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PONTOS

SENSÍVEIS

ENFIM
LEGISLAÇÃO

LEI DE TÓXICOS
LEI DE DROGAS
Lei nº 11.343/2006
No contexto jurídico brasileiro atual, a Lei n.º 11.343/2006 desempenha um papel
fundamental na regulamentação do tráfico de drogas, bem como no tratamento destinado
aos usuários. Essa legislação, promulgada no final de 2006, substituiu de forma explícita
a antiga Lei de Drogas, composta pelas Leis nº 6.368/1976 e 10.409/2002.

Antes da promulgação da Lei nº 11.343 em 2006, existiam duas leis distintas que
tratavam do assunto das drogas no Brasil. Uma delas se dedicava à tipificação das
condutas criminosas, enquanto a outra abordava os procedimentos legais a serem
seguidos. No cenário atual, a integralidade das questões relacionadas às drogas, tanto
no âmbito penal quanto no investigativo e procedimental, é regida pela Lei nº
11.343/2006.

Em resumo:

● A regulamentação das questões relacionadas às drogas é estabelecida pela


Lei nº 11.343/2006.

● Atualmente, todas as disposições legais referentes a esse tema estão


consolidadas na Lei nº 11.343/2006, que revogou expressamente as Leis nº 6.368/1976 e
10.409/2002.

ASPECTOS DA “NOVA” LEI DE DROGAS

● Estabelecimento do SISNAD - Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre


Drogas.

● Substituição da terminologia "substâncias entorpecentes" por "drogas".

● A nova legislação introduz uma abordagem mais rigorosa em relação ao


traficante e uma abordagem mais compassiva em relação ao usuário. Isso se deve ao
fato de que a antiga Lei de Drogas permitia a prisão do usuário, com pena prevista de até
03 anos.

Por outro lado, a atual Lei de Drogas adota uma abordagem distinta, não
prevendo mais a prisão do usuário. Isso representa um benefício significativo introduzido
pela nova Lei (Art. 28, Lei nº 11.343/2006). É importante destacar que não há mais pena
privativa de liberdade para o usuário!

E quanto às penalidades aplicadas ao usuário? Conforme o artigo 28, as


seguintes medidas são estabelecidas:
PENAS PARA O USUÁRIO (ART. 28, LEI Nº 11.343/2006)
I - advertência sobre os efeitos das drogas;

II - prestação de serviços à comunidade;

III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso


educativo.

Em situações de não cumprimento das penalidades, o juiz estará autorizado a


impor medidas sancionatórias, que consistem em admoestação verbal ou aplicação de
multa, conforme estabelecido no Artigo 28, § 6º.

É importante salientar que a prisão cautelar não é aplicável ao usuário, pois não
se admite sequer no desfecho do processo legal.

→ Deve ficar claro que não se aplica Prisão em Flagrante (segunda fase do
flagrante) ao usuário.

No entanto, para o traficante, a nova Lei de Drogas adotou um enfoque mais


rigoroso. A pena mínima, por exemplo, foi ampliada. O tratamento conferido ao traficante
na nova legislação era tão severo que o Supremo Tribunal Federal reconheceu a
inconstitucionalidade de algumas disposições, que se baseavam na proibição abstrata de
certos benefícios.

NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

A Lei de Drogas continua a passar por frequentes revisões ao longo dos anos,
devido à presença de delitos comuns na sociedade. Isso resulta em uma considerável
carga processual e na criação de jurisprudência substancial, levando a várias
modificações legislativas com novas definições incorporadas ao nosso sistema jurídico.

O objeto material de um crime é a pessoa ou coisa que está sujeita à conduta


criminosa. Nesse contexto, nos crimes abordados pela Lei de Drogas, o objeto material
em questão é a própria droga, conforme estabelecido no artigo 1º, parágrafo único da Lei
nº 11.343/2006.

NORMA PENAL EM BRANCO

A Lei de Drogas não apresenta uma definição do termo "Droga" em seu tipo
penal, o que a caracteriza como uma norma penal em branco. Isso significa que o
preceito primário da lei está incompleto e requer um complemento para sua plena
compreensão. Especificamente, essa lei é classificada como uma norma penal em
branco heterogênea, uma vez que o complemento necessário está estabelecido em um
ato normativo emitido pelo Poder Executivo Federal.
Nesse contexto, a Lei n. 11.343/06 aborda exclusivamente o tema no seu artigo
1º, parágrafo único:

Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as


substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim
especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas
periodicamente pelo Poder Executivo da União.

Como, então, podemos determinar o que constitui uma substância como "droga"
para efeitos de classificação dos delitos estabelecidos na Lei n. 11.343/2006? Para
abordar essa lacuna na definição legal de drogas para fins criminais, a Portaria 344/98 da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), vinculada ao Ministério da Saúde,
estabeleceu:

Art. 1º Para os efeitos deste Regulamento Técnico e para a sua


adequada aplicação, são adotadas as seguintes definições:

(...)

Droga - Substância ou matéria-prima que tenha finalidade


medicamentosa ou sanitária.

Nesta portaria, são elencadas mais de 400 substâncias catalogadas como


entorpecentes. É importante ressaltar que o termo "droga" não se restringe apenas a
substâncias como maconha, cocaína, heroína, entre outras.

Os delitos previstos na Lei de Drogas, conforme explicitado no parágrafo único do


artigo 1º da Lei nº 11.343/2006, podem ser complementados de duas maneiras: por meio
de uma nova lei (o que a classificaria como uma norma penal em branco homogênea) ou
por meio de um Ato Administrativo (neste caso, a norma penal em branco é
heterogênea).

Apesar de ambas as possibilidades, atualmente em nosso sistema legal, os


delitos estabelecidos na Lei de Drogas são regulamentados por uma norma penal em
branco heterogênea, uma vez que a norma complementar é especificada por um ato
administrativo emitido pelo governo federal, mais precisamente pela ANVISA. Assim, a
determinação da conduta criminosa é estabelecida pela Lei, mas a identificação de quais
substâncias se enquadram como "droga" é determinada pela Portaria da ANVISA, uma
agência vinculada ao Poder Executivo Federal.

Portanto, devido à natureza da fonte de complementação ser uma portaria, a Lei


de Drogas é considerada uma norma penal em branco heterogênea.

VAMOS ESQUEMATIZAR:
NORMAL PENAL EM BRANCO

HETEROGÊNEA HOMOGÊNEA
Quando o complemento estiver definido Quando o complemento estiver definido
em ato infralegal. em lei.
(Divide-se em homóloga – mesma lei - ou
heteróloga – lei distinta).

RESSALVAS À PROIBIÇÃO DE DROGAS

O art. 2º da Lei 11.3434/06 segue afirmando:

Art. 2º Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem


como o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e
substratos dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas,
ressalvada a hipótese de autorização legal ou regulamentar, bem
como o que estabelece a Convenção de Viena, das Nações Unidas,
sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de
uso estritamente ritualístico-religioso.

Uma primeira observação sobre a proibição é explicitada no parágrafo inicial


deste artigo, referindo-se à Convenção de Viena, que aborda o uso de substâncias
entorpecentes para propósitos religiosos. Nesse contexto, a obtenção de uma
autorização judicial é necessária.

Vejamos o que diz a lei:

Parágrafo único. Pode a União autorizar o plantio, a cultura e a


colheita dos vegetais referidos no caput deste artigo, exclusivamente
para fins medicinais ou científicos, em local e prazo predeterminados,
mediante fiscalização, respeitadas as ressalvas supramencionadas.

Outras duas condições especiais são estabelecidas para autorizações


relacionadas a propósitos medicinais ou científicos, conforme detalhado no parágrafo
único anteriormente mencionado. Assim, a proibição, exploração, plantio ou cultivo de
substâncias entorpecentes possui três exceções bem definidas: aquelas destinadas a
fins religiosos, científicos e medicinais.
EXCEÇÕES:
SUJEITOS DO CRIME: ATIVO E PASSIVO

Em termos gerais, os delitos estipulados na Lei de Drogas são considerados


crimes comuns ou genéricos, o que significa que podem ser cometidos por qualquer
pessoa, não requerendo uma característica especial do agente. No entanto, existe uma
exceção prevista no artigo 38 da Lei nº 11.343/2006, que é classificada como um crime
próprio ou especial (exigindo uma característica especial do agente). Este é o caso do
crime de prescrição ou administração culposa de drogas. Vamos analisar esse contexto
com mais detalhes:

Prescrição ou Ministração Culposa de Drogas

Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas


necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de


50 (cinquenta) a 200 (duzentos) dias-multa.

Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho


Federal da categoria profissional a que pertença o agente.

O verbo "prescrever" no contexto da Lei de Drogas, torna esse delito como um


crime próprio. Isso ocorre porque é necessária uma qualidade especial do agente, ou
seja, a pessoa que pode "prescrever" deve ser um "médico, dentista, farmacêutico ou
profissional de enfermagem". Somente profissionais da área de saúde têm a autorização
para realizar essa ação.

No que se refere ao sujeito passivo do crime, ele é a coletividade. Os delitos


estabelecidos na Lei de Drogas são categorizados como crimes vagos. Isso significa que
o sujeito passivo envolvido é uma entidade desprovida de personalidade jurídica.
EXPROPRIAÇÃO DE PROPRIEDADES RURAIS E URBANAS

A Constituição Federal, em seu artigo 243, estabelece a expropriação de


propriedades rurais e urbanas, independentemente de sua localização em qualquer parte
do país, quando nelas forem encontradas culturas ilegais de plantas psicotrópicas. Esse
processo de expropriação ocorre sem que o proprietário receba qualquer compensação e
não exclui outras sanções determinadas por lei.

Nesse contexto, o parágrafo 4º do artigo 32 da Lei de Drogas replica essa


disposição, deixando a regulamentação do procedimento de expropriação para ser
estabelecida por meio de legislação complementar. Vamos examinar isso mais
detalhadamente:

Artigo 32, § 4º As glebas cultivadas com plantações ilícitas serão


expropriadas, conforme o disposto no art. 243 da Constituição Federal,
de acordo com a legislação em vigor.

De acordo com o entendimento estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal em


um julgamento de Recurso Extraordinário, ficou estabelecido que a expropriação deve se
aplicar à totalidade da propriedade em questão e não apenas à parte destinada ao cultivo
de plantas psicotrópicas. Essa abordagem não entra em conflito com o princípio da

CRIMES DE PERIGO ABSTRATO

Os delitos estipulados na Lei de Drogas são classificados como crimes de perigo


abstrato, o que significa que a prática da ação descrita na lei presume, de maneira
absoluta, a existência de perigo ao bem jurídico, e não é permitida a apresentação de
provas em contrário. No entanto, existe uma exceção a essa regra, que é representada
pelo tipo penal previsto no artigo 39 da referida lei. No crime delineado no artigo 39 da
Lei de Drogas, estamos diante de um crime de perigo concreto: não basta apenas
conduzir uma embarcação sob a influência de drogas; é necessário que ocorra
efetivamente uma exposição da integridade de outras pessoas a um perigo concreto, real
e efetivo.
DOS CRIMES E DAS PENAS
PORTE DE DROGAS PARA O CONSUMO PESSOAL
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou
trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou
em desacordo com determinação legal ou regulamentar será
submetido às seguintes penas:

O autor do crime definido pelo artigo 28 pode ser qualquer pessoa, o que o
caracteriza como um crime comum, ou seja, um delito que pode ser praticado por
qualquer indivíduo, sem a necessidade de uma característica especial do agente. Como
mencionado anteriormente, a maioria dos crimes previstos na Lei de Drogas são, em
princípio, considerados crimes comuns. Entretanto, no contexto do crime de tráfico,
especificamente na modalidade de prescrição e administração (artigo 33), o delito é
categorizado como um crime próprio. Isso ocorre porque exige uma qualidade especial
do agente para ser aplicado. O bem jurídico que se busca proteger, no presente caso, é a
saúde pública.

