me tocam, é como se ela estivesse soprando uma leve brisa em minha pele.
Solto uma risada e a seguro, puxando-a para mim.
Mas então, uma criança nua sai correndo do banheiro. É Mellie, e eu
cubro meus olhos enquanto ela corre. Seth corre atrás dela, carregando
uma toalha. Ele rosna para a irmã de brincadeira e ela corre se esconder
atrás do sofá. Ela passa por mim e consigo agarrá-la, segurando seu
pequeno corpo nu e molhado longe. Caramba, mas ela está escorregadia. A
garotinha ri e sacode os pés, chutando descontroladamente, e faço o
possível para segurá-la.
— Vem cá, garota — Seth rosna e envolve Mellie em uma toalha. Ela ri
por todo o caminho pelo corredor até que ouço a porta fechar.
Sky coloca a mão no meu peito.
— Está todo molhado — diz ela, balançando a cabeça.
— Tudo bem — falo, afastando sua preocupação. — É só um pouco de
água. — Eu esfrego minhas mãos. Elas ainda estão escorregadias. — E
sabão. — Rio.
— Deixe-me pegar uma toalha — ela fala e vai em direção à cozinha. —
Ainda estou aprendendo onde as coisas estão. — Ela abre várias gavetas
até finalmente encontrar uma toalha de mão e a entrega para mim. — Sinto
muito por ela ter deixado você todo molhado. Isso sem mencionar a corrida
pelada pela casa.
— Você está brincando? — pergunto. Cara, amo essas coisas. Perdi essa
comoção em minha própria casa desde que os meninos mais novos se
foram. — Está bem.
— Eu lhe daria uma camiseta para trocar, mas não tenho nada do seu
tamanho — diz ela, fazendo uma careta. — Desculpe-me.
Faço um movimento para puxar a camiseta sobre a cabeça e seus olhos
vão direto para o meu abdômen, arregalando-os quando vê a tatuagem à
esquerda do umbigo.
— Uau — ela murmura e cobre a boca com a ponta dos dedos.
A tatuagem é um sapo verde. Mas não é qualquer sapo. Meu irmão,
Logan, é um artista incrível e foi quem a desenhou para mim. É um sapo
sobre uma almofada de lírios com flores que flutuam ao seu redor. Em cima
da cabeça do animal, há uma coroa de espinhos. Eu realmente a amo, mas
me sinto cru e exposto agora que ela viu.
— Quer beijar o meu sapo? — pergunto, jogando com a sorte.
Ela lambe os lábios.
— Não faça isso — advirto. Minha voz soa rouca até para mim.
— Isso o quê? — ela sussurra.
Vou em sua direção, olhando muito rapidamente pelo corredor para ver
onde as crianças estão.
— Não lamba os lábios para mim, Sky — eu digo.
Ela faz isso de novo.
— Oops — ela sussurra, mas está sorrindo.
Quero beijá-la, mas preciso saber onde estou pisando.
— Onde está seu namorado? — pergunto. Sei que Seth disse que eles
terminaram, mas quero ouvir isso dela. Não vou tocar em alguém que
namora outra pessoa. Tive desgosto suficiente nessa área para uma vida
inteira
— Que namorado? — ela pergunta.
— Não me dê esperança se não houver nenhuma — falo e sorrio. Mas
estou falando sério. Totalmente sério.
— Nós terminamos.
— Você está devastada? — Quero saber como ela está se sentindo.
— Exultante — diz ela.
Graças a Deus. Um arrepio percorre minha espinha, pois eu estou
seriamente interessado nesta mulher. — Tem certeza de que as coisas
acabaram?
— Absoluta. — Ela balança a cabeça. Seus olhos não deixam os meus.
— Vou fazer você se apaixonar por mim — aviso.
— Você pode tentar — diz ela calmamente.
Inclino-me e beijo sua bochecha, muito rapidamente, pouco antes de
Mellie correr para a sala. Ela derrapa até parar aos meus pés, deslizando
para dentro do cômodo em seu pijama. Ela agarra minhas pernas com um
braço e desliza a palma da mão na mão de Sky, que afasta uma mecha de
cabelo do rosto de Mellie. O olhar, que eu não esperava, é suave em direção
à pequena garota.
— Alguém quer jogar boliche no Wii? — Seth pergunta enquanto
caminha até a cozinha. Ele olha de Sky para mim. — O que eu perdi? — ele
pergunta.
— Trouxe um monte de coisas para você da loja. Por que você não dá
uma olhada? — ela pergunta.
Sua testa franze.
— Trouxe algo para mim? — Ele sorri e corre para vasculhar as bolsas.
Ele é um adolescente, e eu tenho experiência com esses ogros. As
meninas, nem tanto. Quando Sky não está olhando, bato em seu ombro e
falo:
— Mesmo que você não goste, finja que gosta. Não fira os sentimentos
dela.
— Você está brincando? — ele pergunta, levantando uma camiseta. —
Essa é ótima! — Ele pega os sapatos, experimenta e eles cabem. Ela
comprou um Van’s, logo, não poderia dar errado. Ele adorou. — Você não
deveria, tia Sky — ele fala.
Seth levanta e vai até ela, que sorri de orelha a orelha. Ele se aproxima e
a abraça.
— Obrigado — ele fala.
— Tenho que me acostumar a essa coisa de abraço — ela fala.
— Por quê? — ele pergunta, parecendo confuso. Acho que Sky não
costumava receber muito carinho quando criança.
— É só que... não é algo que estou acostumada — diz ela.
O rosto de Seth demonstra espanto.
— Quer que eu pare? — ele pergunta. — Abraçava minha mãe o tempo
todo.
— Se você parar, vou ter que puxar sua orelha, fazer você usar um
chapéu engraçado na escola ou algo assim. Droga, não sei como torturá-lo,
mas vou encontrar algo. — Ela ri, mas posso dizer que está desconfortável.
Ele passa o braço em torno do ombro dela de novo e a aperta. Ela
resmunga e ele ri. — Você é como um rato pequeno — diz ele. — Você
sussurrar quando você está com raiva também?
Ela dá um soco em seu ombro.
— Você vai descobrir se me irritar.
Sky tira os sapatos e anda pela casa de meias. Ela pega uma fatia de
pizza e vai se sentar no sofá. As crianças começam um jogo de boliche no
Wii e a convidam para jogar.
— Nunca fiz isso antes — ela avisa.
— É fácil — diz Seth. Ele faz um gesto para a frente. — Vamos. Vou te
mostrar.
Ela se levanta, sorrindo, e vou para frente da TV diminuir o som. Sky
leva o braço para trás enquanto eu volto para o sofá e, de repente, o
controle voa para fora de sua mão e bate diretamente no meu nariz.
— Ugh!
Sky coloca a mão sobre boca e geme. Mas então, ela corre até a mim
quando vê o sangue escorrendo pelo meu rosto. Entro na cozinha, porque
não quero deixar cair sangue no tapete.
— Ah — murmuro quando vejo que as crianças não nos seguem. Ela me
senta em uma cadeira e coloca uma toalha debaixo do meu nariz. — Isso
dói bra cabete. — Minha voz sai como se meu nariz estivesse entupido, mas
o sangue ainda está pingando, então, aperto o nariz.
— Sinto muito — ela fala, se ajoelhando na minha frente. Ela descansa
os braços em minhas coxas.
Posso sentir o cheiro da pizza que ela comeu e eu realmente, realmente
quero beijá-la, mas tenho sangue por todo o rosto e mãos.
— Sinto muito — diz ela novamente. — Não sabia que ele iria voar da
minha mão desse jeito.
— Você brecisa abarrar ele no bulso — falo.
— Tenho que amarrá-lo no pulso? — ela repete.
— Para impedi-lo de voar.
— Merda — diz ela novamente. — Sinto muitíssimo.
Ela já disse isso.
De repente, ela se levanta e vai pegar uma toalha molhada. Ela limpa
delicadamente minhas mãos e debaixo do meu nariz, que dói pra cacete.
Empurro a cabeça para trás, mas ela continua limpando.
— Acho que o sangramento parou — diz ela. Mas eu a deixo continuar a
me cutucar só porque gosto de tê-la tão perto. — Quer um pouco de gelo?
Sim, mas preciso dele para o meu pau e não para o nariz.
— Bor fabor — eu digo. Seu rosto está a poucos centímetros do meu.
Mas em seguida, ela vai para a geladeira e volta com um pequeno saco de
gelo. Ela, provavelmente, ficaria ofendida se eu o empurrasse em minhas
calças, então, coloco-o contra o nariz. Apoio o queixo com uma mão e
seguro o gelo com a outra.
— Eu realmente não queria bater em você — diz.
Ela parece tão preocupado que tenho medo que comece a chorar. Cara,
vivi com quatro irmãos. Tive mais hemorragias nasais do que posso contar.
— Bou sobrebiber — falo.
Ela se inclina e beija minha bochecha. Quero virar a cabeça e pressionar
meus lábios nos dela, mas não faço.
— Vai be dar um beibinho para sabar?
Ela ri e vira a cabeça, fechando os olhos. Sua risada é tão bonitinha. Ela
estremece.
Levanto minha camisa e limpo a ponta do nariz, uma vez que ela pegou
minha toalha molhada. Quando faço isso, seus olhos vão para o meu sapo, e
ela se inclina e aperta os lábios nele. Ela me olha, os olhos azuis arregalados
enquanto seus lábios ficam ali por um segundo. Então, ela levanta e sorri.
— Pronto. Estão melhores?
Porra nenhuma. Estamos apenas começando.
Seth enfia a cabeça na sala. Ele sorri para mim e balança a cabeça.
— Cara — diz. Ele ri. — Essa é a coisa mais triste que já vi.
Tiro o gelo do nariz.
— Dão ri de bim. Bou chutar seu traseiro no boliche, Seth. — Sigo-o para
a sala, pego um controle e tento fingir que ela não balançou meu mundo.
SKYLAR

E stou tão ligada no jogo que sequer percebo o quanto está tarde até que
Mellie sobe em meu colo e adormece. Sei que ela está dormindo, porque
sinto a baba escorrer pela minha perna. Sento-me com cuidado para não
empurrá-la e puxo-a para os meus braços. Ela emite um murmúrio
sonolento ao lado da minha orelha e se aproxima mais. Respiro fundo e
aproveito, porque esses momentos são raros.
— Certo — diz Matt, agachando-se para desligar o Wii. — Acho que já
jogamos bastante por uma noite. — Ele empurra o ombro de Seth, que o
empurra de volta e eles brincam de brigar no chão. Ele fica sobre Seth e
sorri. — Como foi o treino hoje?
Seth se senta e passa a mão pelos cabelos.
— Tudo bem. Teremos um treino aberto na quarta à noite. — Ele olha
para Matt. — Quer ir assistir?
Matt se deita no chão, agindo como se estivesse sem fôlego depois da
luta, mas acho que ele ficou chocado com a pergunta de Seth. Ele pega a
bola e começa a lança-la no ar, pegando-a de volta.
— A que horas? — ele pergunta.
Seth dá de ombros, como se não se importasse.
— Sete, eu acho — ele fala. — Então, você quer ir?
Matt senta-se e acena com a cabeça.
— Se estiver tudo bem para sua tia — diz ele. Matt pisca para mim
quando Seth não está olhando. Mas ele vê e balança a cabeça.
— Pare de paquerar minha tia, cara — ele fala.
— Não é paquera. É... — Ele para e olha para mim. — Droga, não sei
como chamar isso. — Ele parece um pouco desconfortável. Então, ele lança
a bola no peito de Seth, que cai de costas no chão, segurando a barriga.
Joey anda até ele e se senta na barriga de Seth, saltando e rindo
enquanto ele geme.
— Por que você ainda está acordada? Já passou da sua hora de dormir.
Ele pega as mãos dela e se levanta, jogando-a sobre o ombro. Ela grita.
Ele vem até mim e a balança na frente do meu rosto.
— Dê um beijo de boa noite na tia Sky — diz ele.
Ela se inclina para frente, toma o meu rosto em suas mãos e beija minha
bochecha.
— Boa noite, tia Sky — diz ela calmamente.
Seth aponta para o meu colo.
— Volto em um segundo para pegar essa daí — diz ele.
— Deixe que eu levo — respondo. Levanto-me e carrego Mellie
suavemente em meus braços. Ela se aconchega mais perto de mim, e
percebo que ela está suando contra meu corpo quando sinto o ar
refrescante tocar minha pele. Mas eu não trocaria isso por nada.
Seth dá de ombros.
— Tem certeza? — pergunta ele, inclinando a cabeça para o lado.
Concordo com a cabeça e sorrio para ele.
— Se você não se importar, gostaria de colocá-las na cama.
Seth balança a cabeça em direção ao quarto das meninas.
— Claro — diz ele tranquilamente e segue nessa direção.
Ele puxa as cobertas e balança Joey como se ela fosse um avião, fazendo
um zumbido com a boca até colocá-la sobre os lençóis. Ela ri e ele se inclina
para beijar sua bochecha.
— Boa noite — diz ele.
Então, ele vem e me ajuda a colocar Mellie, que mal se movimenta
enquanto a cubro, na cama. Dirijo-me para a porta, mas Joey chama e volto-
me viro.
— Tia Sky? — ela chama.
Olho para ela e volto para o quarto. Ela parece confortável debaixo de
seus cobertores e não consigo pensar em nada que ela possa precisar.
— Precisa de algo?
— Ela vai fazer você ficar aqui o máximo que puder, pedindo beijos,
água e tudo o mais que ela não precisa — Seth adverte. Ele aponta o dedo
para ela e fala: — Vá dormir.
Vou até a cama e sento-me na beirada, dobrando os cobertores ainda
mais firmemente em torno dela. Ela coloca o braço para fora, apoiando a
mão no meu antebraço.
— Se você vir minha mamãe — ela sussurra —, pode dizer que falei boa
noite?
Meu coração se aperta e tenho que fechar os olhos e respirar fundo.
Quando me sinto um pouco mais controlada, sussurro em seu ouvido.
— Você pode conversar com a mamãe sempre que quiser. Ela vai ouvi-
la. Assim, você mesma pode lhe dar boa noite. — Aperto seu nariz de
brincadeira.
— Ela pode me ouvir? — sussurra.
Eu aceno.
— Ela pode ouvi-la, mesmo que não esteja mais aqui. — Pisco meus
olhos furiosamente para tentar controlar as lágrimas que estão muito perto
de cair. Quando me transformei numa chorona? Ao mesmo tempo em que
me tornei mãe, aparentemente. — Ela nunca vai deixar você. Eu juro.
— Vou falar com ela, então — diz. Ela sorri e se acomoda no travesseiro,
fechando os olhos.
— Boa noite — sussurro e beijo sua testa, demorando-me por um
momento para sentir seu cheiro de menina.
Seth está esperando por mim no corredor quando eu saio.
— Uau — ele respira.
— O quê? — pergunto. Evito seu olhar, pois ele se parece com alguém
que teve seu tapete puxado.
Ele balança a cabeça.
— Às vezes parece tão fácil seguir em frente sem ela e, em outros
momentos, as memórias e todas as pequenas coisas sobre ela
simplesmente nos inundam, sabe?
Não sei. Nunca tive alguém que me amasse como a mãe dele o amou.
Não sei o que é perder a sua âncora ou flutuar, de repente, sem rumo.
— Você também pode falar com ela — eu digo. Ele me segue para a
cozinha. — Ela ainda está aqui para você.
Ele balança a cabeça novamente.
— Gosto de pensar que sim, mas não tenho certeza se acredito nisso. —
Ele solta um suspiro. — Às vezes, me sinto um pouco sozinho.
Meu coração afunda. Achei que, finalmente, estávamos chegando a
algum lugar, mas talvez eu não seja capaz de lhe dar o que ele precisa.
— Vou tentar com mais empenho — falo.
Ele me puxa para seus braços e me aperta, seu antebraço envolvendo
minha cabeça novamente naquele abraço desajeitado. Mas eu gosto.
— Tudo bem? — Matt pergunta da porta. Ele arqueia uma sobrancelha
para mim.
Dou um passo para trás e tiro meu cabelo do rosto.
— Tudo bem — respondo, sorrindo para ele. Nãos sei porque, mas é
natural ver Matt por perto. Temos um tipo ímpar de química, que faz minha
barriga vibrar, mas me conforta ao mesmo tempo. Sinto-me em paz com
ele. Não consigo definir o que é, mas quero muito mais.
Ele caminha até Seth e passa o braço em volta da cabeça do menino,
prendendo-o e lhe dá uma espécie de cascudo suave. Seth o empurra, mas
ele está sorrindo.
SKYLAR


V ou para a cama — diz Seth.
— Já? — pergunto e olho para o meu relógio. — É cedo ainda.
Ele olha rapidamente para Matt, que abaixa a cabeça e sorri.
— Estou cansado — ele responde e finge um bocejo. Ele está sorrindo, e
Matt coloca a mão furtivamente sobre a boca para esconder o próprio
sorriso. Seth beija minha testa, dá um soquinho na mão de Matt e vai para o
quarto.
Não sei o que fazer sozinha com Matt, então, começo a colocar a louça
na máquina de lavar. Matt pega pratos e copos na mesa e me ajuda.
— Cuidado, ou vou me acostumar a ter você por perto — falo
brincando.
Ele olha diretamente nos meus olhos.
— Ótimo. É isso que eu quero.
Minha respiração acelera e tenho que me virar para não ficar de frente
para ele. Coloco as mãos sobre o balcão e pego um fôlego. Mas então, sinto
o corpo de Matt por trás de mim. As mãos dele se apoiam no balcão ao lado
das minhas, seus braços envolvendo meu corpo. Posso senti-lo desde o alto
da minha cabeça até os calcanhares de tão perto que ele está.
— Já está apaixonada por mim? — ele sussurra em voz baixa.
Um sorriso aparece no meu rosto e fico feliz que ele não pode vê-lo.
— Não — respondo, engolindo o nó em minha garganta.
Ele afasta os cabelos da parte de trás do meu pescoço e me beija. De
repente, sinto-me feliz por ele estar atrás de mim, porque meus joelhos
estão bambos. Seus lábios são suaves e quentes, mas insistentes. Ele beija a
lateral do meu pescoço e eu inclino a cabeça, porque é gostoso pra
caramba.
— Um dia, você vai querer se casar comigo — ele murmura.
— Você é muito seguro de si mesmo. — Minha voz falha só um
pouquinho. Sinto-me orgulhosa disso.
— Humm humm — ele murmura, e seus lábios deslizam suavemente
para o outro lado do meu pescoço.
De repente, ouço um barulho atrás de nós e Matt salta para longe. Ele
está do outro lado da cozinha em um segundo. Viro-me e olho para cima
para encontrar Seth parado na porta. Ele olha de mim, para Matt e de volta
para mim, encarando-me. Finalmente, ele bufa e fala:
— Cara, você deveria beijá-la logo. Jesus. — Ele caminha até a geladeira,
pega uma garrafa de água e, então, sai da cozinha.
Matt sorri.
— Acho que está na hora de ir embora.
— Não — falo rapidamente. Fecho os olhos. Quando os abro, ele está me
encarando atentamente. — Quero dizer, se você precisa ir, tudo bem. Mas
se quiser ficar mais um pouco...
— Quero ficar — diz ele rapidamente.
— Quer uma cerveja? — pergunto. Acho que ainda tem algumas na
geladeira.
— Não — diz ele. — Obrigado.
Encho uma taça de vinho, ocupando minhas mãos.
Ele pega uma garrafa de água e me segue para o sofá. Sento-me em uma
ponta, e ele, na outra. Está muito, muito longe, na minha opinião, mas muito
próximo ao mesmo tempo. Estou ficando louca?
Coloco meus pés para cima do sofá, meus joelhos voltados para a TV, e
Matt olha para as minhas pernas. Puxo um pouco minha saia. Ele geme e
coloca a cabeça para trás, mas está sorrindo.
— Você não sabe como é difícil ficar sentado aqui, enquanto você está aí
— ele fala.
— Sei, sim — admito.
Seu olhar encontrar o meu.
— Você está sentindo isso também? — ele pergunta. Seus olhos são tão
azuis e tão profundos que quero mergulhar neles e ficar lá. Jamais tire os
olhos de mim, Matt.
Aceno e mordo o lábio inferior para não sorrir.
— Por que você não tem namorada, Matt? — pergunto. E eu realmente
quero saber, pois é incompreensível para mim que ele seja solteiro. Ele é
bonito e tão gentil.
Ele sacode o dedo para mim.
— Eu tinha — ele fala.
Me acomodo no sofá e viro, para que meus pés fiquem apontados para
ele, minhas pernas, estendidas. Meus pés quase tocam sua coxa. Então, ele
levanta meus pés e desliza para debaixo deles, chegando mais perto de
mim.
— Fui apaixonado por uma garota. Por muito tempo.
— O que aconteceu com ela? — pergunto. Ele começa a fazer cócegas
em meus dedos, e depois, as pontas dos dedos passam pela parte superior
do meu pé. É uma carícia suave e é tão bom que não quero que ele pare.
Seus dedos me acariciam distraidamente quando ele começa a falar.
— Quando recebi o diagnóstico — diz ele —, ela não pôde lidar com a
notícia.
— Câncer? — pergunto.
Ele balança a cabeça. Seus dedos se arrastam para cima e para baixo em
minha canela, e ele desliza a mão para acariciar a parte de trás do meu
joelho. Eu não o detenho quando sua mão desliza para baixo da minha saia,
embora eu fique tensa. Ele sorri quando encontra a barra da minha meia e
abre o pequeno clipe que a prende às ligas. Ele repete a ação do outro lado,
suas mãos provocando a pele sensível da minha coxa enquanto rola a meia
para baixo. Ele a puxa pelo meu pé e faz o mesmo com o outro lado. Estou
realmente feliz por ter me depilado esta manhã. Mexo os dedos dos pés
para ele, que começa a acariciar-me novamente. Não quero que ele pare
nunca.
— Está tudo bem? — Ele pergunta. Mas não está olhando para o meu
rosto. Está olhando para minhas pernas.
— Sim — respiro. — Continue falando. Você foi diagnosticado...
— Fui diagnosticado e o prognóstico não era bom. Passei pela
quimioterapia e fiquei um pouco melhor. Mas então, precisei de uma
segunda rodada. As coisas não pareciam boas e estávamos completamente
sem dinheiro. Eu não podia mais trabalhar no estúdio de tatuagem porque
o meu sistema imunológico estava muito fraco, então eu não tinha fonte de
renda. Estava pobre, doente e ela não me amou o suficiente para percorrer
esse caminho comigo. — Ele dá de ombros, mas seu rosto está sério. — Ela
me traiu com meu melhor amigo. — Ele dá de ombros novamente. — E esse
é o fim dessa história triste.
— Você ainda a ama? — pergunto. Eu não respiro, esperando por sua
resposta.
Ele balança a cabeça e olha para cima.
— A amei por um longo tempo. E não quis um relacionamento com
outras pessoas. Não saio com ninguém desde que terminamos. Mas não
estou apaixonado por ela. Sei disso agora.
— Por que agora? — pergunto.
Ele olha diretamente nos meus olhos e fala:
— Porque eu te conheci e estou muito esperançoso de que você queira
algo sério comigo. Sei que nós acabamos de nos conhecer e tudo mais, mas
eu estava falando sério sobre fazer você se apaixonar por mim. — Ele ri. —
Então, você me bateu no nariz esta noite, e eu soube que tinha que ser.
— O quê? — Não faço ideia do que ele está falando.
— Quando meu irmão, Logan, conheceu Emily, ela lhe deu um soco na
cara. E quando Pete e Reagan começaram a namorar, ela bateu-lhe no nariz.
— Ele toca seu nariz suavemente. — Então, quando você me bateu hoje à
noite, eu soube que era para ser. — Ele sorri. — Espero que você se sinta da
mesma maneira, porque eu realmente quero ver onde isso vai dar.
— Então as mulheres por quem seus irmãos se apaixonaram os
machucaram e então eles souberam que era pra valer?
— Nós meio que temos uma regra. Se uma mulher lhe der um soco na
cara, você tem que se casar com ela. — Ele ri.
— Não o soquei.
— Não tem problema — ele fala. — A regra é nossa, eu decido isso.
Coloco minha taça de vinho sobre a mesa lateral quando percebo que
está vazia.
— Mas quero falar algo com você — ele fala. Seu tom é calmo e sério e
ele para de esfregar minha perna. Sua mão envolve meu tornozelo.
— Ok — eu digo, hesitante
— Por causa da quimioterapia, minhas chances de ter filhos são
escassas. — Seus olhos estão cheios de dor. — Provavelmente, não há
chance nenhuma. — Ele sacode o polegar em direção ao corredor. — Você
estaria satisfeita só com três filhos?
Arqueio minha cabeça e começo a rir.
— Você acha que preciso de mais do que três?
— Só quero ser completamente honesto com você. Não vou conseguir
engravidá-la. Então, se você quiser ter um bebê, não sou o cara certo para
você e não quero alimentar esperanças.
Faço um gesto para seu colo.
— Tudo... funciona? Certo? — Minhas bochechas coram. Ele levanta
meu pé e o pressiona mais perto de seu zíper.
— Tudo funciona — diz ele em voz baixa. Ele está totalmente duro
contra a lateral do meu pé, e sinto que meu rosto está em chamas de
vergonha, mas ele não parece se importar.
— Tenho uma pergunta para você — falo. Nem sei como expressar isso,
mas tenho que perguntar. — Meus filhos — falo —, não têm cabelos loiros
e olhos azuis. Isso seria um problema para você?
Estamos colocando o carro na frente dos bois totalmente, e me sinto
estúpida por estar fazendo essa pergunta a um homem que acabei de
conhecer, mas eu gosto dele. Gosto muito dele.
— Seus filhos são perfeitos — diz ele. — Eu ficaria honrado em passar
tempo com eles.
— Mas, bem... — Coloco as mãos no rosto. Não consigo tirar o que
Phillip me disse da cabeça. — Mas... você se sentiria bem em sair com eles
em público e as pessoas pensarem que eles são seus? E meus? — Faço um
gesto com a mão de mim para ele. — Não que eu queira te dar meus filhos,
mas somos uma espécie de pacote.
— Eu gosto do pacote — diz ele. — E ficaria honrado se qualquer
pessoa no mundo pensasse que essas crianças são minhas quando nosso
relacionamento chegar a esse ponto.
— Isso é um relacionamento? — pergunto. Estou sorrindo como uma
tola.
— Ainda não — diz ele. — Agora, sou apenas um cara louco que você
acabou de conhecer, que tirou suas meias e quer tocar seus pés. — Ele olha
para os dedos dos meus pés e os acaricia. Depois, me olha nos olhos. —
Agora você já se apaixonou por mim? — ele pergunta. — Você me bateu na
cara, então sou obrigado a casar com você em algum momento.
Lanço minhas mãos para cima.
— Ou podemos simplesmente sair — digo, com uma risada.
Ele balança a cabeça.
— Isso parece bom. — Ele sorri para mim.
— Por que nenhuma mulher de sorte te conquistou ainda? — pergunto
novamente.
— Tenho problemas. — Ele ri, mas depois fica sério. — Tenho
problemas de confiança Enquanto estou em remissão, vivo cada dia
sabendo que posso ficar doente de novo. Não gosto de perder tempo
porque é uma das únicas coisas na vida que não se pode ter mais. Então, sei
que estou indo muito rápido e, provavelmente, estou assustando você, mas
eu sou assim. Amo irremediavelmente quando me apaixono e espero que
você esteja bem com isso.
Eu zombo.
— Não me diga que você já está apaixonado por mim. Você acabou de
me conhecer. Eu teria que chamá-lo de mentiroso.
— Não, não estou apaixonado por você... ainda. Mas pela primeira vez
em muito tempo, quero perseguir esse sentimento e ver onde vai dar.
— Então você vai dar em cima de mim? — pergunto. Meu coração se
emociona com a ideia.
— Ah, sim, pretendo dar em cima de você. Desde que você dê abertura
aos meus avanços. — Sua mão desliza para cima e faz cócegas na parte de
trás do meu joelho. Eu daria abertura a qualquer avanço que ele quisesse
fazer. — Só mais uma coisa — ele fala.
— O quê? — pergunto.
— Quando eu me apaixonar por você, nunca me traia. Se quiser
terminar comigo, fale. Mas não minta para mim ou me traia. Isso vai fazer
com que eu te odeie. E tudo o que quero é amar você. Um dia. Quando nós
dois estivermos prontos.
Estou pronta agora. Mas ao mesmo tempo, não estou.
— Pode deixar — falo.
Ele coloca a cabeça para trás, contra o sofá, e se inclina para olhar para
mim.
— Posso continuar a brincar com seus pés? — Seus olhos estão cheios
de sentimentos que não entendo, mas gosto. Gosto muito.
Sento-me para a frente e tiro os pés do seu colo. Ele faz beicinho até
que, ao invés dos meus pés, eu me sento em seu colo. Seguro seu rosto e
olho em seus olhos.
— Gosto muito de você — eu sussurro.
— Mas não está apaixonada ainda? — ele sussurra de volta, mas suas
mãos envolvem meus quadris e me seguram perto dele.
— Ainda não — respondo.
Ele esfrega o nariz contra o meu, tocando-o suavemente com os olhos
fechados. Meus lábios estão tão perto dele que quase posso sentir seu
gosto. Mas, de repente, ele me pega e me deita no sofá. Ele se levanta, ajeita
seu jeans e beija minha testa.
— Tenho que ir — diz ele rapidamente.
— O quê? — Ofego. Estava prestes a beijá-lo.
— Obrigado por me deixar ficar com você e as crianças hoje à noite. Foi
muito divertido jogar boliche com sua família.
De repente, sinto-me vazia e não gosto disso.
— Obrigada por ter vindo assim que Seth ligou. E pela pizza. — E por
virar meu mundo de cabeça para baixo.
Levanto-me e o sigo até a porta. Ele olha para mim e coloca uma mecha
do meu cabelo atrás da orelha.
— Quero beijar você.
— Pode beijar.
Ele balança a cabeça.
— Ainda não — diz ele. — Vai trabalhar em casa amanhã?
— Não, tenho que ir para o escritório. — Estou trabalhando em um
grande caso e terei uma reunião de equipe.
— Quando posso te ver de novo? — ele pergunta.
Não consigo segurar o sorriso.
— Quando você quer me ver de novo?
— Todos os dias, o dia todo. — Ele ri. Deus, quando esse homem sorri,
poderia me deixar de joelhos. — Posso te ligar?
Eu concordo.
— Bom — diz ele.
Ele se vira e afasta-se de mim. Vou atrás dele no corredor.
— É isso? — pergunto.
— Por enquanto — ele responde, mas está rindo. Ele acena para mim
quando as portas do elevador se fecham e eu encosto contra a parede.
Isso não foi muito agradável. Mas estou sorrindo quando volto para o
apartamento.
M AT T

D eus, foi difícil. Nunca quis tanto beijar alguém. Mas ela ainda não está
pronta para mim. Eu sei. Ela não está pronta para o que tenho dentro de
mim. Droga, nem sei se eu estou pronto para isso também. Mas quero estar,
e isso já é um bom começo.
Volto rapidamente para o Reed’s. Sinto-me mal por ter saído do jeito
que saí, bem no meio de uma tatuagem. Mas Seth precisava de mim e, para
ser honesto, eu queria ver Sky.
É difícil admitir que, com tudo o que passei na vida, eu não a apreciei
como deveria. Tive uma segunda e terceira chances, coisa que a maioria das
pessoas nunca vai ter. Mas, mesmo depois de tudo isso, me acomodei. Ela
me faz querer me desacomodar. E correr atrás do prejuízo.
Entro no estúdio e fico feliz por ver Logan e Pete. Logan é dois anos
mais novo que eu, mas é muito inteligente. Pete, o mais novo, tem vinte e
um anos, mas está em um relacionamento sério, assim como Logan, e sinto
vontade de conversar com eles.
— Tudo bem? — Logan pergunta. Ele é deficiente auditivo, mas fala
bem. Quando respondemos, geralmente fazemos sinais e falamos ao
mesmo tempo para que ele não perca nada. Logan não falava há anos. Até
que ele conheceu Emily e ela o fez abrir a boca. Agora, ele raramente se
cala.
— Tudo bem — respondo. — Fui na Skylar.
Os olhos de Pete se estreitam para mim.
— O que diabos aconteceu com o seu nariz? — ele pergunta.
Olho no espelho sobre a pia. A pele sob os olhos está um pouco roxa, e
imagino que haja uma boa chance de que meus dois olhos fiquem pretos
até amanhã de manhã.
— Skylar me bateu — respondo.
Pete bufa.
— Não acredito nessa porra — ele fala e eu apenas o observo. — Ela
realmente bateu em você?
— Foi um acidente — falo. — Estávamos jogando Wii boliche e o
controle voou de sua mão. — Toco meu nariz. Dói pra caralho.
— Você vai ter que se casar com ela — diz Logan. — É a regra. — Mas
ele está rindo. Eu não estou.
— Sim, acho que vai acontecer — respondo. Não olho para qualquer um
deles, pois sinto que podem ver através de mim. Eles sempre foram capazes
disso.
— O quê? — Logan rola sua cadeira na minha direção para que possa
olhar diretamente para mim.
— Você entendeu o que eu disse — respondo.
Ele arqueia a sobrancelha.
— Só quero ter certeza de que entendi direito.
Empurro sua cadeira com o pé, e ele derrapa pelo chão.
— Você entendeu direito.
— Já? — Pete pergunta. Ele se senta à minha frente. — Você acabou de
conhecê-la.
— Quanto tempo se passou até que você tivesse certeza de que queria
Reagan? — pergunto. Não posso empurrar Pete porque ele não está
sentado em uma cadeira de rodinhas.
— Segundos — ele responde sem sequer piscar.
Olho para Logan.
— E você? — pergunto.
— Eu nunca quis Reagan— Logan fala. Pete lhe dá um soco no braço e
ele levanta as mãos em sinal de rendição. — Minutos. — Ele olha para mim.
Logan tem um jeito de olhar como se enxergasse sua alma. Ele tem que ler
as pessoas com base em sua linguagem corporal, e tenho medo do que ele
está lendo em mim. — Uau. Você realmente gosta muito dela.
Eu concordo.
— Sim. — respondo. — Não estou apaixonado por ela — Estava sendo
honesto. —, mas não consigo tirá-la da minha cabeça.
— Você a pegou? — Pete pergunta.
— A peguei? — repito.
Ele faz um gesto bruto com as mãos.
— A pegou — ele fala novamente.
— Deus, não — suspiro. — Eu nem mesmo a beijei.
— Uau — Logan fala novamente.
— Quer parar de falar isso?
— Você quer beijá-la — Pete fala.
— Quero fazer todo tipo de coisas com ela — admito. — Mas ela é
especial.
— Uau — Logan fala novamente.
— Pare com isso! — Empurro seu ombro.
— Lembro-me de quando levei Emily para casa. Ela dormiu na minha
cama por um longo tempo antes de termos relações sexuais. Isso não era o
principal. O que importava eram os momentos íntimos, silenciosos. Esses
foram os mais importantes. Eles alimentaram minha alma.
— Sim — falo. — É bem por aí.
— Eu queria transar com ela, mas não até que soubesse que era
permanente. — O comentário é grosseiro e alguém pode achar bruto e
indiferente, mas acho que é honesto.
— Comigo também — Pete fala. — É assim que você sabe que ela é a
certa.
Concordo. Não sei mais o que dizer. Pete empurra meu ombro.
— Estou feliz por você?
— Você está me perguntando?
Ele dá de ombros.
— Acho que sim. Não sei o que te dizer. Se ela é a garota, você sabe
disso.
— E quanto a April? — Logan pergunta.
— O que tem ela? — Por que ele ia falar da April agora?
— Há pouco tempo ela estava na sua cabeça. Isso mudou? — Logan
pergunta.
— Sim. Muito. — Tiro o elástico do cabelo e deixo-o cair em volta do
rosto. Passo os dedos por ele para ganhar tempo. — Não sei como explicar
isso.
— Essa é a beleza do amor — Pete canta.
— Não estou apaixonado por ela — reclamo.
— Ainda não. Mas há uma possibilidade.
— Sim. — Muitas possibilidades. Eu sorrio.
— Ela não tem namorado? — Logan pergunta.
Balanço minha cabeça.
— Não mais. Eles se separaram.
Os olhos de Logan se estreitam, mas ele não diz nada.
— Tive a impressão de que ele não gosta da ideia de criar filhos
mestiços. — Estremeço. Não gosto nem mesmo de dizer isso em voz alta.
— Como você se sente sobre isso? — Logan pergunta.
— Crianças são crianças — falo. Temos sido expostos a tantos tipos de
pessoas e, com a deficiência de Logan, aprendemos, desde cedo, o que é
importante na vida. E agora que Pete trabalha com crianças com deficiência
e crianças do centro de detenção juvenil, que muitas vezes ele traz para
casa, estamos ainda mais expostos. Não importa como o exterior se parece,
é o o interior que conta. — Eu os quero quase tanto quanto a quero —
admito. — Ficaria honrado em ter um lugar na vida deles. Qualquer lugar
que eles queiram me deixar ter.
Logan ainda parece desconcertado.
— Pare de olhar para mim como se eu estivesse louco.
Logan balança a cabeça.
— Estou surpreso — ele admite.
— Eu também.
Pete bate a mão no meu ombro.
— Quando vamos encontrá-la de novo? — ele pergunta.
— Trazê-la para perto de vocês? — resmungo. — Só se eu fosse louco.
Vocês iriam assustá-la.
Mas com toda a honestidade, eu não poderia gostar de alguém que não
possa aceitar os meus irmãos exatamente como são. Eles são barulhentos,
meio grosseiros e peidam muito, mas todos eles têm coração de ouro. E são
meus.
— Vou convidá-la. — Olho ao redor do estúdio. — Terminamos por
hoje? —pergunto.
— Nós? — Pete protesta. — Não vi sua bunda fazendo tatuagens esta
noite. — Ele dá de ombros e veste seu casaco. — Vou para casa —fala. Mas,
antes de sair, olha para mim.
— O quê? — pergunto.
Ele sorri.
— Estou tão feliz por você — diz ele, depois ri. — De verdade.
— Cale a boca — implico.
Ele sai, e fico sozinho com Logan.
Ele para de falar e começa a fazer sinais.
“É a garota, hein”?
— Talvez — falo novamente. — Não sei ainda.
Ele balança a cabeça.
“Ótimo”.
— Ótimo o quê?
“Se alguém merece um ‘felizes para sempre’, Matt, esse alguém é você”.
— Cale a boca — resmungo novamente. — Não sei o que dizer sobre
isso.
Ele ri.
“Estou indo para casa. Você deveria ir também”.
Aceno e o ajudo a trancar tudo. Então, ele me deixa na rua com um
aperto de mão rápido e um sinal de “eu te amo”. Faço o sinal de volta para
ele, que vai embora.
Pego o celular do bolso e procuro o número de Sky. É tarde, mas quero
ouvir a voz dela. É estúpido, eu sei. Mas é o que é.
— Olá — diz ela, com a voz hesitante.
Inclino-me contra o edifício, porque meus joelhos balançam quando falo
com ela. Sinto-me tonto.
— Oi — digo em voz baixa.
— Oi — ela sussurra volta.
— Estava dormindo?
— Não, só estava pensando.
— Sobre o quê?
— Você — ela admite. Meu coração começa a bater mais forte.
— Bons pensamentos? — pergunto.
Quase posso ouvir seu sorriso através do telefone.
— Muito bons.
— Só queria dizer boa noite. — Soa estúpido em voz alta.
— Estou feliz que você tenha ligado — ela responde. — Fiquei
realmente feliz.
— Posso te ligar amanhã?
Ela ri.
— Acho bom que ligue mesmo.
— Boa noite, Sky — eu digo.
— Boa noite, Matt.
Desligo a chamada e coloco o telefone no bolso. Não tem ninguém em
casa quando chego. Nem tenho certeza de que Paul está lá. Vou para o meu
quarto me preparar para dormir. Assim que deslizo entre os lençóis, meu
telefone toca. Vejo que é o número dela.
— Sky?
— Sim — ela admite.
— Está tudo bem?
— Eu só queria te dizer boa noite — diz ela calmamente.
— Acho que você já disse. — Mas, por dentro, meu coração está batendo
como uma pistola de tatuagem.
— Oh — ela diz baixinho e ri. — Desculpa.
— Você está cansada? — pergunto.
— De modo algum.
Então, falamos até tarde da noite. Falamos até que meus olhos estejam
quase se fechando, mas ainda não quero desligar o telefone.
SKYLAR

