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AÇO E MADEIRA
Estruturas de
madeira
Mario Sergio Della Roverys Coseglio
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A madeira apresenta um conjunto de propriedades e características que a tornam
uma opção atrativa para muitas aplicações, com destaque para a indústria da
construção. Em relação a outros materiais convencionais utilizados em estruturas,
um aspecto favorável da madeira é a sua excelente relação entre resistência e
peso. Além disso, a madeira é um recurso natural e renovável, além de possuir
outros aspectos positivos que favorecem a sua extensa aplicação na construção,
como, por exemplo a facilidade de fabricação (em particular o corte e a usinagem),
a ausência de ferrugem e até mesmo a sua aparência. Em contrapartida, a madeira
apresenta algumas desvantagens, tais como a decomposição, devido à umidade, e
a possibilidade de ataque por insetos (como os cupins). Os dois casos podem levar
a falhas estruturais. A madeira também é suscetível à instabilidade volumétrica,
pois pode sofrer contração e empenar. Contudo, as suas propriedades variam de
forma significativa entre espécies, entre árvores da mesma espécie e até mesmo
entre diferentes posições de um mesmo tronco.
Neste capítulo, você verá como aspectos da microestrutura e da macroestrutura
da madeira estão relacionadas com suas propriedades. Além disso, conhecerá
2 Estruturas de madeira
Macroestrutura
A Figura 1, a seguir, apresenta uma secção transversal típica de um tronco de
uma árvore que produz madeira para a construção, identificando os principais
elementos de sua macroestrutura. De fora para dentro, o tronco é formado
pelas seguintes camadas: casca, alburno (ou branco), cerne (ou durâmen) e
medula. O crescimento do tronco na direção radial, a partir da medula (i.e.,
tecido macio localizado na região central), se dá pela formação de anéis
Estruturas de madeira 3
Casca
Alburno ou branco
Raios medulares
Câmbio ou liber
Medula
Microestrutura
Conforme Askeland e Wright (2019), a madeira é um compósito natural que
possui uma microestrutura celular tridimensional, formada por células longitu-
dinais (ou fibras), na forma de tubos com paredes finas, geralmente orientados
na direção longitudinal do tronco. A Figura 2, a seguir, apresenta uma secção
transversal simplificada dessa estrutura celular, em que é possível identificar
a parede e a cavidade da célula. As células são unidas por um componente
conhecido como lignina, ao passo que as paredes das células são compostas
predominantemente por celulose, dando resistência ao tronco. De acordo
com Pfeil e Pfeil (2003), o comprimento da secção transversal das fibras
longitudinais varia de 10 a 80 μm, e a espessura da parede possui de 2 a 7 μm.
4 Estruturas de madeira
Parede
da célula
Cavidade
da célula
Propriedades
Devido à sua estrutura celular na forma de tubos, as propriedades da ma-
deira variam de acordo com a direção. É o caso, por exemplo, da resistência
mecânica, que depende da direção de aplicação de tensão em relação à sua
estrutura celular, ou seja, em relação à direção das fibras (tubos). De acordo
com Aghayere e Vigil (2017), três direções independentes são geralmente
utilizadas para a análise das propriedades mecânicas da madeira (Figura 3):
direção longitudinal (L), direção radial (R) e direção tangencial (T).
Tangencial
Longitudinal
Radial
espécie da árvore;
umidade;
duração do carregamento;
defeitos;
temperatura do ambiente.
Treliças de coberturas
Treliças de coberturas, tanto de construções residenciais quanto industriais,
são exemplos tradicionais de sistemas estruturais de madeira. A função desse
tipo de estrutura é sustentar as cargas exercidas no telhado da construção.
Os principais elementos de uma cobertura tradicional (tipo Howe) com telhas
cerâmicas (Figura 4), são (PINHEIRO; MOLINA; LAHR, 2010):
Terças
Ripas
Caibros
Tesoura
Figura 4. Principais elementos de uma cobertura de madeira (com treliça tipo Howe).
Fonte: Adaptada de Pfeil e Pfeil (2003).
has
Tel
ça
Ter
as
Rip Detalhe D
bro
Cai ça
Ter
Detalhe B
Alvenaria Detalhe C
Detalhe A
casos, segundo Pfeil e Pfeil (2003), as vigas metálicas podem ser utilizadas
em conjunto com as vigas de madeira. A Figura 6, a seguir, apresenta alguns
tipos construtivos comuns de vigas.