O objeto material, por sua vez, é a pessoa ou a coisa que é afetada pela conduta
criminosa. No crime descrito no artigo 28 da Lei 11.343, o objeto material é a própria
droga. Trata-se de um tipo penal misto alternativo, que abrange cinco ações diferentes, e
se configura com a prática de qualquer uma delas.

Essas ações são as seguintes:

● Adquirir;

● Guardar;

● Trazer consigo;

● Ter em depósito;

● Transportar.

A Lei não faz menção ao verbo "usar", porém, inclui verbos que, teoricamente,
englobam a ação prévia do consumo. O simples ato de usar drogas não é considerado
uma conduta tipificada, mas é considerado o propósito específico subjacente às ações
mencionadas no dispositivo legal. Reforçando o que foi mencionado, Roque, Távora e
Alencar :

O art. 28 da Lei de Drogas trata das condutas a serem praticadas pelo


usuário. A primeira anotação que devemos fazer é, justamente, no
sentido de que a Lei não criminaliza o consumo em si, mas sim
condutas relacionadas à pretensão de consumir a droga.
Basta perceber que dentre os núcleos do tipo não se encontra o verbo
“consumir”. De todo modo, inconcebível que o usuário consiga fazer
uso da droga sem que realize pelo menos um dos núcleos do tipo –
“adquirir”, “guardar”, “ter” (em depósito), “transportar” ou “trazer”
consigo.

A ação descrita no artigo 28 é considerada um delito, mesmo que vivamos sob o


princípio da alteridade. O princípio da alteridade essencialmente significa que se alguém
causa danos a si mesmo, esses danos não resultarão em punição. No entanto, no
contexto da Lei de Drogas, o sujeito passivo é a saúde pública. Portanto, o foco principal
não é apenas o usuário de drogas, mas sim a preservação da saúde pública. Caso
contrário, a sociedade sofre diretamente com questões relacionadas à marginalização,
sobrecarga no sistema de saúde e problemas de overdose.

Nesse contexto, a ação de adquirir drogas para que outra pessoa as consuma é
considerada tráfico de drogas (artigo 33), devido à ausência do propósito específico
(consumo pessoal) que caracteriza o delito do artigo 28.

FIGURA EQUIPARADA:

Art. 28 § 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu


consumo pessoal, semeia, cultiva ou colher plantas destinadas à
preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de
causar dependência física ou psíquica.

Este parágrafo elenca as ações equiparadas ao crime descrito no parágrafo


anterior, que incluem semear, cultivar ou colher. Quais são essas ações? Elas abrangem
as seguintes:

● Semear;

● Cultivar;

● Colher.

Esse dispositivo se refere ao local em que o agente planta uma quantidade


restrita de substância ou produto com potencial para gerar dependência física ou
psicológica, destinados ao seu consumo pessoal (por exemplo, plantar uma única planta
de maconha em um vaso na varanda do apartamento).

Observação 1: A plantação deve ser feita com o intuito específico de consumo


pessoal.

Observação 2: A prática de qualquer uma das ações já configura o delito, pois


estamos diante de um tipo penal misto alternativo.
Observação 3: A planta deve ser destinada a uma quantidade limitada, uma vez
que a lei expressamente se refere a uma "pequena quantidade".

PUNIÇÕES:

Na legislação atual sobre drogas, não se permite mais a prisão do usuário. Isso
representa um significativo benefício introduzido pela Lei nº 11.343/2006, que no seu
Artigo 28 elimina a possibilidade de impor pena privativa de liberdade ao usuário.

Quanto às punições aplicadas ao usuário, o Artigo 28 ainda estabelece em seus


incisos:

I - advertência sobre os efeitos das drogas;

II - prestação de serviços à comunidade;

III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso


educativo.

O Supremo Tribunal Federal (STF) emitiu seu posicionamento em relação à tese


de "descriminalização" do Artigo 28, e, segundo a decisão da Corte, o ato continua a ser
considerado uma infração, mantendo sua natureza penal.

Esse delito é classificado como um crime de menor potencial ofensivo, não


houve, portanto, descriminalização do em relação ao delito previsto no Art. 28, havendo
no caso uma despenalização.

As penas impostas não envolvem privação de liberdade e incluem medidas como


advertência sobre os efeitos das drogas, prestação de serviços à comunidade e
participação em programas ou cursos educativos, preferencialmente relacionados a
questões de drogas.

Quanto ao prazo, este é de 5 meses para réus primários e de 10 meses para


reincidentes. No caso da reincidência, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) se pronunciou
no RESP 1.771.304-ES (conforme informativo 662 do STJ) e determinou que se trata de
uma reincidência específica no uso de drogas.

É importante destacar que, de acordo com o Artigo 27, é viável a imposição


cumulativa de duas ou até três penas:

Art. 27. As penas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas


isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a qualquer tempo,
ouvidos o Ministério Público e o defensor.
A condução coercitiva, no caso de descumprimento de um Termo
Circunstanciado, com o objetivo de levar o indivíduo ao juiz para receber uma
advertência, por exemplo, é permitida no contexto de porte de drogas para consumo
pessoal. No entanto, é importante salientar que, de acordo com a lei de abuso de
autoridade e decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), não é permitido conduzir
alguém coercitivamente perante o juiz com o propósito de interrogatório, com base no
princípio da presunção de inocência e na garantia de não produzir provas contra si
mesmo.

No caso de portadores de drogas para uso pessoal, o princípio da presunção de


inocência não se aplica, uma vez que a pessoa já foi condenada a uma pena de
advertência. Portanto, de acordo com o Enunciado do FONAJE (Fórum Nacional dos
Juizados Especiais), se um usuário de drogas faltar injustificadamente a uma audiência
para a aplicação da pena de advertência, ele pode ser conduzido coercitivamente.

A prestação de serviços tem como foco principal a prevenção do consumo de


drogas e a recuperação de usuários e dependentes, caracterizando-se por duas
particularidades: a não substituição de outras penas e a impossibilidade de conversão.
Esta pena é independente e não substitui nenhuma outra, ao contrário das penas
restritivas de direitos, que podem substituir a prisão. Além disso, se a pena de prestação
de serviços for descumprida, ela não será transformada em prisão, o que a diferencia
notavelmente das penas restritivas de direitos.

No caso de não cumprimento, o juiz pode impor sanções que incluem uma
admoestação verbal e uma multa. Vale ressaltar que não é cabível a prisão preventiva
para os usuários, uma vez que essa medida não se justifica, mesmo ao término do
processo. Portanto, a prisão em flagrante, que ocorre na segunda fase do flagrante, não
se aplica a esses casos.

#ATENÇÃO: A admoestação verbal e a multa não fazem parte das penalidades


estabelecidas no Artigo 28. Elas representam medidas extrapenais que têm como
finalidade influenciar o cumprimento das penas previstas, que incluem a advertência, a
prestação de serviço à comunidade e a participação em curso educativo.

O entendimento consolidado é que as medidas coercitivas, como a admoestação


verbal e a multa, destinadas a assegurar o cumprimento das penas estabelecidas no
Artigo 28, são sequenciais. Primeiramente, é necessária a admoestação, e somente
após, se necessário, a multa pode ser aplicada. Não é permitido que ambas sejam
aplicadas simultaneamente.

Caso o usuário tenha recebido a admoestação e, posteriormente, a multa


coercitiva tenha sido imposta, e ainda assim não tenha surtido efeito no que diz respeito
ao cumprimento da pena, resultando no falecimento do indivíduo, a multa anteriormente
estipulada pode ser reclamada junto aos herdeiros, com correção.
Nesse contexto, não se aplica o princípio da intranscendência da pena, pois tanto
a admoestação verbal quanto a multa não são consideradas penas, mas sim meios extra-
penais destinados a garantir o cumprimento das penas. Portanto, os herdeiros serão
responsáveis pelas multas conforme o patrimônio deixado pelo falecido, sem limitação
definida pela lei quanto ao número de multas que podem ser aplicadas.

REINCIDÊNCIA

O Artigo 28 costumava resultar em reincidência para outros delitos, mas houve


uma mudança no entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Essa modificação
se baseia no fato de que, se a lei das contravenções penais estabelece uma pena de
prisão simples que não gera reincidência, não faz sentido que o Artigo 28, que prevê
apenas "advertência", "prestação de serviços" e "medida educativa", seja causa de
reincidência.

É importante ressaltar que a lei de contravenções penais estabelece que a prática


de uma contravenção penal e, posteriormente, a prática de um crime não resultam em
reincidência; apenas quando se trata de uma contravenção penal seguida por outra
contravenção penal, ocorre a reincidência. Da mesma forma, a prática de um crime e, em
seguida, de uma contravenção, resulta em reincidência.

INFORMATIVOS JURISPRUDENCIAIS E SÚMULAS

INFORMATIVO 632, STJ - O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da
Lei nº 11.343/2006, possui natureza jurídica de crime. O porte de droga para consumo
próprio foi somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado.

Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº
11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência. Argumento
principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não
configura reincidência, mostra-se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de
reincidência, considerando que este delito é punido apenas com “advertência”, “prestação
de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou, seja, sanções menos graves e nas
quais não há qualquer possibilidade de conversão em pena privativa de liberdade pelo
descumprimento. Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28
da LD está sendo fortemente questionada.
A revogação da suspensão condicional do processo se tornará obrigatória se,
durante o curso do processo, o beneficiário for processado por outro crime. Por outro
lado, se o beneficiário for processado por uma contravenção no período de prova, a
revogação da suspensão do processo se tornará facultativa. O Superior Tribunal de
Justiça (STJ) entende que o processamento por cometer o crime descrito no Artigo 28 da
Lei de Drogas durante o período de prova deve ser considerado como motivo de
revogação facultativa. Isso ocorre porque a contravenção penal tem consequências legais
menos severas do que a conduta descrita no referido dispositivo, e a disparidade no

COMPETÊNCIA
Conforme mencionado anteriormente, o delito estipulado no Artigo 28 da Lei
11.343/06 é considerado um crime de menor potencial ofensivo, e, portanto, a jurisdição
para julgá-lo é do Juizado Especial Criminal, dentro da esfera da Justiça Estadual. O
procedimento e julgamento desse crime seguem o rito sumaríssimo, de acordo com a Lei
9.099/1995. Em resumo, o Artigo 28 da Lei de Drogas constitui uma infração de menor
gravidade, com processamento e julgamento sujeitos às disposições do procedimento
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
A opinião predominante é que o princípio da insignificância não se aplica ao
Artigo 28, uma vez que o próprio delito é considerado, por natureza, de insignificante
potencial lesivo e baixa gravidade. Isso se deve à sua intrínseca falta de ofensividade.

HABEAS CORPUS

Não é cabível a utilização do habeas corpus em relação ao crime definido no


Artigo 28, uma vez que tal delito não implica risco ou ameaça à liberdade de locomoção,
dado que a pena aplicada não envolve privação de liberdade.

CRITÉRIOS PARA DETERMINAÇÃO DO CONSUMO

Art. 28 § 2º Para determinar se a droga destinava-se a consumo


pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância
apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às
circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos
antecedentes do agente.

