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252 Pensandonos Tropieos rio pressionam por profissio mais “responsével” — ou, caso mais Freqilente, aqucles que se sentem incapacitados em concorrer nas di mais competitivas. De modo geral, portanto, estes aluncs ou j seus estudos especificos pouco motivados para interferir no canone estabelecido ou pouco adequaclos para fazé-I0. Os que escaparn a regra, encontram pela frente a estreiteza do mereado do trabalho que répido Ihes “convence” da inutilidade de remarem contra a maré, Pelosegundo motivo, oaluno de letras se depara com programas que partem do suposto que o trabalho sobre a literatura implica lidar-se com textos © no com idéias; com textos como entidades puras, soltas no cespago e no contextualmente situadas. Isso quando os programas Ihes ‘ransmitem alguma coisa. Conseqiléncia pritica: de posse de um legado pobre como o de nossa literatura, ao temermos ou nos sentirmos no ‘motivados em investir na reflexdo sobre o canone herdado, passamos @ estirmular um hiato crescente entre o receptor de agora e os autores do passado, que vém a ser confundidos com tediosas estétuas. Pouco {importa que nossos “novos” criticos ¢ analistas leiam novas teorias se, simplesmente, nfo t8m pritica em pensar. E, comosabé-lo,sem aprender asituar historicamente autores eteorias? Sem saber, portanto, se indagar das condigdes que presidiram o estabelecimento de um enone? Por inércia, mais do que por concordancia, o cfnone herdado entdo se perpetua. No momento presente, nada vejo que possa contrariar sue duragio. lo, 1987 (modiicagdes em jhe, 1990) 14 O PALIMPSESTO DE ITAGUAI 1. O palimpsesto: uma politica do texto Publicado de outubro de 1881 a margo de 1882, em A Estapdo, neste ‘mesmo ano ineluido em Papéis avulsos, “O Alienista” aleangou reper- cussio quase imediata, Inquérito realizado entre setembro de 1893 & Janeiro de 1894 indicava-o eandidato, é certo que o menos votado, 20 posto de o melhor conto brasileiro (Sousa, G. de: 1955, 530), ‘Acostumados, hi mais de um século, aidentificar 0 reconhecimento {da qualidade com '& marginalizagio, ao menos com o ostracismo decte- tado pelo piilico, fieamos surpresos, sem sabermos explicar tio répida fama, Ainda seria ficil compreendé-lo se Machado fosse um aficionado das frases em dé de peito ou um fluente narrador de amores paisagens. ‘Tanto isso néo era verdade que Silvio Rometo, numa delicadeza de clefante, considerava uma “admiravel notagio critica” afirmar-se que “ele gagueja no estilo, na palavra eserita, como fazem outros na palavra falada” (Romero, S.: 1897, 55). Eainda hi pouco costumava-se repetit setele rio, pessimist indiferentee importador de modas inglesas, jem seu tempo desatualizedas. ‘Ocorre-nos tuma hipétese: Machado foi um eriador de palimpsestos. ‘Come informam os dicionéios, opalimpsesto era um pergaminho, cuja primeira escrita muitas vezes era rasurada para que uma segunda se depusesse sobre as letras apagadas; a curiosidade dos analistas era entio ‘mobilizada para recuperar 0 texto primitivo, Supomos entiéo haver em “Machado uma verdadeira politica do texto consistente em compor um texto aparente, “segundo”, capaz de interessar a seus leitores “cultos” pelo sdbrio casticismo da linguagem, seus polidos tomeios, suas perso- inagens de pequenos vicios einofensiva aparéncia, Sob esses tragos, eram. deixadas as marcas de umn texto “primeito”, que a impressio tipogrifica antes velava que apagava. 254 Pensando noe Trépicos O palimpsesto machadiano assim respondia & conjuntura especifica de uma sociedade em que a atividade intelectual era quase singnima de ppecado solittio. Por isso o exerefeio intelectual no tempo de Machado Consistia,cnisso pouco mudamos, em fazer de conta quese pensava, em fingir-se que se admirava a inteligéncia, quando, em verdade, dela se fugia mais que o diabo da cruz. Machado aptendeu as boas maneiras de uma sociedade hostil, 20 menos indiferente a seu oficio, imitando os modos da subscrviéncia ¢ do alheamento politicos, insinuando-se entre os leitores pelas cr6nicas petiddicas. Deixou assim de dar na vista e, considerado pacato cidadio, estabelecido © com profissdo certa, pode rasurar seguro seu texto, reservando a si a habilidade de dar piparotes sob a frase impressa, No piparote, entrava em acio o palimpsesto. Trangiilizados, os contem- ‘potineos admiravam sua dedicagdo ds letras da patria nascente