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Mariza Veloso e Angélica Madeira bas foi escrito por uma jte6rica da literatura e por uma antropéloga. Essas duas origens intelectuais se refletem no titulo. Para a tedrica da literatura, Angé- lica Madeira, os textos que ela vai comentar sio por sua ver leituras, € nao expresses univocas de uma objetividade externa. Leu, fez seus alunos lerem © quer fazer-nos ler as leituras que diferentes autores fizeram do Brasil, quase sempre bascaclos em fontes escritas, isto é, em outros textos € outras leitu- ras, Ela maneja com virtuosismo, em suma, um dos principais con- ceitos da moderna teoria literéria, o daintertextualidade, segundo 0 qual todo relato é sempre uma réplica, um didlogo que se estabe~ lece com outros relatos. A antro- péloga, Mariza Veloso, parece ter partido da analise estrutural das diferentes variantes do mito de Fidipo, feita por Lévi-Strauss, & terse convencido de que o autor tinha razao quando afirmou que essa andlise devia ser cncarada como uma nova variante do mito, um mito ao lado do mito, e nao como sua decifragao, E por isso que ela nfo vé nada de chocante na idéia de que uma andlise das leitu- ras fem 0 mesmo estatuto do seu objeto, isto 6, constitui também uma leitura, uma leitura das leitu- ras, e nao um discurso cientifico. Dai a riqueza € a ambigitidade do titulo: Leituras brasileiras sig- nifica uma leitura dos textos por LEITURAS BRASILEIRAS Itinerdrios no Pensamento Social e na Literatura Mariza Veloso Angélica Madeira LEITURAS BRASILEIRAS Itinerdrios no Pensamento Social e na Literatura 2 edicéo Revista PAZE TERRA © Matiza Veloso Motta Santos ‘Maria Angélica Madeira CIP. Brasil. Cataiogagio-Na-Fonte (Sindicato Nacional dos Eaitores de Liveos, RJ, Brasil} Leituras brasileira: itinerdrios no pensamento sacial ¢ ma litecatura Mariza Veloso Motta Santos, Maria Angélica Madeira ‘Sio Paulo: Paz e Tetra, 1999, ISBN 85-219-0522-7 Incluibibliogeaia S236 1. Culeura — Brasil. 2. Brasil — Vida intelectual, 1. Madeira, Maria Angélica, 1950-, Il. Tieulo. 99-0062 cDD-981 cDU-981 EDITORA PAZ E TERRA S.A, Rua do Triunfo, 17 01212.010 — Séo Paulo-SP “Tels (011) 223-6522 Rua Dias Ferreira n° 417 — Loja Paste 2431-050 — Rio de Janeiro-RJ ‘Tel. (O21) 259-8946, 2000 Impresso no Brasil / Printed in Brazil [Agradecemos ao Embuixador André Amaclo pelo apoio a0 nosso trabalho no Instituto Rio Branco. Agiadecesnos eambém a Cecilia Londres, Lippi e Vilma Figueiredo, que, com seus ¢0- mentirios, colaboraram pata aprimorar este texto, Nossos alunos do Instituco Rio Branco ¢ da Universidade de Brasflia foram um permanente estimulo durante a elaboragio dleste trabalho, “Ban cada Gpoca deverse Fee a centativa de arancar a tradigio do campo do conformismo que est sempre proses a subjugicl.” 7 W. Benjamin INDICE APRESENTAGAO — Lui Felipe Lamprein : u PREFACIO — Sergio Paulo Rouanct ....cscsecseveseeseee 1B 1, POR QUE LEITURAS BRASILEIRAS?.......0..00.065 27 2. ITINERARIOS E MOLDURAS.........2.+ wee M5 Configuragio histdrica e campo intelectual. 245 A pritica discusiva ea intercexeilidade 50 3, SECULO XIX: PAISAGENS DO BRASIL... 59 A protoformagio do campo intelectual 0 A formagio por meio de olhat esrangeiro 65 Final do sé XIX : : 75 4, TRAGOS E RITMOS DA MODERNIDADE BRASILEIRA . 89 Modernismo: um modelo de consteucao coletiva 297 A mecéfora ancropofigiea na cultura brasileira weve 104 5. MARIO DE ANDRADE: A FUNGAO PUBLICA DA ARTE E DO ARTISTA ...... Soe cece WD A-concepeio de cultura... seve WD Acrelacio entre cultura e arte. uy Elemenios consticutivos do nacionalismo exético. 12 © particular ¢ 0 universal: a mediagio da tradigio Ls ‘A questio do patsiménio na temitica da cultura e da Historia... : 130 6. GILBERTO FREYRE: UMA LEITURA CRITICA, 135 ‘Os contextos cultural ¢ hiserico das décadas de 1920, 1930 € 1940 Sacer 136 Gilberwo Feeyre: a singularidade do autor ¢ sua obra... 148 Casa grande & senzale:\eivara contempordnea de uma obra clissca 157 7, SERGIO BUARQUE DE HOLANDA: RAIZES E RIZOMAS DO BRASIL... 