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24 CIENCIA E COMPORTAMENTO HUMANO diante. Certo grau de controle real, mas no tio faciimente iden- tificado, esta em maos de escritores, propagandistas, publicité- tas. Estes controles, que com fregiiéncia sio por demais evidentes nas suas aplicagies praticas, so mais que suficientes para nos permitir estender os resultados de uma cigncia de laboratério para a interpretago do comportamento humano nos negécios cotidianos quer com objetivos tebricos, quer priticos. Como a cigneia do comportamento continuaré a aumentar 0 uso eficaz deste controle, € agora mais importante do que nunca compreender 0 processo implicado © preparar- ‘mo-nos para os problemas que certamente surgirao, Capitulo Por que os organismos se comportam Os termos “causa” ¢ “efeito” jé no so usados em larga, eseala na ciéncia. Tém sido associados a tantas teorias da estrutura e do funcionamento do universo que jé significam mais do que os cientistas querem dizer. Os termos que os sub: tituem, contudo, referem-se ao mesmo nicleo fatual, Uma fanca em uma variével independen- te” eum “efeito”, uma "mudanga em uma varidvel dependente’ antiga “relagio de causa e efeito” transforma-se em uma ‘elagdo funcional”, Os novos termos no sugerem como uma causa produz 0 seu eftito, meramente afirmam que eventos diferentes tendem a ocorrer 20 mesmo tempo, em uma certa cordem. Isto € importante, mas nao é decisivo, Nao ha especial petigo no uso de “causa” e “feito” em uma discussio infor- ‘mal se estivermos sempre prontos a substitui-los por suas con- trapartidas mais exatas. Estamos interessados, entdo, nas causas do comportamen- to humano, Queremos saber por que o homens se comportam da maneira como 0 fazem. Qualquer condigo ou evento que tenha algum efeito demonstravel sobre o comportamento deve ser considerado. Descobrindo e analisando estas causas pode- remos prever 0 comportamento; poderemos controlar 0 com- portamento na medida que 0 possamos manipular. ‘UMA CIENCIA DO CoMpoRTAMENTO HUMANO 25 Huma incoeréncia curiosa no cia curiosa no zelo com o qual a doutrs da liberdade pessoal tem sido defendida, porque os homer Sempre estiveram fascinados pela busca das causas. A esponta, ‘eidade do comportamento hunano nio & menos inguietante sparentemente, do que o seu “como e porque”. Tao forte ¢ 6 icar 0 comportamento, que os homens té impo 0 que 05 homens tém sido levados a antecipar 0 inquério cientfico constuindo teove e causaedo altamente improviveis. Esta pritica ndo ¢ ra na historia da ciéncia. O estudo de qu dominios da superstga ‘A Astronomia comegou como Astrotogia. A Quimica mia. O campo do comportamento teve ¢ ainda iquimistas. Uma longa historia de exp a cambulhada fungdo senio a de proporcionar, , solug8es espiirias a pergun. om Fesposta, 08 seus astrélogos e al fos primeiros estigios da tas que de outro modo ficariam ser Algumas “causas” populares do comportamento Qualquer evento conspione que coincida com a emis comporaret numaoo pode bem st tae cone causa. A posigio dos plantas no ascneite deo on Por exemplo. Geralmente os astologos ndo se atriscam a prove, ass especificas de tai causas, mas quando eles nos cere, ‘Re um homer ser impetus, negligent, ou penstvo, deve TS SRD ese amit qe at ates expecta serdo sng pis. A Numerologiaenconta uma espécie diferente de casas Tassie, ns ners ue cnpfem o endereo de um in uo, ou no mimero de letras de eu nome. Milne ‘ntenderocomportamento hunanoe manejo com suceey lin Revises dos astogos, mumeologisise que aso oa den So o vagas que gr no podem ser confirmed {2 desmentdas, s flhas so faclmenteencaberis, nner certo ocasional & bastante dramatico para many um 26 CIENCIA E COMPORTAMENTO HUMANO Comportamento do crédulo sufi es validas, semelhantes a estas superstigdes, fornecem falsos argumentos. Por exemplo, algumas caracteristicas do compor- tamento podem ser remontadas & estagdo do ano em que @ pes- soa nasceu (ainda que nao a posigio dos planetas por ocasiio do nascimento), assim como a condigdes climéticas devidas em parte & posigdo da Terra no sistema solar ou a eventos no Sol. Efeitos desta espécie, quando adequadamente validados, no devem ser esquecidos. Entretanto, como ¢ dbvio, ndo just ficam a Astrologia, Outro costume comum & explicar comportamento em termos da estrutura do individuo. As proporgdes do cor forma da cabega, a cor dos olhos, da pele, do cabelo, os sulcos nas palmas das mios, ¢ as feigdes, se tem te forte. Certas ares de outros personagens teiramente imiscuidos em nossa linguagem influem onadas com o trato do comportamento hu- ato especifico nunca podera ser previsto com base ipos de personalidade sugerem pre- disposigdes para modos diferentes de conduta, de maneira que Se presume que os atos especificos sejam a cedimento assemeha-se ao engano que todos cometemos quan- do esperamos que uma pessoa que se parega com um velho ari {80 comporte-se como ele, Uma vez que um “tipo” seja estabe- lecido, sobrevive ao uso cotidiano porque as previsdes que sio feitas com base so vagas, € os acertos casuals podem ser per s relagdes vil ento € tipo fisico também proporcionam ara previsdes. Estudos dos tipos fisicos de ho- mens e mulheres predispostos a diferentes espécies de distir- bios tém de tempos em tempos chamado a atengaio de estudio- 505 do comp to. A classificacdo