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E SE AS ESCOLAS NÃO EXISTISSEM?

SERIA O FIM DO MUNDO. Pelo menos deste mundo aconchegante a que você está acostumado. Por
exemplo: você sabe usar um computa- dor, mas não sabe fazer um. Pelo menos não a partir das matérias-
primas dele. Você teria de transformar petróleo nas partes plásticas, moldar chips de silício a partir de areia,
produzir energia elétrica para ligar a coisa... Precisamos de centenas de especialidades técnicas bem definidas
para fazer algo tão essencial quanto um PC, um motor, ou uma cafeteira. Sem escolas e universidades, seria
muito mais difícil desenvolver todas essas competências - e, principalmente, seria extremamente difícil
transmiti-las de uma geração para outra.

Na verdade, sem as escolas, a civilização mal teria dado os primeiros passos. Era nelas que, no Egito
de 5 mil anos atrás, as crianças aprendiam escrita e geometria. As aulas ficavam a cargo de sacerdotes, Gré-
cia e Roma também tiveram sistemas parecidos, onde filósofos davam aulas. Era coisa para poucos. Não se
sabe quanta gente recebia educação formal nessas épocas - mas estima-se que mais de 90% da população
morria analfabeta. Esse índice foi diminuindo na Idade Média, graças à organização da Igreja Católica, que
montou centros de ensino em suas catedrais e se tornou a maior fornecedora de profissionais para a
administração pública.

Mas a educação de massa só surgiu mesmo no século 19. A economia ficava cada vez mais urbana, e
agora exigia mais especialistas e administradores do que nunca. Também há poucas estatísticas da época.
Mas esta aqui, sobre a população da cidade de Oxford, na Inglaterra, dá uma ideia: em 1831, 26% dos adultos
de lá não sabiam ler. Seis anos depois, o índice caiu para 18%. No século seguinte, a economia pisaria no
acelerador de vez. Entre 1950 e 2000, a mundo ficou 8 vezes mais rico, as cidades cresceram. Isso aumentou
a demanda por profissionais urbanos. E o ensino superior deslanchou. Logo antes da Segunda Guerra Mundial,
Alemanha, França e Grã-Bretanha, com uma população somada de 150 milhões de habitantes, tinham só 150
mil universitários (0,1% do total). Nos anos 1980, essa taxa tinha subido para 3%- uma proporção 30 vezes
maior, e que continua crescendo no mundo todo.

O que aconteceria se tudo isso acabasse do dia para a noite? Há dois cenários: ou seria o fim do mundo
mesmo ou essa civilização que as es- colas ajudaram a construir se levantaria sozinha. Vamos ver.

Por um lado, educação e crescimento econômico são indissociáveis. Um não anda sem o outro. Para
comparar: quando o ensino de massa engrenou, nos últimos 50 anos do século 20, a economia cresceu 20
vezes mais do que nos 300 anos entre 1500 e 1800, quando a maioria era analfabeta. Sem escolas, iríamos
para trás. Hoje, a agricultura emprega um terço dos trabalhadores do mundo. Está em queda: em 1996, eram
41,9%. Sem escolas, essa lógica se inverteria, pois, sem a tecnologia para gerar vagas em setores urbanos,
voltaríamos à agricultura de subsistência. Como não haveria mais tecnologia para as plantações de alta
produtividade (que dependem de máquinas), bilhões morreriam de fome. Nesse mundo faminto, a chance de a
educação voltar seria zero: a escassez de alimentos serviria de gatilho para guerras, tanto entre países como
internas. E o mundo entraria num processo de autodestruição. Cada geração nasceria mais ignorante que a
outra.

Agora vamos para outro cenário possível. Se as escolas desapareces- sem agora, em pleno século 21,
ainda teríamos a internet. E ela pode nos salvar. Até 10 ou 15 anos atrás, algo como a Wikipédia parecia
impossível. Mas ela se tornou o maior banco de conhecimento do mundo. Iniciativas assim seriam o primeiro
passo para substituir as escolas. Mas não ficaria só nisso. Na busca por mão de obra qualificada, as empresas
formariam os próprios funcionários. É o que já acontece com as universidades corporativas - a da Petrobras,
por exemplo, tem cursos superiores voltados à extração de petróleo. As empresas ganhariam isenções de
impostos para manter esses cursos, e os funcionários ensinados se comprometeriam a ensinar seus futuros
colegas. Com a difusão do conhecimento pela internet e dentro das empresas, algumas pessoas se destacam
por levarem mais jeito para ensinar. Então, elas começariam a ser pagas para se dedicar apenas à educação.
Com o tempo, esses autônomos virariam uma classe trabalhadora - que ganhariam salário só para dar aulas.
E reuniriam em locais voltados exclusivamente ao ensino. A escola renasceria sozinha.

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