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QOOO Associagio Brasileira si Rrquiteon Pisagiotas A CARTA BRASILEIRA DA PAISAGEM INTRODUCAO ‘Annecessidade de conservar e proteger a paisagem como um bem patrimonial é antiga em. ‘nosso Pais. No Brasil, a protecio efetiva da paisagem é ainda um desafio, apesar dos grandes progressos fem relag3o a legislaco ambiental (uma das mais detalhadas e avangadas do mundo) ¢ dos iversos instrumentos vigentes para a protego de bens culturais. A investigacdo cientifca, realizada em diversos centros de pesquisa nacionais e internacionais, por varias décadas, ressalta a necessidade urgente de tratar essa prioridade. Apresentamos aqui o desenvolvimento dos Doze Prinefpios da Carta Brasileira da Palsagem, publicados em 2010 , como primeira resposta nacional ao apelo da Federacao Internacional de Arquitetos Paisagistas (IFLA) realizado no Congresso Internacional da IFLA, que ocorreu em outubro de 2009, no Rio de Janeiro, organizado pela ABAP - Associago Brasileira de Arquitetos Paisagistas, afiiada a IFLA desde a sua fundacio. Em 2009, obteve-se, em nosso Pais a aprovacéo da portaria n® 127, de 30 de abril de 2008, pelo Instituto do Patrimdnio Histérico e Artistico Nacional- IPHAN, criando a chancela das paisagens culturais brasileiras, com a participacio ativa de membros da ABAP. A Federacdo Internacional de Arquitetos Patsagistas (IFLA, desde 2006, pretend alcancar a Convencéo global da Paisagem eno Congresso IFLA de 2009 solicitou publicamente a ajuda de suas associagdes membros em 64 paises, representantes da UNESCO e da Unido Européia para essa finalidade. (0s objetivos da Convencio Global da Paisagem propasta pela IFLA so: promaver a protecio, gestdo e planejamento sustentaveis de paisagens de todo o mundo, através da adoco de convenges da paisagem nacionais, que recanhecam a diversidade e os valores de todas as palsagens, e adotem principios e processos relevantes para salvaguardar os recursos da ppaisagem em cada local Em maio de 2010, o Congresso anual da IFLA realizado em Suzhou, China, preparou um. documento geral apresentado, para subsidiar as decises tomadas na sessio 186 da UNESCO, realizada em Paris, em marco de 2011, onde foi solicitado o apoio da UNESCO para o projeto dda Convenco Mundial da Paisagem, a exemplo do que jé ocorre com a Convencio Européia dda Paisagem, assinada em Florenca em outubro de 2000. Isso ainda precisa acontecer, IFLA World Congress, realizado em junho de 2014, em Zurique, apresentou e iniciou a dinamica da "Iniciativa para a Carta Latino Americana da Paisagem', ora em andamento pelo Comité IFLA-LALL A estratégia é que cada pals promova por suas organizagbes Associagio Brasileira si Rrquiteon Pisagiotas nacionais filiadas a IFLA, como a ABAP, no Brasil, as suas Cartas da Paisagem, alimentando assim, 0 didlogo na América Latina, Américas e outros continentes, em, busca da Convenco Global da Paisagem. Esse trabalho corresponde a um profundo senso de responsabilidad para com nossos paises, dada a necessidade urgente pela conservasio, protesiio e gesto da paisagem, vista, deste modo, como fundamental instrumento concreto para o planejamento ambiental e econdmica das nacées do nosso continente e do mundo. 1. O que é uma Carta da Paisagem? Uma Carta da Paisagem é uma declaragiio de principios éticos ( que envolvem a ecologia, a justica social e as politicas culturais e econdmicas de desenvolvimento) para promover 0 reconhecimento, avaliaco, protec, gestio e planejamento sustentavel de paisagens ‘em cada pafs, através da adocdo de convenges (leis, acordos} que reconhecem a diversidade paisagistica e os valores locais, regionais e nacionais, bem como os principios processos relevantes para salvaguardar os recursos da paisagem, Reconhecemos a arquitetura paisagistica contempordnea como uma disciplina que & ‘exercida em busca da harmonia entre as condicées sociais e ambientais, e que pretende alcancar o bern-estar do individuo e a preservaco da