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Filosofia Pratica: da ética a ético-postica "Por que ao falar lingua de todo mano? alu Bates Todo escrito sobre étcatende a algo fora dele. Auilo que ‘st fora dele deve, 0 mesmo tempo, estar nee antecipad, ‘Anieepudo no quer dizer pronto. Antes significa gecado neste lugar que €0 texto aga onde se desea mareat uma experiéncia com a vida que o wanscende. &experiéncia ‘extual éativada pelo etor que toma coma um convite, 0 | texto doris, uma pséncia,emborasejataribémum to Um texto de tics, no entano, poss uma complesidade a sa. Ble observa sua prépria lea enguanto a constr sem, fone dla uma coisa que se pssa possi, qu se poster manipola.Etica mo € uma substigci, mas um process, | 0 exo é apenas um camino possi, um caminho 90 ‘meio dos caminhos da vida. No livroexte process que €4 fica aio se enrega 2 ete. Antes, olor €aquele que se ssloraep (Qualquer texto que se faz Livro aspra a tocar aquees x patel, ‘que 0 leem, do contedsio nia seria escrito, Podetos de ana estate ago cuo sentido ¢ um peda ‘Umlivro deetica éanda mals complicade, pois quem vena Ase Interesar pr dese que oabetopropost ploliva ‘lo cabe no prépriolivro. ica algo que est sempre para lem do texto. Est, portato, para além da nacetiva ou da teorin, ao mesmo tempo que, para falar dela, pecisamos 4a textulidade que a poe em cena, Por outa ldo, no podemos dizer que a tca que sempre nos mete prtica no dependa dateova. la se situ ustamente naquelelugar ‘onde teoraepritica se enlagam no momento mesmo em que ess conedo se apaga:ocotdiano, Mas podemoscomecar Aizendo que a éiaestard sempre fora do dscuteo pronto, fora da moral — que com ela erronesmente se confunde — ‘que dita regrasao pensamentoe aio, Isso pode difcultar sinda matsas coisas. Para pensar aeica, pois que ela nose faz sm pensamento,teremos queer sobre ca enquanto, no entanto, queremos algo come a "ética mesma ica ‘que esti alr da fla sobre a ica (ra, se um escrito € dca, o elemento “seo” se coloca como um adjetivo, uma qualidade do deseo imanente 0 texto, que impulsion 0 texto ¢ que mio dea que ele se ‘ransforme em discurso,aquele tipo de fala que se poe simplesinenterepetis A dca é, no texto, © que leva slém do texto enquanto ele se antecipa, Podemes dizer que 0 ‘escrito éhico & nesse sentido, aquele que se rexponssbiliza pelo que escreve, send ele mesino uma ago ics A aso 2 a¢lo responsive. Responsivel quer dizer ciente do feito de emanciparie que produz. A agio responsive é aquela que busca todo custo escapar do onlenamento, do lugar de autoridade No caso do texto que se pretend ico, Eo dilogo que ele deve propor. Um texto stco envia para atic além dele. Eotexo como porta que sabre, no que se fecha como respostapronta, No além da tento, atin €0 caminho da autoconstrugio de s para ler: Como uma descobre poténcia interna o texto que ele. Olevoréa sua propria autonomia — eu que leo sou autor da minha autodescoberta — enguanto a empresa ao texto numa a tude sempre generosa, Assim o Feito faz da etura a vida da sera, em a qual todo texto € morte, (Ora, o terme "étic” transi entre nose vtios enidos Por excmplo, como teria da a¢50, ou sea, como a cléncia que estuda as motivagBes consequincis dos aos humans ‘Ouvimos fla em ica da comunicagSo, em eiea empress rial, em éticana politica ¢ até em étiea do mereado, Como Aliscilina do campo filosio devemos ser que ela a que rmaisinfluenciaas demas reas enguanto éestadada em ma tas delas, que o tema da acto, da decisi, da iberdade, da sontade, da responsablidade ou das mativagdes emocionals que alta as ges hmanas problem em qualquer campo, A palavraética em “cbdigos” de ca usados em empeesas prvadas e publieas mesmo quando esses cddigos nfo sto Tidos nem compreendidos, «se tna algo “abstato™ em relagloaexperéncaconcreta,sconfunde coma moral, cuja ‘aracterisca€ ser um conjunto de repr habitus de ai, Do mesmo modo, ameraanilisede uma tora isa ou ose garaner que slguém se tore ico. Quanta vezes vemos um professor de ‘ica fae com a pair tea da qual éespecaista tericat Isso quer dizer que aetica remete ao grande desafo que a ‘ensino podem ser puramentemaralzantes no pritea nos coloca diariamente, a ead momento