P reciso colocar dois palitos em meus olhos para mantê-los abertos hoje.
Matt e eu conversamos até muito tarde ontem à noite, mas cada vez que eu
pensava em desligar o telefone, ele me perguntava algo. Era sempre algo
profundo ou provocante. E ele respondeu às minhas perguntas também.
Agora, sei que ele gosta de qualquer tipo de sorvete com pedaços de
chocolate. Ele ama nozes. E tem essa paixão louca pela vida que eu não
sabia que existia. Sua família é importante para ele, e a minha também. Ele
me convidou para um encontro na sexta à noite, mas pedi a ele para
esperar, pois não sei ainda onde Seth estará na sexta.
Mas quero sair com ele. Quero que a gente passe algum tempo a sós,
sem os filhos no outro quarto. Quero beijá-lo e ver se essa paixão é coisa da
minha cabeça.
É quase hora do almoço e evitei Phillip com sucesso por toda manhã.
Ele tentou se aproxima de mim uma vez, mas me virei de costas para ele,
que foi para outra direção. Estou trabalhando muito em um caso hoje,
deixando minha papelada pronta. Paro e pressiono a palma das mãos nos
olhos. Eu realmente não deveria ter ficado acordada até tão tarde na noite
passada.
Meu telefone toca.
— Sim — atendo.
— Sky — a recepcionista fala calmamente. Levanto o fone.
— Sim — digo novamente. — O que houve?
— Tem um cara realmente bonitão, de pé, na minha frente,
perguntando por você — ela sussurra no telefone.
Que cara bonitão estaria perguntando por mim?
— Como ele é?
— Deve ter cerca de um e oitenta e cinco — ela começa.
— Um e noventa — ouço alguém dizer.
— Oh, um e noventa. — ela fala. — Ele é um grande problema. — Ela ri.
Meu coração salta.
— Qual a cor do cabelo dele?
— Loiro. E bem longo.
É Matt. Ah, Merda. É Matt.
— Já vou aí — falo. Meu coração está batendo como louco. O que Matt
está fazendo aqui? Procuro meus sapatos embaixo da mesa e os calço.
Arrumo a saia e passo a mão pelo cabelo para alisá-lo. Um minuto atrás, ele
estava preso com um lápis.
É apenas o Matt, eu digo a mim mesma. É Matt.
— Você quer que eu o mande embora? — a recepcionista pergunta. Ela
ri novamente — Ou posso ficar com ele?
Definitivamente, não. Ele é meu.
— Já estou indo aí — repito. Olho para minha roupa de trabalho. Espero
que eu esteja bem. Acho que é tarde demais para me preocupar com isso.
Vou até a área de recepção e encontro Matt encostado na porta de vidro.
Ele se vira para mim e sorri ao me ver.
— Oi — ele fala em voz baixa.
Vou até a ele, minhas pernas trêmulas.
— O que você está fazendo aqui? — pergunto, mas estou sorrindo
também. Paro na frente dele, a um abraço de distância A recepcionista está
de olho.
— Vim te convidar para almoçar comigo. — Dá de ombros. Ele usa calça
jeans e botas de cadarço. A camiseta preta está esticada sobre o peito largo
e combina perfeitamente com seu jeans. Posso ver suas tatuagens. Uma
mecha do seu rabo de cavalo caiu e quero alcançá-la e colocá-la atrás da
orelha.
— Como descobriu onde trabalho? — pergunto. Faço um movimento
para ele me seguir. Murmuro um agradecimento para a recepcionista e ela
pisca para mim e levanta o polegar. Balanço a cabeça e Matt caminha,
silenciosamente, atrás de mim.
— Mandei uma mensagem para Seth — diz ele.
— Traidor — falo. Mas por dentro, estou muito feliz.
— Vim em um momento ruim? — ele pergunta e olha para o pulso,
mesmo que não haja relógio nele. — Posso voltar mais tarde.
— Não, não. — Não quero que ele vá embora. Nunca. Eu me inclino
contra a beirada da minha mesa. — Estou feliz que você esteja aqui.
Sua voz é profunda e suave quando responde.
— Pensei em você a manhã toda. — Ele dá de ombros, parecendo um
pouco envergonhado. — Então, quis vir. Mas compreendo totalmente se
você estiver ocupada demais. — Ele olha em meus olhos. — Posso até
chorar se você me mandar embora, mas vou.
Não vou mandá-lo embora. Não mesmo.
— Não quero que você vá — respondo.
Ele sorri.
— Bom. — Ele olha em volta do meu escritório. — Você tem tempo para
almoçar?
— Oh! — murmuro. — Achei que você só iria se sentar aí e me deixar
olhá-lo. Quer ir mesmo a algum lugar?
Ele ri.
— Sim. Eu disse que faria você se apaixonar por mim. O almoço é só o
primeiro passo.
— Qual é o segundo? — pergunto impulsivamente.
— Se eu te disser, não vai funcionar.
Levanto o polegar e o indicar a dois centímetros de distância um do
outro.
— Tenho pouquinho de tempo. — Faço um movimento em direção à
minha mesa. — Estou trabalhando em um caso grande.
— Você pode me contar sobre ele durante o almoço.
Sim, posso. Porque vou com ele.
Pego minha bolsa e a coloco sobre o ombro. Eu o seguiria a qualquer
lugar. Vou até ele e fico na ponta dos pés. Ele se inclina um pouco e coloca o
rosto na minha frente. Eu gemo, mas dou um beijo rápido. Ele cobre o local
onde beijei com a mão.
— Vou mantê-lo aqui pelo resto do dia — ele fala.
— Você fala isso para todas as mulheres que conhece? — pergunto.
Ele balança a cabeça.
— Só preciso dizer a elas como me sinto — ele fala, olhando em meus
olhos e tudo o que vejo é sinceridade.
Ele abre a porta da frente para mim e apoia a mão na base da minha
coluna, me guiando. Deus, estou prestes a derreter. Ao passarmos pela
porta, ele segura minha mão e entrelaça os dedos. Olho para ele.
— Tudo bem? — ele pergunta.
Eu aceno e continuamos assim até chegarmos ao bistrô.
— Você está calada — ele fala, quando o garçom nos leva até a mesa. É
um lugar cheio, mas a comida é incrível e várias pessoas do escritório
almoçam aqui. Me acomodo e ele senta ao meu lado.
Eu me surpreendo.
— Oh — suspiro.
— Está tudo bem? — ele pergunta e enfia uma mecha de cabelo atrás da
minha orelha.
— Sim — eu digo. — Tudo bem.
Ele olha para o cardápio.
— O que tem de bom? — ele pergunta.
Tenho que me comportar e fingir contar calorias? Ou posso pedir o que
realmente gosto? Olho para o rosto dele. Simplesmente não consigo avaliá-
lo.
— O que foi? — ele pergunta.
— Você vai se sentir mal se eu pedir um sanduíche Reuben com fritas?
Daqueles bem gordurosos?
Sua testa franze.
— Por que eu me sentiria mal?
Coloco a mão no estômago.
— Estou faminta.
O garçom retorna e Matt pede dois Reubens com fritas e refrigerantes.
— Acho você adorável, sabia? — Ele vira o rosto para mim enquanto o
garçom serve nossas bebidas.
— Assim como você — falo, enquanto tomo um gole. Ele me observa de
perto. — Tem algo no meu rosto?
— Um sorriso — ele fala. — Gosto disso.
Sorrio ainda mais.
— Eu também.
— Então... Seth tem treino amanhã — ele me lembra. — Você se
importa se eu for?
— Seth te convidou, não foi?
Ele balança a cabeça.
— Mas não quero estar em lugar onde não me querem.
Olho em seus olhos.
— Nós queremos você — falo e meu coração acelera.
— Idem — ele fala. — Adoro luta-livre. Todos os meus irmãos
praticaram. Inclusive eu.
— Você não tinha dito que Seth é muito bom nisso?
Ele balança a cabeça.
— Campeão Regional na categoria do seu peso no ano passado — diz
ele. — Ele é muito bom. Bom o suficiente para conseguir uma bolsa de
estudos.
— Uau — suspiro. — Isso é incrível.
— A mãe dele deixou dinheiro para a faculdade, certo? — ele pergunta.
Eu concordo. O garçom traz nossa comida e Matt está, aparentemente,
confortável em comer enquanto conversamos.
— Ela deixou uma apólice de seguro muito generosa — digo a ele. — O
suficiente para cuidar deles.
— Ela era muito boa com planejamento — diz — Seu pai também a
ajudou muito com o gerenciamento de dinheiro.
— O que ela fazia para viver? — pergunto. Eu realmente não sei muito
sobre a minha meia-irmã.
— Ela era advogada. Acho que criminalista.
— Colocando bandidos na prisão.
Ele balança a cabeça.
— Quando ela podia.
— Não faço nada tão sério.
— Em que área você atua? — Ele está me dando toda a atenção que não
está dando a esse sanduíche.
— Propriedade intelectual.
Ele balança a cabeça.
— Você vai ter que me contar mais sobre isso algum dia.
— Eu adoraria.
Ele sorri. Então, olha por cima do ombro em direção ao outro lado do
salão.
— Seu namorado está aqui — diz, sem olhar para mim.
Olho para trás e vejo Phillip com alguns dos meus colegas. Ele levanta o
copo na minha direção. Se eu estivesse mais perto, jogaria meu refrigerante
nele.
— As coisas não terminaram bem, não é?
— Balanço a cabeça, fingindo estar realmente concentrada em meu
sanduíche. Mas realmente não quero falar sobre Phillip.
— Você está triste? — ele pergunta.
— Só por você estar falando sobre isso — respondo.
Ele sorri.
— Entendido. — Sua voz cai para um grunhido abafado. — Quando eu
finalmente chegar em sua cama, prometo não ser egoísta — diz.
Meu coração se agita.
— Você falou com Seth — eu falo. — Vou ter que ter uma conversa com
ele sobre privacidade.
Matt suspira.
— Desculpe-me. Estava apenas brincando. Não vou mais fazer isso. Seth
falou muito por alto sobre o seu rompimento. Ele não estava fofocando nem
nada parecido.
— É bom saber.
— Você está brava comigo.
— Envergonhada por você ter conhecimento íntimo da minha vida
sexual. — Termino o sanduíche e limpo minhas mãos. — Tenho que voltar
ao trabalho — eu digo.
— Porra, estraguei tudo — diz ele, jogando o guardanapo em seu prato.
Enfia a mão no bolso de trás e puxa a carteira. Ele tira dinheiro suficiente
para pagar a conta, além de deixar uma gorjeta generosa sobre a mesa.
— Deixe-me pagar minha parte — protesto.
— Eu convidei. Eu pago. — Ele apoia a mão na base da minha coluna
novamente.
— Então, se eu te convidar, tenho que pagar?
— Não — diz ele. — Eu sou o homem. Eu pago.
Phillip nos observa de perto quando passamos por ele em direção à
porta.
Caminhamos tranquilamente em direção ao meu trabalho. Matt não se
aproxima mais e não diz nada. Quando chegamos perto do escritório, digo:
— Obrigada pelo almoço.
— Desculpe-me, arruinei tudo.
— Você não arruinou nada. Só não me sinto confortável em falar sobre
isso. Não agora.
— Eu passei do limite. Me perdoe. Por favor? — Ele não está me
tocando, e posso sentir a divisão entre nós.
— Não há nada a perdoar. — Fico na ponta dos pés, e ele se inclina em
minha direção. Beijo seu rosto, ele se endireita e sorri para mim.
— Obrigado — ele fala.
— Obrigada. De verdade.
Deixo-o em pé na escada.
Meu coração afunda até os dedos dos pés.
DEIXO-ME CAIR pesadamente em minha cadeira. O meu telefone vibra e
pressiono o botão para atender.
— Sim?
— Hum... — diz a recepcionista.
— O que foi? — resmungo.
Mas então, minha porta se abre e Matt entra.
— Ele está a caminho — diz a recepcionista.
— Obrigada pelo aviso — murmuro.
Matt fecha a porta do meu escritório e se aproxima. Fico de pé e ele
segura meu queixo, levantando-o na direção do seu rosto.
— Esqueci uma coisa — fala. Ele está sem fôlego e seus olhos procuram
os meus. — Esqueci de dizer que quero o seu coração mais do que quero
seu corpo — diz ele. Seus olhos observam todo o meu rosto. — Eu fodi com
tudo, mas não estou pronto para aquilo ainda. E reconheço meu erro.
— Matt... — começo, mas ele me corta.
— Te quero mais do que já queria e é difícil até mesmo andar quando
estou perto de você, pois meu pau fica tão duro que poderia martelar
pregos com ele.
Sinto meu rosto corar, mas ele não para.
— Eu não deveria falar isso, mas não tenho como evitar. Estou
morrendo de vontade de estar dentro de você. Louco para te segurar perto
de mim quando estivermos nus. — Ele sorri. — Mas, ainda mais do que
isso, quero que você me ame. Quero que você me ame muito, e acabei
fazendo as coisas do jeito errado. — Ele finalmente para e respira fundo. —
Por favor, perdoe-me.
— Matt...
— Quando vi seu namorado, tudo em que consegui pensar foi que
queria satisfazê-la muito mais, principalmente porque eu estava louco de
ciúmes por ele estar próximo de você. Talvez eu estivesse tentando tirá-lo
da sua cabeça para me colocar no lugar. Ou talvez, eu seja apenas um idiota.
Provavelmente seja isso. Sou um idiota quando se trata de você. Mas eu
posso lidar com isso. Espero que você também possa.
— Matt — eu digo novamente.
— Perdoe-me — ele insiste. — Nunca mais vou fazer isso.
Seguro seu rosto com minhas mãos.
— Pode calar a boca por um minuto? — pergunto.
Ele solta um suspiro.
— Tudo bem.
— Não estou com raiva. Talvez um pouco irritada por Seth ter repetido
algo para você que ouviu em uma conversa privada. Mas isso é entre Seth e
eu, e não tem a ver com você. Vou resolver isso com ele. E não, não estou
brava com você. Não há nada a perdoar.
Ele não diz nada. Só olha nos meus olhos.
— Juro, Matt — asseguro a ele.
— Você me deixou arrasado, mas eu mereci. Já sinto sua falta.
— Não fui a lugar algum. — Solto uma risada.
Uma batida soa na porta do meu escritório. Olho para cima e vejo minha
chefe, que enfiou a cabeça para dentro da sala e está segurando um maço
de papéis. Ela olha para Matt e depois sorri para mim.
— Você está pronta para atender? — ela pergunta.
— Estou indo — falo — Só um minuto.
Ela sai da sala.
— Merda — Matt fala. — Você tem que voltar ao trabalho.
Eu concordo.
— Tenho.
Ele me olha por um momento, como se tivesse algo na ponta da língua
para dizer.
Minha chefe aparece novamente.
— Quanto tempo você vai demorar? — ela pergunta.
— Margie — falo e faço um movimento em direção a Matt. — Este é
Matt. — Olho nos olhos dele. — Meu amigo.
Margie sorri e caminha até Matt com sua mão esticada.
— Prazer em conhecê-lo — diz ela. Ele aperta sua mão e ela sai
novamente.
— Amigo, não é? — ele fala com um sorriso.
— Sim — respondo.
— Eu gosto disso — ele me diz.
— Eu também. — Não posso esconder meu sorriso.
— Posso te ligar mais tarde? — ele pergunta.
Aceno e ele me beija muito rapidamente na bochecha. Ele sai, e
imediatamente sinto sua falta. Mas ainda assim vou chutar o traseiro de
Seth.
Depois da reunião, volto para meu escritório e encontro um buquê de
flores na mesa. Abro o cartão e leio.
Você já está apaixonada por mim?
Ainda não. Mas estou perto. Realmente perto, apesar desses
sentimentos me deixarem apavorada. Meu coração está anulando minha
cabeça.
M AT T

M erda. Merda. Merda. Fodi com a porra toda. Paro do lado de fora do
escritório e olho para trás, em direção a porta. Quero voltar lá e continuar a
pedir desculpas, mas agora ela está em reunião. Já invadi o local quando
não deveria. Merda.
Há uma florista no canto, então, compro flores e peço para entregar a
ela. Garotas gostam de flores, certo? Não é um buquê muito grande, pois
não posso me dar ao luxo, mas escolho algumas rosas vermelhas e a florista
faz um belo arranjo. Peço para que seja entregue com um bilhete.
Você já está apaixonada por mim?
Resmungo. Nem perto disso, especialmente depois do que eu disse.
Não sei o que eu estava pensando. Não sou esse tipo de cara. Não sou
abertamente sexual e fora de controle. Bem, com ela eu poderia ser um
pouco. Ontem à noite, quando tirei suas meias, quase gozei na calça. E
quando ela me perguntou se tudo funcionava e apertei a lateral do seu pé
contra meu pau, oh, meu Deus, eu mal pude me segurar.
Mas quero muito mais dela.
Alguém bate no meu ombro, e eu olho para cima. Seu ex-namorado sorri
para mim. Sou alguns centímetros mais alto que ele e gosto disso.
— Perdoe-me — falo. Viro-me para ir embora quando o que realmente
quero fazer é achatá-lo.
— Perdoá-lo pelo quê? — ele pergunta. — Por trepar com a minha
namorada?
Mexo meus dedos muito rapidamente porque o que estou prestes a
fazer vai doer. Ele sequer percebe o que acontece. Soco-o diretamente no
rosto, e ele cai como um daqueles palhaços de circo que caem quando
alguém finge bater. Ele está lá, esfregando o queixo.
— Nunca mais fale dela desse jeito — eu falo.
Balanço a mão dolorida. Dói, mas é uma dor boa. Eu estaria disposto a
fazer doer muito mais se ele quisesse se levantar e dizer mais alguma coisa.
Ajusto meu jeans sobre as coxas e me agacho ao lado dele. As pessoas estão
parando na rua para nos olhar, mas não me importo. Ele está deitado em
seu terno extravagante, parecendo um idiota. Provavelmente porque é o
que ele é. Ele é um filho da puta estúpido se acha que pode falar sobre Sky
assim. Estendo a mão.
— Quer ajuda para levantar? — pergunto.
Cautelosamente, ele aceita a palma da mão estendida. Ele me permite
puxá-lo e faz um movimento para se limpar.
— Isso é o suficiente — diz ele.
— Sim — aviso. — É sim. Não deixe que isso aconteça novamente.
Ele sabe do que eu estou falando.
— Se você a quisesse, poderia ter ficado com ela. Mas não quis. Então,
aja como um homem.
Ele balança a cabeça, esfregando o queixo.
— Desculpe-me por ter batido em você, cara — falo. Mas não estou
arrependido. Eu faria isso de novo. Mas talvez, agora, ele vá ficar de boca
fechada, porra. — Você terminou com ela, certo? — pergunto. Com a minha
história, tenho que saber.
— Sim, terminei — ele responde. — Ainda não estou feliz com isso, mas
está terminado.
Quero perguntar porque terminaram, mas preciso conseguir essa
informação com ela.
— Ela é impressionante e bonita. Mas tem alguns problemas.
Levanto a mão para detê-lo.
— Não me diga nada.
— Ela nunca teve alguém que a amasse.
— Agora, ela tem. — Caralho, de onde veio isso?
— Sim, percebi. — Ele esfrega o rosto novamente. — Estava só
tentando implicar com você para tentar afastá-lo dela. — Ele ri. — Tenho
que respeitar um homem com esse gancho de direita e senso de decência.
— Ele estende a mão para apertar a minha. — Boa sorte para você.
Aceito sua mão e aperto com força. Não o suficiente para machucá-lo,
mas firme o suficiente para lhe dar um aviso. Vou acabar com ele se ele
fizer algo para machucá-la.
— Problemas com o pai.
— O quê?
— Posso não amá-la o suficiente, mas gosto dela. E sei uma coisa: ela
tem problemas com o pai. Ajude-a com isso e talvez você tenha uma chance
com ela.
Não sei por que ele está me dizendo tudo isso.
Ele continua.
— E ela é resistente. Está sempre disposta a se contentar com menos
que merece, porque acha que é o que tem direito. Pelo menos, foi assim
comigo. Até que ela resolveu jogar tudo para o alto por causa de umas
crianças que ela acabou de conhecer. Ela não é a mulher da minha vida, mas
isso não significa que ela não possa ser a sua.
Oh, inferno. Agora sei mais do que queria saber. Faço uma nota mental
para desconsiderar tudo o que ele acabou de dizer, porque, provavelmente,
é tudo besteira. E ele ainda é um babaca.
Mas e se não for besteira?
Merda. Agora vou pensar sobre isso.
— Obrigado. — Não sei mais o que dizer a ele.
Ele acena para mim e vai para o edifício.
Caminho até o metrô para que possa ir para o trabalho. Trinta minutos
depois, meu telefone vibra.
Sky: Você bateu nele?
Eu: Sim.
Sky: Sério?
Eu: Sim.
Há uma longa pausa que me preocupa. Mas então, o som de notificação
do meu telefone toca.
Sky: Obrigada.
Sorrio, não consigo segurar.
Eu: O prazer é meu.
Sky: Posso perguntar por que você bateu nele? Ele não quis me dizer.
Eu: Porque ele é um idiota.
Sky: O que ele disse para você?
Eu: Algo que não deveria ter dito.
Sky: Era sobre mim?
Eu: Sim.
Sky: Diga-me o que era. Por favor.
Solto um suspiro e jogo a cabeça para trás.
Eu: Ele me acusou de “trepar” com sua namorada. Então, bati nele.
Sky: Mas... você não está.
Eu: Mas pretendo.
Longa pausa.
Eu: Depois que eu fizer você se apaixonar por mim.
Sky: Isso está indo muito rápido, Matt.
Eu: Quase morri. Duas vezes. Não gosto de perder tempo.
Sky: Oh.
Eu: Gosto de você. E acho que poderia te amar.
Sky: É muito rápido.
Eu: Isso me assusta também, se isso te faz sentir melhor.
Sky: Faz, sim.
Sky: Você vem hoje à noite?
Vou? Quase sinto que preciso me distanciar um pouco.
Eu: Tenho tatuagens marcadas para às cinco, oito e dez. Então, hoje não
vai dar.
Sky: :-(
Eu: verte vejo amanhã no jogo de Seth.
Sky: Seria estranho se eu dissesse que já sinto saudades?
Um sorriso surge no meu rosto.
Eu: Não, se você realmente estiver sentindo.
Sky: Obrigado pelas flores. Elas são adoráveis.
Eu: Você já está apaixonada por mim?
Sky: Posso gostar de você por um tempo?
Eu: Por favor, sim.
Sky: Falo com você depois.
Eu: Ok.

SÃO QUASE DEZ e meia da noite quando percebo que meu último cliente não
vai aparecer. Fiquei contando as horas, me perguntando se conseguiria ver
Sky antes de ela ir para cama. Não gosto da forma como deixamos as coisas.
— Vá logo vê-la — Logan fala, apontando para a porta. — Dê o fora
daqui. Você ficou olhando para o relógio a noite inteira. Vá. — Ele faz um
movimento de empurrar com as mãos. — Fora. Você está me deixando
triste com toda essa ansiedade.
— Você vai para casa logo? — pergunto.
— Sim — ele fala, enquanto se movimenta para pintar um pouco mais a
tatuagem, que está quase pronta. — Só mais alguns minutos. — Ele aponta
para a frente da loja onde Friday está sentada com um livro aberto à sua
frente, estudando. — Friday ainda está aqui. Então, caia fora.
Temos uma regra de não deixar ninguém sozinho na loja.
— Tem certeza? — pergunto. Meu coração começa a bater mais rápido.
— Saia — ele fala e volta a trabalhar na tatuagem.
Pego meu casaco do gancho na parede, visto-o e saio pela porta o mais
rápido que consigo. Posso chegar na Sky antes das onze se eu me apressar.
Nem vou ficar muito tempo. Mas quero vê-la.
Corro para seu apartamento e pego o elevador. Vou até sua porta e bato
devagar para não acordar as crianças. Ouço passos suaves e meu coração
tropeça uma batida. Ela abre a porta e está maravilhosa pra caralho
vestindo pijama azul-bebê e pantufas. Então, faço a única coisa que posso
pensar em fazer. Puxo-a para mim. Com um suspiro, ela cai contra meu
peito. Não consigo estar perto o suficiente, então, seguro seu traseiro
firmemente, levanto-a e prendo-a contra mim e giro para que possa
pressioná-la contra a parede. Olho em seus olhos azuis assustados por um
momento, e então pressiono meus lábios em sua boca aberta. Ela congela
em meus braços, e eu pressiono com mais insistência, beijando-a
suavemente, mas totalmente. Mordisco o lábio inferior entre os meus e
chupo-o suavemente.
Ela não me beija de volta, não completamente, e não consigo descobrir o
que estou fazendo errado. Ela murmura contra os meus lábios, mas não
quero levantar minha cabeça. Mas então, ouço alguém tossir atrás de nós.
Olho por cima meu ombro e vejo um senhor sentado no sofá. Seu joelho
está balançando e seu rosto está um pouco vermelho.
Oh, merda. Seu pai está aqui.
Dei um puta beijo nela. Nosso primeiro beijo. Na frente de seu pai.
— Matt — ela fala baixinho, tocando meus ombros com as palmas das
mãos abertas. — Você pode me colocar no chão?
Dou um passo para trás e coloco-a de pé.
— Merda — suspiro.
SKYLAR

O Oh,rosto
Matt. Por que você fez isso?
do meu pai está vermelho brilhante, e ele parece querer torcer o
pescoço de Matt. Nunca o vi assim. Nunca.
— Sr. Morgan — Matt fala, apontando para o meu pai. — Não sabia que
você estava aqui — ele fala e, em seguida, joga as mãos para cima, como se
não soubesse mais o que dizer.
— Percebi — meu pai grunhe.
Matt olha para mim como se estivesse à espera de direção. Cubro minha
boca com a mão para esconder o sorriso. Mas não posso parar de pensar
naquele beijo. Por mais horrível que tenha sido, foi perfeito, e tudo que
quero fazer é me livrar do meu pai para que possamos nos beijar
novamente.
— Papai veio ver as crianças — falo.
— E você — meu pai completa. Ele ainda está grunhindo. E seu rosto
está vermelho como um tomate. Ele jamais veio me ver antes.
— Eu e as crianças — corrijo.
— É tarde — Matt fala. — Acho melhor eu ir. — Ele se vira em direção à
porta. Mas a última coisa que quero é que ele saia.
Entrelaço meus dedos nos seus e dou um puxão em sua mão. Ele olha
em meus olhos, e juro que posso ver as profundezas de sua alma. Vejo seu
desejo, sua confusão e sua necessidade.
— Não vá — digo baixinho, apertando seus dedos. — Fique.
Ele balança a cabeça. Levo-o para o sofá, e ele se senta, mas está
desconfortável pra caramba e é bem cativante de se ver.
— Estava contando ao meu pai sobre o treino de luta de Seth amanhã.
— Sento-me ao lado de Matt, e ele levanta o braço para colocá-lo no
encosto do sofá atrás de mim. Aconchego-me nele e coloco meus pés em
cima do sofá. Tento disfarçar o sorriso, porque não quero que ninguém
saiba como o fato de apenas estar tão perto dele, de propósito, me deixa
vertiginosa.
— Você vai vê-lo lutar, Matt? — papai pergunta. Ele está sendo bem
duro com Matt, que apenas balança a cabeça.
— Estou planejando, senhor — diz ele. — Gosto de assistir aos treinos.
Ele olha para mim, e eu sorrio para ele. Matt me surpreende quando se
inclina e beija a ponta do meu nariz. Faço uma careta de brincadeira para
ele, e sinto sua risada.
— Fui a alguns no ano passado — meu pai fala.
Silêncio.
— Você foi?
Ele balança a cabeça.
— Vou sempre que posso. Seth é realmente bom.
Isso tira meu chão. Ele nunca foi às minhas apresentações de dança. Ou
aos treinos de ginástica. Ou a qualquer outra coisa que eu fizesse. Mas ele
está fazendo um esforço pelos meninos, e agora, eles são parte da minha
vida. Então, seus esforços me deixam feliz por eles. Eles merecem ter
pessoas que se importam com eles e os amem.
— Tenho certeza de que Seth ficará feliz em vê-lo lá.
— As crianças estão na cama? — Matt pergunta.
— Você deveria ter perguntado isso antes de atacar minha filha —
papai resmunga. — Está tarde.
Matt concorda.
— Eu sei.
— O que aconteceu com seu nariz? — papai pergunta.
Matt sorri.
— Ela me bateu. — Ele balança o polegar em minha direção.
— Garota esperta — meu pai fala e sorri para mim. Ele nunca me olhou
com tanto carinho, e meu coração dá uma guinada com a atrocidade do
pensamento. Papai olha de mim para Matt. — Há quanto tempo vocês estão
juntos? — ele pergunta.
Matt arqueia a sobrancelha para mim.
— Pouco tempo — falo baixinho.
Meu pai acena.
— Acho que devo ir — diz ele.
Ele se levanta e veste sua jaqueta. Levanto-me e vou até a porta. Matt
vai também e estende a mão para apertar a mão de meu pai.
— Não desrespeite a minha filha — diz meu pai.
— Sim, senhor — diz Matt. Ele abaixa a cabeça e coloca as mãos nos
bolsos, parecendo muito como o que Seth fez hoje quando o repreendi por
falar sobre algo privado com Matt.
Papai se inclina e me puxa para um abraço rápido. Isso é novo também.
Não me lembro dele fazendo isso antes. Ou, pelo menos, não há um bom
tempo.
— Boa noite, pai — falo. — Obrigada por aparecer.
— Vou tentar fazer isso mais vezes — diz ele em voz alta, olhando na
direção de Matt.
Matt acena e abaixa a cabeça ainda mais. Eu rio.
— Sua mãe quer falar com você — meu pai fala e meu riso morre.
— Por quê?
Ele respira fundo.
— Ela só quer.
— Vou pensar sobre isso — digo a ele.
Meu pai sai, e eu fecho a porta atrás dele.
Matt cai sobre o sofá e se deita, jogando os braços para o alto.
— Oh, meu Deus — ele murmura, mas está rindo também. Sua barriga
vibra com o riso. — Por que você não me disse que ele estava aqui?
Ele tem uma perna no sofá e outra no chão, então, eu fico de joelhos
entre suas pernas e inclino-me sobre ele, segurando-me com as mãos
espalmadas sobre seu peito. Matt não me deixa ficar assim. Ele me puxa
para seu peito e me segura perto de si. Seu corpo sobe e desce abaixo de
mim, firme e sólido.
— Eu teria dito que ele estava aqui se você tivesse me dado tempo. —
Rio contra ele.
— Não se atreva a rir — diz ele. — Isso é serio. Seu pai vai me odiar a
partir de agora.
— Não me importo com o que ele pensa — falo. Me estico um pouco
mais para que meus lábios fiquem mais perto dele. — Esse foi o pior beijo
de todos os tempos — sussurro dramaticamente.
— Eu sei — ele sussurra de volta. Suas mãos pousam na minha cintura,
e ele me levanta, trazendo minha boca ainda mais perto da dele. Ele levanta
a bainha do meu pijama, e suas mãos quentes tocam minha pele nua. —
Nunca mais vou te beijar. Porque foi horrível.
— Terrível — sussurro, olhando para seus lábios. — Mas acho que nós
deveríamos, sim, tentar de novo.
Matt conecta um braço atrás de mim e nos vira. Ele olha para mim.
— Você acha que isso é engraçado? — ele pergunta. Mas está sorrindo,
então, não estou preocupada.
— Hilário. Você não acha?
Seu rosto se abaixa até que seus lábios pairem sobre os meus.
— Você é tão incrível que faz meu coração doer às vezes — ele fala. Meu
coração acelera, batendo com força no peito.
— Beije-me, Matt — eu sussurro.
Finalmente, seus lábios tocam os meus. O beijo na porta foi cheio de
paixão e desejo. Mas este é macio e quente e tão genuinamente perfeito que
me contorço debaixo dele, tentando me aproximar. Seus lábios deslizam
nos meus, macios, úmidos e sedosos. Sua língua lambe a minha boca e,
quando ofego com a sensação, ela entra. Seus quadris balançam contra o
meu, e posso sentir seu comprimento pressionado contra minha barriga.
Ele é duro e enorme, mas ainda é tão gentil. Toco minha língua na sua e,
quando ele tenta se afastar, mordisco seus lábios até que ele geme contra a
minha boca e volta para dentro.
Três batidinhas em meu braço me afastam dos lábios de Matt. Abro os
olhos para encontrar os olhos escuros de Mellie olhando para nós. Matt
afasta-se de mim quando digo algo contra seus lábios. Então, ele percebe
que Mellie está lá. Ele se senta e eu me ajeito para sentar também.
— O que houve, Mellie? — pergunto. Mas então, percebo o que está
errado. O cheiro me atinge, e tenho que cobrir a boca. — Está se sentindo
mal? — pergunto.
— Vomitei na minha cama — ela fala tão baixinho que mal posso ouvi-
la.
Oh, inferno, o que devo fazer agora?
— Você acordou Seth? — pergunto.
Ela balança a cabeça, os olhos cheios de lágrimas.
— A porta dele estava trancada.
— Oh, está tudo bem — respondo. Seguro a mãozinha pegajosa, e Matt
se levanta com a gente. — Desculpe — falo para ele.
— Não se preocupe.
— Vejo você amanhã? — pergunto estremecendo, porque me sinto mal.
— Vou ajudá-la — ele fala. — Por que não dá um banho nela enquanto
troco os lençóis?
Ele vai em direção ao armário e procura entre as pilhas de roupas de
cama até encontrar um jogo de lençóis que o agrada.
— Você quer ajudar? — pergunto.
Ele olha para mim como se eu estivesse maluca.
— Claro.
Se eu não estava apaixonada por ele antes, estou muito mais perto
agora. Ele sequer me beijou, mas tenho mil borboletas voando na barriga.
Levo Mellie ao banheiro, dou banho e visto pijamas novos nela. Quando
saio do seu quarto, depois de colocá-la na cama, encontro Matt colocando
os lençóis sujos na máquina de lavar. A porta de Seth se abre, e ele enfia a
cabeça para fora.
— O que há de errado? —pergunta.
— Mellie passou mal — sussurro.
— Ela está bem? — Ele entra no quarto dela e sai um minuto mais
tarde, depois de verificá-la. — Desculpe eu não ter ajudado com isso — ele
fala timidamente.
— Está tudo bem. Nós cuidamos dela. Volte para a cama — sugiro.
— Deve ter sido algo que ela comeu. Ela não está com febre. — Seth não
parece preocupado.
Provavelmente, foram os cinco biscoitos que deixei que ela comesse
após o jantar. Seth me disse que era má ideia e eu não o ouvi.
— Deve ter sido. Volte para a cama.
Seth olha de mim para Matt e arqueia a sobrancelha.
— Ok — ele diz com um sorriso.
— Cala a boca — Matt resmunga alegremente. Seth balança a cabeça e
vai para o seu quarto, fechando a porta.
— Ele nunca tranca a porta — falo, tentando descobrir o motivo de ele
ter feito isso.
Matt sorri.
— Às vezes, os adolescentes precisam trancar suas portas — diz ele. —
Confie em mim, está tudo bem. — Ele coloca as mãos nos meus ombros e
me leva de volta para o sofá.
— Oh, você acha que ele estava fazendo isso? — pergunto. Ainda estou
sussurrando.
— É um bom palpite — diz ele com uma risadinha.
— Está vendo? — falo, erguendo minhas mãos — Não sei nada sobre
crianças.
— Ele é um adolescente — diz ele. — Primeiramente, você sempre pode
pensar que esse é o motivo.
— Como você sabe tanto?
— Quatro irmãos — ele explica. — Lembra? Isso para não falar que sou
um cara. Nós fazemos isso. — Ele sorri.
— Você quer dizer, quando era mais jovem. — Observo de perto seu
rosto.
Seu sorriso fica ainda maior.
— E mais velho.
Meu rosto esquenta. Ele apenas sorri e bate na ponta do meu nariz com
o dedo.
Olho para minha camisa.
— Eu meio que estou cheirando a vômito.
— Sim — ele concorda. — Acho que eu também. — Eu o vi lavar as
mãos depois de trocar os lençóis, e eu também lavei, mas ainda assim não é
muito sexy.
— Obrigada por me ajudar.
— De nada. Estou feliz por estar aqui.
Matt segura a barra da sua camisa e a puxa sobre a cabeça. Ele está
vestindo uma camiseta branca sem mangas por baixo, então não está nu,
mas esta mostrando muito mais pele. Muito mais tatuagens. Muito mais
músculos. Matt é grande e amplo, mas alto e magro. Deixo escapar um
pequeno suspiro sonhador.
— Posso ficar mais um pouco? — Matt pergunta.
— Sim, mas preciso me trocar. — Levanto-me e troco a roupa suja por
uma camiseta comprida e um short de dormir. Quando volto, Matt assobia
baixinho, olhando para minhas pernas.
— Lembre-me de fazê-la vomitar em você cada vez que estivermos no
sofá.
Sorrio. Sento-me ao seu lado, e ele me puxa para mais perto. Então, ele
se deita para que eu esteja em volta dele. Meu quadril está escondido entre
ele e parte de trás do sofá.
— Não quero ir para casa ainda — diz ele, em voz baixa. Ele coloca
minha cabeça em seu peito, e eu pressiono meu rosto contra ele. Sua mão
se instala na parte de trás da minha cabeça, e ele começa a acariciar meus
cabelos.
— Então não vá — falo em voz baixa.
Ele não vai.
Ele enfia os dedos no meu cabelo e acaricia minhas costas com a outra
mão, mais e mais, até que minhas pálpebras ficam pesadas e eu adormeço
em seu peito.
Acordo na manhã seguinte, deitada em minha própria cama, as cobertas
puxadas até o queixo. Sento-me e olho ao redor. Ao meu lado, no
travesseiro, tem um bilhete. Abro e leio.
Você já está apaixonada por mim?
M AT T

