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Um Novo Começo 3 - Fernanda Verônica
Um Novo Começo 3 - Fernanda Verônica
Diagramação: F.V
ISBN nº 978-65-00-11480-5
(Pedro Ramúcio)
GEORGE DUARTE
O escuro do meu quarto parecia aconchegante e me livrava
da bagunça que estava o resto da casa.
Eu consegui.
[...]
[...]
Mas ela não iria esquecer essa mulher. Que não tinha culpa
de nada. E eu não tinha idade pra fazer esse jogo de quem
provoca mais o outro.
BEATRIZ LOBOS
Eu acordei muito relutante na manhã seguinte e quis chorar
ao ver no celular que ainda eram seis e dez da manhã. Ia voltar a
dormir, mas o meu celular voltou a tocar e eu vi que era a quarta
ligação do George.
[...]
C apítulo 03
Aquilo q u e s e fa z p o r a m o r e s t á a l é m
do bem e do mal
[...]
[...]
Acordei por ouvir a voz do George apreensiva e ele
caminhava pelo quarto. Ele parou de andar ao notar que eu estava
acordada.
— A Bia acordou, Lari, depois eu ligo pra você — ele falou,
jogando o celular sobre a cama.
— Você fica muito gostoso preocupado desse jeito e sem
roupa — eu falei e ele olhou para baixo, se dando conta de que
estava nu.
— O seu pai foi solto — ele falou, indo para o banheiro e eu
me sentei, tirando as cobertas de cima de mim para levantar, o
seguindo.
— O que? — eu perguntei e ele apoiou as mãos sobre o
balcão, me olhando através do espelho.
— Eu não consigo imaginar o valor que o advogado do seu
pai pagou pro desembargador assinar o habeas corpus, mas não
foi pouco — ele resmungou, respirando fundo — meu deus, que
inferno.
— Ele não pode fazer algo contra você, porque ele seria o
único suspeito — eu sugeri.
— Ainda deu a ele a chance de recorrer em liberdade — o
George falou incrédulo — ele vai o que? Manipular todas as
testemunhas e ressuscitar os meus pais, pra ser inocentado? — ele
falou irritado, fazendo uma carranca e eu engoli pesado, por não
saber o que dizer para confortá-lo. Não havia o que dizer, na
verdade — é como se tudo o que nós passamos tivesse sido em
vão.
— Eu sinto muito.
— Você não sente, Bia — ele deu um riso nada satisfeito —
é triste saber disso, mas você não sente.
— George — eu o chamei, mas ele pegou uma toalha e saiu
do quarto.
GEORGE DUARTE
— Tem um bichinho zumbindo no meu ouvido perguntando o
que me deu na cabeça pra ouvir você — eu falei, ao fechar a
porta do escritório e LuizLobos riu, analisando o meu escritório.
— Eu vou ficar quieto — ele falou, mas o seu tom era
presunçoso — desde que você me deixe em paz, eu vou ficar
quieto.
— Mal saiu da cadeia e já está me ameaçando? — eu
perguntei, ficando irritado, mas ele sorriu de uma maneira
sarcástica.
— Eu sei que você tem dinheiro, mas eu tenho mais — ele
falou — quero um acordo, um tratado de paz, eu quero continuar
a minha vida e além de tudo isso, a minha filha está grávida.
— Alguma emissora de televisão tá te perdendo, Luiz— eu
parei, fingindo pensar no seu sobrenome — Santos? Eu não vou
cair nesse seu teatrinho.
— Eu quero estar perto da minha família e provar que eu
mudei.
— Você não mudou — eu resmunguei, correndo as mãos no
rosto.
— Eu vou fazer com que acreditem — ele me sorriu — eu
vou deixar você em paz, só te peço que faça o mesmo.
— Você é um criminoso, seu lugar é na cadeia.
