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A Baba Virgem Da Filha Do CEO - Maria Amanda Dantas
A Baba Virgem Da Filha Do CEO - Maria Amanda Dantas
Diagramação│Simone Schneider
Revisão │ Luana Souza
Capa │T.V Designer
Título │A Babá Virgem da Filha do CEO
Julia, a governanta, informa para mim que a minha esposa está no meu
escritório. Vou até lá e a encontro analisando currículos. Ao me ver, finge
que não estou aqui, como costuma fazer todos os dias. Dormimos em quartos
separados há muito tempo.
— Olha só! O grande CEO da energia está em casa. — disse
ironicamente. — Ao que devemos essa grande honra? Não me diga que a
empresa faliu e que, por isso, está em casa! Porque esse seria o único motivo
pelo qual você deixaria aquela merda.
— Eu não vim aqui para discutir, Olga. Vim para selecionar a babá da
minha filha.
— Esse trabalho não é seu. A não ser que esteja demonstrando tanto
interesse porque só selecionou mulheres bonitas e jovens. Por acaso quer me
trocar por alguma meretriz com mais silicone do que eu?
Quando se tornou tão ciumenta? Seu ciúme a cega. Mesmo merecendo
todo o meu desprezo, nunca a traí, embora ela sempre aja com desconfiança.
— Não seja ridícula! Você sabe que não sou desses tipos de homens
sem escrúpulos. Agora, largue de ciúme e me deixe trabalhar em paz!
Ela respira fundo e diz:
— Eu irei escolher a babá ainda hoje e a contratarei. Selecionei as três
melhores para decidir entre elas. Você não precisava ter vindo até em casa só
por isso.
— Eu não vim só por isso. Estou aqui para almoçar com a minha filha.
— Sempre por ela. Você só pensa nessa menina. Tudo é Heloyse,
nunca a Olga. Não se cansa de ser tão idiota?
— Dar atenção à nossa filha não é algo errado. E se você fosse uma boa
mãe, faria qualquer coisa por um sorriso dela.
— Quer saber? Eu vou viajar o quanto antes. Assim, vocês dois
poderão ficar despreocupados sem a minha companhia.
— Falando assim, até parece que você não ama sua filha.
— Eu a amo sim, mas do meu jeito. Não irei criar uma menina frágil,
melosa, e sim uma mulher forte.
— Ela é apenas uma criança.
— Criança mimada e medrosa, por sua culpa. Por você viver mimando
sua filha, ela vai ser fraca igual à sua irmã.
— Não fale da minha irmã!
— Claro que não. Todo mundo é sagrado para você, menos sua esposa.
Agora, se me der licença, tenho uma babá para contratar.
— Você não tem limites. É uma mulher insensível e egoísta que só
pensa em você.
— Deixo-a falando sozinha.
Procuro por Heloyse, que está brincando em seu quarto. Ao me ver, ela
pula em meus braços e me beija com carinho.
— Papai! Está em casa! Vem brincar comigo?
— Papai vai tomar banho, meu amor, e volta rapidinho para brincar
com você. Depois vamos almoçar.
— Você é o melhor pai do mundo! — Pula.
Com seis anos, Heloyse é uma criança linda, de olhos azuis e cabelos
castanho-claros, como os da nossa família. Os olhos são da mãe, embora os
meus também sejam azuis. Meu cabelo já foi loiro quando eu era criança,
mas agora, com o passar dos anos, suas raízes estão mais escuras. Estou no
auge dos meus vinte e nove anos, quase beirando a casa dos trinta.
Hoje não vou mais para a empresa. Meu dia será todo com a minha
filha.
T omo um banho quente e rápido para não consumir muita energia,
pois a tarifa está um absurdo, na bandeira vermelha. Mal a usamos,
porém, ainda assim, a conta vem cara horrores. Enxugo o meu cabelo
com a toalha, visto um vestido solto e, por baixo, uma calça moletom. O
clima é maluco em São Paulo: em um dia está quente e no outro marca 14
graus. É algo muito irritante, principalmente quando se tem imunidade baixa.
Minha mãe está sentada na minha cama querendo saber como foi tudo.
Conto apenas a parte boa: da moça com o mesmo nome que o meu ter me
ajudado. É uma pena que eu não saiba como a mãe dela está. Deveríamos ter
trocado os números. Não falo para ela sobre a senhora arrogante, nem que um
carro queria passar por cima de mim. Agora, que estou mais relaxada, sinto-
me mal por ter proferido todas aquelas palavras para um desconhecido. Nem
sequer pude ver quem estava no banco de trás. O moço da frente era apenas o
motorista, e se buzinou, deve ter sido porque recebeu ordens. Ainda assim,
fui grossa com estranhos que, se a casualidade do destino quiser, nunca mais
irei ver novamente.
— Você acha que vai conseguir o emprego?
— Não sei, mamãe. Tinha muitas candidatas excelentes e com
currículos impecáveis. Muitas poderiam até ser donas de negócios se
quisessem e morar fora do país. Sem contar que eu era a única que não falava
em alemão.
— Se você não conseguir, não fique triste! Terá outras oportunidades
melhor.
Sorrio de lado.
A mãe da menina não deve ser nada amorosa, nem carinhosa, pois
passei o dia todo com sua filha e, em momento algum, ela veio vê-la. Eu
soube que estava em casa, trancada em seu quarto. Perguntei à cozinheira se
ela tem algum tipo de depressão ou doença rara, e a mesma respondeu que a
mulher é incapaz de amar o próximo. Martelo na minha cabeça as possíveis
razões e chego à conclusão de que ela é infeliz por estar casada com um
velho. Eu vi a foto de um homem idoso na parede do escritório hoje de
manhã quando assinei meu contrato. Ele já tem cabelos brancos e belos olhos
azuis. A senhora Prado, com certeza, é casada com esse homem, e isso deve
fazê-la infeliz. Não estou fazendo julgamento algum, mas aposto que ela,
como essas mulheres das novelas, casou-se por interesse em ter uma boa
posição social. Por isso está infeliz.
Pobre Heloyse!
No final da tarde, venho para casa buscar minhas coisas. Despedidas
são a pior parte. Concordei em voltar somente amanhã para a mansão, mas
Júlia mudou de ideia e mandou um dos motoristas vir comigo para garantir o
meu retorno ainda hoje, porque assim não haverá atrasos no dia seguinte. Já
percebi que imprevistos não são bem-vindos naquela mansão.
— Mamãe, eu prometo ligar todas as noites e vir te ver sempre quer
der. A senhora tem que me prometer que vai me telefonar se algo acontecer!
— Nada vai acontecer, meu anjo. Fique em paz! Eu te amo!
— Eu te amo mais!
Quanto mais velha fico, menos perco a minha essência de criança. Por
tudo estou chorando, e isso é algo que nunca vai mudar, porque sou uma
pessoa sensível.
Volto à mansão e deixo minhas bolsas em meu quarto. Diga-se de
passagem, ele é muito luxuoso e confortável. Tenho uma TV só para mim.
Lembro-me de que preciso estar com a Heloyse para prepará-la para a
hora do jantar e ouço gritos vindo do seu quarto assim que entro no corredor.
É algo assustador.
A bro a porta e encaro uma cena de partir o coração. Meus olhos se
enchem de lágrimas quando vejo a pequena menina sentada ao chão
com os braços sobre os joelhos, derramando rios de lágrimas. À sua
frente está uma mulher alta e empoderada que usa scarpans em casa, à noite.
Só pode ser sua mãe. Seus cabelos negros lisos e sedosos não deixam
dúvidas: é a senhora que me entrevistou.
Ela está gritando com a criança.
— Sabe o que vou fazer com todas essas bonecas? Queimá-las no
jardim. Eu mesma vou acender uma fogueira só para destruir esses
brinquedos idiotas. Você já não é mais uma menininha para passar o dia
brincando com essas coisas ridículas.
— Mamãe, por favor...
— Mandei calar a boca, Heloyse! Não me faça perder a cabeça e ter
que te bater! Aí, sim, você vai conhecer o meu pior lado.
Como é possível que uma mulher fale assim com a própria filha? Com
sua única filha? Vendo-a assim, tenho certeza que ela não tem amor por essa
criança. Só consigo enxergar ódio e desprezo nela. Como uma mãe pode ser
tão desprezível a esse ponto?
Ao notar minha presença, ela lança um olhar gélido na minha direção e
me encara por alguns instantes, analisando atenciosamente cada detalhe da
minha roupa, como se estivesse a aprovando. Parece que isso será assunto
para um outro momento. Seus olhos azuis estão em chamas. A mulher não
parece um ser humano comum; é o pior que já conheci em toda a minha vida.
— O que faz parada aí? Por acaso não é uma criada? Quero que pegue
todas essas bonecas e as leve para fora! Hoje mesmo darei um fim em todas.
— Mamãe! Por favor, não!
A mulher puxa a filha por um braço e a menina chora ainda mais. Com
a outra mão, aperta o queixo dela, formando um bico.
— Já disse! Não me faça perder a paciência, garota tola!
— Perdoe-me, mamãe! Eu prometo que vou ser uma boa menina.
— Isso mesmo, querida. Você sabe que eu faço tudo isso para o seu
bem, pensando no bem-estar. — Sorri perversamente, solta a filha e passa
toda esnobe por mim.
Corro ao encontro de Heloyse, abraço-a e lhe dou todo o meu apoio
emocional. A pequenina só chora e diz que não é uma má menina. Que tipos
de coisas aquela mulher diz para essa criança?
— Eu não sou uma má menina. Não sou.
— Claro que não, meu anjo! Você é uma menina maravilhosa e
abençoada por Deus.
— A minha mãe me odeia. Eu faço de tudo para agradar ela, mas nada
nunca está bom.
— Não fique assim, princesa! Sua mãe não sabe o que diz. Não acredite
em nada do que ela fala! Você é uma joia rara e muito especial.
Apesar de eu ter conhecido a Heloyse hoje, posso notar que, além de
muito carente, ela é uma menina insegura. Mas, também, com uma mãe
dessas, quem não seria? Sinto uma ligação forte com ela, como se eu
precisasse ser muito mais do que sua babá. Tenho que ser a sua amiga e
confidente.
Tento acalmar a pequena. Faço-a se sentar na cama e saio para pegar
um copo de água para ela.
Quando chego à cozinha, vejo as empregadas conversando entre si. Ao
me verem, já vão perguntando o que foram todas aquelas gritarias.
— Conte logo, Stacy! Ela bateu na menina?
— Acho que não. Mas Heloyse está bem triste. Digam para mim! Isso
acontece sempre, com frequência?
— Somente quando o senhor Prado não está em casa.
— Vocês nunca pensaram em falar algo para ele?
— Esse assunto não diz respeito a nenhuma de nós. — A voz da Júlia
me faz dar um salto. Quase derrubo o copo com a água no chão. — E você,
Stacy, não deveria se meter nesse assunto. Se ainda quiser continuar
trabalhando nessa casa, saiba que a senhora Olga não tolera empregados
intrometidos.
— Não tenho medo dela. Não sou covarde, nem vou ficar calada diante
dessa situação traumática. Será que não percebem que isso está afetando, e
muito, o psicológico da Heloyse?
As demais empregadas ficam cabisbaixas e não dizem nada que possa
comprometer a si mesmas. Eu não sou como elas. Não sei ver a dor do
próximo e fingir que nada aconteceu.
— Vocês deveriam sentir vergonha.
— E o que sugere que façamos? Que chamemos a polícia para prender
uma mulher rica e poderosa?
— Claro que sim! Isso não pode ficar impune. O senhor Prado sabe que
isso acontece?
— Não é do nosso interesse saber essas coisas.
Fico incrédula com a atitude de cada uma delas. Não são más pessoas,
apenas estão pensando em si próprias, no sustento das suas famílias. Não está
nada fácil conseguir emprego, muito menos um que pague tão bem como
esse.
Respiro fundo e saio de perto delas antes que eu fale algo que faça eu
me arrepender depois. Não é justo que um ser tão inocente como a Heloyse
passe por tudo isso e sua mãe fique impune.
Meu sangue sobe para a cabeça quando vejo a mulher descendo as
escadas, toda elegante, com o pescoço cheio de colares; com joias, brincos e
anéis. Ela se acha a última bolacha do pacote.
Meu pensamento é passar por ela sem dizer nada, mas na hora que sinto
seu perfume forte, não aguento e digo:
— Senhora, será que eu posso lhe falar algo?
A mulher já me encara em forma de ataque. Está escrito em sua face
que ela odeia gente pobre. O seu olhar de superioridade me deixa enjoada.
Como pode alguém ser tão baixo nível como ela? Quer ser melhor que os
outros só por ter dinheiro.
— Acho que a criada não entendeu, Júlia, que não deve dirigir a
palavra a mim, sua patroa, ao menos que eu autorize. Será que você poderia
lhe explicar novamente? Eu ouvir dizer que pessoas de baixo nível, como ela,
da classe social inferior, leva um certo tempo para aprender as coisas.
Se eu já estava com o sangue quente, agora estou muito mais, depois de
ouvir suas palavras. Sem pensar duas vezes, se vou ou não perder meu
emprego, eu digo:
— Acho que a única pessoa inferior aqui é a senhora, não eu. Posso ser
de classe social pobre, mas sou com orgulho, porque não deixo o dinheiro
subir à minha cabeça, nem ser o meu senhorio. Se ter muito dinheiro vai me
fazer ser esnobe e querer ofender as pessoas, como está fazendo, quero
morrer pobre.
— Quem é você para falar assim comigo?
— Stacy Fiore, senhora.
— Fique calada, Stacy! — Júlia pediu temerosa.
— Eu não vou me calar. Não depois do que presenciei hoje.
Ouço um barulho de porta sendo aberta, mas não dou atenção.
Continuo encarando a mulher sem temer.
— O que está acontecendo aqui? — Escuto uma voz rouca e poderosa
atrás de mim, capaz de me desestabilizar por completo.
Por um instante, a dúvida me faz querer olhar para ver quem é, porém
não vou me calar mais. Não mesmo!
— Nada, senhor Prado. A nova babá está inconformada com uma
questão salarial. — Júlia mentiu.
— Mentira! Eu estou inconformada sim, mas não é por causa de
dinheiro. Para mim, esse salário já é bastante proveitoso, mesmo sabendo que
não vou mais recebê-lo, pois, certamente, serei demitida. O que não me
importa. E já que isso vai acontecer, não vou me calar e irei dizer umas
coisinhas para essa senhora que se sente a dona do mundo.
— Cale a boca, infeliz! — ela rosnou.
— Não! A mim, a senhora não compra por dinheiro, como faz com os
demais. Se eu estivesse aqui há mais tempo, já teria lhe denunciado às
autoridades. Heloyse não merece ter uma mãe sem escrúpulos como você,
que é capaz de torturar a filha psicologicamente com palavras duras e de
machucá-la fisicamente. Sabe como ela está agora? Tremendo de medo e
chorando sem consolo algum. Você não é uma mãe, é uma serpente do mal, a
pior entre todas.
— O que aconteceu com a Heloyse? Alguém me explica! — o homem
perguntou.
Júlia está com uma expressão temerosa. Ela não é uma má pessoa,
apenas tem medo de perder seu emprego. E quanto ao homem atrás de mim,
não faço a menor ideia de qual é a sua reação e de qual papel ele tem na
família. Deve ser algum, tio, primo ou parente, já que foi tratado com o
sobrenome Prado.
— Eu explico. Acontece que essa mulher que se diz mãe maltratou uma
pobre criança indefesa, ameaçando queimar todas as suas bonecas, só por que
ela estava brincando como qualquer outra menina da sua idade.
— Já mandei calar a maldita boca! Quem você pensa que é para me
dizer o que é certo ou errado em relação à minha filha?
— Eu sou alguém que sempre teve muito amor da mãe, e sei que a
maneira como você trata a sua filha é errada. E mais errado ainda é todos os
empregados se manterem calados por ameaça sua. Agora, se me der licença,
tenho que acalmar uma criança amedrontada.
— Você está demitida, sua criada de merda! — a mulher gritou.
Não lhe dou ouvidos.
De volta ao quarto, encontro Heloyse um pouco mais calma. Faço-a
beber a água que lhe trouxe e depois lhe dou um abraço. Deito-me com ela na
cama. Sua cabecinha repousa sobre meu ombro. Assim como minha mãe
fazia comigo quando eu era criança, eu faço com a menina: nino ela em meus
braços e faço cafuné em seus cabelos lisos com cheirinho de morango. A
garota é tão linda, tão indefesa e inocente! Essa criança só quer ser amada.
Estou estarrecida com tudo que está acontecendo na vida dessa
pequena. Ouço apenas a respiração pesada do anjinho e sua linda voz.
— Promete que sempre vai ficar comigo?
Provavelmente, já devem estar processando a minha demissão e eu não
poderei mais ficar ao lado dela. Dói em mim ter que lhe dizer isso. Sento-me
na cama, olho-a com ternura. Ela esboça um sorriso encantador e puro.
— Eu sempre vou estar com você pequena, em seu coração...
— Não! Por favor! Diz que você vai estar aqui em casa, sempre
comigo! Promete!
— Meu anjo, eu...
— É sempre assim. Todo mundo que eu amo, abandona-me. Você não
pode ir. Eu não...
— Por favor, papai! Não deixe a Stacy ir embora! Por favor! — pediu quase
choramingando.
Seu olhar encontra o meu e eu sinto uma corrente elétrica percorrer
todo o meu corpo. Há algo nesse homem que me chama muito a atenção.
Além de toda a beleza que ele possui, tem alguma coisa em seu olhar sedutor
que faria qualquer mulher pedir e implorar para ser sua.
Evito esses pensamentos por vários motivos. Além dele ser um homem
casado e pai de família, é milionário, um CEO que, certamente, deve ser tão
arrogante quanto sua esposa.
Eu não podia ter demonstrado nenhuma reação que fosse contrária a
todos os meus preceitos.
Nunca senti o que estou sentindo agora. Não é que eu esteja tendo
pensamentos impuros, pois não sou nenhuma mulher safada ou pervertida.
Jamais imaginei coisas só por ver um homem. Talvez porque eu ainda não
tinha visto algo tão bonito e perfeito... Espera! O que eu pensei? Volto à
minha realidade de empregada, não de possível candidata a um partido como
ele.
Agora está explicado de onde vem a beleza da Heloyse. Ela é idêntica
ao pai, uma cópia fiel feminina. Genética boa, com certeza, é um ponto forte
dessa família.
Ele caminha na minha direção. Agora que está tão próximo, posso notar
como são profundos os azuis dos seus olhos. Eles se parecem com a água dos
oceanos. Não consigo me ver através deles.
Uma sensação estranha me invade novamente, fazendo com que
minhas pernas fiquem bambas. Será que estou ficando doente e fraca?
O senhor Prado é muito mais alto do que eu. Nunca me senti tão
pequena como agora. Se minha cabeça alcançar a altura dos seus ombros,
posso me considerar um pouco menos minúscula. Pesando cinquenta e dois
quilos, não posso ser tão alta.
Engulo em seco ao ter o seu olhar de análise sobre mim. Só que
diferente da sua esposa, ele não me encara com soberba, muito menos com
menosprezo. Descobri o que tem nele que me incomoda: sua autoconfiança.
É algo tão natural que ele, certamente, deve usar isso para conseguir tudo o
que almeja.
— Então você é a moça que não quer que seus tímpanos estourem? —
Isso me deixa confusa.
— Perdão! O que disse?
Ele parece se lembrar de mim de algum lugar, mas até onde sei, nunca
o vi antes, nem mesmo em revistas e jornais. Só pode estar me confundindo
com alguém. Posso até perceber que há um ar de riso em sua face, como se
ele estivesse se lembrando de algo ou, até mesmo, de algum encontro nosso.
Será que tenho uma irmã gêmea andando por aí e não a conheço?
— Não se lembra do que disse para o meu motorista? Você falou do
SUS e de algo em relação aos seus tímpanos por causa do barulho da buzina
do meu carro.
Arregalo os olhos, surpresa, conforme me recordo do episódio que
aconteceu ontem quando terminei minha entrevista. Eu estava prestes a sair
da mansão. Minhas bochechas, provavelmente, estão coradas. Como eu
poderia saber que era ele quem estava dentro daquele carro? Agora sim estou
perdida e sem emprego. Falei coisas que um funcionário comum não diria ao
seu patrão.
— Putz! Era o senhor que estava vindo naquele carro? — Merda!
Quase acabei de falar um palavrão na frente de uma criança. — Mil perdões!
Eu não... deveria ter falado assim. Eu sinto muito! Estou de saída. Só vou
passar em meu quarto... Ex-quarto... Para pegar minhas coisas
— Por que vai pegar suas coisas? Não está demitida, senhorita...
— Stacy Fiore.
— Stacy. — pareceu saborear meu nome. — Eu não a demiti.
— Mas depois de tudo que eu disse para a senhora Olga...
— A palavra final nesta casa não é da Olga, e sim minha. E se minha
filha está pedindo para que eu não a deixe ir embora, você não irá.
— Sério? Então, eu não estou demitida?
— Estará se não tiver mais cuidado com o tipo de linguajar que usa na
frente da Heloyse.
— Sim, senhor. Não se preocupe! Eu posso falar com ela em alemão se
quiser. — falei nervosa, quase gaguejando.
Ele me dá as costas e segura uma mão da filha. Diz para ela se trocar
porque que os dois irão jantar juntos. Antes de sair do quarto, beija-a na testa.