O lho novamente para o relógio na parede e Paul faz uma carranca para
mim.
— Você está contando os minutos? — ele pergunta.
Sim, meio que estou.
— Não — resmungo.
Paul apenas revira os olhos.
— Que horas é o treino? — ele pergunta.
— Sete — murmuro enquanto limpo minha área de trabalho. — Quer
ir?
Pete sai da parte de trás, onde estava fazendo um piercing.
— Eu quero ir — ele fala e manda o cara que estava atendendo pagar à
Friday, que recebe o dinheiro e o leva até a porta.
— Também quero ir — Friday fala e começa a arrumar suas coisas.
Paul ergue as mãos e pergunta:
— Será que alguém vai trabalhar hoje à noite?
— Não — todos nós falamos ao mesmo tempo.
Logan ri e puxa Emily para o seu lado. Ela cai contra ele e sorri.
— Quer ir? — ela pergunta.
— E você acha que eu perderia a chance de ver Matt sendo puxado
pelas bolas? Não mesmo! — Logan ri quando ameaço ir para cima dele e se
esconde atrás de Emily.
Pete continua a zoação.
— Ele deveria colocar uma cordinha no piercing que tem no pau. Assim,
ela poderia puxá-lo por aí. — Ele ajeita seu membro de brincadeira. —
Poderia colocar nas bolas também, cara.
— Pare de falar das minhas bolas — advirto, apontando para as
meninas.
Friday sorri para mim.
— Todas nós sabemos que você tem um piercing aí — ela fala, fazendo
um movimento em direção à minha calça.
Faço uma careta, mas não me importo. Todo mundo sabe sobre isso. Fiz
o meu logo depois que Paul fez o dele. Apenas Pete e Logan não têm. Até
Sam é perfurado. Logan tem uma barra na base do seu pênis. Puta merda.
— E pare de falar do meu pinto. — Pego Friday em uma chave de braço
e puxo-a contra mim. Ela grita e tenta segurar minha mão.
— Não desmanche meu cabelo — ela avisa, me bloqueando. — Não é
fácil ficar bonita assim.
Na verdade, Friday é linda de morrer, com seu estilo pin-up dos anos
cinquenta. Ela usa roupas vintage e batom vermelho. Às vezes, acho que ela
ganha gorjetas apenas sorrindo. Mas, às vezes... às vezes vejo uma ponta de
tristeza aparecendo em seus olhos. É um flash rápido. Não sei se mais
alguém percebe isso.
Pete digita algo em seu telefone muito rapidamente. Ele finalmente olha
para cima.
— Reagan disse que vai nos encontrar lá.
Ótimo. Agora toda a minha família vai comigo passar um tempo com
Sky. Uhu. Era de se imaginar que pelo menos um deles fosse lutar, tendo em
vista a comitiva. Bastardos fofoqueiros.
Pegamos o metrô e chegamos lá quando os meninos estão se
aquecendo. Eles correm em círculo ao redor do tatame enquanto vou me
sentar ao lado de Sky, que está nas arquibancadas com Mellie e Joey
sentadas aos seus pés. Ambas estão pintando um livro de colorir. Elas
olham para cima e sorriem quando me veem. Inclino-me no banco e
observo os desenhos. Elas estão colorindo-os com atenção. Isso vai entretê-
las por cerca de cinco minutos. Espero que Sky tenha trazido mais coisas
em sua grande bolsa para distraí-las.
Sento-me no banco ao seu lado e, em seguida, empurro-me contra ela
muito suavemente, até estar pressionado ao seu corpo do ombro ao joelho.
Ela se aconchega e balança a cabeça, o rosto ficando vermelho.
— Oi — falo em voz baixa.
Olho em seus olhos.
— Oi —responde. Ela está tão linda. Deve ter vindo da casa, pois está
vestindo calça jeans e uma camiseta. Há uma jaqueta no assento ao seu
lado. — Como foi seu dia? — ela pergunta.
— Melhor agora que estou com você — admito. Ela sorri e se inclina
para mim. Eu me inclino e sussurro. — Me dá um beijo?
Ela empurra meu ombro.
— Aqui, não. — ela sussurra e olha em volta.
— Por favor — falo, colocando as palmas das mãos juntas, como em
oração.
Ela se inclina para frente muito rapidamente e toca seus lábios nos
meus. O beijo de ontem à noite, com nossas línguas se tocando e seu corpo
pressionado contra o meu foi muito incrível, mas esse toque rápido quase o
vence.
— Obrigado — falo. Não posso esconder meu sorriso, então, nem tento.
Ela me bate, revirando os olhos.
— Senti sua falta hoje — digo a ela.
Ela olha para cima.
— Obrigada pelo bilhete no travesseiro — ela fala calmamente.
Coloco uma mecha de cabelo atrás da sua orelha. A maior parte está
preso em um rabo de cavalo adorável, exceto pela mecha que escapou.
— Eu realmente queria ter ficado na cama com você.
Seus olhos encontram os meus.
— Você deveria ter ficado.
Balanço minha cabeça.
— Não queria que Seth achasse que passei a noite. — Essa merda é
importante para as crianças.
Ela balança a cabeça lentamente.
— Foi muito bom ficar abraçado com você no sofá. — Estou ficando
duro, então, é melhor cortar esse papo.
— Você é bom como travesseiro — ela sussurra.
— Apenas como travesseiro? — Finjo puxar uma faca invisível do peito.
Ela me cutuca com o dedo indicador.
— Um bom travesseiro duro — diz ela.
— Duro é bom — falo. Desvio o olhar para onde os meninos estão se
aquecendo, pois preciso me concentrar em algo que não seja ela. Quero-a
tanto que mal posso suportar.
Os meninos estão alongando as costas e pescoços, e fazendo alguns
movimentos bastante impressionantes. Seth está com sua equipe e ele se
exercita com um rapaz que deve fazer parte da sua categoria de peso. Ele
vira o outro menino de costas, e desejo ir até lá mostrar-lhe como ele
deveria ter feito aquilo. Mas ele não é meu filho e nem sou seu treinador.
Reagan e Pete sentam-se do outro lado de Sky, e Reagan começa a falar
com ela. Estou feliz por ter alguém aqui para distraí-la, porque tudo que
quero é arrastá-la para uma escada e beijá-la intensamente.
Pete faz um movimento para mim como se estivesse enfiando uma
agulha muito perto do seu pau e, em seguida, dá um puxão como se o
estivesse guiando por ali. Olho para ele, e ele ri. Paul senta-se atrás de nós,
com Friday ao seu lado e ri também.
— Calem a boca — resmungo.
Viro-me para assistir ao treino. Seth é realmente muito bom no que faz.
Mas gosto de ver todas as crianças, em todas as categorias de peso. Logan e
Emily seguem em nossa direção e sentam na nossa frente. Agora, Sky tem
um Reed de cada lado dela. Mellie e Joey estão ficando um pouco inquietas
e Joey vai mais para baixo das arquibancadas sem que Sky perceba. Ela
ainda não está acostumada a ser mãe. Ela só percebe quando Joey chega ao
último degrau. Então, se levanta para ir atrás dela.
— Vou buscá-la — falo e me levanto. Desço rapidamente os degraus e
Joey olha timidamente para mim. Ela sabe que não passaria despercebida.
Pego-a em meus braços e a levo de volta até Sky. Ela se estica para fora
do meu colo e eu faço um barulho com a boca em sua barriga. Ela ri e a
estufa, como se quisesse a brincadeira novamente. Então, eu faço. Ela ri, e o
som é tão feliz que me tira o fôlego.
Sento-me e seguro-a no colo, então, pego meu telefone e abro o Angry
Birds. Mostro a ela como jogar e, rapidamente, ela começa a lançar
pássaros. Ela se move do meu colo para sentar-se ao meu lado, e Mellie se
inclina contra ela para assistir. Isso deve entretê-las por mais algum tempo.
— Por que isso parece tão natural para você? — Sky pergunta baixinho.
— O quê? — pergunto. Estremeço quando um dos meninos faz um
movimento terrível no tatame. — Isso não foi bom — digo a ele, mesmo
sabendo que não pode me ouvir.
— Tudo isso — diz.— Você faz tudo tão bem.
Olho para ela.
— O quê?
— Você distraiu Mellie e Joey e está assistindo ao jogo, e aposto que vai
conversar com Seth e dizer-lhe tudo o que ele fez de errado quando
chegarmos em casa.
Casa? Eu sorrio.
— Vou para casa com você hoje à noite? — pergunto ao lado de sua
orelha.
— Acho bom — ela fala.
Meu coração acelera.
— Certo — suspiro.
Depois de alguns minutos, Logan se vira para falar comigo. Ele fala e faz
sinais ao mesmo tempo, assim como eu.
“O pai dela”, diz ele por sinais, apontando para a porta. Afasto-me
alguns centímetros dela.
— Obrigado pelo aviso — respondo e bato com a mão em seu ombro.
“Por nada” Ele sorri e balança a cabeça. Pete puxa sua corda imaginária.
Quero dar um soco nele.
Meus irmãos estão fazendo apostas sobre os pesos-pesados. Acho que
Seth tem cerca de setenta e dois quilos. Ele é alto e magro, muito parecido
comigo, embora eu pese pouco mais de noventa quilos agora. Paul e Logan
são grandes e volumosos e sempre lutaram nas categorias mais pesadas. Eu
era da mesma categoria que Seth.
O pai de Sky senta-se ao nosso lado e eu estendo a mão para apertar a
dele. Ele olha para mim, mas em seguida, Mellie e Joey mostram-lhe o meu
telefone, e ele fica interessado em entretê-las. Sky inclina-se contra meu
ombro, observando os combates. Ela esconde o rosto quando um dos
meninos cai no tatame.
— Isso não vai acontecer com Seth, não é? — ela sussurra com
veemência.
Dou de ombros.
— Talvez. — Sorrio para ela e aperto seu nariz. — Não se preocupe. Ele
está acostumado a isso.
— Ele não vai se machucar, não é? — ela pergunta.
Seguro sua mão na minha e aperto.
— Pare de se preocupar. Ele vai ficar bem.
Quando é a vez de Seth, ela puxa a mão da minha e senta-se inclinada
para frente. Olha para ele de perto, desviando o olhar para Mellie e Joey a
cada poucos segundos para se certificar de que estão bem. Acho que ela vai
chegar a conclusão de que essa coisa de ser mãe é ainda melhor do que ela
jamais imaginou.
Seth aperta a mão de seu oponente, e a campainha soa. Estremeço
porque o outro garoto é, obviamente, mais velho e mais experiente do que
ele. Seu adversário tem uma tatuagem no pescoço, o que significa que ele
tem, pelo menos, dois anos a mais.
Seth se vira, e Sky grita e esconde o rosto atrás do meu ombro. Ela olha
para cima, mas vira para mim a cada poucos segundos, quando algo
acontece. Seth está alguns pontos à frente, mas esse garoto poderia,
honestamente, imobilizá-lo a qualquer momento, a menos que Seth tenha
sorte. Acho que o garoto está brincando com ele.
— Vamos, Seth — o Sr. Morgan chama. O garoto olha para cima e sorri.
Eles lutam por um segundo e, caramba, Seth tem muita sorte. Ele ganha
mais alguns pontos, e o relógio continua correndo.
Seth o atinge e ganha mais pontos. Sky fica de pé e bate palmas quando
eles levantam seu braço no ar. Ele sorri e vai apertar a mão do técnico
adversário. Em seguida, para na beira do tatame, levanta uma mão para o
céu, e diz algo baixinho para si mesmo. Ou para sua mãe. Não tenho certeza.
Em seguida, ele encontra um ponto no banco de sua equipe e se seca com
uma toalha. Estou muito orgulhoso dele. Não que eu tivesse alguma coisa a
ver com isso, mas aquele garoto poderia, facilmente, ter vencido se Seth
não tivesse as habilidades técnicas que tem. Ele fez um trabalho realmente
bom.
Sky sorri.
— Acho que gosto de luta — ela fala.
— Diga isso para as marcas de unha no meu braço — provoco.
Sua voz soa como um leve ronronar.
— Depois, vou beijá-las para você sarar.
Friday deve ter ouvido, pois bufa atrás de nós. Sky ri e pisca para mim.
Ela se encaixa com a minha família. E eu me encaixo na dela.
Esperamos até o final do treino para pegar Seth. Seu pai se aproxima e
beija-lhe a testa. Ela se assusta por um segundo, e eu me pergunto o
porquê.
— Ele foi muito bem — diz.
Sky concorda.
— Foi, sim.
— Tenho que ver a sua mãe — diz ele.
Os olhos de Sky se estreitam.
— Por quê? Algo está errado?
Ele evita o olhar dela.
— Nada fora do normal — diz ele.
— Oh — Sky respira. Ela não parece chocada, e não tenho ideia do que
estão falando. Ele acena e vai abraçar Seth, Então, vai embora tão
rapidamente quanto chegou. Sky fica ali, segurando Joey com uma mão e
Mellie com a outra. As meninas estão ficando cansadas e chorosas.
— Vocês querem jantar? — pergunta Paul.
Sky balança a cabeça.
— As crianças já comeram e têm que ir para a cama. Mas obrigada pela
oferta. Fica para uma próxima?
— Claro que sim — diz Paul. Ele coloca um braço em volta dos ombros
de Friday e os dois vão embora com Logan, Emily Pete e Reagan.
— Eles estão namorando? — Sky pergunta, apontando para Paul.
Balanço minha cabeça.
— Ele quer, mas acha que ela gosta de meninas — falo. — Paul é o único
que não sabe a verdade.
— Que engraçado.
— Acho que é o motivo pelo qual eles são tão próximos. Seria
complicado para eles. Ele não costuma ser amigo de garotas. — Dou de
ombros. — Esse “relacionamento” funciona para eles.
Seth sai, vestindo um short e agasalho. Ele tomou banho, então não está
malcheiroso como alguns dos outros meninos. Aperto sua mão como os
caras fazem. Ele sorri.
— Fez um bom trabalho — eu digo.
— Eu quase fu... — Ele lança um olhar a Sky. — Quase estraguei tudo
uma hora.
Eu rio.
— É verdade.
Entramos no carro de Sky e voltamos para o apartamento, com Seth
resmungando sobre ter de se sentar no banco de trás com as meninas.
Quando chegamos, o paro por alguns minutos.
— Você se importa se eu for com vocês para passar algum tempo com
Sky? — pergunto.
Seus olhos estreitam-se para mim.
— Faria alguma diferença se eu não quisesse? — ele pergunta.
— Sim — admito. — Isso é muito importante.
— Nesse caso, não me importo — diz ele. Ele dá um soco no meu braço
e corre para dentro do prédio antes de mim, perseguindo Mellie e Joey no
elevador. Ele segura a porta para nós, e vamos todos juntos.
— Para a banheira — Sky fala assim que chegamos na porta. As
meninas correm em direção ao banheiro.
— Você está ficando muito boa nessa coisa de dar ordens — falo,
puxando-a para mim. Prendo meus dedos nos passadores de sua calça e
puxo-a para mais perto.
— Beije-me — ela manda, rindo.
Seth faz um som como se estivesse engasgando. Finjo que vou pegá-lo.
Ele ri.
— Vou ajudar as meninas — diz ele, revirando os olhos.
Finalmente, começo a beijá-la. Ela envolve seus braços no meu pescoço
e puxa minha cabeça em sua direção. Estou quase sem fôlego quando uma
criança sai correndo nua pela cozinha. Eu rio, e nós nos afastamos.
— Vou buscá-la — falo. Pego a toalha que Seth joga e vou atrás de Joey.
Pego-a e levo-a de volta para o banheiro, embrulhada em uma toalha
branca macia. Entrego-a Seth e olho ao redor. Percebo que estou, de
repente, onde sempre quis estar. Agora, só preciso descobrir como tornar
isso permanente.
SKYLAR

A última vez que meu pai me convidou para almoçar, ele me deu três
filhos e uma vida nova. Estou um pouco preocupada com o que ele quer
hoje. Faz uma semana desde o treino de luta e papai me ligou quatro vezes
desde então, só para conversar. Estou tendo um pouco de dificuldade em
me adaptar à presença de um pai em minha vida, particularmente agora
que sou adulta.
Estou trabalhando em casa hoje, então ele virá para o apartamento. Fiz
um almoço simples para nós. Uma batida soa na porta, e vou abrir para ele
entrar.
— Oi, pai — falo, quando abro a porta. Ele se inclina para beijar meu
rosto e tirao paletó.
Não fiz alterações no apartamento, mas ele olha em volta e acena com a
cabeça.
— O lugar parece bom — diz ele.
— Obrigada? — falo, sem saber porque estou agradecendo.
— Conversei com Seth ontem — ele fala enquanto se senta e abre um
guardanapo de pano em seu colo.
— Ah, é? Sobre o quê?
Ele dá de ombros.
— Nada de importante. Às vezes, gosto de ligar sem um motivo
específico.
— Você também costuma ligar para as crianças de Lydia e Tim? — Eles
são meus irmãos, mas são bem mais velhos que eu, e nós nunca fomos
próximos. Nem me lembro os nomes de seus filhos. Isso me faz sentir mal
por um segundo, mas afasto o sentimento rapidamente. Eles não sabem os
nomes dos meus filhos também.
Ele balança a cabeça.
— Sim.
— Então é só comigo que você nunca teve um relacionamento? — As
palavras saem e flutuam no ar antes mesmo que eu perceba o que disse.
Quero engoli-las de volta, mas é tarde demais.
— Quando conheci sua mãe, eu estava falido. Fui para a faculdade na
Virgínia com uma bolsa e, um dia, a vi andando descalça na grama. — Ele
sorri. — Ela era a coisa mais linda que já vi. Estava usando um vestido
verde florido, e as unhas dos pés estavam pintadas de rosa. Seu cabelo caía
sobre os ombros em uma profusão de cachos.
Nunca vi meu pai sendo nostálgico. Não tenho certeza se gosto.
— Eu era um nerd total e ela era a pessoa com o espírito mais livre que
já conheci. Me apaixonei em segundos.
— O que aconteceu? — pergunto. Paro de comer porque nunca o ouvi
falar de si mesmo antes, e tenho medo de que não continue. Não quero que
ele pare, apesar do fato de esse sentimento ser tão estranho para mim. Na
verdade, quero ouvir sobre seu passado.
— Eu mexia com computadores. Isso era tudo que eu queria fazer, até
que a conheci. Então, a vida tornou-se divertida e brincalhona.
Construíamos fortes em nossos quartos de dormitório e depois passávamos
o dia embrulhados dentro deles. — Seu rosto fica um pouco vermelho e ele
tosse. — Foi mágico.
— Essa não parece a mamãe.
Ele faz um barulho.
— Eu sei —fala. — Mas ela era incrível. Nos casamos e, em seguida, sua
mãe ficou grávida de Tim e depois, de Lydia. Nós não tínhamos um tostão
no bolso, mas éramos felizes. Muito felizes. Às vezes, dói só de pensar
naqueles dias. Porque, então, as coisas mudaram.
— Você a traiu.
Seus olhos encaram os meus.
— Não. Isso foi depois.
— Depois do quê?
— Sua mãe ficou grávida pela terceira vez, mas perdeu o bebê. A
gravidez estava muito adiantada. Ela entrou em depressão e foi muito
difícil sair. Ao mesmo tempo, vendi, para uma grande empresa, alguns
softwares de computador que tinha feito e, de repente, ganhamos dinheiro.
Sua mãe começou a melhorar. Mas eu trabalhava muito e, pouco a pouco,
ela começou a se afastar de mim. Ela começou a se vestir com
extravagancia e sair para almoçar com alguns amigos que eram realmente
ricos. Nós também fomos ficando cada vez mais ricos.
— Eu não sabia sobre o bebê.
— Então, eu trabalhava o tempo todo para conseguir sustentar sua
necessidade de ter mais coisas, carros maiores, e joias. — Ele balança a
cabeça. — A garota que conheci na grama naquele dia, de repente
desapareceu, e trabalhei muito duro para trazê-la de volta. Eu tinha uma
quantidade limitada de tempo e muito menos energia, mas tentei. Sua mãe
me afastava o tempo todo, até que finalmente percebi que estávamos
apenas dividindo uma casa. Não estávamos mais apaixonados. Não éramos
mais um casal.
— Foi quando você conheceu a mãe de Kendra.
Ele balança a cabeça.
— Ela trabalhava em meu escritório. Foi terrivelmente inadequado, e eu
ainda me sinto mal sobre isso. Mas o que mais me machucou foi que,
quando terminei as coisas, ela foi contar os meus pecados para sua mãe. E
sua mãe simplesmente não ligava mais. Ela queria manter seu estilo de vida
e nada além disso. Então, mantive o relacionamento com a mãe de Kendra.
E sua mãe tornou-se a mulher que é hoje.
— Fria e sem coração.
— Ela não é fria e sem coração — ele protesta. — Ela está apenas...
magoada, eu acho. Não sei. Ela nunca superou aquele bebê. E ela nunca
voltou para nós. E nem eu.
— Pai — começo. — Como é que vocês dois acabaram me tendo? Sou
quinze anos mais jovem do que meus irmãos. É como começar uma família
totalmente nova.
Ele sorri.
— Foi uma loucura. Um dia, fui para casa, e sua mãe estava no jardim.
Ela tinha sujeira da ponta do nariz até os dedos dos pés. Honestamente, ela
estava um pouco maluquinha naquele dia, parecendo com seu antigo eu.
Não sei o que aconteceu, mas foi como se alguém tivesse virado um
interruptor nela. Olhei em seus olhos e vi a mulher por quem me apaixonei.
Ele sorri.
— Ela me olhou, no meio daquele monte de sujeira e perguntou se eu
queria ajudar. Empurrou uma espátula para mim, e eu tirei casaco e enrolei
as mangas da camisa. Estávamos sujos e, de repente, os irrigadores
automáticos ligaram, nos encharcando. Sua mãe, que geralmente andava
toda arrumada e dava um chilique se ficasse molhada ou suja,
simplesmente deixou-se cair na grama e riu. Foi quando percebi que ela
estava sóbria. Estava completamente e totalmente sóbria, e fazia muito
tempo que ela não ficava assim.
— Ela estava no AA e fazendo terapia e eu não tinha notado. Ela não
estava tomando remédios para dor. Sua cabeça estava clara e ela estava
rindo e parecia aquela menina engraçada e inteligente que conheci na
faculdade. Mas mais velha e melhor. E eu percebi que ainda a amava. Me
esforcei muito para cortejá-la e fazê-la se apaixonar por mim novamente. E
consegui. Ela me deixou voltar.
— Você parou de ver a mãe de Kendra?
Ele balança a cabeça.
— Não conseguia parar de vê-la totalmente, pois nós tivemos uma filha
juntos, mas terminei o relacionamento. Ela ficou com o coração partido,
mas superou. Acho que ela respeitou o fato de eu querer meu casamento
novamente. — Ele dá de ombros. — Ela se apaixonou e se casou, e o
relacionamento não tinha que que ser em segredo. Naquela época, casais
inter-raciais não saíam em público sem alguns olhares muito
desagradáveis. Particularmente, homens brancos ricos que já eram
casados. Mas ela conheceu um homem e se casou. Ela estava feliz. E eu
estava feliz com sua mãe. — Ele sorri. — E você nasceu. Sua mãe ficou em
êxtase.
Sorrio.
— Você é um belo mentiroso, pai.
Ele levanta as mãos como se estivesse se rendendo.
— Não estou mentindo. Era como se estivéssemos começando de novo.
Espero, porque ele vai deixar cair a bomba em mim em breve. Posso
senti-la chegando.
— Então, quando você tinha cerca de cinco anos, notei que ela voltou a
almoçar com os velhos amigos e, de repente, começou a me afastar. Ela
voltou a beber e ficar interessada apenas em dinheiro. Não importava o que
eu fizesse, ela não aceitava ajuda. Mas eu fiquei ao lado dela. Nunca a
abandonei. Até que a mãe de Kendra morreu, e sua mãe festejou, mesmo
que essa relação tivesse acabado há anos. Nunca fui capaz de perdoá-la por
isso.
— Ding-dong, a cadela está morta — sussurro.
Ele se assusta.
— Você sabia disso?
Aceno e lágrimas enchem meus olhos. Tento segurá-las.
— Ela estava bêbada quando isso aconteceu. Quando me contou, quero
dizer.
— Contratei babás para cuidar de você, porque ela simplesmente não
era capaz. Trabalhei muito porque tinha que mantê-la no estilo de vida a
que ela estava acostumada. Olhando para trás, eu deveria tê-la forçado a
começar o tratamento. Ela poderia ter sido uma mãe maravilhosa para você
se eu tivesse feito isso.
— Já passou muita água debaixo da ponte, pai — falo. — Nada disso
pode ser alterado agora. — Começo a tirar os pratos da mesa.
— Sua mãe está na reabilitação de novo — ele deixa escapar.
Afundo de volta na cadeira, e os pratos batem no tampo da mesa.
— Agora?
Ele balança a cabeça.
— Sim, agora. Ela foi. Eu a vi ontem. Ela parece estar bem. Como era
antes. E quer falar com você.
Sinto como se alguém tivesse tirado todo o meu ar.
— Achei que você tinha me pedido para ficar com as crianças porque
sabia que eu não me importaria com o fato de você já ter tido um
relacionamento com a mãe de Kendra.
Eu poderia muito bem ter lhe dado um tapa.
— Pedi que ficasse com eles porque você tem mais amor para dar do
que qualquer outra pessoa que eu conheço. Eles precisavam de você.
— Não, pai — corrijo. — Eu precisava deles. Eles não me amam ainda,
mas acho que vamos chegar a esse ponto. Tenho esperança de que um dia
eles me amem, pois sei que eu os amo. Todos eles.
— Achei que vocês realmente se apaixonariam.
— Por que o súbito interesse na minha vida, papai? — pergunto. —
Telefonemas e almoços, você aparecendo para assistir aos treinos... não sei
o que fazer com tudo isso. Não sei porque você está fazendo isso. — Bato
meu punho na mesa, e os pratos tremem. — Você não tem que fingir que
me ama para que eu os ame.
— Não estou fingindo, Sky. Eu amo você. Sei que estraguei tudo. Mas
ainda sou seu pai, e se você deixar, quero estar ao seu lado.
— Quero. Quero. Quero. — Gesticulo. — Isso é tudo que você faz, pai.
Você toma. Você tomou da mãe de Kendra. Você tomou de Kendra. Você
toma das crianças porque elas te fazem sentir amado. Não há nada como o
amor incondicional das crianças. — Aperto meu punho na frente do
coração. — Você pegou da minha mãe.
— Sua mãe tem seus próprios demônios.
— E você também, pai. Chama-se ser um mentiroso infiel.
Ele abre a boca para protestar, mas seguro sua mão.
— Você sabia que não consigo ter um relacionamento saudável com um
homem porque estou constantemente esperando que ele vá embora? Estou
sempre esperando e esperando que ele se vire e vá embora, como você fez.
Estou sempre esperando que ele vá me deixar. E não me importo se ele vá,
porque nunca deixo ninguém chegar perto o suficiente para me machucar.
Jesus Cristo. De onde veio isso?
Levanto-me e, finalmente, colocar os pratos na pia.
— Acho que você deve ir, pai — eu digo. Seguro a beiraada do balcão,
porque meus joelhos estão prestes a ceder.
Ouço papai se movimentar. Em seguida, ele se aproxima e beija minha
têmpora muito rapidamente.
— Eu te amo, Sky — diz ele.
Em seguida, ele se vai. E só quando ele sai da sala é que eu desabo. Caio
sobre o sofá e coloco a cabeça em minhas mãos e soluço. Choro porque não
pedi nada disso. Não pedi para ele despejar sua alma na mesa da minha
cozinha. Agora, sei o suficiente para que tenha pena dele, e eu preferia odiá-
lo. Preferia sentir absolutamente nada. Ouço um barulho na porta, e ela se
abre. Estou prestes a gritar com papai, mas vejo Seth entrar. Ele para ao me
ver.
— O que há de errado? — pergunta.
Forço um sorriso e enxugo meus olhos com as pontas dos dedos.
— Alergia — respondo. — Por que você está em casa tão cedo?
— Temos aula só até o meio-dia hoje.
— Oh. — Ele deve ter se esquecido de me dizer que saía mais cedo. Mas
isso não importa, pois Joey e Mellie teriam ido para a creche mesmo assim.
Levanto-me e tento sorrir para ele. — Vou tomar um banho.
M AT T

P aul senta-se à minha frente na mesa da cozinha, comendo seu cereal


com mel. Ele arremessa um envelope para mim, da pilha de
correspondência. Olho para baixo e observo o envelope. Merda. É o convite.
Abro e finjo lê-lo.
— Você está cordialmente convidado para o casamento da cadela que
trepou, por engano, com seu melhor amigo.
Coloco-o sobre a mesa e aponto para o envelope.
— Olha, ela incluiu toda a família. Vocês podem ir comigo.
— Você vai? — Paul pergunta.
Dou de ombros.
— Não sei porque deveria ir. Não é importante.
Ele sorri.
— Você a esqueceu.
— Inferno, sim, eu a esqueci — respondo. E esqueci mesmo. Estou cem
por cento certo disso. — Tenho absoluta certeza de que estou apaixonado
pela Sky.
Eu a vi todas as noites essa semana. Nos dias em que não pude ir ao
apartamento à noite, fui ao seu trabalho e levei-a para almoçar. Não quero
ficar um dia sem vê-la. Nós ainda não passamos da fase dos beijos quentes,
mas por mim, está tudo bem.
Paul cerra os olhos.
— Isso foi rápido.
— Pete e Logan disseram que foi assim com eles. — Estalo os dedos. —
Rápido.
Paul balança a cabeça.
— Não posso dizer que já senti isso.
Esperemos que um dia ele sinta.
Meu telefone vibra no bolso, e eu o pego. Por que Seth está me ligando
no início da tarde?
— O que manda, Seth? — pergunto. Estou sorrindo ao atender, mas
meu sorriso se desfaz. Ele está quieto. Muito quieto.
— Seth? — chamo.
— Vim para casa mais cedo hoje — diz ele, a voz, um sussurro.
— Certo…
— E a tia Sky estava chorando no sofá.
— Você sabe por quê? — Pego minhas chaves e vou em direção à porta.
— Não sei. Não era um choro bobo. Ela estava soluçando. Sabe quando a
pessoa chega a sacudir os ombros porque mal consegue respirar? Será que
ela está na TPM ou algo assim?
TPM. Suspiro. É melhor que ele não esteja falando isso de onde ela
possa ouvi-lo.
— Onde ela está agora? — Já estou andando pela rua em direção a um
táxi. Entro e continuo conversando com Seth enquanto sigo para o seu
apartamento.
— Ela disse que ia tomar um banho.
— Ok, abra a porta para mim quando eu chegar aí.
— Não sei o que fazer com uma mulher chorando — ele sussurra com
veemência.
Nem eu, mas vamos descobrir.
Ele abre a porta quando eu bato e acena em direção ao quarto de Sky.
Bato levemente na porta. Ela não abre, então, eu testo a maçaneta. Está
aberta e eu entro no quarto. Posso ouvir a água corrente do chuveiro,
então, vou nessa direção.
Ela ainda está chorando. Posso ver seus ombros balançando através do
vidro chuveiro. Tudo o que posso pensar é que ela precisa de um abraço
apertado e carinho. Tiro minhas roupas e abro a porta do box. Ela se vira e,
ao perceber que sou eu, pula em meus braços. Ela está completamente nua,
todo molhada, mas está chorando, então, não posso sequer aproveitar.
Fecho a porta do box e nós dois ficamos sob o jato de água. Afasto o
cabelo molhado de seu rosto.
— O que há de errado? — pergunto. Viro para que minhas costas
recebam a maior parte da água.
Ela não fala. Apenas balança a cabeça no meu ombro e se mantém
firmemente presa a mim. Ela soluça no meu pescoço, e eu só a abraço. Não
sei mais o que fazer por ela. Fico tão perdido quanto Seth está quando se
trata de mulheres chorando. Acho que todos os homens ficam. Mas ela
parece extremamente infeliz, então, acho que só preciso apoiá-la.
Finalmente, seus soluços diminuem e percebo que ela tem um rio de
rímel escorrendo pelo rosto. Muito delicadamente, eu a empurro de volta
para a água e lavo seu rosto para tirar a tinta preta. Pego um frasco de
xampu e ensaboo seu cabelo. Ela fica tensa em meus braços, mas não
resiste ao meu toque. Ela me deixa cuidar dela. Enxaguo seu cabelo e
esfrego seu corpo com a esponja repleta de sabonete. Tento não olhar para
seus seios, mas é difícil. São peitos e eu sou um cara! Isso sem mencionar o
quanto são perfeitos. Forço-me a não roçar neles e presto atenção ao resto
do seu corpo. Ela tem covinhas sobre a bunda, e eu quero lambê-las, mas
não o faço. Em vez disso, desligo a água, saio, e volto com toalhas.
Ela me deixa envolvê-la e secar um pouco o seu cabelo. Enrolo uma
toalha em volta da minha cintura e a puxo pelos dedos para sua cama. Ela
puxa as cobertas, como se estivesse exausta, e desliza entre os lençóis. Eu
me movo para puxar as cobertas até seu queixo, mas ela solta gemidos de
protesto quando tento sair de cima dela.
Ela me deixa envolver meu corpo ao seu redor. Mas então, ela me
surpreende e puxa a toalha, jogando-a no chão. Faço o mesmo com a minha.
Estamos nus entre os lençóis e, oh, meu Deus, não tenho nenhuma ideia do
que fazer com ela. Pensei que quando isso acontecesse eu estaria pronto
para fazer amor com ela. Mas isso, obviamente, não é o que ela precisa
agora, para não mencionar que Seth está no outro quarto.
Afasto seu cabelo molhado e ela vira para me encarar.
— Meu pai veio me visitar hoje.
Não digo nada, porque não acho que ela queira que eu fale. Seus
mamilos são pequenos pontinhos pressionados contra o meu peito, e me
forço a acariciar levemente seu braço em vez de tocá-los.
— Ele abriu sua alma para mim. Contou-me sobre todas as coisas
horríveis que ele e minha mãe fizeram um ao outro e o porquê.
Sua voz é suave, mas não fraca. De modo nenhum. Ela soa nasalada e um
pouco rouca por causa do choro.
— Ele me contou sobre quando me tiveram.
Espero que ele não tenha entrado em detalhes privados, porque seria
muito estranho.
— Não fui um erro. Mas o que eu disse a ele pode ter sido.
— O que você disse a ele? — pergunto baixinho.
— Disse que é culpa dele o fato de eu não poder me apaixonar.
Eu congelo. Onde isso me deixa?
— Por quê?
— Estou acostumada a ficar sozinha. Se eu não contar com ninguém,
nunca vou me decepcionar.
Eu entendo.
— Mas então, você surgiu.
Puxo sua perna por cima do meu quadril. Meu pau está duro, e ela está
ali, mas não posso fazer isso.
— E? — Pergunto. Corro os dedos do joelho ao quadril e roço sobre seu
traseiro nu.
— E acho que me apaixonei por você. Não estou cem por cento certa,
mas sei que gosto muito de você e quero te ter por perto. E agora, estou me
acostumando com você, e tenho medo que você vá quebrar meu coração.
Preciso de você, Matt. Preciso que você me ame também.
Viro-a e fico entre suas coxas. Eu me equilibro nos cotovelos enquanto
afasto seus cabelos molhados da testa.
— Combinado.
Seus olhos encaram os meus.
— Combinado? — ela ecoa.
Concordo com a cabeça e beijo a ponta de seu nariz.
— Quero comer, dormir e respirar você, mulher — falo. Passo meu
nariz para cima e para baixo em seu rosto. Ela treme em meus braços.
Beijo-a rapidamente e ela faz uma carranca.
— Precisar de mim e sentir minha falta não é o mesmo que me amar —
ela fala, mordendo o lábio inferior. Suas sobrancelhas arqueiam. Beijo o
vinco entre elas e, em seguida, aliso-o com meu polegar.
— Você já está apaixonada por mim? — pergunto.
— Você já está apaixonado por mim? — ela repete.
— Sim — digo em voz baixa. — Estou.
— Eu também — ela murmura. Então ela ri e posso sentir sua barriga
tremendo sob a minha. Preciso sair de cima dela ou vou me enterrar em
seu corpo.
— Minha mãe está na reabilitação — ela fala. Viro-me e puxo-a para o
meu peito.
— Sério?
Ela cruza as mãos em meu peito e repousa o queixo sobre elas.
— Sim.
— Como você se sente sobre isso? — pergunto, enquanto acaricio suas
costas nuas.
— O engraçado é que me sinto esperançosa. — Ela solta um suspiro. —
Foda, né? Não importa o que eles façam, ainda os quero na minha vida.
— Você quer o que poderia ser — falo. — Isso é muito normal.
— Quero ser o tipo de mãe que ela não foi. — Ela pisca os belos olhos
azuis para mim.
— Acho que você já está tendo sucesso nisso. — Fico em silêncio por
um minuto. — Sempre disse a mesma coisa. Eu queria ser o pai meu pai
não foi. Ele simplesmente sumiu. Jurei que seria melhor e faria melhor. —
Dou de ombros mentalmente. — Agora, não posso ter filhos, então, acho
que não é mais um ponto discutível.
— Não quero te colocar contra a parede — ela fala e estremece. — Mas
se chegarmos a um ponto em que isso entre nós seja permanente...
— Já chegamos — deixo escapar.
Ela ri.
— Você acha que poderia querer ser um pai para os meus filhos? Como
um pai de verdade? Eles têm pais, você sabe disso, mas não são ativos em
suas vidas.
Meu coração incha no peito e tenho que piscar com força.
— Sim — falo, engolindo o nó na garganta. — Eu os adotaria se eles
quisessem. — Viro-a de costas e me deito entre suas coxas novamente. Mas
só quero olhar para seu rosto. — Você já é a mãe deles e podemos viver
como uma família feliz. Eu já os amo.
Ela afasta meu cabelo do rosto.
— Ama, não é?
— Acho que me apaixonei por eles ao mesmo tempo em que me
apaixonei por você. Em um dia. — Rio, pois estou abrindo minha alma para
ela.
Sky balança os quadris debaixo de mim, e eu deslizo através de sua
umidade.
— Faça amor comigo, Matt — ela sussurra.
Mas ouvimos um barulho e o som de vozes gritando no corredor.
— Oh, merda — diz ela, correndo para sentar-se. — Seth deve ter ido
buscar as meninas mais cedo. — Ela puxa o lençol de cima de mim, me
deixando nu, de costas na cama. Ela para e olha para o meu pau. — Hum...
— Ela aponta para minha masculinidade, e juro que ela pulsa como se
estivesse fazendo um show para Sky. — O que é isso?
— É o meu pau. E se você não parar de olhar para ele, vou trancar a
porta e usá-lo para fazer coisas maravilhosas com você.
Ela ri.
— Já vi um pau antes — diz ela. — Estou falando do piercing.
— Isso é para você me levar ao céu — falo e rio.
Ela ri e cobre a boca.
— Isso não... atrapalha?
Balanço a cabeça e pego minha boxer.
— Você vai amar. Prometo. Ele tem poderes mágicos.
Ela arqueia a sobrancelha.
— Um piercing tem esse tipo de poder?
— Eu estava falando sobre meu pau. Ele é que tem poderes mágicos. —
Ela dá um passo e ri, vestindo a calcinha. Suspiro. Tão perto da Terra
Prometida... — Vou te mostrar um dia, quando não tivermos crianças por
perto.
— Você quer dizer, nunca — ela fala, com uma risada.
Rio também e passo a mão pelo rosto.
— Nunca diga nunca — sussurro. Visto minha boxer e a calça de brim.
Logo em seguida, a porta se abre e Mellie e Joey entram correndo no exato
momento em que eu puxo minha camisa sobre a cabeça. Elas pulam em
cima da cama, e meu momento com Sky termina. Ou ele apenas começou?
Inferno, não sei dizer.
SKYLAR

E staciono o carro no centro de reabilitação e encosto minha testa no


volante. Não sei porque estou aqui. Exceto pelo fato de que meu pai me
pediu para vir. Eu poderia ter dito não. Eu deveria ter dito não.
Mas não disse.
Aproximo-me da recepção e falo o número do quarto de minha mãe,
mas eles me levam para o jardim. A enfermeira me deixa do lado de fora
das portas duplas e as fecha atrás de mim. Em frente, tem um grande pátio
de tijolos com espreguiçadeiras e um mobiliário que parece realmente
confortável. Olho em volta. Não vejo mamãe. Mas, em seguida, uma mulher
se levanta de uma das espreguiçadeiras, e eu a observo de perto. É a minha
mãe. Seu rosto está sem maquiagem e seu cabelo está solto ao redor dos
ombros, com apenas uma mecha presa e não me lembro de tê-la visto
parecer tão natural.
— Mãe? — chamo. Ela se movimenta em direção a uma cadeira de
balanço.
Ela se senta e coloca as pernas para cima, prendendo seus braços em
volta dos joelhos. Ela não se inclina para frente para me dar os beijos no ar
que não significam nada. Não sei como devo agir sem eles. Sento-me e
aperto meus joelhos firmemente.
Ela deita a cabeça contra o assento e inclina-o para mim.
— Estou feliz por você ter vindo — diz ela calmamente. — Surpresa,
mas feliz. — Ela sorri.
Sinto-me, imediatamente, abalada porque não há nenhuma malícia ou
artifício. E, em vez de olhar para as minhas roupas, minha maquiagem ou
meu cabelo, ela está olhando para meu rosto. Propositadamente, não me
arrumei hoje porque queria decepcioná-la com minha aparência, na
esperança de que ela deixasse meus filhos em paz.
— Por que você está surpresa? — pergunto.
Ela encolhe os ombros.
— Se eu fosse você, não teria vindo. — Ela olha nos meus olhos e meu
coração pula no peito, e então, fica preso em minha garganta. Tenho que
engolir em seco para que ele desça.
Seus pés estão descalços e vejo sua pantufa no chão.
— Chinelo bonito — falo.
Mamãe sorri.
— Seu pai me trouxe. — Ela bufa. Nunca ouvi qualquer ruído vindo do
nariz da minha mãe perfeita. — Eles são confortáveis para a situação em
que estou.
— Você está bem? — pergunto.
Ela coloca os pés para baixo, deslizando-os para dentro desses chinelos
horrorosos que ela, normalmente, não usaria em público, nem se estivesse
morta, e passa as mãos para cima e para baixo nos braços.
— Estou melhor hoje. A primeira semana foi meio difícil. Passei os dias
vomitando até quase colocar as tripas para fora.
Minha mãe acabou de dizer a palavra vomitar.
Ela estreita os olhos para mim.
— O que está pensando, Sky?
Balanço a cabeça.
— Nada. — Mesmo que eu pudesse verbalizar isso, ainda não o faria.
Durante toda a minha vida ela foi frágil, e só porque não parece frágil neste
segundo não significa que não seja.
— Seu pai vem todos os dias — diz ela calmamente.
— Ele me disse.
— Fico feliz que vocês dois estejam se falando — ela diz baixinho. Ela
está olhando para mim, realmente olhando para mim, e isso me deixa um
pouco inquieta.
— Por que você queria me ver? — pergunto e solto um suspiro. Sinto
como se todo o ar tivesse sido sugado para fora de mim.
— Tenho que reparar tudo que fiz de mal para as pessoas — diz ela com
um encolher de ombros. Ela se estica e pega um maço de cigarros; balança
um e o acende. Minha boca se abre. Não posso evitar.
— Quando você começou a fumar? — pergunto.
Ela sorri e coloca a cabeça para trás novamente, de forma preguiçosa.
— Você não pode levar toda minha amargura, traição e ódio, o álcool e
as drogas e me deixar sem nada — ela fala com uma risada. Mas não há
nenhuma alegria no ruído. — Vou parar. Só preciso passar por isso.
Concordo com a cabeça porque sinto como se ela tivesse me dado um
tapa.
— Seu pai me disse que teve uma conversa com você — diz. Ela sopra
uma longa baforada de fumaça que parece não ter fim. — Que contou a
você sobre a nossa história.
Eu concordo.
— Ele me disse sobre o bebê e a mãe de Kendra.
Ela não diz nada. Só fuma, deixando a fumaça nos lábios por um
segundo, com um olho fechado.
— Ele disse que você o mandou para o inferno — diz ela sorrindo,
parecendo bonita e insolente.
Um sorriso surge em meus lábios.
— Não disse isso em tantas palavras.
— Você disse a ele que suas escolhas afetaram sua maneira de ver a
vida. Com os homens, em particular. Ou ele entendeu errado?
— Ele tem razão. — Aceno.
— Seu pai não estava sozinho nisso. Sou tão culpada quanto ele, se não
mais. — Ela encolhe os ombros e um sorriso triste atravessa seus lábios. —
Eu era uma péssima mãe, muito profundamente atolada em meus próprios
vícios e meus próprios problemas para ser boa.
— Não preciso de desculpas.
— Sinto muito — ela resmunga. — Você vai recebê-las. — Ela se inclina
e apaga o cigarro. Em seguida, toca meu joelho. — Desculpe-me por não ter
agido melhor. Sempre disse que faria o máximo que pudesse, mas nunca
cheguei a esse ponto. Me desculpe. — Seus olhos observam o ambiente ao
redor e, então, voltam a pousar em mim. — Sempre disse a mim mesma
que amanhã eu mudaria. Mas o amanhã nunca veio. — Ela pisca, tentando
afastar as lágrimas. Nunca vi qualquer tipo de emoção no rosto da minha
mãe antes. Geralmente, ela é uma concha vazia.
— O que você quer que eu diga?
Ela balança a cabeça.
— Não há uma coisa certa ou coisa errada a dizer. Você pode me dizer
como se sente. Pode me mandar para o inferno. Faça o que é certo para
você, porque eu nunca fiz. — Ela aponta um dedo para mim. — Você é
responsável pela sua felicidade e por cuidar do seu coração. Só você. Outras
pessoas contribuem para isso, certamente, mas você não pode esperar que
ninguém te faça feliz, Sky. Ninguém vai fazer isso por você.
Ela se inclina para trás novamente e coloca os pés para cima.
— Agora, me diga como você se sente — ela fala. — Não se segure.
Respiro fundo e abro a boca para dizer a ela que eu nunca seria tão
cruel. Mas o que sai dos meus lábios é algo totalmente diferente.
— Sinto como se eu não tivesse pais — falo. Vocês dois nunca estavam
por perto e, até mesmo quando você estava, era como se não estivesse.
Minhas babás me levaram para aprender dança e o zelador me ensinou a
dirigir. E, cada vez que eu me aproximava o suficiente de um deles para que
pudesse achar que poderiam me amar, você os mandava embora. Era um
castigo duro e cruel. — Coloco a mão no peito, porque, de repente, está
dolorido. — Nunca fiz nada para qualquer um de vocês, exceto existir.
Ficava quieta quando você tinha dor de cabeça ou estava com uma ressaca
tão forte que não conseguia sair da cama. Eu fui uma aluna perfeita, uma
adolescente que não fazia drama. Fiz o máximo para fazer você gostar de
mim. Mas você nunca gostou.
Levanto-me e ando de um lado para o outro. Fiquei esperando que ela
apontasse para a cadeira e dissesse que esse tipo de birra não era coisa de
uma dama, mas ela não faz nada. Ela só olha para mim. E está realmente
olhando para mim, como nunca a vi fazer antes. Seus olhos e ouvidos estão
abertos. Mas será que seu coração está aberto também? Sei que eu não
deveria, mas um pequeno pedaço de mim ainda tem essa esperança.
— Fui para a faculdade e estudei direito, como meu pai. Participei de
eventos sociais e entrei para comitês de caridade, assim como você. Atendi
a todos os seus pedidos, apenas para fazer você feliz. E tudo o que pedi em
troca foi que alguém me amasse. Mas você foi incapaz disso.
Ela acende outro cigarro e vejo uma lágrima rolar pelo seu rosto. Ela
não a seca nem a esconde.
— Mãe, nem sei o que dizer a você. Tentei ser a melhor filha que pude
durante a vida toda, mas nem sei se isso significou algo para você. — Sento-
me e cruzo as pernas. — Por que você foi ao funeral? — Meu pé começa a
balançar e eu meio que espero que ela me mande ficar parada. Mas eu não
conseguiria, nem se quisesse.
— Eu queria ver o que estava competindo comigo — diz calmamente.
— Sempre quis ver. — Ela solta uma respiração. — Quando Kendra era
pequena, eu costumava sentar do lado de fora do apartamento dela para
vê-lo com elas. Ele nunca soube que eu estava lá, mas não se importaria
mesmo. Mandei-o de volta para ela porque estava me sentindo tão
miserável que não conseguia amá-lo, mesmo que ele estivesse sendo
sincero comigo.
O vento sopra seus cabelos, soltando-os, e ela enfia uma mecha atrás da
orelha.
— Eles são inocentes, assim como você era. Merecem ser amados e, por
isso, estou feliz por estarem com você. Ninguém é mais capaz de amar do
que você, Sky. Nunca duvide disso. Você ama e perdoa como ninguém que
já conheci.
— Eu não te perdoei — resmungo.
Ela ri. Isso me assusta e eu aperto os braços da cadeira com tanta força
que meus dedos ficam brancos.
— Se você me perdoasse depois de uma conversa, acharia que você é
fraca e tola. E você não é nenhuma dessas coisas, Sky. Você é forte, corajosa
e ama sem restrição. Eu gostaria de ser mais como você. — Ela ri. — Estou
planejando ser mais como você. Tenho algumas coisas que preciso
trabalhar em mim, mas vou chegar lá.
— Como é estar sóbria? — Deixo escapar. Sim, eu quero magoá-la, mas
ela merece.
— Difícil — ela fala, dá uma tragada em seu cigarro e o apaga. — Muito
difícil. Tudo machuca. Cada memória. Cada pensamento em minha cabeça
dói porque estou cheia de remorso. Tenho arrependimentos, Sky. Lamento
tudo. Gostaria de poder fazer tudo novamente, mas não posso. Sei que você
não confia em mim e, honestamente, não confio em mim mesma. Então, se
você quiser sair daqui e não olhar para trás, eu entendo.
Ela senta-se calmamente, olhando para os recantos mais distantes do
jardim.
— Eu gostaria de encontrar seus filhos — de repente, ela fala.
Começo a protestar.
Ela levanta a mão.
— Agora, não. Quando eu ganhar o direito. Gostaria de conhecê-los. É
triste o que aconteceu com a mãe deles. Ela era uma boa mulher.
— Como você sabe?
— Eu me encontrei com ela algumas vezes. Almoçamos juntas. Uma vez,
eu fiquei bêbada com um martini, ou dez, no almoço e Kendra me levou
para casa em seu carro. Eu não usava meu motorista porque não queria que
ele dissesse ao seu pai onde eu estava indo.
— O que aconteceu? — sussurro.
— Ela era boa e gentil. Me levou para casa e segurou minha cabeça
sobre o vaso sanitário. Então, ela me limpou, me enfiou na cama e pediu
desculpas por sua mãe ter arruinado meu casamento. — Ela ri. — Mas o
que ela não sabia era que sua mãe não estragou nada. Eu estraguei.
Arruinei tudo. Me recusei a deixar o amor entrar, pois não era digna dele.
Não posso nem falar.
— Quando descobri que ela estava morrendo, fui até ela. Ela me falou
sobre as crianças e seus medos. Ela chorou. Eu chorei. Fui para casa e disse
a seu pai o que aconteceu, e disse a ele que ele deveria te pedir para ajudar.
Que você tinha mais amor dentro de você do que qualquer um que já
conheci e que essas crianças teriam sorte em te ter. Então, me mantive
bêbada e quase me matei com analgésicos. Porque, te dar essas crianças
significava que eu teria que deixar meu ódio ir embora, e eu não podia
suportar isso. Seu pai me ajudou a atravessar a noite. Então, fiz isso de
novo depois do funeral. Ele teve que chamar a emergência.
— Por que ninguém me contou? — Meu pé começa a balançar
novamente.
— Você se importaria? — Ela olha para o meu rosto. — Talvez,
inicialmente, você ficaria preocupada, mas seguiria com sua vida. Eu não
valia nada para ninguém, nem para mim mesma. — Ela encolhe os ombros.
— Eu teria me importado.
Ela bufa de novo.
— Eu não sou nada mais que a mulher que deu à luz a você. A vida toda,
nunca te dei mais nada. Você teria se preocupado, mas seguiria em frente.
Dói pensar nisso. Mas ela está certa.
— Seu pai disse que você tem um namorado — ela fala e sorri.
Eu concordo.
— Matthew — eu digo. Ela não merece os detalhes.
— Aquele com as tatuagens — ela fala. — Ele é muito bonito.
— Ele é bom e gentil — corrijo. Então, sorrio, porque pensar nele me
enche de alegria. — E bonito.
— Você o ama? — ela pergunta.
Aceno minha cabeça.
— Sei muito pouco sobre o amor — falo. — Eu diria que sim, mas não
estou muito certa do que isso significa.
— Sinto muito por ter feito com que você duvidasse tanto de si mesma.
Você vale muito mais que isso — Ela passa a mão no nariz. — Fomos
exemplos terríveis.
— Não confio nele com meu coração — admito. — Tenho pavor de amá-
lo.
— Tem medo que ele se volte contra você? — ela pergunta. — Ou que
ele vá embora?
— Ou que ele me ame até o fim dos tempos — eu digo. Isso é muito
assustador, pois não sei o que fazer.
— Você deveria ir a algumas reuniões da Al-Anon — ela fala — São para
famílias de viciados.
— Ok — eu digo.
Ela bate em minha perna.
— Por você — diz ela. — Não por mim.
Ela acende um novo cigarro. Levanto minha sobrancelha.
Ela ri.
— Nunca me senti tão exposta. É um sentimento novo e assustador.
Então, me perdoe meus vícios. Vou parar quando passar por isso.
— Tudo bem, entendo. Eu acho.
— Não tenha medo de deixá-lo te amar, Sky — ela fala calmamente. —
Eu tinha medo de deixar seu pai me amar. Achei que não o merecia, depois
das coisas que fiz quando estava bebendo. Então eu o excluí. Deixe Matthew
entrar. Deixe-o te amar. Aceite o que ele oferece e deixe-o infiltrar-se em
seus ossos. Não o deixe ir. Se ele quebrar seu coração, pelo menos você vai
saber que ainda tem um. Não morra por dentro como eu. Ame. Aproveite ao
máximo o amor das pessoas que a cercam.
As portas do pátio se abrem e uma enfermeira sai.
— Está na hora do grupo — ela fala, apontando para minha mãe.
Mamãe se levanta e se vira para mim. Ela me abraça com força, me
segurando perto. Não me lembro dela ter feito isso antes, e endureço em
seus braços.
— Deixe-o entrar e amá-la —sussurra perto do meu ouvido.
Ela sai, e eu caio de volta em minha cadeira. Minhas pernas não têm
firmeza. Estou tremendo muito. É como se tudo que sempre quis tivesse
caído em meu colo e eu não soubesse o que fazer.
Quando, finalmente, consigo, levanto-me e vou para o único lugar onde
sei que posso encontrar a paz. Vou para Matt.
M AT T

