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SOCIOGENESE DO CONHECIMENTO E PESQUISA EM ENSINO: CONTRIBUICOES A PARTIR DO RE- FERENCIAL FLECKIANO*! Demétrio Delizoicov Departamento de Metodologia de Ensino - UFSC Nadir Castitho™ Grupo de Estudos ¢ Pesquisa em Ensino de Cigneias Naturais (GEPE- csc). UFSC Luiz Roberto Agea Cutolo Departamento de Saide Pébliea ~ UFSC Programa de Residéncia Médica em Pedi Marco Aurétio Da Ros Departamento de Saide Pébliea ~ UFSC Arménio Matias Corréa Lima GEPECISC- UFSC SES SC Resumo 0 trabatho aborda a teoria do conhecimento de Ludwik Fleck, a- nalisando as origens ¢ 0 contexto que orlentaram sua produedo, desde 0 contato com a Escola Potonesa de Filosofia da Medicina. Contrapondo-se ao empirismo ligico, Fleck, nos anos trinta, de senvolve uma perspectiva epistemolégica em sintonia com o refe~ rencial construtivista/interacionista, fundamentando-se numa ané- lise embasada na sociologia do conhecimento. Sao apresentadas suas principals categorias analiticas e resgata-se 0 papel do mo~ Sociogenesis of knowlegde and resear of reference * Recebido: agosto de 2001. Acct: dezembro de 2001 12: contibutions from the Fleckian point * rabatho apresentado no Il Encontro Nacional de Pesquisa em Educagio em Cigncias, Valinhos, 1999. Pequenasalteragbes foram realizadas. Doutorandos do Programa de Pés-Graduagio em Educagao (Ensino de Cigncias) da UFSC 2 (Cad, Bras Ens, Fis, 19, mimero especial: p. $269, jun, 2002, delo fleckiano na teoria dos paradigmas de Thomas Kuhn. Argue menta-se sabre 0 potencial do modelo de Fleck como referencial para a pesquisa em ensino nas dreas de ciéncias naturais ¢ da sa- tide, citando-se alguns trabalhos procucidos. Palayraschave: Sociologia do conhecimento; Fleck; para digmas. Abstract, This study examines the theory of knowledge of Luchwik Fleck, a- nalysing the origins and the context that guided its production from first contact with the Polish School of the Philosophy of Me~ dicine, Setting himseself against logical empirism, Fleck, in the 30s, developed an epistemological perspective in tune with the constructivisinteractionist point of reference, establishing it in an analysis based on the sociology of knowledge. The principal ana- Iytical categories are presented and the role of the Flekian modet in Thomas Kuln’s theory of paradigms is resurrected. The potential of Fleck's model as a reference point for research in teaching in the natural and health science is discussed and some of the result- ing literature is presented, Keywords: Sociology of knowledge: Fleck: paradigms 1. Ludwik Fleck ¢ 0 contexto da sua producio Ludwik Fleck (1896-1961), médieo polonés, tem sua produgo epistemo- ogica contempordnea & de outros fil6sofos da ciéncia, fais como Bachelard e Pop- per, que nos anos 30 assumem posigdo critica em relagdo ao empirismo logico. O livro de sua autoria “Emstelung und Entwicklung einer wissenschaftlichen Tatsache" (“A Génese ¢ © Desenvolvimento de um Fato Cientifico) & publieado pela primeira vez em 1935, mas somente em 1961, quando Thomas Kuhn esereve seu liveo “A estrutura das revolucdes ciemtificas” e em seu prélogo alirma que © livro de Fleck The havia sugerido muitas idéias, que se pdem em marcha os estu- dos a respeito deste autor (Schafer & Schnelle, 1994). Hoje é considerado na Euro- pa como pioneiro na abordagem construtivista, interacionista ¢ sociologicamente orientada sobre hist6ria ¢ filosofia da ciéneia (Cohen & Schnelle, 1986; Liwy, 1990a; Lie, 1992). Datizoicoy,D. eta 3 Fleck nasceu em Lwéw (entio denominada Lemberg), filho de familia jue dia, em 1896, na regio da Galicia que hoje faz parte da Uctdnia. Os limites sempre muliveis da geografia nesta regio io peculiarcs e fazem nexo com a génese do pensamento de Fleck. Em 1896, a Galicia pertencia ao Império Austro-Iingaro (embora cem anos antes pertencesse a0 entdo extinto Império Polonés). Apés a Primeira Guerra Mundial, passa a pertencer & Polonia, e apos a Segunda, a Ucrinia (Da Ros, 1996), ‘Apés sua formatura no curso de medicina, Fleck trabalhou como elinico xgeral, mas especialmente apés 1920, passou a trabalhar em laborat6rios, desenvol- ‘vendo varias pesquisas na area de microbiologia e bioquimica. Sua primeira incur 10 no terreno da epistemologia d-se em 1926, em Lwow, quando profere uma cconleréncia sobre earacteristicas especificas do modo de pensar médico na Soci dade de Amigos da Historia da Medicina (filiada a Sociedade Polonesa de Filosof Historia da Medicina). A conferéneia fot publicada no ano seguinte numa revista polonesa sobre historia c filosolia da modicina ((1927} 1990). A relativa autonomia concedida pelo Império Austro-Hangaro as areas de origem polonesa, ndo significava abrir mio da influéncia cultural ¢ ciemtifiea