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EDITE MARTINS ALBERTO. FREI ANDRE DOS ANJOS E OS RESGATES DE CATIVOS EM MELILHA (1579-1594) Separata de‘ TRINITARIUM Nim, 29 - 2022 pp. 239-263 SALAMANCA 2022 ‘TRINITARIUM 29 (239-263) Frei André dos Anjos e os resgates de cativos em Melilha (1579 -1594) Eprts Martins Alberto! Lisboa INTRODUGAO, Foi a partir do Convento da Santissima Trindade de Ceuta que os reli- giosos trinitétios, sob orientagio de frei Roque do Espirito Santo, orga- nizaram os tesgates dos cativos crist%os aprisionados em consequéncia da batalha de Alcicer Quibit. De Ceuta pastitam frades trinitétios para os ptincipais pontos do Magrebe, onde, nos anos seguintes ao conflito, identificaram e resgataram os portugueses que, aprisionados e vendidos, foram distribuidos pelo mundo mugulmano. Muitos desses cativos foram enviados pata a praca de Melilha, a partir da qual o trinitétio frei André dos Anjos conseguiu proporcionar a liberdade a mais de trés centenas. Da 1 Investigadora do CHAM-Centro de Humanidades, da Faculdade de Ciéncias Sociais ¢ Humanas, Universidade Nova de Lisboa ¢ Universidade dos Acores. Este estudo decotre da investigacio em curso no projeto de investigacio, coordenado pela autora, MOVING CITY — Cities made for war: an Exropean army in late Sixcteenth-Cen- ‘ty Morano (PTDC/HAR-HIS/5669/2020), financiado pela Fundacio para a Ciéncia € Tecnologia. O projeto tem como fim transcrever, estudar ¢ publicar documentos produzidos pela Ordem da Santissima Trindade em Portugal referentes s redenctes fetuadas apés a Batalha de Alcicer Quibir (1578) e identificar os cativos respatados de modo a conhecer os efetivos que compunham o exército que o rei D. Sebastiio pteparou para a referida Batalha, EDITE MARTINS ALBERTO andlise das crénicas e documentos do cartério da Ordem da Santissima ‘Trindade podemos identificar todos esses resgatados, contribuindo para 0 conhecimento dos que conseguiram regressar ao teino e, em tiltima anali- se, conhecet a realidade social que constituiu o efetivo militar que o rei D. Sebastiio organizou para levar a Aleécer Quibir. O presente ensaio tem por base a cronica Historia Chronolagica da Escla- recida Ordem da Santissima Trindade Redempeao de Cativos da Provincia de Por- ugal redigida por frei Jerénimo de Sao José, a tinica hist6ria impressa da a Ordem em Portugal, ¢ as crénicas manuscritas de frei Bernardino de Santo Anténio, frei Simao de Brito e frei Manoel de Santa Luzia que se encontram no Fundo Manuscritos da Livraria do Arquivo Nacional Tor- re do Tombo, em Lisboa. Pata além destes cédices, fundamentais para 0 estudo dos resgates apés a batalha Alcécer Quibir, recorreu-se também a bibliografia impressa, algumas de autoria dos cronistas citados, e de outros autores nao professos na Ordem da Santissima Trindade, que contribui- ram com as suas obras com informagées para a clarificagio do assunto em estudo. FREI ROQUE DO ESP{RITO SANTO E AS REDENCOES DE CATIVOS A figura ptincipal na organizacio do resgate dos ptisioneiros apés 0 desastre militar ocotrido na batalha de Alcdcer Quibir, em 1578, foi o padte frei Roque do Espirito Santo®. A sua acio jé se tinha evidenciando 2 ABatalha de Alcécer Quibir foi uma batalha travada em Marrocos perto da cidade de ‘Alcicer-Quibir (Ksar El Kebis), a 4 de agosto de 1578. Os portugueses, liderados pelo rei D. Scbastido, alindos ao exército do sultio Abu Abdali Maomé Sadi II, da dinastia Saadiana, combateram um grande exército liderado pelo sultio Abu Maruane Abdal ‘Malique I Szadi, que gozava do apoio otomano. A batalha resultou na derrota portu- ‘guesa ¢ aprisionamento ou morte de milhares de cativos, grande parte elementos da nobreza portuguesa, Além do sei D. Sebastiio, morreram na batalha os dois sultes tivais, dando origem ao nome “Batalha dos Trés Reis”, como ficou conhecida entre os martoquinos, O desastre militar levou, em termos politicos, 4 crise dinastica de 1580 que ditou o fim da Dinastia de Avis e deu inicio & uniio ibérica sob a dinastia Filipina ¢, em termos econémicos, a0 empobrecimento do pais pelos resgates pagos para reaver ‘08 cativos. Sobre a descriggo da Batalha, fontes documentais ¢ bibliografia, vide Luis Costa ¢ Sousa, Alnicer Quibir 1578. Visio ou Delirio de um rei?, Lisboa, Tribuna da Histé- tia, 2000. FREI ANDRE DOS ANJOS F OS RESGATES DE CATIVOS EM MELILHA. no ambito das teformas religiosas levadas a efeito no reinado de D, Joao ILD, altura em que o padte frei Salvador de Melo, da Ordem de Cristo — nomeado para reformat 2 Ordem da Santissima ‘Trindade ~ envia os pa- des trinitdtios frei Roque do Espirito Santo e frei André Fogaga a cidade portuaria de Argel, onde resgataram cerca de trezentos portugueses que af estavam cativos'. Foi este resgate que terd influenciado D. Catarina, repen- te de Portugal durante a menoridade do seu neto D. Sebastiio, a repensar a aco dos trinititios e a enviar os mesmos padres tedentotes, trés anos depois, novamente a Argel pata novo resgate, onde libertaram um “copio- so numero” de cativos®, O exercicio da tedengao de cativos pelos padres trinitdtios, havia sido interrompido em 1460 por ordem do rei D, Afonso V, com a ctiagio do Tribunal da Redencio dos Cativos, e consequente passagem dos resgates para a mio do rei, chamando a sia resolucio do problema do cativeiro’. Apesar dos apelos constantes por parte dos trinitérios junto dos monarcas € do papado, para que Ihes fosse devolvida a organizagio dos resgates, a situagio foi-se prolongando por sucessivos reinados. Fr Roque do Espitito Santo foi nomeado por quatro vezes provincial da Ordem da Santissima Trindade na Provincia de Portugal (1561, 1571, 1580 € 1586) e ficou conhe- cido como 0 “Apéstolo de Africa”, pelo seu papel na organizacao dos respates apés a Batalha de Alcicer Quibir a partir do Convento da Trindade de Ceuta. Para a sua biogtafia ver ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO [ANTT] - Manuscri- tos da Livraria n° 1968, Fr. Bernardino de Santo Antonio, Segunda Parte da Histiria da Provincia de Portugal da Ordem da S.ma Trindade, Redenio de Cativo, na qual se trata da vida, « mores das Redentores Gers que mula bout, Resgates de catvos,e Obras dgnas de memeiia[gua} nelles ¢ em suas vidas se fezerio. Livro 1; ¢ Ft. Jernimo de Sio José, Historia Chronolagica ta Esclarecda Ordem da Santitsima Trindade Redempyio de Cativos da Provincia de Portal, Lisboa, Officina de Simao Thaddeo Ferreira, 1789, tomo I, pp. 373-415. 3 OreiD, Joao III reinow entre os anos de 1521 ¢ 1557. 