P aul está com uma merda de humor. Não sei o que está acontecendo
com ele, mas está, particularmente, irritante hoje. Friday parece um pouco
irritada também, mas não sei o que está se passando com ela ou Paul. Ele
bate a pistola de tatuagem em uma mesa próxima, acertando-a com tanta
força que chama a atenção até de Logan.
“Que porra é essa?”, Logan pergunta por sinais.
Encolho os ombros. Ele está trabalhando em alguns projetos
particularmente complicados para os catálogos que temos fixados às
paredes. Quando não está na faculdade, na Madison Avenue, ou fazendo
tatuagens, ele ocupa seu tempo fazendo desenhos para que os clientes
tenham opção de escolha. Algumas pessoas chegam sem qualquer ideia do
que querem e olham os catálogos até encontrar alguma coisa. Outros,
chegam com modelos na cabeça e então, temos que dar vida a eles. Friday
também sabe desenhar. Ela é quase tão boa quanto Logan. Vi alguns de
seus desenhos e são de tirar o fôlego.
— Cara, você está tentando consertar ou quebrar isso? — Pete
pergunta, arqueando a sobrancelha enquanto olha para Paul. Cada um de
nós tem o seu próprio equipamento, então, particularmente não me
importo se Paul quebrar o dele quando tem um acesso de raiva. Mas prefiro
evitar, se pudermos convencê-lo a não fazer.
— Essa porcaria não está funcionando direito — Paul resmunga.
Logan vai até ele e estende a mão. Paul o olha e, em seguida, revira os
olhos e tira as mãos da pistola. Logan mexe nela muito rapidamente e a
devolve. Ele não sorri nem tripudia. Apenas se vira e volta para a mesa de
luz — uma mesa especial que ele usa — e continua seu desenho.
— Odeio você — Paul murmura perto dele.
Sorrio. Não consigo evitar.
— O quê? — Logan pergunta, olhando de mim para Paul.
— Ele disse obrigado — falo.
— Tenho certeza que sim. — Ele olha para Paul. — Que bicho te
mordeu? — ele pergunta.
Pete e eu continuamos quietos. Geralmente, ninguém mexe com Paul
quando ele está irritado. Ficamos quietos até que ele se acalme.
— Ele está irritado porque fez algo estúpido ontem à noite — Friday
fala. Ela não olha para ele, apenas fala. Ela tem mais coragem do qualquer
um de nós e vou dizer isso a ela. — Então, ele quis voltar atrás, mas já era
tarde demais. Agora ele se sente culpado. — Ela suspira e começa a
arrumar sua mochila. Ela empurra os livros um por um, usando muito mais
força do que o necessário.
— Onde você está indo? — Paul pergunta irritado. Nuvens de
tempestade estão crescendo em seus olhos.
— Não sei — ela grita de volta. — Talvez eu tenha um encontro. Talvez
eu queira transar. Talvez, eu só queira ter um orgasmo de tremer a terra
sem ter que me sentir culpada por isso dez minutos mais tarde.
— Oh, merda — Pete murmura. Olho para ele, que coloca a mão sobre a
boca.
— Espere um minuto e vou levá-la para casa — diz Paul.
— Não, obrigada — Friday resmunga. Ela levanta o braço e acena para
nós. — Boa tarde a todos.
— Você volta amanhã, certo? — Paul grita para ela. Ele parece um
pouco perturbado, até mais do que há um minuto atrás.
Ela não diz nada. Apenas bate a porta com força suficiente para que o
chão estremeça debaixo de mim. Merda. Isso foi estranho.
Paul afunda pesadamente em uma cadeira e deixa cair a cabeça nas
mãos, os cotovelos apoiados nos joelhos. Ele parece muito cansado. Quero
apoiá-lo e fazê-lo se sentir melhor, mas estou receoso.
— Você deveria ir atrás dela — diz Logan.
Paul olha para cima.
— Essa é a última coisa de que ela precisa — diz, em voz baixa. Ele
balança a cabeça. — Não importa. — Se levanta. — Voltem ao trabalho —
diz ele para todos nós.
Pete abre a boca para implicar com ele, mas eu aceno que não o faça. Ele
olha para mim e levanta as mãos. O olhar de Pete segue Friday, como se
quisesse ter certeza de que ela está bem. Vejo-o puxar o telefone do bolso e
digitar algo muito rapidamente. Provavelmente está pedindo a Reagan para
ver como ela está. Então, olha para mim e balança a cabeça. Ela vai garantir
que Friday esteja bem.
Há uma tensão louca entre Friday e Paul que ninguém entende, nem
mesmo eles. Ele pode ser uma espécie de prostituto, especialmente agora
que Kelly está namorando alguém. Ele dorme com quase todo mundo, mas,
nas últimas semanas, não paquerou nenhuma garota no estúdio e nem saiu
para encontros.
O sino sobre a porta tilinta, e eu olho para cima. Meu coração estremece
quando a mulher dos meus sonhos passa pela porta. Sky está delineada
pelo sol enquanto está na frente da janela, e nunca vi uma vista mais bela.
Ela parece inquieta e cruza os braços sob os seios.
— Oi —diz baixinho.
Ela está vestindo jeans e camiseta, e parece tão linda que não posso
deixar de agarrá-la. Cruzo a sala e puxo-a contra mim. Levanto seus braços
e coloco-os ao redor do meu pescoço.
— Estou tão feliz por você estar aqui — falo e realmente quero dizer
cada palavra. Honestamente, ela faz meu estômago ficar em nós. Abaixo a
cabeça e beijo-a rapidamente, mas seus lábios seguem os meus quando
tento me afastar. Sua boca é macia, quente e úmida, e o beijo atinge meu
âmago.
Meus irmãos começam a zoação e, finalmente, tenho que levantar a
cabeça. Faço cara feia para eles e ela dá um passo para trás de mim, suas
bochechas, rosadas. Ela acena para meus irmãos. É um movimento rápido e
então, esconde o rosto em minha camisa. Essa mulher é tão bonita que
rouba minha respiração e seu rubor é absolutamente adorável.
Sky segura minha camisa para que eu olhe para ela.
— Já almoçou? —pergunta.
Comi um lanche, mas jamais deixaria passar a oportunidade de sentar-
me ao lado dela por uma hora. Balanço a cabeça.
— Quer sair?
Ela morde o lábio inferior.
— Quer ir lá em casa?
Ela evita meu olhar, e meu coração acelera novamente.
— Almoçar?
Ela balança a cabeça, mas suas bochechas ficam ainda mais coradas e
não faço ideia do que se passa em sua cabeça. Espero que ela esteja
pensando o mesmo que eu, e isso tem a ver com ela nua e eu dentro dela.
— O que tem para o almoço? — pergunto enquanto visto o casaco.
Quero saber qual seu plano e se precisaremos parar para comprar
sanduíches ou algo assim.
Ela sorri.
— Eu — ela fala baixinho e seu sorriso se amplia quando segue para a
porta da frente. Sigo-a como um filhotinho de cachorro, porque não posso
fazer mais nada.
SKYLAR

M att tropeça nó próprio pé ao sairmos para a rua e tenho que cobrir a


boca para não rir alto. Ele é tão adorável. Qualquer um que não se
apaixonasse por ele seria um idiota. E eu não sou. Pelo menos, hoje, não.
Hoje, sou sua namorada. Não sou a filha de uma viciada em álcool e drogas
e de um pai enganador. Encerrei com isso por hoje. Sou a garota do Matt. E
Matt tropeçou no próprio pé para ficar pertinho de mim.
— Ah, está achando engraçado, não é? — ele pergunta, enquanto me
puxa para seus braços e cheira meu pescoço. Em seguida, ele me empurra
para trás e olha para mim. — Por que não está no trabalho? — pergunta,
entrelaçando os dedos nos meus. O calor da sua palma se infiltra em minha
pele e me aquece de um jeito diferente de qualquer outro contato que já
experimentei. Ele olha em meus olhos. — Tudo bem?
Viro meu pescoço de um lado para o outro. Não tinha notado como
meus ombros estavam doloridos até que vi Matt. Queria ser uma dessas
pessoas que conseguem estalar o pescoço, isso sempre parece ajudar. Matt
coloca as mãos sobre meus ombros, massageando-os, de frente para mim.
— Você está tão tensa — ele fala, as sobrancelhas arqueando. — O que
foi? — Ele me conhece há poucas semanas, mas já sabe distinguir meu
humor. Não estou cem por cento certa de que gosto disso.
— Fui ver a minha mãe hoje — admito.
Seus olhos se estreitam enquanto ele caminha ao redor do meu carro e
abre a porta para mim. Entro e ele corre pela frente para entrar no banco
do carona.
— Como foi? — ele pergunta, após afivelar o cinto de segurança. Liga o
rádio e abaixa o volume, pois deixei-o um pouco alto.
Suspiro.
— Melhor do que eu esperava. Mas agora, não sei o que fazer com tudo
isso, sabe?
Ele balança a cabeça. Mas as palavras que saem da sua boca são:
— Não, não realmente. — Ele espera um minuto e, em seguida, fala. —
Quero dizer, minha família tem sua parcela de problemas. Mas não há
ninguém que tenha me abandonado e depois fui visitar em uma clínica de
reabilitação.
— Ela não me abandonou — eu começo.
— Ambos a abandonaram, Sky — diz ele em voz baixa. — Tão certo
como nosso pai nos abandonou. Só porque eles têm muito dinheiro e
pagaram pessoas para fazerem o que deveriam ter feito, não os torna
melhor.
— Podemos falar de outra coisa? — pergunto. Minha cabeça está
começando a doer, e eu estico meu pescoço novamente.
Matt se aproxima e começa a massagear meu ombro.
— Vou cuidar disso para você quando chegarmos ao seu apartamento
— diz ele em voz baixa.
— O quê? — pergunto, virando a cabeça para olhar para ele.
— Essa dor de cabeça.
Como é que ele sabe que estou com dor de cabeça?
— Não é nada — respondo.
Vamos até meu prédio e eu estaciono em frente. Matt pega minha mão
enquanto caminhamos para dentro. Quando as portas do elevador se
abrem, ele me puxa contra si, e posso sentir seu comprimento pressionado
contra o meu traseiro. Meu Deus. Ele está pronto para o que estamos
prestes a fazer.
Passamos pela porta e eu jogo minhas chaves na mesa da cozinha.
— Por que você me trouxe aqui? — ele pergunta. Suas palavras saem
como um relâmpago, mais duras do que ele, provavelmente, pretendia.
— Eu... — Não posso verbalizar isso. Não posso dizer-lhe.
— Você o quê? —pergunta. Ele caminha lentamente em minha direção e
acaricia meu pescoço. É gentil e carinhoso e, ainda assim, posso sentir o
quanto me quer. Eu poderia até mesmo ser capaz de sentir o quanto ele me
ama, embora eu ainda não tenha certeza disso. É real? Não sei o suficiente
sobre isso para afirmar. — Por que me trouxe aqui?
Abaixo minha cabeça e empurro a testa contra seu peito. Inspiro seu
cheiro e seguro a respiração. Não quero exalar e deixá-lo ir. É másculo, viril,
limpo, e tudo isso é Matt.
— Sinto como se tivesse sido emocionalmente agredida, Matt — falo em
voz baixa. — E quando tudo acabou, eu precisava de alguém que pudesse
me fazer sentir segura. — Olho para ele, e seus olhos azuis sequer piscam.
— Precisava de alguém que cuidasse de mim.
Matt meu puxa para seus braços, coloca um braço sob os meus joelhos e
outro atrás das costas. Eu grito, surpresa. Ele ri e me leva para o quarto. Ele
chuta a porta atrás de nós.
— Quanto tempo temos antes que você tenha que pegar as meninas? —
ele pergunta enquanto se senta ao lado de minha cama e tira suas botas. Ele
está se movendo rapidamente e sorri.
Tiro o tênis e puxo minha camiseta.
— Horas.
Desabotoo minha calça jeans e a tiro. Matt lambe os lábios. Ele puxa
meu braço quando coloco as mãos nas costas para desabotoar o sutiã.
— Devagar — ele fala. — Não quero que a primeira vez que vou fazer
amor com você seja apressada.
Meu coração falha uma batida.
— Ok — digo em voz baixa. Sento-me ao lado da cama e cruzo os braços
sobre o peito. Sinto-me um pouco constrangida, já que não estou usando
lingerie sensual. Estou usando uma calcinha do dia-a-dia e meu velho sutiã
confortável.
Matt ergue meu queixo com o dedo.
— Pare de pensar — ele fala e se levanta, desafivelando o cinto e, em
seguida, tira-o da calça de brim. Ele abaixa a calça e não consigo afastar os
olhos ao ver a cueca boxer envolvendo seu... Deus, ele é enorme. — Pare de
pensar sobre isso também — ele fala, rindo. — Deite-se de barriga para
baixo.
Ele entra no banheiro e volta com um vidro de hidratante. Engatinho
sobre a cama e coloco a cabeça no travesseiro, meus braços cruzados em
baixo. Vejo-o caminhar em minha direção.
— Deus, você é tão linda —fala em voz baixa. Então, ele se senta ao meu
lado e coloca um pouco de hidratante nas mãos, esfregando-as uma na
outra.
— O que você está fazendo? — pergunto.
— Cuidando de você — diz ele.
Suas mãos, lisas e mornas, tocam meus ombros nus. Ele faz pressão com
as pontas dos dedos escorregadios, e é tão bom que um gemido deixa
minha garganta. — Está tudo bem? — ele pergunta.
Gemo novamente e aceno com a cabeça, empurrando meu rosto contra
o travesseiro.
— Por favor, não pare — peço.
Ele ri.
— Não vou parar.
Ele ergue as mãos por um minuto para que possa ficar sobre mim,
apoiado em meu traseiro. Ele não solta o peso, mas posso senti-lo duro e
latejante sobre a parte inferior das minhas costas.
— Posso abrir isso? — ele pergunta baixinho, sua voz subitamente
áspera e rouca quando puxa suavemente o fecho do sutiã.
— Sim — murmuro contra o travesseiro.
— O quê? — ele pergunta com uma risada.
Viro meu rosto e respondo baixinho:
— Sim, por favor. — Então, enterro o rosto no travesseiro novamente
para que ele não veja como minha pele está corada.
Ele abre meu sutiã e o tira do caminho. Seus polegares começam a fazer
movimentos milagrosos para cima e para baixo da minha coluna. Afundo no
colchão depois de alguns minutos, me sentindo mole enquanto ele ataca
meus músculos um por um, passando pelo pescoço, ombro e subindo e
descendo em meu traseiro. Ele para ao chegar no elástico da calcinha.
— Não pare — murmuro.
— Diga-me o que aconteceu com sua mãe — diz quando me vê satisfeita
e feliz.
— Não quero — murmuro.
Ele levanta as mãos do meu corpo.
— Vou parar agora, então — ele fala e espera.
Ofego.
— Por favor, não pare — imploro.
Nunca tive ninguém que quisesse cuidar de mim assim. Ninguém nunca
me fez massagem ou tentou fazê-lo. Nunca me senti tão... querida? Nem sei
o que é, mas sei que é algo que nunca tive.
— Fale comigo, Sky —pede. Ele se levanta e eu, imediatamente, me viro
para ver para onde está indo, mas ele apenas se move mais para baixo.
Suspiro de contentamento quando ele começa a esfregar a parte de trás das
minhas coxas.
Eu falo. Digo-lhe tudo o que aconteceu com a minha mãe enquanto ele
faz sua mágica em meu corpo. Ele resmunga quando é apropriado para a
história, e suas mãos ficam duras quando ele parece ficar irritado, mas,
depois suaviza. Ele ouve. E cuida de mim, tocando todo o meu corpo até os
dedos dos pés.
— Eu sabia que elas se conheceram, mas não sabia que era segredo —
Matt fala quando conto sobre Kendra ter almoçado com minha mãe. — Ela
gostava de sua mãe, e realmente lamentava a situação.
Os dedos de Matt engancham na minha calcinha e ele a puxa
suavemente. Então para.
— Está tudo bem? — ele pergunta enquanto tira minha calcinha e
respira fundo, enquanto meu coração acelera.
— Sim — sussurro, sorrindo no travesseiro. Levanto os quadris, e ele
puxa a calcinha pelas minhas pernas. Sei que ele pode ver minha bunda e
então, de repente, suas mãos estão lá. — Deus.
Ele afasta as mãos.
— É demais? — ele pergunta.
— Não é suficiente — digo a ele.
Ele toma fôlego, e suas mãos seguram minha bunda novamente. Ele
aperta, sobe, desce e esfrega, deixando escapar um gemido que parece
muito com o que está preso em minha garganta.
Meus músculos parecem estar moles e eu não conseguiria aguentar
mais.
— Vire-se — ele fala em voz baixa e dá um tapinha em meu traseiro. —
Espere — ele fala quando hesito. Então, desliza os dedos entre minhas
coxas e toca minha fenda. — Graças a Deus — ele fala.
— O quê? — pergunto, olhando-o por cima do ombro.
— Você está molhada. Estava esperando que não fosse só eu — ele fala.
— Você me deixa tão excitado que não sei o que fazer em seguida. — Ele
abre meus lábios inferiores com a ponta dos dedos e desliza-os dentro de
mim. Empurro de volta contra ele.
— Você pode continuar fazendo isso — sugiro e suspiro enquanto ele
empurra para a frente, acrescentando outro dedo. Ergo mais meus quadris.
Ele ri.
— Não posso fazer qualquer outra coisa. — Ele tira os dedos de dentro
de mim e bate em minha bunda com a mão molhada. — Vire-se.
Puxo o lençol para cobrir o corpo e me viro. Matt vem me beijar. Deus,
ele tem gosto de tudo o que sempre quis. Ele puxa meu lençol, brincando.
— Isso tem que ir embora — ele fala com uma risada.
Agarro o pano.
— Vou ficar nua — sussurro.
— É isso que eu quero —sussurra de volta, de brincadeira. Ele puxa o
lençol de novo, e eu o deixo deslizar para longe de mim. Pego o travesseiro
e o coloco sobre o rosto. Estou envergonhada, mas não quero que ele pare.
Acho que o esfaquearia se ele parasse agora. Meu clitóris está pulsando
com tanta força que posso senti-lo em meu corpo todo.
Ele assovia como um estivador quando estou nua. Suas mãos deslizam
para cima e para baixo, suave e gentilmente, mas com uma intensidade que
nunca conheci. É quase como se ele estivesse memorizando as linhas do
meu corpo. Ele afasta as mãos e fala:
— Sinto muito. Acho que acabei de babar em você.
Eu rio e levanto o travesseiro para olhá-lo. Mas seus olhos estão sobre
meus seios. Ele os segura com suas mãos grandes e tatuadas.
— Deus, eles são tão perfeitos — Matt fala. Em seguida, coloca um
mamilo na boca. Não é uma lambida suave. É puxão que atinge o meu
centro. Ele chupa meu mamilo enquanto brinca com o outro seio, com as
pontas dos dedos. Puxo o travesseiro de volta para o meu rosto, porque se
continuar olhando para ele enquanto ele olha em meus olhos e me toca, vou
explodir.
— Matt, por favor — imploro.
Ele levanta o travesseiro do meu rosto e o atira para fora da cama. Seus
olhos são de um azul profundo
— Eu disse que ia cuidar de você — ele fala. — Paciência. — Sua
respiração faz cócegas em meu umbigo pouco antes de sua língua
mergulhar dentro dele.
Matt empurra minhas pernas e se instala entre minhas coxas, exalando
e provocando a pequena faixa de pelos no ápice delas.
— Gosto disso — ele fala, enquanto me acaricia com o polegar. Arqueio
os quadris na direção de seus dedos.
— Matt — imploro. Estou tremendo e implorando. — Por favor. — Oh,
merda. Não vou aguentar.
Seus polegares separam minhas dobras e ele desliza dois dedos dentro
de mim. Levanto a cabeça para vê-lo lamber meu clitóris. Mas não é o
suficiente. Contorço-me e ele me recompensa, empurrando os dedos mais
profundamente. Ele os move, pressionando a outra mão logo acima do meu
osso púbico enquanto seus lábios agarram meu clitóris pulsante.
— Oh, meu Deus.
Ele levanta a cabeça apenas o suficiente para dizer:
— Não. Apenas Matt.
Enfio os dedos em seu cabelo e empurro minha cabeça para trás. Ele
volta a lamber meu clitóris, investindo seus dedos dentro de mim. Aperto
os lençóis com força, porque Matt está prestes a me fazer gozar. Posso o
orgasmo se formar. Estremeço e arqueio os quadris. Então, ele alcança
minha carne trêmula.
Eu quebro.
Eu estremeço.
Eu desmorono.
Eu gozo.
E Matt me deixa durante o clímax. Ele me leva ao topo do penhasco e
então, me joga sobre ele. Mas está lá para me pegar quando caio. Seus
dedos saem de dentro de mim e sua sucção suave em meu clitóris se
transforma em uma lambida sólida e segura. Ele absorve cada tremor, cada
estremecimento, cada agitação e, quando não aguento mais, empurro sua
cabeça para trás. Ele se afasta e puxa o elástico de seu rabo de cavalo. Fiz
uma bagunça em seu cabelo, mas ele não parece se importar. Matt limpa o
rosto no lençol e, em seguida, vem me beijar. Posso sentir meu gosto em
seus lábios, e é bom. Seu cabelo paira como um véu em torno de nós, mas
não consigo nem levantar os braços para empurrá-lo de volta.
— Você está bem? — ele pergunta.
Solto um grunhido porque as palavras não saem da minha garganta.
Elas estão presas em algum lugar entre meu cérebro saciado e corpo mole.
— Vou considerar isso como um sim — ele fala e cai ao lado do meu
corpo nu. Não posso sequer virar a cabeça para olhar para ele. Ele beija
meu rosto e me vira para que minha bunda fique aninhada em seu colo. —
Durma — ele fala. Um braço está sob minha cabeça, e o outro, ao redor da
minha cintura.
Quero cuidar dele também, mas não consigo me mexer.
— Não posso — sussurro. — Tenho que pegar as meninas.
Ele pressiona um beijo contra meu cabelo.
— Vou acordá-la a tempo — ele diz em voz baixa. — Durma.
— Tem certeza? — murmuro. Não é como se eu pudesse me mover, se
quisesse.
— Deixe-me cobri-la — ele fala, tocando em meus cabelos. Então, puxa
o cobertor sobre nossos corpos.
— Humm — murmuro. Mas a escuridão já está me envolvendo.
— Amo você — ele fala em voz baixa, enquanto o sono me pega. Deixei
Matt entrar. Deixei a paz entrar em mim pela primeira vez na vida.
M AT T

A cordo com um corpo quente e feminino sobre o meu. Abro o olho e vejo
uma cabeça loira inclinando-se para beijar meu peito. Seguro seu cabelo.
— Sky? — Pisco, tentando afastar o sono.
Ela para e olha para mim, arqueando as sobrancelhas.
— Quem mais seria? — ela pergunta.
Ela está sobre mim e se move como se fosse sair de cima de mim, mas
seguro seus braços e a puxo para que possa beijá-la. Ela resiste.
— Quem mais seria? — ela pergunta novamente.
Ela está séria. Porra. Fiz merda.
— Ninguém — falo. Passo a mão pelo rosto. — Eu estava dormindo, e
você estava beijando meu peito, sentada no meu pau no momento em que
acordei. Fiquei surpreso. Só isso.
— Você sabia que era eu, certo?
Sequer preciso pensar sobre a minha resposta.
— Claro. — Eu sabia. Realmente sabia. — Estava apenas confirmando
como sou um filho da puta sortudo, tendo você me olhando enquanto beija
meu peito e senta no meu pau.
Ela bufa e enterra o rosto em meu peito, colocando todo o seu peso
sobre mim.
— Não estou sentada no seu pau — diz calmamente. Movimento-me de
encontro ao seu centro, que está escorregadio molhado contra mim.
— Eu sei. Você pode corrigir isso, por favor? — peço, mexendo-me
como se estivesse tentando encaixar seus quadris, mas sei que preciso de
um preservativo. Eu posso estar sonolento, mas não sou idiota.
Ela se levanta um pouco e aponta na direção do meu pau.
— Estou um pouco intimidada com isso — ela sussurra de brincadeira.
Eu rio.
— Por quê? Prometo que não vou te machucar. Vou me certificar de que
ele se comporte. — Abraço-a. Meu coração está repleto de amor e não
consigo pensar em nada que prefira fazer. Bem, claro que quero transar
com ela, mas tenho prioridades, mesmo agora.
— Eu não estava falando sobre suas... partes. — O rosto dela fica todo
rosado.
Uma risada irrompe da minha garganta.
— Partes? Você fala de mim como se eu fosse uma máquina de lavar
roupa.
— Máquinas de lavar roupa não usam piercings, Matt — ela fala.
— Ah! — suspiro. — Você está falando disso. — Entrelaço meus dedos
em seus cabelos como se fosse um pente. — Isso não morde. Eu juro.
— Eu meio que fiquei olhando enquanto você estava dormindo — ela
admite.
— Olhando para o meu rosto, tenho certeza — brinco. — Eu estava
babando?
— Não. — Ela balança a cabeça. — Ali em baixo. Ele olhou para mim
primeiro — ela fala.
— Conversei com ele sobre essa merda — resmungo. — Meu pau nunca
me escuta. Pergunte a qualquer cara. Ele vai ter dizer o mesmo.
Ela ri contra meu peito.
— Você acorda sempre tão pronto?
Ergo minha cabeça e olho para ela.
— Normalmente, sim — admito. — Coisa de homem.
— Achei que era só para mim.
— Bem, não há mais ninguém ficando com ele — falo. — Então, é para
você mesmo. — Aperto seu bumbum e ela grita.
— Aparentemente, tenho muito a aprender sobre os homens — diz ela.
— Graças a Deus estou disposto a ensiná-la. — rosno, enquanto passo
um braço em volta da cintura dela e a viro, ficando por cima. Olho para seu
rosto e meu coração salta uma batida. Eu a quero tanto, mas tenho medo de
ir rápido demais.
Sei o que é fazer sexo por fazer e tenho medo de que seja assim para ela.
Para mim, não é. É muito mais e quero saborear cada segundo. Também
quero ter certeza de que ela sente por mim algo tão forte quanto o que
sinto por ela. Se alguém pode quebrar a porra do meu coração, é Sky. Ela é
tudo que sempre quis.
— Você está certa de que está apaixonada por mim, não é? — pergunto
enquanto abaixo a cabeça para beijá-la.
Ela murmura contra meus lábios.
— Tão certa quanto posso estar.
Ergo minha cabeça.
— O que significa isso? — Apoio meus cotovelos em ambos os lados de
sua cabeça e uso os polegares para afastar o cabelo de sua testa.
— Ainda estou aprendendo sobre isso — ela fala. — Não entendo
totalmente esse sentimento, nunca tive isso. Não sei ao certo como analisá-
lo.
— Não sei se entendo — admito.
— Eu só... sei que nunca me senti assim com ninguém, especialmente,
não tão rápido. E estou com medo, Matt. Estou aterrorizada. Mas gosto
disso. Gosto desses sentimentos, tanto quanto não gosto. — Ela morde o
lábio inferior. — Posso dizer uma coisa?
— Você pode me dizer qualquer coisa. — Abaixo-me para tocar seu
pescoço com os lábios.
— Você é a única pessoa que eu precisava ver hoje, depois que deixei
minha mãe. É o único que me faz sentir segura. Sinto que posso te dizer
qualquer coisa e que você não vai me julgar. Você largou tudo no Reed’s só
para vir comigo, me ouviu, e cuidou de mim até eu adormecer em cima de
você. — Ela estremece. — Desculpe-me por isso.
Rio contra sua pele.
— Você está de brincadeira? Gostei tanto quanto você.
— Mas você não chegou lá... — Ela cora, e é tão bonita que provoca um
frio em minha barriga.
— Posso “chegar lá” a qualquer momento — falo. — Isso é um sonho se
tornando realidade. — Seguro seu seio e o aperto suavemente. Ele é
pequeno, mas é meu e estou apaixonado por ele. Na verdade, pretendo
passar muito tempo com ele. Junto com outras partes escorregadias dela.
Tomo um mamilo em minha boca e acaricio-o com a língua. Ela se contorce
debaixo de mim e, se ela se mover mais alguns centímetros, vou entrarei
em seu corpo.
— Matt — ela fala com a voz trêmula. Suas pernas envolvem meus
quadris e meu pau se posiciona em sua abertura. Sei que é arriscado, mas
quero bater a cabeça do meu pau contra seu clitóris e ver se ela vai ficar
ainda mais molhada para mim.
Seus olhos se fecham e sua cabeça vira para o lado. Um arrepio a faz
tremer, e eu balanço os quadris.
— Acho que você vai gostar desse piercing que estava te assustando
tanto a um minuto atrás — digo calmamente em seu ouvido. Seus olhos se
abrem.
— É assim que ele funciona? — ela sussurra.
— Bem, quero levar todo o crédito se você realmente gostar dele —
sussurro e invado seu calor novamente. Ela treme em meus braços.
— Matt, por favor — diz ela.
— Camisinha? — pergunto. Ela aponta para a mesa de cabeceira, e eu
me estico para alcançá-la. Não quero sair de perto de Sky porque isso é
bom pra caralho e mal posso suportar.
— Nós precisamos de uma? — ela pergunta. Sento-me de joelhos para
que eu possa girá-la enquanto olho para ela à luz do dia, toda exposta,
rosada e perfeita pra caralho.
— Seria preciso um milagre para que eu pudesse engravidá-la — falo.
Mas preciso disso, porque se não houver qualquer barreira entre nós, vou
gozar assim que entrar nela. Então, rolo o preservativo em meu eixo e
espero que dure tempo suficiente.
Ela ri.
— Quero todas as crianças do mundo inteiro. Todas elas. Meus três,
definitivamente, não são o bastante.
Meu coração quase para. Caio ao seu lado, em vez de em cima dela. Ela
rola em minha direção.
— O que há de errado? — ela pergunta.
— Não brinque com isso — falo. — Se você quer mais filhos, é melhor
me dizer agora, porque eu não posso lhe dar. — Meu coração está batendo
como se eu tivesse corrido por quilômetros, e sinto medo de que ele se
quebre como um vaso de vidro que quebrei quando eu tinha seis anos.
Havia pedaços por todos os lugares. Eu me preocupo com sua saúde, se isso
acontecer. Ela será estilhaçada por pedaços do meu coração despedaçado.
Oh, merda. Lanço meu braço sobre os olhos.
Sky sobe em cima de mim, do mesmo jeito que fez antes, suas coxas
envolvendo meus quadris, as mãos no meu peitoral. Ela beija meu peito.
— Desculpe-me, falei besteira — fala. Ela coloca o rosto em meu peito e
solta o peso do seu corpo sobre o meu. Ela está quente, macia e molhada...?
Olho para baixo e a vejo limpando uma lágrima.
Merda.
— Não queria fazer você chorar — digo em voz baixa.
— Não estou chorando por mim, seu idiota — diz. Ela cheira minhas
mãos quando tento limpar as lágrimas.
— Então, por que diabos você está chorando?
— Eu estava chorando por você — ela sussurra.
Merda. Ela pode me desarmar facilmente.
— Pelo fato de eu não poder ter filhos?
Ela bufa.
— Porque você quer ter filhos. — Ela sorri. — Tenho três, Matt. Posso
compartilhar com você, se quiser.
Bem, eu tinha planejado fazer isso de qualquer maneira. Ela se mexe em
cima de mim e está tão úmida e quente que não posso deixar de me
esfregar nela.
— Você não vai me mostrar o que esse piercing pode fazer? Você disse
que ele é mágico, não é?
Seguro seus quadris e coloco-a exatamente onde quero.
— Sente-se um pouco para que eu possa chegar perto das coisas.
— Você está chamando minhas partes femininas de coisas? — ela
pergunta. Mas não está mais chorando. Ela está rindo.
Coloco a mão entre nós e levanto meu pau, apontando-o para o seu
centro. Ela está molhada e pronta. Empurro dentro dela e ela suspira.
— Tudo bem? — pergunto.
Seus olhos se fecham e ela coloca o peso sobre as palmas das mãos, que
estão acomodadas em meu peito. Abre um pouco mais as pernas e desliza
sobre meu comprimento muito, muito, muito devagar.
— Um pouco mais — peço. Minha respiração é irregular, e eu mal posso
falar.
— Tem mais?
Olho entre nós.
— Sim. — Eu rio.
Ela se abaixa, e eu ergo meu quadril ao mesmo tempo. Desapareço
dentro dela, e tudo o que posso ver é o lugar onde sua pele nua encontra a
minha.
— Deus! Espero que isso seja tudo — ele fala, mas está sorrindo. Ela
está quente, macia e sedosa. E é toda minha.
— Não se mova.
— Por que não? — ela pergunta. Em seguida, se inclina e sobe, e eu
posso ver onde estamos unidos. Estou todo molhado por causa dela. Em
seguida, ela desce, levando-me de volta para dentro.
Sky apoia as mãos para que possa acelerar e desacelerar enquanto
monta em mim. Seus seios perfeitos saltam quando ela encontra o ritmo e
eu me ergo para prová-los.
Ela me dá um segundo, mas então, me empurra para que eu fique na
horizontal.
— Me deixe te amar, Matt — ela fala.
Levanto minhas mãos, colocando-as atrás do pescoço. Não faço isso há
muito tempo, mas posso ver que ela já está perto. Suas coxas tremem e seu
ritmo fica instável.
— Quero que você goze — falo.
Sky acelera os movimentos e coloca a mão entre nossos corpos,
circulando seu clitóris. Empurro sua mão para o lado e a substituo pela
minha, acariciando-o entre opolegar e o indicador. Lentamente, sua
respiração acelera.
Minhas bolas estão tremendo, mas ela está perto. Sei que não vou ter
que esperar muito quando ela arqueia as costas e sua cabeça cai. Eeu corpo
é atingido por tremores e ela aperta meu pau lá dentro, mas não paro.
Continuo movendo nossos corpos. Viro-a e puxo sua perna até o peito,
fazendo com que sua parte inferior se incline mais para cima. Seus olhos se
fecham quando as sensações tomam seu corpo e eu bombeio mais uma,
duas, trez vezes. Então, gozo dentro dela. Solto sua perna para que eu possa
colocar meus braços ao redor dos seus ombros e puxá-la para mim. Ela vira
a cabeça e beija meu pescoço, movendo seus quadris contra o meu. Gemo
ao gozar e ela mantém-se em movimento até que minhas estocadas se
tornam dolorosas. Tenho que parar. Saio de dentro dela com um silvo e,
quando me viro para sair de cima dela, ela segura minha mão.
— Não vá — ela pede.
— Não vou embora.
Vou até o banheiro tirar o preservativo e me limpar. Volto para a cama e
a puxo para mim, sua cabeça encontrando aquele ponto que foi feito para
ela, onde meu pescoço se une ao ombro.
— Você estava certo — diz ela com uma risadinha. Ela está rindo em
meus braços. Desde quando sexo é engraçado? Levanto a cabeça para olhar
para ela.
— Sobre o quê?
— Seu piercing é mágico. — Ela ri mais alto e está macia, quente e
saciada em meus braços. E nada nunca me pareceu tão bom.
— Esse é o meu pau — falo e dou um tapa em seu traseiro.
Ela faz beicinho
— Ah — Ela se senta e me beija, olhando nos meus olhos. — Só por isso,
mais tarde vou fazer você me provar que é seu mesmo.
— Vou provar isso para você agora — rosno enquanto me estico para
pegar um novo preservativo.
Ela grita, ri e abre suas pernas para mim.
Deus, estou completamente apaixonado por ela.
SKYLAR