de Viena sobre Lwaw. O clima cientifico era, por influéneia de Viena, entio, mani tamente intenso ¢ interdisciplinar. Entre 1895 ¢ 1930 a Escola de Filosofia Lw6w- ‘Varsévia, de orientagio ncopositivista softia influéncia direta do Circulo de Viena Mas havia também outros circulos cientificos bastante ativos se reunindo em Lwow: de biologia, bioquimica, matemitica © medicina, ¢ Fleck transitava por cnnire todos cles, Schitfer © Schnelle (1986) lacalizam neste caldo cultural, ¢ mais nas leituras sistemiticas de autores como Durkheim, Jerusalem, Levy-Bruhl © na teoria da Gestalt, a génese do pensamento de Fleck. Tana Lowy (1990), na introdugao do seu livro “The Polish school of phi- Josophy of medicine” (“A Escola Polonesa de Filosofia da Medicina”), sem desca- racterizar a importdncia relativa da leitura desse autores, caracteriza Fleck como herdeiro ¢ continuador das geragdes de médicos-filésofos poloneses . Esta escola de pensamento assume uma forma original de pensar a medicina na Poldnia, em fungdo de condigaes peculiares que este Pais passava ao final do século XIX. Os médicos hoje detectados como vinculados a esta escola, a cla se ligavam por esta- rem preocupados com historia, filosofia, sociologia e epistemologia da medicina Entre a primeira publicago de Chalubinski ([1874] 1990), ¢ altima publ ceacdo de Kramsztyk ([1907] 1990), dezenas de artigos ¢ livros foram publicados. Dentro eles também destacamos, pela importancia na formago das bases do pen- samento fleckiano, Biernacki ({1898] 1990) ¢ Bieganski ({1897] 1999), Algumas (questdes levantadas j anunciavam 0 que Fleck viria a sistematizar mais tarde: a - A forma como cada escola, cada modo de pensar, se instila fortemente na formagao de jovens médicos (Chalubinski, [1874] 1990); b - Pensar medicina € mais eomple- xo que uma ciéneia que resolve “puzzles” (Biernacki, [1898] 1990); ¢ - A no ne Ey (Cad, Bras. Ens, Fis, 19, mimero especial: 2002, 52469,) tralidade da eigncia, a visio a priori do observador (Keamsstyk, [1897] 1990); d= A ligaglo enirs historia, medicina social ¢ cpistemologia médica (Bicganski, [1897] 1990); e - A dificuldade de transposiedo entre uma linguagem cientiica para outra cincia (Kramsztyk, [1897] 1990); f= O “fato” como eriagio do cientista, que toda visto cientifica & uma visio com vigs (Kramsztyk, [1898] 1990); g - O descnvol- ‘vimento de uma cigncia determinada, inluencia o desenvolvimento de outa, © por conseqiéncia, a necessidade de um trabalho interdiseiplinar (Kramselyk, [1895] 1990), ‘Quando se toma contato com as publicagdes ¢ a discussio acumulada por cesses autores, pereebe-se inequivocamente a influéncia dos mesmos como prioriti- rios na produgo de Fleck, Fleck nfo cita em suas obras a Escola polonesa, nem qualquer autor pertencente a cla, o que induz, a quem no conhece a historia da Polinia, a descaracterizar essa influéacia. No entanto, um dos colaboradores de Fleck, ¢ seu ex-aluno, K, Goldfinger relata que Fleck recomendava fortemente a leitura de Kramsvtyk. Talvez a grande influéncia anti-semita reinante na Poldnia jé bem antes da II Guerra ¢, tendo a Escola ficado em mios de anti-semitas, tenha induzido Fleck a “desconsiderar” sua existGneia, Construindo sua forma de pensar tendo como face a pritica laboratorial na qual estava atuando (Lowy, 1990), Fleck desenvolve em seu livro um estudo sobre 4 génese da reagiio de Wasserman, entio usada para 0 diagnéstico da sifilis. Valo- riza © contoxto historico-psico-cultural ao analisar como se processa a introdugio de um cientista numa nova forma de pensar, ou, como ele denomina, num novo “estilo de pensamento”, Integra na sua anilise, portant, aspectos relatives 4 dete ‘minagdo social da investigagdo cientifica envolvides no processo de produgo de cconliecimento, usando ¢ caracterizando suas prineipais categorias epistemoldgicas Cem franca oposigaio ao positivismo légico do Circulo de Viena, A primeira edigao do livro, em 1935, foi de apenas 600 exemplares, publ ceado em alemao, por um editor suigo. A pequena tiragem possivelmente decorreu do fato dele ser judeu, e de que no periodo era erescente 0 anti-semitismo navista ‘Sou resgate inicia-se com a citagio que Kuhn fiz em 1962, a0 publicar seu livto, & com Baldamus em 1966 (Cohen & Schnelle, 1986), disseminando-se, entdo, com a primeira traduedo para a lingua inglesa do livro, prefaciada por Kuhn ¢ publicada tem 1979 pela Universidade de Chicago, seguida da 2* edigio em alemio, publicada em 1980. Entre 81 © 84 Sio realizados simpésios ¢ colbquios sobre a concepga0 ‘leckiana. Hoje podemos verificar que existem especialistas em Fleck, na Inglate ra, Franga, Alemana, Itilia, Holanda, Israel, EUA, com anzlises diferenciadas da Datizoicoy,D. eta 8s visio fleckiana de construgio