mais recente da estru- tura corporal ~ 05 somatétipos de W. H. Sheldon ~ tem sido Aplicada a predigao do temperamento e de varias formas de de- lingiténcia. Relagaes validas entre comportamento¢ tipo fisico devem ser consideradas por uma ciéncia do comportamento, & UMA CIENCIA DO COMPORTAMENTO HUMANO 2 logico, mas no devem ser confundidas com as relagdes admi- tidas pelos procedimentos desprovidos de critica do leigo. Mesmo quando se demonstra uma correlagao Portamento e estrutura corporal, nem sempre se distingue qual € a causa, qual a conseqiiéncia. Mesmo que métodos estat cos possam demonstrar que os homens gordos so especial mente propensos a alegria, ainda nfo se conclui que o fisi determina 0 temperamento. As pessoas obesas levam varias desvantagens, ¢ pode ser que desenvolvam um comportamento folgazio como uma técnica competitiva especial. As pes bonachis podem engordar porque estio livres de distirbios emocionais que levam outras pessoas a se sobrecarregarem de trabalho, ou a negligenciar a dieta ou a satide. Os obesos po- dem ser alegres por terem sido bem-sucedidos na saisfagio de suas necessidades através do comer excessivo. Quando o feitio do fisico pode ser modificado, entéo, devemos perguntar se 0 que vem primeito é 0 feitio ou 0 comportamento. Quando descobrimos ou pensamos ter descoberto que tra- 08 fisicos proeminentes explicam parte do comportamento uum homem, é tentador supor que os tragos i plicam as outras partes. Isto est implicito na assertiva de que a Pessoa comporta-se dessejeito por ter “nascido assim”. Obje- tar contra isso nio é negar que fatores hereditarios determinem © comportamento, Para que haja comportamento & ne lum organismo que se comporte, e este organismo é produto de lum processo genético. Diferengas acentuadas no comporta- mento de espécies diferentes mostram que a constituigdo g tica observada na estrutura corporal dos individuos ou inferida da historia ge importante. Mas a doutina do “nasce as- sim” tem pouco a ver com fatos demonstrados. Geralmente & lum apelo a ignordncia, “Hereditariedade”, como o termo é usa- igo, € uma explicagdo fantasiosa do comportamento ido. ‘Mesmo quando pode ser demonstrado que certo aspecto do comportamento ¢ devido a estagio do nascimento, ao fisico de um modo geral, ou & constituigao genética, 0 possivel iso desse conhecimento é muito limitado. Pode ajudar na pre- nento porque ulada depois que concebido, O mais que se pode dizer é que 0 conhecimento do fator genético nos capacita a fazer melhor uso de outras causas. Se soubermos que um individuo tem cer tas limitagdes inerentes, poderemos usar mais inteligentemen: te nossas técnicas de controle, mas ndo podemos alterar 0 fator genético. As deficiéncias préticas de programas que englobam as ccausas desta espécie podem explicar em parte a veeméncia com que so comumente debatidas. Muita gente estuda 0 com- portamento humano pelo desejo de fazer algo a respeito ~ que- rem tomar os homens mais felizes, mais eficientes e produti- ‘vos, menos agressivos, assim por diante. Para essas pessoas, ntes inerentes ~ como 05 caracterizados em nsfio em que dis, io herdadas. A questio nao é to decisiva como as vezes se supée, pois como veremos ha outros tipos de causas dispo- niveis para aqueles que desejam resultados mais rapidos. Causas internas Toda ciéncia, vez por outra, busca as causas do proceso que se realiza no interior das coisas que so seu objeto de estu- do. Algumas vezes a titica foi itl, outras nao, Nao ha nada er- rado em uma explicagao interior, como tal, mas os eventos que se localizam no interior de um sistema tendem a ser dificeis de observar. Por esta razao ¢ facil conferir-Ihes propriedades sem justificagao, Pior ainda, ¢ possivel inventar-se causa desta espé- LUMA CIENCIA DO COMPORTAMENTO HUMANO 29 cie sem medo de contradigio. © movimento de uma pedra que rola foi certa vez atribuido a uma vis viva. As propriedades micas dos corpos foram concebidas como derivagdes dos “prin- a “esséncias” dos quais se compunham. A combustio icada pelo phogiston no interior do objeto combustivel. [As lesdes cicatrizavam e os corpos cresciam bem por causa da vis medicatrix. Tem sido especialmente tentador atribuir 0 com- portamento de um organismo vivo ao comportamento de um. agente interior, como mostram os exemplos seguintes: Causas neurais. 0 leigo use o sistema nervoso como uma cexplicagio imediata do comportamento. A lingua inglesa con- tém centenas de expresses que implicam a mencionada rela- Na descricdo de um longo julgamento lemos que, |, 0 jiri mostrou sinais de “fadiga mental”, que os “net vvos” do acusado “estavam a flor da pele”, que a esposa do acusa- do esté& beira de um “colapso nervoso”, e que 0 advogado nio para debater com 0 promotor. E dbvio que no se fez nenhuma observagio direta do sistema nervoso de quer dessas pessoas. Seus “miolos” e “nervos” foram in- tados no calor do momento para dar mais substéncia Aqui To que de outra forma seria um relato superficial do compor- tamento delas. ‘A Neurologia e a Fisiologia também ndo se livraram intei- ramente de procedimentos similares. Enguanto as técnicas para ‘ observasao de processos quimicos € elétrices no tecido ner- voso nao estavam de as, as primeiras informagBes s0- bre o sistema nervoso vam & anatoria descritiva, sem descer a pormenores. Os