paisagem, em conjunto. ‘A paisagem compreende a combinacao do ambiente abistico, bidtico e sécio-cultural como componente material que est atrelado ao componente imaterial expresso pela capacidade da percepgo humana que da significado e sentido estético. Portanto, a espécie humana ¢ a unica capaz de reconhecer na natureza ® em suas obras antrépicas, a paisagem em seu sentido pleno, Lutamos entio pela ratificagao governamental das CARTAS DA PAISAGEM Em todos os paises do globo, valorizando paisagens e culturas e comunidades interligadas a elas, considerando-se além dos cemais principios da DeclaracSo do Rio sobre Meio Ambiente Desenvolvimento, de junho de 1992, especialmente o principio n® 4: “Pora alcancar 0 desenvolvimento sustentavel, e protestio ambiental constituiré parte Integrante do processo de desenvolvimento e no pode ser considerada isoladamente deste” 2. Breve Histérico: antecedentes internacionais e do Brasil No BRASIL a décad de 1930 foi importante pelas bases lancadas para a disciplina da sistematica de protecao € conservagao de monumentos e belezas cénicas nacionais, iniciando, assim, de forma mais contemporanea a nossa protecio formal da paisagem, que resultou na fundao dos primeiros parques nacionais brasileiros. @000 ocigdo Brasileira si Rrquiteon Pisagiotas Em Londres, 1933, foi realizada a Convengio para a Preservacao da Fauna e Flora em, seu Estado Natural - que estabeleceu um conceito bésico para um parque nacional, € 8 se reconhecia que o mesmo deveria ser controlado pelo Poder Publico. £m 1934, fol realizada a | Conferéncia Brasileira para a Protecdo da Natureza, no Rio de Janeiro, com grande repercussao na questo da preserva¢o ambiental 0 Cédigo Florestal brasileiro de 1934 (Decreto-1ei 23.793/34), substituido pelo de 1065, ora em discuss4o, foi o primeiro texto legal brasileiro a tratar de forma um ppouco mais sistémica 0s recursos florestas, conceituando, pela primeira vez, 05 parques nacionais, florestas nacionals, florestas protetoras e areas de preservaco permanente {@RITO, 2003). Ao contrério do que dispunha o Cédigo Civil de 1916, o direito de propriedade deixou de abranger as florestas existentes na terra adquitida, passando a existir obrigacdes de cunho ambiental, iniciando-se a chamada Fungo ambiental da propriedade, hoje consagrada (PETERS, 2003). Em 1934 publicou-se também o Cédigo Nacional de Aguas. Ingpirado na criagdo do Parque Nacional de Yellowstone, o brasileiro André Reboucas chegara a propor a criag3o dos Parques Nacionais das Sete Quedas e da tha do Bananal, i em 1876 porém, apenas cingiienta e sete anos depois, somente em 1937, & que foi criado o primeiro Parque Nacional Brasileiro, o Parque Nacional de Itatiaia Em 1937 também foi editado o Decreto-lei n.25 que previu o Instituto do tombamento, como instrumento de preservaco da cultura, que também poderia ser utilizado nas quest&es ambientais. Em 1939, foram estabelecidos, no Brasil, também mais dols Parques Nacionais, 0 do Iguacu e o da Serra dos Orgios. Em 1940, ern Washington, foi realizada a Conferencia para a Proteco da Flora, da Fauna e das Belezas Cénicas Naturais dos Paises da América, que ficou conhecida como “Convencdio Panamericana”, na qual foram definidos os conceitos de Reserva Nacional, Monumento Natural e Reserva Silvestre. No ambito desta Convengo, os Parques "Nacionais foram definicios como reas que deveriam ser estabelecidas para a protecio € conservago das belezas cEnicas naturais da flora e fauna de importancia nacional, beneficiando o publico que poderia usufruir paisagens naturais colocadas sob guarda oficial (© Congresso Nacional Brasileiro editou o Decreto Legislativo n® 3 em 1948, aprovando ‘a Convengio de Washington. Esse processo, logicamente foi fruto de repercussio d= ‘ages internacionais e documentos produzidos pelo intercambio entre varias nagbes continentes, como estamos construindo hoje, em relaco 3s CARTAS DA PAISAGEM e a Convengo Mundial da Paisagem, £m 1948, a Unigo Internacional