do conhecimento, e outros, utilizando suas bases cpistemoligicas para desenvolverem pesquisas 11. A perspectiva fleckiana da produgio de conhecimento Fleck trabalha, a semethanga de outros epistemélogos, © modelo interativo do processo de conhecimento, subirsindo, portanto, a neutralidade do sujcito, do objeto e do conhecimento, afinando-se claramente com a concepeo construtivista dda verdade. O conhecimento a que se refere esta intimamente ligado a pressupostos ¢ condicionamentos sociais, histGricos, antropologicos ¢ culturais c, 3 medids q se processa, transforma a realidade. Trenn e Merton, editores da versio em inglés do livro de Fleck, consideram que Fleck “Parece ter sido 0 primeiro a aplicar sistematicamente prineipios da sociologia & origem do conhecimento cientifico” (1981, p.154). ‘Thomas Sehnelle, um dos editores do livro de Fleck em alemio, afirma em “Cognition and Fact” que “Fleck é considerado acima de tudo uma figura clissica em sociologia, como um des primeiros fundadores da maneira sociolégica de observar um fendmeno que antes era investigado apenas filosof ‘camente: 0 conhecimento ciemtifico” (1986, p-262). Sua abordagem epde-se claramente ao modelo cmpirista-mecanicista, atri- buindo ao sujeito um papel ative que introduz ao conhecimento, uma visio de realidade socialmente transmitida, Para ele a realidade no existe enquanto abstra- ‘¢20 do sujeito ou reflexo do objeto de forma independente, Argumenta também que a relagio cognoscitiva niio deve ser entendida como uma relagio bilateral entre 0 ccognoscente © 0 objeto a conhecer. Um terceiro fator, o “estado do conhecimento”, deve compor, de forma fundamental, o tripé da relago cognoscitiva (Fleck, 1986). Este terveiro fator deve ser entendido como as relagdes histéricas, sociais e cultu- rais que marcam, segundo Fleck, o estilo de pensamento onde 0 coletivo de pe! mento € permeado: “O conhecer representa a atividade mais condicionada soci- almente da pessoa © 0 conhecimento é a criagao social por exceléncia" (Fleck 1986, p. 89), Nosso grupo no Programa de Pés-Graduasdo em Educago da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGEJUFSC) tem estudado sistematicamente a obra de Ludwik Fleck a partir de trés versies do livro “Genése ¢ desenvolvimento de um fato cientitico: inrodugao A teoria de estilo de pensamento e coletivo de pensamento” (“Enistehung und Entwicklung ciner wissenschafllichen Tatsache: Einfihrung in die Lehre vom Denkstl und Denkkollek- tiv": © original em alemio ([1935] 1994) e as tradugdes para inglés (1979a) e espa- nbol(1986). Sempre que necessirio, comparagies so realizadas entre elas. Diferengas tm sido encontradas em alguns pontos. 56 (Cad, Bras. Ens, Fis, 19, mimero especial: 52469,) (0s pressupostos sociais ¢ histiricos do sujeito, “estilizados" dentro do co Ietivo de pensamento, sio chamados de conexdes ativas, ¢ 0s resultados que carac- terizam 0 que se petecbe como “realidade objetiva” slo chamados de conexdes passivas. Ambas conerdes, no entanto, nilo podem ser vislas de forma dicotémica, pois esto presentes uma na outra, se engendram ¢ se constituem (Fleck, 1986), (0s fatos cientificos s40 condicionados ¢ explicados sécio-historicamente, Interdependentes, formam um continuum em que as experigneias do presente esti Tigadas as do passado ¢ estas se ligarto as do futuro, Sto as chamadas protoidéias ‘ou pré-idéias (idGias originérias), esbogos hist6ricos evolutives pré-cientificos das teorias atuais. Constituem concepgies surgidas no pasado que se mantém apesar {das variagdes dos estilos de pensamento, Fundamentam uma relagio de depen: cia das concepgiecs tebricas atuais com respeito as preteridas. No entanto, Fleck destaca que nem todo fato cientifico atual é proveniente de uma protoidéia e que nem toda protoidéia seri cristalizada em fato cientifico. (Fleck, 1986), Assim surge 0 fato: primeiro uma manifestagao de resistencia em um pen- samento castico inicial, entiéo uma coercio determinada do pensamento, finalmente wma configuracao imediatamente percebida. E ele sempre é un acontecimento conectado com a historia do pensamento, sempre re- sultado de determinado estilo de pensamento (Fleck, 1994) . Em um antigo (Zur Krise der “Wirklichkett” - Sobre a Crise da Realidade) de 1929, Fleck introduz- as categorias coletivo de pensamento e estilo de pensamen- to, Segundo ele: “Todo saber tem seu préprio estilo de pensamento com sua espe~ cifica tradicao e educacdo... cada jeito (modo) de saber seleciona diferentes ques- es, e as conecta com diferentes regras e com diferentes propsitos” (Fleck, 1990 © p49), Dois anos antes escreve um artigo cujo objeto ¢ a caracteristica do pensar médico (Fleck [1927] 1990). E neste artigo onde podemos encontrar um esbogo do estilo de pensamento