Para avaliar se a droga estava destinada ao consumo pessoal, o juiz considerará


as seguintes condições:

1. A natureza e a quantidade da substância apreendida.

2. O local e as circunstâncias em que ocorreu a ação.

3. As condições sociais e pessoais do indivíduo envolvido.

4. O comportamento e os antecedentes do agente.

Nesse contexto, o Supremo Tribunal Federal (STF) reiterou sua posição de que a
quantidade de drogas, isoladamente, não constitui um fator determinante para a
conclusão de que se destinavam ao consumo pessoal. Vejamos:
PRESCRIÇÃO PENAL
Art. 30. Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a execução das
penas, observado, no tocante à interrupção do prazo, o disposto nos
arts. 107 e seguintes do Código Penal.

O artigo 30 da Lei 11.343 estabelece um período de prescrição de 2 anos para a


imposição e execução das penas, levando em consideração as disposições dos artigos
107 e seguintes do Código Penal em relação à interrupção do prazo.

No caso específico do delito previsto no artigo 28 da Lei 11.343/2006, a


prescrição é fixada em 2 anos. Esse período de tempo se aplica tanto à prescrição da
pretensão punitiva quanto à prescrição da pretensão executória. É importante ressaltar
que essa é uma das prescrições mais curtas estabelecidas em nosso sistema jurídico.

Todas as normas contidas nos artigos 107 e seguintes do Código Penal serão
aplicadas ao crime definido no artigo 28. Por exemplo, se um indivíduo de 19 anos for
detido por uso de drogas, a prescrição para esse crime será de 1 ano, de acordo com o
artigo 115 do Código Penal.

Art. 115. São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o


criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou,
na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos.
TRÁFICO DE DROGAS
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar,
adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar,
trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou
fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500


(quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

Este é um tipo penal misto alternativo. Se o agente cometer duas ou mais


condutas em relação à mesma substância entorpecente, ele será responsabilizado por
apenas um crime. No entanto, se as condutas forem direcionadas a diferentes drogas,
isso configura um concurso de crimes. As ações criminalizadas pelo referido artigo
incluem:
● Oferecer;
● Importar;
● Ter em depósito;
● Exportar;
● Transportar;
● Remeter;
● Trazer consigo;
● Preparar;
● Guardar;
● Produzir;
● Prescrever;
● Fabricar;
● Ministrar;
● Adquirir;
● Entregar para consumo;
● Vender;
● Fornecer drogas.
● Expor à venda;

No que diz respeito à explicação de cada conduta, Victor Eduardo Rios


Gonçalves e José Paulo Baltazar Junior (2016) oferecem a seguinte descrição:

Importar refere-se à ação de introduzir uma substância entorpecente


no país, seja por via aérea, marítima ou terrestre. Este crime pode ser
cometido até mesmo através do correio, consumando-se quando a
droga adentra o território nacional. Vale ressaltar que, de acordo com o
princípio da especialidade, aplica-se a Lei de Drogas, não o artigo 334
do Código Penal (que trata de contrabando ou descaminho), o qual se
refere exclusivamente à importação de outros produtos proibidos.
Exportar envolve o envio da substância entorpecente para outro país
por qualquer meio disponível.

Remeter consiste em transferir a droga de um local para outro dentro


do território nacional.

Preparar refere-se à combinação de substâncias não entorpecentes


para criar uma substância tóxica pronta para uso.

Produzir envolve a criação da substância, sendo uma preparação que


requer capacidade criativa, não se resumindo apenas à mistura de
outras substâncias.

Fabricação ocorre por meio de processos industriais.

Adquirir refere-se à compra ou obtenção da propriedade da


substância, seja de forma onerosa ou gratuita. Constitui crime de
tráfico somente quando a pessoa adquire a droga com a intenção de
posteriormente entregá-la para consumo de outrem. A aquisição de
drogas para uso pessoal está prevista no artigo 28, com pena mais
branda.

Vender significa alienar a substância em troca de dinheiro ou outro


valor econômico.

Expor à venda consiste em apresentar a droga a possíveis compradores.

Oferecer implica em abordar potenciais compradores e informá-los da


disponibilidade da droga para venda.

As condutas "guardar" e "ter em depósito" geram controvérsias na


doutrina. Alguns entendem que "ter em depósito" implica reter droga
de propriedade do agente, enquanto "guardar" envolve a retenção de
droga pertencente a terceiros.

Transportar significa levar a substância de um local para outro


utilizando um meio de transporte, diferenciando-se da conduta
"remeter," que não envolve necessariamente o uso de um meio de
transporte terrestre. O envio de drogas pelo correio é considerado
"remessa," a menos que ocorra entre dois países, quando passa a ser
classificado como "importação" ou "exportação.

Trazer consigo envolve pessoalmente carregar a droga, sendo uma


conduta comum, como quando o agente traz a substância em seu
bolso ou bolsa.
Prescrever é sinônimo de receitar, configurando um crime próprio, uma
vez que apenas médicos e dentistas podem prescrever medicamentos.
Há substâncias entorpecentes que podem ser vendidas em farmácias
com prescrição médica. No entanto, se um médico prescreve
intencionalmente a droga apenas para facilitar o acesso, ele responde
por tráfico. O crime se consuma quando a receita é entregue ao
destinatário. Caso alguém que não seja médico ou dentista falsifique
uma receita para comprar drogas, ele é acusado de tráfico na
modalidade "adquirir" com a intenção de posterior venda. A prescrição
culposa de entorpecentes (em doses maiores que o necessário ou em
situações inadequadas) constitui um crime específico previsto no artigo
38 da Lei de Drogas.

Ministrar significa aplicar, injetar ou introduzir a substância


entorpecente no organismo da vítima, seja por via oral ou injetável. Por
exemplo, um farmacêutico que injeta drogas em alguém sem
prescrição médica comete esse crime.

Fornecer é sinônimo de proporcionar e implica a intenção de entregar


continuamente a substância ao comprador. Diferencia-se, portanto,
das condutas "vender" ou "entregar," mesmo quando realizadas de
forma gratuita, pois todas configuram crime de tráfico.

Se alguém realizar qualquer uma das ações descritas pelos verbos mencionados,
inclusive de forma gratuita, estará cometendo esse crime, sem a necessidade de
envolver questões financeiras.

Este crime, conforme descrito no artigo 33 da Lei de Drogas, é, em regra, de


natureza comum, o que significa que pode ser praticado por qualquer pessoa, não
exigindo uma qualidade especial do agente. No entanto, as ações "prescrever" e
"ministrar" são consideradas crimes próprios, uma vez que apenas profissionais de saúde
podem prescrever. Quanto à conduta "ministrar" (aplicar a droga), existe divergência, pois
alguns argumentam que qualquer pessoa pode realizá-la.

O tipo penal do artigo 33 da Lei de Drogas contém um elemento normativo


crucial: "sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar."
Portanto, para a caracterização desse crime, é fundamental que a conduta seja realizada
sem autorização legal ou em violação de determinações legais ou regulamentares. O
tráfico só será configurado se a ação for executada sem a devida autorização legal.

No parágrafo primeiro, são apresentados verbos que se aplicam a todas as


condutas equiparadas:
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:

I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende,


expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz
consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima,
insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas;

Qualquer substância extraída de uma droga entorpecente serve, desde que seja
adequada para a preparação da substância tóxica. É importante observar que a
importação de sementes de maconha não é considerada crime de tráfico. A interpretação
predominante na jurisprudência, tanto no Superior Tribunal de Justiça (STJ) quanto no
Supremo Tribunal Federal (STF), é que a importação de sementes de Cannabis sativa
não se

II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em


desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se
constituam em matéria-prima para a preparação de drogas;

Para a configuração desse crime, o princípio ativo é irrelevante, ao contrário do


que ocorre com as sementes mencionadas no inciso anterior. Isso ocorre porque a Lei de
Drogas exige apenas que as sementes sejam destinadas à preparação da droga, sem
necessidade do princípio ativo na planta. No caso das sementes, tanto o STF quanto o
STJ entendem que o princípio ativo é necessário.

III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a


propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente
que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização
ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o
tráfico ilícito de drogas.
Essa propriedade não necessariamente precisa estar sob posse do agente,
podendo ser apenas administrada ou vigiada por ele. Contudo, é crucial que a
propriedade seja disponibilizada para fins de tráfico, não para consumo pessoal. É
importante destacar que, no caso de um imóvel utilizado para fins de associação sem
envolver as ações típicas do tráfico, esse crime não é configurado.

Esse local pode ser um imóvel (como terreno, casa ou apartamento) ou um móvel
(como um carro ou avião). A caracterização do crime é baseada na intenção dolosa, ou
seja, o proprietário ou possuidor do local só é considerado criminoso quando tem
conhecimento da natureza da substância envolvida.

IV - vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto


químico destinado à preparação de drogas, sem autorização ou em
desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a agente policial
disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de
conduta criminal preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

Uma inovação introduzida pelo Pacote Anticrime (PAC) é a figura do agente


disfarçado. Antes do PAC, um agente disfarçado não podia se passar por um comprador
de drogas, pois isso configuraria um crime impossível. Agora, quem vende ou entrega
drogas, mesmo a um agente disfarçado, pode ser acusado de tráfico. É fundamental
notar que deve haver elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente,
como uma filmagem feita pela polícia civil, que o policial disfarçado utiliza para confirmar
a infração.

● Observação 1: Caso haja o elemento da conduta criminal preexistente, a


venda ou entrega ao agente policial disfarçado resultará em prisão em flagrante,
conforme o artigo 33, §1º, IV da Lei 11.343/06.

● Observação 2: Na ausência do elemento de conduta criminal preexistente,


mas o criminoso entrega prontamente a droga solicitada pelo agente policial disfarçado,
apenas serão possíveis as modalidades de "ter em depósito, transportar, trazer consigo
ou guardar," e a acusação seguirá o artigo 33 (caput) da Lei 11.343/06.

● Observação 3: Se não houver o elemento da conduta criminal preexistente,


e o agente policial disfarçado solicitar a droga ao traficante, que a busca em outro local, a
prisão em flagrante será considerada ilegal, conforme a Súmula 145 do STF. Isso ocorre
porque o traficante não a traz consigo, não a guarda, etc., e o policial o induz a buscar a
droga em outro lugar.
Nesse contexto, o Enunciado 7 da I Jornada de Direito Penal e Processo Penal
do CJF/STJ estabelece:

Não fica caracterizado o crime do inc. IV do § 1º do art. 33 da Lei n.


11.343/2006, incluído pela Lei Anti Crime, quando o policial disfarçado
provoca, induz, estimula ou incita alguém a vender ou a entregar
drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à sua
preparação (flagrante preparado), sob pena de violação do art. 17 do
Código Penal e da Súmula 145 do Supremo Tribunal Federal.

a) Agente disfarçado: Não requer autorização judicial, conforme o Artigo 33,


§1º, IV, envolvendo situações em que o policial se faz passar por comprador ou simples
adquirente. Essa prática é aplicável tanto na lei de drogas quanto no estatuto do
desarmamento.

b) Agente provocador: Refere-se àquele que induz alguém a cometer um


delito, mesmo quando a pessoa não tinha inicialmente a intenção de fazê-lo. Isso
configura a chamada figura do Crime Impossível e está relacionado à Teoria da
Armadilha.

c) Agente infiltrado: Regulamentado pela Lei 12.850/13, que trata de


organizações criminosas, requer autorização judicial para sua atuação.

CLASSIFICAÇÃO:

O verbo "prescrever" configura um crime próprio quando praticado por médicos,


odontólogos, entre outros profissionais da área de saúde. Nos demais verbos, trata-se de
um crime comum.