ou, ainda, ‘quereclamassem contra seus fumos de académico ¢ seu absenteismonas celeumas politicas, de igual contribufam para seu renome. Maneiras, ainda que opostas, de deixar intacto o palimpsesto. O texto machadiano passa entio a assemelhar-se aquelas figuras ambiguas que décadas depois a Gestaltpsychologie popularizou. Sua primeira camada é de aparéneia aguada ¢ insossa. As entrelinhas entretanto contrabandeiam pequenos indicios da camada borrada, o texto-palimpsesto. Por este, aleaniga Machado uma terceira via: nem o declamatério de saudades € imprecagdes rimadas, nem a desigualdade genial de um Sousindrade. Deacordo coma hipstese, oreconhecimento efetivamente critica de Machado corre por conta da identificagio dos pequenos indicios, dos filamentos que escorrem da superficie da est6ria, Contudo, mesmo porque escassos indicios, seus bons intérpretes antes sobrevoam que ppenetram em seu texto, Dessa inepta altura apenas uns pouces, como ‘Augusto Meyer, desceram, em camino de escafandro. Por isso nosso costume tem sido discutir as tendéncias gerais eas implicagées filossfi- cas do textomachadiano, em detrimento da “raspagem” dotexto visivel. “Asconsideragdes precedentes remetem Anossa proposta de trabalho: (@) desenvolver as linhas gerais em que se tem procurado localizar as significagdes da obra machadiana; (b) mostrar como, a partir de “O Alienista”, alguma outra poderia ser fecundada, 2. Significages emprestadas 4 obra machadiana Silvio Romero é 0 responsével pela primeira grande linha de inter- pretagiio de Machado. Conforme 0 polfgrafo sergipano, a importagio de © Palimpsesto de Raguai 255 padres estrangeiros ter-se-in acentundo durante oromantismo, Oanodé 1870, térmaino da guerra com o Paraguai, representaria o instante da -viragem, pela introdugio da ponta critica espicagada pela chamada Es- ‘cola do Recife, Contra esse, os epigonos do romantismo, com Machado frente, teriam manifestado seu amuo e despeito. Afinal, ninguém apre- cia ser deixado para trés. Machado teria, além do mais, se ligadoa reago [porque nio se identificava com set povo, send praticante de um tom, 0 ppessimismo, que nada tetia a ver conosco: “(..) Nés os brasileiros no somos em grat.algum um povo de pessimistas” (Romero, 8: 1897, 104). ‘A posigio de Romero é representativa da linhagem que considera ‘Machado um estrangeiro dentro de sua propria casa‘. Ba acusagio primi- tiva de indiferentismo politico e de alheamento pelos softimentos dos eseravos, aos quais, como mulato, Machado deveria ter estado prdximo, hd apenas uma pequena variagi Contudo a cbserviincia do eaminho proposto por Romero cedo pare ceu um tanto inedmodo pelo desfalque que causava as pobres letras patrias, Sem que negassem o pessimismo “pascaliano” de Machado ou mesmo seu “psicologismo”, procurou-se explicé-lo por motives bio- arias. ‘Mario de Alencar insinuara a pista ao falar em “o aparecimento, ou agravagio, do mal fisico incurével”, que “toldou de pessimismo a sua visio da natureza” (apud Pujol, A.: 1917, 100), Ainda em 1934, Viana Moog apenas atualizaria. a metéfora ao tratar do “morbo terrivel” (Moog, V.: 1934, 137). Oalheamentoe 0 pessimismo disfargado em humor eram considera: dos decorréncias patoldgicas. E a explicagio satisfez a uma enfiada de intérpretes (Ribeiro do Vale: 1917, Américo Valério: 1930, Peregrino Kinior: 1938, Leme Lopes: 1974), em um kitsch s6ultrapassado pelo que se acrescenta & obra de Augusto dos Anjes. ‘Ao lado da tentativa de explicagdo psiquidtrica, tentou-se outro ‘modo de recuperagio, O nome mais representativo é0 de Liicia Miguel Pereira, com sua declaragio de principio: “(..) Machado de Assis, intimamente, nfo duvidava tanto das forgas morais —a sua vida uma prova disso” (.” Pereira, L. M.: 1936, 171) 1 ise jolio, se bem que exttemamente muagad, est presente em um Gilberto Freie. CContasiendo a “nova conqusta do puladar” que seria ofreclds a0 lator europou pols ‘brs de Bueldes, coma fegi ere outros de Machado, escreva:"Romances nos Quaks virios cesses europeus, em ver de novos bores, tm eandidamente eonfexeado 8 amigos brsleirosbaverenconeado apenas saboresceusveosconbesides, com um ‘ucitroslpio detemperoendtice. A verdad que tempero brasileiro €s vezes tas forte do que e persa em alguns dos romances, sobretudo, nos melhores cones de “Machado (Pris, .:1966,22).A metifraculinira ao concede Machado senioun, pouco ds exo tempera 256 Pensandones