You are on page 1of 75

CINESIOTERAPIA

Unidade II
5 FORTALECIMENTO MUSCULAR

5.1 Raciocínio clínico

A capacidade de realizar esforços, seja no trabalho, no lazer, na vida diária ou nos esportes, é
dependente das qualidades da aptidão física (SANTAREM, 2012).

Os elementos fundamentais do desempenho muscular relacionados à aptidão física incluem a força,


a potência e a resistência muscular à fadiga. Quando uma ou mais dessas áreas está comprometida,
poderão ser desenvolvidas as limitações funcionais. Lesões, doenças, cirurgias, imobilização, desuso ou
inatividade podem resultar em comprometimento do desempenho muscular e levar à fraqueza e à
atrofia muscular (KISNER; COLBY, 2016).

Diante das alterações do desempenho muscular, a fisioterapia dispõe de intervenções que incluem
o treinamento de fortalecimento, com o objetivo de recuperação funcional e prevenção de lesões.
O fisioterapeuta deverá conhecer os princípios e os tipos de treinamento com as respectivas diretrizes,
indicações, precauções e contraindicações, embasados pela anatomia, cinesiologia, biomecânica,
fisiologia e fisiopatologia.

A força muscular é produzida a partir da contração de um músculo ou grupo de músculos. Para


elaborar qualquer exercício de fortalecimento, o ponto de partida é o conhecimento da anatomia
muscular associado à cinesiologia. Conhecendo-se a anatomia muscular, incluindo origem e inserção,
você será capaz de entender a ação principal de um músculo e, baseando-se nela, poderá elaborar o
posicionamento do exercício para que essa ação seja executada. A biomecânica vai possibilitar que
o exercício seja realizado respeitando-se a integridade das estruturas articulares a fim de evitar lesão
durante o exercício. Os conceitos de torque muscular, alavancas e amplitudes de movimento precisam
ser dominados, pois vão influenciar a produção de força nos exercícios. No exemplo a seguir, você
identificará todos esses pré-requisitos reunidos na elaboração de um único exercício.

Você vai atender um paciente com condromalácia patelar e cujo objetivo fisioterapêutico é fortalecer
o músculo quadríceps. Partindo-se das características anatômicas desse músculo, identifica-se que ele
passa anteriormente à articulação do quadril e ao joelho, sendo, portanto, flexor de quadril e extensor
de joelho (NEUMANN, 2011). No caso de um músculo biarticular, será preciso elaborar um exercício que
recrute o músculo em sua função principal – nesse exemplo, seria a extensão do joelho. Entretanto,
não bastaria reproduzir o movimento de extensão sem o conhecimento prévio da biomecânica, que
fundamenta que o exercício de extensão seja feito com angulação de proteção sem atingir a extensão
completa para um paciente com degeneração articular, já que no fim da extensão o torque da resistência
externa é maior devido ao tamanho da alavanca, o que sobrecarregaria mais a articulação patelofemoral
103
Unidade II

de um paciente com degeneração da cartilagem patelar (FELICIO et al., 2010). Diante disso, recomenda‑se
que o exercício seja feito com extensão controlada, sem ultrapassar os últimos graus de extensão (entre
90 e 45 graus), conforme demonstrado nas figuras a seguir.

A) B)

Figura 138 – Fortalecimento do quadríceps na cadeira extensora com amplitude controlada

Saiba mais

Para compreender os exercícios, revise as ações principais de cada


músculo com o auxílio do livro a seguir:

NEUMANN, D. A. Cinesiologia do aparelho musculoesquelético:


fundamentos para a reabilitação. 2. ed. São Paulo: Elsevier, 2011.

5.2 Contração muscular

A contração muscular ocorre a partir dos impulsos eletroquímicos enviados do sistema nervoso
central para o músculo. Os motoneurônios alfa (α) localizados no corno anterior da medula enviam
as informações recebidas do córtex motor por meio das unidades motoras (motoneurônio alfa e o
conjunto de fibras musculares por ele inervadas) até a placa motora terminal, que representa a interface
entre a extremidade de um motoneurônio alfa mielinizado e uma fibra muscular (figura a seguir). Nesse
local, transmite-se o impulso nervoso, que desencadeará uma contração muscular. As ações individuais
e combinadas das unidades motoras produzem contrações musculares específicas. O pool de neurônios
motores representa todos os motoneurônios α que inervam um único músculo (MCARDLE; KATCH;
KATCH, 2018).

104
CINESIOTERAPIA

Motoneurônio alfa
(corpo celular)

Dendritos Tronco
nervoso

Axônio
Proeminência descoberto
Unidade motora

axônica
Sentido da
propagação do
potencial de ação
Fibras
nervosas

Nó de
Ranvier Veia
Ramos Placa motora Artéria
terminais terminal
Impulso

Neurilema
Bainha de
mielina

Figura 139 – Unidade motora e placa motora terminal

Motoneurônio Pool de
alfa motoneurônios

Fibras
musculares
Unidade
motora

Músculo

Figura 140 – Unidade motora e conjunto de motoneurônios para um músculo

As unidades motoras apresentam características funcionais de acordo com o perfil metabólico da


fibra muscular que elas inervam, o que determinará características da contração, produção de força

105
Unidade II

(tensão) e resistência à fadiga. As primeiras experiências na área da fisiologia dos músculos/nervos


revelaram que a tensão desenvolvida pode ser alta, baixa ou intermediária em resposta a um único
estímulo elétrico. Além disso, as unidades motoras com baixa capacidade de força exibiam um pequeno
período de encurtamento (é o período até ser alcançada a força máxima), mas permaneciam resistentes
à fadiga, enquanto as unidades com capacidade de força mais alta sofriam um encurtamento mais
rápido, mas se fatigavam mais precocemente. As principais características para as três categorias (figura
a seguir) comuns de unidades motoras são: tipo I (contração lenta, força baixa e resistência à fadiga);
tipo IIa (contração rápida, força moderada e resistência à fadiga); e tipo IIx (contração rápida, alta força
e fadiga rápida) (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018). Essas características determinarão como os músculos
serão treinados de acordo com sua capacidade de desenvolver mais força ou resistência muscular.

Medula espinhal

Nervo periférico
Rapidamente fatigável
(FR: tipo IIx) Musculoesquelético

Rápida e resistente à fadiga


(RF: tipo IIa)
Fibras rápidas
glicolíticas

Lenta (L: tipo I) Fibras rápidas


oxidativo-glicolíticas

Fibras lentas
oxidativas

Figura 141 – Características de velocidade, força e fadiga das unidades motoras. Os motoneurônios fásicos
são acionados rapidamente com sequências curtas; os motoneurônios tônicos
são acionados lentamente, porém de modo contínuo

A contração muscular produz força. Força é a máxima tensão que um músculo ou grupo muscular
pode gerar com uma única contração (MICHEO; BAERGA; MIRANDA, 2012).

106
CINESIOTERAPIA

Para produzir força, diferentes tipos de contração muscular podem ser trabalhadas em exercícios
nos quais a contração muscular vença ou sustente uma sobrecarga (uma força externa). A força
externa que se opõe ao movimento poderá ser somente: a força da gravidade; a resistência manual
do fisioterapeuta (figura a seguir); elásticos; pesos livres, como halteres e tornozeleiras; anilhas dos
aparelhos de musculação; ou molas. Os três tipos de contração muscular são capazes de produzir força.

Figura 142 – Exercício com resistência manual

Figura 143 – Exercício com resistência elástica

107
Unidade II

Figura 144 – Exercício com peso livre

Figura 145 – Exercício com resistência mecânica

As contrações musculares usadas nos programas de fortalecimento podem ser divididas em estáticas
(isométrica) ou dinâmicas (concêntrica e excêntrica) (MICHEO; BAERGA; MIRANDA, 2012).

Contração isométrica

Nesse tipo de contração, não há movimento articular. O termo métrico significa comprimento; iso,
igual ou constante. Designa uma contração na qual o músculo se contrai sem alterar o ângulo articular.
A força de resistência externa é igual à força de resistência interna. Trata-se de uma contração estática
ou mantida.

108
CINESIOTERAPIA

Tensão MM

Tensão MM

Figura 146 – Contração isométrica

O exercício estático pode ser aplicado em fases iniciais de programas de reabilitação após lesão
ou cirurgias ou para indivíduos muito fracos. O ganho de força é limitado ao ângulo no qual a
articulação é exercitada, mas há relatos que indicam o aumento da força em ângulos adjacentes
(BANDY; SANDERS, 2003).

Nas imagens a seguir, são demonstrados exemplos de exercícios isométricos. Para cada exercício,
imagine que a pessoa adquire a posição e a mantém.

Figura 147 – Isometria dos músculos abdominais, iliopsoas, quadríceps e tríceps sural

109
Unidade II

Figura 148 – Isometria dos músculos isquiotibiais

Figura 149 – Isometria em cocontração dos músculos quadríceps e isquiotibiais

Figura 150 – Isometria de quadríceps e flexores de quadril

110
CINESIOTERAPIA

Os exercícios isométricos devem ser mantidos por 6 a 10 segundos em cada repetição, já que
alguns estudos demonstram ganho de força e alterações metabólicas no músculo com esse tempo de
manutenção (BANDY; SANDERS, 2003; KISNER; COLBY, 2016).

Contração concêntrica

Designa uma contração muscular em que a força interna produzida por um músculo supera a força
externa de resistência, possibilitando ao músculo encurtar-se e produzir movimento (figura a seguir). Na
contração concêntrica, ocorre uma aproximação da origem e inserção muscular durante o movimento.
As contrações concêntricas aceleram as articulações e produzem maior torque com contrações lentas
(MICHEO; BAERGA; MIRANDA, 2012).

Figura 151 – Contração concêntrica

Contração excêntrica

Designa uma contração muscular na qual é adicionada uma resistência externa maior que a força
muscular interna, possibilitando ao músculo alongar-se enquanto mantém a tensão. Na contração
excêntrica, ocorre um afastamento da origem e da inserção durante o movimento, de forma que o
músculo desacelera o movimento (MICHEO; BAERGA; MIRANDA, 2012).

111
Unidade II

Abaixamento lento

Figura 152 – Contração excêntrica

Nas imagens a seguir, são demonstrados exemplos de exercícios dinâmicos. Para cada exercício,
imagine a ida e a volta durante a fase de movimento: quando o músculo está se encurtando, a contração
é concêntrica; no retorno do movimento, enquanto a resistência é controlada com o alongamento do
músculo, a contração é excêntrica.

A)

B)

Figura 153 – Fortalecimento dinâmico dos flexores do tronco.


Fase concêntrica (de A para B). Fase excêntrica (de B para A)

112
CINESIOTERAPIA

A) B)

Figura 154 – Fortalecimento dinâmico do quadríceps. Fase concêntrica (de A para B). Fase excêntrica (de B para A)

Exercício isocinético

Envolve contrações musculares em que a velocidade do movimento é controlada mecanicamente,


de modo que o segmento se move a uma velocidade constante, pré-determinada. As máquinas
eletromecânicas mantêm a velocidade do movimento previamente selecionada durante a atividade e,
uma vez acelerado o membro a essa velocidade, é aplicada uma resistência suficiente para impedir que
o membro se acelere além da velocidade estabelecida. Essa resistência adaptável varia quando a força
muscular varia em consequência da alteração de comprimento do músculo e do ângulo de tração,
possibilitando a máxima carga dinâmica dos músculos em toda a ADM. O exercício isocinético pode
envolver uma contração de encurtamento dinâmico do músculo mantendo-se constante a velocidade do
movimento (carga isocinética concêntrica) ou envolver contrações de alongamento a velocidades angulares
controladas (carga isocinética excêntrica). Os equipamentos isocinéticos (figura a seguir) contém
dinamômetros associados a computadores que visam fornecer ao profissional ou pesquisador muitas
informações quantitativas relativas à função muscular como torque máximo, trabalho e potência
(BANDY; SANDERS, 2003).

113
Unidade II

Figura 155 – Dinamômetro isocinético

Nas imagens a seguir, são demonstrados exercícios de fortalecimento no equipamento isocinético


para os músculos da coluna e para os músculos do joelho.

A) B)

Figura 156 – Exercício de fortalecimento isocinético para flexores e extensores do tronco.


Flexão de tronco (A); extensão de tronco (B)

114
CINESIOTERAPIA

A) B)
Figura 157 – Exercício de fortalecimento isocinético para flexores e extensores do joelho.
Flexão do joelho (A); extensão do joelho (B)

5.3 Tipos de cadeias cinéticas

De acordo com Steindler (apud KARANDIKAR; VARGAS, 2011), os segmentos são organizados de
forma sobreposta em série. O autor definiu cadeia cinética como “uma combinação de várias articulações
organizadas sucessivamente e constituindo uma unidade motora complexa”. Ainda classificou o conceito de
cadeia cinética em fechada ou aberta, dependendo da carga terminal recebida pelo segmento mais distal.