médico, sem que, porém, Fleck empregue o termo que mais, tarde, cm sua monografia, seria melhor aprofundada ¢ explicitada: O estilo de pensamento consiste...em uma determinada atitude & um tipo de execucio que a consuma. Esta atitude tem duas partes estreitamente relacionadas entre st: disposigdo para um sentir seletivo e a agdo conse- gitentemente dirigida (Fleck, [1927] 1986 b, p. 145). Fleck entende que a disposieao para o perceber orientado constitui o prin- cipal componente do estilo de pensamento (Fleck, 1986b), que tem como raiz. uma disposigaio para ver, observar ou pereeber de forma dirigida, originiria da tradigo, “Todas citapies deste artigo sto de tradugio nossa Datizoicoy,D. eta 7 formagio ¢ costume (Pleck, 1986b). © coletivo de pensamento compartilha da atitude estilizada, de forma disciplinada (Fleck, 1986b). Se definirmos ‘coletiva de pensamento” como uma comunidade das pes- soas que estio em intercémbio ou interacéo de pensamento, entiio temos rela 0 portador do desenvolvimento histérico de uma drea do pensamen- to, de um determinado estado do conhecimento ¢ estado da cultura, ou se= ja, um estilo de pensamento em particular. Com isso, 0 coletiva de pen- samento prove o membro que faliava do relacionamento buscado (Fleck, 1994, p. 54-5). Fleck esta aqui referindo-se ao terceiro fator, 0 fator que esta mediando a relagiio entre sujcito cognoscente ¢ objeto do conhecimento, 0 coletive de per ‘mento constitui-se na unidade social da comunidade de cientistas de um campo determinado (Schafer & Sehnelle, 1986) que se expressa como o culto comum a tum ideal de verdade ¢ clareza (Fleck, 19866). Ele determina os problemas que the interessam, os métodes empregados para resolvé-los e os eritérios de andlise do observado (Fleck, 1986b; Lowy, 1994a; Lowy, 1996). O coletivo de pensamento pode ser expresso como o portador comunitirio do estilo de pensamento, na medi- da em que hi uma certa cumplicidade entre seus membros, uma socializagao de estilo ¢ um culto comum de ideal de verdade (Fleck, 1986). Fleck (1986) utiiza- da Psicologia Gestalt para fazer uma critica aos empiristas, Afirma que a negagio do ver formativo um absurdo tanto ldgica quanto psicologicamente. Cada fato cientitico deve ser contextualizado, Somente uma epistemologia ccomparada que historicize ¢ sociologize © fato cientifico pode compreender a tran- sitoriedade da verdade cientifica. “As verdades” que se mostram esto impregnadas de um estilo de pensamento condicionado pela atividade historico-social do ser hhumano. A instauracdo de um novo estilo de pensamento geralmente implica numa perda da capacidade de observar certos aspectos, muitas veres relovantes, do estilo anterior (Lowy, 19946). Apesar disto, o deslocamento das pressuposigds anterio- res permite o aparceimento de novas possibilidades de interpretagao ¢ eria fatos novos (Fleck, 1986). Nesta primeira fase, a da instauragZo, ocorre inicialmente um ver confuse, pouco desenvolvido ¢ pouco articulado. Num segundo momento, ppassa-se por um processo ou estado de experiéneia irracional, formadora de concei- tos. Por iltimo, o ver formative ji estilizado permite a construgao do Fato cientifica de forma mais elaborada, “s6lida”, estruturando um novo coletive de pensamento (Fleck, 1986). Apés um periodo de instauragio, segue-se um perioda de extensto do no- vo estilo de pensamento. E nesta fase que se estabelece o que Fleck denonima a * ste pardgrafo estd omitido na versio em espanbol 5 (Cad, Bras. Ens, Fis, 19, mimero especial: hharmonia das ilusdes, onde um sistema de idgias relativamente eficaz promove uma intrinseca harmonia do estilo de pensamento, adaptando 0 cognoscente a0 conheci- do c a origem do conhecimento dentro da visio agora dominante (Fleck , 1986; Schifor & Schnelle, 1986) ‘A manutengdo desta harmonia exige uma atitude de coergio de pensamer to. 0 coletivo exerce sobre scus componentes uma coereo para © ver dirigide. A transigio do olhar “caéstico” inicial para o ver formative acorre mais como uma doutrinagdo do que como um estimulo do pensamento critico-cientifico. “Toda introdugao didatica & um ‘conduzir-dentro” ou uma suave coergao” (Fleck, 1986). Dentro da fase de extensio do estilo de pensamento podem suceder dois grandes ‘momentos: classicismo ¢ complicagdo. No primeiro, s6 se observam 0s fatos que s ceneaixam perfeitamente na tcoria dominante, Na segunda, lornam-se conscicntes as cexcogdes (Fleck, 1986). 