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Ecologia Aplicada
Ecologia Aplicada
APLICADA
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
Impresso por:
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um
grande desafio para todos os cidadãos. A busca
por tecnologia, informação, conhecimento de
qualidade, novas habilidades para liderança e so-
lução de problemas com eficiência tornou-se uma
questão de sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilida-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos-
sos farão grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar
– assume o compromisso de democratizar o
conhecimento por meio de alta tecnologia e
contribuir para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a
educação de qualidade nas diferentes áreas do
conhecimento, formando profissionais cidadãos
que contribuam para o desenvolvimento de uma
sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi-
tário Cesumar busca a integração do ensino-pes-
quisa-extensão com as demandas institucionais
e sociais; a realização de uma prática acadêmica
que contribua para o desenvolvimento da consci-
ência social e política e, por fim, a democratização
do conhecimento acadêmico com a articulação e
a integração com a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al-
meja ser reconhecido como uma instituição uni-
versitária de referência regional e nacional pela
qualidade e compromisso do corpo docente;
aquisição de competências institucionais para
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con-
solidação da extensão universitária; qualidade
da oferta dos ensinos presencial e a distância;
bem-estar e satisfação da comunidade interna;
qualidade da gestão acadêmica e administrati-
va; compromisso social de inclusão; processos de
cooperação e parceria com o mundo do trabalho,
como também pelo compromisso e relaciona-
mento permanente com os egressos, incentivan-
do a educação continuada.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quan-
do investimos em nossa formação, seja ela pessoal
ou profissional, nos transformamos e, consequente-
mente, transformamos também a sociedade na qual
estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capa-
zes de alcançar um nível de desenvolvimento compa-
tível com os desafios que surgem no mundo contem-
porâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialó-
gica e encontram-se integrados à proposta pedagó-
gica, contribuindo no processo educacional, comple-
mentando sua formação profissional, desenvolvendo
competências e habilidades, e aplicando conceitos
teóricos em situação de realidade, de maneira a inse-
ri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais
têm como principal objetivo “provocar uma aproxi-
mação entre você e o conteúdo”, desta forma possi-
bilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos
conhecimentos necessários para a sua formação pes-
soal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cres-
cimento e construção do conhecimento deve ser
apenas geográfica. Utilize os diversos recursos peda-
gógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possi-
bilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente
Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e en-
quetes, assista às aulas ao vivo e participe das discus-
sões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de
professores e tutores que se encontra disponível para
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
AUTOR
ECOLOGIA APLICADA
SEJA BEM-VINDO(A)!
Preparei este material com o intuito de apresentar a você os princípios e conceitos bási-
cos da ecologia para que eles sejam aplicados no planejamento, gerenciamento e exe-
cução das atividades de diagnóstico ambiental; na avaliação de impacto ambiental; na
proposição de medidas mitigadoras corretivas e preventivas; na recuperação de áreas
degradadas; e no acompanhamento e monitoramento da qualidade ambiental.
Minha intenção é que você compreenda esses conceitos para que eles sejam aplicados
com eficiência na prática. As atividades que propomos em cada unidade vão te direcio-
nar para isso. Vamos encarar juntos esse desafio?
Eu gostaria de destacar que é um prazer poder trocar essas ideias com você. Espero que
a sua participação seja efetiva e que eu consiga trocar diversas experiências, tendo em
vista a realidade do seu trabalho e todo o contexto no qual ele está inserido.
Portanto, para que seu aprendizado seja efetivo, é necessário que você se dedique e não
desanime diante das adversidades. Elas fazem parte do processo e farão com que sua
vitória seja ainda mais valiosa!
Este material está dividido em cinco unidades:
A unidade I, “Introdução à Ecologia”, abordará a importância da ecologia para os estudos
ambientais. Nessa unidade, serão conhecidas as divisões da ecologia e as suas aborda-
gens (descritiva, funcional e evolutiva) utilizadas para responder a questões aplicadas.
Nós aprenderemos a reconhecer as diferenças entre vários níveis de organização: orga-
nismos (ou indivíduos), populações, comunidades e ecossistemas, observando diferen-
tes formas de focar esses níveis quando analisados dentro da teoria ecológica.
A unidade II, chamada “Ecologia de populações e sua aplicação”, irá fornecer ao aluno
conhecimentos de modelagem de populações e descrição de estruturas de comunida-
des. Além disso, estudaremos os fatores limitantes da distribuição e abundância dos
organismos, a dispersão de populações, os parâmetros demográficos, além de métodos
de estimativa do tamanho populacional e fatores envolvidos no crescimento popula-
cional.
A unidade III, intitulada “Ecologia de comunidades e sua aplicação”, fornecerá informa-
ções sobre as relações interespecíficas, componentes estruturais da comunidade e con-
trole biológico de pragas animais e vegetais.
A unidade IV, intitulada “Ecologia de ecossistemas e sua aplicação”, abordará a impor-
tância dos fluxos de energia e matéria nos ecossistemas, sucessão ecológica e ecologia
de restauração.
Por fim, a unidade V tratará das características físicas, químicas e biológicas do solo. Nes-
ta unidade, será enfatizado o papel dos microrganismos na qualidade do solo, assim
como das características físicas e químicas importantes para a fertilidade do mesmo.
Como em outras especialidades, você deve buscar contínua atualização. A experiência
APRESENTAÇÃO
UNIDADE I
INTRODUÇÃO À ECOLOGIA
15 Introdução
16 Divisões Da Ecologia
32 Evolução
38 Considerações Finais
UNIDADE II
ECOLOGIA DE POPULAÇÕES
E SUA APLICAÇÃO
47 Introdução
48 Índices de Densidade
55 Tabelas de Vida
58 Padrões de Sobrevivência
60 Crescimento Populacional
SUMÁRIO
66 Considerações Finais
UNIDADE III
75 Introdução
76 Relações Interespecíficas
93 Considerações Finais
UNIDADE IV
101 Introdução
UNIDADE V
137 Introdução
165 CONCLUSÃO
167 REFERÊNCIAS
Professor Dr. Rômulo Diego de Lima Behrend
I
UNIDADE
INTRODUÇÃO À ECOLOGIA
Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender as divisões da ecologia e a hierarquia de níveis de
organização ecológica para saber direcionar o estudo.
■■ Conhecer os modos de abordagem para conseguir responder às
questões aplicadas da ecologia.
■■ Identificar os fatores limitantes da distribuição e abundância dos
organismos vivos para entender como os organismos se distribuem e
em que densidade, em diferentes lugares.
■■ Entender a importância da evolução nos estudos ecológicos.
■■ Verificar a importância da Ecologia na resolução de problemas
ambientais atuais.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Divisões da Ecologia
■■ Modos de abordagem na Ecologia
■■ Hierarquia de níveis de organização ecológica
■■ Fatores limitantes da distribuição e abundância dos organismos vivos
■■ Evolução
■■ Campos de aplicação da Ecologia
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INTRODUÇÃO
A palavra Ecologia foi utilizada pela primeira vez por Ernst Haeckel, em 1869.
Essa palavra tem sua origem no grego “oikos”, que significa casa, e “logos”, estudo.
Dessa forma, ecologia pode ser entendida como o estudo da casa, ou, de forma
mais genérica, do lugar onde se vive.
De acordo com Haeckel (BEGON, 2010, p. 16), a ecologia era “a ciência capaz
de compreender a relação do organismo com o seu ambiente”. Essa definição
muito ampla provocou alguns autores que apontaram que, se isso é ecologia, há
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
muito pouco que não é. Em busca de algo mais focado, Charles Krebs, em 1972,
definiu a Ecologia como “o estudo científico das interações que determinam a
distribuição e abundância dos organismos” (BEGON, 2010, p. 16). Mais adiante,
Begon e colaboradores ETM (2007) propuseram uma definição mais elaborada
de Ecologia como “o estudo científico da distribuição e abundância de organis-
mos e das interações que determinam a distribuição de abundância”. A ecologia,
como um campo da ciência distinto e reconhecido, data de cerca de 1900, mas,
somente nas últimas décadas a palavra se tornou parte do vocabulário geral,
devido principalmente aos impactos antropogênicos causados ao meio ambiente.
Até 1970, a ecologia não era considerada pela sociedade uma ciência impor-
tante. Todavia, o aumento contínuo da população e a destruição associada de
ambientes naturais, com pesticidas e poluentes, despertou o público para o mundo
da ecologia. Atualmente a ecologia é um assunto em que quase todo mundo tem
prestado atenção, e a maioria das pessoas considera importante – mesmo quando
elas não conhecem o significado exato do termo.
Diante da grande quantidade de impactos causados ao meio ambiente, a
compreensão ecológica é agora necessária mais do que nunca para aprendermos
as melhores políticas de manejar as bacias hidrográficas, as terras cultivadas, as
áreas inundáveis e outras áreas – chamadas de sistemas de suporte ambiental –,
pois a humanidade depende dessas para alimentação, suprimento de água, pro-
teção contra catástrofes naturais e saúde pública. Os gestores ambientais irão
proporcionar essa compreensão por meio de estudos de controle populacional de
predadores, das respostas evolutivas de micróbios aos contaminantes ambientais,
da dispersão de organismos sobre a superfície da Terra e de uma multiplicidade
Introdução
16 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ciências naturais, incluindo ecologia, geologia, climatologia, sociologia, ciência
política e filosofia. A ciência ecologia não está somente interessada no impacto
dos seres humanos sobre o ambiente, mas com as inter-relações de todas as plan-
tas e animais. Dessa forma, a ecologia tem muito a contribuir com algumas das
questões mais amplas sobre o ser humano e seu ambiente, que são componen-
tes científicos importantes de estudos ambientais. Portanto, essa disciplina terá
papel fundamental para você, futuro (a) gestor (a), ambiental no entendimento
do papel da ecologia na resolução de problemas ambientais.
DIVISÕES DA ECOLOGIA
INTRODUÇÃO À ECOLOGIA
17
O estudo de ecologia pode ser abordado sob três pontos de vista: descritivo,
funcional ou evolutivo (PERONI e HERNANDÉZ, 2011). O ponto de vista des-
critivo trata, principalmente, de história natural e foca na descrição dos grupos
de vegetação do mundo (p.e. floresta decídua temperada, floresta pluvial tropi-
cal, pradarias e tundras), assim como na descrição dos grupos de animais. Essa
abordagem é o princípio de toda ciência ecológica.
O ponto de vista funcional, por outro lado, está relacionado à dinâmica ener-
gética e também numérica dos sistemas ecológicos. Essa abordagem procura
identificar e analisar problemas gerais comuns à maioria ou a todos os diferentes
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
gem evolutiva considera organismos e relações entre organismos como produtos
históricos da evolução. Uma vez que a evolução não somente tem ocorrido no
passado, mas está acontecendo no presente, o ecólogo evolutivo tem que traba-
lhar intimamente com o ecólogo funcional para entender sistemas ecológicos.
Porque o ambiente de um organismo contém todas as forças seletivas que moldam
sua evolução, ecologia e evolução são dois pontos de vista da mesma realidade.
Todas as três abordagens da ecologia tem suas forças, mas o ponto importante
é que nós precisamos das três para produzir boa ciência. A abordagem descri-
tiva é fundamental porque se não tivermos uma boa descrição da natureza, nós
não podemos construir boas teorias ou boas explicações. A abordagem descri-
tiva nos fornece mapas de distribuição geográfica e estimativas de abundância
relativa de diferentes espécies. Com a abordagem funcional, nós precisamos do
conhecimento biológico detalhado que a história natural traz para descobrir
como o sistema ecológico opera. A abordagem evolutiva necessita de boa his-
tória natural e boa ecologia funcional para especular sobre eventos do passado
e sugerir hipóteses que possam ser testadas no mundo real. Uma única aborda-
gem não pode abordar todas as questões ecológicas.
O problema básico da ecologia é determinar as causas da distribuição e abun-
dância de organismos. Cada organismo vive em uma matriz de espaço e tempo.
Consequentemente, os conceitos de distribuição e abundância estão intimamente
relacionados, embora à primeira vista eles possam parecer bastante distintos.