Tropicos &_ Estabelece-se poisa seguintecorrenteretficativa:pessimista porque rio identificado,a seu povo (Silvio Romero) — pessimista porque epi- leptico Ginha psiquidtrica) — pessimista porque descrente na vitéria da moral, embora, em termos pessoais, fosse amigo dos amigos e dedicado ao trabalho ¢ & familia (A. Pujol, L. M. Pereira). ‘Com Alleides Maya e, sobretudo, Eugénio Gomes pareceestabelecer- se um corte. Em 1912, Maya empreende.a primeira reflexéode qualidade sobre o humor na obra de Machado. Em vez de procurar explici-lo biograficamente, 0 ertico e contista gaticho buscava uma identificagao do humor enquanto forma expressiva. O humor envolve “uma guerra de epigramas obra sagrada” (Maya, A.: 1912, 22). Dessacralizagio pelo riso, poderiamos pensar a partir do que escreve, que nao instila nem confianga em algum sagrado nem promove algom outro. Antes que Forma de divertimento,o iso serve de base para que a expressio disfarce ese resguarde da treva causada pela morte das erengas. Maya assim in- diretamente explicava a indignagio irritada de Silvio Romero: como admitir que.elguém, em uma nagZo jovem esolar, viva e ria da morte das erengas? ‘Tomamos o pequeno ¢ hi muito esgotado ensaio de Alcides Maya como 0 que abre a busca do entendimento estético de Machado. Em palavras menos vagas, oque sobrevoaa textualidade machadiana.apartir de-um horizonte entretanto adequado. Ea partir dessa linha que poderdo se desenvolveras visadas fecundas. Assim a questio das influéncias nfo 6 mais lida como prova de imitagZo e dependéncia — leitura que retar- dariamente caracterizalivrode Agripino Grieco (1959). Nessa diresio, sedestacao autor de Espelho contra espetho. Apontando para a possivel {nfluéncia do ensaio de Swift, “A Serious and useful scheme to make an hospital forinsanes”, de 1733, Eugénio Gomes estabelece uma diferenga relevante: (.) A sétira empregada em O Allenista val muito mais lenge {que a de Swift: mistura e confunde, fazendo-os desaparecer 6s Timites da raza e da loucura (Gomes, E.: 1949, 37) Dentro do mesmocuidado com orendimento textual, dispdem-se, de maneira contudo mpar, os ensaios de Augusto Meyer. No estido intitulado “Na Casa verde”, Meyer desenvoive a trilha langada por Alcides Maya ¢ considera “O Alienista" a pedra de toque do humor transcendental: “O verdadeiro (humorismo transcendental), © que nos leva. em viagem direta aos dominios do absurdo, estrecu com “O Aienista” de Machado de Assis” (Meyer, A.: 1935, 55). Humorismo transcendental, aquele que ndo esperneia e grita sendo que ri diante dos _gilhdes criados por “nossa fatalidade determinista”. Bacamarte seriaseu agente e, porsua estéria, chegar-se-ia ao “suicidio da rezio que pattiu de ‘OPalimpecsto de taguai 257 teotia em teoria & caga da verdade, e por fim acabou reconhecendo em si mesma a fatalidade do erro". (Meyer, A. op. cit, 57-8) Embora escrito hi mais de quarenta anos, este & © ponto mais Iuminosoa que tem chegado a exegese machadiana da novela, Luminosi- ‘dade contudo que ainda no anulava seu catster de sobrevéo. 3. O questionamento da loucura: as subestérias Procuremos delimitar, dentro do marco da novela, conjuntos meno- +es de seqiiéncias, com a finalidade de loealizagio de temas, na acepgio ‘musical do termo, ie. algo completo em 8i e, a0 mesmo tempo, parte ‘ntegrada em uma compasigio maior. ‘Aprimeiradas subestérias seconfunde com a prépria abertura da no- vela, Refere-se a Simao Bacamarte e Evarista, Na seqiléncia inicial, que tem por objetoas razdes da escolha da mulher, a ciéncia forneceo eritério definitivo: 0 sabio prefere Bvarista porque suas excelentes condicdes de satide garantiriam 20 esposo uma prole perfeita. Na seqiiéncia final da subestéria, a ciéncia ao contrario mostra reduzida sua eficicia. Apesar das consultas és autoridades estrangeiras e da releitura dos alfarrabios, dos médicos drabes, Evarista permanece estéril. Mas Bacamarte no duvida da eficacia de seu método. Se a descendéncia gorara teria sido porquea mulher serebelara contra adieta impostae teimaraem semanter “exclusivamente com a bela carne de porco de Itaguai™ ‘A comparagio dus aludidas seqiléncias nos permite dizer que intro- duzem 0 questionamento da eiéncia; um questionamento na verdade apenas metonimico: tomada como eficaz em termos gerais, verifica-se sua derrota ante a concorréncia com a came de porco. ‘A resisténcia de Evarista aos sibios conselhos