processos neurais podiam somente set inferidos do comportamento que se dizia resultar deles. Estas inferéncias foram consagradas como teorias cient mas no podiam ser usadas “com justeza”, para expli Ccomportamentos sobre os quais se baseavam. As hipoteses dos imeiros fisiélogos podem ter sido mais coerentes que as dos Jeigos, mas até que provas independentes pudessem ser obti- das, nao eram mais satisfatérias como explicages do compor- tamento. Ha hoje muita informagao direta disponivel a respei: to de muitos dos processos quimicos ¢ elétricos do sistema ner- 30 CIENCIA E COMPORTAMENTO HUMANO voso, Afirmagdes a respeito do sistema nervoso jai no sto ne- cessariamente inferidas ou imaginadas, Ma de tortuoso em muitas explicagées fisiol eseritos dos especialistas. Na Primeira Guerra Mi ‘uma perturbagdo muito comum denominada “choque de guer- ra Os distirbios no comportamento eram explicados por da- nos causados &estrutura do sistema nervoso por explosées vio- Jentas, apesar de nao haver demonstracio direta da existéncia de tais danos. Na Segunda G ‘mesma perturba- 40 fi classificada como “neuropsiquidtrica”. O prefixo pare- ‘ce mostrar pouca disposicdo em abandonar explicagdes em ter- ‘mos de lesdes neuras. Uma ciéncia do sistema nervoso baseada na observagio direta, ¢ no na inferéncia, fi Conheceremos as exatas condigdes neurolégicas que prece- dem, por exemplo, a resposta “Nao, obrigado”, Verificar-se-4 que estes eventos sto precedidos por outros eventos neurol6gi- cos, € esses, por sua vez, de outros. Es de volta a eventos fora do sistema nervoso e, fi fora do organismo, Nos capitulos que se seguem, examinare- mos, com algum pormenor, 05 eventos externos desta espéci Estaremos entio em melhor posigdo para avaliar o papel das explicagdes neurolégicas do comportamento. Contudo, deve- ‘mos notar aqui que ndo temos, e poderemos nao ter nunca, esta espécie de informagao neuroldgica no momento em que neces- sitarmos dela para prever um exemplo particular de comporta mento, & ainda menos provavel que sejamos capazes de alterar © sistema nervoso diretamente para estabelecer as condigdes antecedentes a um dado caso. As causas a serem buscadas no sistema nervoso sio, destarte, de utilidade restrita na previsio eno controle de um comportamento esp ico. Causas internas psiquicas. Um costume ainda mais co- mum é explicar 0 comportamento em termos de um agente inte- rior sem dimensées fisicas, chamad ; forma mais pura de explicagio psiquica aparece no animismo de ;povos primitivos. Infere-se da imobilidade do corpo, apés a mor- LUMA CIENCIA DO COMPORTAMENTO HUMANO a1 fe, que um espirito responsivel pelo movimento 0 abandonou. como a etimologia da palavrao indi ‘deus interior”. Um refinamento ape- ais modesto ¢ atribuir cada aspecto do compor- tamento de um organismo fisico a um aspecto correspondente da “mente” ou de outra “personalidade” interior. Considera-se que o homem interior guia 0 corpo da mesma maneira que o gui dio da diregdo orienta 0 automével. O homem interior deseja uma ago, o exterior a executa. O interior perde o apetite, 0 exte- rior para de comer. O homem interior quer, o exterior consegue. O interior em o impulso a0 qual o exterior obedece. 0 leigo recorre @ estes procedimentos, pois mui tamento delingiiente é atri- lade desordenada”, ou pode ser encon- trado em fragmentos, como quando © comportamento 6 atr bbuido a processos, faculdades ou tragos mentais. Por no ocupar espaco, o homem interior pode ser multiplicado & vontade. fentou que um tinico organismo € controlade por varios s psiquicos e que seu comportamento & a resultante de g0 € id sio muitas vezes usados desta maneira, Sao com fre- aiiéncia encarados como criaturas sem suibstineia, por vezes em conflito violento, cujas derrotas ou vitdrias resultam no comportamento ajustado ou desajustado do organismo fisico no qual residem. Uma observagio direta da mente, comparada & observa- ilo do sistema nervoso, ndo demonstrou ser isto possivel. E Yerdade que muita gente acredita que observa seus “estados da mesma forma que 0 fisiélogo observa os eventos, neurais, mas é possivel aventar outta interpretagao do que eles observam, como se verd no capitulo XVII. A psicologia intros- peetiva ja no pretende fornecer informagdes diretas sobre eventos que sejam os antecedentes causais,€ ndo meros acom: hhantes do comportamento. Definiu seus eventos “subjet forma, que ficam excluidos de qualquer possi 32 CIENCIA E COMPORTAMENTO vO dade de uttizagdo em uma andlise causal. Os eventos invoca- dos nas primeiras explanagées mentalisticas do comportamen- to permanecem além do alcance da observagio. Freud insistiu énfase sobre 0 papel do inconsciente — um reconheci- mento franco de que importantes processos mentais nio sio ditetamente observaveis. literatura freudiana fornece muitos ‘exemplos de comportamentos dos quais se inferem desejos, im- inconscientes. E também os racio- inconscientes foram usados para explicar as realizagies intelectuais. Ainda que 0 matemético poss achar que sabe “como ele pensa”, fregiientemente é incapaz de fazer um rela- to coerente dos processos mentais que levam & solugdo de um problema especifico. Mas qualquer evento me consciente é necessariamente inferido, ¢ por isso a explicagio nio se baseia em observagdes independentes de uma causa vilida A natureza