Helô tem um sorriso lindo na face, como sempre deveria ter. Pelo menos o
pai a adora, e isso já é uma dádiva na sua vida.
Apronto ela para o jantar. A pequenina está feliz e me conta sobre o
quanto adora brincar com ele. Só me fala como o senhor Prado faz de tudo
para vê-la feliz.
Depois a levo até a sala de jantar e, em seguida, viro-me para ir ao meu
quarto. Confesso que estou cansada, já que o dia foi bem agitado. Preciso
sempre estar atenta a cada movimento da menina, porque todos os seus
passos devem ser vistos e requerem atenção. Não posso falhar no meu
emprego. Não agora que estou tendo a chance de poder cuidar dela e tornar
seus dias um pouco mais felizes.
Assim que a vi, eu me apaixonei. É tão linda e delicada! Se algum dia
eu tiver uma filhinha, gostaria que a mesma fosse como Heloyse. Em meus
sonhos, à noite, pode ser ela. Será o meu segredo.
Apesar de jovem, quero seguir os mesmos passos da minha mãe:
conhecer o amor da minha vida na juventude e me casar. Também quero ter
muitos filhos. Mamãe só teve a mim por causa das complicações que teve no
meu parto. Por esse motivo, ela e papai não quiseram passar mais por isso.
Quase a perdemos no meu nascimento.
Meu maior temor agora vai ser encontrar a senhora Olga. A mesma
parece não ter gostado nada da maneira como falei como ela. Mas o que eu
podia ter feito? Só lhe disse a verdade. Ela não está agindo corretamente
como uma mãe deveria. Está fora de qualquer padrão.
Adormeço com esses pensamentos e até tenho pesadelos com essa
senhora, com ela parada na porta do meu quarto, observando-me com os
olhos em fúria. Durante a madrugada, isso me faz perder o sono. Desse
modo, espero dar o horário de eu me levantar.
Acordada, visto meu uniforme, coloco meus fones de ouvido e vou para
a porta do quarto de Heloyse. Quando forem sete horas, irei bater na porta e
prepará-la para aula.
A música sempre mexe comigo, fazendo meu mundo imaginário
ganhar vida quando estou pensando, sozinha, em tudo que já vivi e ainda
posso viver.
Cantarolo baixinho uma música da Mariah Carey. Tudo que fala de
amor, para mim, já é motivo para celebrar, ainda mais com a minha voz.
Balanço meus dedos em gestos expressivos, deixando-me levar pela
canção. Mexo a cabeça para o lado, envolvendo-me intensamente. Músicas
assim sempre me fazem ir até o passado e reviver minha infância ao lado do
homem que mais amo nesta vida: o meu pai.
Acho que já me deixei levar demais pela melodia.
Logo sinto a presença de alguém atrás de mim. Viro-me rapidamente
para ver quem é. Assustada, dou um passo para e trás bato com minhas costas
sobre a porta. A mesma se abre, fazendo com que eu caia de bumbum no
chão. Por sorte, não derrubei meu celular. Isso sim seria lamentável. Os fones
saíram dos meus ouvidos. Eu os pego e os guardo dentro do bolso da calça.
Olho para trás e vejo a menina ainda dormindo em sua cama. À minha
frente, avisto ele com uma mão estendida a mim para me ajudar a sair do
chão. Eu seguro ela firmemente e ele me puxa sem precisar usar muita força.
Eu tento dizer alguma coisa, mas ele coloca um dedo sobre sua boca,
pedindo-me para fazer silêncio. Sua mão é tão grande, quente e macia! Tudo
isso ao mesmo tempo.
Eu saio do quarto sem fazer barulho e ele vai em direção à filha para
lhe dar um beijo de bom dia sem acordá-la. Recomponho-me e arrumo meu
cabelo novamente só para ter certeza de que não há um fio sequer fora do
lugar.
— Senhor, perdoe-me! Eu juro que não o vi. — falei assim que ele
fechou a porta do quarto e ficou de frente para mim.
— Sua voz é muito doce. — Fita-me de uma maneira intensa. Parece
maravilhado? Ou eu estou confusa demais? — Digo... Não é aceitável que
fique usando fones de ouvido dentro dessa casa em seu horário de trabalho.
Se quiser ouvir música, ouça na sua folga.
— Sim, senhor. Mais uma vez, peço desculpa. É que eu pensei que
como ainda não era meu horário de trabalho, eu poderia ouvir.
— Pense menos da próxima vez! — disse duramente. — E antes de
tudo, se você se machucou, procure a Júlia. Ela vai lhe providenciar algo se
precisar.
— Não me machuquei. Sou dura na queda. — Rio.
Eu sempre dizia isso ao meu pai quando me machucava. Mas esse
homem não é o meu pai, nem sorriu como ele.
— Perdão! Já está na minha hora. Com licença. — Vou em direção à
porta.
O senhor ainda está em frente a ela. Penso que ele vai sair do meu
caminho, mas não sai, apenas permanece parado no lugar. Assim, bato com
meu corpo contra o seu. Um verdadeiro baque. Mais uma vez, cometi uma
gafe.
Respiro fundo. Antes que eu abra a boca para pedir perdão, ele se
retira, deixando-me um pouco aérea.
A minha primeira semana foi uma fase de teste em que passei com
êxito. Foi uma experiência muito diferente da qual imaginei. Pensei
que famílias ricas não passavam por tantos problemas, mas pelo que
vi em relação à Heloyse e sua mãe, tenho certeza que pessoas de classes
sociais altas têm tantos conflitos como nós, de classe média.
Meus primeiros dias foram bastante agitados. Além disso, tive muita
sorte de não ter visto mais a senhora Olga. Eu me perguntava se ela,
realmente, estava na mansão. Então a vi, no meu terceiro dia, tomando banho
de sol no jardim, exibindo um biquíni minúsculo que caiu como uma luva nas
suas curvas majestosas. Aí entendi porque o senhor Prado não dar um fim ao
seu casamento. Apesar dos dois não manterem uma boa relação, creio que se
dão muito bem na cama.
No meu quinto dia, ontem, vi ele entrar no quarto da senhora Olga com
todos os botões da sua impecável camisa branca fechados. E nesta manhã,
quando saiu de lá, estava com quase todos abertos. Não vivo espionando a
vida dos meus patrões, apenas me atento a cada movimento ao meu redor.
Sempre fui muito ativa e observadora; às vezes até demais.
Hoje, sábado à tarde, como já posso ir para casa, Valter está me
levando. Ele é o motorista que eu xinguei. Que vergonha! Aproveito que
estamos no mesmo carro, sozinhos, para lhe pedir desculpa. Ele é muito
gentil ao me perdoar. Quando falo que aquele não era um bom dia para mim,
recebo sua compreensão. Morro de vergonha só de pensar que o meu chefe
estava vindo no banco de trás e eu lhe disse várias coisas sem sentido. Não
costumo agir assim com ninguém.
Já em casa, provando do jantar maravilhoso que minha mãe fez, eu falo
sobre minha primeira semana na mansão dos Prado. Claro que não entrei em
detalhes sobre a patroa do mal e cruel que tenho, apenas disse que ela é uma
mulher fechada.
— E a senhora? Como passou a semana sem mim?
— Confesso que não foi muito fácil, já que nunca fiquei muito tempo
longe da minha menininha preciosa. — Sorri. — E a criança? Como é?
— Muito bonita. Se parece bastante com o pai. Eles são descendentes
de alemães e a menina tem uma tia que vive lá. Mas parece que ela
aproveitou as férias da Faculdade para ir visitar os pais na Alemanha.
— Espero que ela também seja gentil. Não iria suportar se soubesse que
aquela gente é ruim com você.
Minha cabeça dói muito. Parece que levei uma pancada forte. Abro os
olhos fazendo uma careta e gemo pela dor que sinto. Recordo-me em um
piscar de olhos de tudo o que aconteceu e dou um salto da cama, pondo-me
de pé, assustada por estar em um local tão luxuoso e confortável. Como vim
parar aqui? Será que o homem que tentou me abusar me trouxe para cá? Não!
Claro que não. Eu me lembro do meu anjo salvador, o cara que apareceu na
praia e eu abracei; o que, também, é meu chefe e acabou de sair do que eu
suponho que seja o banheiro. Ele vem na minha direção.
— Você acordou. Que bom! Eu já ia chamar o médico novamente.
— Chamou um médico pra mim?
— Você desmaiou. Fiquei preocupado.
Suas palavras me deixam sem reação. Ele se preocupa comigo?
— Você matou aquele homem?
— Não. — negou enfurecido. — Mas eu deveria ter feito isso pra ele
aprender que não deve fazer aquilo com mulher alguma. Diga-me! Ele...? —
Não completa a frase. Parece temeroso.
— Não. Eu consegui escapar. Ainda não sei como, mas graças ao
senhor estou bem. Obrigada!
— Henrique.
— O que é que tem?
— Meu nome é esse. Quero que me chame assim de agora em diante.
— Eu não posso. O senhor é o meu patrão.
— Exatamente por isso pode me chamar assim. Não estamos na
mansão.
— Não posso. Que horas são? Meu Deus! A minha mãe deve estar
aflita procurando por mim.
— O relógio está marcando onze e meia.
— Eu preciso voltar. Foi o nosso combinado.
— Qual combinado?
— É uma longa história. Tenho que ir para onde eu estava antes que o
relógio marque meia-noite.
— Pensei que você iria passar a noite aqui. Não me parece bem
emocionalmente
— Admito que fiquei muito assustada com tudo o que aconteceu, mas
já estou bem.
— O que fazia tão afastada da multidão?
— Eu fui arrastada para lá. Só me afastei pouca coisa para responder
uma mensagem. Aí, quando percebi, já está sendo levada contra a minha
vontade para um trailer.
— Não faça mais isso! Nunca mais!
— E o senhor? O que fazia lá? — Eu o deixo sem respostas por alguns
instantes.
Pensando bem, é muita coincidência que ele esteja no mesmo lugar que
eu, principalmente em uma praia que não é particular. Pensei que ele só
frequentasse lugares assim.
— Reuniões de negócios na cidade. É isso. Eu vim com um amigo que
me convenceu a parar nesse fim de mundo. Ainda bem que eu estava por
perto, porque assim pude te ajudar
— Eu agradeço muito pelo que você fez por mim.
Henrique se aproxima mais, ficando há poucos centímetros afastado de
mim. Sua presença não me incomoda, nem me causa pânico. Eu sei que ele é
o meu chefe, mas nesta noite foi como um anjo para mim. Sempre serei grata
por isso.
Sua mão desliza pela minha face e eu fecho os olhos por rápidos
segundos. Suas íris azuis não têm malícia alguma. Ele parece preocupado
comigo.
— Quero que vá a um psicólogo na segunda.
— Não é necessário.
— Faço questão. E não se preocupe com despesas!
— De jeito nenhum...
— Por favor! Não faço isso porque quero tê-la em meus braços, na
minha cama, e sim por você ser uma ótima babá para a Heloyse. Como faz
muito bem a ela, esse é o mínimo que posso fazer.
Fico sem palavras diante do CEO. Henrique está se mostrando um belo
cavalheiro compreensivo e gentil. Assim será fácil eu me render aos seus
encantos. No entanto, não posso. É errado.
Em um impulso, dou um abraço nele, agradecendo-o por tudo o que fez
por mim. Para a minha surpresa, ele acaba retribuindo. O calor do seu corpo
sobre meu me causa uma sensação inexplicável.
— Perdoe-me! Eu não... — comecei a falr.
— Se quiser ir, eu posso te levar, mas iria adorar que você ficasse aqui
comigo. Prometo que não vou te obrigar a nada.
— Não me peça para ficar! Sabemos muito bem que isso não vai dar
certo. Eu vou ser sincera com o senhor. Não pretendo, nem quero me
envolver com o meu patrão. Adoro muito a sua filha, e ela é muito especial
para mim, porém temo não poder ficar mais trabalhado na sua casa se você
continuar insistindo em me levar para cama. — Henrique respira fundo.
Parece pensar em algo. — O que aconteceu naquela noite, no meu quarto,
não pode se repetir. Eu não quero, senhor Prado. Não me sinto apaixonada
pelo senhor, nem posso me envolver. Você sabe que isso não terminaria bem.
Eu não quero ser magoada, nem sofrer decepções amorosas. Sei como essa
história vai acabar, então não quero isso para mim.
— Tudo bem. Eu vou te deixar em paz... nesta noite. — Leva-me de
volta na sua BMW.
O CEO vai todo o percurso em silêncio, parecendo pensativo e sério.
Torço para que ele aceite minha decisão e não se imponha mais. Não quero
ter que deixar a Heloyse por causa das suas cantadas.
Não posso deixar de notar o quanto ele fica ainda mais bonito quando
dirige. Sem falar em todo o conforto que seu carro tem: ar-condicionado na
medida certa, bancos confortáveis e um perfume diferente que é muito
gostoso. Tudo que pertence a esse homem tem um cheiro inigualável.
Paramos próximos à praia. Ele me leva até um local seguro e nós nos
despedimos.
Vejo Breno no quiosque. Seu sorriso no rosto é de satisfação. Pelo que
parece, seu encontro foi bom.
No caminho de volta, paramos junto à nossa família. Encontramos a
mamãe e os pais da Esteice. Eles estão tão felizes que nem notam a nossa
presença. O casal de pombinhos chega minutos depois e todos passarmos o
resto da noite juntos.
Eu tenho fingir que nada aconteceu, mas não consigo tirar Henrique
Prado da minha cabeça. Ele, realmente, foi meu anjo protetor nesta noite.
Nunca irei me esquecer de como cuidou de mim. Sua atenção e coragem são
dignas de uma medalha.
E sbravejo mais uma vez diante do maldito que tentou abusar da minha
Stacy. Como é possível que um homem seja capaz de cometer tanta
barbaridade contra uma mulher indefesa? Se eu não estivesse na praia
seguindo todos os passos dela, minha menina inocente teria sido abusada
sexualmente. Em um segundo que olhei para o lado e não a vi mais, foi um
completo desespero para mim. Comecei a procurá-la desesperadamente.
Então ela veio correndo assustada e temerosa na minha direção para me
abraçar com urgência. Aquele foi o melhor abraço que eu recebi em toda a
minha vida. Quando a senti em meus braços, fui invadido por uma sensação
acolhedora de paz e tranquilidade. Se não fosse pelo desgraçado que ousou
querer tocar no que é meu, teria sido melhor ainda.
Não costumo fazer justiça com as próprias mãos, mas nesse caso tenho
o prazer de esmurrar ainda mais o rosto quebrado do infeliz que está
amarrado, sentado em uma cadeira velha de madeira. Tenho muitos homens
de confiança que acabariam com sua vida em um estalar de dedos meus,
porém, como eu disse, não sou nenhum justiceiro, embora eu adore punir
algumas pessoas quando elas estão erradas.
— Por favor, senhor! Não me machuque mais! Eu não queria fazer mal
à garota. Foi ela quem me seduziu.
Mais uma vez dou um murro de punho fechado na face do maldito. Ele
grita de dor como uma mulherzinha assustada. O engraçado é que no
momento em que pretendem abusar de pobres garotas indefesas, eles não
pensam no quanto é doloroso para elas. Todos não passam de molengas que
no primeiro murro já choram pela mamãe. A vontade que sinto é de acabar
com sua vida dele, contudo tenho amigos juízes que irão cuidar do caso desse
desgraçado. Ele será julgado e condenado. Para isso, nem preciso expor a
Stacy, um anjo em forma de menina que veio para abalar todo o meu
psicológico. O que ela faz comigo, mulher nenhum fez.
Eu me seduzi pela sua inocência. Ela me faz pensar naquele seu sorriso
ingênuo e na sua doce voz de anjo que agita todo o meu ser. O pior de tudo é
que estou fodido. A garota tem razão: não posso, nem tenho o direito de
querer levá-la para a cama. Temo que possa cumprir com sua ameaça. Não
posso permitir que ela deixe seu emprego, nem que saia da minha vida, muito
menos da vida da minha filha, que já tem muito carinho pela mesma. Heloyse
não se apega fácil às pessoas, portanto não esperei que ela fosse gostar tanto
assim da nova babá. Vejo que minha filha está melhor depois que a Stacy
entrou em nossa casa. Ela faz com que todos ao seu redor sinta uma paz
inexplicável, além de ser muito carinhosa e gentil com minha princesinha.
Ganhou a minha pequena e, de quebra, o pai junto também.
Quem diria que eu, Henrique Prado, CEO da empresa de energia
elétrica mais renomada do país, estaria pensando em uma menina de
dezenove anos que é linda como um anjo? Nem nos meus melhores dias de
conquistador barato me vi tão envolvido assim por alguém como estou por
essa morena de olhos castanhos. Ela tem o dom de me enlouquecer. Quanto
mais inocente, mais se torna envolvente para mim. Se tem algo que eu adoro
é um bom desafio. Terei o prazer de levar aquela mulher para a minha cama.
Sei que estou errado, entretanto não consigo controlar o desejo que sinto pela
Stacy. Algo nela me leva à loucura.
Deixo uns homens tomando de conta do nosso convidado. Amanhã, nas
primeiras horas do dia, ele será levado para a delegacia, onde vai responder
umas perguntas ao meu amigo delegado que vai encaminhá-lo para um juiz
que me deve favores. Ter muito poder faz com que todos ao seu redor lhe
devam coisas, e eu tenho muitos amigos que me devem bem mais que isso.
Não sou nenhum mafioso, porém tenho meus negócios e alianças confiáveis.
Não nego que estou em Santos por causa de uma reunião que tive nesta
manhã. E graças à minha Santa filhinha, soube que sua babá estaria nessa
praia, a qual não é o tipo de lugar que eu frequentaria por ser um homem de
posses. Tenho os meus lugares preferidos, mas aqui, nesta noite, encontrei
diversão ao observar meu lindo anjo sorrindo para cada novidade que via
diante dos seus olhos.
Por ela ter crescido em uma fazenda, creio que nunca tenha ido a
nenhuma agitação como a de hoje. Descobri algumas coisas sobre sua vida.
Seu pai morreu há alguns anos e, desde então, ela vive com sua mãe. As duas
resolveram se mudar para a cidade grande há pouco tempo. Por ser uma
menina do campo, do interior, Stacy — que tem o nome com a escrita e a
pronúncia em inglês — é uma menina muito comportada, modesta, simples e
inocente. Talvez esse seja o motivo pelo qual ela não se deslumbra pelas
coisas que posso lhe proporcionar. Isso me intriga: uma mulher que não se
fascina pelo dinheiro. Está aí algo que eu nunca vi antes.
A vida longe de casa é a melhor coisa que poderia ter me acontecido.
Só de não estar mais na presença daqueles seres que tanto odeio e desprezo,
já me sinto uma nova mulher. As Bahamas é o sonho de toda pessoa que
busca paz. Algo que nunca tive em meu casamento.
Meu marido nunca foi presente e sempre se preocupava somente com
os assuntos do trabalho. Isso me irritava profundamente. Eu era jovem e
muito disputada por todos os garotos da Faculdade, mas fui me apaixonar
logo pelo cara mais safado de todo o campus. Pensei que ele mudaria, porém
nunca confiei nele como homem. Sempre o via olhando para as outras
mulheres como se quisesse devorá-las. Apesar desse safado imbecil ter jurado
que nunca me traiu, não acredito em nada que aquele desgraçado me disse.
Após o nascimento da minha filha, Henrique ficou ainda mais afastado
de mim. Parecia amar somente ela. Depois que aquela criança indesejada
nasceu, ele mudou e passou a viver somente para a menina. E isso sempre me
deixou irritada. Como pode? Aquele infeliz dava importância a tudo, menos a
mim, que sou sua esposa.
Mesmo que eu esteja longe, Júlia é os meus olhos e ouvidos naquela
mansão. Por enquanto quero manter distância deles, mas em algum dia posso
querer voltar e quero garantir meu lugar como senhora naquela casa. Por isso
contratei aquela babá sem sal para cuidar da minha irritante filha mimada. O
pai sempre faz todos os gostos daquela menina.
Não gostei de ter sido desfiada pela babá, mas antes uma mulher sem
atrativos nenhum como ela do que uma bonita e gostosa. Henrique jamais irá
vê-la com os olhos de um homem, já que o idiota sempre preferiu mulheres
mais maduras e com corpos mais sensuais. Aquela magricela nem seios tem
ainda. Fiz uma ótima escolha. Tenho certeza disso.
Ignoro as ligações da minha mãe, pois não lhe devo satisfação desde o
dia que saí da sua casa. Ela que fique com sua preocupações sem sentido!
Esse ditado de que mãe tem que se preocupar, é errado. Mulheres têm que ser
livres. Por mim, eu nunca teria tido aquela menina. Ela estragou o meu corpo
e, ainda, me fez gastar uma quantia altíssima para que eu pudesse pagar o
médico para dizer que eu tive depressão pós-parto. Assim, consegui justificar
meu desprezo por aquela criança feia que só sabia chorar. É uma pena que
essa desculpa não tenha durado para sempre. Uma hora tive que fingir estar
curada.
Tive que ser forte para suportar aquela moleca, porém agora estou livre
de tudo aquilo. Quero curtir a minha liberdade e sair com homens de sungas e
corpos malhados. Nesta semana realizei todas as minhas fantasias. Henrique
era ótimo na cama e nunca deixou a desejar, mas nos últimos meses estava
frio. Ele que não pense que pode deixar de me amar! Eu serei a única mulher
em seu coração, e para que isso permaneça, eu sempre irei eliminar quem
quer que ouse passar em meu caminho. Ou não me chamo Olga Prado. Aliás,
esse é um nome ridículo que meus pais escolheram. Por isso não dou
satisfação àqueles velhos. A minha única felicidade será quando eu receber
tudo o que é meu por direito. Também não abro mão da minha fortuna como
esposa do Henrique. Tudo seria melhor se ele morresse, porque assim eu
seria dona de tudo, até mesmo do dinheiro da pirralha por ser de menor.