para a Prote¢o da Natureza (UIPN) fol fundada, num Congresso organizado pela Unesco, em conjunto com 0 gaverno francés, cujo objetivo era promover acées com bases cientificas que pudessem garantir a perpetuidade dos recursos naturais para o bem-estar econdmico e social da humanidade. @000 ocigdo Brasileira si Rrquiteon Pisagiotas Posteriormente, em 1965, tal organizago passou a se chamar Unio Internacional para a Conservaco da Natureza (UICN), buscando enfatizar a necessidade de conservacio dos habitats "Neste mesmo ano, o de 1948, foi fundada a IFLA - International Federation of Landscape Architects, em Bruxelas, Cujos objetivos so a divulgag3o das atividades da profisstio da Arquitetura Paisagistica pelo mundo, cujo termo fol criado por Frederick Law Olmsted, um dos fundadores de movimento pelos parques nacianais dos Estados Unidos, ainda no século XIX, que resultou na fundacdo de Yellowstone. 3, Adécada de 70 e depois No Brasil, pioneiro instituto Brasileiro para o Desenvolvimento Florestal (IBDF) fol criado em 1967, pelo Decreto-lei n® 289, como uma autarquia vinculada ao Ministério da Agricultura, © a ‘qual cabia orientar, coordenar e executar as medidas necessarias 2 utlizacdo racional, 2 protegdo e a conservacio dos recursos naturals renovaveis e 20 desenvolvimento florestal do pais. Em 1972 retinem-se ambientalistas do mundo todo em Estocolmo, enquanto as novas 'metr6poles americanas se conurbavam e ampliavam suas reas urbanas sobre os resquicios da natureza, Rachel Carlson ja havia escrito seu livro manifesto “A Primavera Silenciosa”, McHarg jé havia escrito seu estudo "Projetar com a Natureza” & questionava-se o progresso destrutivo da civiliza¢ao. A ruptura entre a sociedade € a Natureza era sentida nas paisagens degradadas, &guas poluidas, nos efeitos sobre os ‘animals selvagens e resultados desastrosos sobre a populaco urbanizada, Em 1973 foi criada a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), organismo do ‘governo Federal inserido no Ministério do Interior, contraditoriamente nosso Iministério responsavel pela politica das novas fronteiras agricolas, ocupagio da Amazénia e crescimento de areas ainda no desbravadas pelo homem. A contradic$0 entre Natureza e intervencio antropica cresceria e as paisagens brasilelras afetadas pela urbanizago e agricultura se transformariam, de acorda com essa relagio. Em 1976, algumas dezenas de arquitetos e urbanistas concentrados no eixo Rio - S80, Paulo € liderados pelos pioneiros arquitetos Rosa Grena Kliass e Fernando Chacel, fundaram a ABAP- Associacdo Brasileira de Arquitetos Paisagistas com apoio de Roberto Burle Marx, e do bidlogo e ambientalista Luiz Emydio de Mello Filho, e de outros importantes baluartes no cendrio ambiental e paisagistico nacional, contrapondo-se, este grupo, aos arquitetos que se faziam conhecer por grandes & ‘monumentais obras em concreto armado. FundacSo da ABAP na FAU Maranhlo, $0 Paulo, 1576. {As preocupages deste grupo pioneiro eram inovadoras e diferentes, dedicadas a projetos e tratamentos dos espagos abertos em variadas escalas, conjugando a natureza ao projeto de espagos fisicos para os homens. Assim, iam-se pensando novas formas de cidades, mais abertas e mais verdes. Em 1981 foi implementada a Poltica Nacional de Meio Ambiente, por meio da Lei n® 6.931/81. No mesmo ano fol estabelecido também o Sistema Nacional de Melo Ambiente (SISNAMA, pela Lei n® 6,938/81, sob a direco do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA). 