Caro (a) aluno (a) é importante entender que essas formas de abordagem
da ecologia (descritiva, funcional e evolutiva) referem-se à criação de teorias,
enquanto o tópico anterior (divisões da ecologia) referem-se a componentes
INTRODUÇÃO À ECOLOGIA
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Desenvolvimento
Energética
Regulação
Integração
Desenvolvimento
Diversidade
Regulação
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 1: Hierarquia dos níveis de organização ecológica.
Fonte: Odum e Barret (2008)
POPULAÇÃO
INTRODUÇÃO À ECOLOGIA
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©pixmannlimited
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Nós entraremos em mais detalhes sobre ecologia de comunidades e ecossis-
temas nas unidades III e IV, respectivamente.
INTRODUÇÃO À ECOLOGIA
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
usam-se os prefixos “esteno”, com o significado de estreito e “euri” com o signifi-
cado de amplo. Por exemplo, espécies eurihalinas suportam uma grande variação
no teor de sal, enquanto as espécies estenohalinas suportam pouca variação nos
teores de sal (salinidade constante).
Os fatores ecológicos abióticos extremos excluem a maioria das espécies.
Por exemplo, em regiões desérticas e polares são encontradas poucas espécies.
A distribuição e abundância dos organismos vivos estão em estreita relação com
a distribuição e abundância da água disponível, uma vez que as propriedades
físicas e químicas da água (especialmente as propriedades térmicas e de solubili-
dade) permitem a manutenção da vida até em ambientes boreais e polares, onde
o gelo funciona como isolante térmico e mecânico ao flutuar sobre as águas frias
e mais densas (SANTOS, 2006).
Com relação aos fatores ecológicos antrópicos, eles tornam-se cada vez mais
determinantes e limitantes no que se refere à distribuição e abundância das espé-
cies. Isso ocorre em decorrência da pressão sobre os recursos naturais renováveis e
não renováveis, provocando grande destruição de habitats. Isso acarreta migração
e extinção tanto de espécies conhecidas como de espécies ainda não identificadas.
Para entender melhor os efeitos dos fatores ecológicos sobre a distribuição e
abundância dos organismos, nós descreveremos o papel de alguns desses fatores.
INTRODUÇÃO À ECOLOGIA
25
LUZ
metabolismo tipo C4 podem captar energia contida em IL mais alta, fixar CO2 a
menores concentrações não ocorrendo aparentemente perda de CO2 por fotorres-
piração (SANTOS, 2006; RAVEN et al. 2007). Além disso, as plantas C4 apresentam
maior economia hídrica, alta resistência à saturação luminosa, melhor aprovei-
tamento de CO2 e tolerância a altas temperaturas (SANTOS, 2006; RAVEN et
al. 2007). Por outro lado, as plantas com metabolismo do tipo C3 sofrem satura-
ção luminosa correspondente a ou da luz solar plena, requerem concentrações
mais altas de CO2, apresentam significativas perdas de CO2 por fotorrespiração
e maior gasto hídrico (SANTOS, 2006; RAVEN et al. 2007).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Com relação à luz nos ambientes aquáticos, o grau de intensidade lumi-
nosa condiciona a zonação de algas marinhas nos costões rochosos à beira mar
e das algas sésseis, flutuantes e planctônicas em águas plenas marinhas e doces
continentais. A profundidade atingida pela luz nos ambientes aquáticos está
relacionada com a IL e a presença de partículas em suspensão (turbidez) e den-
sidade do plâncton (principalmente fitoplâncton).
Quanto à influência da luz sobre os animais, ela condiciona os hábitos de
repouso e atividade. Por exemplo, existem animais diurnos, noturnos (noctíva-
gos como morcegos, mariposas e corujas) e crepusculares (ativos no amanhecer
e entardecer, como anfíbios e certas aves). Há ainda animais fotófilos, que são
atraídos pela luz (mariposas), e fotófobos, que fogem da luz (organismos de
solo). A variação da luminosidade condiciona o hábito da hibernação (forma
de dormência condicionada por fotoperíodos curtos associados a climas muito
frios) e estivação (forma de dormência condicionada por fotoperíodos longos
associados a grandes temperaturas), diapausa (forma de dormência associada a
condições ambientais desfavoráveis), migração e época de reprodução em aves
e mamíferos (SANTOS, 2006).
INTRODUÇÃO À ECOLOGIA
27
TEMPERATURA
Bem, a resposta com certeza é sim. Muitas espécies têm suas distribuições
afetadas pelos valores extremos de temperatura, em especial pelas temperatu-
ras letais, que impedem a existência dos organismos. A temperatura determina
padrões globais de distribuição animal e vegetal. Por exemplo, considerando as
unidades vegetais, temos as tundras localizadas nos climas frios do hemisfério
Norte e as florestas tropicais localizadas nos climas quentes em regiões próximas
à linha do Equador. Como as comunidades animais estão diretamente relaciona-
das às comunidades vegetais, os grupos animais localizados no hemisfério Norte
diferem dos animais do hemisfério Sul. No entanto, há uma enorme dificuldade
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
em aplicar a visão global para os detalhes da distribuição de uma espécie em par-
ticular, ou seja, em determinar a real influência da temperatura na distribuição
das espécies individualmente (PERONI e HERNANDÉZ, 2011). Na atualidade,
devido aos efeitos das mudanças climáticas ocasionados pela enorme liberação
de gases estufa na atmosfera, tem se discutido quais serão os efeitos do aumento
da temperatura média da Terra na distribuição das espécies.
UMIDADE
A umidade do ambiente juntamente com a temperatura são dois dos fatores mais
importantes que determinam a distribuição da vegetação e da fauna no mundo.
A umidade do ar funciona como importante fator no controle da transpiração
vegetal, podendo acelerar a transpiração (baixa umidade relativa) ou reduzi-la (alta
umidade relativa), de acordo com o estado hídrico interno da planta (SANTOS,
2006).
A disponibilidade de água tem grande influência sobre a umidade do ambiente,
de forma que a seca ocorre quando não estão presentes e disponíveis quantida-
des adequadas de água. É importante salientar que em alguns casos o solo pode
estar saturado de água, mas se a água estiver congelada, ela não poderá ser absor-
vida e as plantas sofrerão o efeito da seca (PERONI e HERNANDÉZ, 2011).
A umidade pode também afetar os limites de distribuição de algumas espé-
cies, por exemplo, em áreas montanhosas (PERONI e HERNANDÉZ, 2011),
pois quanto maior a altitude menor a umidade.
INTRODUÇÃO À ECOLOGIA
29
pH E SALINIDADE
O pH é uma condição que pode exercer uma forte influência sobre a distribuição
e a abundância dos organismos. Como foi dito anteriormente, o pH é um dos
principais fatores ecológicos abióticos que influenciam os ambientes aquáticos.
Dessa forma, muitos trabalhos têm sido feitos visando relacionar a distribuição
de uma determinada espécie ao pH em ambientes aquáticos (PESTANA et al.
2010). A maior parte dos organismos vivos não tolera pH abaixo de 3 ou acima
de 9. Contudo, algumas bactérias têm seus limites de tolerância em extremos de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
pH. Por exemplo, a bactéria Spirulina platensis ocorre em lagos alcalinos com
pH até 11, e a Thiobacillus ferrooxidans ocorre em resíduos de processos indus-
triais e tolera pH igual a 1 (PERONI e HERNANDÉZ, 2011).
Nos casos citados acima, a influência do pH é direta sobre uma determinada
espécie. Contudo, a influência do pH pode também ser indireta, quando uma
determinada fonte alimentar de uma espécie é afetada pelas alterações do pH. Por
exemplo, em um riacho (pH normal = 7), quando o pH fica abaixo de 7, ocorre
um decréscimo no crescimento de fungos, afetando os animais que se alimentam
deles. Assim, os efeitos negativos são indiretos e a flora aquática muitas vezes é
inexistente ou exibe bem menos diversidade (PERONI e HERNANDÉZ, 2011).
Outro fator ecológico abiótico que afeta a distribuição dos organismos é a
salinidade. Os efeitos da salinidade sobre as plantas que vivem em ambientes
salinos (plantas halófitas) são similares aos efeitos da água congelada, ou seja,
dificuldade de absorção (PERONI e HERNANDÉZ, 2011). A salinidade tem
grande importância em locais onde há gradientes bem marcados, ou seja, na
transição de ambientes aquáticos e terrestres, e ambientes marinhos e de água
doce (PERONI e HERNANDÉZ, 2011). As concentrações salinas mais extre-
mas são encontradas em zonas áridas, onde são encontradas algumas espécies
adaptadas a tais condições.
Além dos fatores ecológicos abióticos citados anteriormente (salinidade,
pH, umidade e temperatura), muitos outros fatores físicos e químicos podem
limitar a distribuição de plantas e de animais. Dessa forma, levando em conside-
ração o entendimento dos fatores que influenciam a distribuição de organismos,
é importante salientarmos o conceito de recursos.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
RECURSOS
Os organismos são realmente dignos de estudo somente onde eles têm capa-
cidade de viver. Os pré-requisitos mais importantes para viver em qualquer
ambiente são que os organismos possam tolerar as condições locais e que seus
recursos essenciais estejam disponíveis (BEGON et al. 2010). Para compreen-
der a ecologia de qualquer espécie, é necessário entender suas interações com
as condições e os recursos.
As condições são características físicas e químicas do ambiente, como foi
estudado anteriormente, tais como luz, temperatura, umidade, pH e salinidade.
Um organismo sempre altera as condições em seu ambiente imediato, seja numa
escala muito grande (sustenta uma zona de umidade mais alta sob a sua copa de
uma árvore) ou apenas numa escala microscópica (uma célula de uma alga em
um pequeno lago modifica o pH na película de água que a envolve) (BEGON
et al. 2010). Porém, as condições não são consumidas nem esgotadas pelas ati-
vidades dos organismos.
Por outro lado, os recursos alimentares são consumidos por organismos
durante o seu crescimento e reprodução. Por exemplo, as plantas realizam a
fotossíntese e obtêm a energia e materiais para o seu crescimento e reprodu-
ção a partir de matéria orgânica, usando como recursos: radiação solar, dióxido
de carbono, água e nutrientes minerais (BEGON et al. 2010). Os organismos
INTRODUÇÃO À ECOLOGIA
31
produto da fotossíntese por uma folha não é mais disponível para outra folha.
A importância dos recursos em ecologia está no fato que um recurso limitado,
usado por mais de uma espécie, ocasionará uma disputa pelo mesmo, afetando
a sobrevivência da espécie menos competitiva.
Como dito acima, os recursos são todas as coisas consumidas por um orga-
nismo, o que não significa que os recursos sejam necessariamente “comidos”. Por
exemplo, o tatu-galinha não consome uma toca, mas quando a usa como um
recurso para proteção e reprodução, ele a deixa indisponível para outro organismo
(PERONI e HERNANDÉZ, 2011). Fêmeas que já se acasalaram podem não estar
mais disponíveis para outros acasalamentos, da mesma forma que nutrientes
consumidos por um organismo arbóreo não estão mais disponíveis para outros
organismos (PERONI e HERNANDÉZ, 2011). O que podemos aprender com
esse conceito é que as quantidades de recursos são escassas e podem ser ainda
mais reduzidas com a atividade dos organismos.
Uma importante consideração, com relação aos recursos, é que os recursos
podem ser limitados para membros da mesma espécie, levando a uma competi-
ção intraespecífica, ou podem ser limitantes para membros de espécies diferentes
levando a uma competição interespecífica (PERONI e HERNANDÉZ, 2011).
EVOLUÇÃO
Como foi dito no início desta unidade, para entender ecologia é necessário o
conhecimento de três abordagens: a descritiva, a funcional e a evolutiva. Para
se utilizar de uma abordagem evolutiva em Ecologia, é necessário integrar os
princípios básicos de Ecologia e de Evolução, sendo essencial compreender cla-
ramente as bases da Teoria Evolutiva, principalmente da seleção natural.
Uma das bases do estudo de evolução está justamente na compreensão dos
fatores que determinam mudanças no comportamento das espécies, como flutu-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ações no número de indivíduos, variações na distribuição espacial e na tolerância
em relação às variações ambientais, e processos de adaptação. Esses fatores podem
ser estudados em nível de populações, enquanto outros mecanismos operam em
nível de comunidades.
