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2 SS S & < COMO A FALA FUNCIONA Quando se diz que a escola precisa levar em conta a fala, muitos pensam que isso significa que deve ensinar 8 alunos a falarem bonito, nos estilo em que se escteve. Esse treinamento pode até ser feito, mas nao é isso que 0s linguistas querem dizer. Se a escola tem por objetivo ensinar como a lingua funciona, deve incentivar a fala ¢ mostrar como ela fun- ciona. Na verdade, uma lingua vive na fala das pessoas ¢ 6 af se realiza plenamente. A escrita preserva uma lin- gua como um objeto inanimado, fossilizado. A vida de uma lingua est na fala, Muito pouco se conhece da fala portuguesa. E, nao Taramente, tém-se nogdes etradas a esse respeito, A esco- la, como dissemos antes, gira em torno da escrita e con- seqitentemente a gramética normativa esta voltada para a escrita, mesmo quando tenta abordar questdes que s6 ‘existem na fala. E preciso ter sempre em mente 0 que Pertence a fala © 0 que pertence a escrita. Isso parece ob- vio, mas a pratica tem mostrado que hé muita confuisio 52 € mé compre mos, a seguir, zet uma tipid ta, comentanc Como neste realizarmos aly uma apresenta x Numa lingu “cada simbolo a dé uma orient seus dialetos/C Prontincia é qu nético Internac aplicéveis 20 pe Na primeira national Phonet ata se escrever ceira, alguns ex Na tabela, os ta tradicional co ‘5 modos de art No final do q fepresentar a ac Quando se est fazendo uma tra letra ¢ som é uni mente na esctts afastou muito d: Colocamos os que so 0s que n outros simbolos tes em outras lin (Os exemplos refl aspectos € no de duo. As marcas ¢ geral, mas podia: INCIONA ¢ mé compreensio dessas duas realidades da lingua. Va- mos, a seguir, mostrar os simbolos fonéticos e depois fa- zet uma tapida anilise de alguns fatos da fala c da escti- ccisa levar em conta a ta, comentando as atitudes da escola perante eles. ifica que deve ensinar tilo em que se escreve. to, mas nao € isso que Simbolos fonéticos znsinar como a lingua ‘mostrar como ela fun- ve na fala das pessoas € crita preserva uma lin- fossilizado. A vida de Como neste capitulo sobre a fala se torna necessirio realizarmos algumas transcrigbes fonéticas, vamos tazet uma apresentagio desses sinais. x. Numa lingua existem valores sonoros diferentes para cada simbolo alfabético, ¢,a ortografia por si s6 no nos 44 uma orientaglo clara sobre a prontincia da lingua e seus dialetos/ Com o objetivo de tornar mais precisa essa prontincia € que os linguistas elaboraram o Alfabeto Fo- nético Internacional, cujos simbolos mais importantes aplicéveis ao portugués encontram-se na tabela a seguir. Na primeira coluna, esto os simbolos do IPA (Inter national Phonetic Alphabet); nasegunda, as letras usadas pata se escrever ortograficamente o portugués, e, na ter ceira, alguns exemplos para facilitar a compreensio. Na tabela, os sons foram arranjados segundo a manei- 12 tradicional com que a Fonética os classifica, seguindo 0 modos de articulagio. No final do quadro, véem-se os simbolos usados para representar a acentuacio. Quando se escreve usando os simbolos do IPA, esta-se fazendo uma transcricio fonética em que a relacio entre letra som € univoca. Essa relacio no ocorre necessaria- mente na escrita ortografica, uma convengio que jé se afastou muito da relagio letta—som. Colocamos os simbolos apliciveis ao portugués, por- que so os que nos dizem respeito no momento, mas ha outros simbolos fonéticos que representam sons existen- tes em outras linguas, que nao aparecem no portugués. Os exemplos tefletem a fala de varios dialetos em alguns aspectos e no descrevem, pois, o sistema de um indi duo, As marcas de acento foram omitidas de um modo geral, mas podiam ser transcritas em todas as palavras ua portuguesa. E, nao aesse respeito, A esco- torno da esctita e con- uativa est voltada para bordar questdes que s6 mpre em mente 0 que cescrta. Isso parece Ob- que ha muita confuisio 53 ‘A seguir, v | Tabela de simbolos fonéticos aparelho fons | " - so, usados n etrs Modos de | Simbolo ‘ | | stots | Sta | art i ( | - P P [pai] pai, [psikleta) bicideta b b [boi] boi, [basora] vaseoura octusivas i 4 tial ta k quic [akeli] aquele, [kaza]] casa, [taksi] taxi ¢ | « |e [ula] gua, [gexal] guerra i = m [mala] mala, [kimpu] campo | a a [nada] nada, [kinew } canto eas n ah [ona] tinha, [ven] vem | i) mn | Ci], [oun] om, [binku’] banco \| , r Taka] face 12 || ’ ‘ fraka] vaca | nicarvas : : {esesau]encecio, [felis] feliz, [peas] pximo | 2 2 [mezmu] mesmo, [vizgu] visgo | J ch [eifada}, eaxada, [bafta Jbasta | 3 i | Gis Dee, enti Jeente = T [roala Jala, [lata Tata | TATA 4 th [famika ]familia, [a4uJalho r t [karu caro, [mar }mar sumserracoes | 2 Deseo FoNETicasDo | h [labo Jearo, [ma Jnr t ' [petta) porca a of (mas ]mar | . ve (ia Jia, (maf Jena f [ AFRICADOS ds | od _ [Xia ]dia, [doidsuJdoido i i [ivi ]yiv, [minina Jmenino © ¢ {ve Jv, [akeliJaquele © é bee [akelaJaquela soe. a 2 fla Js wocals |? 6 [p> ]p6, [abobora Jabsbora | 6 ° [avo], [todu] iodo . 8 {luduJrudo, fod Jtodo, Sautw salto L. 3 a (0811a, (hanna Joanana 1. [boa] bom, [aféria Jacharam, [afari0 ] achario snuite, (bighu banco, (epu Jempo Acento (-}: [batdea ]batata, [lspada] impada, [651 ]hoje Sussutro (2: [poe] pote, [lara laranje, [peda ]impada Rewoflexo (3): [pati Toor, [sew een 54 dea asa [tak] is campo {hgh} banco ‘feliz, [prosimu] pr6ximo 1] visgo ‘A seguir, vamos mostrar um desenho esquemitico do aparelho fonador, com os nomes dos lugares de articula- cho, usados na classificacao fonética dos sons. \allerl a Tbasa sho >ido 2 | @ 2 |4.,] se] 4 = ., | 22 | $8] 29 | 2 | | 32] Be] 28 MODOS DE ARTICULAGAO | 25/25] 35/65 | 2S | & 25 BS E FONAGAO ~ a8 | 84 | 26/55 | $6 | 26] 26 | 23 2 BF [BG | 22) a4 | ge | GS | BS | 30 es. LUGARES DE ARTICULAGAO a 1, Bilabiais p|bim so [pnt Jeo 2. Labiodentais — fy a — 3. Dentais t {dia zfrtt farja Jaca 4, Alveolares ts fa a po, 5. Palato-alveolares vy | 4 [Sts to [ 6. Palatais 2 | a ‘ 7. Velares - kTs[>o)xly 8. Glotais 2 hh JS Dividir as & Diagramas mostrando a articulagio de vogais. faz sentido se dem ser classit a descrigio for soantes ¢ voga via de tipos di ‘na possivel est to existe e fun consoantes sf0 Assim, se escre se escreve “‘lég se diz “‘caxa””, ete. A partir que 0 uso de w * to, um signifi seu uso na fale Se se quiser | M la, & necesséti } / pontos import: cer que dialeto = Glo, cas0 contr ta, € preciso dis A ortografia €1 uuso do sistema: | | nham um Gnic ma de escita, > pechi erc., mas 9 eixe. O sister bisi em vez de. ou petxe / sacs —=s © sresiscn na alfabetizacic bretudo nas car ue as vogais de como isso € dite sistema de esc Uma cartilha como exemplo ¢ mas a maioria de os ee 56 Dividir as letras do alfabeto em vogais ¢ consoantes $6 fax sentido se essas letras temetem a sons que na fala po- dem set classificados como vogais e consoantes, segundo a descriglo fonética. Na