do marido introduz ‘um outro elemento. Para identificé-lo, precisamos sair da subestétia ¢ destacar duas passagens, Enquanto Bacamarte cada vez mais aumenta a populagio da Casa Verde, Evarista cada vez mais definha: “Caiu em profunda melancolia, ficou amarela, magra, comia pouco e suspirava a cada canto” (cap. If), Interrogada polo marido, responde-lhe por fim “que'se considerava tio vitiva como dantes. Bacamarte conelui que os, ares da capital Ihe fariam bem. Obediente, Evarista viaja. De retorno do Rio, mal se encontram, a mulher “atirou-se ao consorte, de um gesto que nio se pode melhor definir do que comparando-o a uma mistura de onga, erola” (cap. V). Dispersos entre sie elativamente afastados, as duas passagens no parecem mais do que acentuar a diserepéneia da natureza dos esposcs. 258 Pensando nos Trépicos ‘Mas observemos melhor seus termes centrais: a rebeliao de Bvarista se cumpre pelo comer; na reclamagao 20 marido, refere sentir-se tio vitva Como antes; ao reencontré-lo, sen gestog uma mistura de rola — roman ticamente identificada a amor terno — e onga — clara identificagio de agressividade. Nao sera pois que 0 énimo classificatério de Bacamarte © induzia a confuncit os planos literal e metaférico do comer? Passando- Ihe dietas literais, no esqueceria a metaférica dieta a que submeteria a infeliz, a ponto de fazé-la sentir-se em estado de permanente viuvez? Em suma, a primeira subestéria introduz quer © questionamento da ciéncia, quer 0 de seu agente. Nos dois casos, 0 indice questionante ¢ a “carne de poreo”, a apontar para a alimentagio do sensivel — carne que quer carne —, deslembrada pela paixio classificatéria de Bacamarte. © uestionamento deste parece insinuar que a tal ponto se tratava de uma tespécie de louco que chegava a confundir a alimentagio adequada para tum casal que pretendia eadia prole. Mas a questio nio se encerra em termos to maliciosamente banais, A preocupagéo elassficatéria do tientista 0 faz 88 ter cuidados e olhos pata o literal ¢ esquecer a forga Fetificadora da metifora, desde logo 0 do comer figurado, de cuja falta afinal Evarista se queixava. Donde, 0s dois questionamentos eneami- ‘nharn para um $8: questionamento de uma ciéncia que, por sua vocayéo taxindmica, nio atenta para o trabalho a0 nivel do sensivel ¢ deixa escapar a metéfora, ‘A segunda subestéria tem porinstrumento Bacamarte. Porfirio, tendoos ‘ereadares como coadjuvantes. Declarada a rebeliodo barbeiroedirigida a Camara uma petigoem que se expuniiam suspeitas sobre a conduta do alienista, Cimara Fecusa-se @ discuti-la, embora nfo’ possa impedir que um de sous membros apsie verbalmente a rebelido. A Iuta quese trava tem por armas fas figuras de retdrica. Efeito particular exerce frase proferida, por Porfirio: “Bastilha da rezio humana”. Ao ouvi-la, hesitam os defensores, da ordem. Mais ainda hesitam porque o vereador dissidente acrescenta, ‘que, sendo tantos os internados, caberia indagar se “o alienado no é 0 lienista” (cap. VD). A palavra de ordem, encarnada pelo Presidente da ceasa,¢ ada rebeldia se equilibram em impasse até que o motim caminha por seus préprios passose, dirigindo-sc& casa do alienista, odesafia para Dutto tomeio verbal. As palavras firmes de Bacamarte momentance mente arrefecem os rebelados: ‘Meus serhores, a eiéncia coisa série, e merece ser tratads com setiedede. Nio dou razdo de meus atos de alicnista a ningvér, ‘salvo sos mestres ea Deus, (..) Poderia convidar alguns de vés, fem eomissio dos outros, a vir ver comige 0s loucos reclusas; (© Palimpsssto de Iaguai 259 mas nie o fago, porgue seria dar-ves razdo do mou sistema, © ‘que ni farei a leigos, nem a ebeldes (cap. VID) Sentindo o impacto da resposta do inimigo ¢ 0 recuo de seus segui- ores, o barbeiro tenta reinsufla-Ihes 0 entusiasmo. E 0 narrador, como vor externa, acreseenta: “Foi nesse momento decisive que o barbeiro sentiu despertar em si a ambigio do governo” (cap. VID) Por isso The parece preferivel engolir a blasfémia com que, ante a conduta dos com- panbeiros insurretas, sua raiva explodiria e & peroragio do cientista responds com outra: estruamos o edreere de vossoe filha e pais, de vossas mies € irmis, de vossos parentes © amiges, e de vés mesmos. Ou morrereis a pio e dua, llvera chicote, na masmorra daquele indigno” (cap. VID) ‘Ao passo que a retérica de Bacamarte afeta os ouvintes por exclu los — afirma que sua ago nao seré