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PATRIMONIO INDUSTRIAL AMEACADO O COTONIFICIO RODOLFO CRESPI Manoela Rossinetti Rufinoni Separatade ARQUEOLOGIA INDUSTRIAL QUARTA SERIE * VOLUME I + NUMERO 1-2 + 2005, Patriménio industrial ameacado: 0 Cotonificio Rodolfo Crespi Manoela Rossinetti Rufinoni Faculdade de Arquitectura e Urbanismo da Universidade de Sao Paulo, Brasil Resumo: O conjunto arquitecténico do antigo Cotonificio Rodolfo Crespi, fundado em 1897 e desactivado na década de 1960, representa um importante patrimdnio histérico da industrializagio da cidade de So Paulo, Brasil. As edificagées fabris de diferentes periodos ilustram o surgimento e desenvolvimento da actividade industrial na regido - factor em grande parte responsétvel pelo rdpido crescimento da cidade a partir do inicio do século XX. Quanto aos aspectos arquitecténicos e urbanisticos, o conjunto demarca a influéncia da indiistria na configuragio urbana local ea adopt de partidos técnicas construtivas adequadas para a resolugio de programas especificos da arquitectura industrial, como as estruturas metélicas importadas dda Europa montadas no Brasil. Recentemente,o interesse de um grupo de hipermercados em instalar uma de suas lojas no principal edifcio do conjunto fabril, mobilizou a comunidade local e os érgdos responsdveis pela preservagio do patrimdnio histérico que se uniram em defesa do Cotonificio conto intuito de impedir a ‘accao descaracterizadora do projecto de adaptagio a nova fungi. As discuss6es e impasses em torno da questo evidenciam as dificuldades envoloidas na preseroacao do patriménio industrial ea maneiraaleat6ria com quests artefacts sdo encarados em supostos projectos de ‘restauracio’. Palavras cha patriménio histérico. © Cotonificio Crespi, representativo exemplar da arquitectura industrial paulistana, foi fundado em 1897 e esteve em funcionamento até meados da década de 1960, quando encerrou suas actividades por motivos financeiros e administrativos. Localizado no bairro da Mooca’, 05 edificios do conjunto arquitecténico do Cotonificio ilustram 0 cenario de desenvolvimento econdmico e industrial na cidade de S40 Paulo no inicio do século XX e pontuam importantes momentos histéricos como a eclosio das primeiras greves operarias na cidade ea gradativa consolidagao de umanova ordem econémica que viria a substituir a supremacia cafeeira, poucas décadas mais tarde. Desde a fundagao da fabrica até o seu fechamento, diversos edificios fabris foram construidos de acordo com 0 crescimento dos negécios e necessidade de expansdo dos espacos para producao. Dessa forma, o conjunto edificado permite nos andlises tanto em relagao aos aspectos ‘econémicos e sociais vinculados a industria, por meio da observacao dos momentos de expansao ¢ Arqueologia Industrial 4 Série, 2005, (1-2), 73-88, Arguitectura industrial; So Paulo (Brasil); patrimdnio industrial, preservagio do decadéncia desta actividade na regiéo e as repercussdes deste processo no cenério social, quanto em relagdo a histéria da arquitectura, uma vez que 0s diferenciados programas industriais demandaram a adopgao de técnicas construtivas especificas que permitiram a exploragao de novos conceitos de espaco, forma e volume, (Os antigos edificios da fébrica ocupam hoje todo o quarteirdo compreendido entre as ruas dos Trilhos, Taquari, Javari e Visconde de Laguna, totalizando cerca de 49000 m*de drea construida (Fig. 1). Apés 0 encerramento das actividades do Cotonificio, as edificagées foram desmembradas e adaptadas para novos usos. Em substituigdo a antiga fungao produtiva, os espacos originais foram destinados para locagio e abrigam, desde a década de 1960 até hoje, diversas empresas ¢ usos comerciais que descaracterizaram a configuragao arquitecténica da época de seu fechamento, quando todas as edificagdes se comunicavam, partes de um grande esquema de produgao fabril (RUFINONI, 2003). Este rocesso nao ocorreu de forma isolada. Por volta de Primeto exificio do conjunto= 1857 Ta apy Eaiicagdes construidas por vota de 1910/2) ) ‘mm Ediicaybes constuldas em 1920. SL fo 1m Edifcagées cosntridas em 1925-1930, ES | 1 Edifcagées construidas