4 Sobre.a reforma da Ordem da Santissima Trindade vide Fr, Jernimo de Sto José, at, t1, pp. 356-365. 5 Fr Jeronimo de Sao José, a at, tI, pp. 437-439, D. Catarina, arquiduquesa da Austria, infanta de Espanha e rainha de Portugal, reinow entre 1525 a 1557, ano da moste de D, Joo III, com quem estava casada. Devido a menoridade do seu neto, sucessor ao trono, foi regente do reino entre 1557 © 1562. 6 Fr Jerdnimo de Sio José, op. cit, t. I, pp. 290-296. Sobre a fundacio e organizagio administrativa do Teibunal da Redencio dos Cativos ver Edite Martins Alberto, Um negici piedaso: 0 rewgate de cativas na dpoca moderna, Braga, Instizato de Ciéncias Sociais / Universidade do Minho, 2010 (Tese de doutoramento em Histéria Moderna), pp. 61-84. 241 [EDITE MARTINS ALBERTO. Agora, firuto do sucesso aleancado em Argel, D. Catatina, restituiu 4 Ordem da Santissima Trindade a organizacao dos resgates. O contrato ce- Iebrado com a Ordem, datado de 16 de maio de 1563, foi postetiotmente confirmado pela Bula de Pio V Quia Libemter’, assegurando a realizacio a exclusividade da Ordem da Santissima Trindade no resgate de cativos. “Com 0 dilatado embaraco quasi de hum seculo, tomatiio as Redem- odes, ¢ os tesgates varias formas, segundo o governo de quem os man- dava praticar, porque antes disto as faziio os nossos Religiosos sem El Rei, depois El Rei sem os Religiosos; e agora os mesmos Religiosos jun- tamente com El Rei”, Deste modo, a partir de 1563, € restituido o “espiritual da Redemp¢ao” 3 Ordem da Santissima Trindade, ficando com o exercicio de resgatar cati- vos cristios e os seus provinciais sesponsaveis por organizar ¢ dat parecer sobre tudo o que com esta atividade estivesse relacionado. Os padtes tri- nitarios setiam os tinicos “redentores” a atuar em Portugal ¢ nos seus do- minios. Situago diferente da que ocorria nos outtos reinos ibéricos, nos quais, os trinitirios dividiam esta obra de miseticérdia, com 08 religiosos da Ordem de Nossa Senhora das Mercés?. As fungdes temporais, ou scja, 2 execusio, a arrecadacio das esmolas ¢ tesouraria dos resgates ficavam nas miios do rei ¢ dos seus ministros através da Mesa da Consciéncia Ordens", Depois de noventa € sete anos, pelo tempo de vida de quatro monar- cas, sem poder organizar qualquer resgate, os padtes trinitétios vém res- tituido o seu institato. Em 1565, frei Roque do Espitito Santo, agora em companhia de frei Manuel Nunes de Santa Maria, resgata 230 cativos em Fez e Tetuio, Juntamente com os cativos foram portadores de uma carta pela qual o xetife de Fez pedia a frei Roque que Ihe enviasse um conjunto Er. Jeronimo de Séo José, op. a, t. I, pp. 440-445. Resumo dos principais itens do contrato entre a Coroa e a Ordem da Santissima Trindade podem ser consultados em Edite Martins Alberto, op. at, pp. 86-88. 8 Fr Jerdnimo de Sito José, op. ait, tI, p. 355. 9 Eduardo Javier Alonso Romo, ‘“Trinitérios em Portugal durante a Idade Moderna”, in José Eduardo Franco e Luis Machado de Abreu (eds), Para a Histéria das Ordens e Congregagies Rellgosas em Portugal, na Europa e no Mundo, Prior Velho, Paulinas Editora, 2014, vol. I, p. 360. 10 Fr Jerénimo de Sao José, op. at, t. 1, pp. 355, 437-439, 242 FREI ANDRE DOS ANJOS E OS RES :ATES DE CATIVOS EM MBLILEA de bens nomeadamente “pano toxo de Segovia, ¢ dex pecas de rebostins da india muito finos, que sejfio muitas vatas, ¢ assim mais huma mesa de madre-perola esmaltada ¢ guarnecida’", Trés anos mais tarde, voltam os mesmos padres a Fez, levando os bens solicitados, e conseguindo resgatar 496 cativos, sendo 296 a partir da praca de Ceuta”, Por esta altura frei Roque do Espirito Santo é constituido confessor do tei D. Sebastifo, ¢ nesta posigao privilegiada, e muito conhecedor da realidade muculmana norte afticana, falou ao monatca na necessidade de existit um convento em Ceuta pata apoio aos resgates, A sua frequéncia e sucesso levava “a necessidade que a Religiio tinha de ter alguma residéncia segura nos lugares de Aftica, para dahi com mais comodo se poder acodir com prompto remedio aos cativos”"5, Para a otganizacao dos resgates, os religiosos embarcavam para Ceuta com as suas mercadorias dinheiro, Nesta praca tealizavam alguns trami- tes necessétios para entrar no teino de Fez, pois néo podiam prosseguit diretamente para Tetuio. Era necessitia autorizacio do capitio-geral de Ceuta para sair da praca e entrar em campo hostil e imprescindivel, a soli- citagio de passaporte ou carta de seguro através do governadot de Tetuio, sem 08 quais os padres redentores seriam também tomados como prisio- neitos. Foram muitos os resgates realizados através de Ceuta “ciudad que, por su proximidade a Tetuan, se prestaba a ser el enlace entre los tedentores y los amos de los esclavos, Tetuén fue, en los siglos XVI y XVI, el principal mercado, en el Mediterraneo ocidental, para realizar esas transacciones y Ceuta la base desde donde partian los religiosos encargados de tan car- itativa mision”™. No resgate de 1557, 0 primeiro apds a devolugio da organizagio das redengGes 4 Ordem da Santissima Trindade, frei Roque do Espirito Santo ¢ frei André Fogaca aguardaram em Ceuta a chegada do Passaporte ou salvo-conduto do governador de Argel. A possibilidade de se fixat em Ceuta, era assim fundamental aa preparacio dos resgates de 11 Fs Jetdaimo de Sio José, op. cit, t. I pp. 379 e 445-448, 12 Fr, Jerdnimo de Sio José, ap. cit, .1, pp. 448-450. 13 Fr. Jerdnimo de Sao José, op. cit, t I, p. 380. Os franciscanos tinham-se estabelecido em Ceuta na antiga madraca islimica, fundando um convento sob devocio do apéstolo So Tiago. 14 Guillermo Gozalbes Busto, “Feliz epflogo de un rescate”, Cuadernos del Archivo Mune. al de Centa, 8, Ceuta, Archivo Municipal, 1994, p. 90. 