2. ceeeees : 163 8, DEBATES INTELECTUAIS DOSANOS 1950, 1960 E 1970: ENGAJAMENTO E CONTRACULTURA, seve 179 Questées contemporineas: novos ordenamentos socials -...... 194 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS «0.266606 000¢000005 201 10 ; APRESENTACAO As vésperas do terceiro milénio, quando os analistas mais re- nomados ainda tentam mapear os efeitos das mudancas que, em tio pouco tempo, revolucionaram as estrueuras de poder, as relacbes ‘entre 05 patses ¢ 2 visio do mundo contemporineo, 0 Itamarary promove o langamento de um livro de discussio sobre a cultura brasileira Somos um Ministério vocacionada & defesa e 4 projecao dos interesses nacionais no exterior ¢, por isso mesmo, temos o dever profissional de conhecer o Brasil, de mancira objetiva ¢ abrangente. Estou convencido, assim, de que estudo do proceso de for: magio da cultura brasileira constitui um dos mais importantes ins- ‘trumentos para 0 exercicio adequado da Fangio diplomética, Com- preendendo melhor quem somos, como povo e nagio, poderemos atuar, com maior autoridade, no cenatio internacional, em favor de regras € priticas que privilegiem a convivencia pacifica, a solidae riedade nos esforgos de desenvolvimento e a justiga para todos. Desde 1993, portanto, o Instituto Rio Branco (IRB1) incluiu, no curriculum do curso bisica dos jovens diplomatas, uma matéria denominada “Leituras brasileias”, com o objecivo de discutir a evo- lugio do nosso pensamento social, ao amparo de estudos proveni- entes de virios campos do conhecimento, como a Histéria, a Socio- logia e a Antropologia, e de priticas estéticas, como a Literatura, as Artes ¢ 0 Cinema, © éxito da iniciativa animou o IRBr a encomendat as profes- soras Mariza Veloso e Angélica Madeira a preparacio de uma versio compactada do curso para ser apresentada em centros universititios no exterior que se interessassem pelo estudo de temas brasieiros. A u partir de 1996, “Leieuras brasileiras” jé foi ministrado na Fundagio Centto de Estudos Brasileiros (FUNCEB) e no Centro de Extensio a Faculdade de Filosofia ¢ Letras da Universidade de Buenos Aires, zna Argentina, ¢ no Centro de Estudos Latino-ameticanos da Uni- versidade de Berkeley, na Califérnia, estando previstas no s6 sua reedigo nesses mesmos centeos, mas também uma primeira expe- Fiencia no Departamento de Estudos Brasileiros ¢ Portugueses da Universidade de Brown, em Rhode Island, nos Estados Unidos. Como resultado dessasatividades, as professoras Veloso e Ma- deita escreveram esce livro, que tenho o prazer de apresentar a0 pablico bras prescindivel de reflexiio sobre a dinimica de nossa cultura, do pe- rfodo colonial aos dias atuais, por meio dos debates mais relevantes relacionados com a construgio da idéia de nagio ¢ a recepsio no Brasil das iddias estrangeitas. Pela oportunidade dessa reflexio, a Comisséo Nacional para as Comemoragdes do V Centenario do Descobrimento do Brasil decidiu colaborar com a publicagio do iro, Leituras brasileira constitu um documento im- Sergio Paulo Rouanet, diplomata de carreira e dos mais res- peitados pensadores brasileicos, guia-nos, no prefécio que se segue, nia estimulante viagem que as professoras do IRBr nos convidam 2 fazer pela evolucio de nosso pensamento social Esrou seguro de que, a exemplo do papel do curso de “Lei- taras brasileieas” para a formagio intelectual e a atuagio profissional de nossos diplomatas, este livro resultard em importante contribui- ‘si0 para todos que queiram aprofundar conhecimentos sobre a rica ¢ diversficada trajet6ria da cultura brasileica Luiz Felipe Lampecia Ministro das Relagies Exteriores 2 PREFACIO Sergio Paulo Rouanee Este livio foi escrito por uma teérica da literatura € por uma ancropéloga. Essas duas origens intelectuais se reflerem no sfculo, Para a ce6rica da literatura, Angélica Madeira, os textos que ela vai

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