em gue vivemos no mundo da ao patliado com outra pessoas io lnge deste logs, cies se tarnou uma espécie de palavra migica que teria poder de presentiiara exigtncia rela conti, Nesse sentido, qualquer um que diz pe em ago sua virtude de bumerangue:« pronincin da psluvea “éca” convaca a ser lico aque que fala Essa pevfgsnatividade migica da palavra, costudo inca mio & 2 performatividade esponsivel. Pronunciando algo como ia’ lguém pode pensar que ea esti autorreaizada come profocta; ao falar da lta de évca do outeo, ha quem acredite tornar-se automaticamente livre da falta de éica qv pode ‘stor jstamente projelande no out, Mas a Guia &performativa em oatro sentido Se, por um lao. palvea poe servic para acoberlara ita de ca pro pra umsujeto que sobre ela discurs, ao mesmo tespo, la demand sua relizas30 na prpia pessoa do syeto qe apr rca Nese seni, iea Gum substantive, masalem dis Eadjetiv, Mas assur ainda fungo deadvérbio, enguarto ‘eapaede defini sestida daquilo que sede, para além do ‘que se dz, Enquanto, a0 mesmo tempo, implica um poder pesformativa sobre o alate, sobre 0 sujeto da enuociago, Asim, quando eno ética do outo, a simples exigéncia me pea pagara conta do que digo. Pssopreisr pagar conta tho que digo efgo se metocno esponsivel. Mas €cetoqueo ‘sro com quent conv éaguele que sempre precisa pagar ‘conta quando eu no soa responsivel plo que digo 45, porque sobre le que cae meusatos,inchsie os deal Problema € que aque que 0 W8 wanlagem em ser eco Jamas podera ser ético,porgue a tia verdaeira# assim. ‘como vila: nfo providenciavanlagem alguma. A esigecia desi relieao, contudo,toreaseabstrata quando a paavea “ei” serve apenas como fachada sobre o vazi subjetivo de _quemapronuncia, ssa fachada€ contrieodo que se busca ‘por meio da responsabliade sema qual nda se pode flare ica A responsabilidae condigdo de quem esti presente csi mesmo: € canta que se paga quanto aquilo que se faz cerelagdoa si mesma eao ute Por so, aresponsabiidade to parva com a culpa embora ea dela essencialente Aliterate. & responsabilidad como aspect constutiv da ‘ica implica sinceridade, honestidade,autopamia pessoal ‘Aresponsabildade produc lbewdade. A culpaéo mero peso dlaquele que ado conseguia ser responsive. agar de cada am em su dire a exist chama a responsabilzar-se plo {que sno mundo em que vive com outros. Levando em conta todos eats aspectos, podemos dizer que a ica compoe uma expectaiva geral em qualquer so- leak, es qualquer grupos expectativa de uma vida boa «just que em principio, cada um tem em relagio a todo. Mas que, 20 mesmo tempo, coastui um tpco complexo quid seteata de wali mesmo a partir deseus terms ‘Nossa elagdo com o mundo a nosso redor nea €simples, ‘Consideramo-nos separados do mundo ao qual perten cemos por ess extra ilusio-verdadeira que é indivi Avalide pensamos que somos inicos. E,em certosaspet tos, realmente o somos, mas no tanto quanto dsejanos. Sonos muito mais igual do quegostariamos. Em tempos de necessrio logo 8 diferenga,ébom lembraro que ainda nos asemelha, inclusive contea nds mesmos, Somos coltivos. Tanto que somos capazes de nos perder na Thassa, somos seduzidos por tds fora de ebanko em que nosinclimos com os confortos da inconscigncia, A aventura humana & {le um bando orientada ao aconchego, 2 festa eeunido. ‘Mas também viola, alienago. Em qualquer doscasos, som o que somos sempre “com” 0s outros. ‘No meio da mulids,ético¢ atibute particular. E nto conhecemos quem se reira a si mesmo como alguém (quem falta ica, E suit fc encontratalgaém com um temperamento melanclico que costume se aulodepeciar Ha quer se diga feo, burro, may louco, Ninguém, no en- fa tanto, seautointitulacanalha adjetivo que expe g miximo Brau subjeivo da falta de tia. Infelizmente, ocala se esconde, Mas, mesmo que & mostrasse, expos de sa verdad no seria sufciente para mudar seu rumo subjetv, ‘Acscolhadocanalhaesti desde sempredads: ele vatesolher em favor de si mesmo, mesmo que nao precise de nenbum favor, mesmo que nao sika que se trata de uma ecolh, (© canalha € sempre o sujeto de um mio saber. Mesto quando sabe oque est fazed cleo sabe do outro. Por so, le étambém o grat maxino do responsive. Ineizmente, sus posturaé