determinada pela pressio da turba — « conirapé-los & imagem de um poder deles independente — o alienista declara nio escatar sendo os mestres ¢ a Deus — a retériea do barbeiro 6 includente, reiterativa e liberal. A primeira funciona pelo medo, « segunda pelo entusissmo, Na luta imediata,é a retériea do barbeiro que ‘tiunfa, A multidio se pée em movimentoe teriaaleangadosua meta caso agnic deretrdament de aretivan anasso mo dos drags de (© episédio se encerra com a vitéria sem derramamento de sangue dos rebelados ea destituigdo da Camara. Estando agora Porfirio sentado zo poder, seria esperivel que jd no encontrasse obsticulos em esmnagar co adversirio, Contudo, em vez de destruir a Bastilha de Itaguaf, ante a ‘surpresa do prdprio Bacamarte, oex-barbeiro vem procurd-lo. Depois de ter om si despertada a ambigio do poder, rapidamente aprendera que também a retérica tem limites. Ou melhor, que a sua forga, ac contrario do que sucedia na pritica matrimonial de Bacamarte, ‘nfo esté na literalidade. Dirige-se pois casa do alicaista, nfo para Ihe informar sobre destruiges sendo que para tentar um acordo: A generosa revolugio que ontem derrubou uma eémara vilipendida e corrupta, pediu em altos brados 0 arrasamnento da Casa Verde; mas pode entrar no énime do goveno eliminar a oucura? Nao, Ee 0 governo no a pode eliminar, esté ao ‘menos apto para diseriming-Ia, reconhecé-Ia? Também ni; & matéria da oiéneia. Logo, em aseunto tao melindroso, o govemno io pode, nfo deve, nio quer dispensar o concurso de Vossa Senhoria (..) Unamo-nes e o povo saber obedecer” (cap. 1X) 260 Pensando nos Tropics A relGrica da inclusio de Porfirio encontra um novo objeto. Pouco importa que ele contrarie o primeiro. Atris, a incluso do povo era assegurada apontando-se-Ihe como causa de seus males ¢ das ameagas ‘sobre suas eabecas o bode expiatério da Casa Verde. Agora no poder, a inclusividade buscada por Porfirio ha de ser outra. O barbeiro é bastante pragmético para néo se indagar sobrea legitimidade da ciéncia, Para sua ambigio, é preferivel incluir tudo que Ihe possa respaldar. Beneficiado por um motim que sacudira a ordem estabelecida, era justo que temesse (© novo governo ainda néo ter “a confianga dos principais da vila”. Por isso a conquista do adversario “podia fazer muito nesse ponto”. Sua sen- sibilidade para a arte do poder no entanto contrasta corn a idéia fixa de Bacamarte, que ndo se desliga de sua paixto classificatéria e apenas cogita nos noves easos de loucura que o episédio revelava. Ali, nao hé possibilidade de acordo senfio transitério. A flexibitidade com que se atualiza a titica de inclusio de Porfirio se choca com o eédigo fixo do alienista. ‘Se a primeira subestéria corroia a absolutidade da ciéncia, revelando-a tosca no trato com o metaférico, 2 segunda, relativa & insurreigao de Porfirio, reitera o mesmo resultado. Mas uma diferenga nfo é menos acentuada: na primeira, Evarista é apenas o instrumento da insubmissio do sensivel a dicta cienifica a que o marido a sujeita, 0 passo que na segunda o barbeiro é uma personagem relativamente complexa, que abandona o plano das figuras secundrias para se tornar um elemento piv6, Seu no destaque pela critica resulta de que ne novela s6se tenham realgado as figuras do humor, do “pirronismo niilista” e da desctenga. Ora, tas aspectos sio aqui derivados esua verdadeiraeficicia se dissolve senio.s articularmos a figura matriz: qual a relagio que a ciéncia, tida por neutra, desinteressada pelas paixdes humanas, pairando sobre elas € ~-absoluta, moanteria com 0 poder? E por que nfo teriam os machadianos co indagado? Quando, pr exemplo, Viana Moog anota que "*O Alienista’ constitu a maior invectiva jé feita as suas (do séeulo XIX) eonviegdes cientificas” (Moog, V.: 1934, 132) observa um dado importante, muito ‘embora oesterilize porque omite otermo inter-relacionaco,o poder, cuja falta é substituida pelas reflexGes subseqlentes sobre o pessimismo de Machado. ‘Aauséncia daarticulagao entreciéneia epoder parece dependentede um fator téenico e outro ideolégico.Isolado, nenhum dos dois daria conta do filfonecessério, Sem o dominio do primeiro, oanalista nose permite mais que a forma do comentario. Além do mais, se Ihe toma imposstvel enlagar cbservagdes parciais, se bem que valiosas, com a construgio de tum todo que cobrisse a inteiteza do objeto. Assim, no caso especifico, ‘nfo se tem relacionado a eritica