Estou vendo uma vantagem agora e minha mente começa a ter ideias
vantajosas.
A dmito que ontem à noite, quando saí novamente com minha mãe
para dar uma volta na praia, eu esperava vê-lo entre no meio de
algumas pessoas que estavam por ali. Meus olhos buscavam a todo o
instante pela sua presença poderosa, mas eu não o encontrei. Eu deveria ficar
feliz e aliviada por ele ter me deixando em paz, contudo não estou. Meu
coração acelera toda vez que meus pensamentos são tomados por sua
imagem. O beijo que ele me deu foi ótimo, maravilhoso. O meu primeiro
beijo. Não me esquecerei disso facilmente.
Sobre o ocorrido que passei com aquele homem desconhecido, decidi
não contar nada para a mamãe. Já que tudo terminou bem mesmo, não quero
deixá-la preocupada. A partir de agora terei mais cuidado ao pensar em me
afastar. Se eu lhe falasse, teria que ter contado sobre o meu chefe, e não quero
que ela saiba dele para não ficar preocupada pensando que eu vou cair nas
suas garras e terminar como sua amiga do passado: grávida e abandonada.
Falei apenas sobre o Breno e a mulher madura com quem ele saiu. Minha
mãe já ficou preocupadíssima por eu ter ficado sozinha, imagina se soubesse
de todo o resto. Prometi não fazer mais isso.
A família de Esteice foi embora hoje pela tarde, pois decidiram não
passar o domingo nesse lugar maravilhoso. Pegamos o número de telefone
uma da outra para mantermos sempre o contato. Ela está trabalhando, mas
disse que se surgir qualquer vaga na mansão, posso lhe comunicar. Serei a
primeira a informar caso isso aconteça.
Nesta noite de sábado não saímos para nenhum evento. Jantamos e
fomos jogar damas até altas horas. Já amanhã, no domingo, só ficaremos aqui
até o meio-dia, já que preciso voltar ainda de tarde à mansão para não haver
atrasos na segunda. Estou com saudade da minha pequenina menina travessa
toda cheia de agitação.
Não pensei que meu chefe estava me levando a sério quando disse que
eu iria a um psicólogo na segunda-feira. Valter falou que precisaríamos ir a
um lugar (a minha consulta). Fiquei sem entender, mas depois ele me
entregou todo o jogo. Acho que o homem é de muita confiança do senhor
Prado. Não me parece saber sobre a tentativa de estupro, porém me informou
que o chefe insistiu para que eu fosse à consulta. Para não prejudicar o
motorista, acabei aceitando depois de preparar Heloyse para ir à escola e
contá-la somente as partes divertidas do meu final de semana. Claro que não
falei do meu encontro com o seu pai. Como ela reagiria se eu falasse tudo
sobre meu envolvimento com o Henrique? Não iria gostar nenhum pouco
disso. Tenho certeza. Qualquer garota da sua idade não gostaria de saber que
seu pai tem outra mulher, mesmo que sua mãe seja uma cobra. Criança tem o
dom de ver sempre o lado bom das coisas.
Minha conversa com a psicóloga é um alento para mim. Eu não tive
pesadelos com o que me aconteceu e, com certeza, não irei ficar com tantos
traumas.
Aprendo umas técnicas do que fazer quando esse assunto vier à minha
mente. Por exemplo, ouvir uma canção, assistir a um filme que me agrade ou
conversar com alguém em que eu confie plenamente.
Agradeço à Evy pela consulta e ela marca a próxima para daqui a duas
semanas. Não esperava que fosse ter uma próxima. Preciso agradecer ao
Henrique por isso. Talvez eu tivesse ficado mais temerosa se não viesse a
essa sessão de terapia.
Alguns instantes depois estou de volta à mansão. Preparo a refeição da
Helô e levo para o seu quarto, como ela me pediu. A pequena me conta sobre
seu dia na escola e em seguida vamos para a sua aula de pintura.
A professora Manuela foi ao banheiro. Enquanto isso, estou rindo do
desenho de pinturas geométricas que eu tentei fazer, porque meu quadrado
parece mais um retângulo, e meu triângulo, nem sei o que está parecendo.
— Você não tem talento para isso. — a sapeca disse rindo de mim.
Estou preste a responder, quando ouço uma voz enjoativa vindo em
nossa direção.
— Heloyse!
Uma mulher loira de olhos incrivelmente azuis vem em nossa direção.
Ela é muito bonita e seu corpo parece ser esculpido de tão perfeito que é. Está
usando um vestido branco colado em seu corpo. Seus lábios carnudos
parecem sangue. A moça gosta de exagerar nas cores, assim como nas joias.
Seu colar de pérolas é algo muito extravagante para se usar em casa, em
plena luz do dia.
Sou completamente ignorada pela mulher que aparenta ter uns vinte e
cinco anos ou mais. Talvez a maquiagem em excesso não mostre o quanto ela
pode ser mais velha.
— Prima Mirella! Como vai? — Heloyse a cumprimentou sem
nenhuma empolgação.
Ao ser abraçada pela parente, faz uma expressão infeliz.
— Eu vou indo muito bem, menininha linda. — Aperta as bochechas
de Helô, que não gosta. — Você está bem maior do que estava na última vez
em que nos vimos.
— É natural que eu cresça. Estou em fase de crescimento.
Contenho-me para não rir da sua resposta.
— Estou muito feliz por estar aqui com você. E o seu pai?
Por que eu senti que ela gostou tanto de falar sobre o senhor Prado?
— Prima, eu adorei reencontrar você, mas estou na minha aula de
pintura. Se puder, nos dê licença.
— Claro que posso, minha lindinha. Vou descansar um pouco, pois
estou exausta pela viagem. Nós nos vemos no jantar.
Ela parece ser bem falsa e metida. Nem sequer olhou para mim. Eu
parecia ser invisível diante dela. Quanta prepotência! Não pensei que
existisse alguém ainda mais arrogante do que Olga. Pensando pelo lado
positivo, só terei que suportar uma por vez. Imagine se as duas estivessem
aqui! Seria o terror da mansão.
— Nossa! Ela é tão... — comentei,
— Chata e irritante. Ela não gosta de mim. É só mais uma que é
apaixonada pelo meu pai e vive querendo a atenção dele.
— Como você sabe disso?
— Você não percebeu como ela ficou feliz ao falar do meu papai?
Espero que ele não fique com ela. Mesmo que não esteja com minha mãe,
não quero vê-lo com ela.
Abaixo-me, ficando mais próxima da sua altura. Faço carinho em seu
rostinho de anjo. Como ela sabe da separação dos pais?
— Amor, como...?
— Eu não sou boba, Stacy. Posso ser criança, mas sei que a mamãe
abandonou a gente. Ela não gosta de estar aqui. Nunca gostou. Também não
me ama.
— Mas você tem o seu pai, que é louco que é por você e faz todos os
seus gostos. Não deve ficar triste.
— Eu não estou. Ela é a minha mãe, só que eu tenho o meu pai, a
minha tia e você. — Dá um beijo na minha bochecha.
Eu abraço a pequenina. Ela não parece abalada pela partida da Olga.
Acho que não tem como sentir falta do que nunca se teve. E é isso que
acontece com a Helô, que é alguém que nunca recebeu o amor da mãe. É
melhor assim. Uma infelicidade a menos na sua vida. A pequena tem razão:
tem todos nós para amá-la. Sempre vamos estar aqui ao seu lado para o que
ela precisar.
— Guerra de cócegas! — gritei animada.
Ela começa a correr e eu vou atrás dela até conseguir capturá-la como
uma boa combatente que sou. Aí a guerra começa. Adoro ouvir sua risadinha
de criança feliz. Como não sou injusta, permito-lhe que também faça cócegas
em mim. Sua gargalhada animada é música para os meus ouvidos.
Dó-dó-mi-só.
Os acordes maiores do piano fazem um som maravilhoso para que
Heloyse consiga aperfeiçoar sua primeira harmonia. A garota já está quase
aprendendo a tocar uma canção chamada trem-bala. Ela toca tão divinamente
que parece que nasceu para fazer isso. É tão criança e já decorou todas as
notas. Deixo-me levar pelo belo toque harmonioso que me faz reviver toda a
minha vida.
— Pode cantar para a gente, Stacy?
— É melhor não.
— Você canta muito bem. Mostre para a minha professora! Assim vou
conseguir tocar melhor. Por favorzinho! — Faz seu biquinho do qual sou
incapaz de dizer “não”.
Começo a cantar aquela letra maravilhosa que possui uma mensagem
muito importante sobre a vida.
— Não é sobre ter todas as pessoas do mundo para si, é sobre saber que
em algum lugar alguém zela por ti. É sobre cantar e poder escutar mais do
que a própria voz. É sobre dançar na chuva de vida que cai sobre nós. É saber
se sentir infinito num universo tão vasto e bonito. É saber sonhar. E então
fazer valer a pena cada verso daquele poema sobre acreditar...
Envolvo-me tanto com a letra da canção que algumas lágrimas
escorrem pelo meu rosto. Dentro do meu coração sempre irei me lembrar do
pai maravilhoso que tive, meu alicerce e protetor. Como sinto sua falta!
Nunca irei me esquecer da sua gentileza comigo, dos seus cuidados e de todo
amor que ele me deu.
— Stacy, está chorando? — a professora perguntou.
— Desculpe! É que eu me lembrei do meu pai. Perdoe-me se
atrapalhei!
— Já terminamos por hoje. Agora devo me retirar. Até a próxima aula,
Heloyse. — Retira-se.
Estou próxima ao piano. Enxugo as lágrimas e respiro profundamente.
Não é fácil perder alguém que se ama.
— O seu pai deve ter sido alguém muito legal.
— O melhor homem desse mundo. Um pai amoroso e atencioso.
— Assim como o meu papai. — Sorri. — Papai! — gritou.
Ela pula nos braços do pai, que está parado atrás de mim, não muito
distante. Será que já estava aqui há muito tempo? Encaro-o de maneira
natural, não deixando transparecer nenhum sentimento meu. Toda vez que o
vejo, meu coração acelera e minhas mãos começam a soar. Sinto até um
friozinho na barriga, como se tivesse as famosas borboletas no meu
estômago.
Henrique dá um beijo na filha, que está toda derretida em seus braços
brincando com os botões do seu paletó. Ele é forte, por isso consegue segurá-
la no colo por muito tempo.
— Você está tocando perfeitamente, princesa.
Eu acho super fofo quando ele a chama de princesa. Há uma amor
bastante grande entre os dois.
— Você me ouviu tocar, papai?
— Toda a canção. Estou orgulhoso de você.
Se ele estava aí parado ouvindo, deve ter me escutado cantar também.
Será que eu desafinei? Não faço aulas de canto, nem nunca fiz. Algumas
pessoas dizem que eu canto bem e que, como o meu talento, poderia ser uma
cantora. Quando criança, eu tinha esse sonho. Imaginava-me nos palcos
agitando multidões, tipo a Selena Gomez, mas esse sonho ficou para trás.
Agora penso em trabalhar e fazer Faculdade, nada mais.
— O senhor ouviu a Stacy cantar? Ela não canta muito bem? — A
pequenina parece ter um certo interesse em ouvir a resposta do seu pai.
— Ela canta muito bem. — Seu olhar se volta para mim intensamente.
— Como um anjo. — Está encantado comigo de um jeito que eu nunca tinha
visto antes.
— Obrigada! — agradeci sem jeito desviando o meu olhar do seu.
— Papai, o que a prima Mirella faz aqui? — Heloyse perguntou
insatisfeita, já no chão, de braços cruzados e o fitando. — Eu não gosto dela.
— Não diga mais isso, querida! A Mirella é a nossa prima e veio passar
alguns dias em nossa casa. Temos que ser gentis ela, que é da família. Tia
Janete sempre nos trata muito bem quando estamos em sua casa.
Helô está pensativa e hesitante, mas acaba concordando com o pai.
— Se o senhor está me pedindo para ser uma boa menina, eu serei.
Prometo.
Henrique beija a testa da filha e combina de almoçar com ela e Mirella.
Retira-se em seguida.
Heloyse não está muito feliz, mas sei que ela não irá desobedecer a um
pedido direto do pai.
— O papai amou ouvir você cantar. Eu vi belo jeito bobo que ele estava
te olhando.
— Quer dizer que você já tinha visto ele chegar?
— Sim. Eu perguntei se ele gostou apenas para você ouvir dele mesmo
— E por que você fez isso, sua danadinha?
Escovo seus cabelos pacientemente para prepará-la para o almoço.
Estou escolhendo um laço de cabelo que vai combinar com o seu vestido.
— Somente para você ouvir. — A pequena dá de ombros, mas seu
olhar travesso me fazia crer que ela está querendo descobrir algo.
— Fale-me a verdade! — exigi.
— Eu gostaria que você fosse a minha mãe e que ficasse com o meu
papai.
Fico completamente sem reação diante da sua confissão e busco as
melhores palavras para tentar ser gentil com ela, fazê-la compreender a
situação.
Seguro suas mãos com carinho e lhe digo sem parecer séria:
— Meu amor, eu não posso ser sua mamãe.
— Por quê? Eu queria que você se casasse com o meu pai. Assim, eu te
teria para sempre.
— Mas você sempre me terá. — eu afirmei e ela me olha meio
duvidosa. — Mas eu não poderei me casar com o seu pai, porque para um
casal fazer isso, deve se amar. E esse não é o nosso caso.
— Mas...
— Eu vou te explicar. Você já tem uma mamãe, e ninguém nunca pode
substituir algo assim. Eu amo muito você! Acredite! Saiba que sempre serei
sua amiga e que posso me tornar sua melhor amiga se quiser. Prometo que
minha amizade será para sempre.
— De verdade?
— Vamos fazer um juramento no dedinho?
— Sim.
— Amigas para sempre!
— Para sempre amigas!
Dou um abraço apertado nela e ela ri com aquela gargalhada
maravilhosa que tem.
Desço com Heloyse para o almoço com Henrique e a prima deles.
Mirella já está na mesa com uma mão sobre a dele. Ele, por sua vez, parece
incomodado com sua aproximação. Megan também está presente.
Eu ajudo Helô a se sentar ao lado do pai e fico de prontidão atrás dela,
porque se ela precisar de mim, estarei aqui. Sempre é assim em todas as
refeições.
O almoço é servido e as duas primas conversam sobre a Alemanha e o
último natal delas. Aparentemente, Megan se dá bem com a Mirella. Se não
for isso, só está sendo gentil.
— Neste ano todos iremos esperar novamente por vocês. A minha mãe
fará um jantar de ano novo. — Mirella comentou.
— Sim. Porque o Natal sempre é na casa dos meus pais. — Megan
falou. — Já é tradição. Não é mesmo, Henrique?
— Sim. — O senhor Prado parece pensativo.
— Henrique, neste ano vou te levar para esquiar. Você vai adorar,
primo, sentir a adrenalina. Lembra que fazíamos isso quando mais jovens?
Bons tempos.
Mirella adora pegar, o tempo todo, no próximo. Parece uma maníaca.
Isso me deixa irritada. Em um momento, ela percebe que eu estou encarando
a cena. Acho que não gostou muito.
Eu desvio o olhar e sua voz irritante pergunta:
— Você tem algum problema?
Todos olham para mim sem entender. Eu também não compreendi
nada.
— Eu falei com você. Por acaso é muda?
— Perdão! Não sei o que quer dizer.
— Você não para de olhar para mim. Quer me dizer algo?
— Não estou olhando para a senhorita.
— Como não?
— Você está exagerando Mirella. Stacy não estava olhando para você,
e sim para os próprios dedos. Eu mesmo a vi distraída com os seus
pensamentos várias vezes. — Megan me defendeu. Eu sorrio para ela, que
pisca para mim. — Você só pode estar cansada da viagem, prima.
— Eu não sou louca. Ela estava me olhando a todo instante. Henrique!
Primo! Será que você pode pedir para ela se retirar? Não gostei da sua
presença.
— Stacy fica! — Helô falou séria batendo as duas mãos na mesa. — Se
alguém deve sair aqui, é você.
— Como?
— Ouviu bem. Eu não admito que fale assim com a minha babá. Ela é
minha amiga e você foi deselegante.
— Henrique!
— Você está cansada, prima. Talvez seja melhor descansar um pouco
mais. — ele disse.
Mirella não está satisfeita com a resposta dos primos, mas consegue
disfarçar bem a sua irritação. Eu sei que por dentro está lançando mísseis em
minha direção.
— Vocês todos devem ter razão.
— Agora, peça desculpas para a minha babá!
— Eu não falei nada demais. Não vejo motivos para isso.
— Heloyse tem razão. — Megan concordou.
O senhor Prado permanece em silêncio, então a patricinha finge
gentileza.
— Peço desculpa se eu exagerei. — Seu sorriso falso só mostra o seu
verdadeiro caráter.
Assinto com o olhar, não querendo mais dar continuidade a esse
assunto. Agora sei que devo tomar muito cuidado com essa mulher e que
sempre terei Heloyse ao meu lado para me defender, assim como a Megan.
— Você está me olhando, está obcecada por mim porque eu sou linda e
maravilhosa. Só pode estar com inveja por eu ter o rosto coberto de
maquiagem e peitos de silicone que estão quase rasgando o meu vestido. Blá,
blá blá! Eu sou linda... Blá, blá, blá... Maravilhosa! Aí! — disse ao bater de
frente com um paredão de músculos.
Pelo corredor, eu estava indo para cozinha atrás de algo para levar para
a Helô comer. Ela sempre está com fome, assim como eu. Nisso somos muito
parecidas.
Eu estava resmungando por causa do comportamento estranho da
Mirella. Ela se acha muito poderosa e linda para agir daquela maneira.
Precisei me conter para não lhe dizer o que ela merece ouvir. Aí bati de frente
com o Henrique.
Ele me olha com um sorriso lindo nos lábios.
— Não sabia que você fala sozinha.
— Há muitas coisas sobre mim que você não sabe.
— Tenho certeza que adoraria saber tudo sobre você. — Seus olhos
parecem labaredas sobre o meu corpo.
Engulo em seco ao me tocar o que ele disse. Deve ter levado para o
lado malicioso, como sempre. Homens sempre têm a mente cheia de
pensamentos pervertidos.
— Eu estava indo para cozinha. Com licença!
— Espere! Acompanhe-me até o meu escritório brevemente! — pediu
já caminhando na frente como se tivesse a certeza de eu irei logo atrás.
E o CEO não errou dessa vez. Sua autoconfiança é muito forte. Deve
ser por isso que ele é tão bem sucedido nos negócios. Seu poder de persuasão
nunca falha.
Quando eu adentro o ambiente, ele me pede para fechar a porta. Mesmo
desconfiada, faço isso, mas fico muito próxima à saída para o caso de
precisar sair correndo.
Ele me fita e ri.
— Pode se aproximar mais. Não vou te atacar.
— Nunca se sabe. — Dou de ombros. — Sobre o que quer conversar
comigo? Se for pela sua prima, eu não estava olhando para ela.
— Eu sei que não. — disse confiante. — O assunto que tenho para
tratar com você é outro. Na verdade, é um aviso de antecedência. Como você
deve saber, todos os anos eu e minha filha passamos o natal na Alemanha,
terra natal da minha família.
— Sim. Heloyse já me disse.
— Como babá da minha filha, você também é convidada a ir conosco.
Está na clausura do seu contrato que deve sempre acompanhar minha filha
em todas as viagens. — reforçou o meu contrato de trabalho como argumento
para que eu viaje com eles.
— Mas eu realmente preciso ir?
— Sim. Está escrito.
— É que eu nunca passei um natal longe da minha mãe. Será que não
tem como eu não viajar?
— Heloyse me pediu muito para que eu a fizesse ir.
— Eu não sei se consigo viajar para outro continente e passar tantos
dias longe da minha mãe. Posso conversar com sua filha e fazê-la me
entender.
— Essa questão não pode ser discutida, senhorita Fiore. Está
estabelecido no seu contrato de admissão. Você sabia da existência da
possibilidade de viajar.
— Sim, eu sabia. — Respiro fundo e engulo o fato dele ter me
chamado de senhorita Fiore. Ele nunca agiu tão sério como agora. — Tudo
bem, senhor Prado. Eu irei.
Posso ver nele um breve momento de satisfação que, rapidamente, é
tomado por um ar de seriedade.
— Agora, se me der licença... — falei.
— Antes de ir, quero falar sobre o ocorrido na hora do almoço.
Por que eu senti que ele quer me culpar por algo? Ou, talvez, eu esteja
sentindo aquilo que não queria e vendo algo que não existe. Ciúme não é algo
que eu deva ter em relação ao meu chefe. Como é possível que eu esteja tão
envolvida?
— Eu não estava olhando para ela. Não tenho culpa se algumas pessoas
têm complexo de auto embelezamento. — Nem sei se isso existe. Quando
fico nervosa, falo besteira. — Se acredita em mim ou não, já não posso fazer
nada.
Talvez eu esteja assim, mais estressada, por estar próxima ao meu
período de menstruação. Sempre fico mais sensível e, às vezes, me irrito até
se o vento bate no meu rosto. Vendo por esse lado, não estou com ciúme
dele, e sim naquela fase que toda mulher sente todas as emoções mais fortes e
intensas.