243 EDITE MARTINS ALBERTO cativos no Notte de Africa, e por outro lado permitia 4 Ordem da Santis- sima Trindade reforcar a sua posigio no universo religioso portugués. O rei D. Sebastifio, em 1568, ciente da vantagem que tinha pata os religiosos trinitérios residirem nas terras africanas “para melhor cémodo dos resgates dos cativos ¢ de os animarem no sofftimento”" determinou, com licenga da Sé Apostélica, fazer sait de Ceuta, e também de Tanger, 08 religiosos da Ordem de Frades Menores de Observancia da Ordem de Sio Francisco ¢ os seus conventos passarem para os trinitérios. As duas casas religiosas foram entregues ao provincial da Ordem da Santissima ‘Trindade, que entio era o padre frei Paulo Cabral, e ao padre redentor frei Roque do Espirito Santo “(pata viverem em cada hum doze religiosos”, Ficaram muito reconhecidos ¢ agradecidos aos padres da Observancia, que, segundo o cronista frei Jerénimo de Sao José, viviam descontentes naquelas pracas norte africanas, e assim tiveram possibilidade de se insta- larem no reino. Nesse mesmo ano, de 1568, 2 20 ¢ 27 de novembro, respetivamente, sio emitidas provisdes régias para o Senado e para o governador de Ceuta, informando da decistio de passar as casas religiosas de Ceuta ¢ de Tanger, para a Ordem da Santissima Trindade”. Fruto destas provisdes, os trinité- tios tomam posse do convento, a 7 de janeiro de 1569, ficando como pre- sidente o padre frei Manoel Nunes de Santa Maria, posteriormente eleito ministro, e levando como stibditos os padres frei Jorge de Barros ¢ frei Dionisio de Faro. O convento foi-se provendo de mais religiosos, até 20 mimero destinado. Ficou neste convento anexo ao lugar de prelado o titulo de Redentot, pela obrigacio que tinham ¢ com tanto empenho recomenda- da por frei Roque do Espitito Santo. Pela Bula Pastoralis Offaii, o papa Gre- gério XII, em 1574, confirmou a cedéncia dos conventos aos trinitarios, conferindo privilégios especiais aos religiosos que nele estivessem. Por esta bula “todos os Religiosos Redemptores, pertencentes a esta Religiio, ¢ commummente a este Convento [Ceuta], aonde residizo, pas- sando as terras da Barbera, podessem primeiramente levantar Altar por- tatil, celebtar antes da aurora, absolver aos cativos de todos os peccados, delictos, e crimes, por mais enormes que fossem, ainda reservados 4 Sé 15 Fi Jeronimo de Sto José, op. ait, t.1, p. 451. 16 Fr. Jerénimo de Sio José, op. ait, tI, p. 452. 17 Fr. Jerénimo de Sio José, op. cit, tI, p. 452 244 FRE (DRE. DOS ANJOS E OS RESGATES DE CATIVOS EM MELILHA Apostolica pela Bulla da Céa, heresia formal, relapso, ¢ da desertacio da Fé Catholica; e juntamente communicar-lhes Indulgencia Plenaria todas as vezes que se confessassem, e commungassem; € todas quantas Indul- gencias so concedidas pela Igreja””"*. Atuando como porta para entrada nas terras muculmanas, o Convento da Santissima Trindade de Ceuta, constituiu o lugar de passagem tanto de padres redentores como dos cativos libertados. Esta casa religiosa veio a facilitar a organizagio dos resgates por ser um ponto de fixagio da Ordem € por passar a ser um local onde se podiam reunir os cativos e mesmo tra- tar as doencas de alguns, enquanto esperavam o embarque para Lisboa”. Este espaco serviu também para receber os que tratavam das libertagdes de muculmanos cativos pelos portugueses. Em 1633, “los caballeros mo- ros que quedaron en Ceuta de rehenes mientras se hizo la redencién en ‘Tetuan, se hospedaron en casa de los Padres Trinitarios”™. © Convento Tanger, da evocacao de Santo Anténio, passara também da posse dos franciscanos para os trinitérios em 1568. Tal como na praca de Ceuta, D, Sebastiio doara a casa religiosa de Tanger “para estarem e terem casa na dita cidade, e dahi poderem melhor fazer os resgates dos cativos, e cumprir nisso com a obtigacio da sua Ordem e profissio””. Apesar de, por este convento, se terem realizado muitos resgates, a situa- io geogrifica da cidade nfo permitia tanto contacto com os muculma- nos como Ceuta. Frei Roque do Espirito Santo, agora como provincial da Ordem da Santissima Trindade, depois do convento estar 6 anos na posse dos ttinitatios, defendeu junto do rei que seria melhor realizarem-se todos os resgates por Ceuta “e que se podia evjtar o gasto da fazenda real, na ordinaria que costumava dar”, 18 Fr Jeronimo de Sio José, op. at, tI, p. 455. 19 Pata a fundagio do Convento da Santissima Trindade de Ceuta pelo rei D, Sebastiio € seus ministtos, vide Frei Jerénimo de S. José, of, cit, t. I, pp. 450-458, ¢ o estudo de Edite Martins Alberto, “Nas Fronteiras entre o Mundo Cristio e Mugulmano. O Convento da Trindade de Ceuta”, in Jorge Correia e André Teixeira (coords), A Pemin- sala Ubérica e 0 Norte de Africa (séewlos XV a XVI). Histéria ¢ Patriménio, Lisboa / Braga: CHAM, NOVA FCSH / Lab2PT, Universidade do Minho, 2019, pp. 175-190, que sinte- tiza a informagio existente. 20 Guillermo Gozalbes Busto, a. dt, p. 98 citando o manuscrito da Biblioteca Nacional de Madrid n° 3819, fl. 45. 21 Fr Jeronimo de Sio José, op. ct, tI, pp. 55: 22 Fr Jerdnimo de Sio José, op at, t. I, p. 554. 585. 245, EDITE MARTINS ALBERTO Além disso tinha noticia que os padres de Sio Domingos que residiam no Convento do Espirito Santo de Ceuta, desejavam viver em Tanger, por isso pedia ao rei para que se trocassem os conventos “para ficat o de S. "Tiago com mais largueza”™®, Aceite a permuta, o rei escreve a0 capitio- -geral Rodrigo de Sousa de Carvalho a informar da troca e para que este providenciasse “embarcagio para tudo 0 que for necessario em os navios da Armada, que esto, e servem no Estreito”™, Trocaram-se os edificios conventuais, passando 0 do Espirito Santo para 0 dominio da Ordem da Santissima Trindade, alargando o anterior convento de Sao Tiago. Os res- tantes terrenos aforaram a varias pessoas, para actescentamento do pa- triménio do convento®. © Convento da Santissima Trindade de Ceuta veio a zevelar-se funda- mental na organizacao dos resgates dos prisioneiros ctistios, cativos no desastre militar de Alcdcer Quibir, QUADRO 1 ~ Resgates gerais até 1578 DATA LOCAL PADRES REDENTORES N° CATIVOS RESGATADOS 1557 ‘Argel Fr. Roque do Espirito 300 Santo Fr. André Fogaca 1559 Argel Fr, Roque do Espirito | “copioso ntimero” ~ Santo Fr. André Fogaca 1565 | Feze Tetudo} Fr. Roque do Espirito 230 Santo Fr. Manuel Nunes de Sta. Maria 23° Fr. Jerdnimo de Sto José, op. it, t.I, p. 555. 24 Fr. Jerdnimo de Sio José, op. af, t. I, p. 556. 25 Fi Jettnimo de Sio José, op. at, tT, p. 554. 246 FRET ANDRE DOS ANJOS E OS RESGATES DE CATIVOS EM MELILHA, 1568 Fez Fr. Roque do Espirito 496 Santo Fr. Manuel Nunes de Sta. Maria 1570 | Marraquexe | Fr. Roque do Espirito 200 Santo Fr. Ignicio Tavares 1574 Tetuao Fr, Roque do Espirito 114 Santo Fr. Diego Ledo 1576 Fez Ft. Roque do Espirito ? Santo Fonte: Fr. Jetnimo de S. José, Historia Chronologica da Ordem da Santiss- ma Trindade ..., t. 1, pp. 437-439; 531-539. OS RESGATES APOS A BATALHA DE ALCACER QUIBIR Frei Roque do Espirito Santo toma conhecimento da tragédia ocorrida € da morte do tei D. Sebastiaio, no convento de Genta. Face ao ocortido viaja para Lisboa, mas no Porto de Santa Matia, onde desembarcara, re- cebe ordem do Catdeal D. Henrique para que se detivesse em Ceuta “the Ihe hit a Ordem que devia guardar no resgate dos cativos da batalha™. Enquanto aguarda escteve a0 Cardeal, entretanto, jé aclamado rei, dando patte de certos assuntos da Berberia para melhor expedi¢io dos resgates”. 