Figura 6. Tipos construtivos comuns de vigas de madeira: (a) madeira roliça; (b) madeira
serrada; (c) madeira compensada colada; (d) madeira laminada colada.
Fonte: Adaptada de Pfeil e Pfeil (2003).
As colunas, por sua vez, são elementos verticais, cuja principal função é
resistir a cargas de compressão. Ao serem comprimidas, as colunas estão
sujeitas à flambagem (deslocamento lateral). A Figura 7, a seguir, apresenta
alguns tipos construtivos comuns de colunas de madeira.
Figura 7. Tipos construtivos comuns de colunas de madeira: (a) madeira roliça; (b) madeira
serrada; (c) composição de peças serradas.
Fonte: Adaptada de Pfeil e Pfeil (2003).
Considerações geométricas
Como visto, a terça é um elemento estrutural localizado no plano que contém
o banzo superior e cujas extremidades são apoiadas nos nós das treliças
(PINHEIRO; MOLINA; LAHR, 2010). Portanto, ela pode ser considerada como
uma viga com dois apoios, cujo vão equivale à distância entre as treliças,
conforme a Figura 8a. Nesse exemplo, foi adotado um espaçamento de L =
12 Estruturas de madeira
rior
os upe
B anz
Terça
Banzo inferior
Figura 8. Representações esquemáticas: (a) vão teórico para dimensionamento das terças;
(b) sistema de coordenadas adotado para a terça.
Fonte: Adaptada de Pinheiro, Molina e Lahr (2010).
Carregamento
Existem dois tipos principais de cargas que podem ocorrer durante a constru-
ção e a utilização da estrutura (PFEIL; PFEIL, 2003): o peso próprio da estrutura,
que é uma ação permanente; e as cargas variáveis acidentais, como o vento
e as pessoas. Nesse exemplo, será considerada uma combinação de cargas
mais crítica, assim como foi considerado por Pinheiro, Molina e Lahr (2010):
ação permanente (peso próprio da estrutura) combinada com ação variável
acidental (pessoas durante a construção e a manutenção da estrutura).
A ação permanente é composta pelo peso próprio da terça e pelo peso
próprio da telha (PINHEIRO; MOLINA; LAHR, 2010). O peso próprio da terça, g,
é de aproximadamente 0,07 kN/m, obtido multiplicando-se a área da secção
transversal (0,06 m x 0,12 m = 0,0072 m2) pela densidade aparente da madeira
C40 (950 kg/m3) e pela aceleração da gravidade (9,81 m/s2):
Estruturas de madeira 13
Efeito desfavorável:
Efeito favorável:
40 6 19.500
Classe de
carregamento kmod,1
Classe de
umidade kmod,2
Resistências de cálculo
As resistências de cálculo (ou resistências de projeto), fw,d, foram obtidas por
meio da seguinte expressão (ABNT, 1997):
Figura 9. Diagramas de esforço cortante e momento fletor para os dois tipos de carga em
relação ao eixo : (a) carga acidental variável; (b) carga permanente.
Assim:
Portanto:
Assim:
Portanto:
onde σMx,d e σMy,d são as tensões normais máximas que atuam na secção
transversal da terça (correspondentes aos momentos máximos em torno
dos eixos x e y); e kM é o coeficiente de correção para a geometria da secção
transversal da viga. Para a secção retangular, kM = 0,5.
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onde td é a tensão cisalhante máxima que atua no ponto mais crítico da terça;
e fv,d é a resistência de cálculo da madeira ao cisalhamento paralelo às fibras.
As tensões em relação ao eixo x e ao eixo y são, respectivamente (PINHEIRO;
MOLINA; LAHR, 2010):
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Referências
ABNT. NBR 7190: projeto de estruturas de madeira. Rio de Janeiro: ABNT, 1997.
AGHAYERE, A.; VIGIL, J. Structural wood design ASD/LRFD. 2. ed. Boca Raton: CRC Press,
2017.
ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e engenharia dos materiais. Massachusetts:
Cengage Learning, 2019.
PFEIL, W.; PFEIL, M. Estruturas de madeira. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2003.
PINHEIRO, R. V.; MOLINA, J. C.; LAHR, F. A. R. Estrutura treliçada de madeira tipo “howe”
para cobertura – exemplo de cálculo. In: CALIL JUNIOR, C.; MOLINA, J. C. Coberturas em
estruturas de madeira: exemplos de cálculo. São Paulo: Pini, 2010.
Leitura recomendada
NENNEWITZ, I. et al. Manual de tecnologia da madeira. São Paulo: Blucher, 2011.