A evolução é um conceito muito importante dentro da Biologia, mas como
vários conceitos importantes ele gera controvérsias. Evolução biológica é a
mudança nas propriedades das populações dos organismos que transcendem
o período de vida de um único indivíduo (PERONI e HERNANDÉZ, 2011).
Charles Darwin foi o principal cientista associado à
evolução, pois foi ele que criou a hipótese da evolução
por seleção natural. De acordo com essa teoria,
algumas variações nos organismos surgiriam
ao acaso e, se essas variações os tornassem
mais aptos que os outros organismos, estes
sobreviveriam transmitindo suas caracte-
rísticas aos seus descendentes. Antes de
Darwin, acreditava-se que os caracteres
adquiridos por um indivíduo numa gera-
ção poderiam ser herdados, conforme
sugeriu Lamarck. De acordo com a teo-
ria do uso e desuso do Lamarck, se uma
pessoa fosse forte, ela teria um filho forte,
pois a força seria passada com os genes. Ou seja,
INTRODUÇÃO À ECOLOGIA
33
o que não é usado atrofia e o que é usado se desenvolve sendo passado para as
futuras gerações.
Embora as ideias de Lamarck não estivessem corretas, ele foi o primeiro
cientista a trabalhar com a ideia de evolução e, com certeza, teve alguma influ-
ência sobre as ideias de Darwin.
Evolução
34 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
De acordo com Ricklefs (2003), a Ecologia tem muito a contribuir com o
desenvolvimento racional e com o manejo do mundo natural como um sis-
tema sustentável e autorregulador pela aplicação dos seus princípios básicos. No
entanto, a implementação desses princípios demandará ações sociais, políticas e
econômicas coordenadas, e o papel do gestor ambiental na implementação des-
sas ações é fundamental.
Atualmente, o acelerado crescimento humano, a cons-
trução de inúmeras indústrias, o desmatamento, dentre
outros impactos antrópicos, têm causado a perda de
habitats e, consequentemente, perda de diversidade
biológica. Dessa forma, a proteção e a preservação da
biodiversidade são um problema crucial aos tomadores de
decisão, pois a taxa de extinção de certos tipos de espécies, parti-
cularmente aquelas mais vulneráveis à caça, poluição e destruição de
habitat, está provavelmente agora no nível mais alto de todos os tem-
pos da história da terra.
GESTÃO AMBIENTAL
INTRODUÇÃO À ECOLOGIA
35
BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO
Essa ciência surgiu para tratar das sérias ameaças à diversidade biológica, uma
vez que nenhuma das disciplinas tradicionais aplicadas é abrangente o suficiente
(PRIMACK e RODRIGUES, 2001). Ela se difere das outras disciplinas, porque
prioriza a preservação em longo prazo de todas as comunidades biológicas em
detrimento do desenvolvimento econômico (PRIMACK e RODRIGUES, 2001), ou
seja, a proteção das espécies é muito mais importante do que o desenvolvimento
econômico. Um exemplo recente desse tipo de abordagem foi visto nos EUA. Uma
estrada estimada em 15 milhões de dólares foi proibida de ser construída depois
que cientistas encontraram uma aranha rara que tinha sido vista somente duas
vezes em mais de 30 anos (para mais informações, acesse o link: operamundi.
uol.com.br/conteudo/noticias/24254/obra+de+us$+15+milhoes+e+iiinterrom-
pida+por+conta+de+aranha+rara+nos+eua.shtml).
Algumas disciplinas, tais como taxonomia, ecologia (p.e. ecologia de popu-
lações) e genética, constituem a base da biologia da conservação (PRIMACK e
RODRIGUES, 2001). Uma vez que grande parte da crise da biodiversidade tem
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
origem na pressão exercida pelo homem, a biologia da conservação incorpora
ideias e especificidades de várias outras áreas além da biologia (PRIMACK e
RODRIGUES, 2001). Por exemplo:
■■ Legislação e política ambiental: dão sustentação à proteção governamen-
tal de espécies raras e ameaçadas e de habitats em situação crítica.
■■ Ética ambiental: oferece fundamento lógico para a preservação das espécies.
■■ Ciências sociais (tais como antropologia, sociologia e geografia): forne-
cem a percepção de como as pessoas podem ser encorajadas e educadas
para proteger as espécies encontradas em seu ambiente imediato.
■■ Economistas ambientais: analisam o valor econômico da diversidade bio-
lógica para sustentar argumentos em favor da preservação.
■■ Ecólogos e climatologistas de ecossistemas: monitoram as características
físicas e biológicas do meio ambiente e desenvolvem modelos para pre-
ver as respostas ambientais e distúrbios.
Ecótipo
População de uma mesma espécie que apresenta ampla distribuição geográfica,
mas que está fisicamente separada. As variações podem ser de base genética e
INTRODUÇÃO À ECOLOGIA
37
Nicho ecológico
Papel ecológico de uma espécie em uma comunidade ou gama total de condições
sob as quais o organismo ou a população vive e se reproduz, incluindo espaço
físico e funções ecológicas (ACIESP, 1997).
Biótopo
Espaço (área ou volume) ocupado por uma comunidade biológica (ACIESP, 1997).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Habitat
Ambiente que oferece um conjunto de condições favoráveis para desenvol-
vimento, sobrevivência e reprodução de determinados organismos (ACIESP,
1997). Exemplo: tronco caído na floresta habitado por insetos xilófagos, recifes
de coral, ninho de aves.
Bioma
Amplos conjuntos de ecossistemas terrestres e aquáticos (continentais e maríti-
mos) caracterizados por tipo semelhante de vegetação ou de mesma fisionomia
ambiental (ACIESP, 1997). Exemplo: florestas pluviais tropicais, florestas tem-
peradas, savanas, cerrado etc.
Biota
Conjunto de plantas, animais e microrganismos de uma determinada região,
província ou área biogeográfica (ACIESP, 1997).
Biosfera
Conjunto integrado de organismos vivos e seus suportes, compreendendo o
envelope periférico do planeta Terra com a atmosfera circundante, estendendo-se
em altitude e profundidade até onde exista naturalmente qualquer forma de vida
(ACIESP, 1997).
Ambiente
Conjunto de condições que envolvem e sustentam os seres vivos no interior da
biosfera, incluindo clima, solo, recursos hídricos e outros organismos (ACIESP,
1997).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Nesta unidade, foi apresentada a importância da ecologia para os estudos ambien-
tais. Aqui, conhecemos as divisões da ecologia e as abordagens (descritiva,
funcional e evolutiva) utilizadas para responder a suas questões aplicadas. Nós
aprendemos a reconhecer as diferenças entre vários níveis de organização: orga-
nismos (ou indivíduos), populações, comunidades e ecossistemas, observando
diferentes formas de focar esses níveis quando analisados dentro da teoria eco-
lógica. Posteriormente, foi apresentada uma introdução ao estudo de populações
de comunidades e ecossistemas.
Além disso, foram também apresentados os principais fatores do ambiente
que podem ser limitantes para os organismos: luz, temperatura, umidade, pH e
salinidade. Essas condições ambientais, junto com os recursos, foram analisa-
das para entender a distribuição e abundância dos organismos.
Ainda, falamos da importância da evolução nos estudos ecológicos e de
alguns campos de aplicação da ecologia. Nós vimos que, como a Ecologia tem
entre seus objetivos principais o estudo da estrutura e funcionamento da natu-
reza, os conhecimentos advindos dela têm notável aplicação na administração
de recursos naturais, manejo de ecossistemas, manejo de flora e fauna, controle
biológico, controle de poluição, delimitação e implantação de áreas naturais pro-
tegidas, recuperação de áreas degradadas, gestão ambiental, ecoturismo, ecologia
de reservatórios (uso múltiplo de represas), entre outros. Portanto, o estudo da
Ecologia é essencial para que um gestor ambiental consiga contribuir com um
sistema sustentável e autorregulado.
INTRODUÇÃO À ECOLOGIA
39
Meio Ambiente
(Caroline M. Costa)
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
O vídeo mostra que precisamos proteger o meio ambiente para propiciar às futuras gerações um
ambiente de qualidade. Ele enfatiza que devemos dar mais valor ao mundo em que vivemos, e
que precisamos mudar pequenos hábitos para tornar o mundo melhor.
<http://www.youtube.com/watch?v=qMKvDbnqZBw&feature=related>.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Material Complementar
Professor Dr. Rômulo Diego de Lima Behrend
ECOLOGIA DE POPULAÇÕES
II
UNIDADE
E SUA APLICAÇÃO
Objetivos de Aprendizagem
■■ Aprender os índices de densidade para contar os indivíduos e
entender a distribuição e a abundância dos organismos e suas
populações.
■■ Compreender os fatores que influenciam as populações (natalidade,
mortalidade, emigração e imigração).
■■ Conhecer os padrões de distribuição de indivíduos em uma
população.
■■ Entender a influência da estrutura etária sobre os parâmetros
populacionais.
■■ Conhecer a importância das tabelas de vida na interpretação dos
dados populacionais.
■■ Reconhecer os diferentes modelos de crescimento populacional.
■■ Aprender os padrões de sobrevivência e de história de vida dos
organismos.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Índices de densidade
■■ Fatores que influenciam as populações
■■ Padrões de distribuição de indivíduos em uma população
■■ Distribuição etária da população
■■ Tabelas de Vida
■■ Padrões de Sobrevivência
■■ Padrões na história de vida dos organismos
47
INTRODUÇÃO
ÍNDICES DE DENSIDADE
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
número de (ou biomassa) indivíduos por unidade de espaço do habitat (área ou
volume disponível que pode ser colonizado pela população) (ODUM e BARRET,
2007). Ainda, podemos saber se a população está em mudança (aumentando ou
diminuindo). Para isso, usamos os índices de densidade relativa que podem ser
relacionados ao tempo, por exemplo, o número de aves avistadas por hora. Outro
índice útil é a frequência de ocorrência, como a porcentagem dos lotes amos-
trais ocupados pelas espécies (ODUM e BARRET, 2009).
ECOLOGIA DE POPULAÇÕES
49
Esses métodos para medir densidade relativa necessitam ser vistos com cautela
até que eles tenham sido avaliados cuidadosamente (ANDERSON, 2003; KREBS,
2009). Eles são mais úteis como um suplemento a técnicas de censo mais diretas
e para detectar grandes mudanças na densidade da população.
Índices de Densidade
50 UNIDADE II
NATALIDADE
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
nado ou surgido por divisão (ODUM e BARRET, 2009). A natalidade máxima
é a produção máxima teórica de novos indivíduos sob condições ideais, ou seja,
sem fatores limitantes (ODUM e BARRET, 2009). A natalidade ecológica ou
efetiva se refere ao crescimento populacional sob uma condição ambiental de
campo específica ou real (ODUM e BARRET, 2009).
A natalidade é geralmente expressa como uma taxa determinada pela divi-
são do número de novos indivíduos produzidos por uma unidade específica de
tempo (taxa de natalidade bruta ou absoluta) ou dividindo-se o número de novos
indivíduos por unidade de tempo, por unidade de população (taxa de natalidade
específica) (ODUM e BARRET, 2009).
MORTALIDADE
ECOLOGIA DE POPULAÇÕES
51
Uma vez que a mortalidade varia muito com a idade, especialmente em orga-
nismos superiores, mortalidades específicas nos mais diferentes estágios possíveis
da história natural são de grande interesse, porque possibilitam aos ecólogos
determinar as forças sob a mortalidade total e bruta da população (ODUM e
BARRET, 2009). As tabelas de vida, que serão discutidas adiante nessa unidade,
são uma maneira de mostrar como a mortalidade atua sobre uma população.
IMIGRAÇÃO E EMIGRAÇÃO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
As distribuições agrupadas podem resultar da predisposição social em for-
mar grupos, das distribuições agrupadas de recursos e das tendências da prole
em permanecer unida a seus pais. As aves frequentemente viajam em grandes
grupos para gerar segurança por meio da quantidade. As salamandras que vivem
sob troncos apresentam distribuições agrupadas, que correspondem ao padrão
de ocorrência da madeira caída. As árvores formam agrupamentos de indivíduos
via reprodução vegetativa, ou quando suas sementes têm uma distribuição fraca.