parsgmstica em diversosniveis Sea tice falta ‘erm mim, quantas venes, em verde assum sua falta, lang parao "todo" minhadeslusio com oestado do mundo, com ‘© 0 mundo tambien no fosse obra minba? O canalha no consegue responsibilza-se pelo mundo que parila com ‘outros. A impoténca em ser responsivelé 0 naseedouro da antic do canalha Nels ele centro do mundo, Bo erto ‘lo est jamais em sua postura rica, contud, € process \decriagdode i que implica o outro 0 outro que justamente falta 0 capalha Pde significaraexpeiénciaque stem com ‘que se dize como que se faz enguanto agua que sf se faz “em favor de’ “cam” 0x “conta” o outro. Afinl,posso também ser éico com agjueles que me servem de inimiga © canatha, no entant,apaga 0 ateo porque ee so pele saber dele, © canalha€ por sso, mesmo quando intlgente do ponto de vista ténica, burro do ponte de vita soca, A répria sociedad, enquanto “ate, no existe para ee, (© problema entio & sempre a relago entre um eoutio. ica € sempre uma experiencia que comega com: pala {que nos liga 20 outro, que serve para oprimi-lo ou para ‘emancipéi, Poss, étza deve sereomoumatco-poitica capazdeGuestionaressrelagdo que se nstaura pel lingua \ ‘gem. A Elica, enquanto ético-podtica,preisaré questionar todo discurso,enquantoodiscurso a fla pont edomina dora que manipula outro, que apaga ao manip, em nome do dilogo que fala ques faz como abismamento ‘io outro. O dislogo implica a responsabiidade no ato de fala, Sea dtica comeca por inventar seu prpro lugar, que seri, por ser invengio e por ser eesponsével, sempre middo inca, ela ser ineitavelmente um processo de invengia o ato de fala e, ness caso, uma étco-podtica em sentido amplo e também estrito. Invencao desi, invencio da vida ‘omose vier pudeste ser ums abra de arte eisoquecspera ‘0 levantar a potenciacriativa dessa tico-postica Etca seri, neste sentido, a qualidade das relagdes que cestabelecemos com o que hi neste mundo e, sobretuo, ‘uns com os outros, enguanto esas relagdes se fezem como selacbes humanas baseadas ma linguagem que crimes da tamente mesmo sem suber. A éico-podtica¢ a luz que lumina esa crag didi, Fuico-poética Umm quadrado migico 4 sincronizar pensamento ¢ ast, pescepgio e atuasto, 69 desenha feito de pedeus na funda arenaso do io da vida ctidiana onde, apresados,rolh mos os nosss pés, onde, menos atentos, nos afundamos até 0 pescogo sem perceber 0 que acontece.Cotidiano & bbanaidade, vida simples e vida administradasio outeos clementos que compdem a pea inteirs do quadrado mag co que se modifica com 0 tempo, com a mudanga de nossa compreensio, de nosio corpo, que &— e aa mesma tempa torna-se— sempre outro para si mesmo. Chao de Flosoa Pec otograta deste io, oa barren, xt, ed a Fondo iro cose deseo complex aoa deseo de ented at lime de mio mat peer ou ce falmente seapssar fronts ente orramenetranalucides © quaeado msgico poe serum mca eros para comes un vo det. O quparauins preci estanbo pura otros ser mais vert reg ere ado eat naga tnsiogue pero vi minaret Naor dese oo guar gc tra ma press com gue podemos comers flosfaocaminto da ia aie Conctaeatodoveacataum dendsnanernens que poet te eo des da Flos Price qe pretend are sertar por vio deste vz: conta a moc bps de tess eno dina or poderesqueimpsdem alee, Ianeenenconaseesde rao alta amaavertutac postca. Flo do pensamento eit da aio. Do pens rnto-arte que volta sa ago paraa vida, A perspectivaé dd que uma eico-paética sea também uma ético-politica conica a mera estetizacao da vida e, nea, da pe rio faz mais do que controlar ecaleular a me nossos dias. Esttizacio que a forma da propaganda edo cto — ele mesmo vazio —, das aes e emogbes vazia, ‘a tem devorado, O foco de luz inde sobre a vide cot diana enguanto se busca encontrar nea, mesmo que send preciso desmonti-la antes, os lementos de autocriagdo que fs leven &ideia de uma politica aurogerativa.Btica €a construsio da politica desde dento da vida vivida 8 qual com esse mistrio que chamnamos de “ooo” ssa quer dizer que para qualquer pessoa ica est em jogo quando setratade eas, que pensar, pois, pensar 0 outro, como outro, é iran dei Vemos que pensar seflexivamente €em si mes> ‘9 uit ato tco. Neste sentido & um alo fils6fco-pratico