Q uer parar de ficar se remexendo? — Seth murmura para mim,
revirando os olhos enquanto bate na porta do apartamento de
Matt.
Ajeito minha camisa.
— Estou bem? — pergunto.
Ele revira os olhos de novo e me lança um sorriso exasperado.
— A única reclamação que Matt pode ter é que você está usando muitas
roupas. — Ele bufa.
— Seth! — Eu o repreendo. Ele realmente não deveria falar assim.
— O quê? —pergunta, erguendo as mãos — Ele está acostumado a vê-la
de pijama, só isso que eu quis dizer. Ele pode não saber o que fazer com
você usando roupas normais.
Seu rosto fica vermelho quando percebe o que disse.
— Não importa — ele resmunga e bate de novo. A porta se abre, e um
dos irmãos mais novos de Matt nos deixa entrar. O lugar está
completamente cheio de pessoas, mas acho que a maioria são seus irmãos.
— Qual deles é você? — Seth pergunta. Isso foi um pouco rude, mas eu
estava curiosa também.
— Eu sou Sam — diz ele. — O mais bonito.
Ele aperta a mão de Seth da forma como os homens fazem. Em seguida,
abre os braços para mim. Não sei o que fazer.
— Não toque na minha garota — uma voz soa mais alta que a TV. Olho e
sorrio ao ver Matt sentado no chão, em frente ao sofá. Ele tem um controle
de jogo na mão e o está apertando freneticamente.
— Tarde demais — Sam brinca. — Você está aí e ela está aqui sozinha.
— Ele me envolve em seus braços e me aperta, mas finge me abraçar mais
apertado do que realmente abraça. Acho que está fazendo isso só para
implicar com Matt.
— Assuma aqui para mim, Seth — Matt chama, mas não para o jogo.
Seth arqueia a sobrancelha para mim.
— Vá — digo. Ele sorri e vai substituir Matt no chão. Matt passa o
controle para ele, parando por um segundo para olhá-lo.
— Seth vai matar todos os meus homens — diz Matt ficando de pé.
Ele caminha em minha direção, e meu coração acelera. Hoje é sexta-
feira, e eu não o vejo desde que ele deixou meu apartamento ontem,
quando tive que buscar as meninas na escola. Ele tinha que trabalhar até
tarde na noite passada, mas está de folga esta noite. Não podia dizer não
quando ele ligou e nos convidou.
Joey puxa minha mão, e olho para ela.
— Oi? — pergunto.
— Tenho que ir ao banheiro — diz ela.
Matt aponta a direção, e sigo com ela. Desculpe-me murmuro por sobre
o ombro para Matt.
Ele sorri e encolhe os ombros.
— Sem problemas — ele fala.
— Posso fazer sozinha — Joey fala quando tento ir ao banheiro com ela.
Ela fecha a porta na minha cara.
— Tudo bem... — digo para mim mesmo.
Eu me viro e dou de cara com o peito de Matt. Ele agarra meus
cotovelos para me firmar, e meu nariz fica contra sua camisa. E eu gosto,
porque tem o cheiro dele. E eu gosto muito de Matt. Muito mesmo.
— Você é cheiroso — eu digo baixinho, minha boca contra seu peito.
Ele inclina a cabeça e cheira a lateral do meu pescoço.
— Você também — ele sussurra. Inclino a cabeça para lhe dar melhor
acesso.
De repente, há uma tosse alta diretamente atrás de nós. Matt geme e
levanta a cabeça.
— Será que você pode parar com isso? — ele pede.
Paul apenas ri e balança a cabeça em direção à Mellie, que ainda está
segurando minha mão.
— Há crianças na sala, seus tarados — ele fala e se abaixa, e eu vejo uma
menininha loira ao lado dele.
— Quem é esta? — pergunto e aponto para a menina.
Matt se também se abaixa e ela se senta em seu joelho.
— Sou Hayley — ela fala. Seus olhos são azuis e seus cabelos, loiros,
assim como todos os Reeds. Ela é adorável.
— Minha filha — diz Paul. Ele balança a cabeça em direção a uma porta
no corredor. — Quer levar as meninas para brincar no quarto?
Hayley balança a cabeça e sorri. Elas esperam Joey sair do banheiro e,
em seguida, Hayley dá a mão a Joey e Mellie e as arrasta para seu quarto.
Ela fecha a porta com um grande estrondo.
Paul coça a cabeça.
— Acho que eu deveria me acostumar com isso. Mas não tenho certeza
de que posso — ele fala.
— Elas vão ficar bem lá? — pergunto a Matt. Eu meio que quero ver
onde elas estão brincando.
— Vamos verificar em um segundo — diz Matt. Seu olhar observa a sala,
então, abre uma porta e me empurra para um quarto. Ele a fecha e me vira
de costas, contra a parede, com um leve empurrão. — Senti sua falta — ele
sussurra.
Suas mãos seguram meu rosto e ele força o joelho entre minhas pernas,
o que é bom, pois meus joelhos vacilam quando ele me agarra.
— Matt, as crianças.
— Tem gente cuidando delas — ele fala. Seus lábios tocam os meus e ele
geme enquanto sua língua entra em minha boca. Ele tira o meu fôlego a
cada toque. Sua língua se embola com a minha, imitando a forma como ele
me lambeu ontem na cama e meu coração começa a bater mais forte.
Aperto minhas mãos em sua camisa e tento manter-me em pé. Ele se
afasta e olha para o meu rosto.
— Estou feliz por você estar aqui — diz, em voz baixa. Ele afasta meu
cabelo da testa e recua.
— De quem é este quarto? — pergunto. Mas sei imediatamente. Pelos
livros empilhados na mesa de cabeceira e a arrumação, sei que é de Matt.
Ele sorri.
— É meu. Para que outro quarto eu poderia te arrastar? — Ele bufa. —
Você não gostaria de ver o quarto de Paul. Deve ter alguma merda
pervertida lá dentro.
— Sério?
Ele sorri.
— Não. Estou brincando. Mas a sua expressão foi impagável. — Ele ri, e
eu adoro esse som.
— A filha de Paul é adorável — falo, passando o dedo nas fotos que
estão presas no espelho da penteadeira. São dele, dos irmãos e das garotas
de suas vidas: Reagan, Emily e Friday. — As meninas vem também ou só
eu?
— Elas estarão aqui em breve. Você está brincando? Elas não iriam
perder a oportunidade para te avaliar. — Ele sorri. — Prepare-se.
Elas vão me avaliar? Deixo cair o vidro de perfume que peguei, mas
Matt o segura antes que atinja o chão.
— Pare de se preocupar — diz ele. — Elas são inofensivas. — Ele
balança a cabeça para trás e para a frente, como se estivesse pensando
sobre isso. — Bem, eu não diria que Reagan é inofensiva. Ela pode chutar
melhor que a gente. Mas com você, ela será inofensiva.
Não sei o que dizer sobre isso.
— Não se preocupe — diz ele novamente. — Eles gostam de você. E
sabem que amo você, então, vão se comportar. Prometo.
Meu coração acelera. Ainda não estou acostumada às declarações de
Matt.
— Você ainda me ama, certo? — Matt pergunta.
Reviro os olhos, tentando parecer indiferente.
— Nada mudou desde ontem. — Olho para ele, piscando. — Algo
mudou para você?
— Sim — ele fala. — Quero você mais do que queria ontem. — Sua voz é
macia e dura, tudo ao mesmo tempo.
Uma batida soa na porta, e ele abre uma fresta
— Você está decente? — Uma voz feminina pergunta.
— Abra a porta e descubra — Matt responde.
A porta se abre lentamente e a cabeça de Emily aparece.
— Oh, graças a Deus.
Matt estreita os olhos para ela.
— O quê?
— Os dois estão vestidos. Achei que seria desconfortável se eu
encontrasse vocês nus.
— Então você deveria ter ficado do lado de fora — diz Matt, mas ele a
puxa e dá uma espécie de cascudo nela. Emily resmunga.
— O que você quer? — Matt pergunta.
— Estou fazendo margaritas para Reagan — diz ela. — Vocês querem
uma? — Ela olha de Matt para mim. Nem sei se Matt bebe. Só o vi beber
cerveja.
— Sky quer uma — ele fala e balança a cabeça em minha direção.
— Eu estou com as crianças — protesto.
— E tem gente cuidando delas — ele fala e balança a cabeça em direção
à Emily. — Pode fazer uma.
Emily sai do quarto, deixando a porta entreaberta.
— Não posso ficar bêbada — sussurro. — Tenho que ir para casa no
final da noite.
Ele me puxa contra si, com os dedos enganchados no meu jeans.
— Estava esperando que você quisesse passar a noite — ele fala. — As
meninas podem acampar com Hayley. Seth pode dormir no sofá. Eu vou
dormir com Sam. Ele tem duas camas de solteiro lá.
Ele vai dormir com Sam?
— Por que diabos eu ficaria se você for dormir com Sam? — reclamo. —
Se eu ficar, você vai dormir comigo.
— Não quero dar mau exemplo para Seth — diz ele em voz baixa.
— É por isso que não foi em casa ontem à noite depois do trabalho? —
pergunto. Parece que estou fazendo beicinho, e meio que estou. Odeio isso,
mas é assim que as coisas são.
— Hum-hum — ele murmura junto à minha orelha. O som vibra direto
em meu centro.
— Poderíamos colocar Seth com Sam, e você, inicialmente, no sofá —
sugiro. Enterro meu rosto em seu peito para esconder o embaraço.
— Oh, uma ideia — diz ele, fingindo meditar a respeito. — Vou pensar
sobre isso.
— Ou nós poderíamos apenas ir para casa no final da noite. Seria mais
fácil.
— Casa? — ele pergunta.
Eu concordo.
— Casa — digo novamente. — Minha casa. Nossa casa. — Olho para o
rosto dele, e ele sorri para mim. Seus olhos estão claros e focados, e tenho
toda a sua atenção.
— Casa — repete em voz baixa. Ele balança a cabeça.
Eu poderia muito bem colocar minhas cartas na mesa, certo?
— Tudo o que posso pensar, desde ontem, é em você dentro de mim. É
tão... certo. — Gemo. — Pareço uma idiota.
Ele pega a minha mão e puxa para baixo, pressionando-a sobre seu
comprimento endurecido.
— Você parece gostosa — diz ele. Seus lábios se arrastam pelo meu
queixo em direção a linha do cabelo. — Você está molhada? — ele
pergunta.
— Sim — sussurro de volta. Matt desabotoa meu jeans e abre o zíper
lentamente.
— Posso sentir? — ele pergunta.
Concordo com a cabeça contra seu pescoço.
— Sim — sussurro novamente. Tomo o lóbulo da sua orelha entre os
dentes e mordisco. Seus dedos deslizam através do meu calor e vão direto
para o meu clitóris. Caio de costas contra a parede.
— Matt — eu sussurro, tentando alcançar seu pulso. — Não deveríamos
estar fazendo isso.
— Eu sei — diz ele. — Vou ser rápido. Só quero sentir você gozar.
Não posso respirar.
— E você? — pergunto.
Ele ri.
— Isto é para mim. — Seus dedos deslizam através de minha umidade,
pressionando insistentemente e, em seguida, coloca dois dedos dentro de
mim e dedilha meu clitóris com o polegar. Ele não tem espaço para
trabalhar dentro de minhas calças jeans, de modo que seus movimentos
são rápidos. Arqueio os quadris, ajudando-o a encontrar um ritmo.
Abro os olhos e o encaro. Aqueles olhos azuis estão olhando para mim.
— Matt — protesto. Mas é mais um gemido so que um protesto.
— Vou fazer você gozar, Sky — diz ele em voz baixa. — Eu prometo.
Concordo, quase sem conseguiur recuperar o fôlego.
— Ok — sussurro. E, em seguida, os tremores começam. Matt se inclina
para mim, pressionando o corpo contra o meu para me segurar. Viro a
cabeça em direção a ele e, assim, enquanto gozo, mordo a pele macia de seu
pescoço. Ele hesita, mas rosna e vira a cabeça para cobrir meus lábios com
os seus, afogando meus gritos de liberação com a língua e os lábios.
— Shh — diz ele contra os meus lábios.
Estou gritando, e nem percebi. Meu corpo treme enquanto eu gozo,
gozo, e gozo e estou quase destruída quando ele, finalmente, para. Ele puxa
a mão da minha calcinha, fecha o zíper e o botão. Em seguida, ri e me beija
rapidamente.
— Preciso de um minuto — diz ele. Sua voz é grossa, áspera e muito
sexy.
— Você quer que eu saia? — pergunto. — Sério?
Ele me beija, sua boca, persistente.
— Por que você não vai ver as crianças? — ele pergunta. — Te encontro
em um minuto. — Ele me vira, abre a porta, e me empurra para o corredor.
Ouço-o cair contra a porta do outro lado e, em seguida, bate levemente com
o punho. Ele ri e rosna meu nome.
Oh, droga. Ainda estou me sentindo leve e lânguida, e ele acabou de me
empurrar para o corredor. Paul está passando e para de repente. Ele põe a
mão sobre os olhos.
— Não estou procurando — ele fala e caminha pelo corredor sem olhar
para mim de novo. Ele abre uma porta, e ouço um monte de gritinhos de
meninas. Aparentemente, elas estão ali. Foi fácil de achar. Sigo com meus
joelhos vacilantes, porque, realmente, o que mais posso fazer?
Estico a cabeça para dentro do quarto, onde Paul está no chão com as
três meninas que o montam como se ele fosse um cavalo. E ele não parece
se importar com isso.
Sento-me na beirada da cama de princesa de Hayley. Vejo como Paul
brinca com as meninas, rosnando para elas e girando-as. De repente, ele
olha para mim.
— Ei, Sky —fala, em voz baixa. Ele coloca as crianças para o lado e olha
para mim. Realmente olha para mim.
— Sim? — pergunto. Ainda estou meio tonta.
— Tenha cuidado com ele, está bem? — Sua voz é suave, mas forte, e é
nítido que está me alertando.
— O quê? — pergunto. Forço-me para fora da minha neblina e me
concentro nele. — Não sei o que você quer dizer.
Ele começa a arrumar os brinquedos, jogando-os em uma caixa nas
proximidades.
— Ele passou por muita coisa — diz Paul. — Não tenho certeza de que
poderia sobreviver a mais um desgosto, sendo o mesmo cara que é agora.
Não o destrua, está bem? — ele diz e suspira.
— Não farei isso — eu digo. Ninguém quer fazer algo assim, não é?
— Ele é especial — diz Paul. — Mesmo antes de ficar doente, ele era
diferente do resto de nós. Ele é bom e gentil, e ainda acredita na bondade
do coração. Ele precisa permanecer assim. Então, não o machuque. — Ele
diz a última parte em voz baixa para que as crianças não possam ouvi-lo.
— Não vou — sussurro. Quero desafiá-lo e perguntar como ele se
atreve. Mas posso ver vulnerabilidade em seus olhos. Posso ver o quão
difícil é para ele ter essa conversa comigo.
Ele balança a cabeça, levanta-se e, em seguida, sai do quarto. Sento-me e
observo as meninas brincarem enquanto organizo meus pensamentos.
Preciso de um cesto para colocá-los, porque minha cabeça, simplesmente,
não é grande o suficiente.
M AT T

Q uando saio do meu quarto, Sky está com Paul e as meninas no quarto
de Hayley. Preciso de um minuto para me recompor e lavar as mãos.
Jogo um pouco de água fria no rosto também. Demora um minuto para eu
me acalmar, e se ela não tivesse falado a respeito de eu ir com ela para casa
esta noite, eu mesmo iria sugerir isso. Nunca mais quero ter que gozar
sozinho, só dentro dela.
Saio do banheiro e sento-me no sofá para ver como Seth está indo com
meu jogo. Ele está jogando contra Logan, que não pode ouvir, então, tem
certa dificuldade. Mas, mesmo assim, ele é um excelente oponente. Ele leva
o jogo da mesma forma que leva a vida, aceitando as sugestões que
aparecem ao seu redor. E está ganhando de Seth, então, parece que está
dando certo.
Sento-me ao lado de Emily. Ela vem para perto de mim e deita a cabeça
em meu ombro. Fico abraçado com ela por um segundo e, então, afasto-me.
Ela me lança um olhar estranho.
— O que há de errado? — ela pergunta, franzindo a testa.
Puxo sua cabeça em minha direção e beijo sua testa. Adoro abraçar
Emily. Sempre adorei. Ela é como a irmã que nunca tive e sempre quis.
Somos muito ligados desde que fiz a quimio e ela me ajudou, salvando
minha vida e sacrificando a própria liberdade quando eu não queria que
meus irmãos soubessem o quanto eu estava doente. Ela ocupa um lugar
especial no meu coração.
Ela se aproxima de mim como se estivesse determinada a me abraçar.
Vejo Sky andar pelo corredor e seus olhos me encontram no sofá, mas
Reagan chama sua atenção, entregando-lhe uma margarita. Sky a pega e as
duas começam a conversar.
— Matt? O que houve?
Respiro fundo.
— Você sabe que eu te amo, certo? — digo baixinho.
— Sim... — ela responde, mas parece nervosa e preocupada. E com
razão. Odeio colocar esse olhar em seu rosto. Mas as coisas mudaram.
— E sabe o quanto amo abraçar você, certo?
Ela sorri e se inclina para mim. Mas eu afasto os ombros.
— Matt? — ela pergunta, chocada.
— Bem, a questão é a seguinte. — Passo a mão pelo rosto. — Eu te amo,
Em — digo e não estou mentindo. Nem um pouco. Ela salvou minha vida,
sacrificando tudo o que amava há dois anos, e fez isso sem nem pensar. Ela
estará sempre em meu coração.
— Tudo bem... — diz ela. — Mas? — Ela estende as mãos como se
estivesse se rendendo aos policiais.
Olho para Sky, que levanta seu copo para mim. Ela continua falando
com Reagan. Fico contente, pois preciso ter essa conversa com Emily.
— Eu te amo, Em, mas estou apaixonado por ela. — Aceno em direção à
Sky. — Quero viver com ela até estarmos bem velhinhos; até morrermos
Ela se senta, afastando-se um pouco.
— Oh — ela respira. Emily parece ter levado um tapa. Não temos outro
tipo de sentimento um pelo outro além da amizade e odeio ter que fazer
isso. Mas ficamos sempre abraçados. Acho que estou ferindo os
sentimentos de Sky e fico triste porque ela parece não entender isso.
— Estou apaixonado por ela e tenho medo de que ela se sinta mal ao me
ver agarrado com você.
Sua testa franze ainda mais.
— Então explique a ela o nosso relacionamento — diz, com uma risada.
— Ela vai entender. — Ela se inclina para ficar ao meu lado e eu a empurro
um pouco. — Matt — ela protesta. — Pare de fazer isso.
— Em — eu digo. —, se você continuar aconchegada a mim, ela não
poderá se sentar aqui, e eu quero muito, muito, muito que ela venha.
Seu rosto suaviza.
— Consegue entender agora?
Ela se movimenta em direção à Logan.
— Logan nunca se importou com nosso carinho. Por que ela se
importaria?
Honestamente, nunca transaria com Emily. Nem se ela fosse a última
mulher no planeta. Se Logan morresse amanhã, e todas as outras mulheres
do planeta também, ainda assim, não teria nada com ela, já que a amo como
irmã. Mas não quero que haja qualquer confusão. Não quero que Sky se
sinta estranha. Balanço a cabeça, pois não sei o que mais posso dizer a ela.
— Matt — ela diz baixinho. Olho para seu rosto e meu coração quase
quebra quando vejo os olhos cheios de lágrimas. —, você está realmente
apaixonado por ela, não é?
Sorrio. Não tenho como evitar.
— Sim — respondo. — Estou. — Cutuco seu ombro com o meu. — Você
está bem com isso?
Ela se inclina como se fosse me abraçar, mas para no meio do caminho.
— Ainda posso abraçá-lo, certo? — ela pergunta. Puxo-a para meus
braços e seguro-a firmemente contra mim. Então, giro-a e coloco-a sem a
menor cerimônia no colo de Logan. Ele olha para ela e sorri, surpreso ao
encontrá-la ali.
— Nós estamos bem, certo? — ela pergunta, apontando de mim para
ela.
Fico arrepiado.
— Como sempre estivemos — falo. Acaricio seus cabelos.
Sky caminha até mim e se senta ao meu lado. Coloco meu braço sobre o
encosto do sofá, e ela se aconchega à o mim. Nunca me senti tão tranquilo
ou em um momento tão certo quanto este.
Logan desliga o jogo e a TV. Agora que Emily está em seu colo, ela tem
toda a sua atenção. Ele fala comigo por sinais.
“Pode pegar a guitarra de Em?”
Levanto-me e vou até o armário onde Emily guarda a sua guitarra
favorita. Reagan distribui as bebidas enquanto Emily dedilha as cordas.
Emily se inclina, pega a minha mão, que está no joelho, e a beija
rapidamente. Meu coração se aquece. Sky sorri para mim e me olha com
curiosidade. Mas ela não está com raiva. Tenho certeza. Então, ela deita a
cabeça no meu ombro, seu corpo colado ao meu. Ela se encaixa contra mim.
Ela se encaixa em minha vida.
Até Pete e Sam param de lutar quando Emily começa a cantar. Ela tem
uma voz linda e desperta uma grande emoção dentro de mim. A sala fica
em silêncio e só ouvimos som de sua voz.
Sky suspira e eu a puxo para mim, colocando-a entre minhas coxas para
que ela possa se inclinar em meu peito. Ela deita a cabeça no meu ombro.
Ouço a porta se abrir. Friday entra no apartamento. Ela olha em volta, e
seus olhos pousam em Paul, que desvia o olhar. Os olhos dela se fecham e
ela respira fundo. Mas então, senta-se no chão ao lado de Sam, e Paul lhe
traz uma margarita. Ele se inclina perto dela e diz algo em seu ouvido. Ela
balança a cabeça e morde o lábio inferior. Ele sorri, e parece em paz por um
segundo. Em seguida, sua expressão volta ao que era antes.
A voz de Emily soa um pouco mais alta e a sala vibra com o som da sua
música. Sinto-me em paz e percebo que é assim que deve ser. Minha luta
contra o câncer. Minha luta com a vida. Minha luta com o amor. Todas as
lutas que precisei enfrentar, me trouxeram até aqui. E não quero estar em
outro lugar. Minha família está ao meu redor, a mulher que amo, em meus
braços e nossos filhos estão espalhados pelo apartamento. Nada pode ficar
melhor que isso.
SKYLAR

N ão entendo porque Emily não está tocando em um grande palco, com


ingressos esgotados pelo mundo, em vez de dedilhando a guitarra e
colocando seu coração para fora na sala de estar dos Reed. Ela tem um
talento incrível e eu poderia ficar sentada aqui o dia todo para ouvi-la. Sua
voz é completa, rica e tão emocional que quase traz uma lágrima ao meu
olho.
A cada poucos minutos, ela olha para Logan e sorri para ele. Ele observa
sua boca de perto, e vejo as pontas dos dedos tocarem a base de sua
guitarra de vez em quando.
Os braços de Matt me apertam e seus dedos deslizam por baixo da
minha camisa para descansar em minha barriga plana. É tão íntimo que
isso faz com que eu me remexa. Cubro sua mão com a minha e ele mantém
seus dedos ali por mais um segundo. Sua boca está bem ao lado da minha
orelha quando ele vira a cabeça e sussurra.
— Aposto que você ainda está molhada.
Meu rosto esquenta e minha barriga faz aquela dancinha por causa dele.
— Pare com isso — sussurro.
De repente, uma bola voa pelo ar e atinge Matt na testa. Ele consegue
pegá-la no ar. É uma bola azul de meia, não é algo que o machucaria. Ele
aperta.
— Muito divertido — diz, em direção ao quarto.
— Você vai corromper as crianças — um dos gêmeos diz. Acho que é
Sam, mas eles são tão parecidos que não tenho certeza. Então, vejo o outro
aninhado com Reagan, e tenho quase certeza de que é Sam.
— As crianças estão no outro quarto, idiota — Matt fala e lança a bola
de volta para Sam. Ele desvia e Paul a pega no ar. Ele a joga em direção a
Sam, que desvia do alvo.
Seth levanta a mão timidamente.
— Eu sou um garoto e ainda estou aqui — ele nos lembra, de
brincadeira. Em qualquer outro momento, ele não aceitaria entrar na
categoria infantil.
Sam levanta a mão também.
— Eu também. Você vai me corromper. — Ele treme de brincadeira. —
Toda essa merda de amorzinho me faz querer vomitar meus cupcakes. —
Ele arrota alto e depois cobre a boca com a mão fechada. — E trabalhei
duro nesses cupcakes — ele lembra a todos.
Matt me cutuca.
— Você já comeu o cupcake? — ele pergunta.
Balanço a cabeça.
— Ainda não.
Ele se levanta e volta da cozinha com dois.
— Você vai gostar — diz ele. — Sam faz os melhores doces. — Ele se
senta ao meu lado, o comprimento da perna pressionada juntamente à
minha.
— Ah, cupcake! — Reagan suspira e engatinha até Matt, tentando pegar
o dele. Ele ri e a afasta, mas ela aperta seu pulso e leva o doce até a boca. Ela
ri, puxando seu braço, ainda de boca aberta, e ele se esforça para não deixá-
la comer.
— Você pode derrubá-lo, princesa! — Pete grita e ri de onde está
sentado, no chão. Sam bate a palma da mão contra a dele e ri também.
— Rea-gan, Rea-gan, Rea-gan — os irmãos começam a falar. Reagan
ainda está lutando com o pulso de Matt, e ele está fingindo lutar com ela,
mas está rindo. Finalmente, ele desiste e a deixa dar uma mordida, mas
quando ela puxa de volta, o doce vai parar no seu nariz. Ela olha para cima,
chocada.
— Oh, você não deveria ter feito isso — ela fala e limpa um pouco do
glacê que está em seu rosto, apontando para Matt. — Sabe o que isso
significa? — ela pergunta, mas já está pulando na direção dele. Ele me
passa seu cupcake — ou o que resta dele — e fica de pé, pulando sobre o
encosto do sofá. Ela o segue e persegue-o em torno da ilha de cozinha,
rindo enquanto ele derrapa em suas meias. Ele segura o quadril dela e pede
clemência, mas ela não desiste. — Você é um bebezão — ela fala rindo.
Matt pega outro cupcake e a provoca.
— Quer esse? — Ele ergue a sobrancelha para ela. — Venha — ele
desafia.
Cubro minha boca para abafar uma risada. Vi Matt em uma série de
situações, mas esta brincadeira lúdica e a forma como eles estão
perseguindo um ao outro me faz querer cobrir a cabeça e rir em voz alta ao
mesmo tempo.
Reagan mergulha quando ele se lança na direção do sofá e do resto de
nós. Ela pula em suas costas e chega perto de seu rosto. Ele agarra-lhe o
pulso e a prende longe, mas então, ele desiste e leva os dedos dela aos
lábios, lambendo um pouco de creme. Ele cantarola uma musiquinha
enquanto ela se esforça para se soltar. Finalmente, ela fica mole em suas
costas e deita a cabeça na parte de trás do ombro dele. Seus ombros
tremem silenciosamente enquanto ele ri.
Viro-me rapidamente para Emily e lhe passo meu cupcake não comido.
Ela se levanta e o esfrega no rosto de Matt enquanto Reagan desce das suas
costas. Seus olhos se arregalam e ela ri muito. Reagan pega um pouco de
creme da camisa e esfrega na bochecha dele.
— Ah, é agora — ele rosna e se agacha para atirar Emily por cima do
ombro.
Emily protesta, batendo em suas costas, mas fica subitamente séria.
— Ponha-me no chão, Matt — ela geme.
Logan fica de pé e grita para Matt colocá-la no chão. Matt ainda está
rindo, sem ter percebido como eles estão sérios.
— Matt! — Paul grita. A sala fica em silêncio, e Matt se vira com Emily
ainda por cima do ombro para enfrentar Paul. — Coloque-a no chão antes
que ela se machuque — ele fala calmamente.
Logan tira Emily do ombro de Matt e a coloca de pé.
— Desculpe-me — Emily fala timidamente.
— O que há de errado? — Matt pergunta. Ele está sério, apesar do
creme espalhado em seu rosto. Reagan também está toda suja e eles
parecem ridículos. — Machuquei você? — ele pergunta à Emily.
Emily fica séria e olha para Logan como se estivesse pedindo permissão.
Ela faz sinais e fala com ele ao mesmo tempo.
— Devemos dizer a eles? — ela pergunta, mas está sorrindo. Logan
sorri também, e acena com a cabeça.
Emily respira fundo.
— Você não está doente, está? — Matt pergunta, e posso ver em seus
olhos o amor que ele tem pelas garotas de seus irmãos. E, sinceramente,
isso me faz amá-lo ainda mais.
Emily balança a cabeça. Ela sacode o polegar em direção à Logan.
— Seu irmão me deu um tiro certeiro — ela fala.
A sala fica em silêncio. Completamente silenciosa. Seria possível ouvir
um alfinete cair.
— O quê? — Matt pergunta, olhando de Logan para Emily. Ele ainda
está cheio de creme, mas está muito sério. Então, ele aponta para a barriga
da Emily.
— Você está grávida? — ele sussurra.
Emily ri e balança a cabeça.
— Estamos grávidos! — ela grita.
— Portanto, nada de jogá-la sobre o ombro — adverte Logan, olhando
para todos os irmãos. Cada um deles fica de pé. De repente, Matt a puxa e
envolve seus braços nela.
— Estou tão feliz por você — ouço-o dizer baixinho enquanto ele
balança em torno dela. Ela ri e o aperta, acariciando suas costas.
Matt olha para sua barriga.
— Você vai ser a melhor mãe de todas, Em — ele diz.
— Espero que sim — ela diz baixinho, colocando a mão na barriga. Os
outros irmãos se aproximam para felicitá-los. Eles dão soquinhos em
Logan, enquanto Emily recebe muitos abraços suaves.
— Acho que ela vai nascer linda como o pai — ela fala, mordendo o
lábio.
— Ou super talentosa como você — Matt diz com veemência.
Emily sorri para ele, com lágrimas nos olhos.
— Só quero saber uma coisa — Matt fala.
Ele envolve um braço ao redor dos ombros de Emily e olha para ela.
Estremeço quando vejo o que ele está prestes a fazer, mas ela meio que
merece. Ele estica o braço na direção da bancada e pega dois cupcakes.
— O bebê vai gostar mais de chocolate ou baunilha? — ele esfrega o
cupcake no rosto assustado de Emily.
Ele ri e foge dela. Logan passa um dedo pelo rosto da namorada,
pegando um pouco de creme e levando-o aos lábios. Ele ri.
— Cupcakes excelentes Sam — Logan fala.
Sam ri.
— Vou me limpar — Matt fala, gesticulando em direção ao banheiro. Ele
entra e fecha a porta.
— Ele está bem? — Emily pergunta a Paul, parecendo preocupada. Ela
pega um pano de prato e começa a limpar o rosto, seu olhar nunca
deixando a direção na qual Matt passou.
— Ele está bem — diz Paul. Mas seu olhar paira sobre a porta do
banheiro.
Não consigo evitar, mas me surpreendo com sua família. Eles se amam e
se cuidam. Olho para Seth, que foi assistir televisão. Eles me lembram de
como Seth é com as meninas. Eles são brincalhões, amorosos e apoiam uns
aos outros. De repente, quero ser parte dessa família mais do que qualquer
coisa. Quero ser parte da família de Matt. E quero que ele seja parte da
minha.
M AT T

C acete, Emily está grávida. Logan vai ser pai. Emily vai ser mãe. E eu vou
ser tio mais uma vez. Olho para o espelho e engulo em seco para empurrar
os sentimentos de volta para dentro de mim, onde eles podem ficar bem
escondidos. Particularmente, não gosto de transparecer em meu rosto.
Deixo a porta do banheiro aberta, já que entrei só para me limpar. A
cereja está aderindo em minha barba por fazer e é difícil de tirar. Emily
bate na porta. Ela está ridícula toda suja de creme. Ainda mais ridícula que
eu. Ela lambe os dedos enquanto entra no banheiro e pega uma tolha. Não
fala nada enquanto se inclina sobre a pia e a molha, limpando seu rosto.
Seus olhos, finalmente, encontram os meus no espelho.
— Você está bem, Em? — pergunto.
Ela balança a cabeça e continua limpando o rosto.
— Essa anilina azul é difícil de sair. Preciso dizer a Sam para usar uma
cor diferente da próxima vez.
— Ou, da próxima vez, podemos tentar não usá-la no rosto.
Ela desliga a água e se inclina para perto do espelho enquanto continua
a esfregar.
— Fale comigo, Em — eu peço.
Ela balança a cabeça.
— Como isso aconteceu? — pergunto.
Um sorriso surge em seus lábios, corando seu rosto.
— Sério, Matt? — ela pergunta.
Reviro meus olhos.
— Não foi isso que eu quis dizer — falo.
— Eu sei o que você quis dizer — ela responde, jogando água no rosto
novamente. Mas ele está limpo, então, acho que ela está apenas à procura
de algo para fazer para manter as mãos ocupadas. — Você se lembra de
quando tirei o siso, alguns meses atrás?
Claro que me lembro. Ela ficou parecendo um esquilo por uma semana.
— Sim, os antibióticos — diz ela, encolhendo os ombros.
— Você está feliz, certo? — pergunto.
— Eu não poderia estar mais feliz. — Seus olhos encontram os meus, e
sei que ela não está mentindo.
Afasto sua franja, retirando um pouco de creme dos seus cabelos.
— O que está te incomodando, então? — pergunto.
Ela respira fundo e fecha os olhos.
— E se ele ou ela for como eu? — ela sussurra. Emily tem dislexia e é
quase analfabeta. Ela tem que se esforçar muito para fazer todas as coisas
que a maior parte das pessoas consegue, como ler placas de rua e cardápios
em restaurantes.
— E qual o problema? — pergunto baixinho. Quero gritar com ela, lhe
dizer o quanto ela é fabulosa. Quero dizer como ela é sortuda por ter um
bebê, e que essa criança terá muita sorte em ter Logan e ela como pais e
vários tios e tias que irão mimá-lo o tempo todo.
— Só estou com medo — ela fala e balança a cabeça como se quisesse
afastar o pensamento. — Não desejo minha incapacidade de aprendizagem
ao meu pior inimigo.
— Se ele ou ela tiver o mesmo, você vai buscar a ajuda necessária para
ter sucesso. — Isso é algo que Emily nunca teve. Ela não teve apoio. Seu pai
achava que ela não se esforçava o suficiente e ninguém lutava por ela, até
que ela conheceu Logan.
Ela olha para mim.
— Ele vai ficar bem de qualquer maneira, certo?
Logan perdeu a audição por causa de uma febre, então, eles não têm que
se preocupar com a possibilidade de seu filho herdar sua deficiência
auditiva.
— Vai ficar tudo bem — respondo. E não tenho dúvida de minhas
palavras, não mesmo. — Você vai ser uma ótima mãe, Em.
Ela acena e joga a toalha na minha cara. Eu a pego e jogo-a no cesto,
junto com a minha. Ela coloca a mão na barriga.
— É difícil acreditar que tenho uma pequena pessoa crescendo dentro
de mim — ela fala suavemente.
Coloco minhas mãos em seus ombros e a sigo para fora do banheiro,
mas ouço um choro vindo do quarto de Hayley. Olho nessa direção e vejo
Joey e Mellie em pé com Hayley e Mellie parece ter feito xixi na calça.
— Uh oh — falo. Coloco o dedo em meus lábios. — Shh — eu digo. —
Não diga a ninguém. Volto já.
Pego a bolsa que Sky trouxe e tiro roupas limpas para Mellie. Em
seguida, pego-a pela mão para que eu possa levá-la ao banheiro. Não estou
muito certo do que fazer quando ela não me solta e me arrasta, junto com
ela, para o banheiro. Deixo-a se limpar e ela veste as roupas limpas,
enquanto me sento na borda da banheira. Isso tudo é novo para mim. Bom,
já fiz isso com Hayley, mas ela vive com a gente e é minha sobrinha. Ela ser
da família faz com que isso seja mais fácil.
Seguro-a na pia para lavar as mãos e penso em ficar de olho nela para
manda-la ir ao banheiro a cada meia hora mais ou menos. Coloco suas
roupas no cesto. Vou lavar e devolver para Sky amanhã. Saímos do
banheiro e Mellie sorri para mim e abraça minha perna logo abaixo do
joelho. Ela se senta no meu pé e dou alguns passos com ela colada a mim
como uma bota, seu aperto parecendo velcro. Ela acha divertido e as outras
meninas também querem brincar.
Depois que todas fazem um passeio agarradas as minhas pernas,
certifico-me de que elas se sentem para lanchar e vejo Emily no corredor.
Ela me olha de cima a baixo e assente.
— O quê? — pergunto.
— Nada — ela sussurra, sorrindo como uma tola.
— Diga — repito.
Ela encolhe os ombros. Mas então, olha para o meu rosto.
— Você vai ser o melhor pai do mundo, Matt — ela fala.
Meu coração incha.
— Bom, pelo menos não vou ter que me preocupar com eles serem
como eu. — Passo a mão em minha barriga. — Ser bonito é um grande
fardo para carregar.
Ela ri e me dá um soco.
Me curvo, segurando meu estômago e vejo Sky vindo em minha direção.
Ela olha para o quarto de Hayley.
— Só estava indo verificar as meninas — ela fala.
— Já olhei — falo. Sua testa franze e ela parece tão linda que quero
beijá-la. — — Não diga a ninguém, mas Mellie fez xixi na calça — sussurro
dramaticamente.
Ela se vira em direção a sua bolsa.
— Oh, é melhor eu pegar algumas roupas — ela fala.
— Já cuidei disso — eu digo e envolvo meus braços em volta dela.
Ela me abraça de volta.
— Você cuidou dela? — Ela coloca o rosto contra meu peito e se
aconchega a mim. Eu poderia ficar assim o dia todo.
— É claro.
Ela murmura algo contra o meu peito que soa como:
— Você é realmente sexy quando cuida de crianças.
— Ei, você deveria me ver quando aspiro o pó. E lavo os pratos. Você
não será capaz de resistir ao meu jeito sexy.
Ela ri e beija meu peito, perto do coração.
Voltamos para a sala e me sento aos pés dela, que está no sofá. Emily
pega sua guitarra depois de Reagan ter se limpado. Ela começa a tocar, e
sinto os dedos de Sky tocarem meu pescoço. Tiro o elástico do cabelo e
inclino-me mais para perto dela, que começa a me acariciar.
Eu realmente preciso de um corte de cabelo, mas depois de ter ficado
careca por tanto tempo, não quero fazer isso. Sinto-me como Sansão, que
tirava sua força dos cabelos. Sei que é besteira, mas é assim que me sinto. O
fato dele estar comprido me faz pensar que estou saudável, que não estou
passando por quimioterapia, nem tomando remédios.
Sky não para de me acariciar, nem mesmo quando a música muda.
Tenho a minha família ao meu redor, e nada nunca foi tão bom.
— Então, quem vai para o casamento amanhã? — Pete pergunta de
repente.
Os dedos de Emily erram as notas e ela coloca-os sobre a corda para
acalmar o barulho.
— Pete — ela sussurra.
— O quê? — ele pergunta, erguendo as mãos.
— Que casamento? — Sky pergunta.
Olho para ela.
— Um velho amigo meu vai se casar — respondo.
Pete faz um barulho de sopro com a boca que soa muito parecido com o
barulho que ouvimos um bode fazer, uma vez, em um zoológico. Paul olha
para ele, que engole tudo o que ia dizer em seguida.
— Por que ele iria? — Reagan pergunta à Pete e o olha para como se
tivesse crescido dois chifres nele.
— Para provar que ele su... — Pete grunhe e para quando Reagan dá
uma cotovelada em seu estômago. Honestamente, eu teria chutado suas
bolas. — O convite era para todos nós — Pete resmunga. — Deveríamos,
pelo menos, ir e comer e beber tudo que pudéssemos.
— Você quer ir? — Sky me pergunta.
Balanço a cabeça.
— Na verdade, não.
— Você disse que ele é um velho amigo, certo? — ela pergunta.
Aceno.
— Mais ou menos.
— Acho que você deve ir.
— Você poderia levar Sky junto — Pete falar — Esfregar essa gost... —
Ele resmunga novamente quando Reagan lhe dá um tapa na parte de trás
da cabeça.
— Acerte-o nas bolas da próxima vez — digo a Reagan.
— Boa ideia! — ela fala enquanto atira punhais para ele com os olhos.
— Suas bolas serão minhas da próxima vez que você abrir a boca — ela
avisa, apontando um dedo em direção a sua virilha.
— As minhas bolas são suas desde o dia em que te conheci, princesa —
diz ele.
Sam faz um ruído de engasgo, fingindo que vai vomitar.
— Então, você quer ir? — Sky pergunta. Queria que ela deixasse isso
para lá. Mas tenho que dizer o que está acontecendo e, honestamente, estou
me divertindo tanto que não quero pensar em April ou Ken. Não quero
deixá-los roubar um minuto da minha felicidade.
Emily dá uma cotovelada em Logan
— Nós poderíamos ir com eles — diz ela. — Para dar apoio moral.
Logan encolhe os ombros. Aparentemente, ele não poderia se importar
menos.
— Bem, então parece que vamos — falo, com uma respiração pesada. —
Uhu. — falo, inexpressivamente. — Você tem um vestido para ir? — Olho
para Sky.
— Oh, você quer que eu vá com você? — ela pergunta, com os olhos
arregalados.
Puxo sua mão até que ela não tenha escolha a não ser inclinar-se para o
meu rosto para que eu possa beijá-la.
— Eu não iria sem você. Venha comigo.
— E as crianças? — ela pergunta.
Friday levanta a mão.
— Eu tomo conta. Não tenho nada melhor para fazer.
Mas Seth a interrompe.
— Eu cuido delas. Nada demais.
— Você não tem outros planos? — Sky pergunta.
Ele balança a cabeça.
— Não. — E evita o olhar dela. — Absolutamente nada. — ele fala. Uma
sombra cruza seu olhar, mas não faço ideia do que é. Vou descobrir mais
tarde.
— Então está resolvido — diz Pete. Ele se inclina para trás, um olhar de
satisfação no rosto.
Está longe de estar resolvido. Muito, muito longe de estar resolvido.
Mas pelo menos, Sky estará comigo, o que vai tornar isso suportável.
SKYLAR

M att e Seth me ajudam a descarregar o carro e subir com as meninas.