— Eu posso ser tão superior, você não imagina — ele
zombou — nunca mencionei o assalto no hotel e mesmo tendo
como chegar ao culpado — ele apontou em minha direção — eu
deixei isso quieto.
— Você é um assassino! — eu grunhi de ódio, mas ele estava
tranquilo.
— Eu quero me aproximar da sua irmã, dar a ela pelo menos
financeiramente, o que ela merece.
— Você não vai se aproximar da minha irmã — eu falei, sem
tempo de pensar no que argumentar, porque esse cara era
manipulador e iria facilmente colocar tudo ao seu favor.
— Você engravidou a minha filha — ele falou, caminhando
até a porta, a abrindo — se a Bia está grávida, você vai casar com
ela. Não essa história de morar junto. Eu falo de casamento, véu,
grinalda, igreja — ele sorriu, acenando antes de sair andando.
[...]
Nós voltamos para casa e ela foi para a cama. Quando entrei
no quarto, a observei dormindo e meu Deus, eu não devia amar
tanto essa mulher. Ela estava esperando a nossa filha e mesmo
que tenha sido inesperado, eu já amava a nossa Anna, eu não
queria pô-la em risco. E se para isso eu tivesse que atuar com
aquele criminoso, eu o faria.
C apítulo 08
Toda v e z q u e u m j u s t o g r i ta , u m
carrasco vem calar
GEORGE DUARTE
Essa história de ceder às vontades da Beatriz foi tão longe,
que estávamos em um rancho com o seu pai, a ex-amante e atual
esposa, e a filha deles.
[...]
BEATRIZ LOBOS
Quando a doutora esteve mais calma diante da minha
irresponsabilidade junto ao George, me explicou melhor sobre o
meu caso. Havia sangue entre o meu útero e o saco gestacional,
mas as chances de isso desaparecer eram grandes caso eu fosse
obediente.
[...]
Eu preferi voltar andando para casa, para não ter que ouvir
mais pedidos do meu pai. Era muito difícil ser correta, justa e
ainda lidar com essa aproximação cheia de ameaças disfarçadas.
Quando eu cheguei em casa, o George estava enrolado na
toalha e andava de um lado para o outro, com o celular na mão.
— Ela já chegou, mas de todo jeito, obrigado — ele falou,
antes de jogar o celular sobre o sofá.
— Tudo bem?
— Onde você estava? — ele perguntou cruzando os braços e
eu apertei os lábios — Bia...
— Com o meu pai — eu falei baixo e ele forçou um riso
incrédulo.
— Difícil... — resmungou — o que ele queria?
— Conversar — eu falei, porque mencionar as minhas
teorias, o deixaria ainda mais furioso. No entanto, eu já não sabia
o que o deixava mais furioso. Falar ou esconder.
— Eu desisto — ele falou, negando com a cabeça e voltou
para o quarto. Eu respirei fundo e fui até ele, fechando a porta,
porque a Dani já estava em casa.
— A gente pode conversar? — eu perguntei e ele vestiu uma
calça de moletom cinza. O George não me respondeu e se sentou
à beirada da cama, cruzando os braços e me esperando falar. Fiz
uma carranca e fui até ele, me sentando de lado no seu colo e
passei uma mão pela lateral do seu rosto, deixando um beijo na
sua boca.
— Eu sei o quanto a liberdade do meu pai te deixa furioso,
mas...
— Beatriz, não fala como se ele tivesse, por exemplo,
roubado uma margarina no supermercado — ele me interrompeu e
eu assenti.
— Eu tô grávida, amor. A última coisa que eu quero, é que
você vire um alvo, que você corra riscos — eu falei, tentando ser
sincera com ele, que finalmente me olhou, esperando por mais —
eu não quero que o meu pai se sinta ameaçado e coloque em risco
a família que nós nem construímos direito.
— Não é justo que ele fique solto.
— Tudo bem, não é, mas ele está. É uma das consequências
da justiça do nosso país. Criminosos não pagam pelos seus crimes
e vida que segue. Nós dois temos duas opções, George.