0 coletive de pensamento “lula” de forma herdica para a ‘manutengio da harmonia das ilusdes, porém as complicagdes do estilo de pensa- ‘mento podem se tornar ferramentas preciosas para que, aps um periodo de instau- ragao € extensio, surja a fase de mudanga de estilo de pensamento ¢ 0 ciclo se 0s estilos condicionam o saber dos diferentes coletivos de pensamento. saber &, portanto, uma atividade social por exceléncia e ndo pode ser compreendido como ato individual. O esforgo cientifico exige um trabalho claramente cooperati- vo, possivel com a circulago de idéias intercoletivas e intracoletivas. O trabalho coletivo pode ser aditive ou coletivo propriamente dito. O primeiro implica em soma de esforgos equalitarios que buscam resultados de incremento, © segundo cconsiste em criar coletivamente uma estrutura que ndo ¢ igual & soma dos trabalhos individuais (Fleck, 1980). (0s fatos cientificos construidos pelos coletivos de pensamento so assim lados ¢ estilizados, ou soja, traduzidos em seu proprio estilo, por outros coletives de pensamento, Tal tradugdo implica em modificagio, Os fatos nao Sio mais os _mesmos, uma vez processidos ¢ estilizados (Lowy, 1994a; Lowy, 1994b). Segundo Fleck, existem matizes de estilo de pensamento que configuram distanciamentos (ou aproximagies) entre os modos de ver estilizados. Estes tons permitem retraduedes do fato cientifico por determinado coletive dentro de seu cetilo ou os tomam incomensuriveis. Parece que a retraduio ji implica, de certa forma, no reconhecimento da existéncia da incomensurabilidade. Termo que Fleck usa pela primeira vez em seu artigo de 1927 em polonés, podendo significar incon- gruéncia (niewspélmiemase) (Schafer & Schnelle, 1986), ¢ no original alemo da ‘monografia emprega a palavra incomensuravel (inkommensurabel) (Fleck, 1994) Para referir-se aos matizes de estilo de pensamento, Lowy (1994a) toma da lingiistica e da sociologia da ciGncia as expressses ‘tradugio’, ‘conotagiio’, “zonas de troca” ¢ “objeto limitrole” translation’, ‘connotation’, ‘trading zones’, and ‘boundary object’). Objetos limitrofes so conceitos que aparceem pouco Datizoicoy,D. eta 38 estruturados no uso em comum, mas fortemente estruturados no uso especifico. Eles auxiliam a interagio na zonas de troca enire mundos sociais diversos. A tra- dugio dos conceitos de um coletivo de pensamento (ou cultura profissional) para ‘outro, transposicio © assimilago de elementos de outro estilo de pensamento é denominada conotagio. estilo de pensamento estrutura-se em circulos esotéricos concéntricos, ‘onde mantém coergiio mais intensa e a partir dos quais interage com 0s circulos que Thes sio exotéricos. E no processo de desenvolvimento dos estilos de pensamento {que surgem matizes nesses estilos. Os diferentes coletives de pensamento se rela- cionam e se articulam entre si através de circulos 0 esotérico e exotérica. Entende- se por circulo esotérico: "A delimitacdo pelos especialistas de um campo de pro~ blemas dentro da generalidade cientifica” (Schater & Schnelle, 1986, p. 32) Um outro cireulo maior, exotérico, que também participa do saber cient co, porém com um discurso mais simplificado (no iniciado), se forma ao redor daquele. O eirculo exotérico no se relaciona dirctamente com 0 falo cientifico, ‘mas pela mediagao indireta do circulo esotérico, Estabelece-se, desta forma, sem- pre uma relagiio das circulos esotéricas com scus eirculos exatéricas corresponde tes bascado na confianga nos primeiros, “iniciados”, c nas necessidades objetivas dos segundos, “leigos formados”,(Fleck, 1986). O pertencer a um cireulo ou a ‘outro s6 faz sentido se relativizado, se comparado com o circulo correspondente Quanto mais se afasta do niicleo esotérico em diregdo a periferia exotérica, mais, simplificada é a tradugio do fato cientifico. Pela migragio sécio-cognitiva de fragmentos de conhecimento pessoal a- través do coletive — dentro do eirculo esotérico e pela interago com os circulos exoléricos ~ consolida-se a ciéncia hegem@nica (de “livto texto” ou de vade me cum). A passagem de um estilo de pensamento para outro ~ mudanga no direcio- rnamento da percepedo ~ resulta, de um lado, no surgimento de capacidade para dobservar ¢ lidar com determinados aspectos ¢ fatos ¢, de outro, na perda dessa capacidade para outros aspectos ¢ falos. Estilos ¢ coletives de pensamento distin- 10s apresentam incomensurabilidades, ou incongruéncias, entre si. Fatos cientificas em um coletivo de pensamento so entendidos de outra forma em outro coletivo (Lowy, 1994b). Ao investigador ingénuo, limitado pelo seu préprio estito de pensamento, estilos de pensamento alheios apresentam-se como imagens fantasiosas irrefreadas, pois sé pode ver neles 0 ativo, quase arbitririo. O préprio estilo de pensamento, em contraste, parece-the o forcoso, pois a sua pas- sividade propria, através da participacdo no trdnsito intracoletivo de pensamento, esta deveras consciente para ele, mas a sua atividade pré- ria the é natural, quase tao inconsciemte quanto a respiragdo (Fleck, 1994, p. 185-6). « (Cad, Bras. Ens, Fis, 19, mimero