— Ainda não terminei com você. — Fica entre mim e a porta,
bloqueando minha saída.
— O que mais tem pra me falar, senhor Prado?
— A Mirella é complicada. Peço que você não a leve a sério.
— Se eu levasse pessoas como ela a sério, já estaria louca.
Henrique segura minhas mãos, causando correntes elétricas.
— Eu agradeço por tudo que está fazendo por mim, mas se me der
licença, agora preciso... — falei.
— Você aceitaria se encontrar comigo nesta noite?
— Um encontro? — Franzo o cenho. — Não é uma boa ideia...
— Eu só quero conversar. Prometo.
— Sobre o que quer conversa? Se não for nenhum assunto de trabalho,
peço que não requisite minha presença.
— Por favor, bebê! Não aja como se não soubesse do meu interesse por
você. Sua indiferença me destrói.
— Claro que sim. O senhor não está acostumado a ouvir muitos “nãos”.
Sempre tem tudo o que deseja. Deve ser muito difícil. — eu disse a última
parte de um jeito irônico.
Henrique parece um cachorrinho fofo sem dono. Isso me faz querer
pegá-lo em meus braços e lhe dar bastante carinho. No entanto, sei que ele
não é um bom moço, nem nenhum príncipe encantado. Não posso me
envolver com o CEO porque isso só me causaria feridas profundas e difíceis
de curar. Dizem que nunca se esquecem do primeiro amor. Se isso for
verdade realmente, não quero que ele seja, de qualquer jeito, somente desejos
carnais que podem ser saciados com sexo e álcool.
— Vejo você nesta noite, no meu quarto?
Arregalo os olhos com o seu pedido. Minha mãe me disse que uma boa
moça jamais deve entrar no quarto de um homem, pois isso nunca pode
terminar bem. Engulo em seco mais uma vez, sentindo minha garganta seca
arranhar o céu da minha boca. Ele só pode ter más intenções comigo e nada
que me dê vantagens.
— Eu não vou. Não me espere!
— Tudo bem. — Parece tranquilo demais para quem acabou de ouvir
uma rejeição. — Se não for em meu quarto, será no seu, pupp.
Sem argumentos que fossem capazes de justificar, ele me deixa passar.
Não posso recebê-lo em meu quarto. Não mesmo. Da última vez que ele
entrou sem ser convidado, quase fomos para a cama. Dessa vez não quero
nem pensar no que pode acontecer.
Minha virgindade não é algo que eu queira entregar para o primeiro que
aparecer. Sempre fico receosa quando ela é o assunto. Não é medo de me
machucar fisicamente, e sim emocionalmente.
À noite, meu chefe virá para o meu quarto. Tenho certeza que sim. O
que farei para não dormir na minha cama hoje? Posso ficar com a Heloyse e
fingir que peguei no sono junto com ela. Talvez ele acredite em mim ou fique
irritado por pensar que eu estou querendo aproveitar o conforto do quarto da
sua filha. São vários possíveis julgamentos que me afligem.
Júlia está de olho em mim. Já pude notar isso. Sempre que estou
distraída, divertindo-me com a Helô, tenho a sensação de estar sendo
observada. Quando menos espero, vejo-a parada me observando. Toda vez
que isso acontece, tenho certeza que ela está já estava há muito mais tempo
ali do que eu poderia imaginar. Olga deve pagá-la para ficar de olho no
marido. Não vejo outra justificativa para isso. Porém, se a patroa tem ciúmes
de mim, por que me contratou? Segundo a mesma, eu sou a que menos tem
qualidades de encantar o seu ex-marido. Se soubesse que justamente eu, a
candidata que ela mais menosprezou, foi a que mais chamou atenção de
Henrique, seria capaz de voltar para me infernizar.
Pelo restante do meu dia faço todas as minhas obrigações.
Estou com muitas preocupações com a tal viagem que se aproxima. Já é
no mês que vem. Nunca passei tantos dias longe da minha mãe. Ela é uma
mulher sozinha e sua única amiga é a nossa nova vizinha. Contou-me nesta
semana que almoçou duas vezes na sua casa. Pelo menos tem alguma
companhia. Já me martirizo por ter deixá-la sozinha toda semana, quem dirá
no natal, que uma data muito importante para ficar ao lado da família?
— Você tem certeza que não quer que eu fique com você? — Torço
para ouvir um “sim” de Heloyse.
A menina está deitada, pronta para dormir. Eu me ofereci para ficar
com ela até adormecer, mas não quer.
— Não precisa, Stacy. Você já passou do seu horário ficando comigo
até agora. Sabe que eu te amo. No entanto, eu te quero cheia de energias
amanhã para podermos brincar muito.
— Eu posso ficar, minha linda.
— De jeito nenhum. Vá descansar! Amanhã quero a minha Stacy
pronta para nadar comigo.
Ela está relutante. Não há nada que eu possa fazer para convencê-la. Eu
já me ofereci para contar histórias e cantar uma canção, mas nada a fez mudar
de ideia. Como não tenho mais o que fazer, terei que aceitar que preciso
voltar ao meu quarto. Talvez meu chefe nem esteja lá. Pode até ter se
esquecido do que disse, já que é um homem cheio de trabalhos e
responsabilidades. Não é nada fácil administrar uma empresa do porte da sua.
Como já são quase nove e meia, deve estar dormindo. Claro! O cansaço da
semana pode ter feito com que ele fosse dormir mais cedo hoje.
Eu gosto mesmo é de me iludir, mas sonhar ainda é de gratuito. E se
esse sonho for para a minha salvação, é melhor ainda.
Adentro o meu quarto receosa e acendo as luzes rapidamente. Olho
bem com atenção para ver se Henrique está aqui. Procuro dentro do banheiro,
do armário e até debaixo da cama. Respiro aliviada por saber que ele não
veio. Fecho a porta e a tranco, em seguida, para a minha segurança. Meus
ombros estão muito tensos e a coluna travada. Nada que um bom banho não
ajude a relaxar.
Ando muito tensa desde que comecei a trabalhar. A partir do momento
que passei a receber investidas do patrão, venho fugindo a todo instante como
se eu fosse uma criminosa, como se fosse ele quem não estivesse errado.
Relaxo por vinte minutos debaixo do chuveiro, visto o meu roupão,
seco o meu cabelo no banheiro com o secador apenas para não molhar muito
a minha roupa quando eu a vestir e faço um coque malfeito. Nunca levei jeito
para deixar meu cabelo alinhado e comportado. Pareço mais uma leoa
descabelada do que uma mulher normal.
Cantarolo baixinho uma canção. Cantar me faz bem e me causa uma
paz inexplicável. Fecho meus olhos por alguns segundos e caminho de volta
para o quarto. É quando meus olhos o veem. Todo o meu corpo entra em
choque, em alerta.
— Você? — minha voz saiu por um fio, quase sem som algum.
Acho que ele nem me ouviu, já que falei ainda mais baixo do que o de
costume.
Nervosa, aperto ainda mais o nó do meu roupão como se isso fosse me
proteger. Suas órbitas azuis profundas estão me devorando com um olhar
sedutor de tirar o fôlego. Qualquer roupa que ele use, só o deixa ainda mais
bonito, principalmente quando é uma despojada como bermuda e camiseta.
Mesmo sendo roupas de grifes caríssimas, elas o deixam com ar de alguém
mais simples e natural. Não que o terno o deixe feio. Esse homem fica lindo
de qualquer maneira, inclusive com os cabelos penteados para trás ou
naturalmente para frente, como estão agora.
— Por que o espanto? Eu lhe disse que viria. Não pensou que essa
fechadura iria me deter, né?
— Eu vou gritar. — ameacei.
— Não vou tentar nada com você. Não será necessário.
— Como pôde entrar assim? Já imaginou se eu tivesse saído do banho
sem roupa alguma?
— Seria a mais bela imagem que eu poderia ter na minha frente.
Fico abismada com o que ele disse e, ao mesmo tempo, sinto todo o
meu sangue correr para o meu rosto.
— Infelizmente, ainda não tive o prazer de me deliciar com a bela vista
do seu corpo.
— Se veio aqui para me falar inferências...
— Não! Perdoe-me! Prometo não ser mais indelicado.
Sempre que estou na sua presença, sinto como se meu coração fosse
sair pela boca.
— Será que posso me trocar, pelo menos? Assim ficarei mais à
vontade.
— Eu já disse que não vou te forçar a nada. Não sou do tipo de homem
que precisa usar a força para ter uma mulher. Você será minha, bebê, mas por
vontade própria.
— Como pode ter tanta certeza?
— Seus olhos dizem tudo, princesa.
Essa foi a primeira vez que ele usou o termo “princesa”. Galanteador!
Sim. Sabe como deixar uma mulher encantada. Já deve ter arrasado muitos
corações, só que o meu não será mais um. Mostrarei a esse CEO que ele não
é o dono da razão sempre.
— Não precisa ficar sem jeito.
— Será que pode ir direto ao ponto e me dizer o que veio fazer aqui?
Eu sei que é o dono dessa casa, porém esse quarto foi entregue a mim. Não
seria nada bom para a minha imagem se alguém o visse saindo daqui tarde da
noite. As pessoas começariam a falar.
— Você tem razão. Eu não deveria ter vindo aqui. Mas acontece que eu
precisava te ver. Gosto de estar próximo a você. Isso faz eu me sentir bem.
Ergo uma sobrancelha. Ele deve dizer isso para todas, só que falou de
um jeito tão galanteador que fez com que eu me sentisse especial. Talvez essa
seja a técnica usada por sedutores para capturar suas presas. Embora eu
conheça todas as suas armas de ataque, sou muito boba por me deixar
envolver pelos seus olhos azuis. Sinto-me bastante pequena quando ele está
assim, tão próximo de mim. Seu olhar de quem não quer nada além de
consolo me faria sentir uma leve pitada de pena se eu não soubesse quem é a
peça com estou lidando.
O silêncio predomina no ambiente enquanto conversamos apenas com
os olhares. O meu diz para ele não se aproximar mais, já meu coração fala
para que ele me beije daquela maneira gostosa como fez da outra vez. Por
outro lado, o seu diz que ele quer me ter em seus braços agora mesmo, só que
algo o detém.
Não nego que sinto uma química entre nós dois, um sentimento
especial e proibido que me faz sentir dependente do seu perfume. Talvez seja
assim que pessoas apaixonadas agem: não param de pensar no amado nem
por um minuto.
— O que vai fazer? Vai me beijar? — indaguei.
— Você quer ser beijada?
Abro minha boca para responder um “não”, mas nenhum som é
emitido. Fui traída pelos meus próprios lábios. Sem resposta para dar, é como
se eu estivesse lhe dando uma aprovação para me tomar em seus braços. E é
isso que ele faz. Dou um pulo ao sentir suas mãos tocarem no meu roupão. É
como se elas queimassem a minha pele.
— Se você falar que não me quer, eu vou embora e nunca mais tento
nada com você.
— Não pode pedir para que eu que fale a verdade quando está causando
sensações boas no meu corpo. A resposta não seria muito convincente.
— Então eu lhe causo sensações boas?
— Isso é ciência. Qualquer pessoa sabe que se for tocada em lugares
sensíveis, pode sentir... — Reviro os olhos e gemo baixinho por causa do
beijo que ele dá em meu pescoço. — Prazer.
— Agora está afirmando que sente prazer quando eu a toco?
Ele é tão convencido que me dá raiva.
— Sinto. — confessei sem querer. — Quer dizer... Não. — Minha
resposta não o convence. — Não sinto tanto prazer assim. É algo normal.
— Fala pra mim que não está louca para que eu que jogue você nesta
cama e a faça minha pelo resto da noite.
Suas palavras impuras acendem em mim um fogo gigantesco que afeta
a minha intimidade de tal maneira que posso notar que estou molhadinha para
ele. Nunca senti algo parecido antes. A chama do desejo está crescendo em
mim rapidamente, levando-me à loucura. Meus pensamentos me traem e
apenas o desejo físico, carnal, reina no meu corpo. É como se minha razão
tivesse desaparecido de uma vez.
Seus lábios tocam os meus suavemente. O calor da sua respiração tem
cheiro de menta com whisky, mas ele não está embriagado. O costume de
beber sempre o faz ficar bem sóbrio.
— Quero que seja minha agora. — sua voz rouca ecoou posse sobre
mim.
Todos os meus sentidos querem obedecê-lo e fazer todas as suas
vontades.
Quando Henrique me toma em seus braços, fazendo com que eu prenda
minhas pernas na sua cintura, ele me segura como se eu fosse uma pena.
Coloco minhas mãos em volta do seu pescoço e o beijo com urgência. Sua
língua faminta busca a minha e ficamos assim por minutos. Eu poderia ficar
por horas e horas. O gosto do seu beijo me leva ao delírio.
Ouço a barulho de alguns objetos caírem no chão quando sou colocada
em cima da cômoda de madeira de tamanho médio. Todos os meus livros,
pentes e agendas estão no chão. Suas mãos apertam as minhas coxas por
baixo do roupão e todo o meu corpo vibra com seu toque. Henrique não para
de me beijar por nada. Quando seus lábios não estão nos meus, ele mordisca
e lambe o nódulo da minha orelha, fazendo com que todos os meus pelos dos
braços fiquem eriçados. Em seguida desfaz o laço do meu roupão e vai o
abrindo, deixando-me exposta. Puxo seu rosto para junto do meu para um
beijo a fim de evitar seu olhar em meu corpo. Logo suas mãos exploram
minha cintura e seguram meus seios. Seus dedos brincam com os meus
mamilos já durinhos.
Que loucura estou cometendo? Afasto suas mãos dos meus seios e elas
voltam para o meu rosto. Fecho o roupão e empurro ele para poder descer de
cima da cômoda. Henrique não me deixa sair e volta a me beijar com
urgência. Volto a me envolver por esse sedutor até certo ponto. Resmungo
para que ele me solte e respiro fundo me perguntando como eu consegui
beijar por tanto tempo. Meu queixo já estava começando a doer.
Caminho em direção à porta, abro-a e encaro suas órbitas azuis que não
entendem porque tomei essa decisão.
— Por favor, saia do meu quarto!
Ele fica parado me fitando por alguns segundos. Posso notar o quão
grande está o volume no meio das suas pernas. Aquela coisa parece que vai
rasgar o tecido da sua bermuda. Não deve ser nada fácil para um homem
como ele se controlar quando está nesse estado. O que já é grande quando
está no estado normal, agora parece ter o dobro do tamanho. Está maior do
que quando o vi naquela noite em que sua toalha escorregou e me mostrou
bem mais do que deveria.
Como isso pode caber dentro de mim? É capaz de chegar à minha
garganta. Não quero nem pensar que quase fui para a cama com ele mais uma
vez. Nossos encontros estão se tornando cada vez mais perigosos.
— Henrique, saia!
Essa foi a primeira vez que eu o chamei pelo nome. Acho que ele
também percebeu isso, pois me olha de uma maneira ainda mais possessiva
do que antes.
— Tudo bem. Eu vou indo. Mas ainda vamos chegar até o final, bebê.
— disse a última parte tocando no meu queixo com a ponta dos seus dedos.
Isso não foi um comunicado, e sim uma promessa de que ele me terá o
quanto antes na sua cama.
Meu coração para por um segundo e volta a palpitar ainda mais forte do
que antes.
Fecho a porta e tento voltar ao meu estado normal, mas todo o meu
corpo está clamando com urgência para sentir o calor do seu. Bebo um copo
de água. Parece que isso nunca terá fim. Finalmente decido voltar ao banho
novamente, pois está na hora de eu relaxar novamente. Se isso for possível.
L igo o chuveiro na água fria para controlar meu instinto animal e não
precisar ter que voltar naquele quarto para fazer Stacy ser minha.
Aquela menina está me fazendo perder todo o controle. Nunca pensei
que pudesse voltar a agir como um jovem na arte da conquista. Ela me faz
querer ser irracional. Meu corpo precisa do seu, nem que seja uma vez. Quero
sentir aquele pequeno corpo moldado pelos deuses estremecerem debaixo de
mim. Só de pensar nisso, meu garotão volta a dar sinal de vida.
Em outra época, eu já teria conseguido conquistá-la e feito sexo com
ela até cansar. Depois disso já estaria pronto para o meu próximo ataque.
Entretanto, Stacy não é como as mulheres com quem eu já transei. Ela é
diferente, mas não pelo fato de ser virgem e inexperiente, e sim por ser
delicada como uma pétala de rosa e assustada como uma coelhinha indefesa.
É uma pombinha sem asas que quer aprender voar. Quando está em meus
braços me beijando loucamente, sinto que ela quer voar junto comigo para
além dos horizontes. No entanto, basta eu avançar um pouco mais o sinal
para ser repelido como um inseto. Sua indiferença me deixa ainda mais
maluco para possuí-la.
Sonho com o momento em que a terei em meus braços, deliciando-me
dos seus seios rosados que cabem em minhas mãos. Tudo nela é na medida
certa. Seu tamanho baixinho me surpreende na hora de bater que ela bate de
frente comigo.
Stacy não é tão caipira como imaginei que seria. Ela sabe preservar as
suas raízes e manter a sua essência, mas também sabe lutar por aquilo que
deseja.
Enrolo-me na toalha e volto ao meu quarto para me trocar e tentar
dormir depois de quase ter tido aquela mulher em meus braços. A frustração
me invade de tal maneira que rouba, também, o meu sono. Ela é capaz de
mudar até minha rotina, pois sempre que posso voltar para casa mais cedo,
faço isso, torcendo para poder encontrá-la sozinha por algum lugar ou ouvir
sua voz de anjo cantando alguma música romântica. Stacy me faz viajar sem
sair do lugar quando canta e me traz uma paz que parece vir do céu.
Ouço batidas na porta do meu quarto, então visto uma cueca boxer e
uma calça moletom antes de abrir a porta. Pode ser a Heloyse querendo
dormir comigo. Ela gosta de fazer isso em algumas noites.
Para a minha tristeza, não é minha filha, muito menos a Stacy
arrependida por ter me rejeitado.
Mirella segura uma garrafa de champanhe francês e duas taças. Está
usando um vestido apertado na intenção de ganhar minha atenção. Porém,
não vejo nada além de uma cintura fina e silicones no seio. Não que eles não
fiquem bonitos em uma mulher, mas eu prefiro ter algo natural.
— Primo, eu vim tomar um champanhe com você. Posso entrar?
Ela nem ouve a minha resposta e já vai entrando. Serve-se da bebida e
enche as duas taças. Eu fecho a porta e pego a minha taça só para não fazer
uma desfeita.
— Você parece tenso, Henrique. Precisa relaxar.
— Não posso beber muito, pois tenho muito trabalho para colocar em
dia amanhã cedo.
— Você é o CEO mais milionário desse país. Não ocupe toda a sua
mente apenas com trabalho! Temos que brindar todo o seu sucesso sim, mas
você deve aproveitar a vida também, primo. À vida!
— À vida! — brindamos.
Mirella se senta na minha cama, cruza as pernas e bebe toda a sua
bebida de maneira sensual enquanto eu a observo. Já tivemos bons momentos
na juventude. Os quais ficaram para trás e não vão mais se repetir.
— Como é bom relembrar os velhos tempos! Você lembra que
gostávamos de beber na piscina da casa dos seus pais? A sua mãe ficava
preocupada, com medo de que ficássemos resfriados. — ela comentou.
— Minha mãe sempre foi muito preocupada com todos da família.
— A tia Hellen é uma mulher fantástica. Sempre fala de você todos os
dias. Sabe que por ela, você e sua filha voltariam para a Alemanha, né?
— Não me imagino mais morando na Alemanha. Minha vida está aqui
e Heloyse adora este país. É onde ela nasceu, e eu também.
— Megan parece ser mais brasileira que você. Ela sabe aproveitar as
festas e os pontos turísticos. Você, primo, nunca sai de casa.
— Gosto de ficar em casa.
— Você mudou muito, Henrique, da água para o vinho, desde que Olga
apareceu em sua vida. Parece que foi fiel durante todos esses anos, sendo que
ela nunca mereceu.
— Não vamos entrar na minha vida pessoal.
— Como quiser, primo. Eu fiquei muito feliz por saber que, finalmente,
você deu um ponto final naquela farsa de casamento com a Olga. — Larga a
taça em cima do baú e vem na minha direção rebolando a cintura fina. — Eu
estava pensando que poderíamos repetir os velhos tempos. — Suas mãos
deslizam pelos meus ombros.
Ela é sensual e bonita. Qual homem não cairia nos seus charmes?
— Mirella, deixamos bem claro que o que aconteceu no passado, não
vai mais se repetir. Éramos jovens descobrindo o prazer.
— Nunca senti nada comparado com aquilo. Você foi o único capaz de
me satisfazer em todos os sentidos.
— O que quero dizer, Mirella, é que mesmo que eu tenha terminado o
meu casamento com a Olga, não estou à procura de uma nova esposa.
— Podemos apenas nos divertir e nada mais, sem compromisso, assim
como era no passado.
— Uma proposta muito tentadora, já que você é uma mulher muito
bonita e atraente, mas não quero me envolver com você. Nossas mães são
muito conservadoras e eu não quero que elas fiquem decepcionadas.
— Elas não vão saber...
— Basta! Não vou mais tocar nesse assunto. Você pode ficar por
quantos dias for preciso em minha casa e sempre será bem-vinda, mas espero
que não tente nada mais do que uma boa amizade comigo. Não irei tolerar
outros tipos de investidas.