na década de 40, eas cemolidas 1950, aproximadamente, a vocagao industrial da regido comeca a ceder espago para as actividades comerciais. As induistrias de maior porte passam a rocurar regides mais afastadas dos centros urbanos, préximasa grandes rodovias. A via férrea, no passado um importante atractivo para a actividade industrial, perde importancia frente as politicas de valorizagao do transporte rodovisrio que a partir de entdo assume a dianteira no escoamento da producdo ena orientacao espacial das novas indiistrias O edificio mais expressivo de todo conjunto do Cotonificio, localizado na esquina entre as ruas Taquari e Javari (Fig. 2), foi projectado na década de 1920 pelo arquitecto italiano Giovanni Battista Bianchi com o intuito de abrigar, em uma ‘mesma edificacao, todas as etapas da fiacao. Oedificio de quatro andares, com aproximadamente 16000 m* de area construida’, estrutura independente de aoe vedacio de alvenaria de tijolos aparentes, configura- se como um importante referencial urbano local, marcando fortemente a paisagem, apesar de todas as transformagdes urbanas ocorridas na regizo. Durante as plendrias destinadas & elaboracao do Plano Director Regional Mooca’, a comunidade local manifestou interesse na preservacio do Coto popularmente referenciado por esta edificagao em particular. A solicitagao da comunidade com relacao a proteegao do Cotonificio, juntamente com a indicagao de outros conjuntos industriais locais, foi encaminhada para o Departamento de Patriménio Historico, érgao da Prefeitura do Municipio que cencarregou-se das andlises para possivel classificagio patrimonial do imével, Desocupado ha varios anos, este importante patriménio histérico tem sofrido a degradacao do tempo e do abandono. Diversos usos para o edificio de Bianchi jé foram aventados: entre 1994 e 2000, por exemplo, houve o interesse em transformd-lo em um shopping-center mas 0 projecto nao foi adiante. 74 Fig. 1. Conjunto industrial do Cotonificio Crespi ~ implantacio e identificagio dos edificios. op inal} hy boone esd hd | Lala Propriedade de herdeiros da familia Crespi, oedificio ‘steve por um longo periodo disponivel para aluguer: e até mesmo para a venda, mas nao surgiram’ interessados ~ apenas 0 pavimento térreo foi parcialmente ocupado por um estacionamento. Apés varios anos nesta situagao, no final de 2003 uma rede de hipermercados—o Grupo Pao de Agicar—alugou © imével e varios edificios anexos, também integrantes do antigo conjunto industrial, com 0 interesse de instalar uma de suas lojas no local. Apés tanto tempo sem ocupagao, a noticia de que finalmente receberia uma fungao de inicio foi bem’ recebida, Somente o desenrolar dos fatos, no entanto, evidenciaria que o projecto de adaptagao para novo. uso assemelhava-se, na verdade, a uma ‘demoligao’ para novo uso, Em uma manha de domingo de Julho de 2004, moradores do bairro assustaram-se com a movimentacao de guindastes ¢ operérios; 0 edificio principal do Cotonificio comecava a ser demolido. Outras dreas internas do conjunto industrial, fechadas por muros e inacessiveis ao piiblico, j4 haviam sido afectadas. Gragas & iniciativa isolada e fundamental desses moradorest, iniciou-se uma verdadeira batalha para salvar o edificio. Em pleno domingo, a tinica alternativa encontrada para interromper a demoligao completa foi recorrer & reclamagio por excesso de barulho. Na manha do dia seguinte, segunda-feira, 0 Departamento do Patrimonio Historico foi alertado e prontamente solicitou a actuagao do Ministério Pablico Estadual que impetrou uma liminar para a paralisacao das ‘obras. A incluso do Cotonificio Crespi dentre as edificagies de interesse histérico analisadas pelo PDRM instrumentou e fortaleceu as acgées do DPH em sua defesa, uma vez que encontra-se em andamento 0 estudo para a sua classificagao patrimonial. Com as obras paralisadas, téenicos DPHedo MPE realizaram diversas vistorias 010 Arqueologia Industrial, Série, Patriménio industrial ameagado - O Cotonificio Crespi: Manoela R. Rufinoni Fig. 2. Edificio da fiaglo ojetado Esquina entre as ruas Javari e Taquari. Fotog © projecto para instalaca submetido a andlise do DPH que