da linguagem oratéria, presente em todo OPalimpsesto de Hagual 261 © Machado da maturidade!, com a vontade de pode, tio finamente realizada na novela, A caténcia técnica entio facilita a reiteragio ica, que sc contenta cm “classificar” Machado entre 0s eéticos ¢ istas ‘A segunda subestéria portanto permite com facilidade apontar que a critica da ret6rica funciona como o mediador entre as tematizagdes da ciéncia e do poder. Porfirio descobre 0 gosto do mando 20 ter de se contrapor a eloqtiéneia de Bacamarte. Descobri-lo, significa que nio deve imprecar contra seus hesitantes seguidores send que por outra titica os reanimar. O barbeiro contudo nao encerra ai sua aprendizagom. Ao assumir 0 governo, pereebe que necesita de uma legitimagio simbélica, que a ciéneia seria capaz de te fomecer. Nao & por acidente {que nido use a “teoria da matraca”,ic.,que nfo se limita a divulgar quais, seriam seus feitos reais ou propagatideads, senio que antes procura, tomé-los possiveis, mediante. neutralizagdo do detentor do outro poder, Bacamart. ‘As duas subestérias esbopadas permitem agora que focalizemos a demanda de Bacamarte, ji sem orisco de desprezar seas temas paralelos: ‘poder eo papel da linguagem. © que equivalea dizer queo tema central de “0 Alienista” — que éafinal a loueura? — nao apreensivel sem que sse compreenda a articulapdo estabelecida entre trés variaveis: cigneia, Tinguagem ¢ poder. 4, Que no vé a ciéncia de Bacamarte? Para Simo Bacamarte, a cigncia & uma atividade que desconhece condicionamentos externos. Por isso Itagua, nao importa quio isolada e distante pudesse ser, Ihe parece preferivel 2 Lisboa ou Coimbra. A ciéncia s6 atenderia & vontade de saber. B, do mesmo modo como nfo teria limitagdes espaciais, tampouco seria atingida por interesses materias. Bacamarte néo cogita de ganhar dinheiro e até a escolha da mulher se ‘guiara por meros argumentos cientificos. Bacamarte sc apresenta como 8 propria encamnagio do cliché do cientista, sobretudo 0 médico, que o século XIX forjou, sendo a obra de Machado “criada (...) sob a impreg- nante influéncia do espiritocientifico” (Meyer, A.: 1947, 106). Ainda no 2 A propio de fungi oman ‘spe pp. 174 lalinguagomttéicabrasileits ef Faoro, Ri: 1974, 262 Pensandonos Trépices fim doséculo, o mesmo horizonte permanecera presente na formagio do pensamento freudiano (ef Szasz, T. S.: 1961, 90) Detenhamo-nos um instante neste dado porque tem sua importéncia na reconstituigéo arqueolégica da novela. De acordo com a mente de Bacamatte, a ciéncia nio necessitaria mais que de um locus amenus eda persisténcia de alguém para desenvolver, pela observagio, o que apren-~ Sera — 0 proprio Freud aficmava que o fundamento de “eigneia cons truida a parti da interpretago da empiria” “é a observacio apenas” (Cies ist vielmehr allein die Beobachtung” (Freud, S.: 1914, X, 142). * pessimismo” machadiano perturbava essa imagem angelica ao insinuar que o trabalho cientifico se dé nas proximidades doutro poder: o da ‘Cimara de Taguai, que subvencionava as investigagées de Bacamarte ppela cobranga de taxa a set paga pela omamentagio “nos,cavalos nos Enters", Etanto dinheiro haveria de ser assim arrecadado que, duvidando Evarista dese teriam meios que subvencionessem sua viagem Acorte, 0 marido The mostrou, nos livres de escrituragéo da Casa Verde, a “via Iketea de algarismos”e, nas arcas, os montes de outo. Mas, para um fil da observagio, 6 estranho que oalienista ndo aprendesse com o que via, permanecendo desatento is cares de potco, aos penachos das ornamen- lagées ¢ aos dobrdes. Sua atengio exelusiva 0 prende loucura e, de inicio, apenas empregundo a teoria assente, prepara a Casa Verde para receber seus convivas. E a primeira fase de sua experiéneia, onde a Toucura era concebida como uma ilha no continente da razAo. B, senclo ainda poueos os internados, o narrador tem tempo para refer as causes ddesua hospedagem, Fora da classificacio psiquidtrica que justifica para Bacemarte cada intemamento,a desctigiodos casos nos permite apreen- der um critic distinto 20 declarado pelo médica. Avulta a loucura da ppalavra, cuja abrangéncia vai desde a forma do exeesso, a loucura da fetdrica’ — 0 tapaz bronco que, de repente, se poe a citar Cicero & TTertuliano —atéseu avesso — olicenciado Garcia, que néo profere uma tinica palavra, sob o temor de que, st 0 fizesse, “todas as estrelas se espegariam do céu e abrasariam