escrita, dividir as letras em con- soantes € vogais tem como funcdo Gnica a marcagio pré- via de tipos diferentes de letras, de tal modo que se tor- na posstvel estabelecer regeas de segmentaclo grafica. Is- to existe e funciona desse modo. Mas, na fala, vogais ¢ consoantes s4o tipos diferentes de modos de articulacao. ‘Assim, se escteve “‘optar’” e se costuma dizer “‘opitat"’, se esceve "pis" se diz “‘laps’’, se escreve “‘caixa"” € se diz “‘caxa"”, se escteve "boa" ese pode dizer “'boua"” exc. A partir desses exemplos, percebe-se clatamente que 0 uso de vogais ¢ consoantes na escrita tem, portan- to, um significado € uma fungio muito diferentes de seu uso na fala Se se quiser relacionas fatos da escrita com fatos da fa- la, € necessario antes de mais nada esclarecer alguns pontos importantes. Do lado da fala € preciso estabele- cet que dialeto sera tomado como base pata a compara- fo, caso contririo haver4 uma babel. Do lado da escri- ta, € preciso distinguir o sistema de escrita ¢ a ortografia. A ortografia € uma convencio sobre as possibilidades de uso do sistema de escrita, de tal modo que as palavras te- ham um Gnico modo de representagio grifica. O siste ma de escrita, por exemplo, permite que se escreva dis, ‘pechi etc., mas a ortografia obriga a se esctever disse € ipeixe. O sistema de escrita nfo permite que se escreva bisi em ver de dis ou disse, ou pakche em vez de pechi ou peixe. Vogais E pratica comum de ensino do portugués, enfatizada 1a alfabetizagio ¢ perpetuada nos livros didaticos, so- bretudo nas cartilhas e gramiticas de um modo geral, aque as vogais do portugués sto 2, ¢, i, 0 € w. Pelo modo como isso € dito, percebe-sc logo que se est falando do sistema de esctita do portugues € nao da fala. Uma cartilha pode mostrar o desenho de uma escada ‘como exemplo de uma palavra que comega com 0 som e, ‘mas a maioria dos alunos e professores usam um i inicial 57 Um ditongo & uma vogal que muda de qualidade articulas 1a, por um movinenio da lin gus durante sua realizazao, No 210 a0 lado, a articulagzo vocal ca comera produzindo a quali. dade dew. Numa palavra como pao vogal comera com a quali dade de. Nose que um aitongo representa uma vopal ¢ ndo ase qiincia de duas vogais. Compa re as proniincias de pais com Pais, sal ¢ sade ete. Como ar rogais, 0s ditongos podem ser asalizados on simplesmente quando a pronunciam! A cartilha manda o aluno fazer pares ou colunas de palavras que comecam com determi- nadas silabas (por exemplo, com a silaba aa) e, entre os cexemplos esperados, encontramos palavras como cavalo, cama, caminho evc. Ora, isso s6 ocorte na escrita ortogra- fica. Na fala, a realidade € diferente, conforme se pode verificar nas transctigbes fonéticas a seguir: cavalo {kavalu} cama [kima] caminbo [kamipu), [kamipu] J& perguatci a criangas se banho e bala tém o mesmo 4. Elas ficam admiradas e dizem que dala tem dois aa iguais, mas 4amho nao tem nenhum a, tem (3). Além disso, jé ouvi de criangas explicagbes corretas dizendo se- tem diferentes as vogais das silabas t6nicas de: uta [3uta] © junta (30nta) ‘Peso [pesu) © penso [pesu) boba (boba] ¢ Bomba [bomba] AAs ctiangas sabem que escada comega com [i), [iska- da}. $6 a escola € que nao sabe! Quantos exercicios “‘ma- lucos”” manda a ctianca fazer, pedindo que identifique as palavras que comegam com o som da letra e; com isso ‘esperam que o aluno “‘acerte”’, agrupando palavras co- mo escada, éden, entrada etc. Nesse caso, 0 exercicio deveria pedir a0 aluno que identificasse as palavras que sio escritas comecando com a letra e! ‘Agora, voltando ao problema anterior: escolhendo, por cxemplo, o dialeto da escola de Séo Paulo ¢ a forma omtogrifica, ndo € bem verdade que somente a, ¢, i, 0€ 4 representam vogais da fala no sistema ortografico Compare as palavras: s0u [sou] € som (soa) O m de som nio s6 diz que h4 nasalizacio, mas estabe- lece 0 ditongo, da mesma forma que 0 w de sou estabe- 4) lece 0 ditongo oral. Preste atengio a fala das palavras: objeto obisetu), pre [pencu], adivinhar \adivinas), advogado [adivogadu} No som das palavras objeto € pneu aparccem as vogais 58 Li] e fe], que: No som de aa ‘mas 0 mesmo {i] € atribuido ‘Como se ob simples ¢ claro do. Disso se co gal € de conse no € eo simp mente, porque tia dos casos, ¢ esse motivo qu se aspecto. ‘As criangas 4 lae a esctita or ceber o que es Pode aconte livros didéticos €.6.i,0,deu. essa atitude: a recimento da ¢ no € tudo. E comum as paé, mad em te € entendido letras. Porém, | [pac], [mae], [1 a sua fala com “‘erros'’ por ley ‘Ha séculos se co do portugué hoje no portug zes até silabas diante de paus surrada, em vei guém diz: [zg] € uma silat da. Como a esc: a manda o aluno fazer comesam com determi- a sflaba ca) e, entre os 4 palavras como cavalo, corre na escrita ortogrd- ente, conforme se pode ws Segui » [komipu] sho € bala tém 0 mesmo n que bala tem dois aa shum 4, tem [3]. Além ges cortetas dizendo se- tbas tonieas de: va [sinta} wo [pésu] mba {bomba] 4s comega com |i, [iska- Quantos exercicios *ma- edindo que identifique ‘som da letra e; com iss0 . agrupando palavras co- etia pedir 20 aluno que > esctitas comegando com na anterior: escolhendo, la de Sao Paulo e a forma + que somente 4, ¢, f, 0€ no sistema ortografico. om [360] i nasalizagio, mas estabe- aa que 0 ude sou estabe- davras: meu [peneu), vogado {adivogadu] ‘pneu apatecem as vogais lil € [e}, que sio atribuidas, na escrita, as letras 5 e p. No som de advogado hi um {i}, que € atribuido a0 4, mas 0 mesmo nao ocorte com adivinhar — nesse caso 0 [i] € atribuido a letra / e nao a letra d. ‘Como se observa, algo que sempre foi ensinado como simples e claro nao € de fato assim, se bem compreendi- do. Disso se conclui também que o que se chama de vo- gal e de consoante na escrita, quando aplicado a fala, rio € tio simples ¢ claro como se pensa ensinar normal- mente, porque essa relagio, embora funcione na maio- ria dos casos, ndo se aplica a todas as ocorréncias. E por ‘esse motivo que as criangas encontram dificuldades nes- se aspecto. ‘As ctiangas fazem a todo instante a relagio entre a fa" lac a exctita ortogrifica, ¢ 0 professor nfo consegue pet- ceber 0 que est4 causando o “erro’” na escrita. Pode acontecer também de a professora (e 0 autor de livros didaticos) dizer que as vogais do portugués slo 4, ¢, 6,1, 0, 6e w. Que tipo de anilise lingistica produziu ssa atitude: a escrita? a fala de algum dialeto? O apa- recimento da diferenga ¢/é, 0/6 ja € um avango, mas nio € tudo, E comum as criangas escreverem, por exemplo, maé, (paé, mad em ver de mde, pai € mau, ¢ isso normalmen- te € entendido como um desconhecimento dos sons das letras. Porém, também € comum oitvit pessoas dizendo, [pag], [mae], [maa], o que nos mostra que a ctianga usa a sua fala como referencia para a excrita ¢ no comete “erros"" pot leviandade ou distrasio. Hi séculos se tem notado um