A A

B B

C C

D D

Sistema de cadeia cinética aberta

A
A

B
B
C
C

D D
Sistema de cadeia cinética fechada

Figura 158 – Tipos de cadeia cinéticas

115
Unidade II

Cadeia cinética aberta é definida como um sistema que combina articulações organizadas
sucessivamente, no qual o segmento terminal pode mover-se livremente. Em um sistema de cadeia
cinética aberta, o segmento distal está livre para se mover no espaço (KARANDIKAR; VARGAS, 2011).
Observe a seguir exemplos de cadeia cinética aberta:

Figura 159 – Extensão do joelho com tornozeleira

Figura 160 – Extensão de joelho na cadeira extensora

Nesses exercícios, o segmento distal (perna) está livre para mover-se no espaço contra a resistência,
enquanto os segmentos proximais (coxa e tronco) estão fixados. Normalmente, na cadeia aberta o foco
é uma única articulação, com ênfase em isolar um grupo muscular específico. Nos exemplos anteriores,
a articulação é o joelho e o músculo a ser fortalecido é o quadríceps.

Cadeia cinética fechada é definida como uma condição na qual o segmento distal encontra
considerável resistência externa que impede ou restringe seu movimento livre. Em um sistema de
cadeia cinética fechada, a força aplicada a um dos segmentos produz movimentos em todos os outros
segmentos da cadeia cinética de uma forma previsível. Além disso, na cadeia fechada os exercícios
causam a cocontração de músculos agonistas e antagonistas (KARANDIKAR; VARGAS, 2011).
116
CINESIOTERAPIA

Um exemplo clássico de cadeia cinética fechada é o agachamento (figura a seguir), no qual os pés
permanecem fixados ao solo e o movimento ocorre uniformemente ao longo das múltiplas articulações
dos membros inferiores.

Figura 161 – Agachamento

Dillman (apud por KARANDIKAR; VARGAS, 2011) propôs que a classificação do tipo de cadeia
deve ser baseada se o segmento distal da cadeia está em movimento ou fixado e se está sustentando
ou suportando uma carga. Uma atividade com o segmento terminal fixo e sem carga não existe.
Considerando as variáveis de carga e mobilidade do segmento distal, todas as atividades podem ser
classificadas da seguinte forma:

• Móvel: sem carga (assemelha-se a um sistema de cadeia aberta).

• Fixo: carga externa (assemelha-se a um sistema de cadeia fechada).

• Móvel: com carga externa (uma combinação de sistemas de cadeia aberta e fechada).

Mais recentemente, Kibler (apud KARANDIKAR; VARGAS, 2011) definiu cadeia fechada como uma
combinação sequencial de movimentos articulares, na qual o segmento distal da cadeia cinética encontra
uma resistência considerável, mas não precisa estar fixado. Essas discussões se aplicam principalmente
ao aparelho leg press, que é constituído por uma plataforma móvel em que os pés permanecem apoiados
e realizam o movimento contra uma carga externa considerável.

117
Unidade II

Figura 162 – Exemplo de exercício no aparelho leg press

5.4 Variáveis de desempenho muscular

Os músculos apresentam diferentes capacidades (força, potência, resistência à fadiga), sendo


estas exigidas em demandas variadas, dependendo da função a ser reabilitada. Um dos objetivos
da fisioterapia com os pacientes é melhorar o desempenho muscular. No treinamento resistido, o
fisioterapeuta também deverá ter em mente qual característica do desempenho muscular visa atingir,
porque o treino para resistência à fadiga, para força ou potência apresentam características específicas
para atingir o objetivo pretendido. Como as demandas físicas de trabalho, lazer, esporte e atividades
de vida cotidiana geralmente envolvem os três aspectos de desempenho, a maioria dos programas de
treinamento resistido busca obter um equilíbrio entre força, potência e resistência muscular à fadiga
para atender às necessidades e aos objetivos individuais. Os três elementos do desempenho muscular
podem ser melhorados com alguma forma de exercício resistido.

• Resistência muscular à fadiga (ou resistência local): é a capacidade de prolongar esforços.


Resistência à fadiga é a habilidade de realizar atividades de baixa intensidade, repetitivas ou
sustentadas por um tempo prolongado. No treinamento resistido, o músculo contrai-se
repetidamente contra uma carga, gera e mantém tensão, e resiste à fadiga por um longo período
(KISNER; COLBY, 2016).

• Força muscular: é a capacidade de gerar tensão muscular. É importante destacar que o fato de
um músculo ser forte não significa que esse mesmo músculo seja resistente à fadiga, são formas
diferentes de trabalho muscular.

• Potência muscular: é uma associação de força com velocidade e resistência.

• Potência explosiva ou instantânea: associação de força com velocidade (SANTAREM, 2012).

118
CINESIOTERAPIA

5.5 Princípios do treinamento resistido

Antes de planejar o treinamento de seu paciente, sempre tenha em mente a seguinte pergunta: qual
característica do desempenho muscular se deseja desenvolver? Com o objetivo definido, de acordo com
as características de seu paciente e baseado nos princípios do treinamento resistido, você organizará o
treino. Primeiro, serão descritos a seguir os princípios gerais do treinamento resistido para em seguida
associá-los ao objetivo a ser trabalhado quanto à característica de desempenho muscular.

Segundo o ACSM (2009), os princípios mais importantes da progressão de um treinamento resistido


são: especificidade, sobrecarga (intensidade) e variação.

A magnitude dos ganhos com o treinamento depende do nível de treinamento individual (iniciante,
intermediário ou avançado) e a predisposição genética. Um aspecto importante é conhecer a história
prévia de treinamento do indivíduo. O programa de treinamento sofrerá adaptações, pois vai depender
dos seguintes aspectos: se o indivíduo é iniciante (pessoa sem experiência prévia no treinamento
resistido ou que não treina há vários anos), intermediário (pessoa com aproximadamente seis meses
de experiência em treinamento resistido) ou avançado na prática de treinamento resistido (pessoa com
anos de experiência em treinamento resistido) (ACSM, 2009).

Princípio da especificidade

Todas as adaptações do treinamento serão específicas ao estímulo aplicado (ACSM, 2009). Efeitos
adaptativos como a melhora da força, potência ou resistência muscular à fadiga são altamente
específicos ao método de treinamento empregado. Sempre que possível, os exercícios deverão simular
padrões funcionais e as demandas exigidas (KISNER; COLBY, 2016).

Por exemplo, se a atividade funcional a ser reabilitada requerer mais resistência do que força, os
parâmetros de treino dos exercícios deverão ser programados para melhorar a habilidade de resistência
muscular à fadiga.

A especificidade do treinamento resistido considera os seguintes fatores:

• tipo de exercício;

• ações musculares envolvidas;

• grupos de músculos a serem treinados;

• velocidade do movimento;

• padrões de tarefas motoras;

• amplitude e padrão de movimento;

119
Unidade II

• sistemas de energia envolvidos;


• intensidade e volume de treinamento (frequência, repetições, séries).
Imagine que você recebeu um paciente com diagnóstico de osteoartrite de joelhos cuja queixa
principal de dor esteja associada ao ato de subir e descer escadas no sobrado onde mora e no ônibus.
No exame físico, identificou-se fraqueza muscular em membros inferiores. O objetivo funcional desejado
é recuperar a capacidade desse paciente para subir e descer escadas sem dor. A tarefa motora para subir
e descer escadas depende de força e exige padrões de movimento em cadeia aberta e fechada, em
contrações excêntricas e concêntricas a uma determinada velocidade e grande recrutamento dos
músculos extensores do joelho, quadril e tornozelo, dos estabilizadores da pelve e flexores de quadril.
Essas características deverão fazer parte dos exercícios escolhidos para a reabilitação deste paciente.
Princípio da sobrecarga progressiva

A sobrecarga representa a intensidade (carga prescrita) do exercício. Sobrecarga progressiva é o


aumento gradual do estresse colocado sobre o corpo durante o exercício. Ao longo de um programa de
exercícios, a quantidade de carga usada ou o volume deverão ser ajustados. Para que um músculo possa
sofrer ganhos e adaptações em seu desempenho, ele precisa ser desafiado a trabalhar em um nível mais
alto do que está acostumado. A sobrecarga causa fadiga e a recuperação e adaptação possibilitam ao
corpo compensar e atingir um nível mais alto de aptidão (BANDY; SANDERS, 2003). Esse princípio foca
a colocação progressiva de carga sobre o músculo manipulando a intensidade ou o volume do exercício.
A intensidade do exercício resistido refere-se à quantidade de peso (resistência) imposta sobre o músculo,
já o volume engloba variáveis como número de repetições, séries ou frequência do exercício, podendo
uma ou mais delas serem gradualmente ajustadas para aumentar as demandas sobre o músculo (ACSM,
2009; KISNER; COLBY, 2016). A velocidade das repetições e o tempo de repouso entre as repetições
também podem sofrer modificações para aumentar a intensidade do exercício.
Se você estiver tratando um paciente cujo objetivo é estimular a resistência muscular à fadiga, deverá
aumentar o tempo de manutenção de uma contração ou o número de repetições realizadas no exercício.
Para um paciente cujo objetivo é o aumento de força e ganho de massa muscular, a quantidade de carga
(peso) aplicada ao exercício deverá ser aumentada progressivamente.
Percebe-se que a força do paciente aumentou quando for possível a ele realizar mais repetições com
as cargas de treinamento em uso (SANTAREM, 2012).
Princípio da variação
Trata-se de uma alteração sistemática de uma ou mais variáveis de um programa de treinamento
resistido ao longo do tempo para permitir a geração de estímulos que tornem os exercícios mais
desafiadores e eficazes, porque o corpo humano se adapta rapidamente ao programa de treinamento
resistido. Tem sido demonstrado que a variação sistemática de volume e intensidade é mais eficaz para
a progressão ocorrer a longo prazo (ACSM, 2009). Tente, ao longo do processo de reabilitação, além
de aumentar a carga do exercício, aumentar o número e variar os tipos de exercícios. Evite manter
o mesmo treinamento por longo tempo para evitar a adaptação e otimizar os resultados com seu
paciente, possibilitando uma recuperação mais rápida e efetiva.

120
CINESIOTERAPIA

Princípio da reversibilidade

A perda das adaptações fisiológicas e de desempenho, chamada destreinamento, ocorre


rapidamente quando uma pessoa encerra sua participação na atividade física regular. Esse princípio
refere-se ao descondicionamento físico, evidenciado por uma redução no desempenho muscular,
redução na capacidade tanto metabólica quanto de realização do exercício. O descondicionamento
pode começar a partir de uma ou duas semanas depois de cessados os exercícios resistidos e
continuar até que os efeitos do treinamento sejam perdidos em alguns meses (MCARDLE; KATCH;
KATCH, 2018).

É recomendado que os pacientes após a alta da fisioterapia participem de um programa de exercícios


resistidos de manutenção como parte de um programa de preparo físico vitalício.

Esses princípios de treinamento deverão ser aplicados a todos os tipos de população, sendo feitas as
devidas adaptações quando necessário, conforme será discutido posteriormente.

Lembrete

Tenha em mente qual objetivo funcional deseja recuperar e qual


característica do desempenho muscular. Então, adeque os princípios e
parâmetros do treinamento ao seu objetivo.

5.6 Diretrizes para trabalhar o desempenho muscular

A seguir serão descritas as recomendações para o desenvolvimento de cada desempenho muscular.


As diretrizes seguem os princípios de treinamento abordados anteriormente. Você deverá identificar
qual é o seu principal objetivo terapêutico com o seu paciente e estabelecer as condutas adequadas.

Observe as recomendações para aumento da resistência muscular à fadiga:

• Objetivo terapêutico: desenvolver resistência muscular localizada.

• Condutas: o músculo deverá ser estimulado a contrair vencendo uma carga repetidas vezes ou
manter uma contração muscular por um período (KISNER; COLBY, 2016).

• Elementos principais do treinamento: contrações musculares de baixa intensidade, numerosas


repetições e um tempo prolongado. No treinamento de resistência, dá-se ênfase ao aumento do
tempo que uma contração muscular é mantida ou ao número de repetições. O número elevado
de repetições nesse tipo de treinamento justifica-se para que o músculo consiga desenvolver
trabalho no sentido de resistir à fadiga.