a. terra” (cap. II). Segue-se-the @ Toucura do amor, exemplifieada. pelo infeliz que, abandonado pela mulher, a perseguira e a0 amante, para afinal maté-lo, Se a doenca da ‘palavra consistia ou em nela confiar em demasia — 0 licenciado Garcia Frou em excessivamente desacredité-la — a doenga mais comum da retérica —a loucura do amor, como o saberia o marinheiro da “Noite de ‘almirante”, estava em eré-Lo eterno. Hi ainda um eterno tipo de loucura, ada origem — “Deus engendrou 0 ovo, 0 ovo engencirou a espada (..), © marqués engendrou o conde, que sou eu” — parédia das formas cevolucionistas do tempo. Bacamatte contudo demasiado apaixonado por sua tarefa para que ‘se contentasse com a teorizagio que Ihe haviam transmitido, Em uma segunda etapa, trata de ampliar 0 territ6rio da loucura; no mais encard- OPalimpsesio de Magual 263 Ja como ilha seno como crosta envolvente, dentro da qual estava a pérola, @ razio: Por outros terms, demarquemos definitivamente os limites da razio e da loucurs. A razio 6 0 perfeito equilibrio de todas as faculdades; fora daf insinia, insinia, e 56 insinia (cep. TV) Ba fase do eseindalo piblico, em que mesmo os amigos, as figuras conceituadas da vila e até D. Evarista sto internados. Bacamarte ndo se dobra a queixas, apenas espera que os contracanjicas derrotem os ex- revoltasos, que a antiga ordem se restabelega e, repostos, os vereadores continuem a apoié-to. Mas a extensio de seu objeto ainda nio the satisfaz, Como born ¢ dedicado sibio, Baeamarte muda outra vez. Se, deacordocom osegundo critério,a razioéo equitibrio, levé-loa pratica significara intemar 4/5 de Tiaguai. Impressionado com a estatistiea,oficia & Camara que a “ver~ dadeira doutrina” deveria entiéo ser a oposta e portanto que se devia admitir como normal ¢ exemplar o desequilibrio das faculdades, e como hipsteses patoldgicas todos os casos em que aquele equitibrio Fosse ininterrupto” (cap. XID. Esta éa tltima mudanca do que Sonia Brayner bem chamou o “paradigma da inversio” (Brayner, S.: 1976, 1-2), pattithado por Poe ¢ Machado, A Casa Verde se esvazia, os novos inguilinos tém passagem bem mais répida pois o saudavel desequilforio cedo afasta 0 que pareceria irremedisvel loucura, Afinal, 0 nico cansdidato néo poderia ser outro senio o préprio aliensta leitor sente-se vingado com os alvorogos softidas por Itaguai. Estard certa porém sua féeil catarse? Releiamos o palimpsesto. Que representam as reviravolias da teorizagio de Bacamarte senio maneiras, ée reforgar por retardamento a acusagdo a pretensio absolutista da cigncia? Ja recordamos que Machado vivera dentro de um horizonte que privilogiavaasciéncias da observagao. A mengio tinha opapelespecifico de reforgar o contraste a reflexio machadiana com a idéia entdo vigente sobre a loucura. Venhamos agora um pouco aités, recoréando com Foucault a experiéneia cldssica da loucura. Como ele mostrava, ai se digladiavam duas concepgGes. Por um lado, a que pictoricamente se exprimia por Bosch, Brueghel ¢ Diirer: () Aiya loueura detém ume forge primitiva de revelagéo: revelagio que o onirico é esl, que a estreita supeficie da Slusio se abre sobre uma profundidade inecusivel (.) (Foucault, 1961,38) Por outro, « concepsio dos humanistas, em que Brasimo ressaltavay em ver de um fantistico dominante,« loucura se submetia 20 olhar do 264 Pensando nos Tropicos sébio, perante o qual "se desvelard em sua mediocre verdade” (Foucault, ‘op. cit, 39), Serd a visio dos humanistas, nao a experiéneia trégica da Toticura e recordada pelos pintores, a triunfante na época clissica, 14 nao se coneebe. loucura como.o outro lado da razio mas sim como uma vor ‘que sa razio faz falar. Poder-se-ia pensar que o fato dea razio nomed- Ia como “momento essencial de sua propria natureza” (Foucault, op. cit., 46) ainda the concedia alguma dignidade. Trata-se na verdade de uma submissio, A Ioucura é af menos patologia que desrazio, julgada pelo centralizador olhat racional, Por isso, a partir de 1656, quando se funda 0 Hopital général de Paris, dentro dos bospitais gerais 0 louco convive ‘com tima multidao doutros “desviadas”: os libertinos, 0s debochados, os homossexuais, os que sofriam de doengas venéreas. Ora,apartirde Pinel, cchegando a Charcot ¢, conforme Szasz, incluindo mesmo a Freud, 0 Touco perdeo solo om que o depositava a experiéneia clissica. Eleé visto como um problema médico, ao passo que a companhia dos