fendmeno fonético tipi- co do portugués de Portugal ¢ que ocorre também até hoje no portugues do Brasil. Algumas vogais, ou 3s ve- zes até silabas inteiras, sobretudo em final de palavra diante de pausa, se caracterizam por uma fonagio sus- surrada, em vez de vozeadas (sonora). Pot exemplo, al- guém diz: Eu fui para casa. [eu fui parakaza} Ele quebrou o pote. [clikebroupoti) za] € uma silaba sussurrada ¢ [j] € uma vogal sussurra- da, Como a escola tem o habito de soletrar as palavras a 59 todo instante, € claro que dessa forma néo existem sons, sussurrados. Entdo a professora cortige o aluno, dizendo que ele nao esté lendo ou falando ditcito, porque esta ““comendo o final das palavras””. Contudo, até os pro- fessorcs ‘‘comem” vogais ou silabas na fala corrente. H casos também em que pode nao ocorrer uma vogal na fala, mas na escrita ela aparece: “apis [laps], anses (3ts), piscina [psina] No entanto, 0 proprio professor pensa tet dito: [lapis}, (tis), [pisina) € considera que 0 aluno ¢ incapaz de discriminar auditi- vamente... pelos ertos que comete ao escrever. Embora nio seja oportuno ensinat a distingdo entre ditongos ¢ monotongos na alfabetizacao, € importante saber de algumas ocorréncias da fala que aparecem refle- tidas na escrita das eriancas. Na fala acontecem algumas, regras de variacio, que podem até ser previstas pelos contextos. Por exemplo, pode-se dizer [ouro] ou foru}, [outru] ou [otru}, [pouku} ou [poko], [bandeira] ou {bandera}, [peifi] ou [pefi), {kaifa] ou [kafa]; porém, [dei] nao pode ser também [de], [feitu] ndo pode ser {fetu], [paira] nfo pode ser [para etc. Convém observar | que a variagao entre [ei] ¢ [e] ocorre s6 diante de [r]ou | de [J, 3], ¢ a variagio entre [ai] e [a] s6 ocorre diante de | U, 3); todavia, a variagao entre [ou] ¢ [0] ocorre sem ser | revisivel pelo contexto do som que o precede ou sucede nas palavras. A forma ortogrifica dessas palavras prevé ‘uma escrita com duas letras para os ditongos. Hj casos em que ocorre a variagao entre [o] ¢ [ou], ea ortografia registra uma letra s6, como em 40a [boa] ou. [boua], canoa [kanoa] ou [kanoua] etc. Nota-se, neste aso, que essa variagdo $6 ocorre quando a peniiltima si- Taba acaba em 9, € tonica c é seguida de a. Por outro la- do, coar s6 € [koar] € ndo {kouar], mégoa é [magua] ou {magoa], mas nao [magoua]. Ha ainda o caso de varigio entec [a] [ai], [e]€ [ei], {0] € [oi], {u] e [ui] em palavras oxitonas terminadas pe- lo som [s, z, f, 3]: rapaz € [xapas] ou [xapais], talvez € [tauves] ou [tauveis], arr0z € [ax0s] ou [axois), Juz & [lus] ou [luis]. 60 Sea crianca e ra acha inerivel nao. Porém, “Nau quero, ni creveu "nu ¥”, veu “Naw guen Ota, isso no fo; que deviam ser como no € na.) nao € [n30] sem {nd}. Essa pont peciais. A criangs cebia 0 que esta Para algumas « 0 na escrita de ‘acharao, que poc do as palavras, tOnicas e a distin saparece na fala ¢ cexplicacdo que cc tempo verbal ja é sociar cada signif Buns alunos a exp sua fala a distingg [afaru] para acha, fessora nfo tomar nar essa distingao dificulté-ta. Observando co, 60, notam.se toc cerra a forma ortog tica; 05 ertos que + tos possiveis, com cias aleatérias. Un mas no escreve « (vé), mas escreve » ‘como 0s erros dos us0s lingufsticos ds hece isso, julganc disctiminar, apren, faz. Ele se concent sar. E, quando é in desilude-se com a¢ ‘ma nio existem sons sige o aluno, dizendo direito, porque esté Contudo, até os pro- as na fala corrente io ocotzer uma vogal iscina (psina] vensa tet dito sina] de discriminar auditi- € a0 escrever. inat a distinglo entre tizacio, € importante Ja que aparecem refle- Ja acontecem algumas uté ser previstas pelos dizer {ouro] ou foru}, oko}, [bandeira] ou fa] ou (kafa}; porém, « [feitu] nto pode ser ‘etc. Convém observar tre s6 diante de [r] ou {a] 6 ocorte diante de vu] e [o] ocorre sem ser eo precede ou sucede 1 dessas palavras prevé ‘0s ditongos. gio entre [o]€ fou), ¢a zomo em boa {boa] ou sa] ete. Nota-se, neste quando a peniltima si- sida de a. Por outro la- }, magoa € [magua) ou tre [a] e [ai) (el € [ei], oxitonas tetminadas pe- xapais), [tauveis}, axis), | Sea ctianga escreve ‘‘Eu nu vio macaco"’, a professo- ra acha incrivel que aluno nao saiba escrever a palavra nao. Porém, num trabalho do dia anterior aparecia “Nau quero, nau’’. Acontece que, quando a crianga es- creveu “nw vi", estava dizendo [navi] e, quando escre- veu “Naw quero, ndu’’, estava dizendo (n3ikerun’ Ora, isso nao foi um erro de distragio. A crianga julgou que deviam ser palavras com escritas diferentes, assim como no ¢ na. Mas a professora certamente achava que ndo € [30] sempre, porque isoladamente nunca se diz [na]. Essa prontincia s6 ocorre em frases ou locuges ¢s- peciais. A crianga sabia disso, a professora € que ndo per- cebia o que estava acontecendo. Para algumas criangas pode ser um problema a distin- fo na escrita de finais de palavras do tipo acharam ou achardo, que pode se agravar se a escola ensinat silaban- do as palavras. Dessa forma, todas as silabas se tornam tOnicas e a distingdo que aparece na fala espontinea de- sapatece na fala attificial da professora, E entao nao hi ‘explicagao que convenga os alunos. Pelo significado do tempo verbal jé € possivel distinguir essas palavras e as- sociar cada significado a uma forma de escrita. Para al- ‘guns alunos a explicagdo acima s6 atrapalha, porque em sua fala a distingZo € muito clara: eles dizem (afaro] ou [afaru) para acharam, ¢ {afar3a} para achando. Se a pto- fessora no tomar cuidado com a maneira como vai ensi- nar essa distingao, em vez de facilitar a compreensio ira dificulté-la Observando como as criangas escrevem na alfabetiza- «40, notam-se todas esas variagSes possiveis, ¢ o aluno erraa forma ortogréfica porque se baseia na forma foné- tica; 05 etros que comete revelam claramente os contex- {0s possiveis, como demonstrado acima, ¢ no ocortén- cias aleat6rias. Um aluno pode escrever sa/veis (talvez), mas nao escreve eileifante (clefante); no escteve vei (vé), mas escteve veis em lugar de vez. £ impressionante como os erros dos alunos revelam uma teflexo sobre os us0s linguisticos da escrta e da fala. $6 a escola nio reco- hece isso, julgando que o aluno é distraido, incapaz de discriminar, aprender, memorizar, se concentrar no que faz, Ele se concentra ¢ reflete mais do que se possa pen- sar. E, quando é injustamente criticado pelo seu esforso, desilude-se com a escola, ou tenta aprender apesar dela 61 Um som & sonoro quando, jun tamente com sua articulagao, ocorrem sibragSes das cordas vo Um som & surdo, quando as cor. as vocais permanecem abertar sem vibrapio. Iso se venfica fa cilmente, através do tato, artcu lando 01 tons e colocando a pal ma da mado junto 3 cartilage i rebide da garganta. Consoantes O tratamento dado as consoantes ndo € menos grave que 0 concedido as vogais O que parece ser um problema terrivel na escola, a