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04/02/2013 às 00h00

A história da primeira grande bolha de

Bordeaux
Por Rodrigo Uchoa | De São Paulo Compartilhar: (/share
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Os grandes châteaux de Bordeaux não

podiam acreditar na própria sorte. Em
meio a uma época difícil para escoar a
produção, praticamente caiu no colo
deles todo um mercado virgem. Era de
um país em crescimento, com um monte
de gente querendo sofisticar seus hábitos Cultura & Estilo
de consumo e, acima disso, gente (/sites/default/files/gn/13/02/foto04est- (/ultimas-noticias
disposta a pagar cada vez mais pelos
vinhos e pelo status. Uma mistura de
101-vinho-d6.jpg)Garrafas de vinhos dos
grandes châteaux de Bordeaux: 40 anos
/cultura)
ganância, ingenuidade e falta de bom depois, será que vivemos uma bolha Últimas (#destaques-ultimas-news)
senso grassou por esse mundo e a espiral semelhante?
Lidas (#destaques-lidas)
de preços parecia não ter fim. Comentadas (#destaques-comentadas)

Não estamos falando do mercado chinês, e sim da "bolha de Bordeaux" que Compartilhadas (#destaques-compartilhadas)

aconteceu no mercado americano. Nos anos 60, os Estados Unidos puxaram

para cima irracionalmente os preços dos vinhos. Foi um tempo de "hospício "Serra Pelada", um gângster moderno (/cultura
/2993824/serra-pelada-um-gangster-moderno)
enófilo", na primeira grande bolha moderna do mercado de vinhos mundial.
Em 1973, em meio à crise do petróleo, a bolha estourou. As prateleiras 00h01
ficaram envergadas pelo peso das garrafas encalhadas e seguiu-se um
Blue chip (/cultura/2993820/blue-chip)
festival de bancarrotas entres os comerciantes americanos. Muitos deles não 00h00
conseguiram cumprir compromissos das compras "en primeur", quando se
compra o produto da safra futura. Em Bordeaux, parecia o fim do mundo. Exposição dá início às celebrações dos 100 anos de
Propriedades foram vendidas a preços baixíssimos e o baixo astral se Tomie Ohtake (/cultura/2993826/exposicao-
da-inicio-celebracoes-dos-100-anos-de-tomie-
instalou. ohtake)
00h00
Mas o que foi que levou essa bolha a acontecer? Agora, que seu estouro faz
40 anos, há lições a serem tiradas dela? Estouro da 'bolha de Bordeaux' completa 40 anos e
traz alerta (/cultura/2994114/estouro-da-bolha-
de-bordeaux-completa-40-anos-e-traz-alerta)
Bem, a história da bolha americana começa bem antes do fatídico ano de
1973. Talvez seja bom inclusive dar um passo maior atrás. 00h00

Desde o século XVIII, a Inglaterra comprava a maior parte do vinho de Ver todas as notícias (/ultimas-noticias/cultura)
Bordeaux. Quando estavam em guerra com os franceses, o que não era
incomum, os ingleses apelavam para o contrabando, em conluio com os
comerciantes bordaleses. Era uma relação íntima. Grandes negociantes de

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vinhos, como a Berry Bros & Rudd, estabelecida em Londres em 1698,

fizeram sua fama desde então. Vídeos (/videos)
Foi uma relação que teve altos e baixos até a segunda metade do século XX,
quando os americanos descobriram Bordeaux.