Esse crime é caracterizado como formal e doloso, implicando consciência e


intenção, é comissivo, envolvendo uma ação, é de perigo abstrato, tendo a coletividade
como sujeito passivo. Além disso, é classificado como um tipo misto alternativo, o que
significa que, se várias condutas forem praticadas no mesmo contexto, o agente será
punido por apenas um crime. O princípio da insignificância não é aplicável a este caso.
MODALIDADES PERMANENTES:

● Expor a venda: Enquanto estiver exposto está acontecendo o crime;

● Ter em depósito: Enquanto mantiver em depósito está acontecendo o crime;

● Transportar: Enquanto estiver transportando está acontecendo o crime

● Trazer consigo: Enquanto estiver trazendo consigo está acontecendo o crime;

● Guardar: Enquanto estiver guardando está acontecendo o crime.

Portanto, isso abre a possibilidade de prisão em flagrante, uma vez que a


condição essencial é que o crime esteja ocorrendo no momento da ação.

A quebra da inviolabilidade domiciliar para fins de prisão em flagrante por crimes


de drogas é autorizada quando existem circunstâncias concretas que permitiriam a um
observador razoável (o "homem médio") acreditar ou, pelo menos, suspeitar que um
crime está sendo cometido dentro da residência, respeitando o conceito de "probable
cause". De acordo com a interpretação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que é
relevante para concursos públicos, a mera intuição de tráfico de drogas na casa não
justifica a entrada sem mandado judicial ou consentimento do morador.

Por exemplo, se a polícia observa uma aglomeração de pessoas em uma área


conhecida por atividades de tráfico, e um indivíduo nota a presença policial e corre para
sua casa, a autoridade policial o segue e entra em sua residência, onde encontra drogas,
dinheiro e uma balança de precisão, isso NÃO constituiria justa causa. Isso ocorre
porque a mera suspeita decorrente da fuga não é suficiente para autorizar a entrada na

#ATENÇÃO: O encontro fortuito de prova é aplicável para lei de drogas.


Exemplo: Se um mandado permite a entrada em uma residência para a busca de armas
de fogo e, ao adentrar o local, são descobertas drogas, mesmo que o mandado não
mencionasse drogas, a autoridade policial estava autorizada a entrar. Nesse caso, a
descoberta das drogas ocorreu de maneira incidental.
Propriedade da droga é irrelevante

● Para consumar o crime de tráfico de drogas, não é necessário que a droga


seja de propriedade do agente.

● Se alguém guarda drogas em sua residência em nome de outra pessoa,


ainda comete o crime de tráfico, uma vez que ter em depósito e guardar também se
enquadram no tipo penal.

Adquirir para outra pessoa é tráfico

● Adquirir drogas, mesmo que seja em benefício de outra pessoa, constitui o


crime de tráfico de drogas.

Negociar aquisição de droga por telefone é suficiente

● A conduta de negociar a compra de drogas por telefone é o bastante para


configurar o crime de tráfico, mesmo que haja intervenção policial e a subsequente
apreensão da droga, impedindo que ela chegue até o agente. Isso foi estabelecido pelo
Supremo Tribunal Federal (STF) no Habeas Corpus 71.853 do Rio de Janeiro (RJ).

O agente que mantém em depósito ou guarda diversas espécies de drogas


cometerá um único crime, mesmo que haja uma combinação de diferentes tipos de
substâncias, como no caso de armazenar maconha e cocaína.

EQUIPARAÇÃO AO CRIME HEDIONDO:

O tráfico de drogas não é considerado um crime hediondo, mas é equiparado a


esse status. Essa equiparação é estabelecida tanto pela Constituição Federal, no Artigo
5º, XLIII, quanto pela própria Lei dos Crimes Hediondos (Lei 8.072/90, Artigo 2º, caput).
REGIME DE CUMPRIMENTO DE PENA:
Em primeiro lugar, é importante ressaltar que o tráfico de drogas é considerado
um crime equiparado a hediondo. Consequentemente, todas as regras aplicáveis aos
crimes hediondos também se estendem ao tráfico, incluindo todas as suas ramificações.

Nesse contexto, a Lei dos Crimes Hediondos, em sua redação original, previa o
regime integralmente fechado no Artigo 2º, Parágrafo 1º. No entanto, após uma lei
posterior modificar o regime para inicialmente fechado, o Supremo Tribunal Federal (STF)
decidiu que ambas as disposições eram inconstitucionais. O STF afirmou que a pena
poderia ser determinada em regime semiaberto ou aberto para os condenados por crimes
hediondos ou equiparados, o que inclui o tráfico de drogas.

PROGRESSÃO DE REGIME:
Antes da promulgação da Lei 11.464/2007, o critério para a progressão de regime
de cumprimento de pena privativa de liberdade era de 1/6 da pena total. No entanto,
após a entrada em vigor dessa lei, foi estabelecido que o réu primário deveria cumprir 2/5
da pena, e o réu reincidente (reincidência genérica) deveria cumprir 3/5 da pena para ter
direito à progressão de regime. Essa mudança foi consolidada na Súmula 471 do Superi-

Recentemente, houve uma nova alteração nas regras que determinam o tempo
de cumprimento da pena para a progressão de regime. Essa mudança está respaldada
legalmente no artigo 122 da Lei de Execução Penal e foi implementada por meio do
Pacote Anticrime (PAC). Como resultado, agora temos uma nova configuração em
relação aos critérios objetivos que devem ser atendidos para alcançar a progressão de
regime. Vamos analisar essas mudanças:
CRIMES HEDIONDOS OU EQUIPARADOS
40% Crime hediondo ou equiparado (primário)

50% a) Crime hediondo ou equiparado, com resultado MORTE (primário);


b) Comando individual ou coletivo de ORCRIM para a prática de crimes
hediondos ou equiparados;
c) Constituição de milícia privada.
60% Reincidente na prática de crime hediondo ou equiparado.

70% Reincidente em crime hediondo ou equiparado com resultado MORTE.


#ATENÇÃO: Uma vez que o crime de tráfico de drogas não envolve a ocorrência
de morte em seu tipo penal, é importante focar nas porcentagens de 40% e 60%. No
entanto, no caso de um indivíduo que comete tráfico como parte de um comando, de
maneira individual ou como parte de uma organização criminosa estruturada para a
prática de crime hediondo ou equiparado, a porcentagem é de 50% .

SUBSTITUIÇÃO DE PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE


DIREITO:
Após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento da ordem de
Habeas Corpus nº 82.959/SP, a jurisprudência passou a aceitar a possibilidade de
substituir a pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos nos crimes
hediondos e equiparados. Isso se tornou viável uma vez que o principal obstáculo que
existia, relacionado ao regime integralmente fechado, foi considerado inconstitucional e
removido. Portanto, a substituição da pena privativa de liberdade por uma pena restritiva
de direitos é plenamente admissível, desde que os requisitos necessários sejam
atendidos, inclusive nos casos de tráfico de drogas, que é um crime equiparado a
hediondo.

INDUÇÃO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO USO


É importante ressaltar que o Artigo 33, Parágrafo 2º, da Lei 11.343/2006 não é
equiparado a crime hediondo, pois esse dispositivo não trata de tráfico de drogas.

§ 2º Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a


300 (trezentos) dias-multa.

"Induzir" envolve a criação da ideia na vítima de que ela deve usar drogas.
"Instigar" é diferente, pois se refere a alimentar ou reforçar essa ideia. "Auxiliar" consiste
em fornecer ajuda material para que a vítima de fato use a droga.

Este é um crime material, o que significa que se consuma somente quando


ocorre o uso efetivo da droga por parte de terceiros, e não meramente com a conduta de
induzir, instigar ou auxiliar.

O STF na ADI 4274 se pronunciou afirmando que:

“As manifestações públicas realizadas, nas quais se pleiteia a


liberação do uso de drogas, NÃO configura esse delito, em razão da
garantia constitucional do direito de manifestação do pensamento, do
direito de expressão, do direito de acesso À informação e do direito de
reunião”.
USO COMPARTILHADO
§ 3º Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa
de seu relacionamento, para juntos a consumirem:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700


(setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das
penas previstas no art. 28.

Observe que no Parágrafo 2º, temos dois sujeitos necessários: quem induz,
instiga ou auxilia, e quem usa, sendo que o primeiro não necessariamente precisa usar a
droga. No Parágrafo 3º, é essencial que ambos ajam em conjunto para consumar o crime.
Além disso, os termos "oferecer" e "sem objetivo de lucro" neste contexto se distinguem
do crime de tráfico de drogas, especialmente em relação à expressão final do Parágrafo
3º, que enfatiza "para juntos a consumirem.

Este dispositivo legal visa sancionar aqueles que possuem uma pequena
quantidade de droga e a compartilham, por exemplo, com um amigo ou parceiro para uso
conjunto. Para que essa situação seja considerada e punida de forma mais branda, os
seguintes critérios devem ser atendidos:

a) A oferta da droga deve ocorrer de forma ocasional;

b) Deve ser feita sem qualquer compensação financeira;

c) O destinatário deve ser alguém com quem o ofertante mantém um


relacionamento pessoal;

d) A finalidade do compartilhamento da droga deve ser o consumo conjunto.

Se um indivíduo oferece drogas a alguém com quem possui um relacionamento


para o consumo conjunto, sem a intenção de obter lucro, mas essa pessoa tem uma
capacidade mental reduzida e não consegue compreender a situação relacionada ao uso
de drogas, a doutrina considera que o ofertante poderia ser enquadrado no crime de tráfi-
co de acordo com o Artigo 33, caput. Nesse caso específico, devido à incapacidade da
pessoa de entender o uso de drogas, o elemento subjetivo do crime torna-se mais
acentuado, e a ação de consumir juntos se torna praticamente uma imposição.

Quando um indivíduo oferece droga a duas ou mais pessoas, a interpretação


doutrinária estabelece que o indivíduo responderá por mais de um crime, a depender das
circunstâncias específicas do caso, aplicando-se os conceitos de concurso material,
formal ou continuidade delitiva.
CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA (TRÁFICO PRIVILEGIADO)
§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas
poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que o
agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às
atividades criminosas nem integre organização criminosa. (Vide
Resolução nº 5, de 2012)

A proibição da conversão de penas restritivas de liberdade já foi considerada


inconstitucional. O Supremo Tribunal Federal (STF) reconhece a possibilidade de
substituir a pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos, mesmo em casos
envolvendo crimes hediondos ou equiparados.

É importante observar que este artigo oferece a oportunidade de reduzir a pena


de 1/6 a 2/3 quando o agente é primário, não possui envolvimento em atividades
criminosas e não faz parte de uma organização criminosa. Esta situação é
comumente referida na doutrina e jurisprudência como "tráfico privilegiado." No que se

refere

REQUISITOS CUMULATIVOS PARA O TRÁFICO PRIVILEGIADO:


a) Primariedade do agente: Não pode ter sentença condenatória transitado
em julgado, respondido por outros crimes.

b) Bons antecedentes: Passagens e demais condições que devem contar para o


réu.

c) Não se dedicar à prática de atividades criminosas: Não ter a sua vida


voltada para crimes.

d) Não integrar organização criminosa: Se esse infrator responder pela Lei


12.850/13 ele automaticamente estará excluído do tráfico privilegiado.
Se um indivíduo está sendo processado de acordo com o Artigo 33 da Lei de
Drogas e não sob a Lei 12.850, mas sim pelo Artigo 35 (associação para o tráfico), o
requisito de não estar envolvido em uma organização criminosa ainda é considerado, e
pode ser aplicada a redução da pena do "tráfico privilegiado".