26 ANT, Manuscritos da Liventia 0° 565 —Fr. Manoel de Santa Luzia, Historia Chronolog- a dos naroens ilustres, qu te havido na Provincia de Portugal, da Onderr da Santissima Trindade, ‘no santo exercicio da Redemea, desde o anno de 1208 the o de 1757.Terecra parte, 1.29. 27 © Cardeal D. Hensique foi regente do teino de Portugal entre 1562 e 1568 em nome do sobrinho neto, o rei D, Sebastiéo. Com o falecimento deste na Batalha de Alcdcer 247 EDITE MARTINS ALBERTO Escreve, também, ao provincial da Ordem, entio o padre frei Baptista de Jesus, pedindo que Ihe mandasse mais religiosos pata 0 Convento de Ceuta, Foi-lhe respondido que iriam na companhia de D. Rodrigo de Meneses, governador, que estava nomeado para aquela praca e 0 mesmo levatia também as ordens necessétias pata o resgate dos cativos. Logo em 6 de setembro de 1578, o Cardeal D. Henrique pede a frei Ro que do Espirito Santo, para tratar do resgate do corpo do rei D, Sebastiio e de alguns fidalgos cativos. Frei Roque juntamente com frei Inacio Ta- vares, frei Diogo Ledo e frei Francisco da Costa, moradores no convento de Ceuta, e Braz Alemio, cavaleiro da praca como /ngua, deslocaram-se a Alcécer Quibir para tratar do resgate do corpo do rei. Este foi, cerimonio- samente, levado para 0 Convento da Trindade de Ceuta, ao contratio do que pretendia o bispo D. Manuel de Seabra que desejava que fosse coloca- do na catedral da cidade. No convento foram realizadas exéquias durante 8 dias e a urna foi colocada na capela-mor da igreja onde permaneceu até ser trasladada pata Lisboa”. Em resposta ao pedido de frei Roque ao provincial da Ordem, para o envio de religiosos, para juntos com os do convento, se distribuissem pelas terras nor te africanas a consolar e a resgatat os cativos, do reino viajatam quinze frades que se juntaram aos que tesidiam em Ceuta. Partiram para as varias cidades, em grupos de dois, a fim de darem asistencia 20s cativos, ouvir suas confissdes, administrar os sacramentos 20s vivos e sepultar os mortos, tratar dos fetidos e dos doentes, e resgatar os que conseguissem™, Segundo o cronista frei Jeréni- mo de Sao José, baseando-se nos esctitos dos seus antecessores, refere que eram cerca de 10 000 cativos que “utpia consolar e resgatar”®*, Foram enviados, a partir do cofvento de Lisboa, os padres frei Diogo Lede, frei Jotge de Bartos, frei Francisco da Costa, frei Inacio Tavares de Jesus ¢ frei Manoel de Evora, para se juntarem com os do convento de Quibir, foi aclamado rei de Portugal, reinando desde 1578 até 4 sua morte, a 31 de janeiro de 1580. 28 ANTT, Manuscrito da Livraria n. 565, fl. 29v 29 ANTT, Manuscrito da Livraria n. 565, fl. 29% J, pp. 387-402, 540. 30 Ver Bonifacio Porres Alonso, Liberdad a ls cautivos, Cérdova / Salamanca, Secretaria- do Trinitario, 1997, t I, p. 439. Esta obra é fundamental para o estado dos respates organizados pelos religiosos trinitérios de varias provincias europeias nomeadamente Espanha, Portugal, Inglaterra, Escécia, Itilia, Polénia e Austria-Hungria. 31 Fr. Jerénimo de Sao José, op. at, tI, p. 476. v3 Fr. Jerdnimo de Sio José, op. ait, 248 EL ANDRE DOS ANJOS E OS RESGATES DE CATIVOS EM MELILHA Ceuta®. Frei Roque mandou a Aledcer Quibir os padres frei Manoel de Evora e frei Anténio do Alvito; para Tetuiio enviou os padres frei Luis da Guerra e frei Francisco do Trocifal; e para outras terras em que havia cativos portugueses mandou os padres frei Melchior dos Reis, frei Jor- ge de Barros, frei Sebastido Tavares, frei Damifio de Thomar, frei Diogo da Conceigao, frei Salvador de Santa Maria e frei Agostinho de Menezes. “Despois destes ainda entrario outros porque parecendo tudo pouco 20 nosso Veneravel Padre Fr Roque, sempre procurava novos operatios para © trabalhozo cultivo daquella grande vinha: forao estes os Veneraveis Fr Antonio da Conceigio, e Fr Jozé da Madre de Deos”®. “Todos estes veneraveis voario como cAndidos cisnes para o socorto dos cativos de Africa, e os consolarem no seu cruel cativeiro, solicitando 8 seus resgates”™, ‘Muitos deles foram miéttires, nesta func&o que lhes era exigida. Entre cles destacam-se o padre frei Antdnio de Alvito, que morreu preso em Alcécer Qui- bir, tal como o padre frei Manuel de Evora, depois de 12 anos de cativeiro. O padre frei Agostinho de Meneses morreu preso em Fez, o padre frei Francisco do Turcifal em Tetuio e o padre frei Inacio Tavares em Marraquexe™, QUADRO 2 — Resgate dos cativos da Batalha de Alcacer Quibir DATA LOCAL PADRES REDENTORES 1578 Alcdcer Fr. Roque do Espiri- Quibir to Santo Corpo do rei D. Sebastiaio 80 fidalgos 32 ANTT, Manuscrito da Livratia a, 565, fl. 29. 33 ANTT, Manusctito da Livraria n. 565, fl. 31, Ver também Bonifacio Portes Alonso, dt, tI, pp. 437-444, 34 Fr. Jerénimo de Sio José, op at, t. I, pp. 392-393. 35 Fr Jerdnimo de Sao José, op. ait, t. I, pp. 466-482. Os resgates de prisioneiros da Batalha de Alcicer Quibir sao referidos por frei Bernardino de Santo Antonio na sua obra Epitome General Redemptionune captivorum que Fratribus Ordinis S.nea Trinitatis sunt factae , Ulyssione, Officina Petri Crasbeek, 2, caput IX — X11, fis. 112-130v, 249 EDITE MARTINS ALBERTO 1579 Melilha Fr. André dos Anjos 359 1579 Tetutio Fr. Lufs Guerra 116 Fs, Francisco do ‘Trocifal 1579 Fez Fr. Agostinho de 1050 Meneses 1579 ‘Marrocos Fr. Ignacio Tavares 232 de Jesus 1580 Aledcer Fr, Antonio de Al- 120 Quibir vito Fr. Manuel de Evora 1581 Marrocos Fr. Ignacio Tavares 200 Fr. Anténio da Con- ceigio 1581 Argel Ts. Dionisio de Faro 276 Fr, Mateus da Espe- ranga 1583a | Vérias terras| Fr. Paio de Lacerda 658 1590 | da Berberia 1587 Argel Fr, Dionisio de Faro 158 Fr, Mateus da Espe- ranga 250 FREI ANDRE DOS ANJOS E OS RESGATHS DE CATIVOS EM MBLILIIA 1589 Marrocos e Fr. Ignacio Tavares 964 Tetuio de Jesus Fr. Luis Guerra 1592 Marrocos Fr. Mateus da Espe- 39 ranga 1595 Fez e Tetuaio Fr. Paulino da Apre- 400 sentacao 1607 Tetras de Fr. Paulino da Apre- 94 Berberia sentacio Fr. Nicolau Correia 1609 Tetudoe Fr. Paulino da Apre- 86 outras terras sentagdo Fr, Filipe Ribeito 1613 Fez e Tetuao Fr. André de Albu- 126 querque Fs, Paulino da Apre- sentacio 1613 Marrocos Fr. André de Albu- 88 querque Fr. Manuel do Espi- tito Santo Fonte: Fr. Jernimo de S. José, Historia Chronologica da Ordem da Santissi- ma Trindade ..., t. 1, pp. 540-552; 583-600; t. II, 57-65. 