ficticia desta espécie de causa interior revela- se na facilidade com que se descobre que os processos mentais tm justamente aquelas propriedades necessarias para dar con- ta do comportamento. Quando um professor: entra na classe errada ou se engana ao dar aula, & porque sua “mente” esti, 20 menos no momento, “ausente”. Esquece uma tarefa pedida porque “no Ihe passou pel nga” (0 que € uma ocasio para a classe “relembri-1o”). Comega a contar uma velha pia- da, mas pira pot um momento, ¢ € evidente para a classe que estétentando perguntar se ndo contou a piada antes para os am cada vez mais tediosas com is da classe confundem-no mais « mais, porque sua “mente” estéfalhando, O que ele diz quase sempre € desorganizado porque suas idéias sao confusas. Oca- sionalmente ele é enfatico em razio da forga de suas “idéias”. Quando ele se repete, é porque tem uma “idea fixa”; e quando fepete 0 que os outros dizem, toma de empréstimo suas “idéias”. Hi ocasibes em que io diz nada porqu Em todos estes exemplos é Sbvio que “mente ¢ “idéia", com suas caracteristicas especiais, foram inventadas ad hoc para propo cionar explanagGes espirias. Uma ciéncia do comportamento LUMA CIENCIA DO COMPORTAMENTO HUMANO 3 no pode esperar muito destes procedimentos. J4 que os even: tos mentais ou psiquicos, afirma-se, ndo tém as dimensdes, caracteristcas das cincias fisicas, hé uma razio adicional para ‘ores concepiuais, As causas interiores mais urologi- ca, nem psiquica. Quando dizemos que um homem come por- ‘que tem fome, fuma demais porque tem 0 vicio do fumo, briga por causa de seu instinto de Iuta, comporta-se de modo brilhan- te porgue € inteligente, 0 sno muito bem por causa de sua habilidade musical, aparentemente estamos nos referindo a cauisas. Mas uma anlise desta frases prova q de meras descrigdes redun junto de fatos com duas a Ele come” e “Ele tem (Qu“Fuma bastante” e “Tem 0 vicio do fumo". Ou ain- bem" e “Tem habilidade musical”. £ um habito icar uma afirmagio em termos de -gencia” convertem 0 que so essencialmente propriedades de ‘um processo ou de uma reago em que, aparentemente, seriam coisas. Assim nos despreparamos para as propriedades que fi rnalmente sejam descobertas no comportamento e continuamos a procuraralgo que niio pode exi As varie das quais 0 comportamento é fungdo © hatito de buscar dentro do organismo uma explicacio do comportamento tende a obscurecer as varidveis que esto ao aleance de uma anilise cientifica, Estas varidveis esto fora do organismo, em seu ambiente imediato ¢ em sua histé: ria ambiental. Possuem um status fisico para 0 ‘cas usuais da ciéncia so adequadas e permitem uma explica- Gio do comportamento nos moldes da de outros objetos ex- plicados pelas respectivas ciéncias. Estas vat dentes sio de varias espécies e suas relagdes com 0 compor- ee 34 CIENCIA & COMPORTAMENTO HUMANO tamento sio quase se re sutis © complexas, mas ndo se pode esperar uma explicagio adequada do comportamento sem isi-las ato de beber um copo de Agua, por exemplo. Nao parece set um fragmento importante do comportamento na vida de lescrever a topografia deste comportamento de t que um dado exemplo possa ser identificade com precisio por qualquer um. Suponha-se agora que colocamos alguém em lum quarto ¢ depositamos & sua frente um copo de agua, Ele beberd? Parece haver somente duas possibilidades: ou bebe ou nao bebe. Mas falamos nas possibilidades de beber, e esta ‘nogio pode ser afinada para uso cientifico. O que queremos & avaliar a probabilidade de ele beber. Pode vatiar da certeza de que beberd até a certeza de que nao vai beber. A considerivel dificuldade de como medir esta probabilidade seré discutida Posteriormente. No momento estamos interessados em saber ‘como a probabilidade pode ser aumentada ou dimi Por uns tempos poderemos estar “absolutamente cettos” de que © cavalo ird beber assim que chegar & Agua. Do mesmo modo poderemos nos assegurar de que a agua do copo, no nosso expe- rimento, serd bebida. Embora seja pouco plausivel que as provo- quemos experim privagdes da magnitude neces Ha ocorrem fora do laboratorio. & possivel obter um efeito semelhante a0 da privagiio aumentando a excrecao de égua, Por rovocando suor pela elevacdo da temperatura na sala ou forgando exercicios pesados, ow ainda aumentando a excre- fo da urina pela mistura de sal ou uréia no alimento ingerido antes do experimento, Sabe-se também que a perda de sang Como nos campos de batalha, eleva acentuadamente a probabi dade de beber Agua. Por outro lado, podemos baixar a probabi- lidade até zero induzindo ou forgando o sujeito do experimento abeber antes grande quantidade de agua LUMA CIENCIA DO COMPORTAMENTO HUMANO 35 Se quisermos prever se nosso sujeito vai beber ou ‘yemos conhecer 0 méximo possivel sobre estas vari cisamos ser capazes de manipulé-las se temos de induzi-lo a beber. Em ambos os casos, ademais, tanto para uma previsto acurada como para o controle, devemos investigar quantitati- vvamente os efeitos de cada variavel com os métodos € as técni- cas de uma cigneia de laboratério, E légico que outras variéveis podem vir a afetar 0 resulta- do. 0 sujeito pode estar “temeroso” de que alguma coisa tenha sido adicionada a 4gua, por pilhéria ou com propésitos experi- ‘mentais. Pode mesmo “suspeitar” de que a agua foi envenena- da, Pode pertencer a uma