• Número de séries e repetições: séries de longa duração, entre 15 a 25 repetições ou mais têm
sido mostradas como as mais efetivas para aumentar a resistência muscular. Para os novatos o
121
Unidade II

treinamento pode ser iniciado com 10 a 15 repetições. Assim, 3 a 5 séries de 40 a 50 repetições


poderão ser realizadas com grau leve de resistência elástica (ACSM, 2009; KISNER; COLBY, 2016).

• Sobrecarga: cargas baixas combinam com maior número de repetições. Com o aumento do
número de repetições, obrigatoriamente, a carga (intensidade) a ser elevada será menor. Quanto
maior for o número de repetições e séries, múltiplas séries, isto é, mais de uma série por grupo
muscular, maiores serão a intensidade e o volume no treino de resistência muscular localizada.

• Seleção de exercícios e ordem de realização: a ordem dos exercícios ao longo da sessão não interfere
de forma expressiva no desempenho muscular. A sequência de exercícios parece não ser importante
no treinamento de resistência à fadiga. Exercícios que estimulem vários grupos ou grandes grupos
musculares têm elicitado maiores respostas agudas metabólicas (aumento de mitocôndrias
e capilarização). É recomendado que exercícios unilaterais e bilaterais, monoarticulares ou
multiarticulares sejam incluídos, variando-se sequências de combinação (ACSM, 2009).

• Aspectos fisiológicos do treinamento de resistência à fadiga: nesse tipo de treinamento, o


sistema nervoso central será estimulado a recrutar as unidades motoras que inervam as fibras
musculares do tipo I (fibras vermelhas, oxidativas e de contração lenta), especializadas no trabalho
muscular de resistência à fadiga (RIVERA-BROWN; FRONTERA, 2012), portanto, são as fibras do
tipo I que responderão, prioritariamente, a esse tipo de treino.

Haverá um consumo maior de glicogênio muscular devido ao trabalho muscular prolongado, o que
levará a uma produção significativa de lactato e produzirá a acidose muscular sentida pelo indivíduo
como uma ardência muscular, sensação esta esperada no treinamento de resistência muscular à fadiga.

A adaptação dos músculos ao treinamento de resistência ocorre mediante aumentos em sua


capacidade oxidativa e metabólica (aumento do número de mitocôndrias, capilarização), o que permitirá
maior transporte e uso de oxigênio, isto é, o músculo se cansará menos para realizar maior número de
repetições ou para manter a contração por mais tempo (ACSM, 2009).

Tabela 1 – Recomendações para um treinamento de resistência muscular localizada

Freq.
Nível Modo Séries Rep. Carga Repouso Velocidade
sem.
Iso, conc, exc, Leve
Iniciante uni, bil, multi, 1a3 10-15 40-70% <1 min 2a3 Baixa a moderada
mono 1 RM
Iso, conc, exc, Leve
Intermediário uni, bil, multi, 1a3 10-15 40-70% <1 min 3a4 Baixa a moderada
mono 1 RM
Iso, conc, exc, 10-25 Leve
Avançado uni, bil, multi, 1a3 40-70% 1-2 min 4a6 Moderada a rápida
mono ou mais 1 RM
Legenda: iso: isométrico; conc: concêntrico; exc: excêntrico; uni: unilateral; bil: bilateral; multi: multiarticular;
mono: monoarticular; Rep.: repetições; min: minutos; RM: repetição máxima; Freq. sem.: frequência semanal.

Adaptada de: ACSM (2009).

122
CINESIOTERAPIA

Ao aumentar a frequência (quatro a seis semanas) de treinamento de resistência, os exercícios deverão


ser agrupados em membros superiores e inferiores para não treinar os mesmos grupos musculares
todos os dias. Para o treinamento com pesos em circuito, recomenda-se que os períodos de descanso
correspondam ao tempo necessário para ir de uma estação de exercício a outra.

Observação

Quando os músculos permanecem imobilizados, as fibras do tipo I, resistentes


à fadiga, atrofiam-se mais rápido do que as fibras do tipo II (contração rápida)
(KISNER; COLBY, 2016).

A seguir, destacam-se as recomendações para aumento da força muscular:

• Objetivo terapêutico: desenvolver força muscular.

• Condutas: movimentar cargas durante um número relativamente baixo de repetições ou durante


um curto período.

• Elementos principais do treinamento: cargas pesadas (resistência) em um número relativamente


baixo de repetições ou por um curto período.

• Número de séries e repetições: menor número de repetições (8-12).

• Sobrecarga: mais alta.

• Seleção dos exercícios e ordem de realização: o sequenciamento de exercícios afeta significativamente


a expressão da força muscular durante a sessão de treinamento. De acordo com o ACSM (2009),
recomenda‑se: trabalhar primeiro grandes grupos musculares para depois trabalhar os pequenos grupos
musculares; trabalhar primeiro exercícios multiarticulares para depois trabalhar os monoarticulares;
fazer exercícios de maior intensidade para em seguida treinar os de menor intensidade; trabalhar grupos
musculares agonistas-antagonistas de forma alternada e em sequência. Quando o indivíduo estiver
treinando em uma frequência semanal maior, o treino deverá ser dividido ao longo da semana, por
exemplo, alguns dias serão trabalhados só membros superiores e tronco e nos outros dias só membros
inferiores, já que não se deve treinar os mesmos grupos musculares todos os dias.

• Aspectos fisiológicos do treinamento de força: haverá um recrutamento primário das fibras


de contração rápida tipo II (glicolíticas, de contração rápida e com baixa resistência à fadiga)
(RIVERA-BROWN; FRONTERA, 2012).

O ganho de força será resultado da elevação progressiva da carga, que resultará em adaptações neurais
através do recrutamento de mais unidades motoras (em média, nas primeiras duas a três semanas) seguido
de um aumento do tamanho da fibra muscular (hipertrofia), em média de 6 a 12 semanas (KISNER; COLBY,
2016). A força muscular poderá aumentar significantemente já na primeira semana de treinamento.
123
Unidade II

Tabela 2 – Recomendações para um treinamento de força

Freq.
Nível Modo Séries Rep. Carga Repouso Velocidade
sem.
Iso, conc, exc 1-2 min
uni, bil, mono, multi 60-70% <carga Baixa a
Iniciante 1a3 8-12 2a3
Pesos livres 1 RM 2-3 min moderada
Máquinas > carga
Iso, conc, exc, 1-2 min
uni, bil, mono, multi 60-70% <carga
Intermediário 1a3 8-12 3a4 Moderada
Pesos livres 1 RM 2-3 min
Máquinas > carga
Iso, conc, exc 1-2 min Baixa,
uni, bil, mono, multi 80 -100% <carga
Avançado 1a3 8-12 4a6 moderada e
Pesos livres 1 RM 2-3 min rápida
Máquinas > carga
Legenda: iso: isométrico; conc: concêntrico; exc: excêntrico; uni: unilateral; bil: bilateral; multi: multiarticular;
mono: monoarticular; Rep.: repetições; min: minutos; RM: repetição máxima; Freq. sem.: frequência semanal.

Adaptada de: ACSM (2009).

Observação

Recomenda-se a aplicação de um aumento de 2-10% na carga quando


o indivíduo puder executar a carga de trabalho atual por uma ou duas
repetições sobre o número desejado em duas sessões de treinamento
consecutivas ou quando a fadiga não ocorrer mais depois do número-alvo
de repetições ter sido completado (ACSM, 2009; KISNER; COLBY, 2016).

Note as recomendações para aumenta da potência muscular:

• Objetivo terapêutico: desenvolver potência muscular.

• Condutas: o treinamento de potência associa força com altas velocidades.

• Elementos principais do treinamento: em programas de treinamento de potência, a velocidade do


movimento é a variável mais manipulada frequentemente. Em outras palavras, é a rapidez com que o
trabalho é realizado, isto é, a rapidez com que um músculo se contrai e produz uma força resultante.

• Número de séries e repetições: a intenção é mover uma carga elevada por um pequeno número
de repetições ou mover uma carga baixa por um número alto de repetições até o ponto de fadiga
muscular (KISNER; COLBY, 2016).

• Carga: o trabalho muscular poderá ser produzido durante um período muito curto ou mais longo,
e a potência poderá ser expressa por um único evento abrupto de atividade de alta intensidade
(como erguer uma mala bem pesada para colocá-la sobre um bagageiro alto ou realizar um salto

124
CINESIOTERAPIA

em altura) ou por eventos repetidos de atividade muscular menos intensa (como subir um lance
de escadas). Os termos potência anaeróbia e potência aeróbia, respectivamente, às vezes são
usados para diferenciar esses dois aspectos do tipo de treinamento de potência. Uma sobrecarga
específica de curta duração (como treinamento de força-potência) induz adaptações específicas
de força-potência (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018).

• Aspectos fisiológicos do treinamento de potência muscular: a força muscular é o elemento


básico para o desenvolvimento da potência muscular.

Programas de treinamento anaeróbio e aeróbio de potência são planejados para o treinamento dos
três sistemas de fornecimento de energia metabólica: sistema ATP-PCr, sistema glicolítico anaeróbio e
sistema oxidativo (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013).

Tabela 3 – Recomendações para um treinamento de potência muscular

Freq.
Nível Modo Séries Rep. Carga Repouso Velocidade
sem.

30-60% 1-2 min


Conc, exc, 1 RM (MS) <carga
Iniciante 1a3 3-6 2a3 Rápida
multi 0-60 % 2-3 min
1 RM (MI) > carga

30-60% 1-2 min


Conc, exc, 1 RM (MS) <carga
Intermediário 1a3 3-6 3a4 Rápida
multi 0-60 % 2-3 min
1 RM (MI) > carga

30-60% 1-2 min


Conc, exc, 1 RM (MS) <carga
Avançado 1a3 3-6 4a5 Rápida
multi 0-60 % 2-3 min
1 RM (MI) > carga

Legenda: iso: isométrico; conc: concêntrico; exc: excêntrico; uni: unilateral; bil: bilateral; multi: multiarticular;
mono: monoarticular; Rep.: repetições; min: minutos; RM: repetição máxima; Freq. sem.: frequência semanal;
MS: membro superior; MI: membro inferior.

Adaptada de: ACSM (2009).

Saiba mais

Complemente seus estudos no site a seguir:

www.treinoemfoco.com.br

125
Unidade II

5.7 Adaptações neurais e estruturais do treinamento

Fisiologicamente, como ocorre o ganho de força?

Nesse instante, vem à mente a seguinte questão: como as pessoas se tornam mais fortes?
As alterações ou adaptações metabólicas, morfológicas e neurais estão ligadas diretamente à
especificidade do treinamento (ACSM, 2009; KISNER; COLBY, 2016). O aumento de força dependerá da
capacidade de recrutamento das unidades motoras (aprendizado motor) e da quantidade de proteína
contrátil nas fibras musculares (trofismo). O músculo é um tecido plástico, capaz de aumentar volume
e força com o treinamento.

O treinamento resistido conduz a adaptações neuromusculares. A capacidade de maior recrutamento


das unidades motoras faz parte das adaptações neurais (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013).

Para a compreensão do recrutamento motor, é importante lembrar da estrutura de uma unidade motora.

Com o treinamento, aumenta-se o recrutamento, a frequência, a velocidade e a sincronização das


unidades motoras. Esses efeitos são imediatos, isto é, o indivíduo aprende a recrutar mais fibras e as
fibras corretas, ocorre um maior nível de facilitação neural, o que gera um aumento de força rápido e
significativo já no início do treinamento. Em outras palavras, o indivíduo aprende a gerar força de forma
mais efetiva e mais coordenada, modifica-se o controle neural do músculo. No treinamento resistido, para
executar um movimento contra uma resistência (sobrecarga), mais unidades motoras serão chamadas
para que mais fibras musculares desempenhem o trabalho muscular para vencer essa nova sobrecarga.
Assim, haverá mais unidades motoras trabalhando juntas para executar uma determinada tarefa, o que
significa maior sincronização (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013).

O treinamento específico com movimentos rápidos ou do tipo balístico parece particularmente


eficaz para a estimulação da maior frequência de disparos das unidades motoras rápidas.

O sistema neuromuscular é um dos sistemas do corpo que mais responde ao treinamento. Os efeitos do
aprendizado motor podem ser responsáveis por até 50% do ganho de força. Portanto, o desenvolvimento
da força muscular envolve muito mais fatores além do ganho de massa muscular.

Em suma, “os ganhos de força podem ser obtidos sem que ocorram mudanças estruturais no
músculo, mas não sem que haja adaptações nervosas” (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013). Dessa forma,
entende‑se que a força não é apenas propriedade do músculo, mas também do sistema de controle motor.