251 EDITE MARTINS ALBERTO RESGATES EM MELILHA POR FREI ANDRE DOS ANJOS Centremo-nos agora nos resgates efetuados em Melilha a partir de 1579 por frei André dos Anjos®. Em Ceuta frei Roque do Espirito Santo teve conhecimento “depois da infeliz batalha de Alcacere, que os Moutos fartavio huns aos outros alguns cativos, ¢ os levavao a vender 4 Cidade de Melilha, Fortaleza da Coroa de Hespanha”, e “como lhe custavo pouco, os vendio muito em conta, ainda que com perigo de vida”, Frei Roque quis aproveitar a ocasidio que se lhe apresenta para resgatar cativos, deci- dindo empregar todo 0 dinheito e fazendas que tinha guardado até entio para o resgate de Fez™. Nio podendo ir pessoalmente, confiou esta empresa 2o padre frei An- dré dos Anjos, levando por companheiro o padre frei Lourengo Pessoa. Este navegou logo para Malaga para dai passar para Melilha. “levando comsigo 1470 cruzados, a saber 496 em dinheito e o mais em fazendas da India de grande valor ¢ estimaao entre os Mouros”®. Em Malaga o padre frei Lourengo adoeceu e tegressou a0 convento de Ceuta", enquanto que frei André prosseguiu viagem. Chegado a Melilha, foi muito bem recebido pelo capitio da praga, Antonio de Texeda, 20 qual deu as cartas que levava do Cardeal-Rei D, Henrique, do governador D. Rodrigo de Menezes ¢ de frei Roque do Espirito Santo. A primeira, escrita pelo recentemente eleito rei, apresentava frei André ao capitiio de Melilha. 36 Frei André dos Anjos, natural do concelho de Alcicer do Sal, professou no Convento da Santissima ‘Trindade de Lisboa €m 1572. A sua biografia pode ser consultada em ANTT, Manuscritos da Liveatia a° 1968, Livro 4, fis. 123v. -130; Fr, Manoel de Santa Luzia, Nobiliarguia Trinitaria, Catalego de Varies ilustres eve letras, virdudes, e nascimento,filbos ‘por profissia da Ordem da Santssinsa Trindade da Provincia de Portygal, Lisboa, Officina de ‘Miguel Manescal da Costa, 1766, tomo 1, c. 16, p. 121-126; ¢ em Fr. Jer6nimo de Sio José, op. cit, tT, pp. 520-524. 37 Fr Jeronimo de Sao José, op. cit, tT, pp. 524; e ANTT, Manuscritos da Livratia n° 2566 —Fr. Simao de Brito, Incremento Trinitaro e Tratado Cronolegico da 3° veneravel Ordem da Redempyio de Captives, Iustre conjraternidade do Sagrado Bentinbo e piedoa Congregago de Nossa Senhora do Remédio, Ywem 802. 38 Fr. Jerdnimo de Sio José, op. ct, t. 1, pp. 544 39 ANTT, Manuscritos da Livratia n° 565, fl. 32; e Fr. Jernimo de Sio José, op. at, tI, p. 521. 40 O padre frei Lourenco convalesceu em Ceuta antes de regressat a Lisboa. Veio a falecer no Convento de Lisboa a 2 de abril de 1608 com setenta anos de idade (ANTT, Manuscritos da Livratia n° 565, 4. 32). 252 FREI ANDRE DOS ANJOS E OS RESGATES DE CATIVOS EM MELILHA, “Capitio Antonio de Texeda. Por outra carta tenho tespondido a hhuma vossa que agora recebi, pelo que nesta nio tratarei mais que de vos encommendar a pessoa, que vo-la dard, que vai da Cidade de Ceuta a esta de Melilha com ordem de D. Rodrigo de Menezes do meu Conselho, para entender nos resgates de que vos dard conta, que com vossa ajuda, favor, e industria cteo se fariio da maneira que confio, e como 0 entendi da vossa cata: e muito vos agradecerei, fazerdo-lo assim. Escrita em Lisboa a 13 de Janeiro de 1579. Rei™'. Frei André doa Anjos deu conta 20 capitio da fazenda que levava para a negociacio dos resgates. Porem, esta, apesar da sua boa qualidade, e na Berberia valer muito, nao era util nesta ocasiio: “porque os mouros que traziao os cativos a vender, como ero ladrdes, no queriao fazenda em pagamento, para no serem por ella conhecidos, ¢ descobertos; mas sim dinheito”®, Como 0 muneritio que levava ea pouco, consultando o capitio, envia- ram parte dos bens para Ceuta, determinando que fossem vendidos “pelo de podesse ser”®, Com o dinheiro e produto da fazenda comegou a resga- tar 08 cativos que se encontravam na praca. Como eram muitos e alguns de estrato social elevado — “alguns Fidalgos que nio ero ainda conhecidos dos Mouros em preco muito diminuto” — e nao tendo mais dinheiro, pediu emprestado ao capitio da praca “a quem este Reino deveo muito excesso”®, Frei André deu conhecimento a frei Roque do Espitito Santo ea D. Rodrigo de Menezes, expondo-lhes o que se passava “e quanto util seria 0 socorro de algum dinheito™, O governador respondev-lhe reconhecendo 0 empenho do redentor e tentando resolver alguns dos problemas nomeadamente o transporte dos fidalgos resgatados. “Muito Rev. Senhor. Aos 11 deste mez de Agosto recebi huma Carta de V. R. escrita a9 do mez pasado, Folguei de ver que passava de saude, 41 Fr, Jerdnimo de Sio José, op. ct, t.1, pp. 521. 42 Fr. Jerénimo de Sio José, op. at, tI, pp. 521 e 544, 43 Fr. Jeronimo de Sao José, op. cit, t. I, p. 521. 44 Fr Jernimo de Sao José, op. cit, tT, p. 544, 45 Fe. Jerénimo de Sio José, op. at, t. 1, p. 521. 46 Fi Jetonimo de Sio José, op. cit, tI, p. 544. 253 PF 254 EDITE MARTINS ALBERTO ¢ que trazia Nosso Senhor cativos por essa via, ¢ que era V. R. nisso bem affortunado, prazera Nosso Senhor que lhe dara vida, e saude para que sempre faca seu servico. Peza me de nfo poder logo prover a V. R. com dinheiro; pois vai tanto nisso como diz, e eu entendo, mas este negocio esti de maneita, e tio esgotado de tudo que nio he possivel set daqui. ‘Tenho esctito a ElRei Nosso Senhor para que mande prover com hum credito a Malega, para dahi acodirem a V. R. com o que for necessario, assim para pagar o que deve, como para o que houver mister para os cati- vos que vierem: E bem sei com quanto trabalho se ajuntaria o dinheiro necessario pata se pagarem estes Fidalgos, e cativos que com eles vierio, € quanta obriga¢io ElRei Nosso Senhor tem ao Senhor Capitdo dessa Fortaleza, por quantas mercés a todos faz: Quereri Nosso Senhor que terd Sua Alteza conta com isso, como he rezio, ¢ sem embargo de lhe ter escrito, quanto importa mandar este credito a Malega, o tornarei hora a fazer com a Carta de V. R. Folguei em extremo chegarem esses Fidalgos a salvamento; porque pelo muito tempo que havia erao partidos de Féz, me dava cuidado nao saber serem chegados. Nao se Ihes manda embarcacio que pedem, porque nio ha nesta Cidade nenhuma segura, nem he este © tempo em que se péde fiar de hum Bargantim. Nao deve tarda muito que niio vio a essa forca alguma Gales de Castella em que poderio passat: E ja que a roupa que V. R. levou no tem expediente no pagamento dos cativos pelas tazdes que da, que sio muito claras, trate de a mandar fazer em dinheiro pela melhor via que poder, e se v4 valendo delle até que Sua Alteza proveja; e Nosso Senhor sabe quanto sinto nfo Ihe poder logo mandar algum dinheiro para essas necessidades, em