cultura na qual s6 se bebe égua quan- do ninguém estiver othando. Pode recusar-se a beber simples- mente para provar que ndo é possivel prever 0 seu comporta- mento. Estas possibilidades nao desmentem as relagdes entre beber ¢ as varidveis mencionadas nos paragrafos precedentes, simplesmente lembram-nos de que outras varidveis devem ser consideradas, Outros tipos de ex icagdo no nos permitem dispensar nosso sujeito beberd se tiver nascido sob um dos signos do zodiaco que tem alguma relago com égua ou se for do tipo grande ajuda. E possivel, c 0 agentes ou estados interiores sm outtos coment rios. Até onde seré itil dizer “Ele bebe porque tem sede”? Se ter sede néo significa mais do que ter uma tendéncia a beber, isto & mera redundincia. Se quer dizer que ele bebe por causa de um estado de sede, um evento causal interior esté sendo in- vocado. Se 0 estado ¢ puramente inferido — se nao ha dimen- ses a ele relacionadas, as quais poderiam tornar possivel uma observasio direta ~ ndo pode ser usado como explicagdo. Mas se tem propriedades psiquicas ou fisiolégicas, que papel pode desempenhar em uma ciéncia do comportamento? 0 fisidlogo diré que os diversos meios de aumentar a pro- babilidade de beber tém um resultado comum: elevar a con- centragdo de solugdes no corpo. Através de algum me 36 CIENCIA & COMPORTAMENTO HUMANO ainda nfo entendido suficientemente, isto pode levar a uma ‘mudanga correspondente no sistema nervoso, que por sua vez torna o beber mais provavel. Da mesma forma, pode-s mentar que todas estas operagdes fazem o organismo “sent sede” ou “querer beber” e este estado 0 também age sobre o sistema nervoso, de um modo ainda inexplicavel, para 0 ato de beber. Em cada caso temos um encadeamento casual composto de trés elos: (1) uma operasao efetuada de smo ~ por exemplo, privagao de agua; interna ~ por exemplo, sede fisioldgica ou ps : 3) um certo comportamento — por exemplo, beber. Da- dos independentes a respeito do segundo elo permitiriam, ob- viamente, prever o terceiro sem recorrer ao primeiro. Seria um tipo preferido de variével por ser nio-histérico; o primeiro elo passada do onganismo, mas o segun do é uma condigio presente. Entretanto, & quase sempre im- possivel obter informagées diretas sobre o segundo elo. Al {gumas vezes inferimos o segundo elo do teteeito: dit-se-a que ‘um animal esté com sede se ele beber, Neste caso, a explicagao serd espiria. Outras vezes inferimos 0 segundo elo do pri ro: dir-se-4 que um animal tem sede se estiver privado de égua ha longo tempo, Aqui, obviamente, no se pode dispensar a historia anterior. ( segundo elo é init para 0 controle do comportamento a menos que possamos manipuli-lo. No momento, no temos meios de alterar diretamente processos neurais n0s instantes apropriados na vida de um organismo que se comporta, nem ainda foi descoberto nenhum meio de alterar um proceso quico. Usualmente juntamos o segundo elo ao pi mos um animal ficar com sede, quanto no psiquico, privando-o de agua, dando-the al salgados, ¢ assim por diante, Neste caso, 0 segundo elo ndo nos permite dispensar 0 primeiro. Mesmo que uma nova des- coberta técnica nos desse condigdes para focalizar ou alterar diretamente o segundo elo, ainda teriamos de lidar diretamente com aquelas enormes areas do comportamento humano con- troladas através da manipulagdo do primeiro elo. Uma técnica a UMA CIENCIA DO COMPORTAMENTO HUMANO 0 de opetagao no segundo elo viria aumentar 0 nosso controle sobre 0 comportamento, mas permaneceriam pot anlisar as téonicas que jé foram desenvolvidas. (0 método mais censurdvel consiste em retragar a seqii cia causal apenas até 0 hipotético segundo elo, Este proce mento é uma séria desvantagem tanto para uma ciéncia tedrica quanto para um controle pratico do comportamento. Nao adian- ta dizer que para fazer um animal beber basta torné-lo sedento se no explicamos como isto se faz. E quando tivermos obtido 1 proscrigdo necesséria para a sede, toda esta proposta sera mais complexa do que seria necessério. Da mesma forma, quando se explica um exemplo de comportamento desajustado dizendo que um individuo “sofre de ansiedade”, teremos de di- zet também qual a causa da ansiedade, Mas as condigdes ex- temas que entio se invocam poderiam ja ter sido diretamente relacionadas ao comportamento desajustado. E ainda, quando homem roubou um pedago de pao porque temos que nos informar das condigdes exter nas responsaveis pela “fome”. Estas condigdes ja sero sufi- cientes para explicar 0 roubo. ‘A objecao aos estados interiores no é a de que eles nto existem, mas a de que ndo so relevantes para uma andlise fun- al, Nao € possivel dar conta do comportamento de nenhum sistema enquanto permanecemos inteiramente dentro dele; finalmente sera preciso buscar forgas que operam sobre 0 of ganismo agindo de fora. A menos que haja um ponto fraco no encadeamento causal de modo que 0 segundo elo nao seja cordenadamente determinado pelo primeiro ou 0 terceiro pelo segundo, o primeiro € 0 terceiro elos devem ser ordenadamen- te relacionados. Se nos obrigarmos sempre a retroceder além do segundo elo para previsio e controle, evitar-se-80 muitas digressées enfadonhas ¢ exaustivas, examinando-se o terceiro elo como uma fungio do primeiro. Informagies vélidas a res- peito do segundo elo poderdo esclarecer esta elagdo, mas niio