Muitas pesquisas mostram que fatores neurais contribuem para ganhos de força durante as primeiras
oito ou dez semanas de treinamento (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013). Kisner e Colby (2005) citam
um estudo que relata aumento na atividade eletromiográfica (EMG) durante as primeiras quatro a oito
semanas de treinamento, com pouca ou nenhuma evidência de hipertrofia das fibras musculares.

126
CINESIOTERAPIA

Como se desenvolve a hipertrofia muscular

Nesse contexto, destacam-se as adaptações estruturais: quando você observa que os músculos
estão maiores e mais definidos, significa que houve um ganho de massa muscular.

O desenvolvimento de massa muscular faz parte das adaptações estruturais. A hipertrofia é o


aumento da fibra muscular, ganho de massa muscular, ocorrendo um aumento da secção transversa do
músculo com o treinamento resistido a longo prazo (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018).

O aumento do tamanho do músculo ocorre por meio da maior síntese proteica, que leva ao aumento
do volume das fibras musculares, já que novos sarcômeros são formados. Ocorre um aumento do
diâmetro das fibras musculares individuais.

Um aumento na tensão muscular (força) induzido pelo treinamento com exercícios proporciona
o estímulo primário, que irá iniciar o processo de crescimento ou hipertrofia do musculoesquelético.
Duas adaptações são necessárias para a hipertrofia muscular (maior síntese de proteínas e proliferação
das células satélites). O estresse mecânico imposto aos componentes do sistema muscular induz as
proteínas sinalizadoras a estimular a síntese proteica em um nível superior ao fracionamento das
proteínas (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018). Fisiologicamente, a tensão recebida pela musculatura
com as cargas mais altas e a fase excêntrica do exercício causam rupturas nas linhas Z do sarcômero.
A tensão recebida induz a microlesões musculares que estimulam a síntese proteica. Novas miofibrilas
serão formadas, mais filamentos de actina e miosina, mais sarcoplasma, além da proliferação celular
do tecido conjuntivo. As células satélites abundantes nas fibras do tipo II facilitam o crescimento, a
manutenção e o reparo do tecido muscular lesionado. Com novos sarcômeros formados e um maior
número de pontes cruzadas, irá aumentar também a força resultante do músculo (KENNEY; WILMORE;
COSTILL, 2013).

Os maiores aumentos na síntese de proteínas, portanto, na hipertrofia, estão associados a exercícios


de resistência moderada e de alto volume realizados excentricamente. Além disso, são as fibras
musculares do tipo IIb que parecem aumentar em tamanho mais prontamente com o treinamento
resistido. Diversos estudos demonstram maior hipertrofia e força no treinamento exclusivo com
contração excêntrica comparado ao treino com contração concêntrica ou de forma combinada.
O treinamento excêntrico em maiores velocidades resulta em maiores ganhos de hipertrofia e força
comparado a uma velocidade menor.

Os ganhos de força observados no início de um programa de treinamento resistido são resultado de


adaptações neurais. Para que ocorram alterações significativas no músculo, como hipertrofia e aumento
da vascularização, são necessárias pelo menos 6 a 12 semanas de treinamento resistido (MCARDLE;
KATCH; KATCH, 2018).

O gráfico a seguir mostra as adaptações neurais e estruturais que acontecem ao longo do tempo
concomitantemente ao ganho de força.

127
Unidade II

Força
Quase
todos os
estudos de Quase todos os atletas engajados
treinamento em treinamento de força
Progresso

Neural

Hipertrofia

Duração do treinamento
8 semanas 30 semanas

Figura 163 – Adaptações neurais e estruturais com o treinamento de força

Outro aspecto importante é a hiperplasia muscular. A hiperplasia é a divisão das células, aumentando
o número de células musculares. Segundo a literatura, a hiperplasia das fibras musculares ocorre em alguns
modelos animais, porém poucos estudos sugerem evidências de hiperplasia em seres humanos. É muito
importante não generalizar achados de pesquisas realizadas em animais para os seres humanos. Estudos mais
antigos sugerem que o número de fibras musculares em cada músculo de um indivíduo é estabelecido ao
seu nascimento e esse número permaneceria fixo ao longo da vida. Mesmo que outros estudos em seres
humanos venham a reproduzir uma hiperplasia induzida pelo treinamento, o aumento do volume das fibras
musculares individuais existentes representa a maior contribuição para o ganho de massa muscular em virtude
do treinamento com sobrecarga (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018).
Na prática, há duas situações em que pode ocorrer perda de massa e diminuição de força no
indivíduo: imobilismo pós-lesão ou interrupção do treinamento (descondicionamento). Na fisioterapia,
lidaremos com pacientes que, por diferentes motivos, passaram por um período de imobilismo.
Durante as primeiras seis horas de imobilização, a velocidade da síntese proteica começa a diminuir, o
que dará início ao processo de atrofia muscular, a diminuição do volume muscular resultante do desuso
do músculo e da perda de proteína que acompanha a inatividade. As reduções de força são maiores na
primeira semana de imobilização, o que está associado à perda de massa e à diminuição da atividade
neuromuscular no músculo imobilizado. A imobilização parece afetar tanto as fibras do tipo I como II, mas
estudos mostram que esses efeitos são maiores nas fibras do tipo I (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013).
Como o músculo desenvolve resistência muscular
O uso repetido das fibras musculares durante o treinamento de resistência estimula mudanças em sua
estrutura e em seu funcionamento. As atividades aeróbias dependem das fibras de contração lenta do tipo I,
tornando-se maiores, e podem ocorrer também mudanças das fibras do tipo II para tipo I com o treinamento.
O treinamento aeróbio aumenta o número de capilares por fibra muscular, melhorando a perfusão sanguínea,
a troca de gases, os restos metabólicos e os nutrientes. As fibras do tipo I contêm grande quantidade de
mioglobinas (pigmento que fica vermelho quando ligado ao oxigênio). Quando o oxigênio entra na fibra
muscular, liga-se à mioglobina e transfere as moléculas de oxigênio da membrana celular para as mitocôndrias.
128
CINESIOTERAPIA

O suprimento da mioglobina possibilita a alta resistência aeróbia para essas fibras do tipo I. A produção
de energia aeróbia ocorre nas mitocôndrias, o número e o tamanho das mitocôndrias e a atividade das
enzimas oxidativas aumenta com o treinamento aeróbio e proporciona ao músculo maior capacidade para o
metabolismo oxidativo, aprimorando o desempenho da resistência (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013).

5.8 Fatores que influenciam o desempenho muscular

Fatores anatômicos, biomecânicos e fisiológicos influenciam a capacidade do músculo produzir força.

Não é possível trabalhar os exercícios resistidos sem o conhecimento do conceito de torque. Trata-se
de uma variável que vai influenciar diretamente a produção de força.

Nos exercícios de fortalecimento, ao manipularmos as amplitudes de movimento e os braços de


alavanca da resistência, o exercício produzirá torques maiores ou menores, de forma que o exercício
poderá ser dificultado ou facilitado através da manipulação dessas variáveis.

Por definição, torque (τ) ou momento de uma força é o produto da força (newtons) vezes a distância
(metros) perpendicular (d) de sua linha de ação até o eixo do movimento (τ = F x d). Torque é expresso
em newtons-metros (N-m) (figura a seguir). É o efeito rotatório criado pela aplicação de uma força,
portanto, o torque não é uma força, mas meramente a efetividade de uma força para causar uma
rotação (HAMILL; KNUTZEN; DERRICK, 2016).
Pivô ou eixo
de rotação

A Força

Força

Pivô ou eixo Linha de


de rotação ação

Braço do
momento
B

Força

Pivô ou eixo
de rotação 50º

Braço do
momento

Figura 164 – O braço do momento é a distância perpendicular desde a linha de ação da força até o eixo de rotação

129
Unidade II

A
Ponto de equilíbrio B
C
3 kg
2 kg

0,2 m 0,3 m

Torque anti-horário Torque horário


Torque A = (3 kg ⋅ 9,81 m/s ) ⋅ 0,2 m = 5,89 N ⋅ m
2

Torque B = (2 kg ⋅ 9,81 m/s2) ⋅ 0,3 m = 5,89 N ⋅ m

Figura 165 – Torques em equilíbrio de acordo com os braços de resistência

Quando uma força for aplicada a uma alavanca, dependendo da distância em que ela for aplicada,
ocorrerá uma tendência a um movimento rotacional numa determinada direção. Para haver uma
rotação, será necessário um eixo. A alavanca se move em torno de um eixo e a linha de ação da força
precisará agir a uma certa distância do eixo. O torque será a tendência de uma força para causar rotação
sobre um eixo específico.

É possível aplicar o conceito de torque a um sistema de alavancas. Uma alavanca é representada


por uma haste rígida que é rodada sobre um ponto fixo ou eixo, chamado também de fulcro. Sobre
a alavanca, é representado um par de forças, sendo uma delas a força motora (de esforço) e a outra a
força da resistência. Estas, aplicadas a uma certa distância, criam tendências de movimento angular.
A distância da aplicação de cada uma dessas forças até o eixo determinará os braços da alavanca: braço
de força e braço de resistência (figura a seguir). Tanto as forças de esforço quanto as de resistência criam
torques sobre o eixo (HAMILL; KNUTZEN; DERRICK, 2016).

FEsforço

FResistência
MEsforço

MResistência

Figura 166 – Braço de força e braço de resistência

130
CINESIOTERAPIA

No corpo humano, a barra rígida de uma alavanca é representada pelos ossos e o eixo, pelas
articulações por onde passam os eixos de movimento. As forças aplicadas sobre os ossos são provenientes
dos músculos em seus pontos de inserção e das resistências aplicadas aos segmentos corporais durante
os exercícios.

Quando um músculo contrai, ele gera uma tendência de rotação da alavanca (ossos) em torno
de um eixo (articulação) sobre a qual ele atua (força motora ou de esforço). O músculo age a uma
certa distância (local onde ele se insere no osso) do eixo (articulação) e isso causa uma rotação ou
movimento angular. Em outras palavras, isso representa o torque muscular ou momento interno.
As resistências aplicadas sobre as alavancas de movimento também geram torques (torque de
resistência ou momento externo). A força da gravidade, uma tornozeleira presa ao tornozelo ou um
halter sustentado pela mão, vai gerar uma tendência de força para um movimento de um membro
ocorrer em torno de um eixo articular.

Torque decorrente
do bíceps
Torque
decorrente
da barra

Figura 167 – Torque muscular e torque da resistência

Força

BM

Figura 168 – Torque ou momento interno gerado pela força muscular do bíceps braquial

131
Unidade II

Força Força

Figura 169 – Torque ou momento externo gerado pela força gravitacional

Na imagem a seguir, nota-se que o peso do halter é o mesmo nas três amplitudes de flexão do
ombro. Entretanto, o nível de dificuldade do exercício muda conforme a amplitude, sendo que o maior
torque é produzido com o ombro a 90 graus de flexão, já que nessa ADM a força resultante do halter está
mais distante em relação ao eixo. Faça esse teste em você segurando um peso de 2 Kg por 10 segundos
nas três amplitudes de movimento demonstradas anteriormente e perceba em qual ADM o nível de
esforço que você terá que fazer é maior.

A) B) C)

Figura 170 – Demonstração de diferentes braços de resistência

Na reabilitação, é possível mexer com o tamanho dos braços de resistência para facilitar ou dificultar
um exercício. Se o braço de resistência produz um torque maior, consequentemente, o torque muscular
também terá que ser maior para vencer a resistência.

Durante a aplicação dos exercícios para aumentar a intensidade do exercício quanto ao torque, o
fisioterapeuta poderá aumentar o tamanho do braço de resistência ao variar a ADM para aumentar
o tamanho da alavanca, ao colocar a carga posicionada mais distalmente no membro, ao solicitar a
extensão da articulação intermediária do membro (cotovelo, joelho) (figura a seguir) e aumentar a quantidade
de carga (halter, tornozeleira, elástico etc.).

Nas imagens a seguir, o braço de resistência foi modificado (de uma figura para a outra), aumentando‑se
o tamanho da alavanca por meio da extensão do cotovelo, de forma que a força de resistência passou a
ser aplicada mais distalmente em relação ao ombro (eixo). A figura B representa um exercício com maior
nível de dificuldade.
132
CINESIOTERAPIA

A)

B)

Figura 171 – Modificação do braço de resistência no exercício de elevação lateral

Saiba mais

Assista a vídeos explicativos sobre torque aplicado ao treinamento de


exercícios resistidos com pesos em:

www.treinoemfoco.com.br

Além do torque, fatores estruturais e mecânicos também influenciam a produção de força.