quanto S. Alteza nio prové. Quanto aos cativos que me V. R. encommenda da obrigagio do Capito, eu mandatei logo entender em sua liberdade, Ihos mandarei © mais cedo que for possivel; ¢ assim Iho escrevo 2 elle, ¢ V. R. o pode segurar disso, porque com a ajuda de Nosso Senhor irio muito cedo. O portador foi logo despachado hoje 13 de Agosto, ¢ parte logo esta noite com a ajuda de Nosso Senhor, ou a manhi 14 do dito. Faca V, R. rol de todos os cativos que por ahi sahirem, e me avise como faz, ¢ se o recado de §. Alteza vier ter a mim primeiro que a Malega, o despacharei com toda a brevidade. Nosso Senhor acctescente a vida, ¢ saude a V. R. para seu santo setvigo, De Ceuta 13 de Agosto de 1579, Eu devoto, ¢ servidor. D. Rodrigo de Menezes” ”, Fr. Jeronimo de Sao José, gp. cif, t. I, pp. 544-545. FREI ANDRE DOS ANJOS E OS RESGATES DE CATIVOS EM MELILIIA Frei André dos Anjos resgatou nesta ocasifio o mimero de 359 cativos, “e do empenho, ¢ do grande interesse que havia em se continuarem pot aquella parte as Redempgées™® avisou o rei, Chegou-nos a transcri¢io da carta que este escreveu a frei Roque do Espirito Santo: “Padre Fr. Roque do Espirito Santo, Eu ElRei vos envio muito saudar. Eu mando a Pedro Carreiro de Almada, Thesouteito da rendicio dos eati- Vos, que vos envie por letras quatro mil cruzados, que por ellas cobrareis, para os enviardes a0 Religioso que reside em Melilha, e deles fazer paga- mento ao Capito da Fortaleza della, do que Ihe for devido dos resgates que fez, e pagou pelos Portuguezes cativos que ahi vierio ter depois da batalha do campo de Alcacer. Encommendo-vos muito, que trabalheis de passat o dito dinheito, ou letras 4 dita Fortaleza, e de se entregarem a0 dito Religioso, para pagar ao dito Capitio o que lhe for devido, e cobrareis delle conhecimentos da quantia que lhe pagar, com declaracio dos nomes dos cativos que resgatou, ¢ do prego que custou cada hum deles, e assim 08 assignados que tiver dos cativos do que pagou pot eles. Ea demasia dos quatro mil cruzados despendera o dito Religioso em resgate dos mais cativos, que vierem ter 4 dita Fortaleza, pela ordem que nisso até agora teve. E encommendar-Iheis muito este negocio, e de tudo o que nelle despender enviard certiddes, para se saber como se despedério os ditos quatro mil cruzados. Encommendo-vos que assim o facais. Valerio Lopes a fez em Almeitim aos 22 de Dezembro de 1579. Rei™® Determinava por esta missiva, o cardeal-rei D. Hentique, que fosse dado a frei André dos Anjos quatro mil cruzados para pagar ao capitio Anténio de Texeda o dinheito emprestado ¢ com o testo resgatar mais cativos. Ordenava também que fizesse uma lista com a identificacio dos cativos resgatados com a indicagio do preco que custou cada um deles. O rei faleceu um més depois desta carta, a 31 de janeiro de 1580, situagio que fez atrasar 0 pagamento, “e muito mais pelas occasides das guetras que se seguirio; pela entrada de ElRei D. Filippe II de Castella neste Reino, posse da sua Coroa”®, 48 Tit, Jernimo de Sio José, gp. at, tI, p. 521. 49 ANTT, Manuscritos da Livraria n° 1968, fl, 126-126v, transcrita por Fr. Jernimo de Stio José, op. ait, t I, pp. 521-522 50 Fr: Jerénimo de Sio José, of. ait, tI, p. 522. 255 EDITE MARTINS ALBERTO Frei André dos Anjos foi continuando os resgates, fazendo de tudo aviso ao rei, mas no foi deferido nem tio pouco se entregou o dinheiro por se acharem suspensas as suas letras em Malaga, por onde se haviam remetido, Neste estado da questiio escreve ao rei nova carta solicitando o dinheiro para pagamento do empréstimo e para resgatar mais ptisioneiros. ‘Alega mesmo o perigo de na falta do dinheiro os mouros venderem os cativos para Tremecém e aos Turcos, outros eram mortos nas serras pelos mouros para no serem descobertos “pois se Ihes cortam as cabegas se Thos acham’*", “Sacra Catholica Real Magestade. Com outras tres cartas tenho avi- sado a V, Magestade como estou nesta Fortaleza de Melilha, entendendo no resgate dos cativos Portuguezes, que os Mouros ladsdes trazem furta- dos de Fés, e outras partes da Barberia; e porque quando Jeronymo de los Barrios, Capitio da Infantaria desta Fortaleza, se pattio pata essa Corte, sobre os negécios da visita, levou telacio dos cativos, que até entio eto resgatados, ¢ do que dos ditos resgates se estava devendo ao Aleayde Antonio de Texeda, ¢ appresentando memorial do sobredito em con- selho, foi respondido, que o que se devia, se cobrasse dos cativos, que havio sido resgatados; pois os ditos resgates niio se faziio com ordem de V, Magestade, me pateceo ser necessario de novo avisar a V. Mages- tade com 0 treslado da Carta que trouxe de ElRei D. Henrique de boa memoria, para o Alcayde desta Fortaleza: e porque desde que se foi o dito Capito, sio resgatados mais 34 cativos, que se estio devendo ao dito Alcayde Antonio de Texeda, e forlio muito mais os cativos, se se pudera haver com que os pagar; mas como jé niio ha com que soccorrer a tantas necessidades, e muitas vezes acontece, que por falta de dinheiro nesta terta levao os Mouros ladrdes os cativos a vender a Tremecen, e 208 Tutcos; € outros os mato nestas serras, vendo que aqui Ihos no com- prio, para no serem descubertos, porque Ihes corto as cabecas, se Ihos achio, V, Magestade por amor de Deos scja servido mandar pagar o que se deve, que sera quantia de até tres mil cruzados, pouco mais; porque servird de se fazerem mais resgates, nfio havendo outro dinheiro de V. Magestade para este effeito, o qual V. Magestade deve mandar prover; 51 256 Fr, Jerdnimo de Sao José, op. cit, tI, p. 522. Fr, Manoel de Santa Luzia, op. at, p. 123 refere sobre 0 perigo em que estavam os cativos se no fossem resgatados: “Porque vendo estes que que nella (Melilha] Ihos nfo compravam, ou os hido vender aos Turcos, ‘ou 0 matavam para nio setem descubertos os latrocinios, de que viviéo”. FREI ANDRE DOS ANJOS E OS RESGATES DE CATIVOS EM MELILHA pois por esta via se resgatiio os cativos mais batatos, do que por outra de dircitos somente. V. Magestade 0 mande ver, ¢ prover, como mais con- venha a seu Real servico; pois nao faltario cativos, senio faltar dinheiro. Nosso Senhor a Sacra Catholica Real Pessoa de V. Magestade guarde com aumento de mui maiores Reinos, e Senhorios, como 0s ctiados, ¢ vassa- llos de V. Magestade. De Melilha a 20 de Maio de 1583. De Vossa Sacta Catholica Real Magestade, Capello, e mui humilde vassallo, que as Reaes mios de V. Magestade beija. F. André dos Anjos”, © cronista frei Jerénimo de So José no culpa o novo rei pelo atraso no envio do