Embora, até recentemente, a doutrina e jurisprudência mantinham o


entendimento de que tanto no contexto da Lei 12.850 quanto no Artigo 35 da Lei de
Drogas, a possibilidade de "tráfico privilegiado" não se aplicava. No entanto, o STF
adotou uma perspectiva diferente, argumentando que:

"A previsão da redução de pena contida no Parágrafo 4º do Artigo 33


da Lei nº 11.343/06 tem o propósito de distinguir o traficante experiente
e profissional daquele que está no início de sua carreira criminosa,
bem como daquele que se envolve no tráfico de drogas por motivos
que, por vezes, se confundem com a necessidade de sobrevivência
sua ou de sua família. Portanto, para negar a aplicação do redutor, é
essencial que haja fundamentação sustentada em elementos capazes
de comprovar a falta de atendimento a um dos requisitos legais. Caso
contrário, seria desrespeitar o princípio da individualização da pena e
da fundamentação das decisões judiciais. Assim, a habitualidade e o
pertencimento a organizações criminosas devem ser comprovados de
forma concreta, e não baseados apenas em presunções. Na ausência
de prova nesse sentido, o condenado terá direito à redução da pena."

Um exemplo: Imagine um caso em que um traficante experiente, conhecido pela


polícia, vendia drogas diariamente e contava com a ajuda de sua esposa para embalar os
entorpecentes. Nesse caso, há uma clara estabilidade e continuidade, resultando em
acusações sob o Artigo 33 da Lei de Drogas e sob o Artigo 35, que versa sobre
associação de duas ou mais pessoas para o tráfico.

No entanto, a defesa da esposa invocou a aplicação do Parágrafo 4º do Artigo 33,


alegando que ela era ré primária, com bons antecedentes e não fazia parte de uma
organização criminosa. O juiz de primeira instância rejeitou essa alegação, e o caso
seguiu em recursos até chegar ao Supremo Tribunal Federal (STF). O STF decidiu que,
embora pudesse haver uma associação em relação à pessoa, não havia associação com
o tráfico propriamente dito. Nesse contexto, a esposa estava submetida à influência do
seu marido, e, consequentemente, a causa de diminuição de pena do Parágrafo 4º do
Artigo 33 foi aplicada. Esta decisão foi proferida pela 2ª Turma do STF, no Habeas
Corpus 154694, Agravo Regimental em São Paulo, com relatoria original do Ministro
Edson Fachin e redação do acórdão pelo Ministro Gilmar Mendes, julgada em 4 de
fevereiro de 2020 (Informativo 965).
A figura da "mula", que é uma pessoa paga para transportar drogas, não é mais
automaticamente considerada parte de uma associação criminosa, como era
tradicionalmente entendido. Embora antes fosse comum considerar a "mula" como parte
integrante de toda a cadeia do tráfico e, portanto, associada a essa atividade criminosa,
as atuais interpretações do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de
Justiça (STJ) reconhecem que a pessoa que transporta drogas ilícitas, conhecida como
"mula," nem sempre faz parte de uma organização criminosa. Uma decisão recente da 5ª
Turma do STJ ratificou essa interpretação.

De forma unânime, o colegiado mudou a perspectiva que prevalecia entre seus


membros até então, passando a entender que é possível aplicar a figura do "tráfico
privilegiado" ao agente que transporta drogas. O "tráfico privilegiado" pode ser
reconhecido em relação às "mulas”, especialmente quando se considera a natureza
esporádica e ocasional de seu envolvimento com a organização criminosa.

#ATENÇÃO: É importante destacar que investigações policiais em andamento e


processos judiciais em curso não podem ser utilizados como justificativa para negar a
aplicação do "tráfico privilegiado”. Esse tema já foi motivo de divergência entre o

MAQUINÁRIO DO TRÁFICO
Conforme ensinam Victor Eduardo Rios Gonçalves e José Paulo Baltazar Junior:

“As condutas típicas (do art. 34) são semelhantes às do art. 33, caput:
Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir,
entregar a qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que
gratuitamente. Entretanto, são elas relacionadas a máquinas ou
objetos em geral destinados à fabricação, preparação, produção ou
transformação de substância entorpecente.”

Vejamos o que diz a lei:


Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender,
distribuir, entregar a qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda
que gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer
objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação
de drogas, sem autorização ou em desacordo com determinação legal
ou regulamentar:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200


(mil e duzentos) a 2.000 (dois mil) dias-multa.

Para que um crime seja caracterizado, é fundamental apresentar evidências da


destinação ilícita dos objetos, uma vez que esses itens podem ser usados em atividades
legais. Portanto, é necessário comprovar que esses objetos estão sendo empregados no
processo de fabricação de drogas ilícitas. A consumação do delito ocorre no momento
em que a conduta é realizada, independentemente de a produção da droga ter ocorrido,
e a tentativa é admitida.

É importante ressaltar que, se o objeto ou maquinário for destinado ao consumo


de drogas, como lâminas usadas para dividir cocaína ou papel para embalar maconha,
ele não se enquadra neste artigo, mas sim no Artigo 28 da Lei de Drogas.

Quando o crime relacionado a objetos ou maquinário é cometido no mesmo


contexto dos crimes descritos no Artigo 33 (caput), com base no princípio da consunção
e na modalidade de crime progressivo, o Artigo 33 (caput) absorve o crime previsto no
Artigo 34. Esse entendimento foi estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

INFORMATIVOS JURISPRUDENCIAIS E SÚMULAS

INFORMATIVO 791, STF - (...) A Turma assinalou não haver nulidade quanto às
transcrições de interceptações telefônicas, que teriam sido devidamente disponibilizadas,
sem que a defesa, entretanto, houvesse solicitado a transcrição total ou parcial ao longo
da instrução. Ademais, entendeu que, dadas as circunstâncias do caso concreto, seria
possível a aplicação do princípio da consunção, que se consubstanciaria pela absorção
dos delitos tipificados nos artigos 33, § 1º, I, e 34 da Lei 11.343/2006, pelo delito previsto
no art. 33, “caput”, do mesmo diploma legal. Ambos os preceitos buscariam proteger a
saúde pública e tipificariam condutas que — no mesmo contexto fático, evidenciassem o
intento de traficância do agente e a utilização dos aparelhos e insumos para essa mesma
finalidade — poderiam ser consideradas meros atos preparatórios do delito de tráfico
previsto no art. 33, “caput”, da Lei 11.343/2006.
ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO
Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar,
reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33,
caput e § 1º, e 34 desta Lei:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700


(setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre


quem se associa para a prática reiterada do crime definido no art. 36
desta Lei.

Trata-se de um crime plurissubjetivo ou de concurso necessário, uma vez que a


legislação exige a participação de no mínimo duas pessoas para a configuração do delito,
incluindo indivíduos inimputáveis.

VAMOS ESQUEMATIZAR:

ASSOCIAÇÃO PARA ORGANIZAÇÃ ASSOCIAÇÃO


O TRÁFICO O CRIMINOSA
CRIMINOSA
Duas ou mais pessoas Quatro ou mais pessoas Três ou mais pessoas

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) reafirma a necessidade do dolo em associar


-se, não permitindo que essa associação seja ocasional, requerendo estabilidade e
permanência, e não admitindo a tentativa. Esse crime é considerado formal, uma vez que
a sua consumação não depende da efetiva prática dos delitos para os quais os agentes
se associaram. No entanto, caso tais delitos sejam cometidos, os agentes responderão
tanto pela associação como pelo crime de tráfico em concurso material.

A participação de um menor pode ser utilizada tanto para a caracterização do


crime de associação para o tráfico, conforme estabelecido no artigo 35, quanto para
agravar a pena de acordo com a causa de aumento prevista no artigo 40, inciso VI, da
Os requisitos para esse crime incluem a permanência, não admitindo
associações esporádicas para o tráfico, e a estabilidade, que implica um propósito
associativo contínuo. Se a associação for formada com o objetivo de praticar um único
ato isolado de tráfico, configura-se apenas uma coautoria no delito de tráfico de drogas.

Vale destacar que o crime de associação para o tráfico, além de ser


plurissubjetivo, também pode ser plurilocal. O fato de haver membros da associação em
diversas cidades não impede a configuração do crime de associação para o tráfico. Esse
entendimento foi estabelecido pela 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) no
julgamento do REsp 1845496/SP, com relatoria da Ministra Laurita Vaz, realizado em
03/11/2020.

#ATENÇÃO: O Superior Tribunal de Justiça (STJ) estabeleceu a interpretação de


que o crime de associação para o tráfico não é equiparado a crime hediondo, uma vez
que não está sujeito às disposições da Lei 8.072/90. Isso foi afirmado no julgamento do
AgRg no HC 499.706/SP, sob a relatoria do Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO-

FINANCIAMENTO AO TRÁFICO
Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos
nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500


(mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa.

Essa conduta abrange qualquer forma de assistência financeira, e é importante


destacar que o financiador deve ter um histórico de habitualidade, de acordo com o
entendimento predominante. A tentativa não é aceitável.

O legislador buscou tornar a conduta de financiar o tráfico uma infração penal


autônoma, representando uma forma de participação na atividade de tráfico de drogas.
Essa distinção reflete uma exceção à teoria monista do concurso de pessoas, uma vez
que não há uma identidade de infração penal entre o traficante (artigo 33) e o financiador
do tráfico (artigo 36). Em outras palavras, quem apenas financia o tráfico não é
considerado coautor nem partícipe do tráfico, conforme Habib (2019) argumenta.
É importante observar que o autofinanciamento, que ocorre quando um indivíduo,
além de praticar o tráfico, financia sua própria atividade por meio de uma empresa, é
amplamente considerado como um "post factum impunível". Isso significa que é um crime
subsequente que não será punido, e, portanto, não está sujeito ao artigo 33, mas sim ao
artigo 36 da Lei de Drogas.

No entanto, a jurisprudência adota uma perspectiva diferente, determinando que


o indivíduo que pratica o tráfico (artigo 33) com a causa de aumento de pena prevista no
artigo 40, inciso VIII, de acordo com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça
(STJ).

INFORMANTE COLABORADOR
Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou
associação destinados à prática de qualquer dos crimes previstos nos
arts. 33, caput e § 1º , e 34 desta Lei:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300


(trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa.

A simples colaboração com o tráfico não é suficiente; a Lei exige que o


informante colaborador esteja associado a um grupo, organização ou associação que se
dedique ao tráfico de drogas. No entanto, o informante não pode fazer parte desse
grupo, pois, caso contrário, ele passaria a integrar a organização, grupo ou associação
em questão.

Um exemplo clássico desse cenário é o caso do "pipa" ou "aviãozinho", que


ocorre com frequência em favelas, onde pessoas que não têm envolvimento com o
tráfico informam à comunidade sobre a presença da polícia. É relevante notar que essa
informação deve ser compartilhada com, no mínimo, duas pessoas envolvidas na
atividade do tráfico, para que seja considerada como colaboração com um grupo,
associação ou organização. Vale ressaltar que se um indivíduo trabalha para o tráfico
com a função de fazer avisos, ele não será enquadrado no artigo 37, uma vez que já faz
parte do grupo, associação ou organização em questão.

PRESCREVER OU MINISTRAR DROGAS (CULPOSAMENTE)

Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas


necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de


50 (cinqüenta) a 200 (duzentos) dias-multa.

Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho


Federal da categoria profissional a que pertença o agente.
É importante destacar que o artigo 38 da Lei de Drogas representa o único crime
culposo previsto na legislação. No entanto, é fundamental ter cautela, pois a conduta de
prescrever também está descrita no artigo 33.