— Eu tive uma vida infeliz e cheia de tormentos por causa
desse cara — ele falou impaciente e eu respirei fundo.
— Nós poderemos fazer uma vida diferente, agora. Eu paro,
ok? Eu não vou mais ceder aos convites dele. O máximo que eu
posso, é pedir, pra, por favor, você não fazer nada.
— Eu não quero a nossa filha perto desse cara — ele voltou
a falar.
— Eu não quero que ela vire um alvo para ele.
— Como você consegue cogitar conviver com um cara que te
passa tanto medo? — Ele perguntou incrédulo e eu me levantei.
— Eu prefiro ceder às vontades dele a correr o risco de
perder você — eu falei, mas ele negou com a cabeça.
— Bia, ele está testando você! Seja mais coerente. Primeiro
vai te persuadir, quando você ver, já vai estar lá na sua mãe,
pedindo pra ela deixá-lo gerir os hotéis outra vez — ele falou
enfático e eu o olhei — então LuizLobos vai retomar tudo o que
perdeu e tomar o que vocês têm.
— Para com isso — eu pedi — ele já deixou claro que vai
ficar quieto, que quer que você fique quieto, também. Custa fazer
isso? Por mim, pela nossa filha? — eu perguntei, me sentindo
ameaçada pelo choro — eu não suportaria, George, se o meu pai
se sentisse ameaçado e fizesse algo contra você — a minha voz
falhou um pouco e ele respirou pesado, vindo até mim, me
puxando para um abraço.
— Eu não vou fazer nada contra ele — ele falou e eu o
abracei de volta — mas eu não vou mais a nenhum encontro com
ele.
— Obrigada — eu falei, fungando para não começar a
chorar.
C apítulo 12
A vida é um amontoado de caos e
coincidências
— Meu deus, o cara vai casar com a tua melhor amiga e não
te deixa em paz — o George falou enciumado, enquanto eu
agradecia.
— Você vai ser padrinho do casamento dele.
— Essa gente perde a noção do ridículo — ele falou, rindo
sarcástico — você fugiu comigo do seu casamento com ele e nós
vamos ser padrinhos dele — ele continuou incrédulo.
— Uma forma de agradecimento — eu brinquei, saindo do
seu colo — porque vai que a Lya é o verdadeiro amor da vida
dele?
— Tá na cara da Lya que ninguém é amor da vida de
ninguém ali — ele falou e eu o olhei — o que foi?
— Você sabe de algo — eu falei incrédula, mas ele franziu o
cenho — e vai me contar o que é.
— Eu não compartilho segredos de amigos — ele me sorriu
falso e eu fiz uma carranca.
— O seu amigo deve saber que a partir do momento em que
você me tem, ele também não tem segredos comigo — eu falei,
mas o George riu, me puxando de volta, negando com a cabeça.
— Ele ainda está se encontrando com a Lya? — eu sugeri,
mas ele riu, tombando a minha cabeça para trás um pouquinho,
distribuindo beijinhos pelo meu pescoço. Eu grunhi, quase me
deixando levar, mas o segurei — eu já falei que o Guilherme
deveria se casar com outra médica, né?
— Ele tem um caso com a sua enfermeira — ele falou e eu
parei, o olhando, que se divertia com a situação.
— Essa coisa de infidelidade não é engraçada, George.
— E o seu ex noivo é um babaca — ele falou — só quer
casar com a Lya por causa da família rica dela.
— Então é um acordo? — eu perguntei.
— Se os dois fingem amor e lealdade...
— Ainda bem que eu fugi, aquele dia — eu falei pensativa,
negando com a cabeça.
[...]
[...]
[...]
[...]