dinheiro, este até doara para cativos pobres 120 mil cruzados mas sim os ministros, ou aqueles a quem se expediam as ordens “talvez por utilidade propria”. O cronista lamenta que por falta de pagamento tenham parado os resgates ¢ que, tarde e mal se pagou, que se fosse a tempo, 86 com 0 lucto dos juros que venceu o dinheiro de empréstimo, se poderiam ter resgatado outros tantos cativos e se teriam evitado os incon- venientes que frei André dos Anjos expos nas suas cartas, Segundo frei Bernardino de Santo Antonio, frei André resgatou 359 cativos em cujos resgates foram gastos 148957 reaes, que cottespondem a 143098 cruzados, e 280 réis “em parte dos quaes esteve detido em refens na mesma Praca o dilatado tempo de 28 annos”™. Resgatou o ntimero de 359, a 20$000 cada hum, e alguns por menos como conta das suas lis- tas. “E como era prospera a fortuna, com dinheiros emprestados que elle procurou, e 0 Capitio Antonio de ‘Texeda fiados no que dizia a mesma Carta, resgatou mais 0 copioso numero de 641, que faz a conta de 1000”. Destes tiltimos no nos chegou nenhuma eferéncia detalhada sobre quem foram estes libertados. “Foi importantissima a Redemeio sobreditta que fes o Padre Fr Andre naquela Praga, no s6 pelo copiozo numero de Cattivos que nella se resgatario, mas tambem por serem muntos deles de conhecida 52 Fr. Jernimo de Sio José, op. ci, t. 1, pp. 522-523, 53 Fr, Jeronimo de Sio José, wp. i,t. I, p. 523. 54 Fr, Jetdnimo de Sio José, op. ci, t. 1, p. 523. 55 Fr, Jeronimo de Séo José, op. ai, t. Lp. 545. 257 EDITE MARTINS ALBERTO nobreza, como se pade ver da seguinte Lista, que he a primeira que com individuagao podemos descobrir™, A lista identificando os 359 cativos resgatados encontra-se copiada na Historia Chronologica dos varoens illustres, que tem havido na Provincia de Portugal, da Ordem da Santissima Trindade, no santo exerccio da Redemtéa, desde o anno de 1208 the o de 1757 de frei Manoel de Santa Luzia com o titulo “Lista dos Cattivos que na Praca de Melilla resgatou o Padre Fr. Andre dos Anjos desde © anno de 1579 the 0 de 1594”, Entre as mais de trés centenas de resgatados foram libertados: ~ Os religiosos frei Estevao Pinheiro da Ordem de Nossa Senhora do Carmo; os padres Pedro Martins e Joo Nogueira da Companhia de Jesus; © 0 padke frei Fernando Castelhanos da Ordem de Séo Francisco; - Os nobres D. Cristévao de Noronha, filho de D. Luiz de Noronha, D, Francisco de Noronha; ~ Os cavaleiros fidalgos da Casa Real: Miguel Delgado de Andrade, Ctistévao Falcéo de Sousa, Pedro de Paiva de Azevedo, Francisco Maria Teles e Bartolomeu Vicente Colaco; - Varios mogos de camara nomeadamente mogos da camara real: Pe- dro Neves da Fonseca, Manuel Gajo Folgueira, Francisco Cardoso, Pedro Fernandes de Almeida, Salvador ‘Toscano, Criséstomo Ferreira; mogos da camara de D, Ant6nio: Luis de Gouveia, Baltazar Campelo, Pedro da Bar- ca; mogo da Camara do Duque de-Aveiro: Manuel Cordeiro; e 0 mogo da camara que fora do servico da rainha D, Catarina: Francisco de Atouguia de Gouveia; - O comendador de Borba ¢ alcaide-mor das vilas do Tortio ¢ Ferteira Manuel de Mendonga, entre outros com cargos de destaque; - O alferes da companhia do capitio Diogo Alvares Correia do tegi- mento de D. Miguel de Noronha ¢ os polvoristas reais: Jacome Jorlando Napolitano ¢ Afonso Corso; - O mestre Pedro cirurgidio do Duque de Aveiro; 56 ANTT, Manuscritos da Livraria n° 565, 4. 32. 57 ANTT, Manuscritos da Livraria n° 565, fls. 32- 39v, 258 FREI ANDRE DOS ANJOS E OS RESGATES DE CATIVOS EM MELILHA Alguns oficiais mecdnicos como alfaiates, doutadores, calceteiros ¢ sombtreireiro. - Os escravos de D. Luis Coutinho, de Sancho de Toar, de D. Joao de Mascatenhas; Destacando apenas alguns da lista de 359 cativos resgatados. A maioria dos cativos sfo naturais de localidades portuguesas, encon- trando-se, no entanto, alguns estrangeiros, sobretudo das cidades de Se- vilha, Valladolid, Cérdova, Badajoz, Granada, Tarifa, Cadiz e Salamanca, bem como das cidades italianas de Roma, Calabria, Génova ou Napoles. Sao resgatados também cativos naturais de Tanger, da Cérsega e de Malta, © valor médio pago por cada resgate, independentemente da condicio social ou do oficio, rondou os vinte mil réis. Do custo de todos os cativos se pagou (ainda que tarde) o que pertencia ao Capitio Antonio de Texeda que eram 68400 reaes “porém o resto da divida toda que se devia, que cra.a quantia de 500 cruzados, se a Religifo quiz. o Veneravel Padte resga- tado do seu empenho, o pagou, sendo Provincial o M. R. P. Fr. Paulino da Appresentaco, em 1607”, $6 entio, frei André dos Anjos péde regressar ao reino. Em 1608, embarcou para Malaga, e daqui para o Convento da Trindade no Alvito, perto da localidade donde era natural. Vinha debilita- do, tendo a enfermidade sido agravada pela viagem. Faleceu a 8 de marco de 1608, com 55 anos, no Convento do Alvito, ¢ encontra-se sepultado na capela-mor da igreja Matriz do Alvito. “Fim todo 0 tempo que este Vario ilustre residio nesta Praga de Melilha, exemplificou muito 0 povo, occupando-se em obras de caridade, pregando © Santo Evangelho, confessando, assistindo aos enfermos, ¢ hospedando com muito amor os cativos que vinhio resgatados, ¢ reme- 58 Fr, Jerdnimo de Sto José, op. ai, tI, p. 523. Sobre 0 apoio dado pelo capitio Antonio de Texeda no resgate dos cativos ¢ resolugio dos pagamentos pelos quais frei André dos Anjos estava refém refere Fr. Pedro Lopez Altuna, Primera parte de la caronca general el Orden de la Santissima Trinidad Redencin de Cations, Segovia, Diego Diez Escalan- te, 1637, lix, 2, p. 333: “Ayudole a este santo Religioso el gran Capitan Antonio de ‘Texeda, que hasta los vasos de oro, y plata que tenio para su uso sc los daba, quedose en rehenes hasta el afio de 1608 por cantidad de dinero que quedo a deber, padecien- do grandissimos trabajos: el Padre Fray Paulino le tescato siendo Provincial: mas el Religiosissimo Padre Fray Andres vino tan debilitado, y enfermo de la vida aspera ... 