julgar pelo que se vé nos livtos e nas discussdes com pro- fessores, € 0 fato de algumas eriancas nao distinguirem sons sutdos de sonoros, por exemplo, [p] ¢ [b]. [£] ¢ [v] etc. €, em conseqiéncia, confundirem também a sua ctita Deixando de lado, por ora, o fato de algumas letras como p ¢ & serem iguais quanto ao desenho embora ‘ocupem lugares diferentes no espago em que se escreve € atendo-se estritamente a consideragbes fonéticas, & pre- ciso observar 0 que segue. O reconhecimento de sons surdos sonoros do tipo [p] ¢ [b],[f]¢ [v] € facil em al- guns casos ¢ dificil em outros. Quem trabalha com transcrigio fonética, sobretudo no caso de linguas pouco conhecidas, sabe bem disso. Acontece neste caso como ‘em muitos outros: o transcritor é fortemente levado pelo que interpreta a partir da experiéncia de sua lingua, ¢ a consciéncia que tem dos sons de sua lingua softe pres- s®es violentas do sistema de escrita ortogréfica. Para | quem j4 usou bastante a escrita ortogréfica, parece 6b- | vio, claro ¢ ficil que {batu] ¢ [vaka] comecam com as consoantes sonoras {be [v] € que [patu] e [aka] come- am com as consoantes surdas [p]¢ [f]; tanto € assim que rninguém confunde [batu] com [patu] ou [vaka] com [faka}. Quando essas palavras sio ditas em voz alta ou ncontradas em frases especificas, ninguém tem dificul- dades em entender. Quando se diz '*A vaca est no pas- to" ninguém entende "*A faca estd no basto’’, mesmo a ctianca a quem se atribui a falta de disctiminagio de so- noridade nas consoantes. Entdo por que a crianca erra na cescrita? Seri que ela nio € capaz de distinguir surdas de sonoras? E interessante notar que o efto consiste normal- ‘mente em preferir as surdas (ou aquilo que a crianga ca- tegoriza como surdas) as sonoras; e por qué? Ela néo tem como ponto de referéncia 0 conhecimento prévio da es- rita da palavra; entdo, resolve sua dévida pronuncian- do-a. Acontece, porém, que infelizmente é proibido fa- lar em sala de aula, mesmo quando a aula é de portu- 62 gués... Entio, st ro € um tipo de surdos ou sonot sussurtado € mai um som sonoro, usam tal distinge ou sussurradas si Acctianga que 2 ortografia, terd precisar decidir ¢ sobretudo se con com relacio as qt lembranga de fal Evidentemenw fica s6 por esse esse fator € deci: tempo. A distingao en de ainda do diale ra.um aluno pode [p], um [t] ou ur tais. Isso torna tar palavras. E semps tia) ouvir as criang Ihor o que elas es de saber ouvir. E be fazer. Minha ‘mente com muita do 20 apego obses tingdes entre sons culdades do que a Buir revela-o clara £ comum as pr conde, visgo, desa fricativa surda. Ao Pronunciavam esse cu esperava, o segu onde se observa q ocorre a fricativa s Ig. d] ocorre a frie com palavras com ex-marido, as latas (t3sportar] com [s es no € menos grave 1 terrivel na escola, a as discussBes com pro- agas no distinguirem alo, {p} e [b]. {fe fv] ‘rem também a sua ¢s- fato de algumas letras > ao desenho embora ago em que se escreve © -agbes fonéticas, € pre- conhecimento de sons . [fle [v] € facil em al- Quem trabalha com > caso de linguas pouco yntece neste caso como fortemente levado pelo dncia de sua lingua, € a sua lingua softe pres- scrita ortografica. Para “ortografica, parece 6b- vaka] comegam com as xe [patu] ¢ {faka] come- Je[f]; tanto assim que 1 [patu] ou [vaka] com 0 ditas em voz alta ou 's, ninguém tem dificul- diz “A vaca esté no pas- sti no basto"’, mesmo a \ de discriminagdo de so- por que a ctianca erra na 2 de distinguir surdas de te 0 erro consiste normal- raquilo que a crianca ca- s;€ pot qué? Ela no tem ahecimento prévio da es- + sua davida pronuncian- {felizmente é proibido fa- uando a aula é de portu- sgués... Ento, sussurra as palavras ao escrever. O sussur- 10 € um tipo de fonagio diferente da produgio de sons surdos ou sonotos. Por sua prOpria natureza, um som sussurrado € mais semelhante a um som surdo do que a ‘um som sonoro, tanto € assim que muitos lingiistas no cusam tal distingao e chamam todas as realizagoes surdas ou sussurradas simplesmente de surdas. A crianga que esta sussurrando sons, que nao conhece ortografia, ter4 uma tarefa dificil pela frente quando precisar decidir com que letra deverd escrever a palavra, sobretudo se compari-la com palavras mais familiares € com relagio as quais ela dispde mais vivamente de uma Jembranga de fala real, ndo-sussurrada. Evidentemente as criangas nao erram a forma ortogré- fica 86 por esse motivo, mas no inicio da alfabetizagio esse fator € decisivo e pode gerar confusio por longo tempo. ‘A distingao entre consoantes surdas ¢ sonoras depen de ainda do dialeto que a crianga fala, pois a palavra pa- ra um aluno pode conter um [b] ou (d] ¢ para outro um [p], um [t] ou um (s}, dependendo das variagdes diale- tals. Isso torna também dificil aprender a ortografia das palavras. E sempre interessante (necessério mesmo, di- fia) ouvir as criangas falando para se poder entender me- Thor o que elas escrevem. Mas para isso a professora tem de saber ouvir. E isso eu creio que, em getal, cla nao sa- be fazer. Minha experiéncia, analisando a fala junta- ‘mente com muitas professoras, mostrou que estas, devi- do 20 apego obsessivo & ortografia, conseguem ouvir dis- tingdes entre sons surdos € sonoros com muito mais difi- culdades do que as criangas. A andlise dos exemplos a se- guir revela-o claramente. E comum as professoras acharem que as palavras vis- conde, visgo, desde © neste, pot exemplo, contém uma fricativa surda. Ao serem indagadas a respeito de como pronunciavam essas palavras, responderam, alias como ‘ev esperava, o seguinte: [viskOandi, vizgu, dezdi, nesti), onde se observa que diante de consoante surda [k, t] ocorte a fticativa surda [s] ¢ diante de consoante sonora [g, d] ocorre a fricativa sonora [2]. O mesmo acontece com palavras como sramsbordar, transportar, éxtase, ex-marido, as latas, as patas etc.: (teizbordar] com [2], {te%sportar] com [s], [estazi] com [5] diante de [t], [ez~ 63 Um som é fricativo quando a corrente de ar fonat6rio, passan do por alguma constricao no sparetho fonador, produc 0 efe: 10 acistico de um ruido, ow frac 20. Um som frcativo, por rua vex, pode ser sonoro ow surdo, dependendo da presenea ou mao dat vibragoes das cordas vocais durante a sua artculagao. maridu] com [z}, [azlatas] com [z] antes de [1], [aspatas] com [s] antes de [p] ete. Numa discussio com professoras, quando propus a anilise da palavra mesmo, primeito houve siléncio, como se todos percebessem que se tratava de algo com- plicado, a partir da propria experiéncia como falante- -ouvinte © como professora. Uma disse logo: ““Eu nao falo [mes-mu], soletrando, mas [mefi-mu]’’. Perguntei a cla se sabia me dizer se o som que ocorte depois do [e] € surdo ou sonoro. Ela disse que nao sabia, mas que, se houvesse um som ali, parecia ser surdo. Na verdade ela disse um som sonoro! Outra professora contou tet mui- tos alunos