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ECONOMIA POLÍTICA II (Seb - )
ECONOMIA POLÍTICA II (Seb - )
ECONOMIA POLÍTICA
2º SEMESTRE
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
ECONOMIA POLÍTICA II
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Os empresários são o elemento mais dinâmico de uma economia na medida em que combinam
os diferentes fatores de produção de forma a articularem um processo produtivo. Sem os
empresários não há processo produtivo, mesmo que haja recursos disponíveis para o pôr em
marcha. A remuneração que lhes correspondente é o lucro.
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Porém, não conhecemos a totalidade de recursos existentes, portanto esta curva pode deslocar-
se para a direita, aumentar, no decurso da descoberta ou criação de novos recursos naturais. A
oferta do recurso continua a ser fixa, infinitamente rígida, mas numa quantidade diferente.
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Com a imposição de um Salário Mínimo Nacional (SMN), que seja superior ao salário
de equilíbrio (Peq), poderíamos esperar:
• Q1» Q2 – diminuição na contratação de trabalhadores, diminuição na procura
de trabalho.
• Q1» Q3 – aumento na quantidade de trabalhadores que se oferecem para
trabalhar (desempregados), aumento na oferta de trabalho.
Esta ideia supõe, porém, que Peq seja previamente o valor que parifica a
remuneração média do contributo marginal do trabalho para a produção, com a
receita média gerada pela venda dessa produção adicional nos diversos setores
abrangidos (= parifica salários com receitas).
Na medida em que, nalguns dos setores em que o SMN é aplicável, a venda de
unidades adicionais de bens produzidos com um certo número de horas de trabalho
marginal proporcione uma receita superior ao valor dessas horas pagas pelo novo
SMN, a sua fixação ou atualização não implicará, neles, qualquer redução de
emprego (presente ou futuro): apenas alguma diminuição nos lucros das empresas
que não puderem repercutir essa subida de custos.
Porque, evidentemente, qualquer subida de custos de produção que possa ser
repercutida nos preços de venda, sem perda das receitas geradas pela venda das
unidades marginais, não implicará qualquer redução dos recursos necessários à
produção dessas unidades; ou seja, nos termos do diagrama infra, não implicará
uma redução da contratação de trabalhadores de Q1 para Q2.
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Ora a partir da década de 80 do século passado, há uma inversão da tendência para a diminuição
das desigualdades nas economias avançadas, período este marcado pela afirmação das políticas
neoliberais, destruiu a confiança nesta teoria proposta por Kuznets e levou a que muitos autores
alertassem para os custos que a desigualdade tinha, em termos de crescimento económico ou
até, em termos de sustentabilidade do capitalismo. Os mecanismos que foram apontados como
motivos da conversão da desigualdade nos efeitos de redução do crescimento ou ameaças ao
sistema são:
Ø Destruição do capital social – pois sociedades mais inigualitárias geram menos
confiança entre os agentes económicos e, consequentemente, o aumento dos custos de
transação;
Ø A crescente atração de políticas radicais de redistribuição – elas próprias dissuasoras
de maiores investimentos;
Ø Soluções populistas (anti-“sistema”) – tanto mais tentadoras quanto maior for a
deslegitimação do mercado, isto é, quanto menos confiança trespassar.
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rendimento e da riqueza. O autor referido, refere mesmo que é impossível pensar no bem-estar
nacional, um grande agregado, que é objeto de analise da macroeconomia, sem pensar na
desigualdade e riqueza, que acaba por ter um grande impacto e relevo, nesse mesmo agregado.
Para além disto, um conjunto de circunstâncias socias, políticas e académicas recolocou o tema
da desigualdade da distribuição do rendimento e da riqueza na ordem do dia. Vejamos:
Ø O desenvolvimento de híper-empresas, como a Apple, a Google, a Microsoft, a Amazon,
o Facebook, entre outras, deu visibilidade aos hiper-ricos e tornou ostensiva a escala
das desigualdades.