especial: Fleck caracteriza o estilo de pensamento cientifieo modemo pela inclina- ‘lo assimilagio e & percepedo dirceionada de maneira especifiea. A tal inclina- 0 corresponde uma sintonia ou disposigdo (Stimmung) propria do estilo © do coletivo de pensamento. Para Fleck, a disposiglo intelectual earacteristiea do pen- samento cientifico modemo manifesta-se como reveréneia pela objetividade, pelo rnlimero ¢ pela forma; como glorificage da dedicago ao trabalho © como uma tradigio propria, Fleck como referéncia para Kuhn As calegorits os conceitos tericos de Fleck tiveram grande significado para Thomas Kuhn, como cle proprio tetemunha no precio de sua clissica obra A Esinura das Revolugdes Cientificas.."O trabalho de Fleck, juntamente com uma observaca de outro Jinior Fellow, Francis X. Sutton fez-me compreender qe essas kdias poderiam necessitar de uma colacacdo no dmbito da Sociologia tle Comumidade Cienifica. Embora as litres encontrem poncas referencias (qualquer dessestrabathos ou conversas, devo a eles mais do que me seria possivel reconsruir ow avaliar neste momento” (Kahn, 1962] 1975, p11). “Tomando como objelo de extudo os coahecmentos produzidos pla sic, Kuhn (1975) se posiciona contra os fundamentos do positivismo légico, utilizando 2 adlisehistrica como instrumento de pesquisa para a tcoria do conecimento. Para cle 08 cientsias sto formadas dentro de uma visto de mundo, a qual tem papel dcterminante quan di aesto um paradigms Kubin (1975) distinge dois momentos quc sc intercalam no desenvolvimen- to histirico do conkecimentocientfco, os quai denomina de "ciéacia normal” © “revolves ceniies”, Durante periade de cigneia normal tod investi se desenvalve dentro de um paradigma que é um padirio muito bem estbclccido que determina os problemas, os mdtodos de investiasdo, as cores c as solugdesacei- tiveis todo um corpo de eonhecimento cientifieo do momento histrico,baseado cm realizagdes cicntfcas passadas. E durante este periodo, quando o paradigma cath devidementeextabelecida, que ocarre o progrsso da cifacia srawés da produ «0 curulativa do conheciment 0 petiodo de revolun 2 & antcipado por crises no paradigma dominant As ancenalias comogam ase apresnlardesafiando as soliugBes propos- tas pelo paradigm cstaelecide, Como conseqiéeia nova tories © moves conhe- cimentos so claborados, eno proposo um outro paradigma sob uma nova visdo cienti de mundo ¢ uma nova mancira de resolver problemas, Nessa fase ocorre a amplia- ‘¢80 do conhecimento através de um processo caracterizado pela desei Essas trés eategorias, Ciéncia Normal, Paradigma ¢ Revol io marcantes na obra de Kuhn. A partir do exposto no item anterior pode-se notar Datizoicoy,D. eta a a forte influéncia que a leitura de Fleck exereeu sobre Kuhn, a ponto de levi-lo a se apropriar de catcgorias ¢ com clas trabalhar magnificamente na produgio de su livro. Passemos @ comentar alguns pontos. Fleck ji advogava que toda teoria abarcante passa por dois periodos: - & poca clissiea ~ em que $6 se observam fatos que se eneaixam perfeitamente na {coria dominante, constituindo a fase da “harmonia das ilusies” com a conseqiiente cextensio do estilo de pensamento instaurado, © outro - periodo das excogdes - € ‘marcado por complicagées da teoria dominante. Fleck argumenta que “... as gran- des transformacies de estilo de pensamento ¢, portanto os descobrimentos signifi- cativos, surgem com muita freqiiéncia em épocas de confusao social geral. Tais “épocas intrangitilas” mostram a luta das idéias, as diferencas nos pontos de vista, cas contradigoes, auséncia de elaridade, a impassibilidade de perceber imediata- mente uma forma ou um sentido. De uma situagdo tal surge um novo estilo de pensamento” (Fleck, 1986, p. 141, em nota de rodapé) A questio da incomensurabilidede, categoria também discutida por Kuhn, € abordada por Fleck ao advertir que a enfermidade tem que ser considerada sob diversos dngulos. Para ele, nfo existe na medicina uma concepeio unitiria como aacontece em outras areas do saber, por exemplo como o atomismo na quimica. “A necessidade de concepedes distintas dos fendmenos da enfermidade conduz & ‘incomensurabilidade’... de suas idéias tedricas” (Schiffer y Schnelle, in Fleck, 1986, p.20). No entanto, Fleck reconhece aproximagoes ou distanciamentos entre estilos de pensamento, caracteristica que cle denomina de matizes de estilo de pen samento, Kuhn (1975) refere-se incomensurabilidade entre paradigmas quando adverte, por exemplo, que os novos paradigmas estabelecidos contém elementos dos paradigmas anteriores (termos, conecitos ¢ experiéneias). O que os diferenc fam, argumenta 0 autor, sdo as novas relagdes que se estabelecem entre esses ele- ‘mentos e que, tal fato, leva a incomensurabilidade, uma vez