Finalmente, na ausência de antagonismo social (homogênea) e atração
mútua (agrupada), os indivíduos podem se distribuir aleatoriamente (randô-
mica), sem qualquer relação com as posições dos outros indivíduos na população
(RICKLEFS, 2003).
ECOLOGIA DE POPULAÇÕES
53
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Em uma distribuição etária, devemos considerar que populações de ciclo
longo podem ser divididas em três períodos ecológicos: pré-reprodutivo, reprodu-
tivo e pós-reprodutivo, sendo que cada um desses períodos tem seu comprimento
determinado pela história de vida do organismo e vai influenciar as taxas de
natalidade e de mortalidade na população (PERONI e HERNANDÉZ, 2011).
No entanto, não é tarefa fácil estimar a idade dos diferentes organismos.
Em geral, para determinar as idades, nós contamos os anéis de crescimento dos
indivíduos, e isso varia de organismo para organismo. Por exemplo, para plantas
(o pinheiro, por exemplo) contamos os
anéis ou mesmo cicatrizes (Figura 04).
Para animais podemos contar os anéis
de crescimento presentes em chifres
(cabras e carneiros), nos otólitos (pei-
xes), ou sobre a carapaça de tartarugas,
as linhas de interrupção de crescimento
de escamas de peixes e os pesos dos den-
tes de elefante. Nos insetos, a largura da
cápsula cefálica permite determinar o
estágio larval. A estimativa da idade do
indivíduo é importante, pois quando se
conhece sua idade é possível determi-
nar certas características das populações.
ECOLOGIA DE POPULAÇÕES
55
TABELAS DE VIDA
nado período (BEGON et al. 2010). Nessa tabela, todos os indivíduos a partir
do nascimento até a morte são acompanhados. Exemplo: espécies que comple-
tam seu ciclo anualmente (plantas da família Poaceae).
Numa segunda abordagem, a tabela de vida estática, acompanhamos, ao
longo do tempo, todos os indivíduos que morrem e nascem em uma popula-
ção, sendo necessário definir claramente a idade de cada um deles (PERONI e
HERNANDÉZ, 2011).
Uma tabela de vida é um sumário da idade específica das taxas de mortalidade
operando em uma coorte de indivíduos. Uma coorte pode incluir a população
inteira, ou pode incluir somente machos, ou somente indivíduos nascidos em
um dado ano. Um exemplo de uma tabela de vida de coorte é dado na tabela 01.
Tabelas de Vida
56
X ax lx dx qx Bx mx R0=Σlx x mx
ECOLOGIA DE POPULAÇÕES
1 500 0.769 90 0.180 0 0 0
9 5 0.023 5 1.000 0 0 0
10 0 0 0 0 0 0 0
Total 1.32
Tabela 01: Tabela de vida de uma espécie fictícia.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
57
A coluna “x” fornece a idade dos indivíduos, desde o nascimento até a morte.
Apenas a coluna ax e a Bx contêm dados coletados em campo, de forma que as
demais derivam da coluna ax.
A coluna ax sumariza os dados coletados no campo por meio do mapea-
mento das posições de 650 fêmeas de uma dada espécie em uma determinada
área. A partir dessa coluna, os valores “lx” são calculados com base no número
de fêmeas que sobrevivem até o intervalo x, através da fórmula lx = ax/a0. Por
exemplo, todos os 650 indivíduos sobrevivem até o início do primeiro ano (x=
0), resultando em um l0 de 100% ou 1.0. Destes indivíduos, 500 sobreviveram
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
até o segundo ano (x= 1), o que resulta em uma sobrevivência (l1) de 76,9% ou
0.769. Podemos definir “lx” como o perfil da sobrevivência, ou a proporção da
coorte original sobrevivente no intervalo de vida considerado.
O cálculo da coluna “dx” é feito por meio da diferença entre ax e ax+1. Portanto,
dx é o número de indivíduos que morrem entre um intervalo de tempo e outro.
A porcentagem de mortalidade também é calculada para cada idade específica
por meio da fórmula qx = ax – ax+1 / ax. Por exemplo, q0= 150/650 = 0,231, q1=
90/500= 0,180, valores estes que representam a proporção de indivíduos com
a mesma idade (1 ano, 2 anos etc.) que morrem no subsequente intervalo de
tempo de 1 ano.
A coluna Bx representa a fecundidade para cada idade específica, que no
nosso exemplo representa o número médio de fêmeas jovens produzidas por
idade individual (classe etária).
A coluna mx representa a taxa de nascimento (mx), definida como a ferti-
lidade individual ou número médio de prole produzida por indivíduo. Cada
valor de mx é calculado pela divisão Bx/ax, e assim temos o número médio de
fêmeas jovens produzidas por fêmeas de uma idade x, dividido pelo número de
indivíduos dessa idade. Esse parâmetro é importante para analisarmos o cres-
cimento de uma população, pois da multiplicação de lxmx (Σlxmx) resulta o R0,
que é a taxa de reprodução líquida da espécie considerada. Portanto, sabendo a
taxa de sobrevivência das classes etárias (lx) e as proporções de quantos indiví-
duos nascem em média por indivíduo (mx), estimamos uma taxa que expressa
a reprodução dessa população ao longo do tempo.
Dessa forma, quando sabemos os valores de R0 podemos então analisar se
Tabelas de Vida
58 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de aumento na população.
PADRÕES DE SOBREVIVÊNCIA
ECOLOGIA DE POPULAÇÕES
59
constante à medida que o indivíduo envelhece. Algumas aves têm uma curva
desse tipo durante a maior parte da vida, mas nos estádios mais vulneráveis de
ovo e ninhego, a curva de mortalidade fica um pouco mais acentuada.
O padrão mais comum é a curva de sobrevivência tipo III. Nesse caso, veri-
fica-se uma elevada mortalidade durante os primeiros tempos de vida, ou seja,
a sobrevivência é muito baixa para as classes etárias jovens, mas muito mais alta
para os indivíduos mais velhos. Isto se aplica, por exemplo, a insetos, peixes,
invertebrados e plantas perenes. Esses organismos podem produzir centenas ou
milhares de ovos, larvas ou sementes, dos quais a maioria acaba por morrer. No
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
entanto, o pequeno número de indivíduos que consegue passar por este estádio
vulnerável atinge uma sobrevivência relativamente mais alta nos anos posteriores.
É importante salientar que algumas espécies podem apresentar mais de
uma curva. Por exemplo, muitas espécies de gramíneas apresentam a curva de
sobrevivência do Tipo III no estádio de plântulas, mas, quando essas plântulas
se desenvolvem e se transformam em plantas adultas, a curva do Tipo II passa
a prevalecer (PERONI e HERNANDÉZ, 2011).
1000 Tipo I
100
Sobrevivência
Tipo II
10
1
Tipo III
0
Idade
Padrões de Sobrevivência
60 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CRESCIMENTO
POPULACIONAL
As populações mostram
distintos padrões de cres-
cimento populacional. Por
exemplo, temos o cresci-
mento em forma de J ou
exponencial, e em forma
de S ou sigmoide de cres-
cimento. No crescimento
exponencial, a densidade da população aumenta rapidamente e então para abrup-
tamente quando a resistência ambiental ou outro fator limitante se torna efetivo
de repente. Esse tipo de crescimento pode ser representado pelo modelo abaixo:
ECOLOGIA DE POPULAÇÕES
61
dN
= rN
dt
dN rN (K–N)
K =
dt K
0
Tempo (t)
Figura 6 - Formas de crescimento populacional: crescimento exponencial (J) e logístico (S).
Fonte: <http://dc403.4shared.com/doc/w6nB-5Hw/preview.html>
CRESCIMENTO EXPONENCIAL
Crescimento Populacional
62 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
igual a 2,717)
CRESCIMENTO LOGÍSTICO
ECOLOGIA DE POPULAÇÕES
63
COMPETIÇÃO INTRAESPECÍFICA
Crescimento Populacional
64 UNIDADE II
ficam longes umas das outras. Isso é um tipo de competição das plantas pelo
suprimento de água.
Esse tipo de competição está diretamente relacionado com a seleção natural,
pois a competição entre indivíduos de uma mesma espécie por um determinado
recurso favorece o mais apto, que por sua vez deixa mais descendentes, e a pro-
porção de seus genes aumenta em uma população ao longo do tempo.
A competição intraespecífica pode manifestar-se de formas muito diversas,
dentre as quais (DAJOZ, 2005, p. 114):
1. O comportamento territorial: que consiste em defender certa superfí-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cie contra as incursões de outros indivíduos da mesma espécie. A defesa
de um território é interpretada como um meio de aumentar as chances
de sobrevivência fragmentando os recursos e poupando-se de uma com-
petição muito grande.
2. A manutenção da hierarquia social: pode ser vista como uma forma de
competição. Nos insetos, as larvas de besouro com três anos de idade ata-
cam as larvas mais jovens e impedem seu desenvolvimento.
3. A competição intraespecífica pela alimentação: aumenta com a densi-
dade populacional, e sua consequência mais comum é a redução da taxa
de crescimento das populações.
POTENCIAL BIÓTICO
ECOLOGIA DE POPULAÇÕES
65
Na natureza, existem alguns padrões na história de vida dos organismos. Por exem-
plo, existem algumas espécies que produzem milhares de descendentes pequenos,
enquanto outras produzem poucos descendentes maiores. No primeiro caso, o
potencial de uma espécie de se multiplicar rapidamente é favorecido pela seleção
natural em ambientes efêmeros, capacitando também os organismos a coloni-
zar novos habitats rapidamente e explorar novos recursos. Tais espécies têm sido
chamadas r estrategistas. No segundo caso, em habitats com intensa competição
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, nós aprendemos que para tentar descrever e explicar a distri-
buição e abundância dos organismos, nós precisamos conhecer os processos
que modificam o tamanho populacional, tais como: natalidade, mortalidade e
migração (emigração e imigração). Também conhecemos a estrutura etária da
população e os métodos de estimativa de tamanhos populacionais mais comuns.
Vimos que as tabelas de vida podem ser instrumentos úteis na identificação de
ganhos e perdas de uma população. Uma tabela de vida de coorte acompanha
a sobrevivência de um grupo de indivíduos de uma única coorte. Quando não
podemos fazer isso, é possível construir uma tabela de vida estática, porém com
algumas ressalvas.
Também foram apresentados os três tipos de curvas de sobrevivência for-
madas a partir dos desdobramentos das tabelas de vida. A curva do “Tipo I”,
que descreve a situação na qual a mortalidade é concentrada no final do ciclo de
vida. A curva do “Tipo II”, em que a probabilidade de morte permanece cons-
tante com a idade, conduzindo a sobrevivência a um declínio linear. Por fim, a
curva do “Tipo III”, em que há uma queda drástica na sobrevivência nos pri-
meiros intervalos de idade ou, por outro lado, uma alta mortalidade no início.
Nós também estudamos dois modelos de crescimento populacional. No
modelo de crescimento exponencial, lidamos com uma única população, em um
ambiente simples, isolado. Nesse modelo, assumimos que o estudo de crescimento
é independente de densidade, ou seja, consideramos que os processos popula-
cionais não são afetados pela densidade (ou tamanho) corrente da população.
ECOLOGIA DE POPULAÇÕES
67
Foi estudado também o modelo de crescimento logístico. Neste caso, foi anali-
sado como se dá o comportamento do crescimento quando incluído um fator de
dependência de densidade. Aprendemos também o que é o potencial biótico da
população. Por fim, conhecemos os padrões de história de vida dos organismos.
É interessante enfatizar que, quando estudamos populações, estamos que-
rendo entender quais processos podem determinar os padrões de distribuição
e abundância que, em última análise, podem ajudar a entender como e por que
as populações de uma determinada espécie se modificaram ao longo do tempo
e do espaço. Estamos interessados também em analisar as mudanças numéricas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Considerações Finais
METADE DAS ESPÉCIES DA TERRA PODERÁ SER EXTINTA EM 2100
Se o ser humano não diminuir o ritmo de degradação ambiental, é provável que enfren-
taremos a sexta extinção em massa da história do planeta. Um estudo recente publicado
na revista científica “Science” chegou à conclusão que as espécies existentes no mundo
hoje estão desaparecendo em uma velocidade mil vezes maior que o ritmo natural de
extinção.