GEORGE DUARTE
Eu entrei em casa e me deparei com várias caixas pela sala,
pegando uma das notas fiscais. Ainda dei um risinho, porque a
Beatriz estava comprando tudo o que a nossa filha nunca iria
usar, com a bela desculpa de ser mãe de primeira viagem. A
minha graça foi embora, quando eu ergui o rosto e me deparei
com Luizem pé na minha sala. Franzi o cenho confuso, respirando
para me manter calmo com esse criminoso.
— O que você está fazendo aqui? — eu disparei, porque não
havia ninguém em casa.
— Estava mesmo esperando por você... — ele teve a audácia
de sorrir.
— Como você entrou aqui? — o meu tom de voz queria se
elevar, mas eu me contive e pigarreei — cadê a Beatriz?
— Eu não vou dizer como eu entrei aqui, mas isso é só pra
você ter uma noção de que se eu quero algo, eu consigo — ele
falou tranquilamente, andando pela sala, chegando a sorrir em
presunção — e eu já te dei provas de que não vou fazer nada,
mesmo assim, você insiste em envenenar a Beatriz.
— A Beatriz não é burra, ela não ia passar uma vida
atormentada no seu jogo sujo.
— Eu quero a minha filha perto de mim, eu quero que as
pessoas vejam que a minha família me perdoou — ele continuou a
falar — e eu só estou te pedindo pra não interferir nisso.
— Você é um canalha! — eu só faltei gritar, mas ele riu —
você não vai ficar perto da minha filha e...
— Minha neta — ele me interrompeu, sem nunca perder a
calma — George, eu estou aqui em missão de paz. Você vai levar
a sua vida tranquilamente, eu não vou interferir em nada, eu não
sou mais um risco pra você. Então eu quero reciprocidade.
— Eu já disse que não vou fazer nada! — eu falei irritado —
eu nem tenho mais o que fazer contra você!
— Você ferrou a minha vida, não seja modesto — ele cuspiu
as palavras em mim, como se fosse a vítima — já conseguiu o que
queria, não foi? Então não mexa mais em nada dessa história.
— A sua sorte é a sua filha estar grávida e por elas, eu faço
qualquer coisa.
— A sua sorte — ele me corrigiu, sorrindo presunçoso, me
deixando cego de ódio — eu não sou um suspeito, George. Eu sou
um cara arrependido querendo recomeçar a vida e pelo que eu
andei pesquisando, você é um cara que colocou muita gente
grande na cadeia, com essa mania fútil de ser justo. Você
engravidou a minha filha, se algo te acontece, eles não vão pensar
em mim, não em primeiro momento.
— Então isso foi uma ameaça — eu afirmei, mas ele estava
sarcástico e rindo a toa.
— Um aviso. Como disse, eu vim em missão de paz — ele
falou, caminhando até a porta — não faça a minha filha ser mãe
solteira e nem a minha neta nascer órfã.
— Eu não farei — eu falei baixo, com a boca amargando a
vontade de espancar esse ordinário.
— À propósito, a sua irmã está com planos de morar com o
namorado. Eu sugeri casamento, gosto das coisas nos eixos — ele
me sorriu e eu fechei os punhos, me segurando para não agir no
impulso — de todo modo, o meu presente já foi dado — ele
completou, acenando antes de sair e eu empurrei a porta com
força.
[...]
BEATRIZ LOBOS
— Você está tão linda — a Lya falou ao abrir a porta. O
apartamento era o que eu iria morar com o Guilherme e a
decoração ainda era a que eu escolhi. Eu amenizei essa
estranheza, porque a minha vida era cheia disso e dos males, esse
com certeza não era um.
— Obrigada, Lya — eu falei, antes de entrar.
— Eu não quis mudar nada aqui — ela falou, porque eu
olhava o lugar. Não poderia dizer que queria estar vivendo a vida
que planejei quando compramos o apartamento, mas eu olhava
tudo com uma saudade. Porque nessa época, a minha vida era
fácil, era leve.
— É lindo, não é? — eu perguntei, sorrindo fraco.
— Como você está?
— Indo... A vida é complicada agora.