Ø A crise de 2007-2008, a par com os movimentos migratórios, onde se inserem muitos
portugueses, e as consequências de ambos nas economias dos países mais
desenvolvidos, onde as dificuldades dos seus trabalhadores aumentaram
consideravelmente, acentuaram ressentimentos sociais e deram espaço a uma nova
onda de movimentos populistas que alteraram a paisagem política em vários países
como os EUA, França, Brasil, Grã- Bretanha. Estes choques geraram movimentos de
defesa no discurso político, que tornaram a questão das desigualdades apelativa,
inclusive para instituições internacionais que, até então, se tinham mostrado
indiferentes relativamente à situação.
Ø A troca da modelização económica assente nos “agentes representativos” (que excluem
diferenças, por definição) pela heterogeneidade – o que implica lidar com elas;
Ø Os aumentos da desigualdade nas sociedades desenvolvidas a partir dos anos 80 do
século XX, que puseram em causa a interpretação até aí aceite sobre a ligação da
desigualdade às fases iniciais do desenvolvimento económico e a sua minoração em
fases adiantadas desse desenvolvimento (curva de Simon Kuznets) e deram uma
enorme visibilidade a trabalhos académicos sobre as matérias de desigualdades.
Ø É também curioso o facto de nas décadas de 90 do século XX, a curva de U invertido de
Kuznets, ter passado para o domínio ambiental para retratar o mesmo processo de
aumento da degradação ambiental em fases iniciais do desenvolvimento, que seria
minorada quando se atingisse um certo limiar de rendimento per capita. No entanto,
uma década depois, a proposta do economista russo, estava longe de alcançar a
consensualidade, pelo que é de notar a regressão das prioridades ambientais em alguns
países como os EUA e Brasil, pelo que a ideia de relação entre a evolução entre o
rendimento per capita e das versões ambientais deixou de ser convincente.
v Métodos de medição:
Tendo em conta tudo que foi dito até agora, rapidamente se percebe que a distribuição do
rendimento está ligada à forma como se reparte o produto de uma dada economia.
Como vimos, a distribuição do rendimento numa dada economia de mercado, faz se por via, e
na medida da participação no processo produtivo: quanto maior for o fornecimento de inputs
ao processo produtivo, ou quanto mais valiosos eles forem, maior será a remuneração a auferir.
No entanto, esta distribuição natural feita pelo mercado, não obedece a critérios de justeza e
equidade. Deste modo se um Estado pretender que exista uma maior equidade e justeza na
distribuição do rendimento, este terá de intervir, para colmatar esta falha do mercado de fatores
de produção. Assim, num primeiro momento existe uma distribuição inicial e primitiva feita pelo
mercado e, num momento posterior, iremos ter uma redistribuição desse rendimento e riqueza
que nos levara às políticas de redistribuição.
Todavia, antes de se poder recorrer às políticas de redistribuição teremos de averiguar o nível
de desigualdade numa dada economia.
A medição das desigualdades centra-se sobretudo na distribuição do rendimento e da riqueza,
muito embora se reconheça que um indicador mais adequado do bem-estar seria a medição da
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despesa (no pressuposto que as comodidades da vida são adquiridas, o consumo é mais
significativo que o rendimento).
Na medida em que o consumo dos estratos mais baixos fique acima do seu rendimento (como
fica, por causa de transferências públicas ou privadas, de auto-produção, ou de recurso ao
crédito) e o consumo dos estratos mais altos fique abaixo do seu rendimento (como fica, por
causa do aforro), a panorâmica dada pelos diversos indicadores de desigualdade difere.
Outra correção pode ser necessária se os universos comparáveis mudarem: uma sociedade pode
manter um padrão de desigualdade acentuado, e ainda assim melhorar significativamente a
posição dos seus membros: basta que haja um influxo permanente de novos emigrantes de
baixos rendimentos. Para alguns autores seria o caso da economia americana: atraindo
continuamente uma percentagem significativa de mão de obra não qualificada, o não acentuar
das desigualdades, implicaria que uma parte dos anteriormente integrados teria melhorado a
sua posição.
O mesmo se diga de alterações na pirâmide demográfica: sociedades envelhecidas, ou muito
jovens, têm mais gente a consumir e menos gente a auferir rendimentos da produção. Nessas
condições, o melhor indicador seria dado pela quantidade de pessoas que, num dado período,
transita de um escalão de rendimento ou de riqueza para outro, ou, num indicador de longo
prazo, pela percentagem da população que excede os rendimentos dos pais (em queda nos EUA:
92% dos nascidos em 1940, apenas 50% dos nascidos em 198459).