É possível que em 2100, entre um terço e metade de todas as espécies da Terra poderá
ser extinto. Diante dessa informação alarmante, está havendo um aumento nos esfor-
ços para proteger espécies, e os governos, cientistas e organizações sem fins lucrativos
estão tentando construir uma versão moderna da “Arca de Noé”, ou seja, a criação de
uma série de medidas, incluindo migração assistida, bancos de sementes, novas reser-
vas ecológicas e corredores de deslocamento baseados nos possíveis lugares para onde
as espécies irão migrar diante das mudanças climáticas e da expansão humana.
As questões envolvidas nesse processo são bastante complexas e causam grandes dúvi-
das aos cientistas. Por exemplo:
Que espécies devem ser salvas:
(i) as mais ameaçadas?
(ii) as que tem mais chances de sobreviver?
(iii) animais carismáticos como leões e ursos?
(iv) as espécies mais úteis para nós?
Embora a abordagem tradicional para proteger espécies seja adquirir terras e criar uni-
dades de conservação, a preservação do habitat correto das espécies pode ser uma me-
dida desejável, pois não se sabe como as espécies reagirão a um clima diferente.
Fonte: Robbins (online)
69
Esse vídeo mostra a preocupação de uma criança com o futuro do planeta, dado o grande
número de impactos ambientais que o ser humano acarreta. Essa criança representou todas as
crianças do mundo na ECO-92, no Rio de Janeiro. A ECO-92 tinha como objetivo principal buscar
meios de conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a conservação e proteção dos
ecossistemas da Terra.
<http://www.youtube.com/watch?v=J0qM8oFeFY0&feature=related>.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Livro: Ecologia
Autor: Nicholas J. Gotelli
Editora: Planta
Sinopse: “Ecologia” é a tradução da terceira edição de
A Primer of Ecology de Nicholas Gotelli. Ele apresenta
uma exposição concisa, porém detalhada dos modelos
matemáticos mais frequentes em ecologia de populações e
comunidades. Ele visa desmistificar os modelos ecológicos
e a matemática subjacente a eles, deduzindo os modelos
a partir dos princípios básicos. Este livro pode ser usado
como um tutorial para aprendizado autônomo, ou como
um livro-texto, ou ainda em complemento a outros livros-
texto. Ecologia explica em detalhe os conceitos básicos
do crescimento populacional exponencial e logístico,
demografia, dinâmica de metapopulações, competição,
predação, biogeografia de ilhas, e em um capítulo novo,
sucessão. Cada capítulo é cuidadosamente organizado desde o material simples, próprio para
o início da graduação, adequado para os últimos anos da graduação, e pós. Tópicos avançados
incluem estocasticidade ambiental e demográfica, crescimento populacional discreto e caos,
demografia, predação intraguilda, isoclinas predador-presa e amostragem passiva. Cada capítulo
segue a mesma estrutura, apresentação do modelo e predições, premissas do modelo, variações
do modelo, exemplos empíricos e problemas. As equações essenciais são marcadas para uso dos
estudantes. Etapas intermediárias são também apresentadas, para que se possa conhecer sua
origem. Termos novos são introduzidos em negrito, para chamar atenção para novos conceitos.
Ecologia contém mais detalhes matemáticos que qualquer outro livro-texto, mas evita o jargão
e terminologia matemáticos, que intimidaria os estudantes. Problemas simples e complexos são
apresentados. A solução deles é oferecida gratuitamente neste site, de maneira que os estudantes
possam ganhar confiança e uma melhor compreensão dos modelos.
Professor Dr. Rômulo Diego de Lima Behrend
III
ECOLOGIA DE
UNIDADE
COMUNIDADES E SUA
APLICAÇÃO
Objetivos de Aprendizagem
■■ Conhecer as diferentes relações interespecíficas e o papel delas na
estruturação das comunidades ecológicas.
■■ Compreender os componentes estruturais das comunidades e sua
aplicabilidade na gestão ambiental.
■■ Aprender a importância da ecologia no controle de pragas animais e
vegetais
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Relações interespecíficas
■■ Componentes estruturais de comunidades
■■ Conservação de áreas naturais protegidas
■■ Controle biológico de pragas animais e vegetais
75
INTRODUÇÃO
Introdução
76 UNIDADE III
RELAÇÕES INTERESPECÍFICAS
Todos os lugares existentes na Terra (rios, lagos, florestas, vulcões) são compar-
tilhados por muitos organismos coexistentes. Esses animais, plantas e micróbios
estão conectados uns aos outros por suas relações de alimentação e outras intera-
ções, formando todo um complexo frequentemente denominado de comunidade
biológica. As inter-relações dentro das comunidades governam o fluxo de ener-
gia e a reciclagem de alimentos dentro do ecossistema. Eles também influenciam
os processos populacionais e, consequentemente, determinam as abundâncias
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
relativas das espécies. Os membros de uma comunidade devem ser compatíveis,
no sentido de que os resultados de todas as suas interações permitem a sobrevi-
vência e reprodução da comunidade.
As relações ecológicas interespecíficas são relações que ocorrem entre indi-
víduos de espécies diferentes. Essas podem ser harmônicas (ou positivas) quando
há benefício para pelo menos uma das espécies; ou desarmônicas quando há pre-
juízo para uma ou ambas as espécies. Se considerarmos um par de duas espécies
A e B, é possível definir vários tipos de interações, dentre os quais, competição,
predação, amensalismo, comensalismo, cooperação e mutualismo.
COMPETIÇÃO
PREDAÇÃO
Relações Interespecíficas
78 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
-versa, ou seja, a camuflagem pode ser útil tanto ao predador, quando deseja
atacar uma presa sem que esta o veja, ou para a
presa, que pode se esconder mais facilmente de
seu predador. Alguns animais podem ter a capa-
cidade de se camuflarem com o meio em
que vivem para tirar alguma vantagem.
O mimetismo é semelhante à camu-
flagem, mas os animais que praticam o
mimetismo tentam se parecer com outros ani-
mais, em vez de parecerem com o meio.
AMENSALISMO
Relações Interespecíficas
80 UNIDADE III
COMENSALISMO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
pelagem de um animal, facilitando seu processo de dispersão.
COOPERAÇÃO
MUTUALISMO
É uma interação da qual os dois parceiros tiram vantagem, seja pela proteção,
aporte de alimento, polinização, dispersão etc. A associação obrigatória entre
duas espécies é uma forma de mutualismo a qual geralmente se dá o nome de
simbiose (DAJOZ, 2005, p. 129). O termo mutualismo é reservado ao caso em
que os dois parceiros podem ter uma vida independente.
Dentre os vários exemplos de mutualismo, temos os liquens, que são forma-
dos pela associação de uma alga e de um fungo, em que a alga realiza fotossíntese
e produz matéria orgânica e o fungo absorve água e nutrientes; e os cupins e
Floresta
500
Várzea
Números de indivíduos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
400
300
200
100
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Espécies
Figura 07: Distribuição de abundância das espécies de libélulas no Parque municipal do Lago do Peri em
duas áreas (Morro e Lagoa).
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são menores e mais isoladas.
Os gradientes de profundidade em ambientes aquáticos apresentam um
decréscimo na quantidade de espécies à medida que aumenta profundidade do
corpo d`água. Esse padrão pode ser explicado pelo fato de que, em ambientes
profundos, o ambiente é frio, escuro (pouca ou nenhuma fotossíntese) e pobre
em oxigênio.
Com relação aos fatores bióticos que podem influenciar na quantidade de
espécies em um determinado local, estão o aumento da quantidade de recursos,
a maior sobreposição de nichos, ou a exploração mais completa dos recursos.
Além disso, a heterogeneidade espacial gerada pelos próprios organismos tam-
bém podem afetar a riqueza de espécies. Nesse caso, ambientes mais heterogêneos
contêm mais espécies, uma vez que proporcionam maior variedade de microha-
bitats, mais refúgios contra predadores, mais alimento etc. Dessa forma, quanto
mais heterogêneo for o ambiente, maior será a quantidade de recursos distribu-
ídos em um mosaico de habitats.
Outro fator que deve ser levado em conta quando observamos o número
de espécies em um determinado local é a relação entre a riqueza e o tamanho
da área. É notório que o número de espécies existentes em uma ilha diminui à
medida que a área disponível diminui. A ideia dessa relação entre riqueza de
espécies e área é muito importante, pois está diretamente relacionada à qual o
tamanho das áreas que precisamos manter para a conservação da biodiversi-
dade, como áreas de proteção e Unidades de Conservação.
Atualmente, essas áreas de proteção são extremamente importantes para a
conservação de espécies, pois a taxa de extinção de espécies é muito maior que
NICHO ECOLÓGICO
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CONTROLE BIOLÓGICO DE PRAGAS ANIMAIS E
VEGETAIS
As pragas animais são organismos que competem com os humanos por abrigo e
alimento, transmitem patógenos, atacam ou alimentam-se de rebanhos e planta-
ções, e ameaçam a saúde, o conforto e o bem-estar humanos. Os surtos de pragas
acontecem repetidamente e, para controlá-lo, o ser humano tem a necessidade
de aplicar defensivos agrícolas. Entretanto, o uso de agrotóxicos causam muitos
impactos ao meio ambiente, contaminando alimentos, ar, água e terra.
Com o intuito de causar menos impactos ao meio ambiente e ao mesmo
tempo controlar as pragas, tanto animais quanto vegetais, podemos utilizar o
controle biológico de pragas. O controle biológico de pragas envolve a mani-
pulação dos inimigos naturais das pragas (controle biológico) para controlá-la.
De acordo com Santos (2006), há quatro tipos de controle:
1. Introdução de inimigos naturais das pragas (nesse caso, praga exótica),
geralmente importados da região de origem, que podem agir como pre-
dadores, parasitoides ou patógenos.
2. Aumento da população de inimigos naturais nativos da mesma localidade
da praga para suplementar a população original de inimigos.
3. Inoculação periódica de inimigos naturais, quando este não persiste.
4. Produção massal e inundação de uma área com o objetivo de extermi-
nar as pragas em tempo breve.
Um exemplo de controle biológico de praga ocorre com a cochonilha (Antonina
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com essa lei, as unidades de conservação destinam-se à proteção da biodiversi-
dade dos ecossistemas, sendo assim definidas:
Espaço territorial delimitado e seus componentes, incluindo as águas
juridicionais, com características naturais relevantes, legalmente ins-
tituído pelo Poder Público para a proteção da natureza, com objetivos
e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se
aplicam garantias adequadas de proteção (BRASIL, 2000).
11. Fomentar o uso racional dos recursos naturais por meio de áreas de uso
múltiplo.
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dução de espécimes, bem como modificação do meio ambiente a qualquer título,
ressalvadas as atividades científicas devidamente autorizadas.
Estação Ecológica são unidades de conservação que se destinam à preser-
vação integral da biota e demais atributos naturais nelas existentes, permitida a
alteração de até 3% da totalidade da área, até o limite de 1.500 ha, para fins de
pesquisa científica.
São áreas representativas de ecossistemas destinadas à realização de pesquisas
básicas e aplicadas em Ecologia, à proteção do ambiente natural e ao desenvol-
vimento da educação conservacionista.
Parque Nacional, Estadual e Municipal são unidades de conservação que se
destinam à preservação integral de áreas naturais inalteradas pela ação humana
ou que conservem a maioria de suas características naturais, de relevante inte-
resse cênico, científico, cultural, educativo e recreativo. Devem ser preservadas a
flora, fauna, geomorfologia e a paisagem, sendo vedadas modificações ambien-
tais e interferência humana direta.
Compreende áreas geográficas extensas e delimitadas, dotadas de atributos
naturais excepcionais, objeto de preservação permanente, inalienáveis e indis-
poníveis para outros fins.
Refúgios de Vida Silvestre são unidades de conservação que se destinam
a assegurar condições para a existência ou reprodução de espécies ou comu-
nidades da flora local, bem como da fauna residente ou migratória. Pode ser
constituído por áreas particulares, compatível aos objetivos de uso da terra e
dos recursos naturais dos proprietários. A visitação pública e a pesquisa cientí-
fica podem ser autorizadas.