que grupos de espeei istas que compartilham paradigmas distintos, ou mesmo rivais, vem coisas dife- rontes quando olham 0 mesmo objeto. Fleck adverte que hi uma dependéncia hist6- rica entre os distintos estilos de pensamento, Um estilo de pensamento instalado contém vestigios que decorrem do desenvolvimento histérico de muitos elementos de outros estilos. A categoria de estilo de pensamento, génese do que Kuhn caracteriza co ‘mo paradigma, deste se diferencia pelo fato de considerar nao s6 o desenvolvime: to historico das ciéneias maduras, como fz Kuhn, mas também o desenvolvimento das idias de outros eampos do saber. ‘Witich (1986) argumenta que 0 conceito de estilo de pensamento de Fleck ccontém maiores possibilidades do que conceito de paradigma de Kuhn, no que se refere ao entendimento teérico do pensamento cientifico como uma parte do pro- ccesso da vida espiritual da soviedade. e (Cad, Bras. Ens, Fis, 19, mimero especial: 0 termo paradigma aparece pelo menos em trés momentos no livra de Fleck (1986, p. 123-158-168) como sinénimo de padriio, Ainda que Fleck 0 utilize apenas para analise de algumas situagies que cle julga pei ‘com o terme estilo de pensamento, Para Kuhn, assim como para Fleck, paradigma e estilo de pensamento, respectivamente, se instalam na medida em que sio compartihados por grupos de individuos, originando dessa forma, uma comunidade de cientistas ow um coletivo de pensamento A insergo de iniciantes em uma comunidade cientifica se dé pela apropri ago do paradigma. Nesse sentido Kuhn chama a alengio para a importincia que textos ¢ manuais exercem na formagio do especialista: "Manuais ciemtficos expdem 0 corpo de teoria aceita, ilustram ... as suas aplicagaes hem sucedidas & comparam essas aplicacies com observacoes ¢ experiéncias exemplares” (Kuba, 1975, pp. 30-31). Cita exemplos como, a Fisica de Arist6teles, a Almagesto de Piolomeu, os Principia e a 6ptica de Newton, a Bletricidade de Franklin, a Quimica de Lavoisier ¢ a Geologia de Lyell ~ que por algum tempo detiniram, implicitamen- tec, os problemas ¢ métodos legitimos da cigncia “Também encontramos a mesma posiga0 em Fleck (1986) quando refere-se ao peso da formagio inicial advertindo que € dessa fase que se imitam os modelos, (8 equipamentos tedricos ¢ a forma de trabalho. A introdugio didatica em um cam- po do saber, em um estilo de pensamento é vista por Fleck como um doutrinamen- to, dominado por um ensino puramente dogmitico, Os textos, adverte, desempe~ nnham papel importante nesse “ritual de iniciago" ¢ cita como exemplo o livto de Citron - “Os Métodos de Imunodiagndstico e da Imunoterapia” que desempenhou © papel de um verdadeiro ‘eatecismo” na area de conhecimento da Imunologia. estilo de pensamento no qual o individuo foi inscrido, segundo Flock, passa a mediar a relagio sujeito objeto, exercendo certa coersio no observar, per- mitindo um ver formativo, direto e desenvolvido. Essa coergao de pensamento faz ‘com que os membros de um coletive venham a rejeitar, a reinterpretar os fatos que ccontradizem os pressupostos que embasam o estilo de pensamento dominante, Kuhn também se refere ao apego dogmatico da comunidade cientifica ao paradiz~ ‘ma dominante, revelada, particularmente, pelo pré-conceito ¢ resisténcia em reco- nnhecer as anomalias a exaustio do paradigma vigente com vistas & sua substi sao. liares, no © associ Para ambos os autores ~ Fleck ¢ Kuhn ~ 0s problemas, a linguagem ¢ os figos lechados constituem earacteristicas de um grupo esotsrico, representado, respectivamente pelo coletivo de pensamento © pela comunidade de cientistas. Ao redor desse grupo se estabelece um grupo maior, 0 exotérico cujo saber a ele desti- nado é simplificado a fim de tomé-lo acessivel e compreensivel Em sintese, se para as categorias incomensurabilidade ¢ circulos e- so/exotéricos Kuhn delas se apropria literalmente, para as demais eategorias, embo- Datizoicoy,D. eta 6 ra parecendo manter @ mesmo sentido, as denomina distintamente. Assim, para- ddigma tem paralclo com estilo de pensamento; comunidade cientifica com coletivo de pensamento; ciéncia normal com extensdo do estilo de pensamento; revolugo cientifica com transformagio do estilo de pensamento e anomalias do paradigma ‘com complicagéies da tcoria dominante, Poderiamos caracterizar a teoria de para- digmas de Kuhn como um caso particular da teoria de estilo de pensamento de Fleck, aplicado ao conhecimento produzido por comunidades denominadas de ‘maduras, como foi o estudo realizado por Kuhn, IV. As categorias de Fleck os problemas de pesquisa em ensino Anda que a reflexo epistemoligica de Fleck tenha se destinado inicial- ‘mente & rca de Saiide/Medicina, onde a partir de uma perspectiva historiea articula s calegorias realizando um