Este artigo 38 engloba três condutas distintas:

a) Prescrever ou ministrar droga sem que dela haja necessidade. Por exemplo,
alguém que deseja emagrecer e prescreve anfetaminas.

b) Prescrever ou ministrar droga em doses excessivas. Por exemplo, alguém


que deseja emagrecer e prescreve anfetaminas em doses superiores às
recomendadas.

c) Prescrever ou ministrar uma droga necessária, mas em desacordo com a


determinação legal. Por exemplo, alguém que deseja emagrecer e
prescrever maconha.

É importante observar que se houver dolo na conduta de prescrever ou ministrar


drogas, caracteriza-se o crime de tráfico de drogas conforme estabelecido no artigo 33 da
Lei.

CONDUÇÃO DE EMBARCAÇÃO OU AERONAVE:


APÓS O CONSUMO DE DROGAS
Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de
drogas, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da apreensão


do veículo, cassação da habilitação respectiva ou proibição de obtê-la,
pelo mesmo prazo da pena privativa de liberdade aplicada, e
pagamento de 200 (duzentos) a 400 (quatrocentos) dias-multa.

Parágrafo único. As penas de prisão e multa, aplicadas


cumulativamente com as demais, serão de 4 (quatro) a 6 (seis) anos e
de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos) dias-multa, se o veículo
referido no caput deste artigo for de transporte coletivo de passageiros.

Este é o único crime de perigo concreto previsto na Lei de Drogas, caracterizado


pelo ato de "expor a dano potencial a incolumidade de outrem". É essencial que, devido
ao consumo de drogas, o agente opere uma aeronave ou embarcação de maneira
anormal. É relevante observar que, no caso de veículo automotor, a conduta se enquadra
no artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) da Lei 9.503/97, no qual não é
necessário comprovar o dano potencial, uma vez que se trata de um perigo abstrato.

Quanto a esse delito, Victor Eduardo Rios Gonçalves e José Paulo Baltazar
Junior (2016) explicam:
“O presente tipo penal, que tutela a segurança no espaço aéreo e
aquático, pune a condução perigosa de aeronave ou embarcação
decorrente da utilização de substância entorpecente.

Para a configuração do delito, é necessário que, em razão do


consumo da droga, o agente conduza a aeronave ou embarcação de
forma anormal, expondo a perigo a incolumidade de outrem. Não é
necessário, entretanto, que se prove que pessoa determinada foi
exposta a uma situação de risco, bastando a prova de que houve
condução irregular da aeronave ou embarcação. Estas, aliás, podem
ser de qualquer categoria ou tamanho (exemplos: avião a jato,
monomotor, turboélice, lancha, jet-ski, veleiro, navio).

Tratando-se de condução de veículo automotor em via pública


(automóvel, motocicleta, caminhão etc.), sob o efeito de entorpecente,
a conduta se enquadra no crime do art. 306 da Lei n. 9.503/97 (Código
de Trânsito Brasileiro — CTB), cujas penas são as mesmas.”

CAUSAS DE AUMENTO DE PENA


Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são
aumentadas de um sexto a dois terços, se:

I - a natureza, a procedência da substância ou do produto


apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a
transnacionalidade do delito;

Aqui, abordamos a questão da internacionalidade, na qual é necessário


comprovar que a droga atravessou as fronteiras do Brasil. Além disso, é essencial que a
droga seja proibida no país de origem (dupla ilicitude). No entanto, não é necessário que
a droga tenha efetivamente cruzado as fronteiras; se estiver em um aeroporto, por
exemplo, isso já configura a internacionalidade intencionada.

Um exemplo de dupla ilicitude é o caso do lança-perfume na Argentina, onde a


substância não é ilegal; no entanto, ao entrar no Brasil, o artigo 40, inciso I, da Lei de
Drogas não se aplica, mas a conduta ainda configura o tráfico, não gerando a atipicidade
Em 25 de fevereiro de 2022, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) formalmente
cancelou a Súmula 528. Cujo conteúdo era:

Súmula 528-STJ: Compete ao juiz federal do local da apreensão da


droga remetida do exterior pela via postal processar e julgar o crime de
tráfico internacional. (CANCELADA)

Na ocasião, o relator justificou que, após a aprovação da súmula em 2015, várias


decisões do STJ passaram a adotar uma abordagem divergente, que se mostrou mais
prática. Ele mencionou o julgamento anterior, no qual a interpretação da súmula foi
flexibilizada para estabelecer a competência do juízo do local de destino da droga. Isso
proporcionou maior eficiência na coleta de provas e permitiu que a defesa fosse exercida
de maneira mais abrangente.

Caso a droga seja remetida via postal, mas não conste o endereço do
destinatário, essa situação é improvável, uma vez que toda correspondência enviada
deve obrigatoriamente incluir o endereço do destinatário.

Portanto, a Súmula 528 do STJ foi oficialmente cancelada, e, em resumo, a


competência para o julgamento será determinada com base no local de destino da

droga.

II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública


ou no desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou
vigilância;

Compreenda que não basta ser um funcionário público; para haver um aumento
salarial, é essencial que o agente se utilize de sua função para isso.

III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou


imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares,
de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas,
esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos
onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de
serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção
social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;
Qualquer uma das ações descritas no artigo 33, se executada nas proximidades
desses locais, resultará no aumento da pena.

INFORMATIVOS JURISPRUDENCIAIS E SÚMULAS

INFORMATIVO 671, STJ - O tráfico de drogas cometido em local próximo a igrejas não
foi contemplado pelo legislador no rol das majorantes previstas no inciso III do art. 40 da
Lei nº 11.343/2006, não podendo, portanto, ser utilizado com esse fim tendo em vista que
no Direito Penal incriminador não se admite a analogia in malam partem.

INFORMATIVO 659, STJ - Na situação do réu comandar o tráfico de entorpecentes de


dentro do presídio, por meio do uso de celular, dando ordens para seus comparsas fora
do presídio. Restou-se firmado o entendimento de que é possível aplicar a causa de
aumento nessa situação, uma vez que não é necessário que a droga passe por dentro do
presídio para que incida a majorante prevista no art. 40, III, da Lei nº 11.343/2006. Esse
dispositivo não faz a exigência de que as drogas efetivamente passem por dentro dos
locais que se busca dar maior proteção, mas apenas que o cometimento dos crimes
tenha ocorrido em seu interior.

A respeito da causa de aumento prevista no inciso III do artigo 40, existem


entendimentos jurisprudenciais em relação ao tráfico próximo a escolas e instituições
de ensino, os quais devem ser considerados:

“A prática do delito de tráfico de drogas nas proximidades de


estabelecimentos de ensino (art. 40, III, da Lei 11.343/06) enseja a
aplicação da majorante, sendo desnecessária a prova de que o ilícito
visava atingir os frequentadores deste local”. STJ. 6ª Turma. AgRg no
REsp 1558551/MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 12/09/2017.”

“Para a incidência da majorante prevista no art. 40, inciso III, da Lei nº


11.343/2006 é desnecessária a efetiva comprovação de que a
mercancia tinha por objetivo atingir os estudantes, sendo suficiente
que a prática ilícita tenha ocorrido em locais próximos, ou seja, nas
imedia- ções de tais estabelecimentos, diante da exposição de
pessoas ao risco inerente à atividade criminosa da narcotraficância”.
STJ. 6ª Turma. HC 359.088/SP, julgado em 04/10/2016.

“Em relação à causa de aumento do art. 40, inciso III, da Lei de


Drogas, cumpre destacar que a respectiva majorante tem caráter
objetivo, prescindindo da análise da intenção do acusado em
comercializar drogas com alunos das instituições de ensino”. STJ. 5ª
Turma. HC 359.467/SP, julgado em 18/08/2016.
“Não incide a causa de aumento de pena prevista no art. 40, inciso III,
da Lei nº 11.343/2006, se a prática de narcotraficância ocorrer em dia e
horário em que não facilite a prática criminosa e a disseminação de
drogas em área de maior aglomeração de pessoas”. STJ. 6ª Turma.
REsp 1.719.792-MG, julgado em 13/03/2018 (Info 622).

Em relação ao transporte público, a causa de aumento é aplicada somente se a


atividade de tráfico ocorrer dentro desse meio de transporte. Conforme entendimento do
Superior Tribunal de Justiça (STJ), se o indivíduo estiver simplesmente carregando a
droga no transporte público, sem realizar efetivamente a prática do tráfico, a penalidade
adicional não será aplicada.

IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça,


emprego de arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa
ou coletiva;

V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre


estes e o Distrito Federal;

É relevante ressaltar a questão do tráfico interestadual, no qual a Súmula 587 do


Superior Tribunal de Justiça (STJ) estabelece que, para a aplicação da penalidade
adicional, não é necessário que a droga de fato atravesse a fronteira entre os estados ou
entre o Estado e o Distrito Federal. O essencial é a comprovação do intuito do agente de
realizar o tráfico interestadual. Além disso, o Supremo Tribunal Federal (STF) na Súmula
522 esclarece que a competência para processar e julgar esses casos é da Justiça
Estadual.

VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente


ou a quem tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a
capacidade de entendimento e determinação;

É importante observar que se o agente envolver menores em qualquer um dos


delitos listados nos artigos 33 a 37 da lei ou se a intenção for atingi-los através desses
crimes, a penalidade adicional será aplicada. No entanto, conforme o entendimento do
Superior Tribunal de Justiça (STJ), conforme o informativo 595, para evitar a duplicidade
de punições (bis in idem) e em conformidade com o princípio da especialidade, não
haverá a combinação de crimes entre o tráfico majorado e o crime de corrupção de
menores previsto no artigo 244-B do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Nesses casos, será aplicada somente a pena do crime de tráfico aumentada pela
circunstância específica em questão.

VII - o agente financiar ou custear a prática do crime.


COLABORAÇÃO PREMIADA
Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a
investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais
coautores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do
produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um
terço a dois terços.

Comumente encontrado em diversos delitos, esse mecanismo também está


previsto na legislação de drogas. Aqui, é necessário identificar tanto o coautor quanto o
partícipe (um requisito cumulativo) e garantir a total ou parcial recuperação dos produtos
do crime. Importante ressaltar que o acusado ou indiciado tem a possibilidade de
colaborar. Logo, na Lei de Drogas, são quatro os requisitos para a realização da
colaboração premiada:

1. Investigação Policial ou Processo Criminal instaurados

2. Identificação dos demais coautores ou partícipes do delito

3. Recuperação total ou parcial do produto do crime

4. Voluntariedade da ação.

FIXAÇÃO DA PENA BASE E DA MULTA


Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância
sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade
da substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do
agente.

Este dispositivo aborda os elementos a serem ponderados na primeira fase da


dosimetria, ou seja, refere-se a circunstâncias preponderantes a serem consideradas na
fixação da pena-base. Isso não implica na exclusão do artigo 59 do Código Penal no
processo de dosimetria da pena, mas indica que as circunstâncias relacionadas à
natureza e quantidade da substância ou produto, bem como à personalidade e conduta
do agente, devem ter um peso maior em comparação aos elementos do artigo 59 do
Código Penal.

FIXAÇÃO DA MULTA

Art. 43. Na fixação da multa a que se referem os arts. 33 a 39 desta


Lei, o juiz, atendendo ao que dispõe o art. 42 desta Lei, determinará o
número de dias-multa, atribuindo a cada um, segundo as condições
econômicas dos acusados, valor não inferior a um trinta avos nem
superior a 5 (cinco) vezes o maior salário-mínimo.
Parágrafo único. As multas, que em caso de concurso de crimes serão
impostas sempre cumulativamente, podem ser aumentadas até o
décuplo se, em virtude da situação econômica do acusado, considerá-
las o juiz ineficazes, ainda que aplicadas no máximo.