4. Reserva de fauna.
5. Área de relevante interesse ecológico.
6. Reserva particular de patrimônio natural.
7. Reserva de desenvolvimento sustentável.
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de áreas de reprodução, alimentação, dessedentação, abrigo e repouso de fauna
local ou itinerante.
Área de Relevante Interesse Ecológico são áreas que possuem caracterís-
ticas naturais extraordinárias ou abrigam exemplares raros da biota regional,
exigindo cuidados especiais de proteção. O uso dessas áreas depende de autori-
zação e controle dos órgãos de gerenciamento do meio ambiente.
Reserva Particular do Patrimônio Natural são áreas de alto interesse eco-
lógico, pela sua biodiversidade, que o poder público delega a pessoas físicas ou
jurídicas com a incumbência de manter e administrar. São admitidas atividades
de cunho científico, cultural, educacional, recreativo e de lazer. Pessoas físicas
podem cadastrar propriedades que mantêm áreas naturais, obtendo isenção
de imposto territorial rural e favorecendo o município com créditos de ICMS
ecológico.
A Reserva de Desenvolvimento Sustentável é uma área natural que abriga
populações tradicionais, cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de
exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adapta-
dos às condições ecológicas locais e que desempenham um papel fundamental
na proteção da natureza e na manutenção da diversidade biológica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
94 UNIDADE III
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Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
IV
ECOLOGIA DE
UNIDADE
ECOSSISTEMAS E SUA
APLICAÇÃO
Objetivos de Aprendizagem
■■ Entender o funcionamento do ecossistema por meio do fluxo de
energia e matéria.
■■ Conhecer os ciclos biogeoquímicos para poder entender a influência
dos impactos humanos sobre o ecossistema.
■■ Compreender a sucessão ecológica e os meios de recuperação de
áreas degradadas.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ O fluxo de energia e matéria dos ecossistemas
■■ Sucessão ecológica
■■ A restauração dos ecossistemas
101
INTRODUÇÃO
Introdução
102 UNIDADE IV
Com relação aos fatores químicos, pode-se dizer que a presença ou ausência
de um determinado elemento na água ou no solo é decisiva para manutenção
da vida em um dado ambiente. Por exemplo, a presença do mineral fósforo em
um dado ambiente é muito importante, pois esse elemento participa de proces-
sos fundamentais do metabolismo dos seres vivos, tais como: armazenamento de
energia (ATP) e estruturação da membrana celular (fosfolipídios). Esse mineral
é encontrado na forma de fosfato em alguns tipos de rochas. Outros elementos
como o cálcio, o boro, o carbono, o nitrogênio e o oxigênio, também são essen-
ciais para a manutenção da vida, tanto animal quanto vegetal. Uma característica
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fundamental dos fatores químicos é que eles ficam presentes no meio ambiente
em uma forma cíclica, ou seja, eles são absorvidos por alguns organismos e,
depois, liberados para o meio para utilização de outros.
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O FUNCIONAMENTO DOS ECOSSISTEMAS: A PRODUTIVIDADE
Todo ser vivo necessita de energia para: i) assegurar os gastos com o metabolismo
básico; ii) permitir deslocamentos para procura de alimentos, fuga de predado-
res ou outros gastos de manutenção; iii) assegurar a formação de tecidos novos;
e iv) para garantir a produção de elementos necessários à reprodução e à cons-
tituição de reservas.
No caso de produtores (os vegetais clorofilianos), a energia provém da radia-
ção solar. Os herbívoros obtêm a energia das plantas e os carnívoros de suas
presas. O fluxo de energia que atravessa um nível trófico corresponde à totali-
dade da energia assimilada nesse nível. No caso dos produtores, o fluxo de energia
que atravessa seu nível trófico é: Produtividade Bruta = Produtividade Líquida
+ Respiração. Uma parte da produtividade primária líquida serve de alimento
aos herbívoros, que absorvem uma quantidade de energia I1. Outra parte da
produtividade primária líquida não é utilizada, e fica na biomassa dos vegetais
vivos antes de se tornar presa de bactérias e de outros decompositores. A quan-
tidade de energia (I1) corresponde ao que é realmente utilizado (A1) mais o que
não é utilizado e é rejeitado sob a forma de fezes e de dejetos diversos (NA1). A
fração assimilada de A1 corresponde, de um lado, à produtividade secundária
(PS1) e, de outro, aos gastos respiratórios R2, e, consequentemente, PS1= A1 - R2.
O fluxo de energia que atravessa o nível trófico dos herbívoros é A1=PS1 + R2.
Um raciocínio análogo pode ser feito para os níveis tróficos correspondentes aos
energia absorvida para a manutenção das suas atividades vitais, tais como divi-
são celular, movimento, reprodução etc.
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comem aqueles que os precedem na cadeia antes de ser comidos pelos que os
sucedem. As cadeias alimentares que começam com vegetais que são devora-
dos por animais herbívoros são chamadas de sistema herbívoro. Já as cadeias que
começam com a matéria orgânica morta (animal ou vegetal), sendo consumida
por detritívoros, são denominadas sistema saprófago ou detritívoro.
Os vegetais clorofilianos autótrofos são os produtores capazes de fabricar
matéria orgânica a partir da energia luminosa e, assim, de acumular energia sob
a forma de energia química.
6CO2 + 6H20 + LUZ→ C6H12O6 + 6O2
No sistema herbívoro, os herbívoros ou consumidores de primeira ordem
subsistem às expensas de vegetais. Os carnívoros ou predadores, ou consumidores
de segunda ordem, subsistem à custa de herbívoros. Há ainda os consumidores
de terceira ordem, que se alimentam dos de segunda ordem e assim por diante.
Em geral, as cadeias alimentares contêm em torno de cinco ou seis níveis.
Os organismos pertencem a um mesmo nível trófico quando, em uma cadeia
alimentar, são separados dos vegetais autótrofos pelo mesmo número de elos. Os
vegetais autótrofos constituem por definição o primeiro nível trófico. É preciso ter
em mente o caráter simplificador da noção de nível trófico. Um mesmo animal
pode pertencer a vários níveis tróficos diferentes. É o caso de espécies onívoras
que consomem, ao mesmo tempo, vegetais e animais, ou de certos predadores
que atacam presas variadas. Por exemplo, os louva-a-deus são predadores que
podem consumir os Acridianos (ortópteros herbívoros pertencentes ao segundo
nível trófico) ou os Tetigonídeos (ortópteros carnívoros pertencentes ao terceiro
nível trófico). No primeiro caso, os louva-a-deus fazem parte do terceiro nível
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PIRÂMIDES ECOLÓGICAS
20 Consumidores
aves Secundários
300 Consumidores
gafanhotos Primários
2
Biomassa (g/m )
Consumidores
10
Terciários
Consumidores
100
Secundários
Consumidores
1000 Primários
Produtores
10000
CICLOS BIOGEOQUÍMICOS
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mento e a estocagem de seus materiais afetam todos os processos físicos, químicos
e biológicos. Infelizmente, os impactos causados pelo homem têm alterado os
ciclos biogeoquímicos, em geral, pela acentuada queima de combustíveis fósseis.
Dessa forma, os estudos desses ciclos se tornam cada vez mais importantes para
entendermos os efeitos desses impactos sobre o meio ambiente e os seres vivos.
Nesse capítulo, nós trataremos com mais detalhes dos ciclos da água, do
nitrogênio, do fósforo, do enxofre e do carbono.
CICLO DA ÁGUA
bém retorna aos oceanos, por meio da rede hidrográfica (escoamento superficial
e indiretamente através do escoamento subterrâneo).
Além da evaporação e da precipitação, outros elementos que podem assumir
grande importância no ciclo hidrológico são a evapotranspiração, a infiltração,
e o escoamento superficial e subterrâneo.
O ciclo hidrológico tem sofrido grandes alterações nas últimas décadas em
decorrência das diferentes formas de interferência humana sobre o ambiente. Por
exemplo: a construção de grandes cidades, devastação de florestas e construção
de grandes lagos artificiais (reservatórios). É impressionante como o desmata-
mento em larga escala ao redor do mundo, geralmente praticado para expandir a
fronteira agrícola, pode determinar a perda de solo, empobrecimento de nutrien-
tes e acentuar a gravidade das enchentes.
A água é um bem muito valioso e, atualmente, tem estado no foco de grandes
debates. Por exemplo, recentemente a região sudeste do Brasil vem enfrentando
um grave problema de racionamento de água devido a falta de chuvas.
Ciclos Biogeoquímicos
112 UNIDADE IV
CICLO DO NITROGÊNIO
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orgânico e inorgânico de origem alóctone (terrestre) e a fixação de nitrogênio
molecular. Dentre as diferentes formas, o nitrato e o amônio assumem grande
importância nos ecossistemas aquáticos, uma vez que representam as principais
fontes de nitrogênio para os produtores primários.
No ciclo do nitrogênio, a fase atmosférica é amplamente considerada como
predominante, na qual a fixação desse elemento e a desnitrificação (liberação
do nitrogênio para o meio) por organismos microbianos são especialmente
importantes.
Em nenhum ciclo biogeoquímico, os microrganismos têm tanta participação
quanto no ciclo do nitrogênio. Neste ciclo, podemos encontrar representantes de
praticamente todos os grupos fisiológicos (autotróficos, heterotróficos, aeróbios,
anaeróbios etc.), que tomam parte, por exemplo, na amonificação e na nitrificação.
AMONIFICAÇÃO
NITRIFICAÇÃO
gêneros de bactérias:
Nitrosomonas – que oxidam amônio a nitrito:
NH4+ +1 ½ O2 → 2H+ + H2O e
Nitrobacter – que oxidam o nitrito a nitrato:
NO2- + ½ O2 → NO3-
A nitrificação é um processo predominantemente aeróbio e, como tal, ocorre
somente nas regiões onde há oxigênio dissolvido disponível.
CICLO DO FÓSFORO
Ciclos Biogeoquímicos
114 UNIDADE IV
cada percurso, ele é absorvido por organismos que habitam a superfície antes
de ser novamente fixado nas profundezas. Em média, na sua centésima descida
(após 10 milhões de anos no oceano), ele deixa de ser liberado como fósforo
solúvel, passando a fazer parte do sedimento sob forma particulada. Talvez nos
próximos 100 milhões de anos o fundo oceânico se eleve por atividade geológica,
tornando-se terra seca. Desse modo, o átomo de fósforo encontrará, por fim, seu
caminho de volta para o mar por meio de algum rio, e para a sua existência de
ciclo (absorção biótica e decomposição) dentro de outro ciclo (mistura oceânica)
dentro de outro ciclo (soerguimento continental e erosão) (BEGON et al. 2010).
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Além das fontes naturais de fósforo, temos também as fontes artificiais. Dentre
elas, as mais importantes são: esgotos domésticos e industriais, fertilizantes agrí-
colas e material particulado de origem industrial contido na atmosfera. Em muitas
regiões, notadamente nas regiões industrializadas e com elevada densidade popu-
lacional, as fontes artificiais de fosfato são mais importantes do que as naturais.
Assim como nos demais ciclos biogeoquímicos, também no ciclo do fósforo
as bactérias têm um papel fundamental, pois são responsáveis pela decomposi-
ção da matéria orgânica. Neste processo, ocorre liberação de fosfato para o meio
sob a forma inorgânica.
CICLO DO ENXOFRE
sulfato dissolvido) é absorvida por plantas, passa por cadeias alimentares e tor-
na-se novamente disponível para as plantas à medida que a decomposição de
alguns animais e vegetais acontece.
As fontes de enxofre para os ambientes aquáticos são principalmente três:
decomposição de rochas, chuvas (lavagem da atmosfera) e agricultura (através
da aplicação de adubos contendo enxofre).
A concentração de enxofre em lagos tem aumentado consideravelmente nos
últimos anos devido ao transporte de gases e material particulado na atmosfera
contendo enxofre e a sua posterior precipitação com as chuvas.