Juro, ser mãe é muito mais trabalhoso do que eu imaginava. Temos que
carregar brinquedos e roupas, além dos próprios filhos. Matt está com Joey
no ombro e Seth carrega Mellie.
As meninas dormiram no apartamento de Matt e decidimos trazê-las
para casa, em vez de deixá-las acordar em um lugar estranho. Além disso,
acomodar Seth, eu e Matt seria complicado. E eu quero acordar na minha
própria cama com Matt amanhã de manhã, se ele quiser ficar, é claro. Não
perguntei a ele ainda. Mas é o que quero.
Sei que ele se preocupa em ser um mau exemplo para Seth, mas Seth é
quase um adulto. Acho que vai aceitar bem.
Entramos e os dois colocam as meninas na cama e as cobrem. Dou um
beijo nelas, porque essa já se tornou nossa rotina noturna. Às vezes, ainda
me levanto e vou até o quarto para observá-las dormir, mas já participo do
ritual de ir para a cama também. Gosto de colocá-las para dormir e ouvi-las
falar com sua mãe quando pensam que saí do quarto. É comovente e
edificante ao mesmo tempo.
Matt e eu vamos para a cozinha, e ele pega uma garrafa de água da
geladeira.
— Foi muito divertido esta noite — falo enquanto coloco alguns pratos
na lavadora.
— Também achei — ele fala. — Minha família gosta de você.
— Você já sabia sobre Emily e Logan? Você pareceu surpreso.
Ele bufa.
— Eu não teria jogado-a por cima do meu ombro se soubesse. — Ele
estremece um pouco. — Não queria machucá-la.
— Você está feliz por eles, não está? — pergunto. Observo-o
atentamente, porque Matt é muito expressivo.
— Ah, com certeza. Mas Emily está muito preocupada.
— Com o quê?
— Ela tem dislexia — diz ele. — Tem dificuldade com a leitura.
— Eu sei o que é dislexia.
— Ela tem medo que o bebê também tenha, se tiver seus genes. — Ele
encolhe os ombros. — Ela Só está preocupada, como qualquer nova mãe
estaria.
— Você acha que Logan vai conseguir cuidar do bebê? — pergunto.
Sempre me perguntei como as pessoas surdas conseguem conviver com
crianças ouvintes.
— Ele tem ajudado Paul a cuidar de Hayley por toda a sua vida — diz
ele. — É muito mais capaz do que as pessoas podem imaginar.
— Oh, não foi isso que eu quis dizer.
Mas ele me corta com um sorriso.
— Eu sei. Entendi.
— Será que ela vai ter que sair da faculdade? — pergunto. Sei que Emily
está na Juilliard.
Ele dá de ombros.
— Não faço ideia, mas eles vão resolver isso. Às vezes, acho que ela foi
para a faculdade apenas para provar que poderia ter sucesso. E tem. Ela
está satisfeita. Tudo o que ela quer fazer é tocar música
— Com a voz que tem, ela deveria estar tocando em grandes shows. —
falo. Foi realmente incrível.
Ele balança a cabeça.
— Ela não quer ser famosa. Só é realmente apaixonada por música. E
ama meu irmão. Então, eu a amo.
Vou até ele, envolvo meus braços em sua cintura e coloco minha cabeça
em seu peito. Minha bochecha repousa sobre seu coração.
— Minha pequena família se encaixa muito bem na sua grande família
— digo em voz baixa.
— Sim. — Ele me coloca de frente para ele com as mãos sobre meus
ombros. — Você estava preocupada com isso?
Dou de ombros.
— Talvez um pouco.
— Fale comigo — diz ele.
— Vocês são tão unidos — eu admito. — Estou com inveja vínculo que
vocês têm.
— Você faz parte disso agora. Você sabe, certo? — ele pergunta e os
pelos em meus braços se arrepiam. — Assim como Emily e Reagan. Você é
parte da família.
Concordo com a cabeça, contra seu peito. Seth entra na cozinha e
encosta seu quadril no balcão.
— Você se importaria se eu chamasse algum um amigo amanhã à noite
enquanto estou cuidando das meninas? — ele pergunta. Mas não me
encara, nem a Matt. Humm.
— Quem é o amigo? — pergunto.
Ele dá de ombros.
— Não sei ainda. Só achei que seria divertido ter alguém para
conversar.
— Conversar? — Matt pergunta. — É o que você está planejando fazer?
Seth cora.
— Bem, nós podemos jogar Xbox ou algo assim também.
— Por que você não pensa em quem gostaria de chamar e amanhã
conversamos sobre isso? — pergunto. — Pode ser assim?
Ele faz uma careta, mas concorda. Ele se senta à mesa da cozinha e
começa a folhear uma revista. Matt coloca as mãos nos bolsos e se vira para
mim, arqueando as sobrancelhas. Em seguida, ele se senta em frente à Seth
e abre o jornal até que encontra a seção de palavras cruzadas. Ele e Seth
começam a preencher as colunas juntos. Seth ri quando Matt escreve uma
palavra errada. E Matt implica com Seth incessantemente por sua caligrafia.
Eles parecem felizes e confortáveis juntos, então, vou para o quarto tomar
banho e vestir meu pijama.
M AT T

O lho para a bunda de Sky enquanto ela caminha até seu quarto sem falar
nada. Solto um suspiro. Quero segui-la, agarrar sua bunda, levantar sua
camisa e morder a pele sensível logo acima de seu quadril. Quero despi-la
lentamente. Me remexo na cadeira e ajeito meu jeans. Seth bufa.
— O quê? — pergunto, tentando parecer inocente.
— Cara, você é tão transparente — ele resmunga, mas está sorrindo. Ele
não está irritado.
— O que é transparente? — pergunto. O quanto a amo? Espero que seja
transparente. O quanto a respeito? Espero que isso seja óbvio. O quanto eu
a quero? Acho que é melhor que isso fique só entre nós dois.
Ele fecha a revista.
— Desculpe-me por ser um empata foda — ele fala.
Isso me aperta o estômago.
— Não fale sobre sua tia dessa forma — reclamo.
Sua testa franze.
— Não disse nada de ruim sobre ela.
— Não fale como se eu estivesse apenas tentando me dar bem com ela.
As coisas não são assim.
Ele acena com a cabeça lentamente.
— Se você diz.
— Seth... — advirto.
— O quê?
Não consigo pensar no que eu deveria dizer a ele, então, tenho que falar
a verdade.
— Eu a amo, Seth. Amo muito. E sim, quero me dar bem com ela. Mas
também quero me casar com ela e quero amá-la para sempre. Quero viver
com ela e compartilhar todos os seus altos e baixos. — Tamborilo meus
polegares em cima da mesa, tentando descobrir o que dizer para fazê-lo
entender. Ele é uma bomba de hormônios, não pensa a longo prazo. Mas eu
penso. — Então, quando você fala que é um empata foda, me faz pensar que
só estou atrás disso. E não é assim. Eu a respeito. E quero ter certeza de que
você saiba disso.
Seth acena lentamente de novo, como se estivesse pensando sobre o
assunto.
— Você se incomodaria se eu a pedisse em casamento? — deixo
escapar. Não faço ideia de onde isso veio, mas está lá.
Sua testa franze mais.
— Você realmente quer se casar com a tia Sky?
Concordo. Quero. Quero muito.
Ele olha ao redor e o músculo em sua mandíbula treme.
— O que acontecerá conosco se vocês se casarem? — ele pergunta.
— Hã? O que você quer dizer?
— Se você e a tia Sky se casarem, ela será sua esposa. Nós estamos nos
acostumando com o fato de ela ser nossa mãe.
Oh, entendi. Merda.
— Ela não pode ser as duas coisas? Mãe e esposa?
Ele dá de ombros.
— Pode?
— A única diferença que vejo é que você teria dois pais em casa em vez
de um.
Os olhos de Seth se estreitam.
— Dois pais.
Eu concordo.
— Seth, sei que não sou seu pai, e nunca vou ser. Mas quero ser parte de
sua vida. Da forma que você permitir. — Sei que, em alguns aspectos, ele
não vai gostar, mas faz parte do que os pais precisam fazer. Ser pai tem
momentos complicados. — Não quero tirar Sky de vocês. Eu juro. — É
importante que ele entenda essa última parte. Ele precisa se sentir seguro
com ela e sei que ela sempre estará lá para ele e as irmãs. Inferno, em dois
anos, ele estará indo para a faculdade. Não vou ter muito tempo com ele,
não como terei com Joey e Mellie.
— Sua família é muito legal — Seth diz, calmamente.
— Às vezes, eles não são. — Eu rio. Geralmente, eles são.
— Então você vai ficar esta noite? — Seth pergunta.
Balanço minha cabeça.
— Não.
— Por que não? — Ele parece confuso.
— Porque eu respeito Sky. — Porque não quero que você pense mal dela.
— Como quiser, cara — ele fala e se levanta. — Vou para a cama.
— Boa noite — falo.
Ele entra em seu quarto e fecha a porta. Deixo escapar um suspiro
profundo. Deus, há muita coisa a considerar quando há um adolescente em
casa. Ele é impressionável e vai aprender a tratar as mulheres da forma
como sua mãe foi tratada e da forma como Sky será tratada perto dele no
futuro. Estou determinado a ser uma boa influência.
Sky sai de seu quarto, o cabelo úmido ao redor dos ombros.
— Seth foi dormir? —pergunta. Ela está agitada, como se não estivesse
completamente certa do que fazer.
— Sim. — Levanto-me e me apoio contra o balcão. Ela se vira para
programar a cafeteira para amanhã de manhã, e vejo seu traseiro nessas
calças de pijama. Quero agarrá-lo e afundar meus dentes nele. Mas tenho
que ir para casa. Gemo para mim mesmo.
— O que há de errado? — ela pergunta, virando-se para me encarar.
— Belo pijama.
Ela olha para si mesma, sorri, e faz uma pose dramática.
— Você gosta?
Passo a mão pelo meu rosto.
— Gostaria mais se ele estivesse no chão.
Ela congela. O pedaço de pele que posso ver pela abertura da camisa
fica corado, deixando-a rosada.
— Oh — ela suspira, mas sorri, balançando um dedo para mim. — Acho
que eles adorariam estar no chão.
Gemo novamente e atiro a cabeça para trás.
— Não posso.
Ela congela novamente.
— Você não vai ficar?
Balanço a cabeça. Eu sou estúpido. Eu sei.
— Por que não? — ela pergunta em voz baixa.
Aponto para o quarto de Seth.
— Porque temos um adolescente no outro quarto, e preciso dar um
bom exemplo para ele. — Odeio isso. Mas é assim que as coisas são.
— Você está preocupado com Seth?
Concordo com a cabeça.
— Acho que Seth tem idade suficiente para entender.
Balanço a cabeça novamente.
— Eu sei. Mas ele acabou de dizer algo que me incomodou. Não quero
que ele pense que estou com você só por sexo. — Quero fazer sexo, mas
isso não vem ao caso.
Ela faz um gesto com as mãos.
— Eu meio que esperava fazer sexo — ela sussurra com veemência e
olha em direção à porta fechada do quarto de Seth. — Ele está na cama.
Nunca vai saber.
Aponto para o meu peito.
— Mas eu vou saber.
Ela suspira e seus ombros caem.
— Coloquei perfume e tudo — ela murmura.
Vou até ela e passo meus braços ao redor do seu corpo, cheirando seu
pescoço. Posso sentir o cheiro doce, mas não posso dizer onde ela aplicou o
perfume.
— Onde? — pergunto, hesitando quando ouço o tremor em minha voz.
— Você não gostaria de descobrir? — ela pergunta com uma risadinha.
Se aproxima nas pontas dos pés e envolve seus braços em meu pescoço.
Eu a levo para seu quarto enquanto a beijo. Seus lábios estão famintos
pelos meus e ela me beija avidamente. Quero ficar. Quero estar dentro dela,
mas não posso.
Pego a bainha de sua camisa e a empurro, gentilmente, pela porta do
quarto, ao mesmo tempo em que puxo a camisa sobre a cabeça.
— Mudou de ideia? — ela pergunta, sem fôlego, cobrindo os seios com
as mãos. Eles incham ao redor dos seus dedos e quero muito beijá-los,
Levo sua camisa até o nariz e a cheiro.
— Vou levar isso comigo porque tem seu cheiro.
— Matt — ela protesta, mas é mais um grunhido brincalhão. — Devolva
minha camisa.
— Se você quer a camisa, tem que me dar sua calcinha — falo.
Olho para baixo.
— Não estou usando calcinha — diz ela, me provocando.
Inclino-me para a frente e beijo sua testa, demorando-me por apenas
um momento, sentindo-a segurar minha camisa.
— Deus, você está me matando — falo. Minhas mãos sobem e descem
por suas costas nuas, e ela ronrona como um gatinho, pressionando os
seios contra o meu peito.
— Fique — ela pede baixinho.
Balanço a cabeça. Seguro suas mãos e solto seus dedos da minha
camisa, vestindo-a novamente.
— Se fosse apenas nós dois, você não seria capaz de se livrar de mim.
— Mas não é.
Balanço minha cabeça.
— Boa noite — falo, ficando de pé.
— Boa noite — ela responde, recostando-se na cama.
Saio pela porta da frente e solto um gemido alto. Quero voltar para ela.
Mas também quero fazer isso da maneira certa.
SKYLAR

M att mal sai pela porta da frente, quando ligo para ele. Na verdade,
posso ouvir o som do elevador e o sinal ruim quando ele me atende com
nada mais que um gemido.
— Matt — digo em voz baixa.
— Oi — ele resmunga, mas quase posso ouvir o sorriso preguiçoso em
sua voz.
— Volte.
Ele respira pesadamente. Em seguida, fala baixinho:
— Se você disser essa palavra mais uma vez...
Minha respiração acelera, e meu coração começa a disparar.
— Matt. — Estou sorrindo como uma tola, mas não me importo. Minha
porta está fechada, e ninguém pode me ver.
— Você ainda está de topless? — Matt pergunta. Sua voz está muito
rouca.
Olho para baixo e cruzo os braços sobre os meus seios nus. Acho que
estou.
— Sim — respondo.
Ele geme novamente.
— Envie-me uma foto.
— Sou advogada. Não fazemos esse tipo de maluquice. — Isso para não
falar que sou mãe. E mães não fazem isso. Olho para o meu peito e abaixo
os braços. — Meus mamilos estão duros.
— Sky! — ele me repreende, mas está rindo também. — Pare.
— O que há de errado, Matt? — provoco. Ouço-o passar seu endereço
para um motorista de táxi. — Por que você está pegando um táxi? — Ele,
normalmente, pega o metrô.
— Porque quero chegar rápido em casa. — ele responde.
— Por quê? — Ajoelho sobre a cama e engatinho até o centro dela. Eu
provavelmente deveria colocar uma camisa, mas gosto da sensação de ser
impertinente e ficar seminua enquanto converso com Matt.
— Porque quero falar com você até você gozar — ele fala.
— O quê? — pergunto. Meu coração quase sai pela boca
— Você me ouviu. — Ele ri. — A menos que você não queira. — Ele
espera pela minha resposta.
— Também quero que você chegue lá — sussurro.
Ele também sussurra, sua respiração ainda mais pesada.
— Fale comigo sobre outra coisa por alguns minutos — ele fala, rindo.
Ouço-o gemer e então, fica em silêncio. Consigo ouvir os ruídos da rua e um
som suave quando ele começa a cantarolar em meu ouvido. Sorrio. Não
consigo evitar.
Depois de uma curta viagem, ouço-o agradecer ao motorista de táxi e
bater a porta do carro. Em seguida, ele sobe os quatro lances de escada até
seu apartamento. Ele está respirando um pouco mais pesado quando chega
ao topo, mas não muito.
— Agora não — ouço-o murmurar a alguém.
— Quem era? — pergunto.
— Paul.
— Você precisa falar com ele?
— Tudo que eu preciso agora é fazer com que você goze. Ele pode
esperar. — Ouço suas chaves caindo em algum lugar. — Tranque a porta.
Saio da cama e faço o que ele pede. Minha mão está sobre a maçaneta da
porta enquanto penso sobre o que estou prestes a fazer. Um arrepio
percorre minha espinha, mas eu tranco a porta rapidamente. O clique da
chave soa e eu agarro a maçaneta por um segundo.
— Boa menina — ele fala. Sua voz é suave como seda e desliza pelo meu
corpo, deixando meus joelhos fracos. — Vá deitar na cama de novo.
— Você é meio mandão.
— Eu sei. Você gosta.
Gosto mesmo.
— Como você sabe?
— Porque você está molhada e escorregadia, e seu coração está batendo
assim como o meu. — Ele espera um segundo. — Não é?
Este é Matt. Claro, ele se preocupa com o que eu sinto.
— Sim — eu sussurro.
Ele rosna.
— Tire a parte de baixo.
Seguro o telefone entre o ombro e meu ouvido e engancho os polegares
na calça do pijama, puxando-a para baixo.
— Ok.
— Você está nua?
— Exatamente como no dia em que nasci — digo, soltando uma
risadinha nervosa.
— Deus, você é linda.
— Como você sabe?
— Porque sempre vez que fecho meus olhos, você é tudo que vejo. Você
está na minha cabeça, Sky, a cada minuto de cada dia.
Eu estava quente há um minuto, mas agora, estou sem fôlego.
— Seus mamilos estão duros? — Sua cama range quando ele fala.
— Você está na cama? — pergunto.
— Sim. — Ele resmunga. — Ou melhor, sobre ela.
— Eu também.
— Ótimo. Agora, de volta a seus mamilos.
— O que têm eles? — Sorrio.
— Adoro eles. São rosados e perfeitos, e quando tiro seu batom durante
o beijo, vejo que eles são do mesmo tom dos seus lábios. — Ele faz uma
pausa. — Toque-os.
— Tocá-los como?
— Não seja suave. Eles devem estar doloridos e duros. — Ele espera.
Estou certo?
— Como você sabe?
Ele ri, mas é um som de dor.
— Porque também estou dolorido e duro, Sky.
— Oh.
— Comprima-os levemente, os dois ao mesmo tempo. — Sua respiração
fica mais pesada.
— Matt — eu sussurro. — Não tenho certeza de que posso fazer isso.
— Feche os olhos.
Eu fecho.
— Agora, toque seus mamilos.
Suspiro enquanto meu polegar toca um dos mamilos duros.
— Deus, Sky — ele sussurra.
Ele estava certo. O toque furtivo do meu polegar não é suficiente.
Seguro meus seios e aperto meus mamilos entre o polegar e o indicador.
Quase deixo cair o telefone.
— Se eu estivesse aí, iria beliscá-los e depois lamber.
— Matt.
— O quê? — Ele ri.
— O que você está fazendo?
Ele ri novamente.
— O que você acha que estou fazendo?
— A mesma coisa que eu?
— Bem, não tenho seios bonitos para brincar, mas, sim.
— Quanto tempo até que eu possa me mover para o sul? — pergunto.
Mantenho os olhos fechados, esperando que ele ria de mim.
Mas ele não ri.
— Agora.
— Graças a Deus — suspiro.
— Coloque os joelhos para cima e, em seguida, abra-os. Por favor.
Faço como ele pede e me sinto muito exposta, mesmo que não haja
ninguém no quarto comigo.
— É uma boceta linda — ele fala. — Abra-a com os dedos para que eu
possa ver.
Meus dedos separam as dobras molhadas, que estão inchadas e
doloridas.
— Boa menina —ele fala.
— Como você sabe que fiz o que pediu?
— Porque eu posso ouvir em sua voz, Sky.
Mal posso respirar.
— Ouço cada respiração e suspiro. Ouço até o que você não quer que eu
ouça.
— Como o quê?
— Ouço seus medos. Suas dores. Seus desejos e necessidades. Ouço
tudo.
Aperto meus olhos bem fechados.
— Ninguém nunca me ouviu antes. — Uma lágrima quente desce
lentamente em meu rosto.
— Eu ouço tudo. — Ele espera alguns segundos. — Toque sua boceta,
Sky.
Deslizo os dedos pela minha umidade.
— Mergulhe-os lá dentro e deixe-os molhados.
— Quantos dedos?
Ele rosna.
— Quantos você aguenta?
Deslizo meu dedo médio, bombeando dentro e fora. Depois, adiciono o
indicador. E, quando acho que não consigo suportar mais, abro-me ainda
mais, adicionando o anelar. Estou cheia e preenchida por meus dedos, mas
não me importo.
— Três — respondo a ele.
— Jesus.
— O que você quer que eu faça agora, Matt?
— Acaricie seu clitóris. — Ele resmunga, e eu ouço um barulho em sua
extremidade do telefone.
— Você está usando lubrificante?
— Cuspe. — Ele resmunga. — Estou com pressa.
Acaricio meu clitóris em pequenos círculos.
— Não vou durar muito tempo — advirto.
— Graças a Deus — ele rosna.
Meu clitóris está duro e inchado e, oh, tão sensível. Minhas carícias me
deixam querendo mais e mais.
— Mais rápido — ele insiste. — Preciso ouvir você gozar.
— Você está me esperando? — Minha respiração ofega junto com meu
coração.
— Sempre — ele suspira.
— Matt — eu grito.
— É isso mesmo — ele insiste. — Diga meu nome.
— Matt, Matt, Matt.
— Sou eu que te completo, Sky. Só eu. — Sua voz é baixa e suave e
atinge meu centro.
— Só você.
— Eu. E você.
Minhas pernas tremem e sei que é hora.
— Sky — ele implora. — Por favor, agora.
Um gemido deixa minha garganta quando meu corpo se curva com o
prazer.
— Não pare — pede. Ele resmunga, e posso dizer que está gozando
também. — Por favor, não pare — ele implora.
Gemo baixinho, meu corpo torturado com tremores.
— Não pare — ele fala, sua voz cada vez mais suave.
— Ahh. — Tenho que parar. Meu clitóris está muito sensível, meu corpo
destruído. Diminuo a velocidade dos meus dedos e deixo os pequenos
tremores me levarem. Sensível, paro de esfregar minha boceta enquanto o
ouço respirar.
Ficamos assim por um momento, até que o ouço se mover.
— Fique comigo, Matt — peço.
— Não vou deixar você — ele fala com uma risada. — Só preciso me
limpar. Estou todo sujo.
— Oh — suspiro e dou uma risada. Esqueci disso.
— Sim — diz. Ele se move por alguns segundos e, então, ouço sua cama
ranger novamente. Imagino-o recostando-se contra os travesseiros, um
sorriso satisfeito no rosto. — Você está bem? — ele pergunta baixinho.
— Hum-hum — murmuro.
Ele ri.
— E ela está sem palavras depois do orgasmo.
Não consigo segurar a risada. Estou nua, deitada em cima das minhas
cobertas, e ele me fez atingir o clímax pelo telefone.
— Onde você aprendeu a fazer isso?
— Aprendi? — ele pergunta bufando. — Merda, nunca fiz isso antes. A
culpa é toda sua. — Ele ri. — Não posso acreditar que deixei você me
corromper assim.
Meu sorriso se amplia.
— Vai ficar comigo até eu dormir?
Ele boceja.
— Você não tem como me impedir.

ACORDO E OLHO para o relógio. São duas horas da manhã e estou nua e gelada
em cima das cobertas. Levanto-me e coloco meu pijama, em seguida, vou ao
banheiro e lavo as mãos. Olho-me no espelho e balanço a cabeça. Algumas
semanas atrás, eu era uma garota, vivendo uma vida de solteira, com um
namorado que não se importava comigo. Agora, tenho três filhos que estou
aprendendo a amar além de qualquer coisa que eu imaginava e tenho Matt.
Nunca pensei que poderia sentir por alguém o que sinto por ele. Eu meio
que sinto muito por Phillip. Ele nunca me atingiu a esse ponto, e nunca dei a
ele o que estou disposta a dar a Matt.
Sinto aquele desejo irresistível de ir ver as meninas. Ando pelo corredor
até o quarto delas. A luz noturna, que fica acesa, brilha suavemente. Mellie
está descoberta, então, puxo suavemente a colcha e a cubro. Ela ressona e
vira para o outro lado. Joey raramente se move enquanto dorme, mas puxo
sua coberta até o queixo mesmo assim. Ela não se mexe.
Quero verificar Seth também, mas ele é um adolescente, e tenho receio
de abrir sua porta. Decido não me arriscar.
Entro na sala de estar e vejo a luz de um abajur acesa. Seth me olha por
cima do ombro e fecha o livro que está aberto em seu colo, enfiando-o entre
as almofadas.
— Tudo bem? — pergunto. Sento-me na outra extremidade do sofá e
coloco meus pés para cima, debaixo de mim.
— Sim. — Percebo que seus olhos estão molhados, e ele passa a mão
debaixo do nariz.
— O que você está olhando? — pergunto. Meu coração se parte por ele.
Ele nunca chorou após a morte da mãe, pelo menos, não que eu tenha visto.
— Apenas algumas fotos — ele fala sem me olhar nos olhos.
— Posso ver? — Pego o álbum e ele encolhe os ombros. Abro-o na
primeira página. Seth era adorável quando bebê. Sorrio e olho para ele. —
Você sempre teve essas covinhas, hein?
Ele sorri e se senta ao meu lado no sofá.
Observo outra foto e vejo meu pai no álbum. Meu coração quase para.
Ele tem o braço ao redor Kendra em um monte de fotos, e parece muito
confortável com ela.
— Vovô vinha muito aqui — ele fala.
Eu concordo. Não sei por que isso me sufoca.
Viro a página.
— Sua mãe era tão bonita.
— Eu sei. — Seu ombro toca meu, e ele inclina-se contra mim,
apontando para uma imagem. — Esse é o meu pai.
Bem, ele não é o que eu esperava. Seu pai é latino.
— Ele falava espanhol conosco o tempo todo.
Olho para ele.
— Você sabe falar espanhol?
Ele balança a cabeça e vira a página.
— Esse é o homem com quem minha avó se casou. Ele era bom.
Esse é o homem que tomou o lugar de meu pai.
— O quanto você sabe sobre tudo isso? — pergunto. Não sei o quanto
posso ou não dizer perto dele.
— O suficiente — ele responde.
— Sua mãe era inteligente e bonita, hein? — falo, olhando para uma
foto dela recebendo um prêmio por algo.
Ele balança a cabeça.
— Mas ela não confiava nos homens.
— Os homens vão embora — eu falo. Mas quero engolir minhas
palavras de volta logo que elas saem.
Ele balança a cabeça.
— Nem todos.
Calmamente, folheio o álbum.
— Matt não iria — ele fala em voz baixa. — Você deve confiar nele.
Solto um suspiro.
— Eu confio. Tanto quanto posso.
Ele balança a cabeça.
— Às vezes, sinto medo de esquecer de como ela era — ele fala em voz
baixa.
— Seth... — Não sei se deveria abraçá-lo ou não, então, apenas inclino-
me mais fortemente ao seu lado.
— Está tudo bem. Faz algumas semanas e sei que ela partiu.
Não digo nada, pois não tenho certeza de que ele quer que eu fale.
— Achei que era ruim quando ela estava morrendo, mas dizer adeus a
ela depois... foi ainda pior.
— Você não tem que dizer adeus.
— Todos os dias, tenho que me lembrar que ela se foi. Levanto-me e
espero encontrá-la na cozinha fazendo palavras cruzadas. Ou cozinhando.
Ou dançando com Joey e Mellie. Ou comigo. — Ele sorri. — Ela gostava de
ouvir música e dançar.
Ele espera enquanto viro as páginas. Vejo meu pai em várias delas. E
isso faz meu peito doer de uma forma que não consigo evitar.
— Não posso mais ouvir sua voz — ele sussurra. — Quero ouvir a voz
dela, tia Sky. — Sua voz falha e ele coloca a testa em meu ombro. Um
tremor o envolve.
Dane-se. Viro-me e envolvo meus braços ao redor dele. Não sei como
agir, porque nunca tive alguém para fazer isso por mim. Ele me puxa para
mais perto e soluça em meu ombro.
Quando finalmente tranquiliza, dou um tapinha em suas costas e sento-
me. Volto-me para o álbum, porque ele parece desconfortável.
— A vida é como um livro, Seth — falo a ele. — Assim como o álbum de
fotos. Páginas passam, mas você pode voltar a elas a qualquer hora, mesmo
quando a última página foi lida. Tudo que você tem a fazer é abri-lo
novamente e escolher uma página para reler. — Não sei se isso é verdade
ou não, mas soa bem.
— Se você pudesse reler qualquer página em seu livro, tia Sky, qual
seria? — ele me pergunta suavemente.
— Esta — respondo. Tomo sua mão na minha e aperto-a de leve. Ele
não se afasta.
M AT T

D ou um puxão em minha gravata, tentando afrouxar a filha da puta.


Odeio ter que vestir a porra de um terno. Logan enfia a cabeça dentro do
quarto.
— Está pronto? —pergunta.
Ele está arrumado, com roupas da Madison Avenue que a mãe de Emily
nos enviou. A mulher gosta de nos arrumar e, uma vez que seu marido é
dono da empresa, ela tira o máximo de proveito disso. Logan parece ter
saído das páginas de uma revista.
— Pede a Emily para me ajudar a amarrar essa coisa? — peço. Ele acena
e vai buscá-la.
Ela entra no quarto, parecendo a garota de um milhão de dólares. Ela
está linda. Normalmente, ela usa jeans e botas. Lembro-me de quando a
conheci. Ela usava roupa de colegial católica todos os dias e tinha uma
mecha azul nos cabelos. Agora, está usando um salto de quase dez
centímetros.
— Tem certeza de que quer ir a esse casamento? — ela me pergunta
suavemente quando começa a amarrar minha gravata.
— Não vejo por que não — falo e olho para baixo. — Tem certeza de
que deveria estar usando essas pernas de pau? E se você tropeçar?
Ela bufa.
— Estou grávida, Matt, não doente. Pare de se preocupar. Juro, você é
pior que Logan.
— Você não quer usar um sapato mais baixo? Isso poderia me fazer
sentir melhor.
Ela puxa a gravata para cima, apertando-a contra o meu pescoço.
— Desde quando eu me importo em fazer você se sentir melhor? — ela
pergunta, mas está sorrindo gentilmente para mim.
— Sempre. Você começou a me amar no dia em que me conheceu.
— Você quer dizer, quando estava vomitando as tripas? — responde.
Ela é a única pessoa que soube o quanto eu estava doente naquela época.
Ou, pelo menos, eu achava. Descobri que todos os meus irmãos sabiam; eles
estavam apenas tentando me manter calmo.
— Você me trouxe um balde — eu lembro a ela e o pensamento me faz
sorrir.
— E água tônica
— E você se aconchegou comigo no sofá.
Ela olha nos meus olhos.
— E eu ainda faria isso se você deixasse.
— Em — murmuro.
Ela levanta a mão para me impedir.
— Entendi. Eu realmente entendi.
Estreito meus olhos para ela.
— Jura?
Ela balança a cabeça.
— Juro. E estou tão feliz por você — ela diz baixinho. — Quando você
volta a fazer exames? —pergunta. Ela é a única que me perguntou isso.
— No próximo mês — digo a ela. — Como você sabia? — Olho para ela
enquanto organizo os itens em meu armário. Só quero manter minhas
mãos ocupadas. Odeio falar sobre o câncer. Odeio que ele seja uma parte
tão grande da minha vida.
Ela encolhe os ombros.
— Eu conheço você, Matt — ela fala. — Quer que eu vá junto? — ela
pergunta.
Balanço a cabeça.
— É só um exame de sangue, Em — respondo. Um exame de sangue
assustador que tem o poder de mudar minha vida, mas, ainda assim, é só
uma picada de agulha.
Ela balança a cabeça.
— Tudo bem — diz ela. — Mas me diga se você mudar de ideia.
— Pode deixar.
— Você contou à Sky sobre a April, certo? Ela não está indo às cegas
para o casamento, não é?
Eu concordo.
— Contei, sim.
— E ela aceitou bem o fato de ir ao casamento da sua ex?
— Encerramento — falo. Coloco minha carteira no bolso interno do
paletó.
— Encerramento — ela repete. — Você está pronto para ir? — ela
pergunta e me olha de cima a baixo. — Você está quase tão bonito quanto
Logan, sabia? — Ela sorri para mim. Coloco meu braço em torno dela e saio
do quarto.
— Tire suas mãos da mãe do meu bebê — Logan reclama.
Eu rio, porque essa é a coisa mais ridícula que já ouvi sair de sua boca.
— Obrigue-me — implico.
Ele ri, e saímos pela porta juntos. Eles estão lado a lado, e eu os sigo.
Estamos arrumados demais para o bairro onde moramos e tenho medo de
que sejamos assaltados se ficarmos muito tempo por aqui. Mas o pai de
Emily nos emprestou seu motorista e sua limusine esta noite. Foi muito
legal da parte dele. Assim, consigo mimar um pouco Sky.
Seguimos até seu apartamento. Ela me mandou uma mensagem de
texto, pedindo para avisá-la quando estivermos perto para que ela possa
nos esperar na rua, mas não aviso. Vou até seu apartamento e bato. Seth
abre a porta
— Porra, cara. Você está todo arrumado. — Ele sorri. — Que bom,
porque ela também.
Ele dá um passo para trás, e é como se estivesse abrindo uma cortina.
Sky sai de seu quarto e caminha em minha direção. Ela está calçando saltos
que parecem ainda mais altos que os de Emily, e não se parece com uma
mãe agora. Ela parece uma advogada elegante, rica e que eu jamais poderia
imaginar que teria ao meu lado.
Ela assobia para mim.
— Você está lindo — ela fala e caminha em minha direção segurando
um colar. Ela o coloca em minhas mãos e vira de costas para mim. — Pode
colocar isso em mim? — ela pergunta e levanta o cabelo, que está solto —
muito diferente do rabo de cavalo com que estou acostumado —,caindo em
ondas pelas costas. Ela está usando um vestido que envolve seu corpo. Sei
que já vi tudo o que está debaixo dele, mas não tenho culpa se meu pau fica
feliz quando ela se vira de costas para mim.
Coloco o colar em seu pescoço e me abaixo para beijar a pele macia. Ela
ronrona e se vira para mim.
— Obrigada.
— Estou feliz por você estar aqui — diz Seth. — Tive que olhar
quatrocentos e cinquenta e dois vestidos. E, quando ela finalmente
escolheu um, teve que fazer a dança do sapato.
Arqueio minha sobrancelha.
— Dança do sapato?
Ele coloca um pé no chão e se ergue como um flamingo, imitando a voz
de uma menina.
— Este sapato, ou este aqui? — ele pergunta mudando de pé para pé.
Sky ri e empurra seu ombro.
— Não foi tão ruim assim.
Seth revira os olhos e vai para o sofá. Mellie e Joey estão no chão,
brincando com Barbies.
— Você tem certeza que vai ficar bem, Seth? — ela pergunta, mas ele
está sorrindo e digitando em seu telefone. — Seth! — ela chama em voz
alta.
Ele olha para cima.
— O quê?
Ela revira os olhos.
— Tem certeza de que você vai ficar bem?
Ele coloca um braço sobre o encosto do sofá.
— Vamos ficar bem — diz ele, voltando-se para o seu telefone.
— Ligue se você precisar de alguma coisa, ok? Qualquer coisa.
— Tudo bem — diz ele, distraído. Algo está acontecendo, mas não sei o
quê.
— Vem alguém para cá, Seth? — pergunto.
Ele olha para cima, o rosto corado.
— Não, ela não pôde vir hoje. — Ele não percebe o erro por um
segundo. Em seguida, se apressa em dizer: — Quero dizer, ele. Não ela.
Agora entendi. Ele queria trazer uma menina.
— Nada de garotas — diz Sky. — Ainda não estou pronta para ser avó.
Seth não desvia os olhos do telefone.
— Seth! — Sky chama.
Ele ergue a cabeça.
— O quê?
— Nada de meninas na casa, a menos que sejam suas irmãs. Você me
ouviu?
— Ouvi.
Ela beija Joey e Mellie enquanto paro perto de Seth.
— Você ouviu o que ela disse, certo? — pergunto.
Ele parece um pouco arrependido.
— Sim.
— Bom. — Aponto meu dedo para ele. — Comporte-se.
— Você também — ele fala com um sorriso. — Que horas estarão em
casa?
Sky abre a boca, mas eu a corto.
— Daqui a algumas horas.
— Vamos? — Sky pergunta.
Concordo. Coloco minha mão na parte inferior das suas costas e levo-a
para fora depois que ela beija Seth na testa. Ele torce o rosto e, em seguida,
volta para seu telefone.
— Sério, só algumas horas? — ela pergunta quando a porta se fecha.
— Não — respondo. — Só disse aquilo para que ele não saiba a hora
que estaremos em casa. Isso vai diminuir as chances de ele trazer a tal
garota para cá.
Ela sorri.
— Ah, excelente ideia.
— Tenho três irmãos mais novos — lembro-a. Olho-a de cima a baixo.
— Você está tão linda — digo a ela.
Suas bochechas ficam rosadas.
— Obrigada — ela fala. — Você poderia ter mandado uma mensagem
quando chegasse aqui. Eu teria descido.
— Minha mãe iria rolar no túmulo se eu não a buscasse na sua porta. —
É a verdade. Ela iria odiar. Ajeito meu paletó. — Ela deu à luz a cinco
cavalheiros. — Levanto meu nariz, brincando.
Sky olha para mim.
— Sim, eu concordo — ela fala baixinho.
Passo um braço em volta da sua cintura e puxo-a contra mim quando as
portas do elevador se fecham. Toco meus lábios nos dela.
— Vou borrar seu batom — advirto.
— Eu o trouxe na bolsa — ela sussurra e, em seguida, passa os braços
ao redor do meu pescoço e me beija. Coloco a mão em sua bunda e levanto-
a contra mim. Ela não parece se importar. Sky geme baixinho contra meus
lábios, acelerando o meu coração.
As portas se abrem e eu me afasto. Ela limpa os lábios com o polegar.
Pego um lenço e passo no rosto.
— Estou bem? — pergunto.
Limpo o canto da sua boca, onde a manchei.
— E eu? — ela pergunta.
— Linda — falo.
Pego sua mão e levo-a para fora do prédio. Ela é tão linda que quero que
o mundo inteiro a veja. E o que torna isso ainda melhor é que ela é minha.
Ela para quando vê a limusine.
— Isso é para nós? — ela pergunta.
Aceno e conduzo-a para dentro do carro quando o motorista abre a
porta. Ela desliza ao lado de Emily, que lhe oferece uma taça de champanhe.
Ela a segura com uma mão e apoia a outra em minha perna depois que eu
me sento ao seu lado. As pontas dos dedos desenhando círculos
preguiçosos na minha coxa. Coloco minha mão sobre a dela para fazê-la
parar. Ela olha para mim, confusa. Só preciso de um toque dela para deixar
meu pau duro.
Logan ri do outro lado do carro.
— Cale a boca — eu falo e sinalizo ao mesmo tempo.
Ele ri um pouco mais alto.
SKYLAR