podem alteré-la 1 E COMPORTAMENTO HUMANO As varidveis externas, das quais © comportamento é fun- Ho, dio margem ao que pode ser 5 causal ou funcional. Tentamos prever e controlar ocomportamento de um organismo individual, Esta € @ nossa “variével dependents” ~ o efeito para 0 qual procuramos 2 causa. Nossas “varidveis independentes” ~ as causas do comportamento ~ sio as condi- Bes externas das quais © comportamento é fungio. Relagdes entre as duas ~ as “relagdes de causa € efeito” no comporta- mento ~ sio as leis de uma cid ressa em termos quantitativos desenha um esbogo inte ganismo como um sistema que se comporta Isto deve ser feito dentro das fronteiras de uma ciéncia n tural. Nao é licito presumir que o comportamento tenha pro- priedades particulares que requeiram métodos tinicos ou uma especie particular de conhecimento. Muitas vezes argumenta- se que um ato nio é tio importante quanto o “intento” que esté por tris dele, ou que somente pode ser descrito em termos do {que “significa” para o individuo que se comporta ou para tros que possam ser afetados por ele. Se afirmagdes deste tipo tiverem de ser iteis para propésitos cientificos, deverdo estar baseadas em eventos observive mente em tals, eventos que se deve confinar uma anélise funcional. Ver-se-A mais tarde que ainda que termos como “significado” e “inten- cio” paregam referir-se propriedades do comportamento, geralmente ocultam independentes. Isto mbm vale para “agressivo”, “amigavel”, “desorganizado” inteligente”, e outros termos que parecem descrever proprie- dades do comportamento mas na realidade referem-se és suas relagGes de controle. EE preciso também descrever as varidveis independentes em termos fisicos, Com freqiéncia se faz um esforco para evi- ando 0 que ela significa para um organismo ou distinguindo entre 0 undo fisico © © mundo psicolégico da “experiéncia”. Este procedimento também reflete uma confusdo entre variaveis de- e-4 dE, LUMA CIENCIA DO COMPORTAMENTO HUMANO 39 pendentes ¢ independentes. Os eventos que afetam um orga- hismo devem ser passiveis de descrigdo na linguagem da cién- cia fisica. Argumenta-se, as vezes, que sio exceydes certas orcas sociais” ou as “influéncias” da cultura e da tradigzo. ‘Mas no podemos apelar para entidades desta espécie sem cexplicar como elas afetam tanto 0 cientista quanto o individuo sob observagio, Os eventos fisicos que precisam ser buscados para completar tal explanagao nos fornecem uma alternativa adequada para uma andlise fisica ‘Ao nos confinarmos a estes eventos observave! ‘grande vantagem, no somente em teor tica. Uma “forga social na manipulagao do comportamento que um estado interior de fome, ansiedade ou ceticismo. Assim como devemos relacionar estes eventos in- temos as varidveis manipuliveis das quais si sermos fazer uso pratico deles, também precisamos (0 eventos fisicos através dos quais uma “forga soci ‘organismo, para manipulé-los com propésitos de controle. Ao lidar com 0s dados diretamente observaveis, no precisamos nos referir nem aos estados internos nem @ forga externa (© material a ser analisado por uma ciéneia do comporta- ‘mento provém de muitas fontes: (1) Asobservagées casuais nfo sto inteiramente de despre zar, So especialmente importantes nos primeiros est investigagdo. Generalizagdes baseadas Jevamos mas também na pré- las, mesmo sem (2) Na observagao de campo controlada, como s dados so col observagao cast entos e procedimentos padres au- rmentai a preciso ea uniformidade da observagio de campo. G3) A observagio clinica forece material em quantidade. Métodos padronizados de entrevista e teste mostram um com- portamento que pode ser facilmente medio, resumido e com- parado com 0 comportamento de outros. Ainda que geralmen- te se concentrem nos distirbios que levam as pessoas as cl cas, os dados clinicos sio frequentemente interessantes e de 40 CIENCIA E COMPORTAMENTO HUMANO especial valor quando a condicdo excepcional do paciente in- dica uma caracteristica importante do comportamento, (4) Observagdes amplas do comportamento tém sido fei- tas sob condigdes mais rigidamente controladas em pesquisas bes. Estes trabalhos ge- ralmente diferem da observagio clinica e do campo pelo uso maior do método experimental (5) Os estudos em laboratérias do comportamento huma- nam material extremamente itil. método expe- ‘010 de instrumentos que melhoram nosso con- tato com o comportamento ¢ com as variaveis das quais € fun- lo. Registradores permitem observar 0 comportamento por Tongos periodos de tempo, e medidas e registros acurados tor- ‘nam possivel uma andlise quantitativa efetiva. A caracteristica ‘mais importante do método de laboratério é a manipulagio deliberada de varidveis: determina-se a importdncia de uma condigio dada alterando-a de maneira controlada e observando o resultado. ‘Atualmente a pesquisa experimental do comportamento humano nfo é 4s vezes tio ampla quanto se poderia desejar ‘Nem todos os processos comportamentais slo faceis de esta~ belecer no laboratério, e @ precisio nas medidas ¢ as vezes obtida as custas da irrealidade nas condicdes. Aqueles que se preocupam principalmente com a vida cotidiana dos indivi muitas vezes se impacientam com estes artificialismos, ‘mas na medida em que relagdes relevantes podem ser submeti- das a controle experimental. O laboratério oferece