eminentenente postica enquantogeatvo eantoprouti desse estar no mando exja insubstenzaldade nos apsvora Sea outa €ofoco do pensameno dco ess dado que 0 pnsamento ico s pode sera pensamento da ela. ica, portant, seria o campo da expeidnca das laces, enguan to este mesmo campo no se desenhafacilment, ji que ele mesmo & insubstanciak 0 cotidian surge como espago de cexperitneia comum, de convivénca, Bica seria apie, do espsto que concerned rela com o que é diferente de ‘mim, com o que no € mais simplesmente particular, aem priprio ao meu “eu”, Em termos de ética somos abrigados «falar de algo como uma “subjtividade expandida” na Airegio dos encontros. Nem “ea, nem simplesmente "tw nas algo que se consti entre nds enguanto insubstancais que somos. Neste sentido, endo h tia sem a experidncia pessoal, também nio i ica sem a experiencia do impes- soal Nio hd ica que nio tenha em vista a apresenscio a constatogo da alteridade, mas sobretudo o deixar-se sar nesta alteridade, ~ (ra 0 caminho 20 oueo éa questo de toda ica. Ba resposta& questio do outro é ela mesma, uma questo: 0 idlogo. Nao hi ica sem esse curioso elo questionador ao qual damos o nome de didlogo. Nao se trata da simples conversagio. Se ocoliiano é também o espago das muki- pls experiéncias com a akeridade, 0 cotidiano depende de ossacapacidade de dilogo com o que estranbaos, com ‘0 que nos nega, com o que ndo somos nds mesmos. A ica como potencaldade da a¢ao concerne a qualquer um que ‘bitea politica como expeiéncia do cotidiano que nos pede Aidlogo para oportunizar a convivncia. Fora do didlogo so exist fala politica. seudopolitica Isso quer diver que 9 couidano &o lugar do politic, inclusa a sua deturpasso ser eticamente mosliiada, Iso ndo quer dizer simples: mente quea politica seja pate” do cotidiana}Sas que @ cotidiano."todopoltic”,o lugar onde sedéa “samo viver jumtot™ pelo qual nos peeguatamesdiariamente sempre de ‘odo muito pritico. A terceiza parte do live ¢dedicada & posicionar esta questi, Posi a questo da ticaem sua elasio com oentidiano, 6 liveotratard do ctidiano virtual, esse cucioso espago de cexperiéncia do qual tantasvezes no sabemos o que pensar, ‘no qual nto sabemos como agit em relagio ands mesmos¢ osoutros, ao mundo no qual ns envolvemos: onde muitas vezes nos perdemos do que somos, do que podem ser, do sentido de nosso faze. Em um mundo em que a politica de pend cada vez mais da experiénca do “comm” dada pelos eis tecnolgicos de comunicario pla expeiénciacoma democracade internet, tea éaugdo contra a esvazsmento ameacador do pensamento, da ago das emo. Esther Jogo, na dia, 6 que fazemos ¢partithams juntos, mesmo ‘quando estar "juntos" éaparentemente io abstraa como univers virtual. certo que uma ica do virtual surgecomo tum desafio ainda maior, porque cticadepende das relagdes ‘que slo, elas mesmas, sempre concretas no sentido de que sempre atingema pessoa humana enguanto ela um corpo {que pens, um pensamentoincorporado:corpo-alma, O que dizer, portanvo, de relacionamentos marcados peas purse felugbes em que o concreto corporal se torna apenas uma referénciaabstrata? Como nos tornamos seres de internet? (© que fazemos uns com os outros neste campo? ‘Que Livro nos permita pensar, que contsibus para sugerircaminhos a uma experigncia em que penstmento€ 2,30 ni sejam mais citranhos; que passa colacarem cena a ponderacio da potencias de uma felicidadefiloséfic, es ‘odesjo que acompanha cada uma de suas piginas prontas Abertura do espiita Por fim, o convite € para que este liveo sea herto sem _mo como seolhissemos para o eto de um io, na funda Aotjval vemos um desenko a pedir decitacio. Amensagem lirada €4 vida ea eportunidade de pensar nea, A eitura a fotografia que fazemos daquela imagem: que nos eva & pensar, para seguir pensando e pensae mais Espera-se que, na emancipacio desie mesmo medo que ‘os protbede pensar ede agireticamente ete veo seja im dos tantos e ininitos fos que crim condigées para urna vida melhor e mais justa que nio se) aniguilada pelo pro Aesespero ao qual somos convidados todos os las por um sistema politico, econémic social em quecadaum parece de antemio descartado,

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