estudo de easo ao analisar as distintas compreensies ‘nos varios periodos historicos, desde a pré-ciéneia modema até o contem- porineo, sua argumentagio se amplia no sentido de propor uma teoria do conheci- ‘mento. Ele argumenta: A fertlidade da teoria do pensamento coletivo se mostra precisamente na possibilidade que nos proporciona para comparar e investigar de forma tuniforme o pensar primitive, arcaico, ingénuo... também pode ser aplica- do ao pensamento de um povo, de uma classe ou de um grupo. Considero ‘9 postulado da ‘experiéncia mexima’ como ai lei suprema do pensar cie1 tifico, pois uma vez que surgiu a possibilidade de uma epistemologia comparativa, este postulado se converte em uma obrigacio (Fleck, 1986, p. 98), Se de um lado Fleck parece estar descartando uma perspectiva epistemo- logiea relativista, ao destacar © que denomina de “experiéncia maxima” e a relagak desia com 0 conhecimento cientifico, por outro entende que sua proposta pode ser cempregada para uma compreensio gnoscolégica da produeo de conhecimentos por comunidades leigas do ponto de vista cientifica © a interagdo destas com as comunidades que produzem conhecimento cientifico. Além da utilizagao para in- vvestigagdes no ambito da Histéria, da Filosofia ¢ da Sociologia da Cigneia, que ‘vem sendo desenvolvidas na Europa, destacamos também o potencial deste modelo epistemoligico como uma referéncia para a investigagao de problemas de ensino de cigneias, ndo s6 por que suas eategorias analiticas poderiam ser aplicadas tanto para o caso do conhecimento do senso comum, como para 0 cientilico, e as possi- veis inferéncias que dai tirariamos para a busca de solugdes dos problemas de pes quisa, como também para agrupamentos de outros profissionais, como, por exem- plo, professores das ciéneias dos virios niveis de ensino. Este modelo, caracteriza- 4 (Cad, Bras. Ens, Fis, 19, mimero especial: do pela sociogénese do conhecimento, auxiliaria na earacterizagio e compreensio da atuagio de grupos de docentes, indicando novos caminhos a serem percorrides na formagdo inicial c continua de professores. ‘Com esta compreensio relativamente ao uso de Fleck para investigar a pritica docente, Delizoicov (1995), doutoranda do Programa de Pés-Graduagio em Educagdo da UPSC (PPGE), usou as categorias de estilo coletivo de pensamento para caracterizar uma amostra de professores de ciéncias naturais do ensin funda mental, de 5*a 8" séies, eom formagio em biologia. Mas é na drca da medicina e saide, particularmente no Brasil, que mais in- tensamente o referencial leckiano tem subsidiado pesquisas. A nivel internacional, ‘sinda que no especificamente na érea de ensino, a abrangéncia da contribuigdo de Flock para a pesquisa atual nas varias éreas do conhocimento é bem caracterizada nna publicago organizada por Cohen © Schnelle (1986) ~ “Cognition and Fact”. ‘Além disso, destacamos os varios trabathos de Lowy" que se utiliza das mesma calegorias para analisar a historiografia recente da pesquisa biomédica © Oudsho- ‘om (1990) que estuda as relagdes das diferentes coletividades nas pesquisas sobre (0s horménios sexuts [ino Brasil, Koifinan (1996) estudou uma mudanga curricular no curso de Medicina da Universidade Federal Fluminense usando as eatogorias do modelo fleckiano e no Programa de Doutorado em Enfermagem da UFSC, Backes (1999) estudow os estilos de pensamento que nortearam o estdgio em enfermagem, durante 4 formagdo profissional, ao longo da hstria No PPGE da UFSC, além do ja mencionado trabalho de Delizoicov (1995), Da Ros (1995) estudou a adequagio da abordagem fleckiana para uma compreensio da produgdo em saide pablica e Cutolo (1995) estudou mudangas no estilo de pensamento médieo ocorrido no século XIX. Atualmente em desenvolvi- ‘mento, podemos mencionar os seguintestrabalhos: Castlho (1999, 2001) que estu- da a instauragio, extensio e transformagio dos estilos de pensamento que permea- ram as coneepgdes sobre 0 trajeto de sangue no compo humano; Cutolo (1999, 2001), que analisa a grade curricular do curso de medicina da UFSC, caracterizan- 4o os estilos de pensamento presentes; Da Ros (1999, 2000), que vem estudando os estilos de pensamento presentes nas dissertagies ¢ teses defendidas na Escola de Satide Pablica da USP ¢ na Escola Nacional de Sade Piblica da Fundagio Oswal- ddo Cruz; Lima (1999), que identifica os estilos de pensamento relativos a atengio primiria a saide. " tana Lowy, da Universidade Paris VII foi co-orientadora de um dos componentes deste grupo, no programa de bolsa sanduiche, ¢ em 1996, ofereceu curso sobre Fleck e a pesquisa tual no Doutorado em Ensino de Ciacias da UFSC. Datizoicoy,D. eta 6s \V. Referéncias Bibliogritficas BACKES, V. M.S. 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