a melhor ‘oportunidade para obter os resultados quantitativos para uma andlise cientifica, (6) Os resultados dos estudos de laboratério do compor- tamento de animais abaixo do nivel humano também sto ites. ‘© uso deste material traz com freqiiéncia a objecao de que ha ‘uma lacuna intransponivel entre o homem ¢ 05 outros animais, fe que os resultados de um lado no podem ser extrapolados para o outro, Insistir nesta descontinuidade no inicio de uma investigagao cientifica é uma peticdo de principio. O compor- tamento humano se caracteriza por sua complexidade, sua va~ riedade, e pelas suas maiores realizagdes, mas os principios UMA CIENCIA DO COMPORTAMENTO HUMANO 4 bbisicos niio slo por isso necessariamente diferentes, A ciéncia avanga do simples para o complexo; constantemente tem de decidir se os processos ¢ leis descobertos para um estagio sa0 adequados para o seguinte. Seria precipitado afirmar neste momento que nio ha diferenga essencial entre o comporta- mento humano e 0 comportamento de espécies inferiores; mas até que se empreenda a tentativa de tratar com ambos nos mes- ‘mos termos seria igualmente precipitado afirmar que ha, A discussio da embriologia humana utiliza consideravelmente os resultados de pesquisas com embrides de pintainhos, porcos € outros animais. Tratados sobre digestao, respiracao, circulacio, secregio endécrina e outros processos fisioldgicos, referem-se a ratos, coelhos, cobaias, etc., mesmo quando o interesse prin- cipal esta nos seres humanos, estudo do comportamento tem ‘muito a ganhar com esta mesma pritica, Estudamos o comportamento de animais porque € mais simples. Os processos bésicos descobrem-se mais facilmente & podem ser registrados durante periodos de tempo mais longos. Nossas observagées no so prejudicadas pela relago social entre sujeito e experimentador. As condigdes podem ser mais ‘bem controladas. £ possivel dispor historias genéticas para s, ¢ historias de vida especiais para con- trolar outras— por exemplo, se estivermos interessados em como um organismo aprende a ver, 0 animal pode set mantido no escuro até que o experimento comece. E também possivel con- ‘rolar as circunstancias em um grau dificilmente exequivel no comportamento humano — por exemplo, variando estados de privagio dentro de grandes amplitudes. Estas vantagens nao podem ser esquecidas em favor de afirmacSes aprioristicas de que 0 comportamento humano estaria inevitavelmente coloca- do.em um campo separado. Andlise dos dados H& muitas maneiras de formular e analisar os dados refe- rentes a0 comportamento humano, O plano seguido neste livro pode ser sumariado como segue: 2 CIENCIA & COMPORTAMENTO HUMANO ‘A seco II contém uma classificagao das varidveis das quais 0 comportamento € fungio ¢ um levantamento dos pro- ccessos através dos quais 0 comportamento se modifica quando qualquer dessas variiveis for alterada. ‘A segao III fornece uma visto mais ampla do organismo como um todo, Serio examinadas certas disposigdes comple- xas nas quais uma parte do comportamento do individuo altera ‘algumas das variaveis das quais outras partes so fun¢ao. Sio as atividades que descrevemos dizendo, por exemplo, que © individuo “se controla”, “acha uma solugao para um proble- ‘ma", ou “tem consciéncia do seu proprio comportamento” {A segio IV analisa a interagao de dois ou mais individuos ‘em um sistema social. Freqilentemente uma pessoa faz parte do meio ambiente de outra, ¢ esta relagao ¢ em geral reciproca. Um relato adequado de um episédio social determinado expli- ca o comportamento de todos os participantes A segio V an sa varias técnicas através das quais 0 com: portamento humano é controlado pelo governo, pela reli pela psicoterapia, pela economia, ¢ pela educacéo. Em cada um dos campos assinalados o individuo e a agéncia de controle constituem um sistema social no sentido da seg IV. AA segio VI examina a cultura total como um ambiente social, e discute de um modo geral o problema do controle do comportamento humano. (0 plano , obviamente, um exemplo de extrapolagao do simples ao complexo. Nao serdo em nenhuma parte do livro usados prineipios que nao tenham sido discutidos na secao IL {As relagdes ¢ os processos bisicos dessa seco derivam-se de dados abtidos sob condigSes que se aproximam bastante de uma cigncia exata. Na sego V, exemplos complexos de comporta- ‘mento humano tirados de certos campos do conhecimento sao analisados com base nesses processos e nas telagSes mais ples. O procedimento é com freqiiéncia acusado de reducionis~ mo, Se nosso interesse reside principalmente nos principios bisicos, recorremos a matéria deste tipo como uma espécie de teste da adequagio de nossa andlise. Se, por outro lado, nosso interesse esté no caso complexo, ainda temes muito a ganhar UMA CIENCIA DO COMPORTAMENTO HUMANO 4B com a utilizago de formulagdes obtidas em circunsténcias sais favoraveis, Por exemplo, fatos historicos e comparativos Cobre determinados governos, religides, sistemas econdmicos, Jevaram a certas conceptdes tradicionais do individuo que se comporta, mas cada uma dessas concepg6es tem sido apropria- dda somente para aquele conjunto de fatos de que foi derivade. Esta restrigdo mostrou ter uma séria desvantagem. A concep- «io do homer, resultante do estudo dos fendmenos econdmi- os, tem pouco ou nenhum valor no campo da