— Mas... — Está inconformada porque sua tentativa de vim me seduzir
falhou.
— Eu preciso descansar. O champanhe estava ótimo, mas agora saia do
meu quarto. Vamos evitar certos tipos de comentários maldosos entre os
funcionários.
Sem argumentos, Mirella se retira aparentemente calma, porém eu a
conheço desde criança e sei que está muito irritada. Se estivesse em sua casa,
quebraria alguma coisa para aliviar a tensão de ter sido rejeitada. Mulheres
são quase todas iguais: sempre acostumadas a quererem manipular os
homens. Ela não é diferente.
De doce, gentil e sem maldade no coração, eu só conheço a minha
Stacy. Ela é a capaz de roubar o meu sono e ficar impregnada em todos os
meus pensamentos.
Droga! Tudo deu errado. Fui rejeitada por Henrique. Quem ele pensa
que é para me tratar como se eu não tivesse nenhum valor? Eu sou uma
mulher bonita, muito atraente e sedutora. Qualquer homem se apaixonaria
por mim e faria o que eu quisesse para ter um pouco da minha atenção.
Somente meu primo age com indiferença, como se eu fosse um nada. Isso
não vai ficar assim
Esperei longos anos para poder me ver livre de Olga, e agora que tenho
uma chance de conquistar o grande amor da minha vida, não vou me dar por
vencida assim, tão facilmente. Eu terei o amor de Henrique para mim, nem
que eu precise ultrapassar todas as barreiras das dificuldades para ter o que é
meu por direito. Se aquela vagabunda da Olga não tivesse engravidado, eu
teria conseguido ficar com ele.
Arremesso no chão o abajur do meu quarto, causando um barulho
irritante, e cravo minhas unhas nos braços, arranhado o meu próprio corpo.
Sinto vontade de puxar meu cabelo. Só não faço isso para não ficar feia para
Henrique.
Nunca estive tão furiosa em toda a minha vida. Respiro fundo,
buscando o pouco de tranquilidade me resta. Preciso ser inteligente e não agir
como uma desesperada. Eu sei como fazer Henrique se apaixonar por mim.
Se não for através da filhinha dele, será por meio de um novo filho que terá
comigo. Heloyse foi um motivo para ele se casar com a Olga, então outro
bebê é suficiente. Assim, meu querido primo não vai querer ver o nome da
nossa família na lama e será meu marido. O meu plano é infalível e eu o
colocarei em prática o quanto antes.
A cozinha está uma bagunça. Há massa de bolo para todos os lados.
Tudo isso por causa de uma travessura da Heloyse, que decidiu
cozinhar, fazer bolinhos alemães. Seus recheios são de chocolate. A
comida típica da Alemanha se parecida com a nossa em algumas coisas.
— Não vejo a hora do natal chegar para fazermos boneco de neve.
Você já fez? — ela perguntou.
— Nunca estive em um lugar que nevasse.
— Você vai adorar. A casa da minha avó é...
— Heloyse, priminha fofa! O que está fazendo? — Mirella adentra a
cozinha esbanjando simpatia.
Parece ser outra pessoa, não mais aquela mulher irritante que quase me
atacou por eu ter olhado rapidamente para ela.
— Cozinhado. Não está vendo? — É evidente que Helô não gostava
nenhum pouco da prima.
— Que prato delicioso estão preparando?
Ao notar minha presença, a patricinha faz uma carinha de enjoada.
Também não vou com sua cara, mas nem por isso desprezo ninguém, mesmo
que ela mereça.
— Bolinhos. Nada demais.
— Mas está uma delícia. Dá para ver só pelo cheirinho. — Sorri
falsamente. — Que tal se você preparasse muitos para podermos levar até a
empresa para o seu pai provar? O que acha? — Finge empolgação.
Está animada porque quer levar a prima para ver o pai. Conheço bem
suas intenções, já que ela passou a noite no quarto do Henrique. Ouvi uma
conversa hoje, pela manhã, sobre isso. Comentaram que ambos passaram a
noite tomando champanhe. Quando um homem e uma mulher que ficam
sozinhos, bebendo, não pode resultar em coisa boa. Depois que ele deixou o
meu quarto naquele estado, não duvido que tenha passado a noite com a
prima.
Mas por que isso me abala? Ele é um homem livre, solteiro e pode ter a
mulher que desejar. Não devo derramar lágrimas por causa disso. Sinto um
aperto forte em meu peito. Henrique só mostrou que estar brincando comigo
e com meus sentimentos ao ir para a cama com a Mirella após ter tentado me
seduzir na mesma noite.
— Pode ser. Vamos sim. — Heloyse comemora. — Mas a Stacy irá
comigo.
— Tudo bem. Ela pode vim, mas no banco de trás, porque eu vou
dirigindo, e você, fofinha, irá comigo.
Heloyse sorri forçadamente.
Terminamos de assar os bolinhos e colocamos tudo dentro de uma
tuppeware de vidro. Depois arrumo a bonequinha, colocando um laço rosa
em seu cabelo e lhe vestindo um vestido rosa e meias-calças pretas, como ela
gosta. Seu estilo roqueirinha me encanta.
— Será que o papai vai gostar da surpresa?
— Com certeza, ele vai adorar. Seu pai é louco por ti, princesinha. —
dou um beijo no seu nariz e ela sorri sapeca.
No momento Mirella dirige pela marginal tranquilamente enquanto
ouve uma canção americana dos anos 90. Seu estilo é meio ultrapassado. Em
questão de gosto é outra. Bem que poderia ser mais refinada e menos mal-
educada. A loira sempre está de cara feia para mim.
Confesso que preferia ter ficado em casa, mas Helô só viria se fosse
comigo, e eu não queria deixá-la sozinha com esta prima louca que é
obcecada por si mesma.
Nosso trajeto leva um pouco mais de 40 minutos. O prédio da grande
empresa Prado de energia pura fica localizado numa área de arranha-céus. Os
edifícios são de quarenta andares e todos têm grandes vidraçarias que
reluzem a imagem perfeitamente como se fosse um espelho.
Todo o hall da entrada do local é elegantíssimo e possui uma decoração
moderna, quadros 3D e telões que mostram todos os novos projetos da
empresa para visitantes universitários.
A empresa Prado foi fundada no Brasil pelo alemão Evans Prado,
descendente de pai brasileiro. Por isso esse sobrenome é usado sempre como
uma grande marca importante para o mundo dos negócios.
Pegamos um elevador até o quadragésimo andar, onde ficam as salas
do presidente e dos sócios. Tudo nessa empresa exala poder e dinheiro.
Somos recepcionadas pela secretária do senhor Prado, a Mônica, uma
moça muito simpática que diz que anunciará a nossa entrada em alguns
instantes.
— Se Henrique está na sua sala, vamos entrar agora mesmo. Sou
Mirella Prado, portanto não preciso ser anunciada. — Pega na mão da
Heloyse e sai com a menina sem ouvir o que a secretária iria nos dizer.
Não sigo as duas. Prefiro esperar aqui mesmo.
Dou um passo para trás, procurando um local para poder esperar por
elas. É quando meu corpo choca com um paredão de músculos que está
parado logo atrás de mim.
— Cuidado! — sua voz rouca disse ao me segurar para que eu não
caísse. É a voz do Henrique.
Todos os meus sentidos entram em alerta por eu ter ouvido o seu timbre
sensual. Afasto-me como se tivesse levado um choque. Neste momento sua
secretária não está mais no mesmo ambiente que nós e ele me fita
intensamente.
Curioso por me ver aqui, pergunta:
— Stacy? O que faz aqui?
— Eu vim com a Heloyse. Viemos... Ela veio fazer uma surpresa para o
senhor.
Ele franze o cenho, tentando entender.
— Minha filha está aqui?
— Sim. Na sua sala, esperando você.
— Você não entrou com ela?
— Não. A sua prima veio junto.
Ele parece não ter gostado de saber que Mirella está aqui. Mas por que,
se ambos tiveram uma noite proveitosa? Homens são todos cínicos.
— Elas podem esperar um pouco mais. Eu preciso conversar com você.
— Sobre o quê?
— Creio que você possa ter ouvidos boatos nesta manhã...
— O senhor não deve satisfação alguma para mim, e sim para a sua
namorada. E ela não sou eu. Agora, se me der licença, vou procurar um lugar
para esperar as meninas.
— Não aja assim comigo, bebê! O que você pode ter ouvido nesta
manhã não é a verdade sobre os fatos. Eu não estou me envolvendo com
ninguém. A única mulher que está nos meus pensamentos é você.
— Como eu lhe disse, senhor Prado, você não me deve satisfação.
— Ouça-me primeiro antes...
— Primo, o que tanto conversa com a babá? — a voz de Mirella
ressoou atrás de mim. — Heloyse e eu viemos te fazer uma surpresa. Não a
deixe esperando por mais tempo. — Sorri sensualmente segurando os braços
do primo.
Ele a leva para a sua sala com ambos conversando e de mãos dadas até
onde meus olhos podem acompanhar. Só de imaginar que eu cheguei a
acreditar em todas as suas artes de conquista me sinto muito ingênua e burra.
Esses são os termos corretos.
Procuro um lugar para me sentar, então Heloyse vem me buscar para
que eu fique com ela na sala.
— Vamos logo, Stacy! Não confio em deixar meu pai muito tempo a
sós com aquela mulher.
— Até que você é bem espertinha para a sua idade.
— Sei muito mais do que você imagina. Agora, vamos!
Contra a minha vontade, sou obrigada a entrar na sua sala enorme e
luxuosa. A cena que me chama a atenção é Mirella muito próxima ao primo.
É evidente que os dois têm uma química forte e que formam um lindo casal.
Por isso devem estar juntos. Tento não me aproximar muito deles e Heloyse
começa a fazer propagandas dos bolinhos que preparamos.
— Não está uma delícia, papai?
— Muito bom, meu anjo!
— Foi a Stacy que fez. Ela sabe fazer qualquer comida. Não é mesmo,
Stacyzinha?
— Vendo a receita, fica fácil fazer sim.
— Eu falei para ela que já pode se casar, mas para isso acontecer, eu
tenho que aprovar.
Rio do seu jeitinho meigo com o pai. Tenho uma leve impressão de que
a danadinha está fazendo propaganda de mim para ele.
— Então, primo... Se eu contar que ajudei com que os bolinhos
chegassem até aqui, tenho participação também?
— Claro que não! Foi tudo mérito meu e da Stacy. Se você não tivesse
vindo, teríamos chegado aqui com o motorista.
Seguro-me para não rir. Heloyse é uma comédia. Ela pisca para mim e
eu pisco de volta.
Passamos um pouco mais de meia hora no local. Como meu chefe terá
uma reunião importante pelas próximas horas, voltamos para a mansão.
Percebo que Mirella está intrigada com alguma coisa em relação a
mim. Será que percebeu nossa proximidade na empresa? Se ela já não
gostava de mim, agora faz questão de mostrar que eu sou um obstáculo em
seu caminho.
Heloyse desce correndo para dentro de casa. Está muito feliz,
diferentemente da sua prima, que me puxa forte pelo braço, fazendo-me ficar
parada.
— Você não me engana com esse olhar de sonsa! Eu vi o que estava
fazendo. Querer dormir com o chefe não é politicamente correto, mas vocês,
pobretonas, oferecem-se na primeira oportunidade que têm. Fique sabendo,
garota, que o coração do Henrique já tem dona! E essa sou eu, não uma
menina que mal saiu das fraldas, como você.
— Solte-me, sua louca! — exigi irritada.
Quem ela pensa que é para me dizer o que fazer ou não?
— Você ainda não me viu louca. É bom sair do meu caminho, garota,
senão vou passar por cima de você sem dó ou piedade.
— Eu não vou sair do seu caminho. Não sou eu quem estou paquerando
o chefe, e sim o contrário. Mas eu não te devo satisfação. Agora, se me der
licença, tenho mais o que fazer. — Desvencilho-me dela e entro na mansão
com os nervos à flor da pele.
Quando, finalmente, livro-me da Olga, Mirella surge na minha vida.
E ncontrei uma maneira de fugir do Henrique e evitar encontros
noturnos em meus aposentos. Informei à Júlia que meu quarto estava
infestado de baratas — o que é mentira — somente para não ter que
dormir mais lá. Com isso, estou dormindo há três noites junto com Ionar, a
chefe de cozinha. Ela, gentilmente, ofereceu-me uma vaga em seu quarto.
Cumpro com todas as minhas obrigações durante o dia e à noite garanto
minha segurança.
Ainda não me esqueci das ameaças que Mirella me fez. Só de encontrá-
la a todo instante pela mansão, sinto calafrios. Essa mulher se mostrou ser
muito traiçoeira. Dizem que, no passado, já chegou a sair nos tapas com a
Olga, inconformada pelo fato da mesma ter se casado com o Henrique, não
ela.
Esta semana foi muito conturbada para mim. Toda vez que aquela
mulher me olhava, fazia eu me se sentir mal. Ela tem o dom de tratar as
pessoas com desprezo, ainda mais do que Olga. As duas parecem irmãs
gêmeas.
Deixo todos os meus pensamentos de lado e vou para o shopping com
minha mãe. Ela está ansiosa para conhecer as lojas e também poder comprar
roupas novas para nós. Vou precisar de algumas de frio para suportar o
inverno europeu. Dizem que lá chega a fazer -10 graus.
— Filha, não precisa se preocupar comigo. Sei que nunca passamos um
natal longe uma da outra, mas você já está se tornando uma mulher feita.
Precisa passar por essas experiências. E por mais que eu vá sentir sua falta,
sei que você estará bem.
— Não quero deixar a senhora sozinha...
— Só que sua mãe não vai ficar sozinha. Irei passar o natal com a dona
Ester. Lembra que te falei dela? Já combinamos quase tudo: a ceia, a
decoração da árvore e as comidas que vamos servir.
Conversamos enquanto subimos na escada rolante. Pensei que fosse
cair assim que pisei no degrau, mas foi bem mais tranquilo do que eu poderia
imaginar.
Provo dois casacos bem bonitos e confortáveis. Seus preços estão 50%
a menos nas compras à vista. Eles caíram como uma luva em meu corpo.
— Vou levar esses dois, moça. — informei à vendedora, que sai feliz
da vida por ganhar sua comissão com as compras. — Agora, vamos ver algo
para a senhora. — falei à minha mãe.
— Stacy, minha querida menina, não precisa ficar gastando seu
dinheiro com sua mãe. Não é necessário, princesa.
— Quem está gastando aqui? A senhora me alimentou e me vestiu por
dezenove anos. Quem foi que gastou aqui?
— Tudo o que fiz por você, faria em dobro se pudesse e não me
arrependeria nunca.
Convenço ela a olhar uns vestidos e calçados. No final, escolhe uma
linda roupa para vestir no natal. Eu me encanto por um vestido vermelho,
mas ele está muito caro e eu não tenho dinheiro para comprá-lo. Tenho
certeza que ficaria perfeito no meu corpo. Realçaria até os meus pequenos
seios.
— Vai levar esse, moça? Está com um preço ótimo.
Desde quando dois mil reais em um vestido é um preço ótimo? Só para
quem tem muito dinheiro. O que não é o meu caso.
— Hoje não, moça. Obrigada!
— Esse vestido é muito lindo. Ficaria maravilhoso em você. — mamãe
disse. — Posso lhe costurar um, só não será com o mesmo tecido fino.
— É somente um vestido. A senhora sabe que eu não dou valor a essas
coisas.
Quando saímos da loja, eu procuro alguma lanchonete legal para
fazermos uma refeição. Então sinto um pequeno corpo se chocar contra o
meu e me dá um abraço caloroso, repleto de amor. Uma risada travessa enche
meus ouvidos de alegria.
— Stacy! Achei você! — disse feliz.
— O que a menina mais linda desse mundo faz aqui?
— Vim fazer compras também. Você acredita?
— Acho que sim. — Rio.
Conheço suas travessuras. Eu comentei com ela que estaria aqui mais
ou menos neste horário. Digamos que esse shopping não é nenhum local
luxuoso como os quais ela costuma frequentar, como os centros privados para
pessoas da sua classe social. Tenho certeza que veio somente para me ver. Se
dependesse da sua vontade, eu não teria folga em nenhum dia da semana.
— Você veio sozinha?
— Não. Vim com o meu papai. Ele vem vindo logo ali.
Todo o meu corpo entra em sinal de alerta. Henrique está ainda mais
bonito trajando uma calça jeans, despojado com uma camiseta de gola polo e
óculos escuros que escondem seus lindos olhos azuis. Ele vem em nossa
direção segurando algumas sacolas de compras que, certamente, são da filha.
— Peço desculpa pela minha filha. Heloyse não conteve a empolgação
em te ver, senhorita Fiore. Espero que ela não esteja lhe incomodando.
— Não precisa pedir desculpa, senhor Prado. É sempre um prazer
poder estar com a Heloyse. Ela nunca me incomoda. Pelo contrário.
A menina sorri mostrando os dentes para mim.
— Essa é sua mamãe? — ela perguntou curiosa.
Que desatento meu! Nem lhe apresentei à minha mãe.
— É sim. Mamãe, essa é a Heloyse, a garotinha de quem sou babá.
— Ela é minha melhor amiga também. — acresentou sorrindo. — É um
prazer te conhecer, senhora.
— O prazer é meu, Heloyse. Meu nome é Urla.
— A senhora é muito bonita.
— E você é uma verdadeira princesa.
— Mamãe, esse é o senhor Prado, o pai da Heloyse.
Ela o olha. Parece surpresa por ele ser tão jovem, mas sabe disfarçar.
Creio que eu nunca tenha lhe dito sua idade, e como sempre me dirijo ao meu
patrão como “senhor”, ela deve ter achado que ele era um velho.
— É um prazer conhecer o senhor.
— O prazer é todo meu, senhora. Por favor, não me chame de senhor!
Meu nome é Henrique.
Mamãe sorri.
Como assim ele dispensou o “senhor”? Todos da mansão sempre dizem
que devemos nos dirigir ao patrão com formalidades, já que o mesmo vem de
uma família tradicional e muito bem conservadora que costuma preservar os
costumes de educação e corte.
— Stacy, eu e meu pai estávamos indo tomar um milk shake. Venha
conosco! A sua mãe também.
— Obrigada! Mas...
— Por favor! — insistiu.
— Não queremos incomodar. — minha mãe disse olhando para o
Henrique.
— Não será incômodo algum. Será um grande prazer para nós. — Ele
me fita intensamente por trás das lentes escuras.
Evito olhá-lo muito, pois não tem como saber para onde ele está
olhando. Mas toda a minha pele queima.
Acabamos aceitando o convite para irmos tomar um milk shake.
Henrique fica encarregado de fazer os pedidos e logo sai para concluir o
pagamento. Estou sentada ao lado de Heloyse, que se mostra muito feliz por
estar comigo. Balança as pernas sem parar. Eu arrumo o laço no seu cabelo
enquanto minha mãe está sentada de junto da pequena.
— Pediu do jeitinho que eu falei, papai? — Helô perguntou assim que
seu se pai sentou justo na cadeira ao meu lado. Foi a que sobrou na mesa.
— Tudo igual, princesa.
— Então, senhora, conte-me sobre a infância da minha babá! Irei
adorar saber. — Heloyse indagou travessa.
— Eu já te falei tudo. Não lembra? — questionei.
— Quero ouvir da sua mãe.
— Bem... Stacy sempre foi uma menina bonita, inteligente, divertida e
muito caseira.
— Isso, ela já me falou. E quanto aos namorados dela?
— Stacy nunca me apresentou um namorado.
— Ela me disse que nunca teve um. Agora sei que é mesmo verdade. É
tão bonita! Não sei como está solteira ainda. — Faz todos rirem.
Essa é uma situação desconfortável para mim. Tenho o meu chefe, que
está me perseguindo na internação de me levar para cama, conversando com
a minha mãe, todo cordial e gentil. Isso me deixa intrigada.
— Espero que a senhora não fique com raiva porque a Stacy vai passar
o natal comigo, na Alemanha. — Heloyse é tão inocente que chega a ser fofa.
— De maneira alguma. Stacy já é uma mulher independente que tem
suas responsabilidades. Eu, como mãe, vou sentir sua falta, mas ela precisa
comparecer ao trabalho com você.
— Não se preocupe com nada, senhora Fiore! Sua filha estará segura
enquanto estiver conosco. Nada vai lhe faltar. E mesmo que ela esteja em
outro país, irei me assegurar para que a mesma não note essa diferença. —
Henrique garantiu.
— O senhor é muito gentil.
O mundo está lotado de pessoas gentis que estão com más intenções.
Disso, o inferno está cheio. Assim é como dizia a minha querida avó.
Essa tarde na companhia deles é algo para não ser esquecido.
Heloyse e seu pai nos oferece carona até a minha casa, mas eu não
aceito. Alego que ainda não terminei as minhas compras. O que não deixa de
ser verdade. Ainda não comprei uma bota para o frio.
— Heloyse não é encantadora, mamãe?
— Muito! Assim como o pai dela. Quantos anos ele tem?
— Eu não sei dizer. Esses assuntos não me interessam, porque lá na
mansão não devemos nos meter em nada da vida dos patrões.
— É bom que seja assim.
Há um toque de desconfiança na minha mãe, mas ela faz questão de
não me dizer nada. Eu mudo de assunto.
S aio do quarto da Heloyse para ir buscar o seu lanche da tarde.