exigiu uma série de alteragdes. Somente apés a reformulacdo do projecto e aprovagao do érgao as obras poderdo ser retomadas. (© projecto inicial, interrompido pela paralisacao das obras, previa a manutencao de wnas duas fachadas do edificio, aquelas voltadas para as ruas Javari e Taquari. Todo o restante seria demolido, as fachadas preservadas actuariam como ma ‘carcaca’ a envolver um novo projecto, Uma das tificativas da proposta repousa na afirmagao de jue a estrutura existente—imponentes vigas e pilares metalicos importados da Europa em meados de 1920 seria incompativel com as dimens6es das prateleiras padronizadas adoptadas em todos os projectos do Grupo. Na ocasido, representantes de associagoes de bairro concordaram com o projecto, erroneamente denominado ‘de restauro’. Foram-Ihes apresentadas belas perspectivas desenvolvidas em computacdo rafica aproveitando-se mente, da visao '5 empresirios, comerciantes e politicos do hipermercado foi possiv 5 que muitas vezes encampam as questdes patrimoniais apenas até o limite de seus interesses ‘econdmicos mais imediatos. Grosso modo, a chegada do hipermercado foi considerada interessante para a dinamica comercial local e a preservagao do ‘atriménio passou para segundo plano. Industrial, 4° Série, 2005, (1-2) elo arquiteto italiano Giovanni tista Bianchi em meados da década de 1920. le Manoela Rufino © DPH tomou conhecimento deste projecto somente apés a mobilizacio contra a demolicao ento fem curso e, obviamente, no pode consentir com 0 prosseguimento desta proposta. Apés diversas reunides e andlises, a ultima noticia obtida, em Setembro de 2004, informou que o drgao exigira a preservacio de todas as fachadas, das duas torres ¢ da estrutura metalica, bem como a abertura do terraco para visitacao piiblica. Um novo projecto devera ser apresentadio segundo tais orientagbes. Somente o atendimento das exigéncias do 6rg0, no entanto, nao garante que o projecto como uum todo respeitaré o patriménio existente dentro de suas especificidades formais, construtivas eestéticas. Trata-se cle uma intervengio no patriménio histérico a adaptagao para novo tiso nao pode ser concebida como uma simples reforma e sim como um projecto de restauro, criterioso e fundamentado, desenvolvido por profissionais habilitados e competentes, cujas propostas estejam invariavelmente respaldadas por amplo conhecimento dos debates contemporaneos em too da questao, ‘A atribuigio de valor cultural aos artefactos industrials é tema em pauta desde a década de 1960 ese fortalece cada vez mais, fato claramente exposto por diversos autores a exemplo de Buchanan (1974) € Cossons (1978). A crescente incluso de t6picos especificns para tratar da questio da preservagio de 78 atriménio industrial amencado - O Cotonificio Crespi: Manoela R. Rufinoni conjuntos edificados e bairros histéricos ~ seja pela sua representatividade histérica, pela sua homogeneidade e composigdo formal ou mesmo por ‘sua significancia social - em variados documentos internacionais voltados a preservago de bens culturais, como a prépria Carla de Veneza e, mais especificamente, a Caria de Washington (CURY, 2000), também é outro factor que corrobora a pertinéncia da questio, uma vez que os complexos industriais inserem-se perfeitamente nestas categorias. A pratica predominante nas intervengdes sobre patriménio industrial, no entanto, parece desconsiderar por completo qualquer atributo histérico ou estetico, esquivando-se de debates teéricos e erroneamente denominando como projectos de ‘restauragao’, intervengies arbitrarias e descaracterizadoras que priorizam interesses alheios ao patriménio. O motivo primeiro a impulsionar a accao de conservagao & restauro ~ a valorizagio do patriménio histérico ~ equivocadamente subordina-se a interesses diversos: ‘econémicos, politicos ou simplesmente comodistas, (RUFINONT, 2004: 148). © caso do Cotonificio Crespi ilustra perfei- tamente esta questao. Sequer os preceitos mais basicos expostos pela Caria de Veneza ~ documento internacional e principal referencial te6rico para os profissionais vinculados a conservacao e restauracio, Conforme o cddigo de ética do ICOMOS de 2002 ~ chegam a ser observados. Sem pretender aprofundar este debate e apenas para ilustrarmos o tema, a Carta de Veneza recomenda a atribuicao de novos usos aos edificios histéricos, facto que podera inclusive contribuir para sua conservagao, porém faz. questo de ressaltar que 0 novo uso deveré ser compativel com as especificidades de cada obra. A nova fungao no poders interferir na apreensto das qualidades histéricas, artisticas ou compositivas da obra preservada. Ou seja, 0 objectivo primordial é a preservacdo do bem cultural ea adaptacao para novo uso é que deverd subordinar-se ao mesmo, jamais 0 inverso. Sobre 0 respeito ao material original e aos documentos auténticos, uma das principais recomendagdes da Carta, nem mesmo sera necessario discorrer: a proposta baseada na manutengio de fachadas soltas, desprovidas de qualquer contextualizagao, ea demoligao de praticamente toda a obra falam por si, Prevalece o descomprometimento € a auséncia de qualquer valoracao patrimonial, as qualidades do edificio industrial sao tratadas apenas como ‘curiosidades’: duas fachadas sio o suficiente para vestir’ o novo uso com uma roupagem pitoresca A uta pela preservacao do Cotonificio, e de tantos outros edificios industriais continuamente ameacados, levanta uma série de questées com relacio a actuagio sobre os bens culturais. Se os princi amplamente debatidos nas Cartas e documentos internacionais nao sdo considerados no que concerne 0 patriménio especifico da indiistria, necessitamos 76 indagar se o problema reside na pouca aceitagao estes artefactos enquanto patriménio histérico, ou se esta inobservancia ¢fruto de um desconhecimento xgeral desses principios, independente da natureza do artefacto a sofrer a intervencao. Essa questio possui grande pertinéncia e sugere a necessidade de questionarmos sobre a capacitacio apropriada para profissionais envolvidos em projectos tao delicados (RUFINONI, 2004: 115-167). (Osimpasses em toro do conjunto industrial do Cotonificio Crespi evidenciam a necessidade de maiores debates com relaco as acgdes para preservacio desses bens. A dinamizagao dos amplos espacos ocupados por antigas industrias & certamente desejavel. Novos usos com certeza deverdo ser aventados, porém sempre de maneira criteriosa, com base na andlise atenta dessas estruturas, de suas potencialidades e especificidades. Neste sentido, vejamos com maiores detalhes algumas consideragdes sobre a histéria e a composicao arquitecténica do conjunto industrial do Cotonificio. Cenario historico” © Cotonificio Rodolfo Crespi, originaria- mente Regoli, Crespi & Cia, foi fundado em 1897 por imigrantes italianos. A fundacdo da fabrica ocorre em um cenario de grande prosperidade industrial: desde 1880, as boas exportagdes de café e as melhores condigdes tarifarias proporcionavam o ambiente ideal para a expansio da indkistria no pais, sobretudo em Sao Paulo (TELLES, 1984: 188) Os fundadores do futuro Cotonificio ja actuavam no ramo téxtil. Rodolfo Crespi chegou ao Brasil em 1893 como empregado da companhia milanesa de manufactura de tecidos e exportagao de Enrico Dell’ Acqua. Pietro Regoli, por sua vez, comercializava tecidos produzidos por terceiros. Rodolfo Crespi casou-se com a filha de Regoli associou-se ao sogro para fundar, em 1897, a oficina de tecidos Regoli, Crespi & Cia (DEAN, $468), O cenario politico e econémico mostrava-se, entio, bastante animador. Durante a década de 1890, varios factores impulsionaram a expansao da indiistria téxtil como as quedas nas taxas de cambio, facilidades de crédito e emissao de papel moeda, O crescimento econdmico deste sector industrial também se deve as intensas pressies exercidas sobre 0 Estado, pressdes atendidas prontamente ja que a jovem repiblica necessitava de apoio politico desses grupos industria. Os primeiros anos do século XX foram marcados por uma fase de grande expansio de diversos sectores industriais impulsionados por grandes transformagdes politicas, econémicas € socials. O regime republicano comegava aestabilizar- -se; entre 1890 e 1929, a alta na producao de café Arqueologia Industrial, 48 Série, 2005, (1-2) alia Patriménio industrial ameagado - O