— Você e o George estão bem? — ela perguntou, nos
guiando para a cozinha.
— Nós dois, sim. Acho que depois da gravidez nós ficamos
mais conectados.
— Às vezes, parece que vocês se bastam... Simplesmente se
isolam e esquecem que o mundo tem outras pessoas que amam
vocês.
— Às vezes, parece isso mesmo — eu fiz uma careta, porque
era até ridícula a maneira como eu sentia que só ele me bastava.
— A gravidez não atrapalha vocês?
— Não... — eu falei confusa, mas ela riu.
— Quero dizer, no sexo.
— Não... — eu dei um riso, negando com a cabeça.
— Depois que o Guilherme soube de você, só fica falando
sobre gravidez, pra nós dois tentarmos também.
— Você quer? — eu perguntei.
— Eu acho que to nova ainda — ela fez uma careta e eu sorri
fraco — não sei se quero pra agora.
— Depois que acontece, você ama de todo jeito. Mas se você
não quer e tem consciência disso, não precisa fazer só por ele.
— Como o George reagiu ao saber?
— Nós estávamos terminados quando eu descobri — eu
contei e ela me olhou surpresa.
— Por isso voltaram?
— Não — eu sorri — foi acontecendo, quando eu vi, já
estava na casa dele, com ele.
— Eu queria ter essa sua áurea de ser sempre de alguém.
Porque eu gosto do Guilherme, mas às vezes sinto as coisas
meio... Estranhas. Não parece que é isso que eu quero.
— Não vai largá-lo no altar, hein — eu brinquei, mas nós
rimos.
— Mas tudo parece dizer que é a escolha certa ficar.
— Tudo parecia também, mas eu amava outro cara.
— Eu sabia que você estava apaixonada quando fui te buscar
na casa dele — ela falou e eu assenti, não querendo falar dessa
fase, porque era puro engano.
[...]
[...]
[...]
[...]
[...]
GEORGE DUARTE
Encontrei o Maurício no meu escritório e ele me jogou um
pacote sobre a mesa.
— Eu não sei por que eu quis acreditar na Daniela, mesmo
que nós já soubéssemos — ele falou e eu abri o pacote — LSD,
doce, cocaína, isso foi o que eu comprei, mas eles só lidam com
droga cara.
— E porque você comprou? — eu perguntei e ele negou com
a cabeça.
— O cara estava estranhando já, eu precisei pegar algo.
— E a Dani?
— Diz que o pai biológico quer abrir uma empresa de
cosméticos em nome dela — ele falou irritado, chegando a rir
incrédulo.
— Como ela acredita numa empresa que ela nunca pisou os
pés? — eu ainda perguntei, mas não queria uma resposta — essa
menina, sinceramente, passou dos limites.
— E não adianta tentar conversar. Ela se colocou na posição
de vítima dessa história toda, com o direito de usufruir do
dinheiro.
— Dinheiro de tráfico — eu falei abismado — por isso ele
não está medindo esforço ao soltar dinheiro na mão dela. Vai
criar uma empresa fantasma, declarar o dinheiro e, ela vai ser a
laranja — eu presumi, porque era óbvio que essa encenação de
pai querendo indenizar a filha não era só pra comover juiz. Afinal
o desembargador ele já havia comprado.
— O que a gente faz agora?
— Você falou algo com ela? — eu perguntei e ele me
encarou por um tempo — o que você falou com ela?
— Sobre as drogas — ele falou e eu apertei os lábios,
negando com a cabeça.
— Me passa o endereço de onde você comprou isso e tenta
não sair de casa — eu pedi — esse cara é perigoso, se a Daniela
fala algo pra ele, você não vai estar seguro — eu precisei alertá-
lo.
— Ela não pode ser tão burra — ele falou, mas eu o encarei,
porque as atitudes da Daniela não eram de uma pessoa
inteligente. Mas de uma pessoa interesseira e mercenária.