psicoterapia. A fconcep¢2o do comportamento humano desenvolvida para 0 tuso no campo da educagii tem pouco ou nada em comum com aquela empregada na explanacdo de procedimentos legais ou governamentais. Uma andlise funcional bésica, contudo, nos proporciona uma formulag3o comum do comportamento do individuo com a qual podemos discutir assuntos em quaisquer dessas areas e finalmente considerar o efeito do ambiente so- cial, como um todo, sobre o individuo. Devemos reconhecer certas limitagdes no trato com fatos histéricos e comparativos. Com freqiiéncia somos instados a explicar mais coisas sobre 0 comportamento humano do que outros cientistas em seus respectivos campos. Como sera pos- sivel deserever o comportamento de personagens historicas ou Titerdrias? Por que nio pode Hamiet matar 0 seu tio para vingar a morte do pai? Quais foram os reais motivos de Robespierte? ‘Como podemos explicar os quadros de Leonardo? Era Hitler parandico? Quest®es deste tipo tém um tremendo interesse hu- mano, Muitos psicdlogos, historiadores, bidgrafos, ¢ criticos literarios, com a firme conviegao de que podem ser respondi- das, tentaratn respondé-Ias. Mas talvez niio seja assim. Faltam as informagdes necessérias para uma anélise funcional. Ainda {que fagamos conjecturas plausiveis sobre as varidveis que auam em cada caso, nunca poderemos estar seguros. Questes compariveis no campo da Fisica, Quimica ¢ Biologia também 6 podem ser respondidas de modo limitado. Por que teria de~ smpandrio da Praga de Sio Marcos em um ‘monte de tijolos? O fisico podera saber como a argamassa era preparada no tempo em que o campandiio foi construido, em 44 CIENCIA E COMPORTAMENTO HUMANO ‘que condigdes atmosféricas se desintegrou, ¢ assim por diante; contudo, ainda que possa dar uma explicagdo plausivel, nao pode justificar com certeza o desabamento. O meteorologista no poderd descrever 0 dilivio que ‘Monte Ararat, nem 0 bidlogo exp! histérico, mas se falta a informagao necesséria, ndo pode ser rigoroso no relato como requer 0 quadro de referéncia de uma ciéncia, O cientista esta sob pressio ainda maior para respon- der a questdes semelhantes a respeito do comportamento hu- ‘mano. Pode sentir, ou ser forcado a aceitar, o desafio daqueles que pretendem dar respostas validas. Mais ainda, suas tespos- tas podem ser de grande importancia pritica. O clinico, por exemplo, pode ser chamado a interpretar 0 comportamento de "m ocasides em que as longe de ser adequadas, e & sempre mais di ofisico dizer que ndo sabe. A objecdo mais comum a uma andlise funcional completa implesmente, que nao pode ser levada a efeito, mas 0 tinico indicio que se tem disso é que ainda nfo foi levada a efeito, Nao ha razao para desanimar com este fato. O comportamento hu- mano é, talvez, 0 objeto mais di dos métodos da € & natural que 0 progresso seja lento. £ encorajador refletir, contudo, que a ciéncia raramente avanga em um mesmo ritmo, Por vezes 0 progresso é dificil apenas porque um aspecto particular de um objeto recebe grande aten- ¢d0 quando € improdutivo e sem importincia. Uma pequena ‘mudanga no ponto de ataque € suficiente para trazer um avanco rapido. A Quimica passou a andat a passos largos quando se reconhe 0s pesos das substincias que se combinavam, © no suas qualidades ou esséncias, eram as coisas importantes que deveriam ser estudadas. A ciéncia da Mecénica progrediu rapidamente quando se descobriu que as distancias € os tempos eram mais importantes para certos propésitos que a forma, 0 tamanho, a cor, a dureza ¢ o peso. Diferentes propriedades ou aspectos do comportamento vem sendo estudados durante anos ‘com variados graus de sucesso. Mas uma analise funcional que para ele que para dentre os que ja foram alvo LUMA CIENCIA DO COMPORTAMENTO HUMANO 4s especifica o comportamento como uma variavel dependente ¢ se prope descrevé-lo com base nas condigdes fisicas observa- ‘e manipulaveis é bastante recente. J4 provou ser uma for- rmulagio promissora,e, enquanto nao for testada, nlo hi razo para profetizar um fracasso. Este plano ndo pode ser levado a efeito em um nivel super- ficial. O engenheiro que constréi uma ponte com sucesso deve ter mais que uma impressdo casual da natureza de seus mate~ riais, tempo vird em que serd preciso admitir que nao & pos vel resolver problemas importantes nos assuntos humanos com, uma “filosofia geral do comportamento humano”, A presente analise requer ateng3o considerdvel aos pormenores, Evitar se dados numéricos, mas se fez. uma tentativa de definir cada ‘processo ou relagao com exemplos especificos. Se 0 leitor pre fe participar inteiramente das interpretagdes mais amplas das tltimas segGes, deverd examinar estas definicoes e obser- var as distingdes que fazem entre diferentes processos. Isso pode constituir um trabalho érduo, mas nao hé outa solugao. O comportamento humano & um objeto de estudo pelo menos to dificil quanto a quimica dos materiais orgdnicos ou a estrutura do tomo. Esbogos superficiais do que a ciéncia tem a dizer so bore qualquer objeto sio sempre interessantes, mas nunca so adequados para a agdo pritica. Se quisermos aprofundar @ com- preensio do comportamento humano e melhorar os métodos de controle, devemos estar preparados para 0 caréter rigoroso do pensar que a cigncia requer.

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