que dizem [memu], ¢ entéo nao hé [s] nem {2} nem outro som... Voltando ao que foi dito pela pri- meita, do modo como ela o disse, foi interessante mos- trar as professoras um problema que ocorre em portu- gués quando se soletra. Uma prontincia comum da palavra mesmo € [mez mu], com [z] ocorrendo diante de {m]. E vimos acima que ha uma tendéncia para ocorrer a fricativa sonora diante de consoante sonora e a fricativa surda diante de consoante surda, isso na fala normal concatenada. Quando se soletra, quebra-se a corrente da fala e se pro- nnuncia cada silaba no mais diante do que setia a con- soante seguinte, mas diante de pausa, como se fosse fi- nal de palavra diante de siléncio, Em portugués hé uma | tegra que diz que, em final de palavra diante de siléa- cio, nio ocorte fricativa sonora, mas s6 surda, como em baz (pas), rapaz [xapas], talvex (tauves]. Essa tegra se aplica 3s silabas na soletraglo. Por isso, uma palavra que na fala cottida ¢ pronunciada com [2] em final de silaba diante de consoante sonora, como em [mezmu] mesmo, [dezdi} desde, lizyacu] Israel, em fala soletrada € pro- ‘nunciada com (s}: [mes-mu], {des-di], [is-ya-eu). Imagine-se agora a confusio que se estabelece na ca- beca das criangas com as explicagbes dadas pela professo- +, compatadas com a sua fala soletrada e normal, com 0 seu modo de falar para criancas em sala de aula e fora da escola. Quem consegue sair de tdo grande e complicado labirinto? As dificuldades de reconhecimento dos sons da fala se somam frequentemente as dificuldades em querer expli- ‘ar a ortografia a partir da fala, Por exemplo, nao € pos- 64 sivel explicar q ‘ninguém pront seguida de letra ‘na ortografia, s entre a vogal ¢: Palavra muito, Os sons que pela letra 7 apre dialeto para dia Como numa venientes de var: ‘mos uma varied eros" da escrita Allguns aluno Palavras porque nhum som quee tegoria do r. Por (em vez de ache texto de um alun sando por que 0 ‘bemos logo que fala a nasal pal -somente a vogal sentou na escrita que era.o til. Ma fala a primeira ¢ [mehkadiu,] mer ticamente o [h] é ‘entdo uma versic falar {mehkadiu} vogal longa (que que o levou a ex aluno pode choca fia, mas para um eto. Um aluno o petente ¢ a renite va mercadinbo,: io!.... Da mesms vez de claro certa 2] antes de [I], (aspatas} oras, quando propus a imeiro houve siléncio, se tratava de algo com- >eriéncia como falante- na disse logo: ‘‘Eu nao [mefi-mu]"’. Perguntei que ocorte depois do {e] ‘io sabia, mas que, se tsutdo. Na verdade ela ofessora contou ter mui- ¢ entio nio ha (s] nem 20 que foi dito pela pri- se, foi interessante mos- ta que ocorre em portu- palavra mesmo & {mez- + de [m]. E vimos acima correr a fricativa sonora fricativa surda diante de a normal concatenada, cortente da fala se pro- iante do que seria a con- + pausa, como se fosse fi- ‘o. Em portugués hé uma palavra diante de silén- | mas $6 surda, como em sz [tauves}. Essa regra se Por isso, uma palavra que com [2] em final de silaba ‘mo em [mezmu] mesmo, cm fala soletrada € pro- [des-di),[is-ya-eu). 9 que se estabelece ma ca gies dadas pela professo- soletrada ¢ normal, com 0 sem sala de aula e fora da = to grande e complicado imento dos sons da fala se iculdades em querer expli- 1. Por exemplo, nao € pos- sivel explicar que onga se escteve com m; na verdade, ninguém pronuncia (dnsa] ¢ sim [Osa]. A explicacio or- togtifica € outra: quando se tem uma vogal nasalizada seguida de letras que no sejam m,n, nb, a, ¢, i, 06 u, na ortografia, se esta letra for p ou &, coloca-se um 7 entre a vogal € a consoante; nos demais casos, exceto na palavra muito, coloca-se um m. Os sons que na escrita ortografica sio representados pela letra r apresentam uma variaglo muito grande de dialeto para dialeto, por exemplo, para mar: [max] na prontincia carioca [mar] na pronsincia caipira Como numa sala de aula comumente hé alunos pro- venientes de varias regides do pats, af também encontra- mos uma variedade de prontincias diferentes para “os exros”” da escrita das criangas ‘Alguns alunos deixam de assinalar a letra r de certas palavras porque segundo suas prontincias nao ocorre ne- ‘nhum som que eles reconhegam como pertencendo a ca- tegotia do r. Por exemplo, hd alunos que escrevem ache (em vez de achar), pasia (em vez de passear) etc. Num texto de um aluno de Aracaju enconttei mecadio. Anali- sando por que o aluno escrevera daquela forma, perce- bemos logo que ele seguira seu modo de falar. Ele nao fala a nasal palatal (nh), entre vogais, deixando tao- -somente a vogal anterior nasalizada, 0 que nao repre- sentou na escrita com 0 til porque nao tinha aprendido o que eta o til. Mas por que ele ndo marcou o 7? Na sua fala a primeira silaba da palavra € de fato [meh] de mehkadtu.] mercadinho. Acontece, todavia, que fone- ticamente o [h] €semelhante a vogal & qual se liga, sendo entdo uma versio desta, porém sussutrada. O aluno, 20 falar [mehkadiu], ouvia o [meh] como tendo apenas uma vogal longa (que se sussurta no final): [mee] = [me:], 0 que o levou a escrever [mecadio]. A forma escrita pelo aluno pode chocar a quem s6 sabe ver através da ortogra- fia, mas para um foneticista apresenta algo preciso ¢ cor- eto, Um aluno como esse € geralmente candidato a re- petente ea renitente. Mas como escteveu bonito a pala- va mercadinbo, apos tés meses de curso de alfabetiza- iol... Da mesma forma, 0 aluno que escreve craro em ver de claro certamente toca 0 / pelo r porque'na fala o> Uma naval € ums consoanse pro duzida com 0 absixamento do véu Palatino e uma oclusto den: 110 da cavidade oral. Uma nasal 4 palatal quando 2 oclusdo oral ocorre no céu da boca, onde se Jocaliza 0 lugar de articulsgto chamado “palatal” diz (kraru] ¢ nao {klaru]. O aluno que escreve percarw pot pescoro, drobra por dobrar, & porque fala provavel- mente assim, | Em todos esses dialetos 0 som tende a set surdo se a consoanteseguine for surda e sonoo se aconsoantese- | guinte for sonora. Em final de palavras € muito mais co- mum a ocorréncia de consoante surda. Dentro de sila- bas, entre uma consoante € uma vogal, ocorte em todos | 0 dialetos somente o [£]: [pratu] Prato, [liveu] livro. Diante da vogal [i), na fala de muitos dialetos do Bra- sil, ocorrem as prontincias dos sons [tf] e [d3], como em [leitfi] éeite, (porfi] pote, [padi] pode. Essa diferenca nna realizagao falada do que se escreve com £ nio € pro- blema na escola para o ensino da ortografia, tanto que muitas professoras ensinam 0 fa, fe, Hi, £0, fu dizendo [ta, te, efi, to, tu] © a diferenca nem chama a atencio dos alunos, Em Sergipe ¢ atredores, os sons [tf] ¢ (d5] aparecem nao diante de vogal [i], mas depois dela, co- mo em palavras [maitfo] muito, (doidsu] doido, Tam- bém aqui essa variagéo nao cria problemas para a escrita omtogrifica, porque ocorre uma relagio clara entre a es- ctita ¢e de suas realizagbes na fala, A escola nao deveria preocupat-se