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CICLO DO CARBONO
Ciclos Biogeoquímicos
116 UNIDADE IV
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IMPACTOS HUMANOS SOBRE CICLOS BIOGEOQUÍMICOS
SUCESSÃO ECOLÓGICA
Sucessão Ecológica
118 UNIDADE IV
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Há outros exemplos de sucessão, além da vegetação, dentre os quais a suces-
são de insetos. Essa sucessão trata-se geralmente de sucessões destruidoras, como
as que colonizam os cadáveres de mamíferos, e compreendem, em geral, sete
estágios (DAJOZ, 2005, p. 331):
1. Moscas pertencentes aos gêneros Musca, Calliphora e Cytoneura ovopo-
sitam na pele do cadáver; suas larvam entram em ninfose ao final de
uma semana.
2. Outras moscas pertencentes aos gêneros Lucilia e Sarcophaga estabelecem-
se, por sua vez, quando o cadáver começa a exalar um odor amoniacal.
3. Coleópteros do gênero Dermestes e Lepidópteros do gênero Aglossa, cujas
larvas se alimentam de gorduras, estabelecem-se.
4. Seguem-se outros Coleópteros do gênero Necrobia e moscas do gênero
Piophila, ambos são atraídos pela fermentação amoniacal das proteínas
do cadáver.
5. O estágio seguinte compreende moscas como Ophrys, Phora, Lonchaea,
Tyreophora, e Coleópteros, como os Hister, Saprinus, Silpha e Necrophora.
6. Quando o cadáver é mumificado, Acarinos, como Tyroglyphus e UropodaI,
tornam-se abundantes. Coleópteros, como Attagenus e Anthrenus, surgem.
7. Finalmente, os últimos resquícios aderentes aos ossos são atacados por
Coleópteros Ptinus e Tenebrio. O conhecimento preciso dessas sucessões
permite determinar, em medicina legal, a data provável da morte quando
da descoberta do cadáver.
Sucessão Ecológica
120 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
8. As relações interespecíficas evoluem com a sucessão. Os mecanismos de
regulação independentes da densidade (fatores físicos e químicos) dão
lugar a mecanismos dependentes da densidade (interações bióticas). A
simbiose e a competição tornam-se mais frequentes nos estágios próxi-
mos do clímax.
9. Em geral, o clima é instável e imprevisível nos ambientes ocupados por
estágios pioneiros; enquanto é estável e previsível nos ambientes climá-
cicos.
ESTÁGIOS CLIMÁCICOS
CARACTERÍSTICAS DO ESTÁGIOS PIONEIROS E
OU PRÓXIMOS DO
ECOSSISTEMA TRANSITÓRIOS
CLÍMAX
Razão Produção bruta/
Maior que 1 Tende a 1
Biomassa
Produção líquida
Elevada Baixa
comunidade
Respiração da
Baixa Elevada
comunidade (R)
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Dependente da den-
Mecanismo de regulação Independente da densidade
sidade
Complexidade do ecos-
Fraca Forte
sistema
Estabilidade remanescen-
Fraca Forte
te (Resistência)
Tabela 02: Generalizações da sucessão ecológica
Fonte: DAJOZ (2005, p. 333)
Sucessão Ecológica
122 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
conhecimento das regras que regem as sucessões é útil quando se pretende res-
taurar locais impactados por atividades de mineração, por antigas pedreiras,
pois ele permite determinar quais são as espécies vegetais a serem plantadas,
em primeiro lugar, para chegar o mais seguro e rapidamente possível ao estágio
desejado (LUKEN, 1990; DAJOZ, 2005).
Independente dos impactos antrópicos, a sucessão ecológica pode atuar
também no processo curativo quando uma paisagem é devastada por eventos
estocásticos, tais como tempestades, incêndios ou outras catástrofes periódicas.
Contudo, quando as paisagens são muito mal-
tratadas por longos períodos (erosão, salinação,
remoção de toda a vegetação, contaminação
por resíduos tóxicos etc.), a terra ou a água tor-
nam-se tão empobrecidas que a sucessão não
pode ocorrer mesmo depois de interrompi-
dos os maus tratos. Esses lugares representam
uma nova classe de ambiente que irá permane-
cer indefinidamente estéril, a menos que sejam
feitos esforços efetivos para restaurá-lo.
Atualmente, uma área de pesquisa que tem
se desenvolvida o muito com o intuito de recu-
perar ecossistemas é a Ecologia de restauração.
A ecologia de restauração aplica a teoria ecoló-
gica envolvida nas sucessões ecológicas para a
restauração de locais, ecossistemas e paisagens
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
pode também exigir a reintrodução intencional de espécies nativas que foram
perdidas e a eliminação ou controle de espécies exóticas prejudiciais ao limite
máximo que for praticamente possível.
A restauração ecológica compromete terra e recursos por prazo longo e inde-
terminado e por isso exige cautela. Quando a decisão de restaurar um ecossistema
é tomada, o projeto exige, além de um planejamento cuidadoso e sistemático, o
monitoramento da recuperação do ecossistema.
Um ecossistema é consi-
derado restaurado quando
conta com recursos bióticos
suficientes para continuar
seu desenvolvimento sem
mais assistência ou subsí-
dio. Isto é, ele irá sustentar-se
sozinho estrutural e funcio-
nalmente. Ele irá mostrar
resiliência (capacidade de
suportar perturbações e
voltar ao estágio original) às
faixas normais de variação
Existem alguns outros atributos que ganham relevância e deverão ser adicionados
a essa lista se eles forem identificados como metas para projetos de restauração.
Um deles é que o ecossistema restaurado provenha habitat para espécies raras ou
para proteger um conjunto gênico diverso de espécies selecionadas, e um outro
é que o ecossistema restaurado ofereça serviços estéticos ou a acomodação de
atividades de consequência social, tais como o fortalecimento da comunidade
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
por meio da participação de pessoas em projetos de restauração (SER, 2004).
ECOSSISTEMAS DE REFERÊNCIA
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
A escola é responsável
Pela educação ambiental
Juntamente com os pais,
E a sociedade em geral
Se todos nós nos unirmos
Teremos um futuro legal.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
V
SOLO – CARACTERÍSTICAS FÍSICAS,
UNIDADE
QUÍMICAS E BIOLÓGICAS
– O SOLO COMO UM COMPLEXO DE
FATORES ECOLÓGICOS
Objetivos de Aprendizagem
■■ Reconhecer as fases e perfis do solo.
■■ Compreender as características físicas e químicas do solo para
entender quais as variáveis que influenciam o desenvolvimento de
diferentes organismos.
■■ Entender o papel dos organismos no solo.
■■ Conhecer os impactos causados pela erosão sobre o solo.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Tipos de Rochas
■■ Fases do solo
■■ Perfil do solo
■■ Características físicas do solo
■■ Características químicas do solo
■■ Como retirar as amostras do solo para análise?
■■ O solo como complexo de fatores ecológicos
■■ Organismos do solo
■■ Erosão e degradação do solo
137
INTRODUÇÃO
Introdução
138 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
um pouco mais da estrutura e propriedades das rochas.
TIPOS DE
ROCHAS
FASES DO SOLO
Fases do Solo
140 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
solo, dentro do sistema solo, disputa o mesmo espaço com a solução do solo.
PERFIL DO SOLO
Como dito anteriormente, os solos minerais são constituídos por uma mistura
de partículas sólidas de natureza mineral e orgânica, ar e água, formando um
sistema trifásico: sólido, líquido e gasoso. As partículas da fase sólida variam
grandemente em tamanho, forma e composição química, e a sua combinação
nas várias configurações possíveis forma a chamada matriz do solo.
A física de solos estuda e define, qualitativa e quantitativamente, as pro-
priedades físicas, bem como sua medição, predição e controle, com o objetivo
principal de entender os mecanismos que governam a funcionalidade dos solos e
seu papel na biosfera (REINERT; REICHERT, 2006). Precisamos entender a física
do solo para manejá-lo adequadamente, ou seja, orientar irrigação, drenagem,
preparo e conservação do solo e água. Um solo é considerado fisicamente ideal
para o crescimento de plantas quando apresenta boa retenção de água, bom are-
jamento, bom suprimento de calor e pouca resistência ao crescimento radicular.
Dentre algumas caraterísticas físicas importantes do solo, estão a textura do
solo, estrutura do solo e porosidade do solo.
TEXTURA DO SOLO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Argila – menor do que0,002 mm ou 2 µm
Portanto, seguindo essa classificação, o total de partículas de um solo é igual
ao somatório da proporção de areia, silte e argila, de maneira que um solo pode
ter de 0 a 100% de areia, de silte e de argila. A textura é diretamente avaliada no
campo ou no laboratório. No campo, a estimativa é baseada na sensação ao tato
ao manusear uma amostra de solo, de maneira que a areia propicia sensação de
aspereza, o silte maciez e a argila maciez e plasticidade e pegajosidade quando
molhada. No laboratório, a amostra de solo é colocada em meio aquoso e, por
peneiramento e sedimentação, se determina exatamente a proporção de areia,
argila e, por diferença, a de silte.
ESTRUTURA DO SOLO
POROSIDADE DO SOLO
ACIDEZ DO SOLO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
segue o mesmo princípio dos elementos nutrientes, ou seja, há uma pequena
quantidade de H+ na solução e, quando estes são consumidos, a fase sólida os
repõe, manifestando o poder tampão do solo (PRIMAVESI, 2002).
A acidez do solo pode ser nociva para as plantas quando em excesso, pois
ela acarreta o aumento das quantidades de elementos tóxicos (como alumínio e
manganês trocáveis) e a diminuição da disponibilidade de nutrientes (principal-
mente os aniônicos). Como a manutenção da acidez do solo é muito importante
para a agricultura, uma das práticas mais difundidas é a aplicação de calcário ao
solo (calagem), que tem por objetivo corrigir a acidez do solo.
Para aplicação dos corretivos de acidez, é muito importante que eles sejam muito
bem misturados com o solo. Qualquer alteração na área ou na profundidade a ser
distribuída a calagem, a quantidade de calcário calculada terá de ser devidamente
corrigida, ou seja, a quantidade a aplicar não será igual à quantidade calculada.
Com relação à distribuição dos corretivos, a aplicação dos corretivos a lanço
deve ser feita com distribuição mais uniforme possível, sendo que em pequenas
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áreas eles podem ser espalhados manualmente e, em grandes áreas, a distribui-
ção é feita por meio de distribuidores tratorizados.
Considerando a incorporação do corretivo, a melhor forma de incorporação
é conseguida com gradagem seguida de aração ou outra gradagem. A primeira
gradagem melhora a distribuição e faz uma pré-incorporação mais superficial.
A aração posterior promove a incorporação, mesmo que horizontalmente irre-
gular, em profundidades maiores. A incorporação apenas com aração promove
uma boa incorporação vertical, mas muito deficiente no sentido horizontal.
Ademais, a incorporação profunda do corretivo, até 30 – 40 cm de profundi-
dade favorece um maior crescimento radicular em profundidade das raízes e,
consequentemente, maior produtividade, notadamente em região sujeita a estia-
gens mais profundas.
Figura 09: Exemplo de retirada de amostra de um terreno de baixada (amostra 1) e de meia encosta
(amostra 2). As áreas dentro dos círculos não devem ser amostradas.
Fonte: adaptado de Programa Educ@ar (online)
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■■ Reservatório de água para os vegetais, animais e microrganismos do solo.
■■ Reservatório de nutrientes minerais para os vegetais e outros organis-
mos do solo.
■■ Habitat para macro, meso e microrganismos do solo, tanto subterrâneos
quanto superficiais.
■■ Substrato essencial para funcionamento dos ciclos biogeoquímicos da
natureza, tais como dos ciclos da água, carbono, nitrogênio, fósforo, enxo-
fre e outros minerais essenciais aos organismos vivos.
■■ Fonte e destino de material particulado e de nutrientes transportados por
via pluvial, fluvial, marinha, glacial, eólica e biológica, formando amplos
depósitos sedimentares ao longo do tempo geológico.
O solo pode ser definido como a massa natural que compõe a camada superfi-
cial da crosta terrestre, que suporta ou é capaz de suportar plantas, ou como a
coleção de corpos naturais que contêm organismos vivos e é resultante da ação
do clima e da biosfera sobre a rocha-matriz, cuja transformação em solo se rea-
liza durante longo tempo e é influenciado pelo tipo de relevo (SANTOS, 2006).