A legislação adotou o critério bifásico para a fixação da pena de multa, primeiro


estabelecendo o número de dias-multa e, em seguida, determinando o valor de cada dia-
multa. No contexto da Lei de Drogas, os preceitos secundários dos tipos indicam os
limites mínimo e máximo de dias-multa. O valor de um dia-multa varia de, no mínimo, um
trinta avos do maior salário-mínimo a, no máximo, cinco vezes o valor do maior salário-
mínimo, levando em consideração as condições econômicas dos acusados para essa
determinação.

O parágrafo único estipula que, em casos de concursos de crimes, as penas de


multas serão sempre somadas. Além disso, esse dispositivo concede ao juiz a
possibilidade de aumentar até o décuplo em virtude da situação econômica do acusado,
caso o magistrado considere que, mesmo aplicando a pena ao máximo do caput, ela
ainda seria ineficaz.

VEDAÇÃO DOS INSTITUTOS E LIVRAMENTO CONDICIONAL


Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º , e 34 a 37 desta
Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis (inconstitucional), graça,
indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas
penas em restritivas de direitos (inconstitucional).

Parágrafo único. Nos crimes previstos no caput deste artigo, dar-se-á o


livramento condicional após o cumprimento de dois terços da pena,
vedada sua concessão ao reincidente específico.

A CF/88, o Código Penal, a Lei de Crimes Hediondos 8.072/90 e a Lei 11.343/06


proíbem a concessão de fiança nos crimes de tráfico de drogas. A vedação prévia e
genérica da suspensão condicional da execução da pena (sursis da pena) no delito de
tráfico de drogas, que depende de análise casuística, viola o princípio constitucional da
individualização da pena, sendo considerada inconstitucional. Assim, é cabível a
concessão do sursis da pena aos condenados por tráfico de drogas.

A proibição da liberdade provisória também é considerada inconstitucional pelos


Tribunais Superiores, uma vez que a prisão provisória não pode existir ex lege, ou seja,
apenas pela lei, sem fundamentação com base nos artigos 312 do Código de Processo
Penal. Tal previsão viola os princípios da presunção de inocência, do devido processo
legal, do contraditório e da ampla defesa, conforme decidido pelo STF no HC 132.615 em
2016 (Informativo 838).
A conversão das penas privativas de liberdade em penas restritivas de direitos,
inicialmente vedada pela Lei de Drogas, foi declarada inconstitucional pelo STF por
violação ao princípio da individualização da pena. Portanto, é possível a conversão da
pena privativa de liberdade em restritiva de direitos, desde que atendidos os requisitos
legais.

Quanto ao Livramento Condicional, o requisito objetivo exige o cumprimento de


2/3 da pena para concessão, sendo vedado ao reincidente específico. O PAC alterou o
artigo 112 da Lei de Execução Penal e proibiu o livramento condicional em casos de
crimes hediondos ou equiparados com resultado morte. Contudo, o tráfico de drogas,
embora seja equiparado a hediondo, não está sujeito a essa vedação, pois esta
condiciona a proibição ao resultado morte do crime hediondo ou equiparado, o que não se
aplica aos crimes da Lei de Drogas.

Apesar do indulto ser em princípio insuscetível, houve um julgado que concedeu


um indulto humanitário (aquele concedido pelo Presidente em casos de miserabilidade,
como indivíduos em estado terminal) a um condenado por tráfico de drogas.

ISENÇÃO DE PENA
Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou
sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era,
ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração
penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do
fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Parágrafo único. Quando absolver o agente, reconhecendo, por força


pericial, que este apresentava, à época do fato previsto neste artigo, as
condições referidas no caput deste artigo, poderá determinar o juiz, na
sentença, o seu encaminhamento para tratamento médico adequado.

Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço a dois terços se,
por força das circunstâncias previstas no art. 45 desta Lei, o agente
não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento.
Esses dispositivos abordam a inimputabilidade (art. 45) e a semi-imputabilidade
(art. 46), sendo a primeira uma causa de exclusão de culpabilidade (absolvição
imprópria) e a segunda uma causa de diminuição de pena. No cenário apresentado, não
é suficiente que o agente seja dependente químico; é imprescindível comprovar que, no
momento da conduta, ele não possuía condições de compreender a natureza ilícita do
ato ou de determinar-se de acordo com essa compreensão. Vale notar que, para aplicar
esses institutos nos casos em que o agente está sob o efeito de drogas, o uso deve ter
origem em eventos como caso fortuito ou força maior, como, por exemplo, quando o
agente consome a substância sem consciência disso, induzido a erro.

A distinção entre inimputabilidade e semi-imputabilidade na lei de drogas reside


na extensão da incapacidade do agente de compreender o caráter ilícito da conduta ou
de se autodeterminar de acordo com essa compreensão. Para ser considerado
inimputável, o agente deve ser completamente incapaz de se autodeterminar, enquanto,
para ser considerado semi-imputável, é necessário que o agente não possua plena
capacidade de se autodeterminar.

APREENSÃO DE DROGAS PLANTAÇÕES ILÍCITAS


O Delegado de Polícia terá a prerrogativa de destruir imediatamente, sem
demandar autorização judicial e dispensando a presença do Ministério Público, as
plantações ilícitas. Antes de proceder com a destruição, o Delegado deve recolher
amostras da plantação para submetê-las à perícia, a fim de confirmar se se trata ou não
de cultivo ilícito.

DROGAS COM FLAGRANTE


A apreensão de substâncias ilícitas resultará na prisão em flagrante dos
responsáveis. A substância apreendida será submetida à perícia para confirmação, por
meio de laudo de constatação elaborado por perito oficial ou, na ausência deste, por
pessoa idônea. Com o laudo em mãos e considerando os depoimentos das testemunhas
e do flagranteado, a autoridade policial comunicará a prisão ao juiz competente,
enviando-lhe uma cópia do auto lavrado.

Após receber o auto de prisão em flagrante, o juiz terá um prazo de 10 dias para
verificar a regularidade do laudo de constatação. Caso esteja em conformidade, o juiz
ordenará a destruição das drogas, mantendo uma amostra necessária para um laudo
definitivo. Por fim, a destruição da substância será realizada pelo delegado de polícia em
até 15 dias, na presença do Ministério Público e da autoridade sanitária.
DROGAS SEM FLAGRANTE
Em situações não flagranciais, a substância apreendida deve passar por perícia,
resultando na elaboração de um laudo de constatação provisório. A destruição da droga,
por meio de incineração, deve ser realizada no prazo máximo de 30 dias a partir da data
de apreensão, com a precaução de guardar uma amostra essencial para a realização do
laudo definitivo. É relevante ressaltar que o Delegado de Polícia, sem a necessidade de
autorização judicial, realizará a destruição na presença do Ministério Público e da
autoridade sanitária.

QUADRO RESUMO

DESTRUIÇÃO DE DROGAS
PLANTAÇÃO ilícita de Drogas apreendidas em Drogas apreendidas
drogas FLAGRANTE SEM FLAGRANTE
Deve ser destruída no prazo de 15 dias,
Deve ser Deve ser destruída no prazo de 30
contados da determinação judicial para
imediatament dias, contados da data de apreensão
sua destruição. (o juiz tem até 10 DIAS
e destruída da droga
para determinar a destruição)
Pelo DELEGADO de Pelo DELEGADO de polícia na
Pelo DELEGADO de polícia
Polícia presença do MP e da autoridade
sanitária
NÃO precisa de
PRECISA de autorização judicial NÃO precisa de autorização judicial
autorização
judicial
Deve ser recolhida
Guarda-se amostra necessária para o Guarda-se amostra necessária para
quantidade suficiente
laudo definitivo o laudo definitivo
para exame pericial

LAUDO PRELIMINAR
Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia
judiciária fará, imediatamente, comunicação ao juiz competente,
remetendo- lhe cópia do auto lavrado, do qual será dada vista ao órgão
do Ministério Público, em 24 (vinte e quatro) horas.

§ 1º Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e


estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o laudo de
constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito
oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea.

§ 2º O perito que subscrever o laudo a que se refere o § 1º deste artigo


não ficará impedido de participar da elaboração do laudo definitivo.

Este Laudo Preliminar é necessário para que seja feita a lavratura do flagrante e
demonstre a materialidade do delito. O STJ entende que este laudo tem natureza jurídica
de condição de procedibilidade, ou seja, a denúncia não poderá ser oferecida e nem
recebida sem este laudo preliminar, sob pena de falta de justa causa para a ação penal
(RHC 65.205/RN, julgado em 12/04/2016)
INQUÉRITO POLICIAL
O prazo para a conclusão do inquérito policial em casos de tráfico, com o
indiciado detido, é de 30 dias, enquanto, se estiver em liberdade, o prazo é estendido
para 90 dias. Contudo, é importante destacar que o Delegado pode solicitar
justificadamente a duplicação desse prazo, o que se aplica inclusive quando o
investigado está sob custódia.

Outro aspecto crucial diz respeito ao Relatório Final. Após o término do prazo
para a conclusão do Inquérito Policial (IP), o Delegado deve elaborar um relatório
abrangente, englobando todas as circunstâncias do ocorrido. Isso inclui a classificação do
delito, a quantidade e natureza da substância ou produto apreendido, o local e as
condições em que a ação criminosa transcorreu, as circunstâncias da prisão, a conduta, a
qualificação e os antecedentes do agente.

É relevante ressaltar que a infiltração de agentes de polícia, realizada com o


propósito de investigar o funcionamento da atividade de tráfico de drogas para obter
informações substanciais à investigação, requer autorização judicial.

É imperativo que o agente consinta com a infiltração, sendo este um meio


extraordinário para a obtenção de provas. O prazo para tal infiltração de agentes,
inspirado no artigo 10 da Lei 12.850/13, é estipulado em 6 meses, podendo ser
prorrogado por até 720 dias. No caso das infiltrações virtuais conforme o artigo 190-A do
ECA, o prazo estabelecido é de 90 dias, renováveis por até 720 dias. É essencial ter
cautela em relação à "Light Cover" (infiltração com duração de até 6 meses) e "Deep
Cover" (infiltração com duração superior a 6 meses).

A ação controlada, conhecida como flagrante retardado, implica que a autoridade


policial adia a intervenção no momento em que o autor do delito já está flagrado na práti-
ca, visando intervir no momento mais estratégico para a formação de provas e obtenção
de informações. Isso é feito com o propósito de identificar e responsabilizar o maior
número possível de envolvidos em operações de tráfico e distribuição. Vale ressaltar que
tal procedimento requer autorização judicial.

Dentro da ação controlada, encontramos a modalidade de entrega vigiada suja,


em que o objeto ilícito está presente durante toda a situação de vigilância. Por outro lado,
a entrega vigiada limpa refere-se a uma situação hipotética em que a polícia consegue
substituir o objeto ilícito por um objeto lícito, realizando a "limpeza" antes da potencial
entrega.
No âmbito da Parte Processual, após a apresentação da denúncia, o juiz concede
ao réu a oportunidade de uma Defesa Preliminar, característica prevista na legislação de
drogas. Após esse procedimento, o juiz decide se recebe ou não a denúncia. Caso
receba, convoca o réu para apresentar sua resposta à acusação, na qual terá a
oportunidade de se defender formalmente contra as alegações. Em seguida, é intimado
para participar de uma audiência de instrução e ser ouvido.