A parentemente, Matt conhece todo mundo no casamento. O evento está


sendo realizado em um hotel chique e verdadeiramente belo. A noiva
estava linda e eu até me senti emocionada quando ela começou a caminhar
pelo corredor. Matt se contorceu um pouco quando a cerimônia começou, e
acho que foi porque ele não está acostumado a usar terno. Agora, estamos
na recepção — um jantar elegante que eu não estava esperando. Com
espaço para dança. Matt me apresenta a algumas pessoas enquanto
caminhamos. São tantos conhecidos, que não tenho qualquer esperança de
guardar seus nomes.
O padrinho faz um brinde, que faz o salão rugir com risadas. Até mesmo
Matt ri e levanta sua taça em direção aos noivos. Ele se inclina para mim e
sussurra perto do meu ouvido.
— Na noite passada, você fez um barulho no telefone que não consigo
tirar da cabeça — ele fala.
Meu estômago dá um nó.
— Que barulho? — pergunto. Inclino-me e beijo sua bochecha. Eu
simplesmente não consigo evitar.
— Não posso descrevê-lo — diz ele, distraído. — Mas foi quando você
chegou lá.
Engasgo com minha própria saliva, e ele ri. Sua mão pousa em minha
coxa.
— Quero ouvi-lo novamente — diz ele, suas palavras quentes em minha
orelha.
Coloco minha mão sobre sua coxa e o aperto com firmeza. É uma jogada
ousada, assim como a forma como ele está falando comigo.
— Pare de brincar — advirto.
— Quem está brincando? — ele pergunta e olha nos meus olhos.
— Você vai ficar hoje à noite? — pergunto e levanto minhas
sobrancelhas para ele.
Ele balança a cabeça.
— Seth — ele responde.
— Agora, quem está brincando? — pergunto. Inclino-me para ele, e meu
peito toca seu braço. Ele levanta um dedo para traçar, levemente, a parte
inferior do meu. Pressiono meus pés um no outro para aliviar a dor
repentina.
Ele se levanta, pega minha mão e, então, me puxa para ficar de pé.
— Vamos lá — ele fala.
— Para onde estamos indo? — pergunto quando me arrasta junto com
ele. Corro na ponta dos pés, com meus sapatos demasiadamente altos. Ele
não abranda o passo. Andamos por um corredor, e ele testa as portas até
encontrar uma que está aberta. Quando ela se abre, ele me puxa para
dentro e. imediatamente. me encosta contra a parede. É uma despensa. E eu
não me importo.
— Quero ouvir aquele barulho novamente — diz ele contra os meus
lábios. Milhares de borboletas se agitam em minha barriga. — Agora
mesmo. — Ele para e olha para o meu rosto, as mãos acariciando minhas
bochechas. — Está tudo bem com você? — ele pergunta. — Diga-me se não
estiver.
Eu concordo. Não posso nem falar.
Matt levanta minha saia, segurando-a até encontrar minha calcinha. Ele
enfia os dedos nela e a puxa para baixo. Um lado paira sobre o meu
tornozelo, e ele a deixa lá. Eu não me importo. Ele desafivela seu cinto,
abaixa o zíper rapidamente, enfia a mão no bolso do paletó e puxa a
carteira. Pega uma camisinha, abrindo-a com os dentes. Ele rola o
preservativo sobre seu comprimento com uma careta, e então, me ergue.
Coloco minhas pernas ao redor da sua cintura.
Ele olha nos meus olhos enquanto entra em mim. Minhas costas estão
pressionadas contra a parede, e uma de suas mãos agarra minha bunda
nua, me abrindo para sua penetração enquanto a outra fica apoiada ao lado
da minha cabeça. Ele me enche lentamente, seus olhos azuis olhando nos
meus enquanto me empala. Deus, eu me sinto tão cheia dessa maneira. Ele
não para até que nossos corpos se toquem completamente.
Então, ele começa a se mover. Seus lábios tocam os meus e ele fala.
— Eu te amo pra caralho.
Não posso falar. Não posso pensar. Matt bate em meu centro, e eu ajeito
meus quadris para que possa aproveitar mais a cada movimento.
— Sim, esse é o barulho — ele fala, quando perco a respiração. Ele tira
minha mão de seu ombro e a leva para baixo, para onde estamos unidos. —
Acaricie sua boceta, Sky — ele fala.
— Não preciso disso para gozar — eu falo.
— Eu preciso que você goze assim — ele fala. — Por favor.
Sua testa descansa contra a minha e posso sentir cada respiração sua.
Estamos compartilhando o mesmo ar.
Coloco a mão entre nós e aperto a base de seu pau quando ele se retira.
Ele para de se mover.
— Estou muito perto — ele adverte e rosna para mim. — Acaricie sua
boceta, Sky.
Começo a acariciar meu clitóris. Já estou perto. Estou tão perto. Ele está
me acariciando por dentro, com seu corpo grande e poderoso enquanto me
segura com força contra a parede. Meu clitóris está duro e sensível, e eu o
acaricio rapidamente. Os grunhidos selvagens de Matt em minha orelha são
rápidos e crus e, de repente, sinto-o me tomar. Seus gemidos continuam
enquanto ele bombeia dentro de mim e vibro ao seu redor, ordenhando seu
orgasmo. Ele se acalma e pulsa dentro de mim, seus lábios em minha
têmpora quando termina.
— Sky? — ele sussurra.
— Oi — sussurro de volta.
— Machuquei você? — ele pergunta, franzindo a testa ao sair de dentro
de mim. Amo sua preocupação.
— Não, você não me machucou. Você me fez gozar como louca. — Eu
rio, não consigo segurar. Nunca me senti tão bem. Nunca.
— Eu também. — Ele ri. Desenrolo minhas pernas dos seus quadris e
ele me coloca de pé. Meus sapatos caíram, então, estou descalça sobre o
chão frio, mas não me importo. Minha calcinha ainda está pendurada em
volta do meu tornozelo.
Esfrego minhas coxas uma na outra. Tem algo de errado.
— Matt.
— Humm — ele fala, puxando o preservativo. Ele olha para mim
timidamente. — Podemos ter um problema.
— Por que estou toda molhada? — pergunto. Mais molhada do que
deveria.
Ele puxa o preservativo para fora e o prende.
— A camisinha estourou — ele fala.
Meu coração palpita.
— O quê?
— Sim.
O que mais me assusta é fato de que ouvir que ele gozou dentro de mim
não me incomoda. Nem um pouco.
— Está tudo bem, Matt.
— Eu sei. — Ele solta um suspiro e joga o preservativo em uma lata de
lixo, cobrindo-o com o que já está lá. — Eu te disse. Seria preciso um
milagre para engravidá-la. Fiz vários exames enquanto estava doente. Você
está segura.
— Não estava preocupada — eu digo em voz baixa. Quero passar o
resto da minha vida com este homem.
Ele prende o cinto e levanta o zíper. Em seguida, se inclina para
desenganchar minha calcinha do tornozelo. Ele parece estar realmente
tranquilo. Mais calmo do que eu quero que ele esteja. Não sei o que dizer a
ele, porque não sei o que ele está pensando.
— Você quer ir se limpar? — ele pergunta.
Eu concordo.
— Preciso. — Ele segura minha calcinha e eu a coloco na pequena bolsa
que estava caída no chão. Ele pega meu sapato e calça um pé. Depois, repete
o processo com o outro. Olha para mim e passa a mão em minha perna.
— Matt — falo, mas ele pega a minha mão e me leva para o banheiro
das mulheres. Ele beija minha testa e permanece lá, respirando levemente
em meu cabelo.
— Vou esperar por você na sala de jantar — ele fala. — Tudo bem?
Concordo com a cabeça e vou para o banheiro. Entro em um cubículo e
me afundo. Meus joelhos ainda estão tremendo, e não é apenas por ter
transado contra a parede de uma despensa. Tenho medo do que está
acontecendo na cabeça de Matt. Não sei o que seu súbito silêncio significa.
Limpo-me e, assim que começo a vestir minha calcinha, a porta do
banheiro se abre. Uma risada feminina soa.
— Você pode acreditar que ele trouxe alguém? — uma voz pergunta.
— Não posso sequer acreditar que Matt veio, muito menos que trouxe
uma mulher com ele. Talvez ele tenha esquecido a April.
— Matt nunca vai esquecer a April. Não depois do que ela fez.
— Então, quem você acha que é a sua acompanhante?
— Uma garota qualquer — a voz fala. — Alguém que nunca vai
significar tanto para ele quanto April — ela bufa. — Eles têm tanta história.
April é a garota que partiu o coração de Matt.
Meu estômago dá um nó e tenho que piscar para conter as lágrimas.
Matt me trouxe aqui para assistir April, a mulher que ele amou mais do
que tudo, se casar. E ele sequer me disse.
Saio do cubículo quando o som das vozes diminui e ouço a porta se
fechar. Retoco minha maquiagem e limpo minha testa. Sinto como se
tivesse levado soco no estômago. Mas não há nada que eu possa fazer sobre
isso agora.
Volto para a mesa e vejo Emily sentada lá. Matt e Logan estão
conversando com um pequeno grupo de homens que eles conhecem. Sento-
me ao lado dela, que me olha de cima a baixo.
— Onde foi que vocês dois se enfiaram? — ela pergunta, sorrindo.
— Num armário no corredor, onde ele me fodeu contra a parede — eu
digo.
Emily congela.
— Por alguma razão, não acho que é tão bom quanto parece. O que há
de errado? — Ela olha para Matt como se quisesse chamar sua atenção.
Bato na mesa e ela olha para minha mão.
— April não parece arrependida pelo que fez a Matt — falo e observo a
reação dela.
— Oh — ela suspira e coloca a mão no peito. — Eu não tinha certeza de
que ele tinha lhe contado.
Sorrio.
— Ele me disse. — Me contou sobre a garota que partiu seu coração. Só
não me contou que April era a mulher da vida dele. — Por que você acha
que ele quis vir hoje à noite? — pergunto. Tomo um gole da minha água.
— Ele disse que é um encerramento. — Ela olha para onde April está
dançando com o marido.
— Ele realmente a amou, não é? — pergunto, casualmente.
— Ele até escreveu uma carta para ela quando estava para morrer. E me
fez prometer entregar a ela. Prefiro apodrecer no inferno. Mas ele me fez
prometer, pois seus irmãos recusaram-se a fazer isso.
Sorrio, apesar de minhas entranhas estarem rugindo.
Matt chega à mesa e pega minha mão.
— Vem dançar comigo.
Aceno e deixo-o me levar. A música que está tocando é lenta. Ele me
leva para a pista de dança e me puxa para seus braços.
— Algo errado? — ele pergunta.
Balanço minha cabeça e sorrio para ele. Sua testa franze.
— Já teve a chance de parabeniza a noiva? — pergunto.
Ele balança a cabeça.
— Ainda não. —Seu olhar vagueia para onde ela está dançando com o
marido. Viro-nos nessa direção e, em seguida, solto-me de seus braços.
Coloco minha mão no braço do marido de April.
— Posso interromper? — pergunto, com um sorriso enorme. Ele olha
para sua esposa, e ela dá de ombros. Então, ele vê Matt ao meu lado e seu
sorriso diminui, mas disfarça o mais rápido possível.
— Matt — diz ele.
Matt acena para ele.
Como se compreendesse, o noivo passa a noiva para Matt e dança
comigo. Assisto, com o canto do olho quando Matt diz algo a April e, em
seguida, relutantemente puxa-a para seus braços. Ele faz uma carranca
para mim e olha em minha direção, mas dou ao noivo a minha atenção.
— Tem muita história entre eles — o noivo fala.
— Ouvi dizer.
— Muito generoso da sua parte deixá-la falar com ele.
— Sim.
— Eles terminaram, sabia? — ele pergunta.
Olho e os vejo conversando enquanto dançam.
— Não, não terminaram.
Ele dá um suspiro.
— Eu sei — diz ele. — Isso não te incomoda?
Balanço minha cabeça. Essa porra me mata.
A música para e eu me solto dele. Preciso sair daqui antes que
desmorone. Quase corro pelo corredor em direção à saída. Entro em um
táxi que está parado e dou ao motorista o endereço do meu apartamento.
Não quero ir para casa. Droga, quando foi que o apartamento das crianças
se tornou “casa”? Não sei dizer. Mas sei que Matt vai até lá tentar me
encontrar.
Pego meu telefone e disco.
— Oi, pai — falo quando ele atende.
— Sky? — ele pergunta. — Você está bem?
— Ah, sim —minto. — Tudo bem. Estou um pouco constrangida, mas
bebi um pouco além da conta. Seria possível que você ficasse com as
crianças hoje? Quero ir para meu próprio apartamento e me recuperar.
Papai faz uma pausa por um segundo.
— Você quer que eu fique com as crianças.
— Você se importaria? — Coloco minha cabeça contra o assento. — Se
não puder, não tem problema.
— Sem problemas — ele se apressa em dizer. — Eu vou. Vou agora
mesmo.
— Obrigada, pai. Mande uma mensagem de texto quando chegar lá para
que eu saiba que está tudo bem?
— Sky — ele fala com a voz hesitante. — Você está bem?
M AT T

P or que diabos ela fez isso? E um minuto, Sky estava quente macia em
meus braços e, no seguinte, estou segurando April. Essa última, eu posso
ignorar. Mas o fato de que Kenny está com Sky nos braços me dilacera por
dentro.
— Estou feliz por você ter vindo — April diz, suavemente.
Olho para ela, que pisca os olhos castanhos para mim. Houve uma época
em que eu poderia me perder em seu olhar. Inferno, eu me perdi dentro
dela.
— Fiquei feliz por ter sido convidado — respondo.
Estou feliz. Não imaginei que ficaria, mas estou. Porque o que havia
entre nós, agora estava, definitivamente, encerrado.
— Você acha que poderíamos ser amigos? — ela pergunta.
Não posso responder a isso. Não vejo como é possível, mas dizer isso
poderia ferir seus sentimentos.
— Eu gostaria de que, pelo menos, não fossemos inimigos — diz ela.
Paro de dançar.
— Acho que você não entende. Eu teria que me importar com o que
você faz para que isso me incomode, mas realmente não posso dizer que
me importo.
— Mas você já se importou — ela fala. As pessoas estão olhando para
nós.
— Sim, e então você pisou na porra do meu coração. Levei muito tempo
para superar isso. Muito mais tempo do que deveria. Mas percebi uma
coisa: eu estava muito mais apaixonado pela ideia de estar apaixonado, do
que realmente estava apaixonado por você.
Sua respiração acelera.
— Eu não pretendia machucar você. Deus sabe que eu teria feito isso
muito antes se essa fosse a minha intenção. Mas o que eu sentia por você
não era forte o suficiente para durar a vida inteira. Sei disso agora. —
Seguro seu antebraço. — Obrigado por me deixar. Sou mais agradecido por
isso do que você imagina, porque o que sentíamos um pelo outro não era
nada comparado ao que sinto por outra pessoa. Então, se você me convidou
para ter certeza de que ainda tem meu coração em uma porra de uma
corda, deixe-me confirmar que você não tem. — Afasto-me dela, mesmo
que ela ainda esteja protestando. — Preciso encontrar Sky.
— Matt — April me chama, agarrando meu braço. — Espere. — Viro-me
de volta para ela. — Eu não tive a intenção de me apaixonar por ele — diz
ela.
Eu me aproximo. Não deveria fazer isso. E não faria se não achasse que
ela realmente, realmente precisa saber. Mas já existe um burburinho sobre
isso. Ela é a única pessoa que não sabe. Eu me inclino para perto de seu
ouvido.
— Sinto muito que você tenha se apaixonado por ele. Ele não sente o
mesmo por você.
— E você se apaixonou? — ela zomba.
Jogo minha cabeça para trás e rio.
— Na verdade, não. Mas uma coisa é certa. Eu nunca, nunca mesmo, te
traí. — Fecho os olhos e respiro fundo. — Ele transou com sua dama de
honra na noite passada — deixo escapar.
— Isso é baixo, Matt.
— Ele está dormindo com ela há seis meses. Todo mundo sabe disso,
menos você. — Então, eu a deixo no meio do salão.
Quase posso senti-la atrás de mim, devastada e quebrada. Sua dor se
irradia pelo ar, mas eu não paro.
Meu coração está pesado quando volto para a mesa. Vê-la devastada
não é tão libertador quanto se poderia imaginar. Pego meu paletó da
cadeira e o visto.
— Viram a Sky? — pergunto a Emily e Logan. Ambos me olham com as
bocas abertas.
Emily se recupera primeiro e olha ao redor do salão.
— Ela estava dançando com o noivo um minuto atrás.
“Que diabos foi isso?” Logan pergunta com veemência por sinais. Ele não
fala.
“O encerramento”, sinalizo de volta. “Vocês estão prontos para irmos?
Encontro vocês lá fora. Vou atrás da Sky”.
Ando pelo salão de baile, procurando o vestido azul que combina seus
olhos. Sinto o cheiro de seu perfume. Ouço o som da sua voz. Mas ela se foi.
Ela não está lá.
Finalmente, vou para o lado de fora e um manobrista se aproxima de
mim.
— Táxi, senhor? — ele pergunta.
Balanço minha cabeça.
— Estou procurando uma mulher — falo. Levanto a mão, indicando sua
altura. — Loira, usando um vestido azul.
— Oh, sim, senhor — diz ele com um aceno de cabeça. — Eu a coloquei
em um táxi há poucos minutos.
— Táxi? — repito.
— Sim, senhor. Ela estava indo para a cidade.
— Por que Sky estaria indo para a cidade? — eu me pergunto. — O
apartamento dela é na parte baixa.
Ele deve ter me ouvido.
— Ela estava um pouco chateada, senhor — diz ele.
— Por que ela estava chateada? — Agarro seu ombro.
Ele dá de ombros.
— Não tenho certeza do motivo, senhor — diz ele.
Logan faz um gesto para mim. Ele entra na limusine com Emily, e eu me
inclino para dentro.
— Não posso ir ainda. Não sei onde Sky está — digo a ele.
— Entra no carro — diz Emily. — Precisamos sair daqui.
Entro e o carro segue.
— O manobrista disse que ela estava indo em direção ao centro.
— O que você fez com ela? — Logan pergunta.
Emily me dá um soco no ombro.
— Sério, você não poderia esperar chegar em casa para fazer sexo com
ela? Tinha que fazer isso no casamento da April?
— Você transou no casamento da April? — Logan pergunta. Ele ofega e
eu o chuto na canela.
— Cale a boca — resmungo.
— Você não disse a ela sobre April, não é? — Emily pergunta, sua voz,
suave.
— Eu disse tudo sobre April — eu protesto. — Disse tudo sobre a garota
que partiu meu coração, logo depois que nos conhecemos.
— Mas disse que este era o casamento dela? — Emily se agarra a mim.
— Alguma vez você disse o nome dela?
Não posso responder porque não sei. Ela me dá um soco novamente.
— Pare de me bater — murmuro. Esfrego meu braço porque essa
merda dói. —Não me lembro se disse o nome dela.
— Você não deve ter dito — Emily fala. — E então, ela me interrogou
quando você estava longe. — Seus olhos se fecham e ela faz uma careta. —
Pensei que você tinha contado tudo a ela.
— Contei mas, aparentemente, deixei algo que ela considerava
importante de fora.
— É tudo um grande mal-entendido — diz Logan. — Vá até ela e
explique tudo.
— Acidentalmente, contei a ela sobre a carta — Emily diz, calmamente.
— Que carta? — pergunto.
Pego meu telefone e envio uma mensagem de texto para Sky.
Eu: Onde você está?
Fico olhando para o telefone como se nele estivessem os segredos do
universo.
— A carta que você escreveu para April quando achou que estava
morrendo. A que você me fez prometer dar a ela depois que chutasse o
balde.
Arqueio minha sobrancelha.
— Chutasse o balde?
— Dobrasse o cabo da boa esperança? Batesse as botas? Conhecesse o
Espírito Santo? — Ela dá um soco no meu braço novamente. — Por que isso
importa?
— Por que você contou a ela sobre a carta? — pergunto. Não estou
bravo, apenas confuso.
— Ela estava falando sobre April. E eu queria que ela soubesse o quanto
a odeio, então, falei sobre a carta. — Ela geme. — Parecia relevante! — ela
grita.
— O que você acha que havia nessa carta? — pergunto.
— Você, professando seu amor infinito enquanto estava em seu leito de
morte... — diz ela.
Suspiro.
— Certo. Peça ao seu motorista para me levar ao meu apartamento.
Preciso pegar algo.
— E depois? — ela pergunta.
— Vou atrás Sky.
Ela sorri e dá um tapinha em meu braço.
— Boa.
Só espero que ela me atenda.
Meu telefone bipa.
Sky: Vim para casa. Deixe-me em paz.
Eu: Você não conseguirá fugir e se esconder. Agora, não.
Sky: Consigo, sim.
Eu: Estou indo vê-la.
Sky: Não vou deixar você entrar.
Eu: Sou muito persistente.
Sky: Estou muito magoada.
Eu: Deixe-me consertar isso.
Sky: Você não pode.
Eu: Eu vou.
Vou mesmo. Nem que seja a última coisa que eu faça.

— ESTOU SIM, pai. Mande a mensagem quando chegar. Tenho que ir. —
Desligo na cara dele. E então, e só então, é que me permito chorar.
SKYLAR

M eu apartamento cheira a mofo. Abro uma janela e olho ao redor. Está


limpo e muito vazio. Não há bonecas espalhadas no sofá, nem jogos de
tabuleiro sobre a mesa da cozinha. Não há crianças em qualquer lugar. Eu
deveria estar em casa, com meus filhos. Mas se eu for para lá, terei que
enfrentar Matt.
Tomo um banho e visto o meu velho — e pouco atraente — pijama de
flanela. Estou sem maquiagem, com os olhos inchados, e vou parecer uma
merda de qualquer jeito mesmo. Não é como se eu fosse ver alguém. Matt
não sabe onde fica meu apartamento.
Tem metade de uma lata de sorvete Chunky Monkey no meu freezer e
ainda está na validade. Nem coloco-o em uma tigela. Pego uma colher
grande e vou para o sofá. Ligo a TV e encontro algo estúpido, algo que não
vai exigir meu raciocínio.
Já estou na metade quando ouço uma batida na porta. Eu me assusto.
Não vou até lá. Ninguém que eu conheça vem aqui.
Um alerta soa em meu telefone
Matt: Atenda a porta.
Eu: Não. Vá embora.
Meu coração dispara. Ele está aqui. Merda. Coloco meus pés debaixo do
corpo e sento-me na beirada do sofá. Ele vai embora se eu não abrir.
Ele bate de novo e eu, idiota, deixo minha colher cair no chão. Levanto-
me e a jogo na pia. Faz um barulho alto. Vou até a porta, encosto minha
orelha contra ela, e tentou ouvir. Mas não ouço nada.
Matt: Não vou embora.
Eu: Como você me encontrou?
Matt: Seu pai sentiu pena de mim.
Eu: Traidor.
Ouço uma risada pela porta.
Matt: Ele te ama.
Eu: O que você disse a ele?
Matt: Que eu sou um idiota.
Espero.
Matt: Ele concordou.
Um sorriso surge em meus lábios.
Matt: Você está rindo, né?
Não respondo.
Matt: Por favor, me diga que você não está chorando.
Eu: Não mais. Vá para casa, Matt.
Matt: Você primeiro.
Ouço Matt falar, suavemente, através da fresta da porta.
— Você deveria ir para casa, Sky.
Sento-me no chão e coloco a parte de trás da cabeça contra a porta.
— Não posso ir para casa — eu digo.
— Por que não? — ele pergunta, sua voz suave, e acho que ele está
também sentado do outro lado da porta.
— Porque você estará lá.
Ele ri.
— Estou aqui.
Suspiro pesadamente.
— Vá para casa, Matt. Meus sentimentos estão machucados e eu não
quero ver você agora.
— Não é o que você está pensando. Achei que você sabia quem ela era, e
você, obviamente, não sabia. Nunca quis te machucar.
— Você ainda a ama — eu digo.
— Não — ele protesta. — Não amo. Deixei isso muito claro quando você
me obrigou a dançar com ela hoje à noite.
— Você escreveu uma merda de uma carta para ela quando achou que
estava morrendo.
— Argh! — ele grita. — Essa carta vai me assombrar até o dia em que
eu morrer.
— Só porque ela diz o que você realmente sente.
Ele ri.
— Ela realmente diz o que eu sentia quando escrevi.
Bato com a parte de trás da cabeça contra a porta. Quero parar de falar
sobre isso.
— Quero que você a leia — ele fala.
— Eu não quero lê-la.
— Sim, você quer.
Ouço um barulho, e um envelope desliza debaixo da minha porta. Tem a
palavra April escrita na frente. Empurro-a de volta para ele. Ele ri e a
empurra novamente.
— Preciso te dizer uma coisa — diz ele.
— O quê? — pergunto. Não toco na carta. Só a deixo ficar lá, no meu
tapete.
— Seth, Mellie e Joey dependem de você. Eles não merecem que você os
deixe.
Isso me atinge como um chute no peito.
— Não os deixei.
— Você está aqui para me evitar, e eles estão lá.
Não digo nada, porque ele está certo. Eu os deixei.
— Vou embora se você voltar para casa — diz ele. — Não vou ficar
satisfeito, mas eu te amo e os amo o suficiente para esperar esta noite, para
que você possa voltar para eles. Eles precisam de você. E você precisa deles.
Lágrimas queimam meus olhos, e eu pisco.
— Matt — falo.
— Você vai ler a carta? — ele pergunta.
— Talvez.
Ele ri, e ouço uma fungada.
—Você vai me ligar quando estiver pronta?
— Talvez — digo novamente.
— Vá para casa ficar com as crianças, Sky. Comprometo-me a dar-lhe
algum espaço. Mas leia a carta. Ela pode ajudar.
Com tudo que está acontecendo, ele ainda está pensando em meus
filhos. Sinto um frio no estômago. Ele está do outro lado da porta. Eu
poderia abri-la e pular em seus braços se eu quisesse. Mas não abro. Fico
apenas sentada lá até minha bunda estar cansada e meu pé, dormente. Até
que a carta me insulte para abri-la. Fico ali por muito tempo depois que
Matt se foi.
Pego a carta e a seguro para que possa ver o nome escrito nela. Não é
para mim. É para April. É para o amor da vida dele.
Rasgo o envelope e a desdobro. É curta, não tem sequer metade de uma
página.
Começo a ler.
Querida April,
Quando te conheci, imediatamente senti como se o sol nascesse e se
pusesse em seus olhos. Ia para a cama, à noite, pensando em você , e
acordava, de manhã, com você em minha mente. Tivemos alguns bons
momentos, não é? Eu apreciava as longas caminhadas que dávamos. Fiquei
noites inteiras olhando você dormir em meus braços.
Então, recebi o diagnóstico. Descobri que estava doente e, quando mais
precisei que você estivesse ao meu lado, você trepou com meu melhor amigo.
Você não estava lá para segurar minha mão durante a quimioterapia. Você
não estava lá para me ajudar a passar por tudo, ou me acompanhar nas
consultas médicas. Você não estava lá quando fiquei tão doente que não
podia manter minha cabeça erguida. Você estava com ele. Você estava
debaixo dele, em cima dele e com ele, em vez de estar comigo.
Pedi aos meus irmãos que lhe entregassem esta carta, na ocasião da
minha morte, por isso, se você estiver lendo isso, eu já parti. Vivi o resto dos
meus dias e, mesmo que você tenha feito sua escolha, preciso te dizer como
me sinto.
Um bom homem pode querer aliviar sua consciência.
Um bom homem pode querer dar-lhe um pouco de paz.
Mas ser bom não era importante para você.
Odeio você. Odeio que você esteja respirando. Odeio que você esteja viva.
Odeio que você seja capaz de rir e que esteja seguindo em frente. Odeio o fato
de que, em algum momento da vida, você vai procriar e trazer ao mundo
seres humanos tão — desculpe-me — tão idiotas quanto você.
Espero que o seu coração acelere quando você receber esta carta. Minhas
palavras finais de amor para você. Hahahahahaha! Até parece.
Estou morto, então, posso dizer o que eu quiser.
E o que quero dizer é:
Odeio você. Espero que você receba exatamente o que você merece na
vida.
Com o maior ódio e desdém,
Matthew Reed
PS - Ainda te odeio.

COLOCO A MÃO SOBRE a boca para abafar o ruído que quer sair. Não tenho
certeza do que é. Pode ser uma risada. Pode ser um suspiro. Mas seja o que
for, tira o meu fôlego. Eu me levanto e vou pegar meu casaco. Sequer troco
de roupa. Visto o casaco e um chinelo. Começou a chover forte, então,
chamo um táxi e peço que me leve para casa. Vou voltar para os meus
filhos, porque é onde eu pertenço. E não há nenhuma dúvida em minha
mente que quero ver Matt.
Mas posso esperar até amanhã. Ele estava disposto a desistir e ir para
casa para que eu pudesse fazer o que era melhor para os meus filhos. Ele
estará disposto a esperar até de manhã. Preciso falar com meu pai, de
qualquer maneira. E preciso velar o sono de Joey e Mellie. Talvez, até
mesmo o de Seth.
M AT T

E ntro no apartamento. Eu deveria ter imaginado que todos eles estariam


lá. Não havia qualquer chance de que eu chegasse em casa e não fosse
bombardeado com perguntas. Um: o que houve no casamento? Dois: como
foi com April? Três: Como foi com April e Sky no mesmo salão? Quatro: Que
história é essa de transar com Sky na despensa?
Merda. Paul vai me matar.
Meus irmãos estão sentados na mobília da casa como se fossem blocos
de construção. Os pés de Pete estão na parte de trás do sofá, e a cabeça de
Sam está logo abaixo deles. Paul está na espreguiçadeira e Logan está
deitado em outro sofá, sozinho. Ele se senta primeiro e desliga a TV. Olho
para o corredor.
— Onde estão Reagan e Emily?
— Nós as mandamos fazer compras para o bebê — Paul fala, passando a
mão pelo rosto.
Compras para o bebê? Oh, sim. Continuo esquecendo que Emily está
grávida. Logan é um bastardo de sorte. Sei que posso soar ressentido
chamando-o assim, quando ele tem que lidar com o fato de ser surdo todos
os dias, mas, mesmo assim. Eu sobrevivi à porra de um câncer. Deveria ter
uma vantagem. Como a paternidade.
— Obrigado — suspiro. Estou feliz por elas não estarem aqui. Elas são
tão intrometidas quanto meus irmãos, mas não tão sutis.
— Ouvi dizer que você teve uma grande noite — Paul fala.
— Nós tivemos um pequeno desentendimento. Isso é tudo. — Pego uma
cerveja e, em seguida, sento-me ao lado de Logan.
— Onde está Sky?
— Espero que ela esteja no apartamento com as crianças.
— Logan nos disse o que aconteceu — diz Paul. — Que azar.
Lanço a tampa da garrafa da cerveja em Logan.
— Você, simplesmente, não consegue manter a boca fechada, não é? —
brinco. Mais ou menos. Levanto as mãos. — Não é como se vocês nunca
tivessem transado em lugares estranhos.
A testa de Paul franze.
— Transar? O que sexo tem a ver com isso?
Logan ri alto.
— Cale a boca — reclamo e chuto sua perna.
Ele ri novamente.
— Eu não contei a eles sobre isso. — Ele coloca a mão sobre a boca e
fala rindo. — Ele transou no armário de casacos.
Tomo um gole da minha cerveja. Um sorriso surge em meus lábios.
Inferno, eles já sabem.
— Numa despensa, na verdade.
— Como foi? — Pete pergunta.
Olho feio para ele.
— Não é da porra da sua conta.
Sam incha o peito e finge ser Paul.
— Você usou preservativo? — Ele ri. Eu não. Não vou contar essa parte
a eles.
— Não faz diferença para mim, cara. Todos nós sabemos que eu não
posso engravidá-la, nem que eu queira.
— Você não sabe disso com certeza — diz Paul.
— Sei, sim. Sei que por causa do câncer, nunca vou ter um filho meu. —
Levanto um dedo. — Mas — falo —, Sky já tem três e eles precisam de um
pai, então, eu sou um cara muito feliz.
— É mesmo? — Paul pergunta. Sua testa franze. Ele agarra meu joelho e
o aperta. — Você vai ficar satisfeito com isso?
Tomo outro gole da minha cerveja.
— Vou ter que ficar, não é?
— Se você quiser um pequeno Reed, todos nós podemos doar esperma
para você. Poderíamos misturá-los para que não tenhamos nenhuma ideia
de quem é o pai. — Sam ri.
— Nem fodendo eu deixaria um de vocês engravidar Sky. Não mesmo.
— Absolutamente, não.
— Se algum dia precisar do meu esperma, me avise — diz Sam. —
Porra, eu não tenho namorada. Ficaria feliz em participar. Dê-me uma
revista e um copinho de plástico. — Ele faz um gesto bruto com a mão.
Mas sei que, no fundo, ele está falando sério. Qualquer um deles faria
isso por mim, tenho certeza.
— Serei feliz com as crianças que temos. Eu já amo Seth, Joey e Mellie.
— Você se preocupa com a forma como as pessoas vão agir com você
quando o virem com eles? — Paul pergunta. Ele está agindo como
advogado do diabo, tenho certeza, porque nunca tivemos qualquer
problema com relação à pessoas de etnias diferentes. Vemos as pessoas da
forma que devem ser vistas.
— Não me preocupo com isso. Não mesmo. — Essa é a verdade. —
Sinto-me orgulhoso com a ideia de ser pai deles. — Tenho que engolir o nó
na garganta de repente. Paul aperta meu ombro. Isso não ajuda.
— Então, o que aconteceu no casamento? — Sam pergunta. Ele esfrega
as mãos como se estivesse animado.
— Sky ficou com medo. Ela ficou louca quando achou que eu ainda tinha
sentimentos por April. Tive que ir atrás dela e provar que não tenho.
— Emily estragou as coisas ao mencionar a carta? — Logan pergunta.
Ele estremece.
— Essa carta me salvou — eu digo, rindo.
— Que carta? — Sam e Pete olham um para o outro.
— Escrevi uma carta a April quando achei que estava morrendo — eu
lhes digo. Eles não faziam ideia. — Escrevi uma para cada um de vocês.
Sam levanta a mão.
— Quero a minha!
— Não. — Balanço minha cabeça. — Eu não morri para que você receba
uma carta. Lide com isso.
— Em sabia sobre as cartas, mas nós não? — Logan pergunta enquanto
finge puxar uma faca em seu peito.
— Ela prometeu entregá-las para mim.
Ele balança a cabeça.
— Você confiava nela. Fico feliz.
— Ela é confiável. — Encolho os ombros. Ele apenas sorri.
Sam se levanta.
— Bem, se não vamos falar sobre gozar em um copo, vou para a cama.
— Eu também — diz Pete. Ele se levanta e puxa as chaves do bolso. —
Emily vai deixar Reagan em casa.
Logan fica de pé.
— Então, é melhor eu ir também — ele diz e sacode meu rabo de cavalo
enquanto passa por mim. Mas então, ele caminha de volta para ficar na
minha frente.
“Estou feliz por você”, ele fala por sinais.
Sorrio para ele.
“Obrigado. Preciso falar com você sobre algo. Você acha que pode
desenhar uma tatuagem nova para mim amanhã?”
“Alguma ideia do que você quer?”
“Sei exatamente o que quero. Falaremos sobre isso amanhã.”
Ele balança a cabeça e bagunça meu cabelo porque sabe o quanto essa
merda me incomoda.
Então ficamos só eu e Paul.
— Estou muito orgulhoso de você — diz ele.
Levanto a cabeça.
— Por quê?
Ele encolhe os ombros.
— Foi a transa na despensa, certo? — Bato levemente em meu peito. —
Você sabe que eu tenho habilidades meio loucas escondidas.
Ele ri.
— Você tem habilidades loucas na vida, Matt. — Ele fecha um olho e
olha para mim. — Já pensou em ir para a faculdade? — ele pergunta.
Balanço a cabeça.
— Gosto do que estou fazendo. — Penso nisso por um segundo. — Mas
eu poderia marcar meus compromissos para mais cedo, para que eu
pudesse estar em casa à noite. — Paul já faz isso quando fica com Hayley.
Ele trabalha até tarde uma semana e sai mais cedo na semana seguinte.
— Podemos cobrir. — Ele balança a cabeça. — Tudo o que você
precisar, daremos um jeito para fazer acontecer.
— Obrigado.
— Você sabe que ela ganha mais dinheiro do que você, certo?
Eu rio.
— Sim, eu sei.
— Isso te incomoda?
— Que ela seja bem-sucedida e educada? Não. Não me incomoda em
nada. Inferno, talvez eu fique em casa e seja o Sr. Mamãe.
— Você seria bom nisso. — Ele coloca a cabeça para trás e fecha os
olhos.
— Você já pensou em ir para a faculdade? — pergunto. Ele sequer teve
a chance de ir; estava muito ocupado cuidando de nós.
Ele dá de ombros, de repente, parecendo muito desconfortável. Ele
remexe seu jeans.
— Nunca tive tempo de pensar nisso.
Oh, ele pensava sobre isso, se a sua evasão é qualquer indicação.
— Você deveria ir. Quando eu for morar com Sky, você vai ficar sozinho
com Hayley aqui. Você nem vai saber o que fazer com toda a calma.
Ele bufa.
— Como se eu pudesse me livrar de vocês.
— Posso te perguntar uma coisa? — pergunto baixinho. Tento não
invadir sua privacidade, mas não posso me impedir.
— Pode perguntar. Não posso prometer que vou responder.
— O que está acontecendo com você e Friday?
Ele geme.
— Nada. Por quê? O que ela te disse?
— Ela não me disse nada. Mas é nítido que existe algo quando vocês
estão no mesmo ambiente. O que você fez com ela?
— Eu a beijei — ele deixa escapar.
Ofego.
— Você beijou Friday? — Bato o punho contra o peito, tentando
reiniciar meu coração.
— Bem, nós meio que nos beijamos.
Sorrio.
— Como foi?
— Incrível — ele suspira. Mas então, percebe o que disse e tenta
disfarçar. — Quer dizer, foi bom.
Ele é um péssimo mentiroso.
— Você deveria convidá-la para sair.
Ele balança a cabeça.
— Convidei. Ela disse que não. Ela diz não há anos.
— Você sabe que ela não é lésbica, certo? — pergunto.
Ele arqueia uma sobrancelha.
— Sim. Não graças a você.
Eu rio.
— Desculpe-me por isso.
— Não, não desculpo. — Mas ele está sorrindo. — Ela tem alguns
problemas — ele finalmente diz. — Eu gostaria de saber quais são.
— Que tipo de problemas? — pergunto.
— Não sei. Ela não tem família. É uma menina completamente sozinha.
Sabe que ela não vai para casa nem nas férias?
— Bem, com certeza ela não nasceu de uma folha de repolho. — Fico
quieto por um minuto, porque parece que ele está pensando. — O que
aconteceu quando você a beijou?
— Faíscas — diz ele. — Faíscas do caralho. — Ele solta um suspiro.
— E quanto à Kelly?
Seu olhar se ergue.
— O que tem ela?
— Imagino que Friday não gostaria de beijá-lo enquanto você ainda está
dormindo com Kelly. Era esse o problema? — Conseguir informações de
Paul é como arrancar os dentes.
— Não durmo com Kelly desde que você e eu conversamos sobre isso
naquela manhã. Não dormi com ninguém desde que beijei Friday. Não
consigo tirá-la da porra da minha cabeça.
— Então, corre atrás.
Ele balança a cabeça.
— Ela disse que de jeito nenhum. Suas palavras exatas foram: “de jeito
nenhum, Paul. Você é um filho da puta idiota”. Então, ela me disse para eu ir
me foder.
Essa é a Friday que conheço. Adorável!
De repente, há uma batida na porta. Dou um pulo para atender,
esperando, do fundo do meu coração, que Sky tenha vindo me ver para ter
certeza de que está tudo bem. Para dizer que me ama e não pode esperar
mais um minuto para ficar comigo. Abro a porta e meu coração capota, mas
por um motivo completamente diferente.
Não é Sky que está ali. É April. Ela tem os braços cruzados e está toda
molhada. A maquiagem escorre pelo seu rosto, fazendo-a parecer um
guaxinim semiafogado. Ela ainda está usando seu vestido de casamento, e
uma poça está se formando no chão embaixo dela.
— Posso entrar? — ela pergunta.
Dou um passo para trás e deixo-a passar por mim, diretamente para a
minha casa, diretamente para a minha vida.
SKYLAR

P apai ainda está lavando pratos e limpando a cozinha quando chego em


casa. Jogo minhas chaves sobre a mesa, e ele se vira para mim, esfregando
as mãos em um pano de prato.
— Achei que você só viria para casa amanhã — ele fala.
Encolho os ombros.
— Senti falta das crianças. — Sorrio, porque é a verdade. Realmente
sinto falta deles.
— Nunca pensei que iria ouvir você dizer isso. — Ele coloca o pano de
prato no balcão e cruza os braços. — Matt a encontrou?

CONCORDO. Não preciso dizer mais do que isso.