Comprimento da fibra muscular, relação comprimento-tensão

Quando o cálcio é liberado no músculo pela estimulação neuroquímica, inicia-se o processo de


encurtamento muscular. O sarcômero encurta-se à medida que o filamento de miosina desliza sobre
a actina, formando pontes transversas (ligações) entre a actina e a miosina. No estado contraído, os
filamentos se sobrepõem. A quantidade de força que pode ser desenvolvida no músculo é proporcional
ao número de pontes transversas formadas. A capacidade de desenvolvimento de tensão fica reduzida
quando o músculo é ativado em comprimentos muito curtos ou muito alongados (figura a seguir). Por

133
Unidade II

esse motivo, a execução dos exercícios de fortalecimento demanda amplitudes ideais de movimento
(HAMILL; KNUTZEN; DERRICK, 2016).

Figura 172 – Curva de comprimento tensão

No sarcômero, tem-se o comprimento ideal quando ocorre a máxima superposição dos miofilamentos,
permitindo um número máximo de pontes transversas. No fim de um movimento articular de um
segmento, o músculo fica fraco e incapaz de gerar grandes quantidades de força porque se encontra
muito encurtado. No início da amplitude, quando o músculo se encontra mais alongado, a tensão
gerada no músculo cai devido ao afastamento das pontes transversas, resultando na formação de menos
ligações entre a actina e miosina (HAMILL; KNUTZEN; DERRICK, 2016).

As características de comprimento-tensão irão interferir diretamente na prescrição da ADM durante


os exercícios de fortalecimento.

Figura 173 – Amplitude ideal (90 graus de abdução) quanto à curva de comprimento-tensão
para o exercício de elevação lateral que trabalha deltoide

134
CINESIOTERAPIA

Figura 174 – Amplitude ideal quanto à curva de comprimento-tensão para


o exercício de fortalecimento de isquiotibiais

Secção transversal e comprimento total do músculo

O formato e o arranjo das fibras musculares determinam o desenho do músculo. A arquitetura


muscular determina se o músculo poderá gerar grandes quantidades de força e se poderá mudar
significativamente seu comprimento para desenvolver maiores velocidades de movimento. Quanto
à arquitetura, o músculo pode ser classificado em fusiforme ou peniforme (figura a seguir). Um
músculo fusiforme tem suas fibras organizadas em paralelo. As fibras em um músculo fusiforme
correm paralelamente à linha de tração do músculo. Esse arranjo das fibras em forma de fuso oferece
o potencial para grandes quantidades de encurtamento e movimentos de alta velocidade, isso porque
esses músculos são tipicamente mais compridos que os outros tipos de músculos e o comprimento
da fibra muscular é maior que o comprimento do tendão. Exemplos de músculos fusiformes: sartório,
bíceps braquial, braquial, tibial anterior (HAMILL; KNUTZEN; DERRICK, 2016).

A. Paralelo

Fusiforme
(bíceps braquial)

B. Peniforme

Semipeniforme Peniforme
(semimembranáceo) (gastrocnêmio) Multipeniforme
(deltoide)

Figura 175 – Classificação quanto à arquitetura muscular

135
Unidade II

O segundo tipo de arquitetura muscular é o peniforme. As fibras correm diagonalmente em


relação a um tendão que atravessa o músculo, as fibras são mais curtas que o músculo e correm em
ângulo relativo com a linha de tração do músculo. A secção transversa fisiológica de um músculo
fusiforme é geralmente menor. Assim, os músculos fusiformes são tipicamente mais fracos, mas
podem mover-se por maiores distâncias. Como as fibras musculares nos peniformes são mais curtas
e correm diagonalmente para dentro do tendão, criam movimentos mais lentos e não são capazes de
produzir movimentos de grande amplitude. A vantagem é uma secção transversa fisiológica muito
maior no músculo peniforme (figura a seguir), o que costuma produzir mais força. Alguns exemplos:
gastrocnêmio; vastolateral; vastomedial; retofemoral; deltoide; glúteo máximo; peitoral maior
(HAMILL; KNUTZEN; DERRICK, 2016).

ASTF
CF

CF

ASTF CM = CF
CM
ASTF

Figura 176 – Áreas de secção transversa de músculos fusiformes e peniformes

Tipo de fibra muscular

A força gerada pelo músculo também dependerá do tipo de fibra muscular. Cada músculo contém
uma combinação de diferentes tipos de fibras, classificadas como fibras de contração rápida ou lenta. Os
tipos de fibras têm relação com o metabolismo muscular e o consumo de energia.

As fibras musculares de contração lenta são as oxidativas (tipo I), que são encontradas em maiores
quantidades nos músculos posturais do corpo, como coluna e sóleo. Essas fibras são vermelhas devido ao
alto conteúdo de mioglobinas no músculo. Essas fibras têm baixos tempos de contração e são adequadas
para trabalho prolongado de baixa intensidade. Atletas que exigem alta resistência geralmente têm uma
quantidade mais alta de fibras de contração lenta. As fibras de contração rápida (tipo II) são subdivididas
em tipo IIa (oxidativas-glicolíticas) e tipo IIb (glicolíticas). O tipo IIa é um músculo vermelho conhecido
como fibra de contração rápida intermediária porque pode sustentar a atividade por longos períodos
ou pode contrair-se com um disparo de força e então fadigar-se. A fibra branca do tipo IIb proporciona
rápida produção de força e fadiga-se rapidamente. Os corredores de velocidade e saltadores em geral

136
CINESIOTERAPIA

têm maiores concentrações de fibras de contração rápida, também encontradas em altas concentrações
nos músculos fásicos, a exemplo do gastrocnêmio. A maioria dos músculos, se não todos, contém os
dois tipos de fibras. O tipo de fibra influi em como o músculo será treinado e desenvolvido, assim como
quais técnicas serão mais adequadas para indivíduos com tipos de fibras específicos (HAMILL; KNUTZEN;
DERRICK, 2016).

Tipo de contração muscular

As três contrações musculares são muito diferentes em termos de custo energético e resultado de
força. A ação muscular excêntrica é capaz de uma produção maior de força do que as ações isométricas
ou concêntricas (figura a seguir). Ações musculares concêntricas geram a menor produção de força dos
três tipos (HAMILL; KNUTZEN; DERRICK, 2016).
Torque (N . m)

Excêntrica

Isométrica

Concêntrica

Ângulo (rad)

Figura 177 – Tipo de ação muscular excêntrica e quantidade de torque ao longo de uma ADM

Relação força versus velocidade

A força ativa ajusta-se continuamente com a velocidade com que o sistema contrátil se move. Sob
baixas condições de carga, a força ativa é ajustada, aumentando a velocidade de contração. Com cargas
altas, o músculo ajusta a força ativa, reduzindo a velocidade de encurtamento.

Na contração excêntrica, a tensão aumenta com a velocidade de alongamento porque o músculo


está se alongando enquanto se contrai (figura a seguir).

Ao treinar potência, lembre-se que potência é o produto da força e velocidade, sendo a principal
característica que distingue os atletas bem-sucedidos daqueles de desempenho médio. Para obter
potência, é preciso treinar atividades de alta velocidade para os atletas (HAMILL; KNUTZEN;
DERRICK, 2016).

137
Unidade II

Força

Ação muscular excêntrica

Força isométrica

Ação muscular
concêntrica

Velocidade máxima Velocidade Velocidade máxima


de alongamento de encurtamento

Figura 178 – Relação entre velocidade versus força

Lembrete

Muitas variáveis influenciam a produção de força: tipo de contração


muscular, tipos de fibras, velocidade, amplitude do movimento, características
de comprimento-tensão, carga e alavancas.

6 TREINAMENTO DE FORTALECIMENTO NA PRÁTICA

Um aspecto importante é conhecer a história prévia de treinamento do indivíduo. O programa


de treinamento sofrerá adaptações, pois vai depender dos seguintes aspectos: se o indivíduo é
iniciante (pessoa sem experiência prévia no treinamento resistido ou que não treina há vários anos),
intermediário (pessoa com aproximadamente seis meses de experiência em treinamento resistido)
ou avançado na prática de treinamento resistido (pessoa com anos de experiência em treinamento
resistido) (ACSM, 2009).

6.1 Como determinar a carga do exercício

A intensidade do exercício é a quantidade de resistência (peso, carga) imposta ao músculo em


contração durante cada repetição de um exercício. Determina o quanto o músculo é sobrecarregado.

De acordo com o princípio da sobrecarga, para melhorar o desempenho muscular, o músculo precisa
ser sobrecarregado em níveis de esforços maiores do que ele costuma fazer no dia a dia. Assim, essa
quantidade de carga deverá ser aumentada progressivamente ao longo do programa de exercícios.

Para determinar a carga de um exercício, é preciso definir uma porcentagem da carga máxima que
o músculo é capaz de fazer. O teste de carga máxima, no qual o indivíduo é submetido ao teste de
1 RM (uma repetição máxima), representa a maior quantidade de peso que um músculo pode mover por
138
CINESIOTERAPIA

meio da amplitude disponível apenas uma vez. O uso de 1 RM como medida basal de força dinâmica
é inapropriado para alguns pacientes, pois requer um esforço máximo. Isso não é seguro, por exemplo,
para pacientes com comprometimentos articulares, em recuperação de lesões de tecidos moles ou
que apresentem risco para tais lesões, ou pacientes com osteoporose ou patologias cardiovasculares,
conhecidas ou potenciais. Testes de repetições múltiplas possuem maior aproximação das sessões de
treino, normalmente, realizadas por entusiastas do treinamento de força, reduzindo o erro durante a
prescrição do treinamento (SANTOS et al., 2014).

A repetição máxima é definida como a maior quantidade de carga que um músculo ou grupo
muscular pode mover ao longo da ADM disponível por um número específico de vezes antes de fadigar.
O teste de repetição máxima seria mais indicado para ser utilizado na reabilitação. Assim, o fisioterapeuta
escolherá uma quantidade específica de resistência para o paciente erguer e documentará quantas
repetições ele pode completar antes de fadigar-se. Se, por exemplo, foram completadas seis repetições,
a resistência basal poderá ser estabelecida em 6 RM. O sinal de fadiga é a inabilidade de completar
a ADM disponível contra a resistência aplicada. Os testes de repetições máximas são normalmente
aplicados com a finalidade de determinar os valores das cargas que serão usadas posteriormente nas
sessões de treino. Alguns autores recomendam entre 2 a 5 minutos de intervalo entre os testes de
repetições máximas (SANTOS et al., 2014).

O adulto destreinado mediano, quando se exercita com uma carga equivalente a 75% de 1 RM, é
capaz de completar aproximadamente dez repetições antes de precisar descansar. Com uma intensidade
de 60%, são possíveis cerca de 15 repetições; com uma intensidade de 90%, apenas quatro a cinco
repetições. Por razões práticas, após ser selecionada uma carga de exercício inicial, o número-alvo
de repetições realizadas para cada exercício antes de um breve repouso ficará de uma faixa, não sendo um
número exato de repetições. Por exemplo, um paciente pode ser capaz de completar entre oito e dez
repetições contra uma carga especificada antes de descansar. Isso, às vezes, é chamado de zona RM e
dá ao paciente uma meta, porém acrescenta alguma flexibilidade de decisão. O número de repetições
escolhido depende do estado do paciente e se a meta do exercício é melhorar a força ou a resistência
muscular à fadiga ou à potência (KISNER; COLBY, 2016).

A carga quase máxima ou máxima (exercício de alta intensidade) é indicada quando o objetivo do
exercício é aumentar a força e a potência muscular e o tamanho do músculo; para adultos saudáveis na
última fase de um programa de reabilitação após uma lesão musculoesquelética em preparo para retorno
às atividades ocupacionais ou recreativas de alta demanda; em um programa de condicionamento
para indivíduos sem patologia conhecida ou para indivíduos que treinam para levantamento de peso
competitivo ou fisioculturismo.

Ocorrem respostas diferentes ao treinamento de força com base no nível de treinamento dos
participantes. Treinar com uma intensidade média de 60% de uma repetição máxima provoca ganhos
máximos em indivíduos não treinados, enquanto uma intensidade de 80% é mais eficaz naqueles que
são treinados, de acordo com revisão sistemática de Rhea et al. (2003).

139
Unidade II

6.2 Como organizar as sessões de treinamento

Os programas de treinamento incluem muitas variáveis, as quais serão descritas a seguir (ACSM,
2009; KISNER; COLBY, 2016). A forma como esses componentes serão organizados no treinamento
dependerá do objetivo terapêutico, se voltado para treino de força, resistência ou potência muscular.