Acabamos de voltar da sua aula de balé. O dia hoje está ensolarado e
quente. Passo pelo corredor que dá acesso à saída, quando encontro
Mirella conversando algo com a Júlia. Elas praticamente sussurram, anulando
qualquer chance que eu tenha de ouvi-las. Não que seus assuntos me
interessem.
— Nada pode dar errado. Está me entendendo? — Mirella usou um tom
ameaçador. Esse morre assim que ela nota a minha presença.
— Não se preocupe, senhorita! Já está tudo combinado e sob o nosso
controle... — Júlia para de falar após Mirella lhe lançar um olhar sério como
se fosse uma súplica para que ela fique quieta.
— Com licença! — Passo por elas.
Logo paro ao ouvir a voz enjoada da governanta.
— Um momento, senhorita Fiore. Precisamos conversar sobre algo de
suma importância.
— E o que seria?
— Preciso que me acompanhe agora mesmo até ao escritório do senhor
Prado.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei sem entender.
Por que preciso ir até lá?
— Acompanhe-me! Eu te explico no caminho.
Faço como ela ordenou, mas nada é explicado para mim. A senhora
abre a porta e eu vejo que, no local, já se encontram mais alguns
funcionários. Fico ao lado da Maria, que parece apreensiva. Pergunto o que
aconteceu, entretanto ela não sabe me responder, assim como Valter e os
demais.
Julia ordena que ninguém deixe o lugar e sai em seguida.
Esperamos por cerca de vinte minutos, até que ela volta junto com
Mirella e o senhor Prado, que parecem irritados com alguma coisa. Nunca o
vi tão raivoso e, ao mesmo tempo, preocupado com assuntos que eu não sei
dizer quais são.
Ele toma a cadeira de chefe e Mirella fica em pé ao seu lado como se
fosse a sua esposa. Minhas bochechas ficam vermelhas de raiva. Como ela
pode querer ser o que não é? Aliás, será que estamos reunidos aqui para
recebermos algum anúncio de um possível namoro entre eles? Meu coração
acelera interessadamente.
— Reuni todos vocês aqui para comunicar algo muito desagradável que
não deveria ter acontecido em hipótese alguma, pois todos conhecem as
regras da mansão e sabem quais são as consequências para quem as
desobedecem. — Julia anunciou toda prepotente. — A senhorita Mirella me
procurou hoje pela manhã para me comunicar sobre o desaparecimento do
seu colar de pérolas brancas. Ao que tudo indica, ele foi roubado por um de
vocês.
— Não é aceitável que acusem um de nós sem antes terem provas. Eu
jamais teria coragem de roubar nada. — Maria disse em sua defesa.
— Também sou um homem honesto. Não pratico esse tipo de crime. —
Valter falou mantendo sua postura seria.
Eu e os demais ficamos quietos enquanto Henrique nos encara em
silêncio. Já sua prima tem sangue nos olhos. Ela me olha com um sorriso
satisfatório. Em algumas vezes posso perceber o quanto hostil ela é comigo.
O que não deixa de ser uma novidade, já que a mulher é uma cobra.
— Ninguém será acusado em vão. Vocês foram chamados até aqui por
um motivo. Os únicos lugares da mansão que não foram revistados são os
seus quartos. Eu mesma irei procurar o colar nesses respectivos locais agora
mesmo. E se a joia for encontrada no quarto de alguém, saibam que essa
pessoa será demitida e processada por roubo. — Júlia advertiu.
Nenhum de nós tem nada a temer.
A mulher sai para fazer a tal busca. Quem será que foi capaz de
cometer algo tão terrível? Roubar é crime e ninguém tem direito de querer o
que não é seu. Mirella não é uma pessoa muito simpática, mas ainda sim não
merecia ter sido roubada.
Os minutos seguintes são os piores das nossas vidas. Não podemos sair
dessa sala. Quanto mais o tempo passa, mais eu me sinto apreensiva por ver
que Mirella está se aproveitando a situação para ficar ainda mais próxima ao
Henrique, que já está impaciente com tudo o que aconteceu.
Julia volta quase uma hora depois, afinal de contas, só foram revistados
sete quartos, incluindo o meu.
— E então? Encontrou o meu colar?
— Encontrei sim, senhorita. — Júlia devolve o colar para a Mirella,
que está feliz além da conta por ter o encontrado.
Quem será que o pegou?
— E então, Júlia? Onde o colar foi encontrado? — Henrique se
aproxima de nós.
Ele está muito lindo vestido em um terno preto que realça ainda mais o
seu tom de pele. Seus olhos azuis agora estão curiosos para saberem onde o
objeto foi encontrado. Creio que todos nós estamos apreensivos para saber
também.
— Senhor, o colar foi encontrado no quarto da senhorita Fiore.
Todos os olhares se voltam para mim, inclusive o do meu patrão, que
parece surpreso com a revelação.
Fico completamente imóvel por alguns instantes. Não é possível que a
culpa esteja caindo sobre mim. Júlia sabe que isso não é verdade. Como algo
que eu não roubei pode ter ido parar em meu quarto?
— Saiam todos! Menos a senhorita Fiore. — A voz dele pesa sobre os
meus ouvidos. Sinto que estou sendo açoitada.
Os demais funcionários saem. No ambiente permanecem apenas Júlia,
Mirela, o senhor Prado e eu.
— Não sei como esse colar foi parar em meu quarto, mas juro que não
peguei nada. Eu seria incapaz de roubar. — Meu corpo treme com a
acusação. Como poderei me livrar dela?
— Não há mais o que negar. Todas as provas apontam para você,
menina. — Júlia foi perversa nas suas acusações, cruel e insensível.
Ela sabe que não encontrou essa joia em meu quarto.
— Se tivesse sido qualquer outra joia, eu não teria dado por falta, pois
não importo com o ouro, nem com o seu valor. Porém, esse colar foi presente
da minha mãe, e eu nunca poderia me esquecer dessa ocasião. — Mirella
soou bem falsa. Como o Henrique não enxerga isso? — Eu o tirei ontem para
dormir e deixei sobre minha cabeceira. Não podia esperar que fosse roubada,
já que isso nunca aconteceu antes, em nenhuma das vezes que estive aqui.
— Isso só pode ser um engano. Eu não peguei nada. Se nem entrei em
seu quarto, como posso tê-lo roubado? As câmeras podem checar as imagens
e vocês poderão ver que eu nunca entrei nos aposentos da senhorita Mirella.
— Se me permite falar, senhor, eu mesma analisei as imagens antes do
senhor vir para casa. Há uma falha na câmera que dá acesso ao corredor do
quarto da senhorita Mirella, como se alguém tivesse cortado o fio. Fui
conferir e pude constar que tudo foi muito bem planejado por ela.
— Henrique, espero que todas as medidas cabíveis sejam tomadas.
Que elas duvidem de mim, eu até posso superar, mas me dói
profundamente que Henrique me olhe como se eu fosse uma criminosa. Sei
que não nos conhecemos bem, contudo, lá no fundo, pensei que ele soubesse
que eu jamais seria capaz de fazer algo assim. Seu semblante é de puro
desapontamento. Está tão perplexo quanto eu.
Não consigo me manter forte, então lágrimas de tristeza e injustiça
correm pela minha face. Sou incapaz de roubar alguém. Mesmo que esse
colar tenha aparecido em meu quarto, não fui eu quem o roubei. Deus sabe
disso.
— Posso me encarregar de tudo, senhor: da demissão e da ocorrência
policial. — a governanta se prontificou.
— Faça isso, Júlia! Mas não envolva a polícia! Não quero ver o nome
da minha família nas manchetes. Cuide de tudo para que não haja escândalos!
Agora, ele está insinuando que eu seria capaz de armar um escândalo?
— Não precisa se preocupar quanto a isso, senhor Prado. Eu não tenho
porque armar um escândalo. Mas não é por medo de ir para a cadeia, porque
não tenho. Esse colar pode ter aparecido no meu quarto, porém não fui eu
quem o coloquei lá. E quanto ao nome da sua família, não precisa perder seu
precioso sono. Sou incapaz de proporcionar problemas para outras pessoas,
mesmo que essas sejam as mais injustas que eu já conheci em toda a minha
vida. — argumentei friamente encarando seus olhos azuis sem temer, pela
primeira vez, desde que eu o conheci.
Dói muito saber que Henrique acredita que eu fui capaz de cometer
algo assim. Isso serviu para que eu nunca mais me deixe iludir por um
conquistador barato que só deseja roubar minha pureza. Quem é o ladrão
aqui?
— Vamos, menina! Não perturbe mais o patrão! Ele já está sendo
benevolente demais com você, ladrazinha. — Júlia disse.
— Eu não admito que me chame assim. Você é muito dissimulada.
Sabe que esse colar não estava em meu quarto, mas ainda me acusa.
— Jovens! Nunca admitem o erro. — Ri. — Peço perdão pelo
incômodo, senhor Prado. Agora mesmo vou providenciar para que ela deixe a
mansão o quanto antes.
A porta se abre e, nesse momento, Heloyse entra correndo em minha
direção, gritando.
— Não! Ninguém vai tirar a Stacy daqui! Por favor, papai! — Olha
para o pai enquanto está agarrada comigo e quase chorando.
— Helô, não chore meu anjo! Está tudo bem. — falei.
— Não está, não. Por minha culpa, eles vão te demitir. — Seu choro
parte o meu coração.
— O que quer dizer com isso? Por sua culpa? — Henrique perguntou.
— A única que deve ser castigada aqui sou eu. — pareceu uma pessoa
adulta falando. — Se forem chamar a polícia, que prendam a mim.
Ninguém está entendo nada do que ela disse.
— Explique-se filha!
— Papai, eu combinei com minha babá de brincarmos de esconde-
esconde.
— Eu não estou entendendo.
— Só que ao invés de me esconder, eu falei para a Stacy que iria
esconder um colar. Ela deve ter pensando que seria um dos meus. Então eu a
pedi para que fosse me pegar um lanche, para quando retornar, podermos
brincar.
— Você está me dizendo que...?
— Eu entrei no quarto da prima Mirella e peguei o colar.
— Você não devia ter feito isso.
— Eu sei. — Soluça. — Eu só queria esconder algo legal. Escondi o
colar no quarto da Stacy porque ela jamais iria procurar lá. E eu também
queria brincar com a prima Mirella. Eu ia lhe falar tudo, e assim ela iria
entrar no jogo também.
Henrique parece acreditar na filha. Confia muito nela.
— Nunca mais faça algo parecido!
— Eu prometo.
— Vamos conversar sobre isso. — Fica de pé e me encara bastante
envergonhado. — Creio que todos nós devemos desculpas para a senhorita
Fiore.
— Primo, eu acho que Heloyse está falando isso para proteger a babá.
— Não estou, não. Acredite em mim, papai!
— Eu confio plenamente na minha filha. — disse sério. — Uma pessoa
inocente foi acusada e todos devemos nos retratar agora. — ordenou.
— Peço perdão. — Júlia está irritada e inconformada, assim como
Mirella.
— Foi um equívoco. Desculpe-me, Stacy! — Mirella disse antes de sair
da sala junto com a governanta.
Tenho certeza que elas estão envolvidas nessa armação e que a história
contada pela Heloyse não é verdade.
— O senhor também deve desculpas à Stacy, papai.
— Eu sei, meu amor. Peço que me perdoe por isso e que, por favor, não
deixe que esse erro atrapalhe em nada o seu trabalho!
Enxugo minhas lágrimas e engulo o choro que ainda está preso. Minhas
mãos estão suando, assim como todo o meu corpo. Sou tomada por um
nervosismo inexplicável. Se não fosse por Heloyse, eu teria sido injustiçada
por algo que não cometi.
— Não se preocupe, senhor Prado! Estou aqui somente por Heloyse. —
deixei bem claro. — Agora, se me der licença, tenho um lanche para
preparar. — Saio da sala me sentindo um pouco aliviada por tudo ter sido
esclarecido.
Se Júlia e Mirella queriam me prejudicar, só perderam tempo e me
fortaleceram ainda mais. A partir de agora estarei mais alerta em relação às
duas.
O rganizo os últimos preparativos para a viagem. Meu coração está
palpitando fortemente dentro do meu peito. Só de pensar que em
poucos dias estarei em um país que fica em outro continente me faz
querer voltar atrás. Mas como minha mãe sempre diz, eu não posso desistir
diante dos meus medos e devo enfrentar todos eles.
Estou feliz por não precisar mais ter que ver a Mirella. Parece que
houve algo que a obrigou a voltar para a Alemanha. Estou tendo dias de paz
nessa casa desde que ela se foi. Depois que tive plena certeza de que a mesma
foi a responsável por ter tentado me incriminar, junto com a Júlia, passei a
evitar ficar próxima a elas. Sei que, lá no fundo, a governanta só faz o que lhe
é ordenado. É mais leal a esta família do que a si mesma.
Essa experiência me faz seguir mais forte e ter mais pulso firme toda
vez que me encontro com o senhor Prado. Eu não preciso mais fugir dele,
apenas mantenho a minha calma e serenidade. Parece que isso vem dando
certo, já que ele não investiu mais suas cantadas em mim. Talvez o episódio
do roubo tenha servido para alguma coisa. Meu patrão não me olha mais
como antes. Será que duvida de mim? Eu sei que não foi a Heloyse que pôs a
joia em meu quarto porque ela me confessou isso. Fez tudo aquilo para me
proteger. É uma menina de ouro. Fiz a pequena prometer que nunca mais irá
mentir, mesmo que seja para me salvar. Eu me emocionei ao ouvir suas
palavras. Ela confia em mim e eu sempre irei estar ao seu lado. Somente por
esse motivo não pedi demissão.
Neste mês, quando recebi meu salário, pude perceber que havia um
bônus extra. Perguntei para algumas empregadas de minha confiança se é
comum receber algo assim, e elas falaram que não. Deve ter sido porque
Henrique pensou que seu dinheiro pudesse me fazer esquecer a maneira como
ele me olhou naquele dia.
Devolvi o dinheiro para a Júlia. Ela, assim como eu, concordou que
ocorreu um engano. Nós evitamos falar uma com a outra, mas como a mesma
é responsável por esses assuntos, precisava saber.
Todo o trajeto foi tranquilo e bem menos demorado do que pensei que
seria. Heloyse dormiu por alguns instantes enquanto o senhor Prado estava
ocupado demais concentrado no notebook. Ele está sempre trabalhando.
Um carro nos espera no aeroporto particular onde pousamos. Visto um
casaco, fecho os botões do da Helô e coloco uma toca em sua cabeça para
protegê-la ainda mais do frio. Eu pensava que já tinha passado frio em São
Paulo, mas nada é tão congelante quanto esse alemão.
Logo chegamos à grande propriedade que mais parece um palácio real
por causa do seu tamanho e arquitetura projetada. É algo muito conservado e,
ao mesmo tempo, com um toque moderno e sofisticado. Por dentro é muito
luxuoso. Todo o estofado de couro e quadros renascentistas do ambiente
deixam qualquer pessoa deslumbrada.
Seguro na mão de Heloyse enquanto o senhor Prado fica à nossa frente.
Os empregados pegam as malas e as levam para os quartos.
Logo ouço uma doce voz que fala um português muito correto, quase
sem sotaque.
— Vocês chegaram! Eu estou muito contente e feliz! E meu português
é especialmente para a nossa convidada.
Fico em dúvida se ela se referiu a mim.
— Vovó! — Helô corre para abraçar a senhora.
A mulher é loira, alta e tem a pele rejuvenescida demais para ser uma
avó. A mãe de Henrique é bela, simpática e traja roupas elegantes. Não se
mostra ser uma mulher esnobe.
— Senti muita saudade de você, minha querida netinha! Como o seu
cabelo cresceu!
— A senhora está ainda mais bonita.
— Você é um amor. Mandei preparar seus bolinhos preferidos. — Ela
sorri e a neta comemora. — Você está mais magro, meu filho. — Abraça
Henrique. Apesar do corpo dele ser lindo e sarado, os cuidados de mãe
sempre devem ser levados a sério. — Senti sua falta. Como foi de viagem?
— Estou cansado, mas nada que um bom chocolate quente não resolva.
— Ela é quem eu estou pensando que é? — Seu olhar se direciona para
mim. Henrique, assim como eu, não compreende o que ela quis dizer. —
Você é muito linda!
— Obrigada!
— Diga-me! Você é a mulher que está mexendo com os pensamentos
do meu filho?
Arregalo os olhos com a sua pergunta. Minhas bochechas devem estar
coradas violentamente.
— Essa é a Stacy, a babá da minha filha.
— Pensei que fosse a namorada. — disse desapontada. — Seja bem-
vinda, querida!
— Obrigada, senhora!
— Pode me chamar de Hellen. — Sorri.
Hellen é uma mulher muito educada e cordial. É muito simpática
apesar de todo o dinheiro que possui. Ela faz questão de me acomodar em um
dos quartos de hóspedes. Recuso sua gentileza inúmeras vezes, mas a mesma
não me deixa escolher e diz que eu sou sua convidada. Mesmo sabendo que
sou a babá, deu um quarto luxuoso para mim que fica ao lado do da Heloyse.
Tenho que aceitar e me acomodar nesse lindo aposento com lareira e tudo.
Acho que não será difícil me acostumar neste país.
E u conheci o senhor Fernando Prado, pai do Henrique. Agora entendo
de onde vêm os olhos azuis profundos e intensos dele. Seu pai tem o
mesmo olhar. Ele é um senhor muito respeitador e gentil, assim como
sua esposa. Ambos são pessoas de bem. Fui bem acolhida no meio deles e
convidada para o jantar com um lugar posto à mesa para mim. Fico muito
tímida com esse convite e tento dizer “não”.
— Eu agradeço, senhor e senhora Prado, mas não precisam me
convidar. Eu posso comer com os demais funcionários na cozinha. Já estou
muito agradecida pelo quarto que me deram.
— Você é uma hóspede nessa casa e irá comer conosco. Não é mesmo,
Fernando?
— Sim. Eu faço questão.
— Eu falei que o vovô e a vovó são ótimas pessoas. — Helô sussurrou
próxima a mim.
Estamos sentados no sofá de uma das salas. Essa mansão é tão grande
que me perdi duas vezes tentando chegar aqui. Por sorte encontrei uma
empregada para me ajudar.
O voo da Megan foi cancelado, portanto ela só chegará amanhã para a
competição de hóquei no gelo. A família organiza todos os anos uma
competição e o time vencedor pode escolher todo o cardápio da ceia de
jantar. Esse jogo promete.
— Neste ano já posso jogar? — Helô perguntou.
— Claro que pode, meu amor! Se o seu pai permitir, sim. — Seu avô
caduca, como diz a minha mãe. Por Heloyse ser sua única neta, tem toda a
atenção somente para si.
— Você gostaria de participar, Stacy? — Dona Hellen me convidou.
— Agradeço pelo convite, senhora Prado, mas eu não sei andar de
patins.
— Eu te ensino e seguro na sua mão para você não cair. — Heloyse,
como sempre, foi gentil. — Você pode ser do meu time.
— Eu vou estar lá sim, porém para te prestigiar e aplaudir de pé quando
você ganhar.
Henrique desce para jantar e conversa com o pai sobre alguns assuntos
da empresa. Ambos têm uma inteligência fascinante e entendem de números
como ninguém. Já a dona Hellen é mais passiva e não se interessa muito
pelos assuntos da empresa. Ela mesma me confessou isso.
Helô está cansada, pois a viagem lhe deixou quase sem energias para o
jantar. Ela não costuma ser tão quietinha como está agora, a menos que esteja
exausta. Está muito frio lá fora. Após eu cobri-la e lhe dar um beijo, verifico
se a janela do seu quarto está bem fechada.
A noite está bem congelante e, ao mesmo tempo, belíssima. Eu ainda
não tinha parado para ver as luzes de natal nas árvores do jardim que mais
parece uma grande floresta particular, uma parte da Amazônia na Alemanha.
Foi assim que a senhora Hellen disse durante o jantar. Saio para o lado de
fora a fim de ver essa maravilha, encosto a janela para que não entre friagem
no quarto e fecho os botões do meu casaco. Mesmo de luvas, minhas mãos
estão congeladas. Agora contemplo a bela vista à minha frente. Esse país é,
realmente, maravilhoso.
Aproximo-me mais do parapeito, encostando as minhas mãos na
parede. Está tão gelada que eu as retiro dela imediatamente. Rio baixinho de
mim mesma.
— Stacy, você não entende nada de frio. É óbvio que estaria congelado.
— falei para mim.
— Não tinha como você adivinhar
Viro-me bruscamente, batendo-me de frente com o Henrique. Assim
como eu, ele está muito bem agasalhado e protegido.
— Aqui é muito frio. — comentei.
— Eu venho aqui todos os anos e passei uma boa parte da minha
infância nesse país, mas ainda não me acostumei com esse frio.
— Deve ser por isso que prefere morar no Brasil.
— Um dos motivos. — Sorri.
— Acho melhor eu entrar, senão vou congelar.
Ele se coloca na minha frente e me segura pela cintura com posse.
— Nunca vou permitir que isso aconteça. Eu te aqueço com o meu
abraço.
Seu abraço é muito caloroso, sua pele é sempre quentinha e suas roupas
o deixam ainda mais quente. Acabo aceitando seu abraço com muito mais
gosto do que imaginei. O frio me obriga a fazer coisas que não quero.
— Não é que o seu abraço não seja suficiente... Mas... Vamos entrar?
Por favor! — Meus lábios tremem.
— Há outras coisas que precisam ser aquecidas.
— O que...?
Sua boca invade a minha e sua língua pede passagem. Eu libero com
prazer. Quero ele com tanta urgência que já não raciocino mais. Seu hálito
quente e fresco evita que meus lábios congelam.