outros desviados antes indicava sua subordinagdo comumm a uma identificagio Juridica, que cobria os desvias de ordem sexval, religiosa e de conduta. De todos, a sociedade laboriosa ¢ racional se defendia, reservando-Ihes ‘0 apropriado lugar comum. Por isso, como acrescentava Foucault, a ‘experiéneia da loucura iniciada com Pinel representa menos alibertagio do louco do que © esquecimento de sua inscrigao na época clissica. E neste ambiente positivista ¢ catalogador que a loucura é encarada ‘como doenga ¢ privagéo. E diante dele que Machado reflete sobre Toucura, Que a questio nao tinha para ele um interesse apenas fugaz é maostrado tanto pelo Quincas Borba como pela crdnica de 31 demaio de 1896, tomada por Mario Matos como fonte da novela (ef. Matos, M.: 1939, 130). A propésito da fuga dos loucos da Praia Vermelha, dizia a ceténiea que entao “o juizo passous ser uma probabilidade, uma eventua- lade, uma hipétese” (Assis, M. de: 1896, 709}, com oque, continvava, crdnica, a estranheze que despertasse um passante provocaria asuspeita de tratar-se de no mais do que um dos escapulides do hospicio, Qual.a diferenga enire.o que eserevia 0 eronista e 0 que pensava Bacamarte? A personagem tinha a seguranga da ciéneia, 20 passo que o ‘Machado questionador tomava a loucura menos como uma docnga do {que como tma linguagom excluida, Era por devolver a Joucura ao solo. da experiéneia cldssiea que o autor conseguia tematizar o termo recal- ‘cado pela positividade psiquitrica. E o que vemos a partir dos eritérios sueessivas do alienista. No primeiro, a loucura era uma excesio. Linha diviséria que trangiilizava a sociedade a medida que permitia 0 jnternamento dos que se singularizavam por um comportamento raro. E certo que Machado maliciosamente se utilizava do eritério de endosso social para assim internar figuras de seu especial desagrado: os retéricos, 0s romnticos do amor, 08 evolucionistas. rdelaguai 265 O critério depois sc inverte. A sociedade deixa de ser beneficiada pelos favores da ciéncia e 0 bom-senso se ergue com a revolta do barbeiro. A Porfirio cabe a descoberta do que Bacamarte até o fim ignorard: a diviséria entre loucos e sadios no é apenas uma questo médica, pois ainda envolve um critério social. Ou seja, a ciéncia é lcgitimada pela utilidade que mostra ao poder politico. Ao contrério do angelismo positivista de Bacamatte, a ciénela nao é pura — depois se diria neutra — mas investida de um poder outorgado. A loucura de Bacemarte é a loueura da ciéncia e esta consiste em ignorar seus possiveis limites ¢ suas efetivas articulagSes. Limites que a levam a privilegiar uma ldgica abstrafda do sensivel e, portanto, desconhecedora daagio da metéfora, Articulagdes ques habilitam para servirao politico, ‘A permanéncia da cegueira de Bacamarte é a condiglo para que a novela avance. Conforme o terceiro eritério que propée,a loucura incor- potaa imagem doequilfbrio niomais desejado. Outra vez, oalienista nao ‘consegue prosseguir sem © apoio da Cimara. Nao seria ela entretanto demasiado dc? © tons brasileiro de Mactado a parece se manifes tar, Simao Bacamarte se formara em universidades famosas, eorrespon- dia socom autridades de nomes compliados, tia orenome deem se formara no estrangeiro. Era por isso notado com o respeito que Ihe conferia 0 estatuto colonial. Machado pereeberia que o privilégio dos titulos aleangados no estrangeiro se relacionava com a auséneia de um centro intelectual aqui localizado. Mas nfo se limitava a acentuar nosso colonialismo interno, Sua reagio contra as concepgdes Vigentes sobre a ddoenga' mental 0 levava a questionar a objetividade e a autonomia da ciéncia, Com isso nfo deixava de dar as masa seu caro Montaigne, que se cansara de desancara pretensio dos médicas. Muitomais contudo do que destacat suas “aliangas”, parece importante descobrir a ligfo que cextrafa da expetiéncia ficcional: meio sim de divertimento porém niio ‘menos de questionamento. Como a praticava, a ficgao era para Machado ‘© oxigénio pela qual se poderia respirar o ar das questées. O fato de que ‘ocientificismo fosse brasileiro nfo o impedia deser propriedade do Oci- dente. Sua discussio, atualmente processada, nfo deveria esquecé-lo. © que vale dizer, 0 questionamento da ciéncia por Machado nfo desvelava apenas uma situaglo local. Rio: jutho agosto, 1976 (edifcagdes em joo, 1990)

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