259 EDITE MARTINS ALBERTO tidos a elle de outras parte de Africa. Dizia Ihes Missa, e da sua esmola se sustentava; porque nio achamos clareza alguma, que nem ElRei, nem © Tribunal da Redempcio de Ceuta lhe fizesse cOngrua pata o seu pas- sadio”®. Jorge Cardoso, na obra Agiolagico Lusitano dos Sanctos e Varoens Iilustres em Virtude do Reino de Portugal ¢ suas Conguistas, resume os anos passados por frei André dos Anjos em Melilha referindo “cobrando to estranhavel amor, & caridade aos miseros cattivos, que nao sabia sair de Africas sem trazer todos consigo; pelo que, depois de despender com grande fidelida- de em seu resgate notavel soma de dinheiro, restando a dever quantidade, ficou elle em tefens perto de treze annos na Fortaleza de Melilha”®., Frei Jeténimo de Sao José salienta que frei André dos Anjos seria “nao menos digno de premio, do que aquclles que falecério na Batberia empenhados em reféns, se com menos petigo, pot tempo mais dilatado”*, EM TERMOS DE CONCLUSAO, Frei Roque do Espitito Santo ficou conhecido como 0 Apéstala de Afri- ca, pelo seu papel na organizacio dos resgates apés a Batalha de Aleécer Quibit ¢ na fundacao do Convento da Trindade de Ceuta”. Quando teve conhecimento que alguns prisionciros eram furtados ¢ levados para a pra- ca de Melilha, logo estabelecen estratégias para os resgatar. Desviou os fundos que tinha destinados aos resgates de Fez, a fim de libertar os que ja estavam na praga e pelos quais eram pediam valores mais baixos em rela- do ao que se encontrava estabelecido para os cativos da batalha. Na impossibilidade de se deslocar pessoalmente a Melilha, confiou esta empresa ao padre frei André dos Anjos. Este religioso, conventual em 59 Fr Jerénimo de Sao José, op. at, tI, p. 523. 60 Jorge Cardoso, Agiolge Lusitan, t.2, a 5 de Marco p. 52e. Ver também pp. 57-58c. 61 Ex. Jerénimo op, ait, tI, p. 523. 62 No Convento da Trindade de Santarém junto ao retrato de frei Roque do Espirito Santo encontrava-se um distico que sintetizava a sua vida religiosa: “Padre Frei Roque do Espirito Santo, natural de Castello Branco, Provincial que foi quatro vezes desta Provincia, Vigario Geral della, Confessor de ElRei D. Sebastidio, que por amor dos cativos rejeitou 0 Bispado de Ceuta, Lamego, Viseo, ¢ Arcebispado de Goa. Morreo em Lisboa no anno de 1590”, Fr. Jerénimo de Sio José, op. ai, t], pp. 414-415. 260 FREI ANDRE DOS ANJOS E OS RESGATES DE CATIVOS EM MELILHA Ceuta, fora por si nomeado “Missionatio das Redempgdes Africanas”®, Durante quase trés dezenas de anos, superando constantes dificuldades, frei André consegui libertar mais de trés centenas de cativos, centrando- -nos apenas naqueles sobre os quais nos chegaram informacio identifica dora. Os cronistas referem mais de mil resgatados. Sintetizando com as palavras do cronista frei Jeronimo de S. José, frei André dos Anjos “foi o religioso que esteve em Africa mais tempo como refém, empenhado no resgate de cativos, ainda que em terra de Cristios”*. FONTES E ESTUDOS Fontes manuscritas Arquivo Nacional Torre do Tombo Manuscritos da Livratia n° 565 — Fr. Manoel de Santa Luzia, Historia Chronologica dos varoens illustes, que tem havido na Provincia de Portugal, da Ordem da Santissima Trindade, no santo ecerccio da Redemeaa, desde 0 anno de 1208 the o de 1757. Terceira parte, Manuscritos da Livraria n° 1968 — Fr, Bernardino de Santo Ant6nio, Segunda Parte da Historia da Provincia de Portugal da Ordem da S.ma Trindade, e Redengiio de Cativo, na qual se trata da vida, mortes dos Redentores Geraes que nella howe, Resgates de cativos, e Obras dignas de memria [que] nelles eem suas vidas se fezerin. Manuscritos da Livraria n° 2566 — Fr. Simao de Brito, Incremento Trinitario e Tratado Cronologico da 3° veneravel Ordem da Redempeo de Captivos, Hust con- (fraternidade do Sagrado Bentinho ¢ piedoxa Congregagia de Nossa Senbora do Remédio Fontes impressas ASUNCION, Fr. Antonino de la — Dizaionario de Esoritores Trinitarios de Espaita y Portugal. Roma: Imprenta de Fernando Kleinbub, 1898. CARDOSO, Jorge Cardoso — Agialgico Lusitano dos Sanctos e Varoens Illustres em Virtude do Reino de Portugal e suas Canguistas. Lisboa: Officina de Henrique Valente d’Oliveira, 1657, 4 vols. 63 Fr, Jerdnimo de Sao José, op. at, tI, p. 820. 64 Fr. Jernimo de Sio José, op. ait, tI, p. 520. 261 EDITE MARTINS ALBERTO LOPEZ ALTUNA, Fr. Pedro — Primera parte de la coronica general del Orden de la Santissima Trinidad Redencién de Cativos. Segovia: Diego Diez Escalante, 1637. SANTA LUZIA, Fr. Manoel de (1766) — Nobiliarguia Trinitaria, catalogo de vardes ilustres em letras, virtudes, ¢ nascimento, filbos por profisso da Ordem da Santissima Trindade da Provincia de Portugal. Lisboa: Officina de Miguel Manescal da Cos- ta, 1766. SANTO ANTONIO, Fr. Bernardino — Epitome Generalinm Redensptionume capti- vorum que Fratribus Ordinis Sma Trinitatis sunt factae, Ulyssione: Officina Petri Crasbeek, 1624. SAO JOSE, Fr. Jeronimo de - Historia chronolygica da esclarecida Ordem da SS. Trin- dade, Redempyao de Cativos, da Provincia de Portugal. Lisboa: Officina de Simao ‘Thaddeo Ferreira, 1789 — 1794, 2 vols. Estudos ALBERTO, Edite Martins “Nas Fronteiras entre o Mundo Cristo e Mugul- mano, O Convento da Trindade de Ceuta / On the Borders Between the Christian and Muslim worlds, The Trinity Convent os Ceuta”. In CORREIA, Jorge e TEIXEIRA, André (coords.), A Pentusula Ibérica e o Norte de Africa (sé- culos XV a XVI). Histéria ¢ Patriménio / The Iberian Peninsula and North Africa (15tb to 17th centuries). History and Heritage. Lisboa / Braga: CHAM — Cento de Humanidades, Faculdade de Ciéncias Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa / Lab2PT — Laboratério de Paisagens, Patrimonio e Terri- t6rio, Universidade do Minho, 2019, pp. 175-190. ALBERTO, Edite (2010) — Ure negisio piedoso: 0 resgate de cativos na época moderna. Braga: Instituto de Ciéncias Sociais / Universidade do Minho, 2010. Tese de doutoramento em Histéria Moderna. Disponivel em http://zepositorium. sdum.uminho.pt/handle/1822/13440 ALONSO ROMO, Eduardo Javier — “Trinitérios em Portugal durante a Idade Moderna”. In FRANCO, José Eduardo; ABREU, Luis Machado de (eds), Para a Historia das Ordens e Congregagtes Religiosas em Portugal, na Eurapa e no Mundo, Prior Velho: Paulinas Editora, 2014, vol. I, pp. 347-362. GOZALBES BUSTO, Guillermo — “Feliz epilogo de un rescate”. Cuadernos del Archivo Municipal de Ceuta, 8. Ceuta: Archivo Municipal, 1994, pp. 97 — 114. PORRES ALONSO, Bonifacio — Liberdad a los cautivos. Actividad redentora de la Orden Trinitaria, Cordova / Salamanca: Secretariado Trinitario, 1997, 2 vols. 262 FREI ANDRE DOS ANJOS F OS RESGATES DE CATIVOS EM MELILHA SILVA, Francisco Alvaro Louteito da - Bibliografia dos Autores Trinitirios Portu- guests. Porto: Faculdade de Letras, Universidade do Porto. Dissertagio de ‘Mestrado em Hist6tia da Cultura Portuguesa (Fpoca Moderna), 1996. SOUSA, Luis Costa e Sousa - Alzicer Ouibir 1578. Visio ou Delirio de um rei? Lis- boa: Tribuna da Histéria, 2000. 263

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