somente com a or- tografia, mas também com o funcionamento da fala; € importante saber como os alunos falam. Na leitura um aluno pode dizer [leitfi], [padi], ou (leit), (podi), de- pendendo da regido, mas, mesmo em Sergipe, onde, co- ‘mo ja foi dito, as pessoas falam [maitfu], [doidsu], por ‘exemplo, as professoras ensinam os alunos a let [maitu], [doidu}, porque o modo de eles falarem sofre presses sociais para ser evitado, ja que € estigmatizado, sobretu- do por falantes de outros dialetos, que zombam de quem fala dessa maneira. Neste caso, a escola deve to- mar cuidado com a explicagio que dé aos alunos. Deve ‘maostrar-lhes que em todo lugar ha vitios modos de se falar ¢ cada modo € proprio para determinadas circuns- téncias. Na fala comum difria entre iguais, pode-se ¢ de fato se diz [motu], (doidsu}, porém, quando as cir- cunstincias sociais exigirem um outro modo de falar, 0 aluno sabera dizer [mditu), (doidu]. O caso das ocorrén- cias de [f] ¢ [43] no portugués é um bom exemplo do ‘que a sociedade faz com a fala das pessoas para marcé-las socialmente, prestigiando-as ou desprestigiando-as: en- 66 quanto em m diante de [i] pc (05 mesmos sons que ocorrem ni Na fala de n bem nao ocorte banho, (cipal 1 quando a nasal de [i]. Neste cas rando vogais, se gatoriamente ns bo, (ti-a] tins prontincias dess (banho), sia (tit Em geral, na de ensino dos pr m,n, nheafala [m, a, p], excet 7a0, como achar outra. Para ilust que ocorre, pot rentes palavras ¢ * Quando 0 ma € [m]; i880 toc * A dificuldade lab. # Seo mocorte: de pou b. Nes exemplo, em do da vogal an to tipo de nas © Quando om, 5 também o fina riagdes nas pro vem: (ven), [vi om: (ban), [t fizeram: (fake. fover: (3ovéi), viagem: [viagéi Pelo que pode ‘em portugués, po mamente comple 10 que escteve percosu porque fala provavel- tende a ser surdo se a oto se a consoante se- layras € muito mais co- surda. Dentro de sila- vogal, ocorre em todos | prato, {liveu] fivro, rmauitos dialetos do Bra- 1s (t{] ¢ [45], como em i] pode. Essa diferenga scteve com £ no € pro- 2 ortografia, tanto que | fe, th f0, tw dizendo ‘nem chama a atengio ores, os sons (tf] ¢ (45] i}, mas depois dela, co- 1 [doidsu) doido, Tam- problemas para a escrita relagio clara entte a ¢3- fala. ar-se somente com a of incionamento da fala; € os falar, Na leitura um i], ou [leiti), [podi), de- soem Sergipe, onde, co- {maigul, (doidsu], por 105 alunos a ler (moi), ¢s falarem softe pressbes + estigmatizado, sobtetu- uletos, que zombam de ce caso, a escola deve to- aque di aos alunos. Deve ar hi virios modos de se uta determinadas circuns- zntte iguais, pode-se ¢ de | porém, quando as cit- n outro modo de falar, © didu). O caso das acorrén- 's € um bom exemplo do das pessoas para marcé-las uu desprestigiando-as: en- quanto em muitos dialetos o [tf] ¢ © [43] ocorrendo diante de [i] podem até ser marcas favoriveis, em outro ‘9s mesmos sons [tf] ¢ [45] sAo marcas desfavoriveis, por- que ocorrem nao diante de [i], mas apés essa vogal. Na fala de muitos alunos, de diversos dialetos, tam- bém nao ocorre a nasal palacal de palavras como [bap] banho, [Cipa] tina, aparecendo em seu lugar um [i] ‘quando a nasal palatal nao vier precedida nem seguida de [i]. Neste caso ha sempre uma fronteira silabica sepa- rando vogais, sendo que as vogais da esquerda sao obri- gatoriamente nasalizadas, como em (b3i-u), [b3-iu] 4a- inho, [€-a] sinha, [g3t-i] ou [g3-1] ganhe. E por causa de prondncias desse tipo que alguns alunos escrevem bait (banho), ## (tinha), gai (ganhe). Em getal, na escola, nos livros didaticos ¢ na pritica de ensino dos professotes, a relacdo entre as letras nasais 1m, n, nh afala € considerada quase direta, com os sons [m, n, p], exceto nas palavras que acabam em ram ou rao, como acharam, achardo. A verdade, porém, € bem outra, Para ilustrar, vamos analisar alguns aspectos do ue ocorte, por exemplo, no dialeto paulista com dife- rentes palavras que contém na forma ortogrifica 0m. * Quando o m assinala o inicio de silaba, sua prontincia Em}; isso todo mundo sabe € nao erra + A dificuldade aparece quando o marca final de si- Jaba. # Seo mocorte dentro de palavras, 86 pode estar diante de p ou b, Neste caso pode ow no ocorrer um [m], por ‘exemplo, em campo: [k3pu] ou [kimpu]. Dependen- do da vogal anterior, em vez do {m] pode ocorrer ou- tro tipo de nasal: imposto (Inpostu], ombro [6ybru} * Quando o m, além de marcar o final da sflaba, marcar também o final da palavra, podem ocorter muitas va- riagbes nas prontncias, como: vem: [ven], [vel], [vein] om: (bon), (boa), [boay] fzeram: (fizers0), [fizersan), [fizerd), [fizeru) fovem: [3ovel], (3>vi], [32vi] viagema: (viag@l], [viagi], [via3i] Pelo que podemos observar, 0 que € exctito com ”, cm portugués, possui uma representagio fonética extre- mamente complexa. Assim, € realmente necessitio que 67 a escola observe a fala das criangas para poder compreen- det a sua producao escrita. AA seguir, vamos analisar mais um aspecto da fala. Juntura A estrutura fonica de palavras pode sofrer alteragoes quando juntamos uma palavra com outra em frases ou até mesmo quando juntamos ou separamos as silabas de uma Ginica palavra. Esse fendmeno de junta silabas em palavras ou juntar palavras em frases € conhecido pelos lingiistas como juntura silabica ou intervocabular. Mui- tas vezes a palavra juntura € usada significando ‘juntura intervocabular’, ficando especificada como juntura silé- bica s6 quando se referir as silabas. No portugués 0 fenémeno da juntura tem muitos as- pectos interessantes e importantes no s6 para se conhe- cet como a fala funciona, como também para se enten- der muitos dos erros de escrita de criancas que estdo o- megando a escrever. ‘Vamos considerar 0 que acontece com uma palavra terminada por vogal quando se junta com outta que se inicia também por uma vogal. Observe como se pronun- ciam comumente as seqliéncias de palavras ‘gua (pingudagual, também escrito pingo d’ amarela kazamatela]; todo amigo [toduamigu]; casa horrivel (kazoxiveu); casa timida (kazaumida] ete. Co- mo se verifica, pode haver alteraco na estrutura de pa- lavras quando em juntura. O exemplo pingo d’agua {Wo familiar que até admite uma forma ortogréfica com apéstrofo. O fendmeno de juntura pode envolver até tes vogais, como € 0 caso de toda a amizade, que perde duas das se- te silabas que poderia ter: [to-da-a-a-mi-za-di] = [to- -da-mi-za-dij O aluno que escreve “‘O jabuti correu no mato ¢ viu macaco”’ ¢ lé [... ividimakaku] deveria ter posto na escri- ta“... € viu um macaco’’, mas nao o fez porque achou que wm estava tepresentado pelo final de viw. O aluno 68 I que escteve “E dois grupos ton: deveria escrever porque nao fala como nao fala, ¢ ‘ndo the parece e cotreta, 0 que n crianga escreve; ‘slo e, que entao tica. Diante de « do 0 que o alun que nao fez eas lingua funciona, forma escrita, ap Vejamos agors vra