Liguei para a Beatriz, quando estava indo para casa, mas ela
estava com a Lya, então eu fui para casa.
— Você não desiste mesmo — a voz de Luizecoou
presunçosa atrás de mim, assim que eu saí do elevador e eu me
virei para ele.
— O que? — eu perguntei confuso.
— George, eu tenho meios de sumir com você em dois
segundos e nem o melhor investigador vai encontrar o seu corpo
— ele falou e eu dei um risinho, esperando que ele continuasse —
eu já dei avisos, eu pedi humildemente para você ficar quieto e
você não está ficando.
— Mas você é muito seguro...
— Eu posso ter essa segurança — ele falou, quase me
interrompendo — eu ainda me dou o trabalho de falar sobre a
nossa boa relação por aí, então não me tenha como um suspeito.
— Você vai cair, Luiz— eu falei, quando ele ia andando para
o elevador e ele parou, se virando para mim.
— Se eu cair, você não vai estar nesse plano pra comemorar,
isso eu te garanto — ele falou, entrando no elevador e eu respirei
fundo.
[...]
Nós fomos nos sentar e a Lari foi encontrar o pai dos seus
filhos. A Beatriz me olhava sugestivamente e eu apertei os lábios,
me aproximando dela, deixando um beijo na sua testa.
— Porque isso tá acontecendo? — ela sussurrou e eu neguei
com a cabeça.
— Vai ficar tudo bem — eu falei, como se eu pudesse mesmo
garantir.
— Se isso tem a ver com o que vocês estavam fazendo
juntos, você também não está seguro.
— Ninguém está, Bia — eu precisei dizer — se ele fez isso
com o Maurício, pode atacar qualquer um.
— O que você vai fazer agora?
— Bia, nós chegamos em uma situação que é como passar
por um tiroteio rezando pra quando acabar todos estarem a salvo
— eu falei, a olhando cauteloso — mesmo que eu ficasse quieto,
em algum momento o seu pai faria algo, pra se manter seguro.
Por uma questão lógica, eu sempre seria uma ameaça pra ele.
Toda a conversa dele de ficar quieto foi só pra se tirar do campo
de suspeitos, mas ele não conseguiu convencer ninguém.
— Que pesadelo — ela falou, respirando fundo — o que
você vai fazer agora?
— Tentar descobrir onde encontraram o Maurício e rezar pra
ter câmeras de segurança no lugar — eu falei, a olhando
cauteloso, porque não queria que depois de tudo a Bia sofresse
com mais algo nesse momento da gravidez — e o seu pai é ruim,
mas ele é burro, não vai perder a chance de confessar algo pra me
amedrontar.
— Em pensar que eu queria dar apoio pra ele — ela falou,
respirando fundo — quase acreditei na conversa de estar
arrependido.
— Gente como ele não se arrepende, amor — eu precisei
dizer.
— Eu espero que o Maurício fique bem — ela falou e nós
vimos a Daniela chegar, indo falar com a Larissa.
[...]
Entrei na sala após pedir licença e fui até ela, que estava na
cadeira a espera da doutora.
— Pensei que não viesse — ela falou baixo. Era terrível
dizer, mas ela estava triste. Mais uma vez a nossa vida estava
tomada por problemas e investigações e eu me perdia no tempo.
— Logo vai ficar tudo bem — eu prometi — e o nosso tempo
será só nosso.
— Espero que não demore — ela falou e a doutora Manuela
entrou na sala.
[...]
BEATRIZ LOBOS
O George me deixou na casa da minha mãe, mas eu fui com
o Benício para o fórum. Nós entramos na sala e o olhar do George
focou em mim, mas eu acenei um sorriso fraco para ele.
— Você não devia estar aqui — a Lari falou, tomando a
minha mão na sua.
— Eu fiquei muito preocupada — eu sussurrei.