0 SISNAMA foi definido como um conjunto articulado de instituigbes, entidades, regras e praticas da Unigo, Estados e Municipios e de fundagées instituidas pelo poder piblico, esponsaveis pela protesio e melharia da qualidade ambiental, ainda em processo de consolidago nos municipios. A Constituico Brasileira de 1988 nos trouxe um capitulo sobre Meio Ambiente, lavrado com 2 contribuigao historica dos Arquitetos e urbanistas brasileiro. Em 1989 foi criado 0 IBAMA ~ Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovavels, na tentativa de unificar a politica ambiental brasileira, principalmente quanto 3 administraco das unidades de conservago. Em 2007, com a Tiago de uma nova Autarquia, 0 Instituto Chico Mendes de Conservacao da Biodiversidade, a gesto das Unidades de Conservactio deixou de ser competéncia do BAMA, A partir dai a legislaco ambiental foi detalhada e aprofundada em diversas reas de abrangéncia € 0s sistemas governamentais de licenciamento passaram a funcionar para novas projetos por enquadramentos especificos procedimentos estabelecidos = normatizados. No entanto, nas cidades, o trabalho com a PAISAGEM foi confundido, ao longo do. tempo com mera atividade de plantio ornamental, muitas vezes realizado sem a devida conscincia técnica e ecol6gica, e, por muitas vezes resultava em apoio a projetos nada condizentes com a nova realidade desejada @000 ocigdo Brasileira si Rrquiteon Pisagiotas Positivamente, na area do ensino diversos niicleos de pesquisa se desenvolveram & formaram grupos de mestres e doutores em Arquitetura Paisagistica, a partir do final da década de 70, distribuidos por todos os estados da federagio a partir da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Na realidade das implantacées e empreendimentos, a intrincada rede de leis, decretos normativas ambientais se cada vez mais complexa. No entanto, o produto final desta interag3o, a Paisagem, continua ainda em degradagio. A construcdo de critérios e pardmetros para os trabalhos interferentes com a Paisagem torna-se necessidade urgente para 0 nosso Pals, que agora tem economia crescente, Em 1993 fol irmada a Carta da Palsagern Mediterranica em Sevilha, Espanha. Em 2000, ‘em Florenca, foi aprovada a Convenco Européia da Paisagem. Agora estamos engajados pela Iniciativa da CARTA LATINO AMERICANA DA PAISAGEM, Dentro desta dtica,¢ filiada a FLA desde a sua fundaciio, a ABAP ~ Associago Brasileira de Arquitetos Palsagistas apresentou, em 2010 3 CARTA BRASILEIRA DA PAISAGEM, publicando os 12 PRINCIPIOS, e, no ano seguinte os dasenvolveu & dliscutiu entre EXPERTS de varias regites brasileiras, na oficina denominada CARTA BRASILEIRA DAA PAISAGEM, promovida no Rio de Janeiro, pelo Prourb, em maio de 2014, compartithando com o publico a conferéncia inaugural do gedgrafo Aziz Ab’Saber, uma de ‘suas tiltimas contribuig8es aos estudiosos da paisagem. ‘Seguem-se 08 12 principios, construidos sob a otica do direito do cidad3o comum & qualidade paisagistica, a ser garantido e instrumentalizado nos Planas de Paisagem, 3 serem desenvolvidos em diversas escalas. Com os apoios do CAU-Br { Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil) € do Prourb/UFR) (Programa de pés-gradua4o em Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, apresentaremos estes principios da ARTA BRASILEIRA DA PAISAGEM e dia Iniciativa da Carta Latino Americana da Paisagem - LALI, a serem discutidos nas atividades paralelas da Cupula dos Povos ( Rio#20), no dia 21/06/2012, cumprindo assim, mais uma mmissao da nossa entidade e dos arquitetos e urbanistas, perante a sociedade. 4, OS DOZE PRINCIPIOS DA CARTA BRASILEIRA DA PAISAGEM. Associara te hegateioe 4.2. 0 RECONHECIMENTO DAS PAISAGENS BRASILEIRAS E SEUS ECOSSISTEMAS. CO reconhecimento das paisagens brasileiras deve se dar a partir da delimitago de seu suporte fisico, que definido numa escala ‘mats ampla pelo seus dominios morfo-climaticos, onde os ecossistemas so parte integrante e inter-atuantes. 143, AS RELAGOES ENTRE A PAISAGEM E A POPULAGAO: PAISAGENS CULTURAIS BRASILEIRAS ‘Nas relagBes entre a palsagem e a populaco 0 reconhecimento € 0 respeita aos seus valores éticos, estéticos, ambientais, ecol6gicos, econdmicos e culturais devem ser assegurados. © governo brasileiro, através do IPHAN/ MinC — Instituto do Patrimonio Historico e Artstico Nacional/ Ministerio da Cultura, ja institulu a chancela da Paisagem Cultural Brasileira “a toda por

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