Que tal uma data para marcar esse novo relacionamento? Pois aí vai: 1959.
Os vinicultores franceses estavam propagando aos quatro ventos que aquela
havia sido "a safra do século". E a imprensa americana comprou essa
história. Como não havia muitos colunistas de vinho como os que vemos
hoje, esse papel de formador de opinião se deveu muito àqueles que faziam
crônicas sobre a sociedade americana, como Art Buchwald. Ele, que então
morava em Paris, disseminou em suas colunas publicadas em grandes Ícones do tempo em exposição
(http://www.valor.com.br/video/2915690/icones-
revistas, como "Time" e Newsweek", essa ideia de que 59 havia sido um ano do-tempo-em-exposicao)
incomparável e que esses vinhos estavam ali, ao alcance das mãos dos 23/11/2012 (03m10s)
americanos.
Ver todos os vídeos (/videos)
Os bordaleses agarraram a oportunidade e começaram a subir os preços.
Alguns anos antes, o Château Lafite estava com dificuldades de vender seus
estoques a US$ 75 a caixa (em valor atual; apenas para comparação, a
garrafa do 2009 custa hoje US$ 1,5 mil). Pouco depois, em 1960, a demanda Lançamentos
americana já tinha feito esse preço pular para US$ 90. E, para alegria dos Livros, músicas e filmes
franceses, 1961 foi outra safra excepcional. O que aconteceu então? Nova
"safra do século". CD
O faroeste
Com uma economia exuberante - de fevereiro de 61 a dezembro de 69, os "black" de
Estados Unidos registraram o segundo maior período de crescimento Tarantino
contínuo de sua história -, os americanos descobriram que podiam pagar (/cultura
pela nova paixão. Os anos 60 foram marcados por um frenesi. O pessoal da /2991744
Costa Leste passou a discutir, degustar e comprar vinhos num ritmo nunca /o-faroeste-
visto. Os americanos não aceitavam mais ser tachados de caipiras comedores black-
de-tarantino)
de cachorros-quentes, eles estavam se tornando "connaisseurs". Grandes
AA+
bordeaux podiam ser achados em lojas de Nova York, mas também em
Raleigh, na Carolina do Norte, ou em St. Louis, no Missouri. CD
"Live at
Com um mercado fulgurante, as grandes casas de leilão entraram na dança.
Montreux: 1975
A britânica Christie's foi a primeira. Apesar de eventualmente vinhos - 1993" (/cultura
aparecerem nos leilões, não havia uma especialização no assunto. Em 1966, /2991754/live-
a Christie's criou uma nova mania, leilões exclusivos de vinho. O primeiro montreux-
feito nos Estados Unidos aconteceu em Chicago, em 1969, ano em que os 1975-1993)
franceses novamente propagaram ter havido uma "safra do século". AA+

Pois 69 não foi exatamente a "safra do século", mas isso não impediu mais CD
aumento dos preços. E as vendas de Bordeaux deram um salto de 50%. "Re-Machined -
A Tribute to
No ano seguinte, 1970, outra grande safra em Bordeaux e mais preços em Deep Purple's
espiral nos Estados Unidos. Foi bem em 1970 que a Sotheby's também criou Machine Head"
o seu departamento de vinhos. (/cultura
/2991758
Os negócios estavam indo maravilhosamente bem. Aquela caixa de Lafite 61 /re-machined-
comprada no começo da década por menos de US$ 100 custava no mercado tribute-
deep-purples-
oito vezes mais. Ora, era um investimento certo, não era? Afinal, nada dava
machine-head)
indícios de que os americanos iriam parar de comprar os vinhos bordaleses. BBB

É bom dizer que o fenômeno da bolha não se deve exclusivamente aos DVD
americanos. Os britânicos continuavam comprando de Bordeaux e, mais
Comédia de
ainda, estavam apostando em fundos de investimento em vinhos. uma piada só
(/cultura
Nos Estados Unidos, os compradores "en primeur" pareciam ter entrado /2991746
num esquema de pirâmide - os preços aumentavam e só se sustentavam /comedia-
porque mais gente entrava no jogo de futuros. de-uma-
piada-so)
Em 1971, uma safra boa e mais aumentos de preços. Em 1972, uma safra BB+
medíocre... e mais aumentos de preços. O começo dos anos 70 foram tempos
incertos na economia e os especuladores agora viam o investimento em DVD
vinho como um porto seguro. "A Novela das
Oito" (/cultura

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Era o que muita gente começou a chamar de "hospício enófilo", com os /2991760
preços se descolando da realidade. Havia aí o medo de ficar para trás. /novela-
Compradores temiam ficar sem produtos, vinicultores temiam ficar das-oito)
C
desacreditados por vender mais barato do que seus vizinhos, consumidores
americanos temiam ficar para trás na corrida por status.

Quando chegou 1973, os Estados Unidos estavam abarrotados de vinhos Legenda AAA Excepcional BBB Acima da média
CCC Baixa qualidade AA+ Alta Qualidade
franceses caros e medíocres. Ali já vinha se desenhando o estouro da bolha, BB+ Moderado C Alto Risco
mas o golpe de misericórdia veio de Viena, sede da Organização dos Países
Exportadores de Petróleo. Em outubro, o mundo conheceu uma crise de
petróleo sem precedentes, por causa do embargo imposto pela Opep.
Edição Impressa
Em 1974, as importações americanas de vinho de Bordeaux caíram quase (/impresso)
pela metade. O drama que se seguiu é sabido. As lições? Ficam por conta do 04/02/2013 (/impresso)
leitor.

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