— O que houve? — ele pergunta.
— Umas coisas — eu digo. — Não importa.
— Claro que importa, Sky — ele protesta.
Não gosto de vê-lo agir assim. Não gosto mesmo. Ele não tem o direito.
— O que lhe dá o direito de me fazer esse tipo de pergunta, pai? —
pergunto. As palavras ficam entre nós, visíveis e palpáveis. — Fiz o que
você queria. Assumi sua responsabilidade. Isso não significa que você tem
passe livre na minha vida.
— Não quero passe livre — diz. Ele se vira. — Deixa para lá —
murmura.
Solto a respiração que estava segurando.
— O que você quer, papai? — pergunto.
— Não quero um passe livre, Sky — diz ele. — Mas quero entrar. Estou
tentando. Sei que fiz um bom trabalho ao afastar você de mim, mas não
quero ir embora agora. — Ele ergue as mãos como se estivesse se
rendendo. — Então, o que aconteceu com Matt?
— Ele foi me ver — admito. — Ele foi até o meu apartamento. Por que
você lhe deu o meu endereço?
Ele ri.
— O garoto estava destruído. Eu não poderia ficar sentado aqui e deixá-
lo sofrer.
— Por que você se preocupa com o sofrimento de Matt? — Cruzo meus
braços e olho para ele.
— Afastei-me do sofrimento da sua mãe por um longo tempo. E do seu.
E agora que estou tentando agir diferente, você não consegue me dar uma
chance.
— Sim, consigo. — Soo como Mellie quando ela não consegue o que
quer.
Ele ri.
— Sei que você pode. E espero que a gente consiga aproveitar essa
oportunidade. — Ele espera alguns segundos. — Você sabe que ele foi me
ver, certo? — ele pergunta.
Reviro os olhos.
— Não sou surda, pai. Você me disse isso.
— Não hoje, Sky. Ontem. Ele foi me ver.
Vou até a geladeira e pego uma garrafa de água. Aparentemente, o
Chunky Monkey me deixou sedenta.
— Por que Matt foi te procurar?
— Ele queria pedir minha permissão para se casar com você.
Deixo minha garrafa cair e ela rola pelo chão.
— Ele queria o quê?
— Você não é surda, Sky — ele fala.
— Não é engraçado, pai. — Mas um sorriso toma todo o meu rosto. —
Ele realmente pediu isso?
Ele sorri também.
— Sim, pediu. Disse a ele que vocês deveriam namorar, com calma,
como os jovens fazem, mas ele me disse que não podia fazer isso enquanto
houvesse crianças impressionáveis na casa. Ele disse que quer que Seth
aprenda a tratar as mulheres da maneira como ele trata você, e que Joey e
Mellie aprendam a tratar os homens da forma como você o trata. Então, ele
quer casar com você e fazer as coisas certas.
Meu coração se aquece.
— Ele não me pediu ainda. — Mas sei qual será a minha resposta. Sinto
meu anelar ser tocado pela ponta do meu polegar. Quero usar o anel de
Matt. Quero que ele seja meu marido.
Papai sorri.
— Você o ama, hein? — ele pergunta.
— Sim — respondo. — Amo muito.
— Imaginei. Eu o conheci quando Kendra estava doente. Ele parece ser
uma pessoa maravilhosa. Bom e gentil. E persistente. — Ele estreita os
olhos para mim.
Eu rio.
— Ele, definitivamente, é persistente. Mas sabe o que mais amo nele,
papai? — pergunto.
Ele arqueia uma sobrancelha em vez de responder.
— Amo o fato de que ele estava disposto a desistir de resolver as coisas
e ir para casa esta noite pelo bem das crianças.
— Não entendo. — Ele parece confuso.
— Fui para o meu apartamento porque não queria enfrentá-lo. Ele foi
até lá e disse que iria embora se eu voltasse para as crianças, porque elas
não merecem que eu as deixe. Ele pensou na necessidade delas antes da
dele. Ele se afastou. E isso me faz amá-lo ainda mais.
Papai se aproxima e me dá um abraço desajeitado. Ele não é tão bom
nisso como Seth, mas está tentando. E ganha pontos por tentar.
Olho para ele.
— Você disse sim a ele, papai? — pergunto baixinho.
Ele afasta o cabelo do meu rosto.
— Sim, Sky. Eu disse.
Sorrio.
— Estou feliz.
— Eu também. Que bom que você o conheceu. Fico feliz de que ele seja
capaz de amar você como você merece. — Ele beija minha testa. — Bem —
ele continua —, já que estou aqui, quer ir vê-lo? Eu estava planejando
passar a noite.
Ver Matt? Mordisco o lábio inferior e penso sobre isso.
— Você se importaria?
Ele me puxa para perto e beija minha testa novamente.
— Eu me importaria se você não fosse. Vá buscar sua felicidade, garota.
Você merece isso.
Antes de ir, vou até o quarto olhar Mellie e Joey e, como a porta de Seth
está meia aberta, olho seu quarto também. Ele se mexe quando puxo os
fones de seus ouvidos.
— Tia Sky — ele fala, sentando-se —, o que houve?
— Nada — eu sussurro. — Eu estava apenas dando uma olhada em
você.
— Minha mãe costumava fazer isso — ele murmura e rola para o outro
lado. — Amo você, tia Sky — ele fala em voz baixa. Então, ouço um ronco
irromper de sua garganta.
Não consigo segurar o sorriso.
Papai está esperando na porta.
— Pegue sua capa de chuva. Está chovendo muito.
— Obrigada por estar aqui, pai.
Ele balança a cabeça e me abraça.
Em seguida, saio do seu aperto para que possa ir até Matt. Só espero
que ele queira me ver tanto quanto quero vê-lo.
M AT T

P Fecho
uta merda.
a porta atrás de April. Não faço a menor ideia do que dizer a ela,
que parece ter sido atropelada por um caminhão de maquiagem e deixada
na estrada. Na chuva.
— Sinto muito incomodá-lo — diz ela.
Vejo Paul se levantar e caminhar em direção ao corredor para seu
quarto.
— Sequer pense em sair daqui — digo. Ele congela. Então, vai até a
cozinha e pega uma cerveja.
— April — ele fala com um aceno de cabeça. — Você está uma merda.
— Obrigada. — Ela funga.
Ele não se demora. Então, volta para a espreguiçadeira.
— Por que você está aqui? — pergunto. Ela está molhando todo o
maldito chão.
Ela passa os braços em volta de si e estremece, como se estivesse com
calafrios. Olho atentamente para seu rosto. Seus lábios estão um pouco
azuis e seus dentes estão batendo.
— Pegue a porra de uma toalha, babaca — Paul fala. Mas ele não se
levanta para me ajudar. Viro-me em direção ao armário de roupas de cama,
mas, de repente, ouço uma batida na porta.
Merda. Se for Kenny, vou empurrá-la para o corredor, direto em seus
braços. Eu me preparo e abro a porta.
Meu coração se aperta quando Sky levanta sua mãozinha para mim e
acena dizendo:
— Oi, Matt.
Nunca fiquei tão feliz em ver alguém na minha vida.
— Estou tão feliz por você estar aqui — falo. Passo minha mão atrás de
seu pescoço e puxo-a para mim, pois tenho que beijá-la. Não posso esperar
mais nem um segundo.
Ela resmunga contra os meus lábios.
— Eu não podia esperar até amanhã — diz.
Ego minha cabeça e olho para ela.
— Estou muito feliz por isso — digo a ela.
Paul ri e dá um tapinha em seu joelho. Ele está gostando muito dessa
porra. Sky olha por cima do ombro e congela.
— O que ela está fazendo aqui? — ela pergunta. Seus olhos procuram os
meus como se fossem encontrar a resposta em meu olhar. Mas ela não vai
encontrar nada lá porque, aparentemente, tenho merda na cabeça.
— Não faço a mínima ideia — sussurro, com veemência.
Ela olha para April por um minuto e então, seu rosto suaviza.
— Você tem que ajudá-la.
— Ajudá-la com o quê? — pergunto, ferozmente.
— Dando-lhe a porra de uma toalha — Paul fala novamente. — Dãããã.
Aperto meus dentes. Não quero lhe dar uma toalha. Quero que ela vá
embora. E leve todo o seu sistema hidráulico junto.
Sky me deixa e caminha até April. Ela segura seu cotovelo e a leva até o
banheiro.
— Vamos lá — diz ela suavemente. — Vamos te limpar.
April permite que Sky a leve para o banheiro, seu vestido arrastando
um rio pelo chão, deixando uma grande marca em nosso tapete.
Sky empurra-a para dentro do banheiro e se vira para olhar para mim.
Mas então, ela balança a cabeça, suspira pesadamente e, em seguida, entra.
— Isso é fodido — diz Paul com uma risada maníaca.
— Você é um filho da puta — falo. — Poderia ter ajudado.
— O que você queria que eu fizesse? Ela é sua namorada.
— Ex-namorada.
— Bem, sua ex-namorada está no banheiro com sua atual namorada. —
Ele ri novamente. — Pegue outra cerveja quando for pegar o pano para
secar o chão. — Ele coloca os pés sobre a mesinha de centro. — E tire suas
bolas de dentro do bolso da April quando fizer isso.
— Minhas bolas não estão no bolso da April. — Estão nos da Sky.
Felizmente.
— Humm humm — ele murmura.
Entrego uma cerveja a ele e começo a secar o chão.
Sky abre a porta do banheiro e coloca a cabeça para fora.
— Posso pegar algumas toalhas? E algo para ela vestir?
— O que você está fazendo aí?
Ela olha para trás.
— Ela está uma bagunça — sussurra Sky. Ela sai e fecha a porta atrás de
si. — Ela estava congelando, então eu a coloquei na banheira.
— Emily deixou um pouco de xampu de menina aqui. Está debaixo da
pia.
— Você pode me arrumar algumas roupas? Pode ser um short e uma
camiseta.
Sky desaparece de volta no banheiro. Pego um short e uma camiseta
que não gosto. Merda, acho que foi April quem comprou. Bato suavemente
na porta. Sky sai.
— Como estão as coisas aí dentro? — pergunto.
— Indo — ela murmura, revirando os olhos. — Ela teve um dia difícil.
Ótimo. Bem-feito. Ela fez a cama, e agora deve deitar nela.
— Lamento ouvir isso — falo educadamente.
Ela revira os olhos e entra novamente no banheiro com as toalhas e
roupas.
Ando de um lado para o outro por vinte minutos, até que Paul
resmunga.
— Vai fazer um buraco no tapete.
— Quem se importa? — Mas eu me sento no sofá ao lado de sua cadeira.
— O que você acha que elas estão falando? — Paul pergunta, sorrindo
como um idiota.
— Não faço ideia.
— Aposto que elas estão discutindo o tamanho do seu pau — ele
provoca.
— Cale-se.
— Ou o fato de você não saber usar a língua.
— Vá se foder. — Tenho muita habilidade com a língua.
— A maneira como você raspa as bolas.
— Babaca. — Sorrio forçadamente.
Ele ri em voz alta e empurra meu ombro.
— Pare de se preocupar.
Olho para meu dedo mindinho, que roí até o sabugo.
A porta do banheiro se abre, e fico de pé em um salto. Sky sai primeiro,
com April atrás dela. April parece muito melhor. Seu rosto não tem mais
maquiagem e seu cabelo está úmido, mas penteado em uma massa
arrumada. Está usando a camiseta e o short que detesto. Ela cruza os
braços na frente do peito. O que aconteceu com aquela monstruosidade de
vestido?
O que aconteceu com seu casamento?
O que aconteceu com seu bebê?
Olho para sua barriga e percebo que posso ver uma pequena elevação.
O que o vestido de casamento escondeu, essas roupas não escondem. Mas
não é meu, então, não tenho nada com isso. Forço-me a olhar de volta para
seu rosto.
— Obrigada por me deixar entrar — April diz calmamente.
— Por que você está aqui? — pergunto, finalmente. Preciso saber.
— Eu não sabia sobre Kenny e minha dama de honra. Obrigada por me
dizer. Aparentemente, eu era a única que não sabia. — Sua voz está calma e
um pouco rouca, como se ela tivesse passado muito tempo chorando.
— Onde está Kenny? — pergunto.
Ela encolhe os ombros.
— Provavelmente, no hospital.
Hospital?
— O quê?
— Bati na cabeça dele com um vaso. — Ela estende suas mãos para me
mostrar o tamanho. — Bem grande. — Gira o ombro. — Era bem pesado.
Meu braço ainda dói.
Paul ri. Atiro-lhe um olhar, e ele se cala.
— Oi, Paul — ela fala.
— April — ele murmura de volta e liga a TV.
— É melhor eu ir. — Ela se vira para Sky e a abraça. — Obrigada — diz
para ela. — Você foi muito gentil.
Olho para as duas. Sky a abraça de volta, esfregando suas costas
suavemente por um segundo. O que aconteceu no banheiro?
April dá um passo para trás e enxuga os olhos.
— Fico feliz que você o tenha acertado — falo a April.
Ela sorri.
— Eu também. — April suspira. — Matt, sinto muito por tudo — ela
sussurra.
— Eu sei. — O que mais posso dizer?
Puxo Sky para o meu lado e passo meu braço em volta de seus ombros.
— Tudo acabou bem — falo. — Pelo menos, para mim.
April solta um suspiro.
— E eu tive o que mereci.
Concordo. Que porra posso dizer?
Sky me dá uma cotovelada.
— O quê? — pergunto, esfregando minhas costelas
— Sei que tive o que mereci. — April coloca a mão em sua barriga, e
meu coração se aperta por ela. — Escolhi a paixão ao invés do amor, e veja
onde isso me levou. Eu poderia ter uma vida estável e feliz.
Sim, mas ela não estaria grávida agora. Essa parte eu não compartilho
com ela porque não é da sua conta.
April ergue os braços.
— Posso abraçá-lo, Matt? — ela pergunta timidamente.
Sky e eu dizemos que não ao mesmo tempo. April deixa cair os braços e
sorri.
— Não culpo você — diz April. — Se quer saber, eu não gostaria de me
abraçar também.
— Não estou bravo com você, April. Não mais. — Posso falar isso a ela.
Não me importo que ela saiba.
— Agora você sente pena de mim? — ela pergunta.
— Sinto-me esperançoso por você. — Aperto Sky em meus braços. —
Cuide do seu bebê, está bem?
— Vou cuidar —fala, acenando. Ela caminha até a porta e Sky a abre
para ela. — Obrigada novamente, Sky.
Sky balança a cabeça, e April sai da minha vida. E eu espero que pela
última vez.
Chamo Sky para um abraço e sussurro
— Estou tão feliz por você ter vindo.
SKYLAR

É maravilhosa a sensação de estar nos braços de Matt. Deixo que ele me


segure por um segundo e, em seguida, me afasto, empurrando-o
suavemente enquanto balanço o dedo para ele.
— O que você teria feito com ela se eu não tivesse aparecido?
Ele coça o queixo.
— Não faço ideia.
Ele e Paul riem.
— Droga — Paul fala. — Ela parecia ter sido arrastada por aí como um
gato.
Lanço um olhar atravessado a Paul, que encolhe os ombros. Mas ele não
está constrangido. Sei que não.
— Fiquei triste por ela — admito. — Vocês não a viram no banheiro.
— Graças a Deus — Paul resmunga. — Ela foi ousada demais em vir até
aqui.
— Ela não tinha outro lugar para ir — falo. — Ela está morando com
Kenny desde a semana passada. E simplesmente atirou um vaso na cabeça
dele. — Eu rio do inusitado da situação.
— Mas ela não devia achar que seria bem-vinda aqui — Paul responde.
— Ela fez muitos inimigos e não é bem-vinda em vários lugares. —
Aponto na direção do banheiro. — O vestido dela ainda está na banheira.
Ela pediu para queimá-lo.
— Posso apenas atirá-lo pela janela? — Paul pergunta.
Dou de ombros.
— Para ela não faz diferença.
— Você está bem? — Matt pergunta. Seu olhar, tão suave quanto as
pontas dos dedos, que se arrastam em minha testa, empurrando o cabelo
do meu rosto.
Balanço meu polegar em direção à porta.
— April e eu tivemos uma longa conversa. Bem, eu falei, e ela ouviu.
Acho que ela entendeu.
Seus olhos se estreitam.
— O que você disse a ela?
Olho para a porta de seu quarto.
— Podemos conversar em particular?
Ele segura meu cotovelo, parecendo muito com a forma como segurei
April e me leva para seu quarto. Paul finge estar tossindo. Parece até que
vai colocar um pulmão para fora. Ele balança o polegar em direção à
cozinha. Matt revira os olhos, vai até lá e volta com um punhado de
preservativos. Eles têm uma gaveta cheia de preservativos? Na cozinha?
Por quê?
Matt ri, fechando a porta do quarto atrás de nós. Ele joga os
preservativos sobre a cômoda. Há cerca de vinte deles.
— Você está se sentindo meio ambicioso, hein?
— Um homem pode ter esperança — ele responde, rindo. — Então, o
que você disse a April? — ele pergunta, sentando-se na beirada da cama.
— Disse a ela que gostei de ter a chance de ajudá-la neste momento,
mas que gostaria ainda mais se ela jamais o procurasse novamente.
Ele balança a cabeça e faz um ruído baixo com a garganta.
— Ótimo — ele fala. — Acho isso ótimo.
— Acho que ela entendeu do que eu estava falando.
— O que mais você disse a ela? — Ele tira os sapatos e puxa a camiseta
do corpo. Olho para o sapo em sua barriga.
— Disse que seu príncipe sapo encontrou sua princesa rã.
Ele ri.
— Mentira.
— Foi algo assim.
— Falei com Logan hoje sobre fazer um desenho novo. Quero uma
princesa rã e seu nome na minha pele. Algo permanente.
— Isso é sexy — eu digo.
— Que bom que gosta — ele diz em voz baixa e tira a calça.
— Existe uma razão para que você esteja tirando suas roupas? —
pergunto. Meu coração está batendo como um louco.
— Gosto do seu pijama — ele fala, olhando-me da cabeça aos pés, em
uma análise lenta que faz meu sangue ferver nas veias. — Você veio vestida
assim?
— Achei que você não se importaria.
— Não. Mas gostaria mais se você o tirasse. — Ele está só de cueca e
começa a tirá-la também. Seu pau balança como se quisesse minha atenção,
e eu não consigo segurar o sorriso.
— Por que você está aqui, Sky? — ele pergunta.
Tiro minha camisa. Não estou usando sutiã.
— Acho que senti sua falta.
— De qual parte de mim? — ele pergunta e se deita na cama, sua
masculinidade arqueando em direção a sua barriga.
— Do pacote todo — falo.
Ele segura seu pau e o esfrega para cima e para baixo.
— Eu e meu pacote? — Ele ri.
Reviro os olhos.
— Você é tão bobo.
— Sente-se em meu rosto, e eu calo a boca.
Sorrio. Mas minha calcinha, de repente, parece encharcada.
— Não me tente.
— Desejo tenta-la desde o dia em que te conheci. Sentei-me ao seu lado
naquela igreja, e você estava tremendo. Quis te conhecer. Imediatamente.
Senti como se tivesse sido atingido por um trem em alta velocidade.
Tiro a calça e a calcinha. Estou completamente nua, mas não me
importo.
— Você tomou toda a responsabilidade para si sem sequer piscar,
simplesmente porque as crianças precisavam de você. Isso fez com que eu
me apaixonasse um pouco. Imaginei que, se você podia amar três filhos que
sequer conhecia, talvez pudesse me amar também. — Ele acena. — Tem
espaço em seu coração para mim, Sky? — ele pergunta. — Eu disse que ia
fazer você se apaixonar por mim.
Engatinho sobre a cama até que meu peito toca o seu. Sento sobre seus
quadris e olho para seu belo rosto.
— Você conseguiu. Não posso viver sem você.
Beijo-o. Seus lábios são quentes e suaves, e é maravilhoso tê-los junto
aos meus.
— Espero que você esteja pronto para ter uma grande família.
— Estou pronto para qualquer coisa que você me dê. — Ele arqueia
seus quadris debaixo de mim, balançando contra minha fenda.
Matt nos rola sobre a cama, ficando sobre minhas coxas. Ele inclina a
cabeça e brinca com um mamilo, rolando-o suavemente entre os lábios,
puxando levemente e lambendo-o.
— Você está pronta para se casar comigo? —pergunta, levantando a
cabeça. Ele olha nos meus olhos, e juro que posso ver as profundezas da sua
alma. Ele é bom e gentil, e me ama com uma intensidade que eu nunca teria
esperado.
— Sim — sussurro para ele. — Vou me casar com você.
— Vou perguntar de novo quando puder fazer isso da maneira correta.
— Não vai ser tão maravilhoso como neste momento. — Não vai. Não
tem jeito.
Matt pega um preservativo e o rola em seu comprimento. Ele empurra
dentro de mim até entrar por inteiro. Em seguida, para e afasta meus
cabelos do rosto.
— Nunca imaginei que teria tanta sorte — ele sussurra.
Seus braços deslizam sob os meus ombros e ele me segura bem perto
enquanto começa a bombear seus quadris, deslizando para dentro e para
fora, dentro e fora, dentro e fora. Cada movimento pontuado por pequenos
grunhidos em meu ouvido.
De repente, ele para e dá um tapinha na minha coxa.
— Vire-se.
Sorrio e faço o que ele pede. Nunca fizemos desta maneira, mas estou
disposta. Muito disposta. Matt desliza um lado debaixo de mim e mergulha
em meus cachos, provocando meu clitóris e, por trás, separa minhas
nádegas e entra em mim. É rápido, forte e muito perfeito. Empurro minha
bunda dcontra ele, que ajusta seu ângulo até me fazer tremer.
— Achei — ele se alegra.
Começo a gemer alto, pois me sinto muito completa apertada enquanto
Matt se move dentro de mim no ponto certo.
— Shh — ele sussurra em minha orelha.
Merda. Esqueci.
— Matt — eu sussurro.
— Amo quando você fala meu nome antes de gozar. Logo antes de você
começar a fazer essa pequena pausa em sua respiração e seu ruído sair
ofegante. — Seus dedos se movem contra o meu clitóris, esfregando rápido
e me levando ao ponto sem volta.
— Matt, Matt, Matt — gemo. Então, respiro fundo quando ele me faz
chegar lá.
— Aí está — ele sussurra e grunhe, gozando dentro de mim enquanto
minhas paredes o apertam. Minha libertação vibra por todo meu corpo, e
ele manipula meu clitóris até que meu clímax diminui. Em seguida, ele cai
em minhas costas, pesado e quente como um cobertor enquanto seus dedos
me seguram. Ele se acalma lentamente, sua respiração quente contra meu
pescoço, onde ele esconde o rosto. Ele assovia quando sai de dentro de mim
e eu não consigo sequer me mexer. Fico deitada lá, nua e exposta, mas não
me importo.
Matt se levanta e tira o preservativo. Em seguida, volta para a cama e
beija meu ombro.
— Estou feliz por você estar aqui — ele fala.
Matt é o homem mais sincero que já conheci. Ele me diz como se sente.
E o que não me diz, posso perguntar e sei que ele vai dizer. Ele não esconde
nada.
— Eu te amo — falo e me apoio sobre seu peito. Viro minha cabeça para
que meu ouvido fique diretamente sobre seu coração. É firme, forte e...
meu. — Você vai me amar para sempre? — pergunto. Levanto minha
cabeça para olhar para seu rosto.
— E mais um dia — afirma.
— Matt — eu começo. Não sei como dizer o que quero. — Você
mencionou que seria preciso um milagre para que você conseguisse me
engravidar
— Sim — diz ele em voz baixa.
— E se eu dissesse que acredito em milagres?
— Eu diria que você está desejando coisas que não pode ter. — Ele não
para de me tocar, então, não parece estar aborrecido ou triste.
— Mas — eu começo.
Ele coloca um dedo sobre meus lábios.
— Mas nada, Sky — ele fala. — Você é a porra do meu milagre. Não um
bebê. Não preciso de um bebê para me sentir inteiro. Só preciso de você. —
Ele ri. — E ganhei seus filhos como bônus. O que mais eu poderia pedir?
— Matt, você poderia morar comigo? — pergunto.
Prendo minha respiração enquanto espero a resposta.
— E quanto a Seth? — ele pergunta.
— Nós poderíamos conversar com ele.
— Vou falar com ele quando formos para casa de manhã. — Ele boceja.
— Você pode dormir aqui esta noite.
— Quer ir para minha casa agora? — pergunto.
Ele olha para a pilha de preservativos sobre a cômoda e balança a
cabeça.
— Temos cerca de dezenove preservativos para serem usados ainda. —
Ele me levanta e puxa as cobertas sobre nós. Deito em seus braços.
— Acho que deveríamos parar de usar preservativos e ver o que
acontece — sugiro.
Ele balança a cabeça.
— Desnecessário.
Acho o ponto entre seu queixo e o ombro que é todo meu e me
aconchego nele.
— Falaremos sobre isso mais tarde. — Bocejo e fecho os olhos. Não há
nada mais perfeito que isso.
M AT T

A cordei com Sky em meus braços. Quero acordar assim todos os dias
pelo resto da minha vida. Ela se virou, sua parte inferior está em meu colo e
estamos encaixados como duas colheres em uma gaveta. Estico o braço e
pego um novo preservativo. Usamos mais de quatro durante a noite. Estou
quase aceitando sua sugestão de dispensá-los completamente e ver o que
acontece. Mas ainda não. Não até que eu me case com ela. Quero que ela
tenha meu nome. Quero que seja permanente.
Ela se mexe e murmura um incentivo para mim quando empurro para
dentro dela por trás.
— Matt — ela sussurra.
Seguro-a, tentando me aproximar ainda mais, mas ela empurra minha
mão.
— Não consigo mais — ela protesta. — Você me esgotou.
Movimento-me dentro dela, lenta e preguiçosamente. Ela aperta meu
membro e, apesar de não aguentar o toque em seu clitóris, pode,
certamente, receber a onda quente de prazer que quero dar a ela. Ela me
aperta com tanta força, que quero gozar agora. Sky ofega e faz aquele
barulho. Então, meu clímax chega mais rápido do que achei ser possível.
Gozo segurando em seu ombro, empurrando dentro de maneira preguiçosa.
Paro de me mover e abraço-a, ainda sem querer sair de dentro dela. Ela
é tão perfeita e é tudo que eu sempre quis.
— Bom dia — ela sussurra.
Eu rio.
— Estou quase envergonhado de mim mesmo — falo. — Não gozo tão
rápido desde que era um adolescente. — Viro-a para mim, para que eu
possa olhar para seu rosto. — Viu o que você faz comigo?
— Vou levar isso como um elogio — ela fala com uma risadinha.
— Vamos para casa? — pergunto.
Ela sorri e acena com a cabeça.
— Podemos ir?
Bato em seu traseiro nu e dou uma risada.
— Claro que podemos. Levante-se. Vamos tomar um banho.
Tomamos uma chuveirada rápida, e ela reclama que está machucada.
Lavo-a gentilmente e a envolvo em uma toalha. Em seguida, levo-a de volta
para o meu quarto para que ela possa se vestir. O sol está forte e estamos
nos movendo pela casa como dois adolescentes. Seu cabelo está molhado, e
ela ainda está de pijama. Embalo algumas roupas, pois não vou voltar para
cá. Vou dormir na casa dela, desde que Seth não se importe.
Paramos para tomar café e compramos rosquinhas para as crianças.
Chegamos em sua casa. Seu pai está arrumando a cozinha, e Mellie está
ajudando a virar uma panqueca. Ele olha para cima e faz uma carranca.
— Oi para vocês dois — ele fala, fazendo uma careta para mim. Eu rio.
Sei que é seu pai e deve olhar para qualquer homem — com intenções
lascivas — desse jeito. Sei também que tenho sua benção e é isso que
preciso.
— Bom dia — Sky fala e Mellie corre direto para os braços dela.
— Fiquei com medo de que você não fosse voltar — diz Mellie. — Como
a minha mãe.
Oh, merda. Nem pensei nisso. A emoção me sufoca e tenho que engolir
em seco para empurrá-la de volta.
— Não vou a lugar algum por um bom tempo — Sky explica. — Nem
Matt. Nós dois vamos ficar aqui, como uma espécie de pai e mãe para vocês.
Mellie olha para mim com curiosidade.
— Pai e mãe?
Sky pisca seus olhos azuis.
— Sim. Pai e mãe. Tudo bem para você?
Mellie segura o rosto de Sky com suas pequenas mãos e olha em seus
olhos.
— E você não vai embora? — ela pergunta.
— Nunca — diz Sky.
— Matt também não? — Mellie pergunta. Seu olhar é cético.
— Muito menos Matt — Sky afirma.
Vou até o quarto de Seth. Ele tem uma luta hoje, então, imagino que
esteja acordado.
Bato em sua porta.
— Entre — ele fala.
Enfio a cabeça para dentro. Ele está se vestindo.
— Está pronto?
— Sim — diz ele. — Você vai?
— É claro — falo. Aproximo-me dele e sento-me à beira de sua cama. —
Podemos conversar? De homem para homem?
— Cara, eu usei camisinha — ele deixa escapar.
— O quê? — falo e me levanto.
— Oh, pensei que você tinha descoberto — ele fala e estremece. —
Merda, estraguei tudo.
— Você está fazendo sexo?
— Assim... foi... uma vez. — Ele não me encara. Porra, ele tem dezesseis
anos.
— Você está se cuidando, certo? — pergunto. — Precisamos comprar
mais preservativos? — Odiaria pensar que ele tenha que pedir à enfermeira
da escola ou algo assim.
— Bom, não — ele fala. — Tenho alguns.
— Bem, quando você precisar de mais, me avise.
Ele balança a cabeça e solta um suspiro.
— Você não vai contar à tia Sky, vai?
— Desculpe-me, mas não posso esconder as coisas dela. — Ele balança
a cabeça. — Como foi? — Não quero detalhes. Só quero saber se ele está
bem.
Ele guarda seu uniforme na mochila.
— Tudo bem, acho. — Seu rosto fica vermelho.
A primeira vez é, geralmente, fantástica para um rapaz, mas não tanto
para uma jovem garota.
— Quem é ela? — pergunto. — Traga-a para nos conhecer.
— Ela não é bem esse tipo de garota — ele fala com uma careta.
— Se ela é o tipo de garota que você escolheu para transar, tem que ser
o tipo de garota para apresentar a sua família, idiota — resmungo. Essa
merda me irrita. Mas posso me lembrar de ter tido essa mesma conversa
com Sam e Pete, além de Logan. Logan era muito mais pegador que os
gêmeos. — Mas não era isso que eu queria falar.
Ele olha para cima.
— O que você queria?
Desta vez, sou eu que fico envergonhado. Não sei porque me sinto tão
constrangido em falar com Seth sobre isso.
— Quero me casar com Sky — falo.
— Tudo bem... — ele responde.
— Está tudo bem para você?
Ele balança a cabeça lentamente e, em seguida, com mais velocidade.
— Sim, está.
— Então, eu estava pensando... Enquanto esperamos para fazer o
casamento, eu poderia me mudar para cá. — Espero e olho em seu rosto. —
Como você se sente sobre isso?
— Você já pediu a mão dela em casamento, certo?
— Sim.
— Você não vai mudar de ideia?
— Ela não conseguiria me afastar, nem à pauladas.
Ele ri.
— Está tudo bem se você quiser se mudar, tio Matt — diz ele.
Meu coração quase para. Ele me chamou de Tio Matt. Estou um passo
mais perto de ser parte de sua família.
— Gosto disso — falo em voz baixa.
— Eu também — ele responde. — É melhor irmos.
Sky já trocou de roupa e está ajudando as meninas a vestirem seus
casacos. Este será um evento que vai durar o dia inteiro, então, ela arruma
lanches e brinquedos também.
Todos nós saímos juntos, indo para o nosso primeiro evento como uma
família. Seu pai não vai com a gente hoje, no entanto. Ele vai visitar a mãe
de Sky.
Seth vence as partidas e avança para a rodada final.
Toda vez que ele ganha, para após a partida e levanta a mão para o céu,
como se estivesse dedicando a vitória à mãe. Isso leva uma lágrima aos
meus olhos.
A última partida não é como as outras. Ele vai enfrentar um menino
muito bom. Seth aparece nas arquibancadas para falar comigo.
— Tio Matt — diz ele —, não sei o que fazer.
Pego Joey da parte inferior das arquibancadas, porque ela está ficando
um pouco perto demais do tatame. Se um menino mais velho cair sobre ela,
irá machucá-la. Pego-a de volta e beijo sua barriga. Em seguida, sento-a
sobre meu ombro. Ela ri e se segura lá.
— Com relação a quê? — pergunto.
Ele balança a cabeça em direção ao fundo das arquibancadas.
— Está vendo aquele cara na cadeira de rodas? — ele pergunta.
Sim. Eu o vi assim que chegamos.
— É o pai do meu próximo adversário.
— Oh — suspiro. — Ele está doente? — Ele está usando um gorro sobre
a cabeça careca, então, posso adivinhar o que há de errado com ele.
— Estágios finais de câncer — Seth diz calmamente.
— E você está preocupado se deve ou não deixar seu filho ganhar? —
pergunto. Entendo porque Seth está em conflito. E, para ser honesto, estou
em conflito também.
— Sim.
— Você acha que o pai dele ficaria feliz ao ver o filho ganhar o jogo sem
lutar de verdade?
Seth balança a cabeça e mordisca o lábio inferior.
— Provavelmente, não.
— Seth, se eu fosse o pai dele, iria querer que ele fizesse o melhor, e que
o melhor lutador ganhasse.
Seth balança a cabeça.
— Esteja preparado. — Aperto seu ombro. — Ele pode estar entrando
no jogo para ganhar. — Ele é um pouco mais pesado que Seth também.
— Tudo bem — ele responde e vai para o tatame quando chega sua vez.
— O que há de errado? — Sky pergunta quando me sento ao seu lado.
Ela pega Joey de cima do meu ombro e a coloca ao lado Mellie. Em seguida,
dá a elas papel e lápis.
Aponto com meu queixo e digo-lhe o que está acontecendo. Ela parece
simpática.
— Deve ser duro para ele, depois do que aconteceu com sua mãe.
Eu concordo. Me dói pra cacete, e nem sou eu que vou lutar.
— Você acha que ele vai deixá-lo ganhar? — ela pergunta.
Balanço minha cabeça.
— Duvido.
E ele não deixa.
Ele vai para cima do menino como faz com todos os outros e chuta sua
bunda. O menino é forte e consegue prender Seth uma vez, mas o relógio
ainda mostra que ele tem dez segundos. O árbitro coloca a mão sobre o
ombro de Seth para mostrar ao outro rapaz que ele não está fora. Falta
pouco. Prendo a respiração. Sky está ao meu lado, gritando, e o auditório
começa a contar. Ele sai, Seth rola e eles se movem novamente para
continuar a luta.
Seth o imobiliza e ganha pontos ao derrubar o garoto no chão. Estamos
quase na terceira rodada, e ele precisa de mais um ponto. Apenas um. Seth
olha para o pai de seu oponente e o homem levanta o polegar para ele, que
sorri e volta a lutar.
Seth faz um movimento louco, um que nunca vi, e consegue prender o
menino de costas. Seu oponente não consegue se soltar, não importa o que
ele faça. Tudo o que ele precisa fazer é segurá-lo.
De repente, o árbitro apita. Seth se abaixa e ajuda o menino a ficar de
pé. Eles se cumprimentam e o arbitro ergue o braço de Seth, enquanto Sky
grita ao meu lado. Ele para na beira do tatame e levanta a mão para o céu.
Fecha os olhos e diz algo baixinho. Não consigo entender o quê. Mas então,
ele se vira e vai até o pai de seu oponente.
Ele se agacha na frente do homem e lhe diz alguma coisa. Seus olhos de
se enchem de lágrimas, e essa merda é tão emocionante que, de repente,
tenho que piscar para não chorar. Sky sequer tenta. Ela só enxuga o rosto.
Seth vai para o vestiário tomar banho e só quando estamos a caminho
de casa é que Sky se vira para ele e pergunta.
— O que você disse para o pai do rapaz, Seth?
Ele suspira.
— Disse a ele para continuar lutando. Só isso.
Tenho que piscar novamente para conter as lágrimas. Seth será um
ótimo homem. Sky segura sua mão e a aperta. Ele se inclina para frente e
beija sua bochecha.
— Amo você, tia Sky — diz ele em voz baixa.
— Também te amo, Seth — ela sussurra.
— E eu? — Mellie pergunta.
Joey a imita.
— E eu?
Sky ri e faz cócegas nas duas.
— Amo vocês duas também.
Então ela pega a minha mão e fala.
— Você também.
Dou-lhe um aperto, porque isso é tudo o que sou capaz de fazer agora.
SKYLAR

D ois meses depois.


Mamãe está na minha frente, arrumando meu véu. Levamos um tempo
para chegar a esse ponto, mas estamos fazendo progressos. Ela saiu da
reabilitação há algumas semanas e temos passado algum tempo juntas,
falando sobre... nada. É algo que jamais conseguimos fazer antes. É legal.
Tive que afastar minhas dúvidas e minha desconfiança. Às vezes, quando
você opta por seguir sempre a mesma estrada, tem que se manter
equilibrado entre os buracos para seguir em frente. Mas, outras vezes, é
bom pegar um caminho completamente novo. E é isso que nós estamos
fazendo. Tentando nos conhecer.
Quando recebi a notícia ontem, ela foi a única para quem contei. Vou
contar a Matt depois do casamento. Tivemos uma ótima notícia mês
passado, quando seu exame de sangue revelou que ele ainda está em
remissão. Agora, vou lhe dar outras boas notícias.
— Você está tão bonita — minha mãe fala. Ela arrumou meu cabelo e
segurou meu vestido quando precisei fazer xixi da última vez. Ela
realmente esteve aqui para mim hoje.
— Obrigada — suspiro. Meus nervos estão desgastados, não por causa
do casamento, mas por causa do que planejei para depois.
— O presente de Matt está com você, certo? — pergunto.
Ela dá um tapinha em sua bolsinha.
— Está, sim.
Descobrimos na semana passada que o pai de Joey e Mellie estava
disposto a desistir de seus direitos parentais e vamos adotá-las. Elas terão
o sobrenome Reed. Matt nunca esteve mais feliz, mas tenho a sensação de
que as notícias de hoje despertarão a mesma felicidade. Nós gostaríamos de
adotar Seth também, mas ele disse que não precisa. Ele diz que quer
manter o nome de sua mãe. Por mim, está tudo bem, desde que ele saiba
que é nosso também. E tenho certeza de que ele sabe.
Mamãe me dá um último abraço e vai se sentar.
Ouço a marcha nupcial começar, e meu pai vem me buscar.
— Não é tarde demais para voltar atrás, se você quiser — diz ele.
Balanço minha cabeça.
— Nunca.
Ele ri.
— Imaginei. — Papai abre o braço e eu entrelaço o meu. Só tenho três
damas de honra e elas já estão na igreja. Friday, Reagan e Emily fazem
parte da família e concordaram em usar vestidos bonitos e ficarem ao meu
lado no altar. Claro, Matt teria seus irmãos e Seth como padrinhos. Ele não
podia deixar ninguém de fora, por isso, nossos lados não são iguais. Mas
por mim, tudo bem.
Caminho e olho para cima. Os convidados se levantam, mas não olho
para eles. Olho para Matt. Posso dizer o exato momento em que ele me vê,
porque seus olhos ficam vidrados e sua boca se abre. Paul lhe dá um soco
no braço e, ainda assim, ele não desvia o olhar. Meu pai me beija no rosto, e
o restante é apenas um sonho. Olho nos olhos de Matt e falo meus votos. Ele
fala os dele. Quando é a hora das alianças, deixo-o deslizar a minha em meu
dedo e é maravilhoso. Então, deslizo a dele em seu anelar e tudo fica
perfeito.
— Pode beijar a noiva — diz o pastor.
Matt segura meu rosto em suas mãos, as pontas dos dedos espalhadas
em direção ao meu ouvido, e seu beijo me rouba o fôlego. Paul começa a
tossir, indelicadamente, para nos afastar. Quando Matt, finalmente, levanta
a cabeça, ele olha em meus olhos.
O pastor fala:
— Quero lhes apresentar o Sr. e a Sra. Matthew Reed!
A multidão vai à loucura, e saímos em meio a uma chuva de arroz. Nós
dois fechamos os olhos e a deixamos cair sobre nós, absorvendo cada
segundo.
Friday segura Mellie pela mão e Reagan faz o mesmo com Joey. Então,
cada um de nós as pega no colo e corremos em direção ao salão de
recepção. Aceitamos o cumprimento dos convidados, até que chega a hora
do brinde.
Paul se levanta e bate na taça.
— Se existe alguém realmente merecedor de amor, é meu irmão. — Ele
para e limpa garganta. — Estou feliz por ele tê-lo encontrado. Sky, você faz
do meu irmão um homem ainda melhor do que ele é, e sei que ele fará o
mesmo por você. Você sabe tudo sobre ele e, ainda assim, o ama. — A
multidão ri e Matt faz uma careta, brincando. — A vocês, Ao seu amor, À
sua vida e sua família. Que vocês possam continuar sendo abençoados.
Ele inclina a taça e brinda. Matt faz o mesmo. E todo mundo os
acompanha. Exceto eu.
— O que há de errado? — Matt pergunta.
— Nada — falo. Faço um movimento para a minha mãe, e ela coloca
uma caixa em minhas mãos. É pequena, mas pesada. — Tenho um presente
para você.
— Achei que nossa lua de mel fosse o nosso presente — ele me lembra,
com uma carranca. Estamos partindo com as crianças, hoje à noite, para a
costa da Carolina por uma semana. Mal posso esperar.
Faço um movimento para ele pegar o pacote.
— A lua de mel é o nosso presente. Isto é apenas um bônus. — Pisco,
tentando conter as lágrimas que já estão se formando em meus olhos.
Ele faz uma careta e abre a caixa. Olha para dentro e, em seguida, fica
confuso. Ele puxa o pequenino item para fora. É um macacãozinho com
capuz e, na parte de trás, está escrito Reed.
— O que é isso? — ele pergunta, confuso.
Então, seus olhos se arregalam. Friday ofega quando percebe o que está
acontecendo, e o restante dos convidados fica inquieto. — É sério? — ele
pergunta e para, a voz embargada pela emoção.
— Sim — eu digo. Lágrimas rolam pelo meu rosto, e eu não me importo.
Inclino-me para perto dele. — Você me engravidou.
Ele me puxa para seus braços e me aperta. Ouço um soluço sair de sua
garganta.
— Você está falando sério?
— Totalmente sério, Matt — eu digo. — Mas, espere.
Olho para baixo e balanço a roupinha. Um segundo macacão cai e ele o
pega no ar.
— Dois? — Ele pergunta.
Balanço a cabeça, tão emocionada por sua reação que não posso sequer
falar.
— Dois pequeninos batimentos cardíacos — falo, assim que consigo.
— Puta merda —murmura em meu ouvido. Ele me aperta com tanta
força que solto um gemido. — Eu te amo pra caralho.
Ele precisa de um segundo para inspirar e se recompor, então, ajoelha e
coloca a testa na minha barriga. Ele diz algo baixinho para seus filhos, e
nem sei ao certo o que era, mas sei que era algo entre os três. Ou entre ele e
Deus.
Em seguida, ele se levanta e olha para a multidão. Metade deles estão
com lágrimas nos olhos, assim como nós.
— Vocês sabem o que isso significa? — ele pergunta para nossos
amigos e familiares.
As pessoas falam, mas não consigo entender.
Ele aponta para Logan.
— Isto significa que meus espermas são melhores nadadores do que os
seus, irmão mais novo! — ele fala e faz sinais. Logan faz uma careta para
ele, mas está rindo. Ele envolve seus braços em volta de Emily e põe as
mãos sobre a pequena protuberância de sua barriga.
Dou um tapa em seu ombro.
— E se os meus óvulos forem poderosos e não seu esperma?
— E se for apenas nós? — ele pergunta baixinho e me beija. — Nós dois
juntos.
— Eu disse que acreditava em milagres, Matt — falo, quando finalmente
posso levantar a cabeça.
— Você é meu milagre — diz ele. — Você. Só você.
Joey puxa a perna da sua calça para que ele a pegue no colo. Ele beija a
bochecha dela com carinho. Ela sussurra em seu ouvido. Ele se vira e diz:
— Oh, alguém tem que ir ao banheiro. — Ele levanta um dedo. — Eu já
volto. — E para a comemoração para levá-la ao banheiro.
Milagres.
Sim, eu acredito.

CONTINUA...

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