Professional Documents
Culture Documents
Estudo Clarice - 1 Parte
Estudo Clarice - 1 Parte
Faculdade de Letras
Departamento de Letras Vernáculas
Setor de Literatura Brasileira
Profª. Maria Lucia Guimarães de Faria
LINGUAGEM E EPIFANIA:
A paixão segundo GH, de Clarice Lispector
a) A linha segmentada
b) O Sol
c) A caverna
A) A linha segmentada
UNIVERSO INTELIGÍVEL
ciência correta da Verdade
Aletheia
A
Ideias FILOSOFIA
Conceitos CIÊNCIAS
hipóteses Entendimento
C
Seres vivos VIDA
mutação contínua,
degradação Fé
Imagens ARTE
B
MUNDO SENSÍVEL
experiência incerta da Opiniões
Doxa
. Cria-se um sistema de reflexos, partindo da Ideia do Bem até chegar às imagens. Se a
Ideia do Bem é a fonte suprema de luz e a produtora de ser, naturalmente quanto mais
perto dela se localizarem os elementos, mais iluminados serão e mais dotados de
“essência”; quanto mais distanciados, menos luminosos e mais esbatidos. Assim, têm
muito “mais ser” as Ideias do que as imagens, situadas no ponto mais baixo da escala
cognitiva.
B) O Sol
SOL BEM
LUZ VERDADE
VER SABER/CONHECER
C) A Caverna
. Sócrates pede a seus interlocutores que imaginem uma morada subterrânea em forma
de caverna. Lá no fundo, diz ele, estão sentados os habitantes, presos de pernas, braços e
pescoço, impossibilitados de girarem seus corpos e obrigados a olharem apenas para a
frente. Por trás deles, há um caminho escalonado que sobe até a saída. Em algum lugar
dentro da caverna há um fogo cuja chama bruxuleia, e alguns objetos estão espalhados
pelo ambiente. Fora da caverna, circulam pessoas, mas suas vozes só se ouvem remota e
indistintamente.
Tudo o que passa pela porta da caverna e os próprios objetos dentro dela
projetam sombras na parede ao fundo da caverna, diante da qual estão sentados, inertes,
os prisioneiros. Porque as sombras são tudo o que veem e que sempre viram, eles as
tomam pelas próprias coisas, incapazes de suspeitar que há toda uma realidade para
além delas.
Um dia, contudo, um dos prisioneiros consegue mexer a cabeça. Acentuando o
esforço, percebe que pode movimentar o corpo e acaba por libertar-se dos grilhões.
Uma vez de pé, faz um giro completo do corpo e se dá conta dos objetos, dentro da
caverna, que produzem as sombras projetadas na parede. Percebe, a seguir, o fogo, e
compreende que ele é a fonte de luz que gera a formação dos reflexos. Ato contínuo,
enxerga o caminho escalonado e se põe a subir os degraus.
Quando chega à porta da caverna, é noite. A luz do céu intensamente estrelado o
enceguece e ele precisa habituar os olhos para encarar os astros noturnos. O exercício é
preparatório para que, ao amanhecer, ele possa, primeiro, admirar a claridade e, por fim,
contemplar o sol em todo o seu esplendor. Neste momento, ele está apto a sair da
caverna.
. Lida, então, na chave alegórica, a imagem da caverna expõe seus verdadeiros termos e
revela seus propósitos:
Prisioneiros = homens
Grilhões = sentidos corporais
Sombras na parede = coisas sensíveis
. Parece desejável sair de uma caverna abafada e trevosa. No entanto, como se trata de
uma alegoria, é preciso compreender com clareza o que significa deixar a caverna.
. O giro completo sobre seu próprio eixo, que o prisioneiro perfaz para começar a
perceber as coisas ao seu redor e posteriormente deixar a caverna, desvela o seu sentido
maior: periagogé holes tes psychés, que significa uma conversão categórica da alma,
que volta as costas para o mundo sensível a fim de poder dedicar-se à pura
contemplação do universo inteligível.
1.3. Os desdobramentos
. Gera-se uma distorção: só o ideal é percebido como real. O mundo terreno se afigura
ilusório, fugaz, mentiroso, falso, traiçoeiro.
. Prega-se a renúncia ao êxtase sensorial. O corpo é considerado vil e impuro, e tudo que
lhe diz respeito é pecado.