Cotonificio Crespi: Manoela R. Rufinoni contribuiu para a acumulagdo de capital para investimentos e também para subvencionar a vinda de imigrantes e estimular a construcao de ferrovias, elementos que foram indispensaveis para impulsionar a industrializagao. A prosperidade téxtil neste periodo também se deve as facilidades com as. tarifas alfandegérias proteccionistas e ao surgimento da energia eléctrica (STEIN, 1979: 99-108), Diante de cenario tio promissor, é facil compreender a prosperidade dos primeiros anos da sociedade Regoli & Crespi. Em poucos anos 0 investimento pode ser ampliado com a aquisigao de oficinas préprias e uma seccao de fiagao. Ha, no entanto, uma certa contradi¢ao entre as fontes consultadas no que se refere 4 representatividade da fabrica no panorama industrial da cidade nesta época: apesar de Warren Dean a considerar modesta quanto as dimensoes e escala de producao, no estudo desenvolvido por Margarida Maria de Andrade, 0 Cotonificio estava, em 1901, entre as trés maiores fabricas de tecidos de algodao da Capital (ANDRADE, 1990: 191), Talvez. as conclusées de Warren Dean tenham se baseado nos padres norte-americanos de producdo neste mesmo periodo, os quais, sem duivida, diferiam muito da realidade industrial brasileira Segundo a descricao de Bandeira Jr, em 1901 a fabrica ocupava um edificio de 2000 me aproximadamente 300 operarios, “conforme a urgéncia do servico”. O maquinério da fabrica contava com “motor e dynamos eléctricos, 100 teares mechanicos, 5 urdideiras, 1 Machina-Parrere para engommar ofid, [16 ‘Machinas circulares para tecidos de meia", além das maquinas manuais: 40 teares e 10 maquinas para tecidos de meia grossa. O autor também descreve os diversificados produtos fabricados neste periodo: brins de algodao de varias qualidades, xales de lae algodio, colchas, camisas, saias de 14, toalhas felpudase meias de fio de Escécia ede la, sem costura (BANDEIRA JR, 1901:9-10) Em 1906, Pietro Regoli vende ao genro sua partena sociedadee retorna a Italia. A partir de entio, ‘a empresa passa a denominar-se Rodolfo Crespi & Cia, com a entrada na sociedade de Giuseppe Crespi, irmao de Rodolfo (DEAN, sd.:68). A partir de entao, a fabrica cresce rapidamente. Em 1909, ano em que a empresa se transforma em Sociedade Andnima ~ Cotonificio Rodolfo Crespi, j& contava com aproximadamente 1300 operérios. Em 1928, o Cotonifcio Rodolfo Crespi disputava coma Votorantim, de Sorocaba, o primeiro lugar entre as fAbricas de tecidos de algodao do Estado de Si Fig, 3. Primeiro edificio do Cotonificio no final do século XIX. Esquina entre as ruas Javari ¢ Visconde de Laguna = fachadas hoje descaracterizadas. Foto Arqueologia Industrial, 4* Série, 2005, 1(1-2) ‘Arquivo Edgard Leuenroth ~ UNICAMP. Patriménio industr cio em 2001 Paulo. Nes a fabrica empregava mais de 3300 operarios, com 54000 fusos e 1240 teares. Esta ascensio continuou até o periodo imediatamente anterior a Segunda Guerra, quando a indistria téxtil atinge seu Em 1938, 0 Cotonificio empregava cerca de rarios, Durante a Segunda Guerra Mundial, operando 24 horas por dia, chegou a em- ximadamente 6000 operarios. década de 1950, 0 Cotonificio pregar ainda > como um dos principais estabelecimentos téxteis da cidade, ao lado da firma Jafet, fund. 1907, e das fabricas Labor, Kowaricke Moi SCHLESINGER, 1958: 419). A esta altura, no entanto, jd se anunciava 0 inicio da crise na empresa. Uma das hipdteses para explicar a icio do século XX, éa obsolescéncia do equi » ao lado da gestio empre antiquada e ineficaz (ANDRADE, 1990: 190-19 t go funcionario do Cotonificio atribuiu o fechamento da fébrica « uma grande falta de sorte 954, apesar das iniimeras dividas contra ma administracio, um vultuoso empréstimo com 0 Banco do Brasil salvaria a fabrica, Com an 10 presidente Getiilio Vargas, 0 presi¢ i cemprésti estava prostes a ser liberado foi cance doo funcionitio, a hipdtese de q © equipamento estava obsolelo nao & valida. Citou como exemplo a aquisicho em 1945 da maquina italiana muito moderna para a época, A 78 Esquina entre a rua Visconde de ameagado - O Cotonificio Crespl: Manoela R. Rufinoni una e rua dos Trlhos. Fotog. de Manaela Rifinoni venda dos equipamentos para saldar dividas, apés 0 fechamento da fabrica, também é um indicio de que 0 antiquados assim. Em 1960, a empresa pede concordata encerrando completamente as actividades trés ou quatro anos mais tarde.