acaba em con vir age casas a vem a Se a segunda; consoante: casas prets mar calme vem bom tem temp. ‘Como se podes muito regular en uma palavra com: turagao dos padra Fato semelhant labas dentro de p separando-as por mu), desde [deadi -mu], [des-di]. G ocorte como [s}, ec Palavras soletradas contexto em que sé Os ditongos e diferentes quando ‘ou quando € silab para poder compreen- tum aspecto da fala s pode softer alteracbes com outra em frases ou separamos as silabas de no de juntar silabas em ‘eases € conhecido pelos ou intervocabular, Mui- da significando ‘juntura ‘cada como juntura sili- bas. juncura tem muitos as- ‘es nfo s6 para se conhe- ‘também para se enten- Je criangas que esto co- ‘otece com uma palavra junta com outra que se Dbserve como se pronun- 5 de palavras: pingo de sctito pingo d'dgua; casa migo [toduamigu); casa da {kazaumida) etc. Co- tagio na estrutura de pa- exemplo pingo d’agua é na forma ortogrifica com ec envolver até trés vogais, ‘e, que perde duas das se- -daca-ami-za-di] = [to- suti correu no mato e viu deveria ter posto na escri- ‘snl o fez porque achou lo final de viv. O aluno que escteve “‘Ele comprou um abacate comeu’’ ¢ faz dois grupos tonais ao ler, separando abacate de comew, devetia escrever "'... abacate € comeu”, mas no o faz porque nfo fala normalmente esse ¢ nesse contexto c, como nio fala, nao vé razdo para escrever. A frase acima nao lhe parece estranha, porque ele a lé com a entoaga0 correta, 0 que nio € feito por quem nio sabe ler o que ctianga escreve; estes necessitam da presenca da conjun- lo ¢, que entdo dé origem a uma outra estrutura sintd- tica, Diante de casos dessa natureza, a professora lé erra- do 0 que o aluno escteveu, obrigando-o a accitar algo que nao fez ¢ a engolir uma explicaglo falsa de como a lingua funciona, exigindo a presenca do ¢ quando na forma escrita, aparega ou no na fala Vejamos agora o que ocorre quando a primeira pala- ‘ta acaba em consoante e a segunda comega com vogal: sir agua (vi-ra-ki] casas amarelas (ka-2a-2a-ma-te-las] em agui (ve-a-ki] ou [¥eT-a-ki] Se a segunda palavra, em vez de vogal, comecar com consoante: casas pretas (kazaspretas] ou (kazafpretal] ‘mar calmo (maikaumu] ou [markaumu] vem bomba (véimbstimba] ou [véibonba] tem tempo {t@inmpul ou [t€itepu] ete. ‘Como se pode observar, as vezes ocorte uma mudanca muito regular em finais de palavras quando unimos uma palavra com outra, podendo haver até uma reestru- turagio dos padres silabicos. Fato semelhante ocorre com os elementos finais de si- labas dentro de palavras quando soletramos as silabas, separando-as por pausas. Palavtas como mesmo [mez- mu], desde [dead], quando soletradas, tornam-se [mes- -mu), [des-di]. Como se vé, 0 que antes era [z] agora corre como [s], como se os finais das silabas isoladas das palavras soletradas funcionassem como finais absolutos, contexto em que s6 ocorre [s] diante de pausa ou siléncio. (Os ditongos e monotongos se estruturam de manciras diferentes quando um enunciado € dito como um todo ‘ou quando € silabado. Por exemplo, na minha fala co- 69 mum digo palavras como meia, béia etc. fazendo uma seqiiéncia de ditongo mais vogal monotongo; assim: [mei-a}, [boi-a]. Porém, se disser essas palavras com uma pausa separando as silabas, minha tendéncia natural co- ‘mo falante do portugués sera dizé-las da seguinte forma: {mei-ia], [boi-ia}, originando, entio, seqtiéncias de dois ditongos. ‘Mais uma vez vemos a importincia de buscar as expli- cagdes cortetas para a fala e para a ortografia sem con- fundi-las, Na escola, sobretudo na alfabetizacio, a crianga que vai aprender a escrever tem seu conhecimen- to da lingua no ouvido e, quando ouve a professora di- zer coisas diferentes, usando uma fala, ofa silabada, ora concatenada, ¢ fornecendo-lhe uma tinica explicagio, cla se vé perdida, sem entender exatamente o que a pro- fessora explica e, conseqiientemente, se vé em dificulda- des para responder 20 que a professora espera. Muitos exercicios de discriminagio auditiva sao feitos dessa ma- neira € muitos alunos nio se saem bem, pois no rece- bem as explicasBes cotretas para resolvé-los. Quando as criangas comegam a esctever suas primeiras hist6rias, revelam uma percepglo fonética muito aguca- da, Percebem também que, se falarem as frases de ma- neira mais lenta, podem explicitar certas vogais que si0 omitidas na fala mais répida, ¢ isso pode servit de guia ara a esctita ortografica Essa fala mais lenta nao deve ser confundida com a si- labacio, que pode modificar a percepgao do que foi dito. Forma lexical Um outro tipo de problema que envolve vogais ¢ con- soantes e sua relagio com as letras da esctita diz respeito no tanto a processos fonol6gicos em funcionamento na lingua atualmente, mas a diferentes formas lexicais de palavras, dependendo do dialeto do falante. Obviamen- te-a escrita ortogréfica nio acompanha essa evolucio, 70 Algumas et isa Soh vocé sam, bicie coel, Essas format identificar as p searem nelas pe indo da form; nética e a const tos. A escola nj aprendizado da oe fazer disso turas. Deixar as de fundaments mente a passagt a ortografia. De ta funcionam, ¢ pode ter falant uum dialeto e qu s0 que a profess cla esti fazende plique detalhad ‘como fez ¢ por ter feito © por ¢ ensino da mo unidade basi te razodvel para’ ce ter muitos inc acentual. Uma | pelo fato de sus veis, que se ajust contextos em qu aéia etc. fazendo uma iL monotongo; assim: -ssas palavras com uma ttendéncia natural co- clas da seguinte forma: 4o, seqilencias de dois nia de buscar as expli- a ortografia sem con- > na alfabetizagio, a x tem seu conhecimen- © owve a professora di- a fala, ofa silabada, ora ‘uma tnica explicagio, zxatamente 0 que @ pro- ate, se vé em dificulda- ofessora espera. Muitos iva sio feitos dessa ma :m bem, pois no rece- resolvé-s, a escrever suas primeiras 0 fonética muito aguca- falarem as frases de ma- tar certas vogais que slo isso pode servir de guia set confundida com a si- zrcepcio do que foi dito. ical que envolve vogais ¢ con- ras da escrita diz respeito ‘0s em funcionamento na sentes formas lexicais de to do falante. Obviamen- mpanha essa evolugio, Algumas criangas podem dizer para: pizza: [pitsara] ou [pitsa] ‘fosforo: [forsu] ou [fosforu) ‘voce: [ose] ou [vose] também: cami] ou (tsmbé] bicicleta: [psikceta] ou [bisikleta] coelho: (kueliu] ou (kuesu} Essas formas lexicais so usadas pelas criancas para identificar as palavras que quetem escrever ¢, a0 se ba- searem nelas para descobrir a forma escrita, escrevem fu- indo da forma ortogeifica, mas revelando a forma fo- nética e a constituigao lexical de palavras em seus diale- tos. A escola nao s6 nao pode desprezar esse estigio do aprendizado da escrita pela crianca, como deve entendé- lo e fazer disso objeto de programagio de atividades fu: turas. Deixar as criangas escreverem textos espontaneos € de fundamental importincia