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O documentário “Acabou a paz, isto aqui vai virar o Chile” foi produzido pelo cineasta

Carlos Pronzato, em 2016, e trata das ocupações realizadas por estudantes nas Escolas Estaduais da
Rede Pública do Estado de São Paulo. O movimento teve início no segundo semestre do ano de
2015, em resposta à política de Reorganização das Escolas Públicas, quase implementada pelo
governo de Geraldo Alckmin, governador do Estado na época. Tal política visava o fechamento de
94 escolas, na justificativa de diminuir gastos públicos e, para isso, endereçaria seus alunos a outras
instituições de ensino.
Sem serem consultados sobre a aplicação da política, os estudantes secundaristas (do ensino
médio) tomaram conhecimento sobre esse fato a partir de noticiários televisivos e buscaram
organizar-se contra sua implementação. A luta para manter as Escolas contava com diversas
justificativas num primeiro momento, como o pertencimento por estar onde sempre estudou, manter
as relações estabelecidas (alunos-alunos, alunos-comunidade, etc), morar próximo e a quantidade de
estudantes em sala (que aumentaria em muito se as escolas fossem fechadas). Para isso, os
secundaristas buscaram reivindicar essa medida através de abaixo-assinados realizados por
vereadores, estando presente na Secretaria da Educação, etc. Contudo, essas medidas não foram
suficientes e, na luta contra o fechamento das Escolas, novos significados e ações foram ganhando
contorno.
As manifestações em rua pública tiveram início em 06/10 e foram crescendo em frequência
e localização, sempre sofrendo muita resistência por parte do Estado. Nesse momento, as
motivações anteriores para manter as escolas continuavam, mas outras começaram a emergir e
tornar-se parte de seus discursos, como a oposição da privatização da educação (mercadoria dentro
do sistema neoliberal), o sucateamento da escola pública e o ensino como um mero repasse de
conteúdo. Ainda assim, as manifestações não surtiram efeito sobre o fim da medida e os protestos
seguiram até a ocupação de Escolas Públicas, com início na data de aplicação da prova SARESP
(Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), em 2015, que tem como
objetivo avaliar o desempenho dos alunos da rede pública estadual de ensino fundamental e médio.
A ocupação surgiu da ideia de alunas, a partir do conhecimento de uma cartilha falando
sobre “Como ocupar uma colégio” e do documentário “A revolta dos pinguins”, referente a
manifestações ocorridas no Chile. Essa ocupação ocorreu como um boicote à prova e foi essencial
para conseguir apoio e atenção para a atuação dos secundaristas, chegando a mais de 200 escolas
ocupadas nesse período. Ao final, Geraldo Alckmin suspendeu a Reorganização, sem revogá-la,
atribuindo vitória (ainda que temporária, como dita no documentário) aos alunos. Contudo, o que
permanece desse protesto é, para além da vitória, a maneira como os estudantes se organizaram, de
forma democrática, horizontal, ocupando as escolas para cuidarem delas, pertencerem e
ressignificarem os espaços, levando atividades culturais, palestras informativas, união de diversos
grupos (pais, professores, partidos políticos, UNE), etc.
Este protesto foi uma luta autônoma, sem vínculo partidário, na qual os estudantes fizeram
sua própria história e seguem fazendo-a através do contato estabelecido entre eles. Em suma, o
documentário explicita a importância que a escola tem na formação do indivíduo, para além do
conteúdo, mas com convívio, aprendizagem, emancipação, participação e ocupação do estudante
neste ambiente, empoderamento para a discussão de seus direitos, trabalho em grupo, conhecimento
político, capacidade crítica, reflexiva e decisória. E compreender que, essencialmente, a escola é
parte da sociedade e, para mudar a sociedade, é preciso mudar a escola.

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