* O conjunto arquitectnico Oairro da Mooca no final do século XIX era uma tipica regio de chécaras onde apenas algumas vias precérias orientavam o acesso. A partir da chegada da Estrada de Ferro Santos-fundiai, em 1867, e do ramal ferrovisrio que ligava a Estagio da Luz. ao Clube Paulista de Corridas de Cavalo, o Hipédromo, em 1876, é que se pode observar um grande impulso 8 ocupacao da regiao, principalmente para a instalagao de indtistrias que procuravam terrenos planos e baratos (LANGENBUCH, 1971: 98-100). Mas a maior parte do que hoje & o bairto da Mooca, principalmente as areas mais afastadas da estagio ferrovisria, sequer possuiam arruamento. Foi num terreno nestas condigées que os imigrantes italianos Crespi e Regoli resolveram instalar o primeiro edificio do futuro Cotonificio. {.--] querendo os Srs. Regoli respi eCiaconstruir nna Rua em conttinuagto da Rua do Hyppodromo e que liga coma rua da Mooca, uma offiina para tecidos a mio, como da planta que vai junta em duplicata, requer a essa Ema icengac alinhamento para dita construgio. S@0 1897. Arqueologia Industria, 4 Série, 2005, (1-2) : Patriménio industrial ameacado - O Cotonificio Crespi: Manoela R. Rufinoni Apés fornecimento das medidas do terreno e do armazém a ser edificado, é deferida a licenga para a construgio do edificio cujo alinhamento definiria 0 tracado das actuais ruas Javari e dos Trilhos. Sendo assim, a propria instalagio da fabrica jé desempenhava a funcao de definir espacos urbanos. O seu crescimento e expansio, atraindo outros investimentos e também operarios que precisavam fixar-se nas proximidades, continuow a influenciar a configuragao urbana da regiao a partir de entdo. Oeedifici inicial da Regai, Crespi& Cia, descrito por Bandeira Jr. como “especialmente construido, ocuparrdo «dren de 2000 metros quadrados” (BANDEIRA JR,, 1901: 9), localiza-se ao longo da rua Visconde de Laguna, desde a esquina com a rua Javari até a esquina com a rua dos Trilhos (Figs. 3 e 4). Possui um unico pavimento, em planta livre e pé direito de apro- ximadamente seis metros de altura. A estrutura interna é composta por pilares de ferro fundido que sustentam tesouras triangulares de madeira (FAGGIN, 1978). A estrutura do telhado define a fachada por meio de frontées triangulares que, originalmente, se repetiam por toda a rua Visconde de Laguna. Externamente o edificio ¢ composto por alvenaria de tijolos a vista Aalvenaria das fachadas, pelo que foi possivel observar, é composta por parede de uma vez (espessura da parede igual ao comprimento de um tijolo) em aparelho inglés. E interessante notar onivel de detalhamento empregado nessas alvenarias ‘externas. Os frontdes triangulares séo emoldurados por caprichosos detalhes de alvenaria: 0s tijolos, ora dispostos lateralmente, com a face da largura em relevo, ora dispostos na diagonal, evidenciando as arestas, emolduram os frontdes harmoniosamente. O edificio mais antigo do Cotonificio sofreu muitas alteragdes. As janelas voltadas para a rua dos Trilhos foram parcialmente fechadas com tijolos. A fachada da rua Visconde de Laguna recebeu novas aberturas, portas e portdes para a entrada de automéveis. Muitos frontdes desapareceram sob uma platibanda, mas ainda ¢ possivel ver o seu contorno Original, o que sugere a possibilidade de remogio recuperagao dos mesmos. Grande parte da fachada foi revestida de massa, cobrindo a alvenaria aparente original. Actualmente este edificio ¢ utilizado como estacionamento. Toda a esquina da rua Visconde de Laguna com a rua Javari, assim como a fachada para a tua Javari, foi descaracterizada, nao restando nenhum vestigio das caracteristicas originais. ‘A primeira grande expansao da fabrica data de 1911, com a construcao de varios novos edificios, * numa dea de 26000 minha, em 1911, além das secgées de {fiagio e tecelagem, tinturaria, malharia, aproveitamento ¢

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