GEORGE DUARTE
Eu fui buscar a Dani na casa da Beatriz, porque já havia lhe
dado tempo o suficiente para digerir essa história. Sabia que não
iria acabar a sua dor nem amenizar a sua perda, mas nós
precisávamos nos acertar.
— Eu não achei que você quisesse falar comigo — ela falou,
quando eu entrei no quarto que ela estava hospedada.
— Você é a minha irmã — eu falei confuso — eu daria a
minha vida por você.
— Eu cheguei a te acusar pela morte do Maurício — ela
falou, rindo incrédula — porque eu fui tão burra?
— Você foi gananciosa — eu precisei dizer — um cara como
aquele não iria mudar.
— Eu imaginei que pudesse, porque ele estava me
oferecendo tanto. E a conversa dele não parecia assustadora ou
cheia de ameaças.
— Ele precisava tratar você bem, pra poder usar você — eu
falei, suspirando — mas isso já acabou, está tudo bem. Vamos pra
casa?
— Eu tenho mesmo que voltar? — ela fez uma careta — logo
a Bia tem o bebê, eu não quero atrapalhar vocês.
— Você não vai atrapalhar — eu falei confuso — você não
quer vir?
— A Luísa disse que eu posso ficar o tempo que eu quiser. E
o meu quarto é cheio de lembranças do Mau... Eu não consigo
olhar, eu sinto que a culpa dele estar morto é minha — ela falou
angustiada e eu apertei os lábios, porque bem, se a Daniela não
tivesse cedido à conversa do pai biológico, o Maurício não teria
se envolvido nessa história.
— Você precisa seguir a sua vida, Dani. Eu imagino a sua
dor, a sua perda, mas a sua vida vai continuar. Se martirizar e se
culpar, não vai resolver muita coisa — eu falei.
— Eu não sinto muita vontade de algo agora — ela falou
mais baixo, se sentando à cama e eu fui me sentar ao seu lado, a
abraçando de lado, quando ela encostou a cabeça no meu ombro
— ainda bem que você veio, porque eu achei que nunca mais ia
ter o meu irmão de volta.
— Eu nunca deixaria você — eu sussurrei.
— Então tudo bem se eu ficar aqui por enquanto?
— Por enquanto — eu falei — nós vamos comprar uma casa
ou apartamento maior, você vai ter o seu espaço.
— Até lá resolvemos como eu vou ficar.
— Tudo bem — eu falei — mas qualquer coisa que você
precisar, pode falar comigo.
— Só quero saber como as coisas vão ficar, você sabe... O
dinheiro, o apartamento.
— O dinheiro era de tráfico, a polícia vai apreender. Mas o
apartamento continua sendo seu.
— Parece que tudo começou a dar errado quando eu aceitei
esse apartamento — ela resmungou — o Mau nem queria aceitar,
mas eu estava decidida, achando que sabia fazer a escolha certa.
— Ficar se culpando não vai mudar nada, Dani — eu
reclamei — agradece por tudo isso ter acabado, recomeça a sua
vida.
— Eu vou tentar.
[...]
[...]
[...]
Eu segurei a minha filha no berçário, a levando para perto do
vidro, para que os nossos amigos e a família pudessem ver a
nossa Anna. Quando eu me deparei com todos ali, emocionados e
eu segurava a minha filha, comecei a chorar, porque não
acreditava que eu estava aqui vivendo isso. Depois de todos os
estragos e perdas, eu vivia um dos momentos mais completos da
minha vida.
BEATRIZ LOBOS
A nossa Anna completava o seu primeiro mês de vida e nós
estávamos com ela na fazenda, para toda a família do George
conhecê-la. A sua prima Aninha havia feito um bolo e docinhos
para comemorarmos.
Nós dois ficamos ali, babando a nossa filha até ela dormir e
voltamos para a sala, para comemorar a vida dela com a nossa
família. Eles tinham todos os motivos do mundo para não me
acolher, mas o fizeram.
[...]
Fim
S obre a autora
@FERNANDAVERNICAAUTORA
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