Volume e divisão do treinamento

Volume é a quantidade de exercícios que se realiza em determinado período. No treinamento


resistido, o volume é dado pelo número de exercícios (tipos), número de séries por exercício e pela
frequência semanal. As repetições também contribuem para o volume, mas são definidas pelos objetivos
do treinamento (SANTAREM, 2015). O volume é essencial para os bons resultados do treinamento em
musculação, visto que é o principal determinante do grau de catabolismo dos exercícios.

Repetição

É o número de contrações musculares realizadas para mover o membro em uma série de excursões
contínuas e completas contra uma carga de exercício específica (KISNER; COLBY, 2016). As faixas de
repetições são classicamente determinadas pelos objetivos do treinamento (SANTAREM, 2015).

Lembrete

Veja as tabelas com as diretrizes do ACSM (2009) descritas anteriormente.

Segundo Santarem (2015), por atender a maioria dos objetivos, a faixa de repetições entre seis e doze, com
intervalos entre 1 e 2 minutos, costuma ser o procedimento mais usado em musculação. Essa abordagem é
denominada treinamento para hipertrofia, mas também estimula força, potência e resistência dos músculos.

Série

É um número predeterminado de repetições consecutivas agrupadas. Costuma-se dizer série ou


rodada. Após cada série de um número específico de repetições, haverá um breve intervalo de repouso.
Por exemplo, durante uma única sessão de exercícios para fortalecer um grupo muscular em particular,
o paciente poderá ser dirigido a levantar uma carga de oito a dez vezes, descansar e, então, levantá-la
mais oito a dez vezes. Desse modo, seriam duas séries de 8 a 10 RM (KISNER; COLBY, 2016)

É recomendado que uma a três séries para cada tipo de exercício sejam utilizadas para indivíduos
iniciantes (ACSM, 2009).

Repouso

É o intervalo de descanso entre as séries ou entre os dias de treinamento. É importante para a recuperação
do músculo entre as séries e os dias de treinamento. Os intervalos de descanso entre 1 e 2 minutos
140
CINESIOTERAPIA

geralmente são suficientes para a volta da frequência cardíaca a valores baixos. A intensidade e o
esforço envolvido são inversamente proporcionais à duração dos intervalos de descanso entre as séries
e os exercícios (SANTAREM, 2015, ACSM, 2009). Um grupo muscular que é bem exercitado em um
dia deverá descansar no dia seguinte. Seguindo essa concepção, músculos que atuam apenas como
sinérgicos em um dia poderão ser exercitados como agonistas no dia seguinte para descansar depois.
O repouso é decisivo para dar tempo para o corpo se recuperar dos efeitos agudos do exercício associados
com fadiga muscular ou compensar respostas adversas, como a dor muscular de surgimento tardio
induzida pelo exercício (KISNER; COLBY, 2016; ACSM, 2009).

A quantidade de repouso entre as séries e os exercícios afeta significantemente as respostas


metabólicas, hormonais e vasculares. Durante a recuperação, as reservas de energia, de oxigênio e
glicogênio são repostas. O ácido lático é removido do musculoesquelético e do sangue cerca de uma
hora após o exercício. Entre as séries de exercícios com volume e intensidade moderados (no nível de
8 a 12 RM), é comum um período de repouso de 30 a 60 segundos. Pacientes com condições patológicas
que os tornam mais suscetíveis à fadiga, assim como crianças e idosos, poderão necessitar de mais
tempo de repouso (1 a 2 minutos). Entre os dias de treinamento, um intervalo de repouso de 48 horas
entre as sessões de exercícios resistidos dará ao paciente tempo adequado para recuperação (KISNER;
COLBY, 2016).

É importante que a duração do período de repouso varie conforme a complexidade do exercício.


Para exercícios que trabalham o core com cargas maiores, recomendam-se períodos de repouso de pelo
menos 2-3 minutos (ACSM, 2009).

Observação

Core é o conjunto de músculos que estabilizam a região lombopélvica.

O intervalo entre as séries também pode ser realizado por meio de descanso ativo: enquanto o grupo
muscular que acabou de se exercitar está descansando, os exercícios resistidos podem ser feitos por
outro grupo muscular do mesmo membro ou pelo mesmo grupo muscular do membro oposto (KISNER;
COLBY, 2016).

Frequência semanal

É o número de dias que o indivíduo treina na semana.

Recomenda-se uma frequência de 2 a 3 vezes por semana (SANTAREM, 2015; ACSM, 2009; KISNER;
COLBY, 2016). Vários estudos demonstram que essa frequência semanal produz ótimos ganhos de força
em indivíduos destreinados. A revisão sistemática de Ralston et al. (2018) demonstrou que, ao comparar
a maior frequência de treino resistido com a menor, não houve diferença significante entre elas quanto
ao ganho de força.

141
Unidade II

Aquecimento

Os exercícios de aquecimento têm como proposta melhorar o desempenho e evitar lesões. Segundo
evidências atuais, a melhor forma de aquecimento é a própria atividade que será executada, porém
realizada de maneira suave. As primeiras séries de um determinado exercício são realizadas com cargas
mais leves e aumentando-se o peso nas séries seguintes (SANTAREM, 2015).

Santarem (2015) sugere realizar a primeira série com cerca de 50% do peso da última, com pequenos
aumentos de carga a cada série. Outras formas de aquecimento também podem ser utilizadas como
exercícios aeróbicos e alongamentos dinâmicos. No entanto, a prudência sugere que mesmo quando
essas formas de aquecimento forem utilizadas, não se deverá prescindir de iniciar os exercícios com
cargas leves. Por exemplo, em pessoas debilitadas, realizar as primeiras séries com cargas mais leves
poderá ser a única forma de aquecimento possível.

Seleção do tipo de exercício (modo)

Refere-se à forma, ao tipo de exercício ou à maneira como ele é realizado (estático ou dinâmico,
cadeia aberta ou fechada, tipo de contração, mono ou multiarticular, bilateral ou unilateral). Também
envolve a forma da resistência (manual, pesos livres, aparelhos, molas, dinamometria isocinética, peso
corporal), ou seja, como a carga é aplicada.

Sequência dos exercícios (ordem dos exercícios)

O sequenciamento de exercícios afeta significativamente a expressão da força muscular durante a


sessão de treinamento (KISNER; COLBY, 2016).

Recomenda-se trabalhar primeiro grandes grupos musculares para em seguida trabalhar os pequenos;
trabalhar primeiro exercícios multiarticulares para depois trabalhar os monoarticulares; fazer exercícios
de maior intensidade para em seguida treinar os de menor intensidade; e trabalhar grupos musculares
agonista-antagonista de forma alternada e em sequência um do outro.

Treinamento em circuito

Uma forma de treinamento com pesos menos popular é o circuito. Uma série de cada exercício
que compõe o programa é realizada em sequência, com mínimos intervalos de descanso. O objetivo é
associar o treino resistido com maior estímulo para o condicionamento cardiorrespiratório. Os resultados
da musculação clássica associada aos exercícios aeróbicos se mostraram superiores aos do treinamento
em circuito (SANTAREM, 2015).

6.3 Precauções gerais

Os exercícios resistidos devem ser realizados com segurança, principalmente, no campo da


reabilitação, já que diante de doenças e populações específicas o fisioterapeuta deverá estar atento às
questões musculoesqueléticas e hemodinâmicas. A segurança de qualquer atividade física, incluindo
142
CINESIOTERAPIA

os exercícios resistidos, é possível pela adequação de sobrecargas às capacidades individuais, sejam


elas hemodinâmicas, sejam elas ou musculoesqueléticas. Nos exercícios resistidos, é possível controlar
todas as variáveis de treinamento: cargas utilizadas; postura nos exercícios; amplitudes e velocidades de
execução dos movimentos; número de exercícios e séries; intervalos de descanso entre exercícios e séries;
e frequência semanal para as condições clínicas que requerem mais cuidados (CÂMARA; SANTAREM;
JACOB FILHO, 2008).

Segundo Kisner e Colby (2016), entre as precauções gerais voltadas para qualquer pessoa submetida
à prática de exercícios resistidos, encontram-se:

• Manter a temperatura do local confortável para a realização dos exercícios.

• Escolher roupas confortáveis e que facilitem a dissipação do calor.

• Alertar o paciente que não deve ocorrer dor durante o exercício.

• Não aplicar resistência por meio de uma articulação instável ou distal em um local de fratura que
não esteja completamente consolidado.

• Treinar o paciente para evitar que prenda a respiração durante os exercícios para prevenir
a manobra de Valsalva, enfatizando a expiração durante o esforço. A manobra de Valsalva é
caracterizada por uma inspiração profunda seguida pelo fechamento da glote e contração dos
músculos abdominais, o que leva ao aumento das pressões intraabdominal e torácica, que, por
sua vez, forçam o sangue a sair do coração, causando um aumento abrupto da pressão arterial,
embora temporário.

• Evitar movimentos balísticos descontrolados, já que comprometem a segurança e a efetividade.

• Prevenir movimentos incorretos ou compensatórios por meio de posicionamento e estabilização


adequados e um nível de resistência apropriado.

• Estar ciente dos medicamentos que o paciente toma que possam alterar as respostas agudas e
crônicas ao exercício.

• Evitar fadiga cumulativa devido à frequência excessiva dos exercícios e dos efeitos do treinamento
exagerado, incorporando intervalos de repouso adequados entre as sessões para que haja tempo
adequado para recuperação após os exercícios.

• Interromper os exercícios se o paciente sentir dor, tontura ou falta de ar não usual ou súbita.

É indicado que, previamente ao início do programa de exercício resistido (ER), o indivíduo seja
submetido à avaliação médica que permita diagnosticar todas as comorbidades presentes e atestar a
condição física adequada para a prática do exercício físico (CÂMARA; SANTAREM; JACOB FILHO, 2008).

143
Unidade II

A dor pode ocorrer dor durante ou após o exercício. A dor muscular aguda desenvolve-se durante ou
logo após o exercício extenuante realizado até o ponto de exaustão muscular. A sensação é uma queimação
ou dor dentro do músculo. Essa resposta ocorre à medida que o músculo se fadiga durante o exercício devido
à falta de suprimento sanguíneo adequado e de oxigênio (isquemia) e ao acúmulo temporário de metabólitos,
como ácido lático e potássio no músculo exercitado. Esses metabólitos estimulam terminações nervosas livres
e causam dor. Essa dor experimentada durante o exercício é transitória e desaparece rapidamente depois do
exercício, quando o fluxo sanguíneo e de oxigênnio é restaurado nos músculos (KISNER; COLBY, 2016).

A dor muscular de início tardio surge após um treinamento resistido vigoroso ou não habitual,
ou após qualquer forma de esforço muscular excessivo. Essa dor, observável no ventre muscular ou
na junção miotendínea, começa a se desenvolver aproximadamente 12 a 24 horas após o exercício
ter cessado. Contrações musculares excêntricas de alta intensidade causam consistentemente os
sintomas mais intensos de dor muscular de início tardio. O pico de dor ocorre após 48 a 72 horas,
desaparecendo dois a três dias depois. Entre os sintomas podem ocorrer: hipersensibilidade à palpação
no ventre muscular envolvido ou na junção miotendínea; aumento da dor com o alongamento passivo
ou a contração ativa do músculo envolvido; edema e calor local; rigidez muscular, que ocorre pelo
encurtamento muscular espontâneo antes do surgimento da dor; diminuição da ADM durante o curso
da dor muscular; e diminuição da força muscular antes do surgimento da dor, que persiste por uma a
duas semanas após a remissão da dor (KISNER; COLBY, 2016).

6.4 Precauções em populações e condições clínicas específicas

Doenças neuromusculares

Os programas de exercícios para pacientes com função neuromuscular comprometida (como


Guillain-Barré) ou com alguma doença sistêmica metabólica ou inflamatória (artrite reumatoide), que
aumentam a suscetibilidade à fadiga muscular, precisam ser progredidos lenta e cuidadosamente. Esses
pacientes não devem exercitar-se até a exaustão e precisam de intervalos de repouso mais longos
durante e entre as sessões de exercícios. Por exemplo, para esse tipo de paciente, pode ser orientado
descansar dois dias entre as sessões em vez de apenas um dia (KISNER; COLBY, 2016).

O volume de exercícios para esse paciente também precisa ser reduzido para não aumentar
excessivamente o catabolismo muscular, o que poderia dificultar a recuperação (SANTAREM, 2015).