Os microrganismos não apenas contribuem decisivamente para a formação
dos solos como também o utilizam como micro-habitat. Da atividade micro-
biana depende em grande parte a fertilidade dos solos naturais.
cuja fonte primária é a atmosfera, onde se encontra a forma N2. Como foi explicado
na unidade IV (ver ciclos biogeoquímicos), esse mineral é retirado da atmosfera
por meio da fixação de microrganismos, convertido em nitrato e incorporado
ao solo. Em alguns grupos vegetais, como as leguminosas, o N2 pode ser fixado
simbioticamente (por meio de bactérias nitrificantes, ver ciclo biogeoquímico –
unidade IV) e transferido diretamente às raízes das plantas.
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A matéria orgânica do solo é a fração orgânica resultante da decomposição de
restos de vegetais e animais e a tal ponto que o material original não é mais reco-
nhecível (ACIESP, 1997).
A principal fonte de compostos orgânicos do solo é de origem vegetal, sendo
este material de natureza variada e complexa, com predomínio de carboidratos,
principalmente celulose e lignina, de compostos nitrogenados, como proteínas
e aminoácidos e de outros constituintes menores, que sofrem transformações
bioquímicas diversas, mediadas pelas enzimas dos microrganismos.
De acordo com Santos (2006), as funções da matéria orgânica do solo são
as seguintes:
1. Fonte de nutrientes minerais: a decomposição de matéria orgânica do
solo libera nutrientes minerais que estavam retidos na estrutura orgâ-
nica, tornando-os disponíveis pra nova absorção.
2. Fonte de carbono: o processo de decomposição de materiais encon-
trados no solo, tais como celulose, amido, lignina, açúcares, gorduras e
proteínas por organismos saprófitos, libera o carbono para formação da
biomassa dos organismos heterotróficos do solo.
3. Fonte de energia: os microrganismos heterotróficos obtêm energia dos
compostos orgânicos utilizando-a para crescimento e reprodução das
colônias.
4. Retenção de água no solo: devido à sua característica coloidal, a matéria
orgânica do solo aumenta a capacidade de retenção de água das argilas,
ORGANISMOS DO SOLO
A ação dos organismos do solo na natureza pode ser dividida em: (i) mecânica
(movimentação do solo); (ii) física (melhoramento da aeração e estruturação);
(iii) bioquímica (decomposição da matéria orgânica do solo, sínteses e resínteses
complexas e fixação do nitrogênio); e (iv) biológica (interações entre populações
de plantas, animais e microrganismos) (SANTOS, 2006).
Os microrganismos do solo são representados por algas, fungos, bactérias,
protozoários, rotíferos, microartrópodes e nematóides. Além dos microrganismos,
há uma mesofauna ativa, representada por insetos e suas larvas (coleópteros,
lepidópteros, homópteros), ácaros, aracnídeos, isópodes, quilópodes, diplópo-
des, anelídeos (como as minhocas), vermes, crustáceos, moluscos, miriápodes,
nematoides.
A maior parte dos organismos do solo é numerosa e de pequeno porte.
Em solo cultivado, as populações microbianas podem sofrer forte oscilação,
Organismos do Solo
152 UNIDADE V
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vora. Após a ingestão e o processamento digestivo, os animais produzem
excrementos nitrogenados e, após a morte, os próprios corpos sofrem
ataque microbiano.
2. Reciclagem mineral: a decomposição orgânica libera constituintes mine-
rais da matéria orgânica do solo, tornando-os novamente disponíveis para
absorção pelos sistemas radiculares e pelos microrganismos.
3. Produção de substâncias estimuladoras do crescimento: certos fungos
e bactérias produzem auxinas, AIA (ácido indolacético), que exercem
importante efeito no controle de crescimento de raízes (em baixa con-
centração induz crescimento radicular).
4. Produção de substâncias tóxicas: a decomposição microbiana pode
levar à produção de substâncias tóxicas tais como aldeídos, ácidos orgâ-
nicos, alcaloides, terpenóides e esteróides que prejudicam o crescimento
e o desenvolvimento de algumas plantas (atuam como substâncias ale-
lopáticas).
5. Competição com plantas superiores: microrganismos podem absorver
nitrogênio das proteínas decompostas mais rapidamente do que as raízes
das plantas superiores, reduzindo a quantidade de nitratos disponíveis.
6. Mistura de solo: os organismos maiores revolvem o solo, o que facilita a
ação do intemperismo (material do subsolo fica exposto).
7. Fixação de nitrogênio: atuando em vários tipos de ambientes, os microrga-
nismos realizam a fixação biológica de nitrogênio (ver ciclo de nitrogênio,
unidade IV).
desenvolvimento.
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o que facilita o escoamento superficial e, consequentemente, promove o arraste
do horizonte superficial (Horizonte A) (SANTOS, 2006).
A erosão das margens de rios e lagoas resulta em assoreamento do leito do
rio e até o entupimento e transformação das áreas marginais em alagados. O
extravasamento do corpo d’água promove alteração das características físicas e
químicas do solo, bem como da biota fluvial.
A erosão do solo envolve a desestruturação e degradação do solo, apresen-
tando-se de três formas:
a) Física – desestruturação e pulverização dos agregados (acentuada por
aração e gradagem excessiva).
b) Química – arraste de nutrientes por ação de águas superficiais e de dre-
nagem.
c) Biológica – redução da biota edáfica e redução da matéria orgânica do solo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Considerações Finais
Poluição por nitrogênio no solo sobe 60% em 20 anos na China
O crescimento populacional e a consequente necessidade da produção de alimentos
e de bens materiais para a boa qualidade de vida do ser humano ocasionam alguns
impactos ao meio ambiente. Dentre os impactos recentes, estão o aumento de nitrogê-
nio depositado no solo devido ao uso de adubos agrícolas e pela poluição emitida por
indústrias e automóveis.
O nutriente que serviu de pilar da “Revolução Verde” na agricultura está se transforman-
do em um vilão ambiental. De acordo com estudo recente publicado na revista científica
Nature, a poluição do solo por nitrogênio na China cresceu 60% em 30 anos. O grande
problema do aumento excessivo desse nutriente é que ele acarreta acidificação do solo,
redução do crescimento de plantas, perda de biodiversidade e poluição da água de rios
e lagos.
De acordo com Zhang Fusuo, “o rápido crescimento econômico da China levou a altos
níveis de emissão de nitrogênio ao longo das últimas décadas”. Desde os anos 1980, o
uso de fertilizantes nitrogenados dobrou, o consumo de carvão triplicou e o número de
veículos a motor cresceu mais de 20 vezes. Se as tendências atuais persistirem, as emis-
sões de amônia vão aumentar 85% até 2050 e as emissões de óxido de nitrogênio vão
subir mais de oito vezes.
Diante do aumento excessivo de nitrogênio no solo e dos inúmeros impactos que ele
causa ao homem e ao meio ambiente, a China e outros países estão enfrentando um
desafio contínuo para tentar reduzir as emissões de nitrogênio, sua deposição e seus
efeitos negativos.
Contudo, o maior empecilho para combater este problema crescente é o fato de se tra-
tar de uma poluição silenciosa e invisível. Diferentemente da fuligem escura gerada pelo
transporte e indústria ou ainda, de um vazamento de petróleo, que deixa sua marca no
local, a poluição por nitrogênio é praticamente imperceptível aos olhos - ainda que te-
nha o poder de desestabilizar os processos naturais, entre outros efeitos negativos ainda
em estudo. Por esse motivo, a poluição por nitrogênio acaba sendo pouco reconhecida
como um problema ambiental, dizem os cientistas, já que é difícil conectar o problema
à fonte.
Como a principal sugestão para a redução da poluição por nitrogênio está o uso eficien-
te pelos agricultores dos fertilizantes sintéticos, já que estes são reconhecidos mundial-
mente como a principal fonte do problema.
Fonte: adaptado de “Poluição por nitrogênio no solo sobe 60% em 20 anos na China, diz
estudo” (online)
157
Desertificação do solo
O solo brasileiro
Por enquanto é coisa rara
Mata virgem, mata verde
Tem papagaio, tem arara
Tomara que o homem não a transforme
Num deserto do Saara
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Deus é brasileiro
Isso eu não duvido
Também tenho certeza
O nordestino é muito querido
Ah! Se não tivéssemos queimadas
E muito mato crescido
Temos o privilégio
De um clima tropical
Temos a fauna mais linda
E um imenso pantanal
Enormes Seringais
E infinitos canaviais
MATERIAL COMPLEMENTAR
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Este vídeo mostra que a natureza propiciou o nosso surgimento e, dessa forma, nós devemos
retribuir isso, ajudando-a a se recuperar. Ele sugere algumas medidas que podem ser tomadas
para ajudá-la.
<http://www.youtube.com/watch?v=mzs2u_90IfI>.
Material Complementar
165
CONCLUSÃO
Bem pessoal, eu espero que tenham apreciado os assuntos abordados neste livro.
Eu acredito que ele irá ampliar os conhecimentos ecológicos necessários para: pla-
nejar, gerenciar e executar as atividades de diagnóstico ambiental, avaliar os impac-
tos ambientais, propor medidas mitigadoras, recuperar áreas degradadas, dentre
outras inúmeras atribuições do profissional da gestão ambiental. Eu espero ter es-
clarecido muitas dúvidas e criado outras para que você possa formular seus próprios
conceitos sobre os distintos temas abordados.
Para compreendermos melhor os conceitos ecológicos iniciamos a unidade I tra-
tando da importância dos conceitos gerais da ecologia para os estudos ambientais.
Nessa unidade, também falamos das divisões da ecologia e das suas abordagens
(descritiva, funcional e evolutiva) utilizadas para responder a questões aplicadas.
Aprendemos a reconhecer as diferenças entre os vários níveis de organização: orga-
nismos (ou indivíduos), populações, comunidades e ecossistemas, observando di-
ferentes formas de focar esses níveis quando analisados dentro da teoria ecológica.
Na unidade II, conhecemos os modelos de crescimento das populações. Além disso,
estudamos os fatores limitantes da distribuição e abundância dos organismos, a dis-
persão de populações, os parâmetros demográficos, além de métodos de estima-
tiva do tamanho populacional e fatores envolvidos no crescimento populacional.
Na unidade III, aprendemos a importância das relações interespecíficas na estrutu-
ração da comunidade, além de conhecer os componentes estruturais da comunida-
de e entender o papel benéfico do controle biológico de pragas animais e vegetais.
Além disso, falamos da importância da conservação de áreas naturais e consequen-
te conservação das comunidades biológicas.
Na unidade IV, abordamos a importância dos fluxos de energia e matéria nos ecos-
sistemas, sucessão ecológica e ecologia de restauração. Também conhecemos os
ciclos biogeoquímicos e os meios de recuperação de áreas degradadas.
Por fim, na unidade V, tratamos das características físicas, químicas e biológicas do
solo. Nessa unidade, enfatizamos o papel dos microrganismos na qualidade do solo,
bem como as características físicas e químicas importantes para a fertilidade do
mesmo.
Espero com este material proporcionar a você o entendimento da importância da
ecologia no estudo dos inúmeros impactos ambientais ocasionados pelo ser hu-
mano. Como o país necessita crescer com sustentabilidade, o papel dos gestores
ambientais é de essencial importância na avaliação dos impactos de muitos empre-
endimentos assim como no gerenciamento dos mesmos.
A sua participação nas aulas e a leitura das unidades são essenciais para o aprendi-
zado. A formação de um profissional crítico e informado é o primeiro passo para a
construção de um país desenvolvido e comprometido tanto com as questões am-
bientais quanto com as sociais.
167
REFERÊNCIAS
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de São Paulo. São Paulo, 29 out. 2014. Disponível em: <http://f5.folha.uol.com.br/
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bara Koogan, Rio de Janeiro. 830pp
Towsend, C.R.; Begon M.; Harper, J.L. 2010. fundamentos em Ecologia. 3a. edição. Ed.
Artmed, Porto Alegre. 560pp.
O ano da referência do livro “Ecologia: De Indivíduos a Ecossisteas“ é 2007, não 2006.