Não foi uma boa ideia eu ter vindo aqui para fora porque agora estou
dependente do seu abraço e do seu beijo. Recrimino-me por ser tão boba, mas
nada me fará parar de beijá-lo. Nada mesmo. Então sou interrompida por ele.
Seus olhos são um mar de luxúria e eu estou ofegante, com a respiração
pesada como nunca antes. Henrique me roubou todo o ar que eu podia
respirar. Mesmo assim, tudo com ele é magnífico.
— Vamos para o meu quarto! — Isso não foi um pedido, e sim uma
ordem.
Não tenho nem reação para contrariá-lo. Quando dou por mim, já estou
deixando o quarto de Heloyse e sendo levada por ele até o seu. Parecemos um
casal caminhando de mãos dadas pelo corredor. Henrique não aparenta estar
com medo de que alguém nos veja.
Ele abre a porta de madeira e a fecha em seguida. Seu quarto é muito
grande, confortável e ainda maior do que aquele em que estou. Analiso tudo
atenciosamente e sinto sua presença poderosa atrás de mim. Não estou com
medo dessa vez. A cama ao centro chama a minha atenção. Penso que beijar
não é pecado, mas que me entregar a um homem sem ser casada, com certeza
é.
Meu chefe me faz querer ir contra todos os meus princípios e razões. O
meu coração tem mais voz ativa do que a minha razão que me diz para fugir e
parar enquanto ainda é cedo. Eu sei qual dos dois está certo, mas já estou tão
envolvida que não sei se posso mais voltar atrás.
Henrique me abraça por trás e beija toda a área do meu pescoço
enquanto suas mãos tocam na minha barriga por baixo do casaco e da blusa.
Em um piscar de olhos, ele se livra da peça e me toma em seus braços. Eu me
agarro ao seu pescoço e ele me deita sobre o colchão macio e sedoso após
retirar seu casaco e largá-lo no chão. O peso do seu corpo cai sobre o meu e
seus beijos me arrancam gemidos que tento prender. Suas mãos ágeis e
rápidas abrem o fecho do meu sutiã.
— Não! — falei no impulso.
— Ei! Calma! Eu não vou fazer nada que você não queira.
— Eu deveria sair daqui.
— A porta não está trancada ainda. Pode sair quando quiser, mas eu
gostaria muito que passasse a noite comigo, mesmo que não aconteça nada
entre nós dois. — Seus olhos pidões de quem quer carinho são muito mais
irresistíveis do que eu poderia imaginar.
— Promete que não vai me obrigar a...?
— Obrigar? Eu jamais faria isso. Mas não vá! Dorme comigo! A noite
está muito fria para dormir sozinha. — Deita-se ereto e me chama para
acomodar a cabeça sobre o seu peitoral.
Hesito um pouco, contudo acabo aceitando após trancar a porta. Não
quero que ninguém nos flagre, principalmente sua filha. O que ela iria
pensar? De certo, ficaria chateada comigo.
Ele faz cafuné no meu cabelo e carinhos no meu rosto. Sua mão é
muito macia e perfumada. Pegamos um lençol para aquecer nossos corpos.
Os nossos pés juntinhos são como a sétima maravilha do mundo, para mim.
Estar ao seu lado me transmite uma sensação bastante boa de paz e
tranquilidade.
— Eu poderia passar os restos dos meus dias assim, com você. —
confessou.
— Um dia precisamos voltar pra casa.
— Eu poderia te sequestrar e te prender em uma das minhas ilhas
particulares. Assim teria você somente para mim.
Arregalo os olhos e fito suas íris azuis. Ele não parece estar brincando.
— Você não seria capaz.
— Você me faz querer quebrar regras.
— Não seria capaz. Heloyse iria perguntar por mim.
— Iria doer muito ver a minha filha triste, mas pelo menos eu teria
você só para mim.
Rio do seu comentário. Apesar dele ter tentado mostrar que estava
querendo descontrair, pude enxergar um tom de verdade em sua voz rouca.
Os minutos seguintes são de muita paz. Então eu adormeço após o
cansaço me dominar e passo a noite inteira em seus braços quentes e
calorosos. Como posso não me apaixonar ainda mais pelo CEO?
E u dormi ao lado de um homem! Estou em choque pelo meu
atrevimento e arrependida. Deixo seu quarto saindo na pontinha dos
pés com todo o cuidado para não acordar aquela sétima maravilha do
mundo. Henrique é tão bonito que não tem como não me arrancar suspiros.
Está dormindo muito lindamente. Não é possível que alguém seja lindo até
enquanto dorme.
Fecho a porta com cuidado para não fazer barulho enquanto seguro
meu casaco nas mãos e minhas botas debaixo do braço. Em seguida tomo um
susto ao me deparar com a figura da senhora Hellen parada à minha frente.
Ela me encara com um olhar enigmático e, ao mesmo tempo, parece satisfeita
com o que vê. Minhas bochechas coram violentamente. Fui flagrada saindo
do quarto de Henrique por sua mãe. O que ela deve estar pensando de mim?
— Senhora Prado, eu posso explicar. Não é o que a senhora está
pensando. — Todo o meu ser treme e um nervosismo gigantesco se instala
dentro de mim.
— Stacy, fique tranquila! Eu já imaginava que existisse alguma coisa
entre vocês dois.
— A senhora imaginava? — perguntei surpresa.
— Eu conheço o meu filho desde quando ele nasceu. — Sorri. — Eu
vejo a maneira como ele te olha e garanto que nunca o vi assim, nem mesmo
com sua ex-esposa. Sinto-me tão aliviada pelo meu filho, finalmente, ter
terminado o casamento com aquela mulher. — confessou.
Prefiro ficar em silêncio para não me meter em um assunto tão íntimo
de família, mas posso perceber que ela está mais leve por ter me falado isso e
me encontrado aqui.
— Querida, mude esse semblante! Não estou julgando você por não
resistir aos charmes do meu filho. Afinal de contas, ele é lindo. — disse
convencida. — Espero ouvir em breve que vocês estão namorando.
— A senhora é muito gentil e compreensiva.
— Eu só quero o melhor para a minha família, e sei que você é o
melhor para o meu filho e minha neta. Agora, vá se arrumar! Os meninos
costumam ser muito competitivos nos jogos de família.
Depois de um tempo, tomo meu café da manhã na cozinha com os
funcionários, mesmo tendo sido convidada para comer na mesa com a
família.
Que tipo de pai sou eu? Como não percebi antes todas as atrocidades
que Olga cometeu contra a nossa filha? Como pode haver uma mulher tão
insignificante como ela, do pior nível que existe? Maltratar Heloyse e torturá-
la psicologicamente é doentio. Eu sempre soube que ela não estava pronta
para ser mãe, já que éramos jovens demais quando nos tornamos pais, mas
jamais poderia desconfiar que a mesma seria capaz de levantar a mão para a
nossa menina.
Eu sabia que ela nunca foi uma boa filha e uma boa esposa, muito
menos uma mãe exemplar... Mas chegar ao ponto de fazer o que fez? Isso é
revoltante.
O ódio que sinto é tanto que sou capaz de matar essa vadia. Meu
sangue ferve quando eu a vejo na sala pousando de dama da sociedade,
educada e de prestigio. Tenho vontade de esganá-la.
Recomponho-me ao me aproximar dela e um sorriso falso toma conta
do seu rosto. Como eu pude ter me relacionado com essa mulher?
— Querido, estávamos falando sobre você. — pousou de boa esposa
para as minhas tias.
Eu sorrio educadamente sem demonstrar minhas emoções.
— Será que podemos conversar? — perguntei.
— Agora? Eu estou matando a saudade das suas tias.
— Agora! — falei duro.
Ela disfarça sua raiva e finge que está tudo bem na frente das pessoas.
Então me acompanha até o escritório. Fecho a porta sem trancar, pois seria
capaz de matá-la aqui mesmo.
— Henrique, se me trouxe aqui pra discutir por bobagens, eu te aviso
que não estou com paciência para você.
Encaro a megera dissimulada.
— Quem não tem mais paciência para você, sou eu. — falei rude. —
Você ainda tem a coragem de aparecer na casa dos meus pais, na ceia de
natal, como se fosse alguém da família?
— Eu sou da família. Ou você se esqueceu que somos casados e que
temos uma filhinha? A Heloyse.
— Não toque no nome da minha filha! — Bato com a mão sobre a
mesa, fazendo um barulho chato que a faz dar um salto. — Você não pode ser
chamada de mãe. Não depois de tudo o que fez com a Heloyse. Você é a pior
mãe de todas, a mais cruel.
— Querido, o que deu em você? — Seu semblante muda de repente.
Parece preocupada, e com razão. Sabe tudo o que fez para agir com temor.
— O que deveria ter dado há muito tempo. Se você não sair daqui
agora mesmo, da minha vida, e esquecer que existimos, eu sou capaz de
matar você.
— Henrique, você só pode ter enlouquecido.
— Eu sei o que você fez com a nossa filha. Ela me contou tudo. A
vontade que sinto é de te esganar. — Minhas mãos tocam em seu pescoço.
Estou com tanto ódio que quase a sufoco, porém logo vem à minha
mente a lembrança da minha linda filha. Se eu matar a Olga, ficarei longe da
minha princesa por anos.
— Acho bom você ir embora antes que eu perca o controle.
— Seja lá o que aquela criança te disse, não é verdade. Heloyse é
retardada, então confunde tudo e muito mais...
— Lave a boca para falar assim da minha filha! — gritei como um
louco. — Você não tem o direito de falar nada, sua vagabunda!
— Você está assim porque tem comido a babá? Só pode ser ela quem
enfiou essas coisas na sua cabeça lerda. Será que não vê que essa
mulherzinha só quer nos separar?
Como ela sabe o que está acontecendo entre mim e a Stacy? Bom... É
fácil deduzir. Mirella e ela sempre foram fofoqueiras. Eu diria que são da
mesma laia.
— Eu não quero mais ouvir sua voz e nunca mais ter que olhar nesses
seus olhos de vagabunda. Saia daqui agora mesmo! Ou eu te colocarei para
fora a pontapés.
— Tudo isso por causa de mentiras bobas de uma criança mimada e
porque está levando a babá para a cama? Quer saber? Vocês três se merecem.
— Aplaude. — O pai bobão, a filhinha mimada e a babá pobretona.
— Cale a boca, vadia! — rosnei.
— Cuidado, Henrique! Do mesmo jeito que eu te enganei, fazendo
você pensar que essa menina é sua filha, a babá também pode te dar um
golpe.
As suas palavras quase me desestabilizam e meu coração se aperta por
uns segundos. Essa cobra despejou seu veneno contra mim da maneira mais
cruel que existe. Ela sabe que sou louca por nossa filha, então falou que a
menina não é minha só pra me enlouquecer. Mas não há dúvidas: eu sou o pai
dela. Heloyse é minha copia em tudo; na personalidade nem se fala. Além
disso, nossa semelhança física é muito real.
Levanto minha mão para estapear sua face, só que a paro no ar. Não
vou me rebaixar ao seu nível. Apesar dela merecer muito, não vou agir como
ela agiria.
— Saia da minha casa antes que eu me arrependa!
— Eu saio. Porém, vocês não vão se verem livres de mim assim, tão
fácil. Eu vou voltar e acabar com a felicidade dos três patetas.
— Ai de você se ousar fazer algo contra a minha família! Vai pagar por
toda a sua maldade. A justiça irá te condenar a anos de prisão, e eu farei
questão de estar lá quando sua sentença for dada.
— Não ouse me botar na cadeia! Senão acabarei com a vida da sua
preciosa filha.
Não consigo me segurar após essa sua fala. Então estapeio seu rosto
com toda a força que tenho nas mãos. Sua face vira violentamente para o lado
e uma lágrima seca escorre por ela. Sua ira só fica maior.
Eu estou com sangue nos olhos e a mataria se não fosse pela porta
sendo aberta pelos meus pais.
Eles não estão entendendo nada do que está acontecendo. Olga tem um
lado do rosto vermelho e a mão sobre ele.
— Henrique, o que você fez? — meu pai perguntou preocupado.
Minha mãe está nervosa.
— Isso não vai ficar assim, Henrique Prado. Você vai chorar esse dia.
Eu vou destruir o que você mais ama nessa vida. — Sai apressadamente da
sala, passando pela minha mãe e quase a derrubando. Parece um furacão.
Busco acalmar a minha ira. Como desejo matar essa mulher neste
instante!
— Meu filho, por que você agrediu a Olga? — Minha mãe está
assustada com tudo o que aconteceu.
Quando explico tudo aos meus pais, eles compreendem o meu ato.
— Eu deveria ir atrás dela e matá-la. — meu pai disse irado.
— Calma, querido! A justiça será feita e aquela mulher nunca mais vai
chegar perto da minha neta.
Esfrio mais a cabeça e vou para o quarto da minha filha. Ela está
dormindo ao lado da Stacy. As duas têm um laço muito forte e bonito.
Heloyse a vê como uma mãe. Essa mulher rende todos à sua volta com seu
jeitinho, doçura e gentileza. Elas, uma ao lado da outra, parecem mãe e filha.
Deito-me do lado vazia da cama e minha pequena meio que acorda.
Sonolenta, deita a cabeça sobre o meu ombro e resmunga em seguida.
— Eu amo muito vocês dois!
Stacy nem sequer se mexeu. Está dormindo como um anjo, serena e
plena.
Hoje foi uma noite difícil, extensa e agitada, porém amanhã será um
novo dia para eu poder repensar sobre o meu futuro ao lado das duas garotas
que mais amo nessa vida.
S e existe felicidade plena, tenho certeza que encontrei a minha e de que
estou no caminho certo. Se antes eu tinha incerteza, hoje tenho
certezas. Agora, mais do que nunca, estou convencida de que Henrique
tem intenções sérias comigo.
Já na manhã seguinte, quando desperto no quarto da Heloyse, tendo ao
meu lado a princesa mais bonita do mundo, o seu pai lindo de olhos azuis, o
som da voz doce da pequenina e o toque de suas mãos suaves em minha face,
sei que estou em um paraíso, ao lado das pessoas que mais amo nessa vida.
— Bom dia, dorminhocos! Papai! — Encara a face dele e lhe lança um
sorriso singelo, puro. — Stacy, bom dia!
— Bom dia, princesa!
Meu olhar cruza com o de Henrique. Ele está com os cabelos
bagunçados, mas ainda assim continua lindo. Esse homem é como a sétima
maravilha do mundo.
— Vocês dois não vão dar um beijo só porque estão na minha frente?
Rimos com a pequena.
Henrique se levanta da cama, vem para o meu lado e me beija na frente
da sua filha com respeito. É um beijo singelo e respeitoso na testa.
Heloyse começa a bater palmas e pede para que nós nos beijemos como
um casal de verdade. Então seu pai me beija nos lábios com doçura.
Meu pai me liga da empresa querendo saber sobre sua neta e Stacy.
Ouço a voz da minha mãe na linha perguntando como está o nosso namoro.
Tenho a mulher perfeita para mim, e a cada segundo que passa, estou certo de
que estamos no caminho certo para a nossa felicidade. Para isso se
concretizar, só preciso colocar Olga atrás das grades de uma vez por todas.
Quero ser um homem livre.
E stou bastante feliz por minha mãe ter aceitado o convite para vir
jantar conosco. Confesso que quando eu soube que Henrique foi
conversar com ela sem me consultar antes, fiquei chateada, mas
entendo que isso foi apenas mais uma prova do que ele está disposto a
enfrentar para me ter ao seu lado. Sabe que a aprovação da minha mãe é
muito importante para mim e que eu não poderia viver bem sabendo que ela
não estaria ao meu lado, apoiando-me.
O jantar está delicioso e minha mãe está agindo naturalmente.
Encontra-se sentada ao lado de Heloyse, que sempre fala da sua satisfação
por saber que seu pai está me namorando. Logo é servido um vinho.
Minhas mãos estão suando um pouco e mamãe sempre sorri quando me
olha. Por um momento pensei que ela não fosse vir. Quando a vi entrar pela
porta, meu coração bateu aceleradamente e eu me senti mais aliviada. Agora
que nós quatro estamos jantando, já posso dizer que sou uma mulher de sorte.
— A senhora sabia que Stacy tem pesadelos? — Heloyse perguntou
para a minha mãe.
— Não sabia. Minha filha nunca comentou isso comigo. — Olha-me de
relance.
Eu balanço a cabeça, dizendo que não. Ela já está preocupada.
— Mas é verdade. Não é, papai? Em outro dia, no avião, você dormiu
na mesma cama que a Stacy e me disse que foi porque ela teve pesadelos.
Fico vermelha como um tomate. Não sei se rio ou se choro com essa. Já
minha mãe não sabia onde enfiar a cabeça. Enquanto isso, a única coisa que
Henrique faz é comer, prendendo o seu riso.
— O jantar está uma delícia. — mamãe comentou dando mais uma
garfada no bife acebolado.
Até o prato preferido dela, Henrique providenciou para que fosse feito.
— Que bom que está apreciando, senhora Fiore.
A sobremesa é servida: um delicioso creme de abacaxi. É o preferido
da minha mãe, e meu também.
— Fico grato por ter vindo, senhora Fiore. Eu queria ter preparado algo
mais especial para todas vocês, especialmente por causa do que pretendo
fazer em seguida.
— Está tudo muito bom, senhor Prado.
— Por favor, pode me chamar de Henrique! — Levanta-se da sua
cadeira e vem para o meu lado. — Eu quero que a senhora saiba o quanto sua
filha é especial para mim. — Estende-me uma mão.
Eu a seguro firme e fico de pé, mesmo sem entender nada. Ele quer
impressionar minha mãe, e parece que isso está funcionando.
— Pode parecer muito repetino, mas eu amo sua filha.
Posso ouvir suspiros atrás de mim. Foi cômico.
Minha mãe sorri para mim e eu volto minha atenção ao Henrique, que
me olha intensamente. Toda vez que ele me encara assim, sinto-me especial e
amada.
Ele me beija na testa, com respeito, e em seguida se ajoelha, pegando-
me de surpresa. Isso foi inesperado. Depois tira do bolso uma caixinha de
veludo vermelha sangue.
— Stacy Fiore, você aceita se casar comigo?
Fico sem palavras diante do seu pedido e do seu belo gesto de se
ajoelhar. Eu só tinha visto uma cena assim, antes, em filmes e novelas, e eu
sempre chorava com elas. Agora me sinto em uma telenovela onde o
mocinho me pede em casamento porque está apaixonado. Além disso, minha
mãe abençoa a nossa união.
— Sim, eu aceito.
Henrique pega o anel de brilhantes e coloca sobre o meu dedo anelar.
Sinto seu peso sobre o meu dedo e sorrio largamente. Meus olhos brilham e
os seus também. Ele se levanta e me dá um beijo romântico.
— Senhora, eu quero que acredite em mim quando digo que amo sua
filha e que a quero como minha esposa. Eu queria ter feito um jantar de
noivado maior, com meus familiares e amigos, mas preferi esse mais
reservado, pois desejo que compreenda que apesar de ter pouco tempo, sei
que Stacy é a mulher da minha vida. — Heloyse pigarreia divertidamente. —
Claro! Juntamente com a minha filha.
Ela sorri e bate palmas.
— Eu abençoo vocês. Se isso faz minha filha feliz, também me faz.
Essa é a melhor notícia que já recebi. Minha mãe está feliz por mim. Eu
não esperava por esse pedido formal. Henrique me pegou de surpresa. Para a
minha sorte, não desmaiei de emoção. Mal posso acreditar que em breve serei
sua esposa e que ele e sua filha serão minha família. Sempre quis ter uma
família grande, casar e ter muito filhos. Tenho muita sorte de já ter uma filha
de brinde.
— Um brinde aos noivos! — Helô propôs.
A felicidade que sinto não cabe dentro de mim. Pego minha taça.
Estamos prontos para brindar, quando ouço gritos.
— Saiam da minha frente, seus imprestáveis! Eu sou a dona dessa casa
também. — essa voz é familiar.
Meus olhos não acreditam no que veem. Olga Prado está diante de nós.
Heloyse se abraça à minha mãe, que a acolhe sem entender nada. A
pequena começa a tremer. Tadinha! É tudo culpa dessa infeliz que tanto lhe
fez mal.
Olga está vestida de preto, com os cabelos soltos e penteados, saltos
altos caríssimos, bolsa e joias. Esbanja luxo e ódio. A fúria em seus olhos é
algo assustador.
— Então você decidiu levar a doméstica para o altar? O que houve
dessa vez? Ela também engravidou? — referiu-se a ela, que se casou grávida
no passado.
— O que você faz em minha casa. Como entrou? — Henrique
questionou.
— Perdão, senhor! Ela chegou dizendo que veio ver a filha. Como o
vigia é novo, não sabia que a entrada dela é proibida.
— Estou proibida de frequentar a minha própria casa por causa de uma
babá que tirou todas as vantagens possíveis com o tolo do chefe?
— Tirem ela daqui! — ele ordenou.
Os seguranças tocam no ombro de Olga, mas ela os empurra e vem
furiosa na minha direção.
— Eu vou acabar com você, sua bandida! Você tirou a minha família
de mim.
Henrique se coloca na frente e a segura firmemente pelos pulsos. Ela o
olha furioso.
— Eu vou matá-la, e você não vai me impedir!
— Não ouse dar mais um passo se não quiser ser atirada na sarjeta!