Osteoporose

As alterações nos ossos decorrentes da osteoporose tornam o osso menos capaz de suportar as
sobrecargas e são mais suscetíveis às fraturas patológicas (fratura do osso já enfraquecido pela doença,
resultante de forças muito pequenas no sistema esquelético). Assim, deve-se evitar cargas altas, diminuir
o número de series e repetições, evitar movimentos em altas velocidades ou grandes torções da coluna
ou quadril e tomar cuidado com posicionamentos que possam levar à perda de equilíbrio ou quedas
durante os exercícios em cadeias fechadas, oferecendo apoio para os pacientes. Grandes alavancas durante
os exercícios também devem ser evitadas, como amplitudes de flexão da coluna com carga na presença
de osteoporose (BECK et al., 2017).
144
CINESIOTERAPIA

Doenças cardiovasculares

Para a população com doenças cardiovasculares, os parâmetros de sobrecarga, número de repetições


e intervalos de repouso são os principais a serem controlados. De acordo com Câmara, Santarem e Jacob
Filho (2008), o aumento da pressão arterial nos exercícios resistidos pode ser associado aos esforços
máximos, isometria (contração muscular sem movimento articular) e alto número de repetições.

Conforme diretrizes recentes do ACSM (PESCATELLO et al., 2004), esforços máximos não devem
ser utilizados por indivíduos idosos durante a prática dos exercícios resistidos. Recomenda-se que o
indivíduo interrompa a execução do exercício no momento subjetivo em que este se tornar “difícil”
(avaliado objetivamente pelo profissional que o acompanha, tendo como parâmetro a perda de ritmo
na execução do movimento, com lentificação da contração concêntrica, e a tendência para a apneia,
percebida pela incapacidade de realizar inspiração e expiração sem dificuldades). Trabalhos recentes
têm demonstrado que maiores sobrecargas cardiovasculares nos ER (com aumentos importantes
de pressão arterial sistólica e de frequência cardíaca) são diretamente proporcionais ao número de
repetições realizadas, e não às cargas utilizadas no exercício. Para indivíduos em que não é seguro um
grande aumento da pressão arterial sistólica e de frequência cardíaca, recomenda-se a utilização de
cargas maiores com menor número de repetições (LAMOTTE; NISET; VAN DE BORNE, 2005).

Um último fator de importância para diminuição da sobrecarga cardiovascular dos ER com fins
terapêuticos é o intervalo de descanso entre exercícios e séries. Intervalos curtos de descanso entre
séries múltiplas de um mesmo exercício não permitem que os níveis de pressão arterial e frequência
cardíaca voltem aos valores de repouso, fazendo com que a nova série se inicie já em níveis mais
elevados, o que não é indicado para pacientes cardiopatas. Deve-se aumentar o tempo de descanso,
preferencialmente, com intervalos acima de um minuto e meio (NERY, 2005).

Pacientes hipertensos

Conforme o ACSM (PESCATELLO et al., 2004) e segundo Brubaker, Ross e Joo (2018), as
recomendações sobre a prescrição de exercícios em pacientes hipertensos incluem: monitoramento
da pressão arterial (PA) pré e pós-exercício durante os estágios iniciais do programa de exercícios;
realizar um resfriamento ativo para evitar o risco de hipotensão pós-exercício; e não se exercitar se a
PA estiver em repouso ≥ 200/110 mmHg. Durante o exercício, a PA deve permanecer ≤ 220/105 mmHg.
É preciso realizar técnicas adequadas de respiração durante o exercício resistido e evitar as manobras de
Valsalva. Por fim, deve-se deter o aperto isométrico das mãos durante todos os exercícios resistidos, para
evitar um aumento desproporcional da PA sistólica.

Doenças articulares degenerativas

Nesses casos, deve-se levar em consideração as adaptações no tocante às ADM, à quantidade de


pesos utilizada e à quantidade de movimentos. Deve-se controlar o número de exercícios e de séries e a
frequência semanal de sessões.

As amplitudes articulares dos movimentos devem ser limitadas pelas sensações dolorosas,
adotando‑se a biomecânica adequada, que, dependendo do tipo de acometimento individual, pode
145
Unidade II

significar apenas poucos graus de movimentação. Fatores de risco para lesão do aparelho locomotor nos
ER incluem os excessos em cargas, amplitudes e volumes de treinamento, técnicas antianatômicas ou
equipamentos mal projetados (CÂMARA; SANTAREM; JACOB FILHO, 2008).

Crianças e adolescentes

Segundo Myers, Beam e Fakhoury (2017), um grande risco mencionado sempre no treinamento
resistido infantil é o risco de lesão da placa epifisária. Qualquer fratura dessa região tem potencial de
desenvolver deformidade. Lesões nessa região óssea podem levar ao fechamento precoce da epífise de
crescimento e anomalias no comprimento dos membros. Na literatura, observa-se que a maioria dessas
lesões ocorridas nessa população estava relacionada à forma inadequada de prescrição dos programas
de treinamento. A opinião atual de especialistas no campo apoia a crença de que o treinamento resistido
antes do fechamento da placa epifisária não é inerentemente prejudicial. Os estudos prospectivos
mostram que a supervisão e a orientação eficazes não demonstraram aumento da incidência de lesões
físicas em crianças com levantamento de pesos. As placas epifisárias no jovem são susceptíveis à lesão
sob condições de cargas pesadas, já que o sistema esquelético está em estágio de formação. Contrações
concêntricas com altas repetições e resistências relativamente baixas podem aprimorar a força muscular
de crianças (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018).

Conforme Zwolski, Quatman-Yate e Paterno (2017), a média do programa de treinamento de resistência


mais eficaz para obter ganhos entre os jovens consiste em duas a três séries de 8 a 15 repetições, com carga
entre 60% e 80% de 1 RM em seis a oito exercícios. Destacam-se a seguir exemplos de exercícios resistidos
para crianças.

Figura 179

146
CINESIOTERAPIA

Figura 180

6.5 Contraindicações para o treinamento resistido

Existem algumas contraindicações para o treinamento assistido. São elas:

Inflamação

O treinamento resistido tanto dinâmico quanto estático é absolutamente contraindicado na


presença de doença neuromuscular inflamatória. Como exemplos, citam-se Guillain-Barré, polimiosite
e dermatomiosite. Nesses casos, os exercícios resistidos podem causar deterioração irreversível da força
devido à ocorrência de dano muscular.

Os exercícios resistidos dinâmicos são contraindicados quando há inflamação aguda de uma


articulação. O exercício dinâmico resistido poderá irritar a articulação e aumentar o quadro inflamatório,
por exemplo, nos casos de agudização da osteoartrite ou da artrite reumatoide. São mais indicados
nessa fase exercícios isométricos (estáticos) suaves.

Dor

Se um paciente experimenta dor articular ou muscular intensa em movimentos ativos livres sem
resistência, não deverão ser iniciados exercícios resistidos dinâmicos.

Se o paciente sentir dor muscular aguda em uma contração isométrica resistida, os exercícios
resistidos estáticos ou dinâmicos não deverão ser iniciados. Se o indivíduo experimenta dor que não
pode ser eliminada, modificando-se a resistência ou a alavanca, o exercício terá de ser interrompido.

Doença cardiopulmonar grave

Doenças cardíacas ou respiratórias graves ou distúrbios associados a sintomas agudos contraindicam


o treinamento resistido.
147
Unidade II

De acordo com Câmara, Santarem e Jacob Filho (2008), as contraindicações para a prática da
musculação, que também se aplicam a todas as outras formas de exercícios em populações especiais,
são: pressão arterial sistólica acima de 200 mmHg ou pressão arterial diastólica acima de 110 mmHg
em repouso; queda da pressão arterial ortostática maior que 20 mmHg e com sintomas; hipotensão
ao esforço maior que 15 mmHg; angina instável; arritmias não controladas; estenose aórtica crítica
ou sintomática; doença aguda ou febre; frequência cardíaca de repouso maior que 120 batimentos
por minuto; insuficiência cardíaca descompensada; bloqueio atrioventricular de terceiro grau sem
marcapasso; pericardite ou miocardite em curso; infarto ou embolismo pulmonar recente; depressão
de segmento ST maior que 2 mV em repouso; problemas ortopédicos graves que proíbam os ER;
cardiomiopatia hipertrófica; bypass coronário até quatro semanas; fração de ejeção ventricular esquerda
menor que 30%; e gravidez complicada. Destacam-se, ainda, a hipertensão pulmonar severa (maior que
55 mmHg) e a síndrome de Marfan como contraindicações absolutas para a prática dos ER.

Ponderando todas as contraindicações descritas, observa-se que são condições de importantes


agravos à saúde e que, além de impedirem a prática de qualquer atividade física, deveriam estar
essencialmente sob acompanhamento clínico rigoroso.

6.6 Exercícios de fortalecimento para os membros superiores

Os exercícios serão apresentados com recursos e posicionamentos variados. Para cada exercício, será
descrito o grupo muscular principal trabalhado. Os exercícios poderão ser realizados com outras variações,
tudo dependerá do contexto, dos recursos disponíveis e da criatividade do fisioterapeuta. Em todos os
exemplos, poderão ser executados os três tipos de contração muscular (isométrica, concêntrica e excêntrica).

Figura 181 – Fortalecimento para os músculos rotadores laterais do ombro

148
CINESIOTERAPIA

Figura 182 – Fortalecimento para os músculos rotadores laterais


do ombro com elástico com ombro neutro

Figura 183 – Fortalecimento para os músculos rotadores laterais


do ombro com elástico em abdução do ombro

149
Unidade II

Figura 184 – Fortalecimento para os músculos rotadores mediais do ombro

Figura 185 – Fortalecimento para os músculos flexores do ombro

150
CINESIOTERAPIA

Figura 186 – Fortalecimento dos músculos abdutores do ombro

Figura 187 – Fortalecimento dos músculos abdutores do ombro e flexores do cotovelo

151
Unidade II

Figura 188 – Fortalecimento dos músculos adutores da escápula e abdutores horizontais do ombro

Figura 189 – Remada: fortalecimento dos músculos adutores da escápula

152
CINESIOTERAPIA

Figura 190 – Fortalecimento dos músculos adutores horizontais do ombro

Figura 191 – Fortalecimento do músculo serrátil anterior com elástico

153
Unidade II

A) B)

Figura 192 – De A para B, fortalecimento de serrátil anterior em cadeia fechada

Figura 193 – Abraço dinâmico: protração das escápulas para fortalecimento do músculo serrátil anterior

Figura 194 – Elevação do quadril com depressão dos ombros para fortalecimento do trapézio inferior

154
CINESIOTERAPIA

Figura 195 – Fortalecimento dos músculos flexores do cotovelo com halter

Figura 196 – Fortalecimento dos músculos flexores do cotovelo com barra

155
Unidade II

Figura 197 – Fortalecimento dos músculos extensores do cotovelo com halter

Figura 198 – Fortalecimento dos músculos extensores de cotovelo em cadeia fechada

Figura 199 – Fortalecimento dos músculos extensores do punho

156
CINESIOTERAPIA

Figura 200 – Fortalecimento dos músculos flexores do punho

Figura 201 – Fortalecimento dos músculos flexores dos dedos com bolinha

Figura 202 – Fortalecimento dos músculos flexores dos dedos com digiflex

157
Unidade II

Figura 203 – Fortalecimento dos músculos extensores dos dedos

6.7 Exercícios de fortalecimento para os membros inferiores

Os exercícios serão apresentados com recursos e posicionamentos variados. Para cada exercício,
será descrito o grupo muscular principal trabalhado. Os exercícios poderão ser realizados com outras
variações, tudo dependerá do contexto, dos recursos disponíveis e da criatividade do fisioterapeuta.
Em todos os exemplos, poderão ser executados os três tipos de contração muscular (isométrica,
concêntrica e excêntrica).