para que fagam correta- ‘mente a passagem da fala para a escrita e da escrita para a ortogtafia. Dessa forma elas verdo como a fala e a escti- ta funcionam, como os dialetos vivem, como uma classe pode ter falantes de diferentes dialetos, quando se usa ‘um dialeto e quando se usa outro. Mas para isso é preci- s0 que a professora saiba 0 que esti acontecendo € o que ela esté fazendo. As vezes € preciso até mesmo que cx- plique detalhadamente 20 aluno o que ele proprio fez, como fez ¢ por que fez, além, é claro, de como deveria ter feito € por qué Ritmo © ensino da alfabetizagio tradicionalmente tem co- mo unidade bésica a silaba. Esse processo € perfeitamen- te razodvel para uma lingua de ritmo silébico, mas pare- ce ter muitos inconvenientes para uma lingua de ritmo acentual. Uma lingua de ritmo acentual se caracteriza ppelo faro de suas silabas apresentarem duragies varia- ‘eis, que se ajustam em suas duragbes reais, segundo os contextos em que ocorrem para fazer com que os inter- 71 Uma silaba & thnica quando é ientificada como mais sliente do que as demas ¢ serve para marcar as batidas ritmscar dos compassos da fla. As demas si taba: sd comsideradat silabas tomas A tonicidade pode ser causada Por um volume sonora maior, or wma duragdo maior ow por uma énfase entoacional sobre a melodia da fala ‘alos entre uma sflaba tOnica e outra sejam mantidos re- lativamente constantes, independentemente do nfimero de silabas tonas entre uma e outra silaba tonica, © por- tugués € 0 inglés, por exemplo, so linguas de ritmo acentual. A grande diferenca entre o dialeto paulista ¢ a fala de certos gatichos (de fronteira) reside justamente ‘no fato de os paulistas falarem o portugués com ritmo acentual, enquanto os gatichos o falam com ritmo silé- bico. Para entender melhor 0 que foi dito, tome-se uma frase como “Pedro estuda na Universidade de Campi- nas". Se se disser esta frase proporcionando as stlabas durasdes aproximadamente iguais, soaré como se um. Baicho a estivesse falando, Forgar os alunos a aprender o portugués como se fosse uma lingua de ritmo silabico € induzi-los a modificar sua fala natural, produzindo aqueles leitores que léem “tudo explicadinho"’, como se diz na escola, silabando as palavras, em vez de pronuncié-las com o ritmo nor- mal. Com isso no queremos dizer que a escola ndo pos- sa ensinar o que € uma silaba, como ela se estrutura em. portugues ctc.; 0 que deve fazer € ensinar de maneira correta ¢ adequada. Pode até ser que nao scja interessan- te ensinar o que € silaba na alfabetizaczo, da mesma for- ‘ma que nio se ensina o que sto morfemas, apesar de se- em utilizados na pritica, ‘Como dissemos, o portugues nao € uma lingua de tit- mo silabico, mas acentual. Ora, toda teotia literaria rela- tiva interpretagdo de versos metrificados em lingua Portuguesa baseia-se no pressuposto de que a lingua é de ritmo silabico, como 0 francés eo italiano, linguas fem que se originaram essas teorias. A escola ensina a es- candir versos em silabas. O verso € isossilabico, com 0 acento variando, as vezes, como no caso das redondi- has, at€ cobrir todas as possibilidades de ocorréncia nas, silabas. $6 esse fato mostra a incongruéncia da teoria, Como se pode marcat um ritmo com os elementos va. tiando tao aleatoriamente?! Pobres dos poetas que tiveram de fazet versos que sa- tisfizessem aos te6ricos ¢ perfeitamente mettificados, se- gundo as regras do ritmo da fala da Lingua Portuguesa Um bom exemplo de poeta que conseguiu essa concilia- ¢40 em muitos de seus poemas € Goncalves Dias: seus 72 vvetsos so isos ouvidos: “Meu cante Guerreitos, Sou filho ds Nas selvas c: Guerreitos, Da tribo tug J& uma poe Correia, nao te: vidos dos falar teoria tradicion siano de forma “"Vai-se a pri Vai-se outra De pombas + Raia sanguin Na verdade, ma, porque os ¢ rem em picos d simplesmente a comoasilaba,m ertos até dessa n acontece porque {que sio fatos da fala realmente f Manuel Band. versos abaixo un uum destespeito i teoria lteritia, ¢ mente metifica © mais, onde, apoio tima com, ““O meu verso Frumento sem Fago rimas cor Consoantes de 2 sejam mantidos re- xtemente do nimero silaba tOnica. O por- 4o linguas de ritmo o dialeto paulista ea 4) reside justamente sortugués com ritmo alam com ritmo sild- i dito, tome-se uma versidade de Campi- orcionando 3s silabas , soar como se um stugués como se fosse aduzi-los a modificar sles Ieitores que léem 2 na exo, silabando -las com 0 ritmo nor- + que a escola no pos- no ela se estrutura em € ensinar de mancira ue ndo seja interessan- sizagio, da mesma for- vorfemas, apesar de se- io € uma lingua de rit- ida teoria literdria rela vettificados em lingua isto de que a lingua € $0 italiano, linguas s. Acescola ensina a es- 2 € isossilabico, com 0 " no caso das redondi- Jades de ocorréncia nas congruéncia da teoria ‘com os elementos va- de fazer versos que sa mente metrficados, se- da Lingua Portuguesa. conseguiu essa concilia- € Gongalves Dias: seus versos 20 isossilébicos para os te6ricos ¢ agradaveis aos ouvidos: “Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi: Sou filho das selvas, Nas selvas crescis Guerreiros, descendo Da tribo tupi Ji uma poesia como ‘As pombas””, de Raimundo Correia, no tem estrutura métrica nenhuma para os ou- vidos dos falantes de portugués, embora, seguindo a teoria tradicional de mettificacio, seja um poema parna- siano de forma itrepreensivel: ““Vai-se a primeira pomba despertada. Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas De pombas vao-se dos pombais, apenas Raia sangiiinea ¢ fresca a madrugada..."" Na verdade, esses versos nem sequer apresentam ri- ‘ma, porque os elementos que deveriam rimar no ocor- rem em picos de saliéncia rftmica ou entoacional, mas simplesmente no fim da linha escrita! Algo téo simples como asilaba, mal compreendida pela escola, pode causar eros até dessa natureza! Essa m compreensio da pocsia acontece porque a escola nao distingue com clareza 0 {que sio fatos da fala € 0 que sto fatos da escrita, como a fala realmente funciona, como a esctita realmente €. Manuel Bandeira, na sua ironia e sutileza, deixou nos vers0s abaixo um exemplo perfeito disso. Neles se nota sum desrespeito as regras tradicionais de metrficasio da teoria literéria, mas, na fala, hé uma estrutura perfeita- mente metrificada quanto aos acentos, entoagio ¢ tudo ‘© mais, onde, € claro, com nao rima com bon, mas apoio rima com joio: “0 meu verso € bom Frumento sem joio. Faso rimas com Consoantes de apoio.” 73 DIAS, Gongalves, “I-Juca Pins ma” In: NICOLA, José de. Li- erature brasileira, $40 Paulo, Scipione, 1988. p, 62. CORREIA, Raimundo. “As pombar". In; NICOLA, José de, Literatura brasileira. “Sao Paulo, Scipione, 1988. p. 125 BANDEIRA, Manuel. “Os sa pos”. In: NICOLA, José de. Li teratura brasileira, $30 Paulo, Seipione, 1988. p. 120.

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