— Na sarjeta, você já me deixou quando tirou todos os meus cartões de
créditos e cancelou a nossa conta conjunta. Não podia ter feito isso comigo.
Eu ainda sou sua esposa, então tenho os meus direitos.
— Todos os seus direitos se foram quando você ousou tocar na nossa
filha.
— Não é minha culpa que você crie uma menina frágil.
— Saia da minha casa, Olga, se não quer que eu ligue para a polícia
agora mesmo! Não complique ainda mais a sua situação com a justiça!
— E ainda ousou me denunciar como se eu fosse a bruxa malvada que
maltratou a pirralha. — Henrique está em fúria, assim como eu. — Solte-me!
— Ela se solta e aponta um dedo para mim. — Você não vai sair vitoriosa.
Eu vou te destruir!
— Não ouse ameaçar minha filha! — Minha mãe toma a frente de
Olga.
Ela a olha soberba, enchendo-me mais de raiva.
— Logo vi que é a mãe da ex-criada. Você sabia que sua filha é da
mais baixa qualidade? Sim! Porque uma mulher que se deita com o chefe em
troca de uma vida financeira estabilizada, só pode ser uma garota de
programa.
Mamãe mete a bofetada no rosto de Olga. A mesma tenta revidar, mas
minha mãe é mais rápida e segura sua mão. Em seguida lhe dá outro tapa.
— Lave bem sua boca antes de falar da minha filha! A imunda aqui é
você.
Olga está furiosa por ter perdido dinheiro e por ter uma audiência com
o juiz sobre maus tratos à filha. Quero vê-la apodrecer atrás das grades.
— Todos vão me pagar! — Dá a volta na mesa, tentando se aproximar
o máximo de mim.
Henrique liga para a polícia.
Nossos olhares estão fixos um no outro e ela despeja todo o seu veneno
em palavras.
— Isso não vai ficar barato. Lembra que eu te disse que iria tirar tudo o
que você mais ama? Eu poderia destruir facilmente essa menina frágil que
você tanto adora, mas você ainda viveria, superaria e seria feliz com esse
desgraçado do meu marido. Mas eu decidi fazer algo mais interessante,
como... — Saca uma arma da bolsa e a aponta na minha direção. — Matar
você. Adeus, infeliz! — Dispara.
O tiro vem ao meu encontro. Como em câmera lenta posso ouvir minha
mãe gritar meu nome e Henrique correr na minha direção para segurar minha
queda. A bala me acertou em cheio e a dor queima. É escaldante, ardente e
quente. Estou nos braços do homem que amo. Será que morrerei neles?
Sinto-me gelada e com frio. O resto da cena não está mais sob meu controle.
Alguém aperta fortemente o local onde a bala pegou. Eu ouço o choro da
Heloyse e a voz do meu amor pedindo para que eu me mantenha acordada.
Tudo dói, entretanto não consigo dizer o quanto é dolorido. A minha visão
fica turva e eu não sei mais quem está diante de mim ou quem fala comigo. Já
não ouço mais vozes. A escuridão toma conta das minhas vistas.
O som dos bipes dos aparelhos respiratórios é algo que me deixa
nervoso. Não costumo ser um homem de crenças, nem de orações,
mas hoje, pela primeira vez em muito tempo, estou clamando por um
milagre. A bala pegou entre o abdômen e o tórax da Stacy, deixando-a muito
debilitada. Foi feita uma cirurgia assim que ela deu entrada no hospital. Fiz
questão de trazê-la ao melhor da cidade. Mesmo assim, sua perda de sangue
foi muito grande e ela precisa de doação urgentemente. No entanto, isso não é
algo que está sob o meu controle, porque seu tipo sanguíneo é “O”, muito
raro, e o hospital não tem o suficiente para ela. Os médicos falaram que se
não doarem até amanhã, seu quadro pode se agravar, e muito.
Urla está sentada ao lado da filha segurando sua mão. Não parou de
derramar lágrimas por nenhum minuto desde que Olga atirou contra a Stacy.
O ódio me consome por inteiro. Como aquela infeliz foi capaz de atirar em
alguém? O que mais me causa ira é saber que ela conseguiu fugir da minha
casa. Sabe-se lá onde está escondida. O delegado tem um mandado de prisão
para quem encontrá-la e a notícia já está correndo pelos jornais da cidade.
Com isso, há repórteres na porta do hospital querendo explicações de minha
parte.
O doutor entrar no quarto novamente, obtendo nossas atenções.
— Não há nenhuma doação ainda e o quadro dela está cada vez mais
delicado. Não podemos dar mais processo à segunda cirurgia para tentar
remover a bala sem a doação de sangue. Sinto muito! Ela pode falecer.
Levo minhas mãos à cabeça, em desespero. Se eu pudesse comprar o
sangue, já teria feito isso, mas no momento, ele não está disponível em
nenhum local onde se possa ir buscar. A equipe médica já fez todo o possível
para remover a bala, mas não conseguiram por conta da quantidade de sangue
que Stacy já perdeu. Foi necessário fechar o corte para não infeccionar mais.
Ela esta sedada, não sentindo dor alguma, mas sua febre só aumenta por
conta da bala que ainda está em seu corpo muito profundamente. A cirurgia é
de risco.
— Minha filha não vai falecer. — Urla disse séria. — Eu sei quem
pode doar o sangue. Só peço que me leve a um lugar.
Imediatamente pego o carro e a levo até o endereço que ela me passou.
É um condomínio de luxo onde há vários apartamentos e propriedades
caríssimas. Limito-me a perguntar mais sobre o que ela veio fazer aqui. Pude
notar que durante todo o trajeto, veio inquieta, como se desejasse não vir a
esse lugar.
— Você deve esta se perguntando o que vim fazer aqui.
— Não precisa me contar se não se sentir bem.
— Stacy não sabe sobre a existência desse homem. Na verdade, ela
pensa que Gustavo Montenegro faz parte do passado de uma grande amiga
minha. Mas não é assim. Eu trabalhava na fazenda do senhor Montenegro.
Era assim que todos o chamavam, e era assim que ele preferia que se
dirigissem a ele. Em certa noite, quando eu estava em meu serviço de
faxineira, esbarrei-me com esse homem. Alto e olhos castanhos de tirar o
fôlego. Não deixei me envolver em um primeiro momento, então ele
começou a me perseguir. Não notei de início, mas sempre era eu quem servia
suas refeições, até mesmo em seu quarto, à noite. Ele queria que eu o
esperasse terminar de comer todas às vezes. Era algo de muito incômodo para
mim, mas na minha cabeça, eu estava fazendo meu trabalho. — Parece
reviver esses momentos na cabeça. — Foram tantas tentativas de sua parte
que em uma delas, eu me entreguei. Gustavo foi o meu primeiro amor e eu
estava apaixonada. Mesmo sabendo que ele era um homem rico e poderoso,
eu tinha esperança de nos casarmos. Mas um dia sua mãe descobriu tudo. Ela
sabia da minha gravidez, mas ainda assim conseguiu convencer o filho dela e
me colocar para fora da sua vida para sempre.
— Stacy é filha desse homem?
— Eu estava grávida, sem trabalho, sem família e sem ninguém. Estava
vagando pelo campo quando encontrei com o homem que me acolheu e me
recebeu mesmo sabendo minha condição. Ele criou minha Stacy como sua
filha e até a registrou. Juramos nunca revelar nada sobre esse ocorrido. Por
isso tive tanto medo da minha filha sofrer ao seu lado. Mas agora que sei que
você é um homem bom, peço perdão.
— Eu compreendo a senhora. Não precisa me pedir perdão. Só queria
proteger a sua filha.
— Obrigada! — Enxuga as lágrimas com o lenço que eu lhe dei.
Sua história é digna de cinema.
— A senhora acha que esse homem pode ajudar a Stacy? Ele sabe de
sua existência?
— Ha três dias ele me procurou dizendo que sabe que temos uma filha
e que a viu no dia em que ela chegou de viagem. Eu tentei negar tudo, mas
sua mãe o confessou no seu leito de morte. Agora quer manter laços com a
Stacy. Coloquei-o para fora e disse que não precisamos dele. Porém, agora
ele é o único que pode nos ajudar.
— Então vamos falar com ele imediatamente!
Devo ter desmaiado por alguns segundos por conta da emoção. Acordo
já na cama do hospital mais uma vez. A segunda nesta noite. Meu histórico
com hospital não é um dos melhores e me sinto apavorada por estar em
lugares como esse. Mesmo sabendo que é para o meu bem, não gosto desse
tipo de lugar.
Henrique está ao meu lado fazendo carinho no meu rosto.
— Que bom que despertou. Como se sente?
— Bem. Eu desmaiei por qual motivo?
O doutor entra na sala nesse momento trazendo consigo um papel.
Henrique diz que uma amostra de sangue minha foi tirada para exames de
rotina quando. Dei entrada no hospital por conta de inalação de fumaça e,
agora, já tenho os resultados em mãos.
— O que ela tem, doutor?
— A notícia é muito boa. Não sei como não percebemos quando a
operamos da bala.
— O que o senhor quis dizer com “boa”? — perguntei.
— Muito boa. A senhora está grávida de duas semanas. Meus parabéns
aos futuros papais!
Grávida? Minha menstruação está mesmo atrasada, mas não pensei que
fosse gravidez. Se estou grávida de duas semanas, meu bebê foi gerado
quando ainda estávamos na Alemanha.
Henrique carrega um sorriso largo na face. Seremos papais. Eu não
poderia pedir algo melhor. É uma notícia ótima para terminarmos a noite.
G rávida! Eu estou grávida! Minha ficha ainda não caiu. Eu me olho
no espelho toda hora para ver se minha barriga cresceu. Não acredito
que serei mãe. Sempre quis ter uma família grande e já estou
começando a realizar isso. Lágrimas escorrem pela minha face. Só de saber
que estou carregando um ser minúsculo em meu ventre faz eu me sentir um
amor tão grande que não sei explicar.
Heloyse vibra com a notícia. Ela está tão feliz que lança a seguinte
pergunta:
— Como o meu pai colocou um bebê dentro da sua barriga?
Eu fico sem respostas e Henrique fica “mudo”. Contenho-me para não
rir. A sua inocência é muito linda. Que se preserve assim sempre.
— Responde, papai! Como foi?
— Eu... Bem, filha... Foi porque eu desejei muito ter um filho e meu
pedido se realizou.
— Legal! Eu vou desejar que sejam gêmeos. — Vibra com isso e sai
correndo de alegria gritando pela casa que terá irmãos gêmeos.
Quanta energia em uma só menina!
— Parabéns, Stacy! — Megan abraça a mim e em seguida o irmão. —
Desejo que sejam muito felizes. Estou bastante ansiosa para o casamento de
vocês, principalmente porque serei a madrinha. Estou louca pra discutimos as
palhetas de cores. Já ouviu falar em vermelho bombom?
— Acho que sim. — respondi.
Hoje é um dos dias mais felizes da minha vida. Estou me casando com
a mulher que amo, a mãe dos meus filhos, minha companheira e, também,
melhor amiga.
Gustavo traz sua filha para mim e me entrega para que eu cuide dela e a
ame pelo resto da minha vida.
Stacy se assemelha a um anjo. Seu vestido branco e longo é digno de
uma princesa, revelando toda a sua pureza. Sim, a mãe dos meus filhos é uma
mulher pura, inocente e carinhosa. Amo a maneira como ela fica vermelha
todas as vezes que minha boca beija a sua boceta. Essa mulher me leva à
loucura e me faz querer sentir seu toque a cada segundo dos meus dias. Posso
me considerar um homem de sorte. Ter Stacy é o mesmo que ganhar na
loteria. Ela é a perfeita para mim, a única que eu poderia querer.
Se eu listasse todas as suas qualidades, passaria o resto da minha vida
falando sobre isso. Ela e Heloyse estão em uma conexão linda. Minha filha
entra trazendo as nossas alianças.
Na hora do “sim”, não contenho algumas lágrimas. Stacy também está
muito emocionada, assim como sua mãe, que chorou durante toda a
cerimônia. Urla compete com a minha mãe. Ambas estão muito felizes por
nós.
Meu pai está contente e é o primeiro a me parabenizar depois que o
padre nos declarou marido e mulher. Sim! Agora somos um só para toda a
eternidade.
Na hora de nos juntarmos para a foto em família, Stacy segura Gena em
seus braços, e eu o Zeke. Heloyse, minha primogênita, ficou no meio. No
momento do típico “X”, todos sorrimos para a foto mais perfeita que já
fizemos.
Dançamos uma valsa. Não vejo a hora da nossa viagem de lua de mel
começar. O destino será as praias de Cancún, no México. Serão quinze dias
apenas para nós dois. Como Stacy não quer deixar as crianças sozinhas,
concordamos em trazê-las conosco por causa dos gêmeos serem muito
pequenos para ficarem longe da mãe.
Fim
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A OBSSESSÃO DO CEO
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Stheven Foster é o chefe executivo da Hollings International Foster, uma
empresa de alta tecnologia com sede no Reino Unido e com filiais em todo o
mundo.
Aos 40 anos, Stheven pode se considerar um homem de poder e
influência. Sua vida é regada de mulheres e farras quando as câmeras não
estão registrando sua imagem de “bom moço”. É um homem frio e arrogante
que tornou-se ainda mais prepotente e amargo após a morte de sua esposa e
filha há alguns anos. Tal fatalidade foi capaz de mudar sua vida para sempre.
O homem não acreditava mais no amor, até vê-la. Como irá conviver com
esse sentimento arrebatador e dominador?
Camilla Roberts não passa de uma menina sonhadora em busca de
estabilidade financeira. Após completar a maior idade, precisou deixar o
orfanato onde morava e seguir sua vida com algum pouco dinheiro que as
freiras lhe deram. Ela encontra morada com duas amigas que também
habitavam no lar para crianças abandonadas, mas que agora vivem em um
apartamento modesto e afastado do centro, porém confortável.
A moça acreditava no amor mais que tudo nessa vida e só queria ser
amada.
A vida de Camilla está prestes a mudar para sempre ao cruzar seu destino
com o do Stheven, um homem frio e arrogante. Como ela irá lidar com isso?
SOB O DOMÍNIO DO SHEIK
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Zyan Mohammed Youssef Al-mim é o atual Sheik do país. Um homem
poderoso que não conhece limites. Ele é o limite de tudo e de todos, hoje aos
31 anos Zyan, se tornou um homem bastante respeitado e temido por todos a
sua volta. Um reinado perfeito, uma esposa que o ama e lhe proporcionou
uma descendência futura, com a chegada do seu filho.
Algo atormenta Zyan, um passado escuro o perturba até os dias de hoje.
Como ele desejava voltar no tempo e poder corrigir aquele erro.
Layla Nabih Bashar é uma jovem sonhadora e destemida. A vida nem
sempre foi perfeita para ela, após a morte de seu amado pai, Safira sua mãe,
se viu totalmente perdida ao descobrir que a família de seu marido iria tomar
a criança para eles, deixando-a totalmente de lado, com a intenção de mandá-
la de volta para seu país.
Safira então decidi fugir com Layla, para os Estados Unidos, um país onde
haveria muitas oportunidades para trabalhar e educar a sua filha.
Após uma noite terrível, Layla e sua mãe mais uma vez precisaram sair as
presas do lugar onde vivem, indo morar no Brasil. Estando lá a alguns anos,
com uma vida estabilizada, algo mudará a vida da moça para sempre.
Um encontro capaz de deixar Zyan, completamente perturbado.
Uma bela jovem de um sorriso encantador acaba roubando o coração do
Sheik, sem nem ao menos perceber.
LOUIS - UM CONTRATO DE AMOR
Link: https://amz.onl/ai0GNRI
Louis Harrison é um empresário britânico de 31 anos, solteiro e galã. Todo
dia uma mulher diferente está em sua cama, muitas delas. Ele está sempre
acompanhado das mais belas socialites britânicas. Se apaixonar não está em
seus planos. Louis tem a vida mudada quando sua mãe exige um casamento
para ele, alegando que já que está mais do que na hora.
A família Harrison precisa garantir um herdeiro para comandar seus
negócios, e tem que ser um homem. O único problema é: que mulher
aceitaria um contrato onde impede que ela crie o seu próprio filho?
Isabella Silva é uma jovem brasileira de 22 anos e estudante de medicina
pediátrica em uma das mais renomadas Universidades da Inglaterra, a
Universidade de Cambridge. Ela tem sua vida transformada quando recebe
uma grande e dolorosa notícia sobre o seu pequeno irmão.
O destino a obriga a entrar numa confusão e a garota se vê indecisa entre
aceitar ou não o tal acordo. A vida de seu irmão está praticamente em suas
mãos. Ela aceitará o contrato, mesmo tendo que abrir mão da futura criança,
pelo bem-estar de seu irmão?
O que o futuro os reserva?
UM MAFIOSO: OCCHI NON AZZURRI - LIVRO 1
Link: https://amz.onl/7VE6GlH
Enrico Grego é um chefe de máfia, que desde cedo aprendeu a ser um
homem frio e calculista. Foi criado para despejar ódio pela terra, ser
implacável com os inimigos, frio com as pessoas que o cerca e temido por
todos a sua volta. Convicto de suas responsabilidades desde o dia em que
veio ao mundo, sabe que está na hora de tomar sua prometida para si,
tornando a garota sua esposa, mesmo contra a vontade dela. Um homem
sombrio e cercado de mistérios trevosos aprenderá que nem tudo na vida
acontece da sua maneira.
Giovanna Prattes é uma menina indefesa e inocente que se vê numa
situação indelicada ao descobrir que está prometida ao temido chefe de uma
máfia. Contra a sua vontade, ela e sua família se mudam para a Itália, onde
aprenderá que nem tudo sempre foi magia e que seu mundo de “faz de
conta”, não passa de uma grande ilusão.
Um romance movido por segredos do passado!
ENZO GREGO: O PRÍNCIPE DA MÁFIA - LIVRO 2
Link: https://amz.onl/6tYo5ir
Enzo sempre viveu na sombra do seu irmão mais velho, o poderoso Enrico
Grego. Desde pequeno fora acostumado a ser sempre o seu braço direito, mas
agora, depois de anos sendo sempre o segundo em tudo, Enzo finalmente
assumirá seu cargo de chefe da máfia francesa, casando-se com a não tão bela
jovem Luana.
Luana sempre criou expectativas em relação ao seu casamento. Ela o viu
apenas algumas vezes, mas isso foi motivo o suficiente para se apaixonar
perdidamente pelo belo Grego.
Sempre sozinha, Luana busca nesse casamento poder ter novamente uma
família de verdade, já que seus pais morreram em um acidente de carro há
alguns anos. Seu único parente vivo é o seu primo, do qual o respeita e o tem
como irmão.
Um casamento de interesses poderá um dia passar disso e se tornar algo a
mais? Você seria capaz de viver um amor em vez de querer ser o chefe?
ANASTÁCIA GREGO: A RAINHA DÁ MÁFIA
(Livro 3)
Link: https://amz.onl/35gJk58
Anastácia sempre foi a revoltada da família e nunca teve direito a nada por
ter nascido mulher. Inconformada com a realidade em que vive, sempre foi a
mais direta dos Grego e a única capaz de dizer tudo o que pensa das pessoas.
Uma menina mulher de língua afiada.
Cansada de ver os irmãos sempre terem tudo e tratarem suas esposas como
capachos, principalmente seu irmão Enzo, que faz da vida da sua mulher um
verdadeiro inferno, tomou uma grande decisão. Enfim decidiu que iria
enfrentar todos os seus medos e ser feliz acima de tudo.
Sempre viveu um amor escondido ao lado do seu amado Thiago, até que
um dia seu irmão Enrico autorizou esse namoro e desfez o compromisso que
ele mesmo tinha selado para ela com Andrei Barkov, chefe da máfia russa.
Até aí tudo bem. Compromissos são desfeitos todos os dias. Mas não no
mundo da máfia. O terrível Andrei Barkov, inconformado com o
rompimento, tinha apenas um objetivo: se vingar da família Grego através da
jovem e bela irmã caçula
SUBMISSO DO SEU ENCANTO
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Elisa sempre foi dona de uma beleza fora do comum e de um sorriso
estonteante capaz de despertar a atenção de todos por onde quer que passe.
Nascida e criada no Rio de Janeiro, moradora de favela, sabe desde sempre o
que é ser discriminada pelas demais pessoas. É acostumada a sentir na pele a
dor do preconceito racial, por ser negra, pobre e favelada. Contudo, desde
sempre carregou no peito uma garra, uma determinação e um foco a ser
seguido, um objetivo.
Prestes a se formar em direito, seu maior sonho é um dia poder se tornar
advogada, e juíza futuramente, para poder dar uma vida mais confortável para
sua mãe, a mulher que ela mais admira nesse mundo.
Débora, que sempre fez de tudo para ver sua filha chegar longe, esconde
segredos do passado que a atormentam. Seu maior sonho é poder ver Elisa
chegar muito longe e realizar os seus sonhos.
Já Matthew Lansky sempre teve tudo da sua maneira. Nascido em “berço
de ouro” e herdeiro de uma das maiores empresas do país, é filho de um
grande capo da máfia americana. Ele se vê completamente apaixonado pela
morena de cabelos crespos e com o sorriso adorável capaz de fazer seu
coração acelerar.
Acostumado a ter as mulheres que sempre desejou, Matthew se encontra
completamente obcecado pela jovem brasileira. Seu maior objetivo é torná-la
sua, nem que para isso precise enfrentar todo o mundo para ter a sua morena.
LANÇAMENTO EM MARÇO
Box Cretino irresistível