Figura 204 – Fortalecimento dos músculos abdutores do quadril com tornozeleira

158
CINESIOTERAPIA

Figura 205 – Fortalecimento dos músculos abdutores do quadril

Figura 206 – Fortalecimento dos músculos abdutores e rotadores laterais do quadril

159
Unidade II

Figura 207 – Fortalecimento dos músculos rotadores laterais do quadril

Figura 208 – Fortalecimento dos músculos adutores do quadril com elástico

160
CINESIOTERAPIA

Figura 209 – Fortalecimento dos músculos adutores do quadril com elástico

Figura 210 – Fortalecimento dos músculos flexores de quadril com a bola

161
Unidade II

Figura 211 – Fortalecimento isométrico dos músculos flexores de quadril e extensores do joelho

Figura 212 – Fortalecimento dos músculos flexores do quadril

162
CINESIOTERAPIA

Figura 213 – Cadeira extensora: fortalecimento do quadríceps

Figura 214 – Mesa flexora: fortalecimento dos músculos flexores do joelho

163
Unidade II

Figura 215 – Fortalecimento dos músculos flexores do joelho

Figura 216 – Fortalecimento dos músculos flexores do joelho com elástico

164
CINESIOTERAPIA

Figura 217 – Fortalecimento dos músculos flexores do joelho com tornozeleira

A)

B)

Figura 218 – Exercício nórdico para fortalecimento excêntrico avançado dos músculos isquiotibiais

165
Unidade II

A) B)

Figura 219 – Leg press (cadeia cinética fechada) para fortalecimento dos
músculos extensores do joelho, do quadril e do tornozelo

Figura 220 – Agachamento isométrico na parede (cadeia cinética fechada) para fortalecimento
dos músculos extensores do joelho, do quadril e do tornozelo

166
CINESIOTERAPIA

Figura 221 – Agachamento bipodal com halteres (cadeia cinética fechada) para fortalecimento
dos músculos extensores do joelho, do quadril e do tornozelo

Figura 222 – Avanço (cadeia cinética fechada) para fortalecimento dos músculos extensores do joelho,
do quadril e do tornozelo. Adutores e abdutores do quadril atuam como sinergistas

167
Unidade II

Figura 223 – Avanço lateral (cadeia cinética fechada) para fortalecimento dos músculos extensores do joelho, do quadril e do
tornozelo. Adutores e abdutores do quadril atuam como sinergistas

Figura 224 – Subida no degrau (cadeia cinética fechada) para fortalecimento dos músculos extensores
do joelho, do quadril e do tornozelo. Adutores e abdutores do quadril atuam como sinergistas

168
CINESIOTERAPIA

Figura 225 – Descida lateral do degrau (cadeia cinética fechada) para fortalecimento dos músculos extensores
do joelho e do quadril. Adutores e abdutores do quadril atuam como sinergistas

Figura 226 – Agachamento terra unipodal (cadeia cinética fechada) para fortalecimento dos músculos extensores
do joelho e do quadril. Adutores e abdutores do quadril atuam como sinergistas

169
Unidade II

Figura 227 – Exercício de ponte (cadeia cinética fechada) para fortalecimento dos músculos extensores do quadril

Figura 228 – Exercício de ponte com bola (cadeia cinética fechada) para fortalecimento
dos músculos extensores do quadril e do joelho

Figura 229 – Fortalecimento dos músculos flexores plantares do tornozelo em pé em cadeia cinética fechada

170
CINESIOTERAPIA

Figura 230 – Fortalecimento dos músculos flexores plantares do tornozelo em pé em cadeia cinética fechada

Figura 231 – Fortalecimento dos músculos flexores plantares do tornozelo com elástico

171
Unidade II

Figura 232 – Fortalecimento dos músculos dorsiflexores do tornozelo com elástico

Figura 233 – Fortalecimento dos músculos dorsiflexores do tornozelo com tornozeleira

Figura 234 – Fortalecimento dos músculos inversores da articulação subtalar

172
CINESIOTERAPIA

Figura 235 – Fortalecimento dos músculos eversores da articulação subtalar

Observação

Os exercícios descritos anteriormente poderão exigir adaptações quanto


à ADM ou quanto ao posicionamento, conforme as necessidades clínicas de
cada paciente.

Resumo

A aptidão física inclui a capacidade de realizar esforços, seja no


trabalho, no lazer, na vida diária ou nos esportes. Para o desempenho
dessas funções, são necessários elementos fundamentais relacionados
ao desempenho muscular, como força, potência e resistência muscular à
fadiga. Na fisioterapia, esses elementos poderão ser estimulados por meio
de exercícios resistidos, visando à recuperação funcional dos pacientes.

Força muscular é a capacidade de gerar tensão muscular com picos


de força. A resistência muscular à fadiga é a capacidade de realizar ou
sustentar esforços por períodos prolongados. É importante destacar que o
fato de um músculo ser forte não significa que esse mesmo músculo seja
resistente à fadiga.

A potência muscular envolve a associação de força com velocidade e


resistência. A potência explosiva ou instantânea é a associação de picos de
força com velocidade.

173
Unidade II

Para produzir força, potência ou resistência, o músculo precisa de


contração muscular. Os exercícios podem ser elaborados com os três tipos
de contração muscular: isométrica, concêntrica e excêntrica. A contração
isométrica é estática, na qual o comprimento muscular é mantido durante
um determinado posicionamento. As contrações concêntricas e excêntricas
são dinâmicas. Na contração concêntrica, ocorre uma aceleração do
movimento por meio da aproximação da origem e inserção muscular;
na contração excêntrica, uma desaceleração do movimento por meio do
afastamento da origem e inserção muscular.

As contrações musculares podem ser trabalhadas em cadeias cinemáticas


abertas ou fechadas. Uma cadeia cinemática é a integração de um conjunto
de articulações organizadas sucessivamente para executar uma determinada
tarefa motora. Nas cadeias cinemáticas fechadas, o seguimento mais distal da
cadeia está fixo no solo ou em algum equipamento. Nas cadeias cinemáticas
abertas, o seguimento mais distal da cadeia está livre no espaço. É vital que
a escolha dos exercícios quanto aos tipos de contração muscular e cadeias
cinemáticas seja baseada no padrão motor da função que se deseja reabilitar.
Além disso, deverá ser definido o objetivo terapêutico a ser desenvolvido quanto
às variáveis de desempenho muscular.

O treinamento resistido deverá seguir os princípios da especificidade,


da sobrecarga e da variação.

O princípio da especificidade determina que todas as adaptações e


os resultados do treinamento serão específicos ao estímulo aplicado.
Efeitos adaptativos como melhora da força, potência ou resistência
muscular à fadiga são altamente específicos ao método de treinamento
empregado, portanto, os exercícios deverão simular padrões funcionais
e as demandas exigidas.

A sobrecarga representa a intensidade ou a carga do exercício e deverá ser


evoluída de forma gradual e progressiva para estimular os ganhos ao longo
do tempo. O princípio da variabilidade determina a variação de volume e
intensidade do treino para evitar a adaptação e otimizar os resultados.

Há vários fatores anatômicos, biomecânicos e fisiológicos que


influenciam a capacidade do músculo produzir força. Os tipos de fibra
muscular determinam a sua capacidade de produzir mais força ou
resistência. O comprimento muscular mantido durante o exercício está
diretamente relacionado com a capacidade de produzir tensão por meio
das ligações entre a actina e a miosina. A velocidade do exercício fará com
que o sistema contrátil se ajuste quanto à força no treinamento excêntrico,
por exemplo, a maior velocidade está diretamente relacionada à produção
174
CINESIOTERAPIA

de maiores picos de força. A produção de força também varia de acordo


com o tipo de contração muscular, sendo a contração excêntrica a que
produz maior ganho de força. Por sua vez, o torque muscular será o fator
determinante na escolha das alavancas utilizadas durante os exercícios:
maiores alavancas de resistência aumentam a demanda de esforço muscular.

Para que o treinamento resistido possa ser executado de forma segura,


além de conhecer as principais indicações e cuidados, é fundamental lembrar
das contraindicações para a realização dos exercícios de fortalecimento,
como: presença de fraturas instáveis; evidência de processos inflamatórios
agudos; lesões ou condições pós-cirúrgicas cuja cicatrização possa ser
prejudicada; condições cardiorespiratórias graves; algumas doenças
neuromusculares inflamatórias; e queixa de dor articular ou muscular
durante a realização dos exercícios.

Exercícios
Questão 1. (FGV 2014, adaptada) Relacione os exercícios em Cadeia Cinética Fechada (CCF) e Cadeia
Cinética Aberta (CCA) às respectivas características.

1. CCF

2. CCA

I – ( ) Estabilização dinâmica com maior contenção postural e apoio adicional para a articulação.

II – ( ) Realização de um movimento livre no espaço de um segmento distal de uma extremidade.

III – ( ) Realização de atividades com forças de distração e rotacionais mais intensas.

IV – ( ) Propriocepção aprimorada em virtude de maior número de mecanorreceptores estimulados.

Assinale a alternativa que apresenta a relação na ordem correta.

A) I (1) – II (1) – III (2) – IV (2)


B) I (1) – II (2) – III (1) – IV (2)
C) I (1) – II (2) – III (2) – IV (1)
D) I (2) – II (1) – III (2) – IV (1)
E) I (2) – II (2) – III (1) – IV (1)

Resposta correta: alternativa C.

175
Unidade II

Análise das afirmativas

I – Trata-se de uma CCF, por ser um movimento que ocorre quando o segmento distal de uma
extremidade se move livremente no espaço, resultando no movimento isolado de uma articulação.

II – Trata-se de uma CCA, por ter como definição um movimento em que as articulações terminais
encontram resistência externa considerável que as impede de ter movimentação livre.

III – Trata-se de uma CCA, tendo como exemplo um aceno de mão ou levar um copo de água à boca.

IV – Trata-se de uma CCF, pois a propriocepção acontece porque as células que se encontram em
músculos, tendões e articulações enviam as informações ao sistema nervoso central, que irá organizar
a parte do corpo, em virtude de usar um maior número de mecanorreceptores e, com isso, manter a
posição correta, parada ou em movimento.

Questão 2. (Enade 2007) As quedas nos idosos são mais comuns nos indivíduos que apresentam
mobilidade ao lado de instabilidade e têm sido consideradas como um sério problema de saúde pública
relacionado a essa população. Sendo assim, a abordagem da fisioterapia na prevenção das quedas
nos idosos torna-se fundamental para a garantia de sua saúde e autonomia. A etiologia das quedas
é multifatorial e um programa fisioterapêutico preventivo deverá envolver diversas estratégias, entre
elas uma avaliação cuidadosa e uma intervenção eficaz. No que se refere à intervenção fisioterapêutica
voltada especificamente para evitar que as quedas aconteçam, o programa deve incluir:

I − fortalecimento dos membros superiores, porque são elementos essenciais para o equilíbrio
durante a marcha e sua fraqueza pode ocasionar as quedas;

II − fortalecimento dos membros inferiores, porque a diminuição de sua força muscular, própria do
processo de envelhecimento, reduz a capacidade para resistir às quedas;

III − treinamento de técnicas de levantamento, para evitar que o idoso permaneça por longo tempo
no chão se sofrer uma queda quando estiver sozinho;

IV − treinamento de equilíbrio, com a utilização de técnicas específicas, para melhorar a capacidade


postural do idoso e reduzir o risco de quedas;

V − verificação dos medicamentos utilizados pelo idoso e suspensão ou substituição daqueles que
podem ser os responsáveis pelas alterações que o levam às quedas.

Estão corretas, apenas, as afirmativas:

A) I e III.

B) II e IV.

C) I, II e III.

176
CINESIOTERAPIA

D) I, III e V.

E) II, IV e V.

Resposta correta: alternativa B.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa incorreta.

Justificativa: o fortalecimento dos membros superiores é importante para o desenvolvimento das


atividades de vida diária e manutenção da independência funcional, porém não são essenciais para a
marcha, uma vez que o movimento dos braços acontece em decorrência do movimento rotacional dos
ombros. Em idosos, pode-se perceber que os membros superiores ficam aduzidos, próximos ao corpo e
quase sem movimento em decorrência da marcha em bloco, em base larga e sem dissociação de cinturas.
Assim, mesmo com a ausência ou diminuição dos movimentos dos braços, ocorre a deambulação.

II – Afirmativa correta.

Justificativa: a fraqueza de membros inferiores está diretamente associada a quedas em idosos.


A ênfase no fortalecimento da musculatura proximal dos membros inferiores é fundamental para manter
o equilíbrio e diminuir as chances de quedas.

III − Afirmativa incorreta.

Justificativa: apesar de a afirmativa ser correta, ela não responde ao enunciado da questão, o qual
especifica que a resposta deve ser relativa ao que deve ser incluído em uma intervenção fisioterapêutica
voltada especificamente para prevenir quedas. A afirmativa trata daquilo que se faz após a ocorrência
de uma queda, com o intuito de evitar outras complicações.

IV – Afirmativa correta.

Justificativa: sabe-se que os distúrbios do equilíbrio corporal, da marcha ou da mobilidade estão


entre os fatores que causam a queda em idosos. Portanto, o treinamento de equilíbrio e a melhora da
mobilidade são vitais para a redução dos riscos de quedas e previni-las.

V – Afirmativa incorreta.

Justificativa: é importante que o fisioterapeuta verifique os medicamentos utilizados por qualquer


indivíduo que atender, em particular aqueles idosos, uma vez que se sabe que neles a polifarmácia é
fator de risco para quedas. Entretanto, a suspensão ou a modificação da medicação de um paciente
só pode ser feita por um médico. Vale lembrar que, de acordo com o inciso IV do art. 8º da Resolução
Coffito 10, o Código de Ética Profissional, é proibido ao fisioterapeuta prescrever medicamento.

177

You might also like