É relevante destacar que, na Lei de Drogas, o interrogatório constitui o primeiro


ato de instrução na audiência de instrução e julgamento. Embora o artigo 400 do Código
de Processo Penal estabeleça que o interrogatório seja o último ato da instrução
processual, tanto o Supremo Tribunal Federal (STF) quanto o Superior Tribunal de
Justiça (STJ) consolidaram o entendimento de que deve ser aplicado o critério mais
favorável ao réu. Assim, mesmo que a Lei de Drogas seja uma legislação especial com
procedimentos específicos, o interrogatório deve ser realizado como o último ato da
instrução processual.

Quanto ao laudo definitivo que confirma a natureza ilícita da substância, é


imprescindível que esteja nos autos até o momento imediatamente anterior à sentença,
ou seja, até a audiência de instrução e julgamento. A ausência desse laudo deve resultar
na absolvição do réu por falta de provas.

DA APREENSÃO E DESTINAÇÃO DE BENS DO ACUSADO


A Lei nº 13.840/2019 introduziu alterações na legislação antidrogas para abordar
o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas. Além disso, essa legislação
redefine as condições de atenção destinadas aos usuários ou dependentes de drogas,
aborda a questão do financiamento das políticas sobre drogas e estabelece outras
disposições. Entre essas medidas, a referida lei promoveu modificações no artigo 60, que
trata das medidas assecuratórias em processos relacionados aos crimes previstos na Lei
de Drogas.

Neste contexto, esclarece o professor Márcio André, conforme divulgado pelo ca-
nal Dizer o Direito:

“Medidas assecuratórias (em sentido estrito) são medidas cautelares


de natureza patrimonial que têm como objetivo garantir que o acusado
não se desfaça de seu patrimônio e, assim, se for definitivamente
condenado, possa arcar com os efeitos secundários extrapenais
genéricos da condenação, previstos no art. 91 do CP (indenização
quanto aos danos causados pelo crime e perda em favor da União dos
instrumentos, produtos e proveitos do delito). As medidas
assecuratórias são o sequestro, o arresto e a hipoteca legal”.
Após a compreensão desses conceitos, o professor Márcio destacou as três
mudanças mais significativas em relação às medidas assecuratórias:

1. O magistrado não está mais autorizado a determinar a concessão das


medidas assecuratórias de ofício;

2. Foi explicitamente incluída a previsão de que o assistente de acusação


pode solicitar ao juízo a concessão de medidas assecuratórias;

3. O artigo 60, que originalmente possuía dois parágrafos com regras


procedimentais para essas medidas, teve esses dispositivos revogados, transferindo a
regulamentação para o Código de Processo Penal.

É relevante observar que, em decorrência da promulgação da Lei nº


13.840/2019, foi editada a Medida Provisória nº 885/2019, a qual alterou a Lei de Drogas
e introduziu o artigo 60-A, abordando a aplicação das medidas assecuratórias no
contexto de moeda estrangeira, títulos, valores mobiliários ou cheques utilizados como
ordem de pagamento. Contudo, há controvérsias quanto à constitucionalidade dessa
Medida Provisória, uma vez que trata de temas de direito penal e processual penal, áreas
que não podem ser regulamentadas por meio de medida provisória, conforme estipulado
pelo artigo 62, § 1º, I, “b”, da Constituição Federal de 1988.

É importante ressaltar que a Lei de Drogas passou por uma recente modificação
por meio da Lei nº 14.322/2022. Esta alteração tem por objetivo excluir a possibilidade de
restituição ao prejudicado do veículo utilizado no transporte de substâncias ilícitas. Além
disso, permite a alienação ou utilização pública do veículo, independentemente da
habitualidade da prática criminosa, exceto nos casos em que haja direito de terceiros de
boa-fé. Essas restrições e autorizações foram incorporadas nos parágrafos 5º e 6º do
artigo 60. Vamos analisar essas disposições:

Art. 60. [...] § 5º Decretadas quaisquer das medidas previstas no caput


deste artigo, o juiz facultará ao acusado que, no prazo de 5 (cinco)
dias, apresente provas, ou requeira a produção delas, acerca da
origem lícita do bem ou do valor objeto da decisão, exceto no caso de
veículo apreendido em transporte de droga ilícita. (Incluído pela Lei nº
14.322, de 2022)

§ 6º Provada a origem lícita do bem ou do valor, o juiz decidirá por sua


liberação, exceto no caso de veículo apreendido em transporte de
droga ilícita, cuja destinação observará o disposto nos arts. 61 e 62
desta Lei, ressalvado o direito de terceiro de boa-fé. (Incluído pela Lei
nº 14.322, de 2022)
É crucial compreender qual será o destino dos veículos apreendidos e como se
desenrola o procedimento estabelecido nos artigos 61 e 62 da Lei nº 11.343/2006. Esses
dispositivos abordam a apreensão e o aproveitamento dos bens apreendidos, sendo que
ambos foram objeto de modificações pela Lei nº 13.840/2019 e pela Lei nº 14.322/2022.
Vamos analisar essas alterações:

Art. 61. A apreensão de veículos, embarcações, aeronaves e


quaisquer outros meios de transporte e dos maquinários, utensílios,
instrumentos e objetos de qualquer natureza utilizados para a prática,
habitual ou não, dos crimes definidos nesta Lei será imediatamente
comunicada pela autoridade de polícia judiciária responsável pela
investigação ao juízo competente. (Redação dada pela Lei nº 14.322,
de 2022)

§ 1º O juiz, no prazo de 30 (trinta) dias contado da comunicação de


que trata o caput , determinará a alienação dos bens apreendidos,
excetuadas as armas, que serão recolhidas na forma da legislação
específica. (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)

§ 2º A alienação será realizada em autos apartados, dos quais


constará a exposição sucinta do nexo de instrumentalidade entre o
delito e os bens apreendidos, a descrição e especificação dos objetos,
as informações sobre quem os tiver sob custódia e o local em que se
encontrem. (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)

§ 3º O juiz determinará a avaliação dos bens apreendidos, que será


realizada por oficial de justiça, no prazo de 5 (cinco) dias a contar da
autuação, ou, caso sejam necessários conhecimentos especializados,
por avaliador nomeado pelo juiz, em prazo não superior a 10 (dez)
dias. (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)

§ 4º Feita a avaliação, o juiz intimará o órgão gestor do Funad, o


Ministério Público e o interessado para se manifestarem no prazo de 5
(cinco) dias e, dirimidas eventuais divergências, homologará o valor
atribuído aos bens. (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019) § 9º O
Ministério Público deve fiscalizar o cumprimento da regra estipulada no
§ 1º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.886, de 2019) § 10. Aplica-se
a todos os tipos de bens confiscados a regra estabelecida no § 1º
deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.886, de 2019)
§ 11. Os bens móveis e imóveis devem ser vendidos por meio de hasta
pública, preferencialmente por meio eletrônico, assegurada a venda
pelo maior lance, por preço não inferior a 50% (cinquenta por cento) do
valor da avaliação judicial. (Incluído pela Lei nº 13.886, de 2019)

§ 12. O juiz ordenará às secretarias de fazenda e aos órgãos de


registro e controle que efetuem as averbações necessárias, tão logo
tenha conhecimento da apreensão. (Incluído pela Lei nº 13.886, de
2019)

§ 13. Na alienação de veículos, embarcações ou aeronaves, a


autoridade de trânsito ou o órgão congênere competente para o
registro, bem como as secretarias de fazenda, devem proceder à
regularização dos bens no prazo de 30 (trinta) dias, ficando o
arrematante isento do pagamento de multas, encargos e tributos
anteriores, sem prejuízo de execução fiscal em relação ao antigo
proprietário. (Incluído pela Lei nº 13.886, de 2019)

§ 14. Eventuais multas, encargos ou tributos pendentes de pagamento


não podem ser cobrados do arrematante ou do órgão público alienante
como condição para regularização dos bens. (Incluído pela Lei nº
13.886, de 2019)

§ 15. Na hipótese de que trata o § 13 deste artigo, a autoridade de


trânsito ou o órgão congênere competente para o registro poderá emitir
novos identificadores dos bens. (Incluído pela Lei nº 13.886, de 2019)

Art. 62. Comprovado o interesse público na utilização de quaisquer dos


bens de que trata o art. 61, os órgãos de polícia judiciária, militar e
rodoviária poderão deles fazer uso, sob sua responsabilidade e com o
objetivo de sua conservação, mediante autorização judicial, ouvido o
Ministério Público e garantida a prévia avaliação dos respectivos bens.
(Redação dada pela Lei nº 13.840, de 2019)

§ 1º-A. O juízo deve cientificar o órgão gestor do Funad para que, em


10 (dez) dias, avalie a existência do interesse público mencionado no
caput deste artigo e indique o órgão que deve receber o bem. (Incluído
pela Lei nº 13.886, de 2019)

§ 1º-B. Têm prioridade, para os fins do § 1º-A deste artigo, os órgãos


de segurança pública que participaram das ações de investigação ou
repressão ao crime que deu causa à medida. (Incluído pela Lei nº
13.886, de 2019)
§ 2º A autorização judicial de uso de bens deverá conter a descrição
do bem e a respectiva avaliação e indicar o órgão responsável por sua
utilização. (Redação dada pela Lei nº 13.840, de 2019)

§ 3º O órgão responsável pela utilização do bem deverá enviar ao juiz


periodicamente, ou a qualquer momento quando por este solicitado,
informações sobre seu estado de conservação. (Redação dada pela
Lei nº 13.840, de 2019)

§ 4º Quando a autorização judicial recair sobre veículos, embarcações


ou aeronaves, o juiz ordenará à autoridade ou ao órgão de registro e
controle a expedição de certificado provisório de registro e
licenciamento em favor do órgão ao qual tenha deferido o uso ou
custódia, ficando este livre do pagamento de multas, encargos e
tributos anteriores à decisão de utilização do bem até o trânsito em
julgado da decisão que decretar o seu perdimento em favor da União.
(Redação dada pela Lei nº 13.840, de 2019)

§ 5º Na hipótese de levantamento, se houver indicação de que os bens


utilizados na forma deste artigo sofreram depreciação superior àquela
esperada em razão do transcurso do tempo e do uso, poderá o
interessado requerer nova avaliação judicial. (Redação dada pela Lei
nº 13.840, de 2019)

§ 6º Constatada a depreciação de que trata o § 5º, o ente federado ou


a entidade que utilizou o bem indenizará o detentor ou proprietário dos
bens. (Redação dada pela Lei nº 13.840, de 2019)

Em decorrência das alterações promovidas por essas leis nas medidas


cautelares, é possível concluir que, uma vez atendidos os requisitos estabelecidos nos
artigos mencionados anteriormente, o sequestro/apreensão de bens provenientes ou
beneficiados pelos crimes definidos nesta Lei, seguido de sua utilização temporária pelas
forças de segurança, emerge como uma alternativa eficaz, apropriada e proveitosa.

Assim, promove-se a restrição patrimonial que desestimula o tráfico, permitindo


eventual compensação à vítima e inibindo o enriquecimento ilícito proveniente da
atividade criminosa. Ademais, enquanto o bem estiver sob custódia do órgão de
segurança, sua manutenção é garantida, evitando deterioração ou depreciação, até que
seja declarado como perdido ou, conforme o caso, sua alienação antecipada seja
providenciada.

Finalmente, essa abordagem beneficia o Poder Público, uma vez que autoriza os
órgãos de segurança a utilizarem os bens no cumprimento de suas finalidades legais,
gerando apenas as despesas necessárias para a conservação do bem apreendido.

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