De entre os métodos de medição de desigualdades, importa destacar três:
i) A curva de Lorenz
Max Lorenz, um economista americano insatisfeito com as formas precedentes de ilustrar a
desigualdade na distribuição da riqueza (ou do rendimento), sugeriu a representação
cumulativa da população (no eixo vertical), fazendo-lhe corresponder os valores
acumulados de riqueza ou rendimento (no eixo horizontal), relacionando uns e outros numa
curva e medindo o nível de desigualdade pela sua distância da diagonal (linha da igualdade).
Quanto maior o afastamento da curva de cada país em relação à linha da igualdade, maior
o nível de desigualdade na distribuição do rendimento e da riqueza.
Neste caso, a situação com maior desigualdade é a do País 1, que está mais afastado da linha
da igualdade do que o País 2.
Nota: os eixos podem estar trocados (população no eixo horizontal e rendimento no exo
vertical), dessa forma as curvas dos países apareceriam abaixo da linha da igualdade e não
acima.
CRÍTICA: A crítica que podemos apontar a este modelo, é que este não apresenta valores de
desigualdade, pelo que haverá casos em que, tendo dois diagramas em que as curvas são
muito similares (nunca iguais, pois cada país ou região tem as suas particularidades), em que
será difícil auferir a olho nu, que país (ou área geográfica eu se tenha em consideração) é
mais inigualitária; Se essas curvas de Lorenz similares estivessem no mesmo diagrama,
podíamos ordenar os países por ordem de igualdade, uns comparativamente aos outros.
Note se que se existissem valores tudo seria mais fácil.
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As sociedades mais igualitárias do Mundo estão na Europa com coeficientes de Gini entre
os 0,2 e os 0,3- ou índices de Gini entre os 20 e os 30.
As sociedades mais desiguais estão na África Austral com coeficientes de Gini superiores a
0,6, em que temos referência a África do Sul, Bostsuana, Madagáscar e Namíbia) e na
América Latina com coeficientes superiores a 0,5.
Os restantes países apresentam ou regiões, apresentam coeficientes de Gini situados entre
os 0,3 e os 0,5- limite superior de igualdade e limite inferior de grande desigualdade,
respetivamente.
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Para Portugal, na mesma base 100, o índice de Gini da concentração da riqueza, em 2018, era
de 73,6.
Como notou W. Scheidel, a desigualdade é uma condição dos primatas, e as formas eficazes de
redução da desigualdade na distribuição do rendimento e da riqueza que a História da
Humanidade regista são as guerras de mobilização em massa, as revoluções, a falência do Estado
e as pandemias. “O que todos têm em comum é dependerem da violência para refazer a
distribuição de rendimentos e riqueza e transformar a ordem política e social”.
A destruição maciça de capital que está associada a umas e a outras – e que está também a ter
expressão com a disseminação mundial do COVID-19 –, e a redução dos efetivos populacionais,
sobretudo quando concentrada nas idades ativas, faz aumentar o valor relativo do trabalho e a
sua participação no rendimento nacional.
Isso não quer dizer que não haja outras formas, benignas, de corrigir as assimetrias geradas pelo
mercado: políticas de redistribuição.
Políticas de redistribuição:
Estando hoje assente que as políticas redistributivas conseguem, a nível nacional, encurtar a
distância entre os mais ricos e os mais pobres – aumentar o rendimento disponível dos que
menos recebem pela participação no mercado e diminuir o rendimento disponível dos que mais
recebem por tal participação –, a questão que se coloca é até onde deve ir essa transferência de
rendimentos (ou de riqueza) e quais os custos dessa transferência, sobretudo considerando que
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o Estado não parece muito eficaz na obtenção de qualquer desses dois objetivos (aumentar o
rendimento disponível dos mais pobres e diminuir o rendimento disponível dos mais ricos).
Para a redução das disparidades de rendimento mundial não há,́ porém, instrumentos idênticos:
a ajuda ao desenvolvimento e as preferências concedidas no acesso aos mercados dos países
desenvolvidos ficam muito aquém dos instrumentos de redução das desigualdades nacionais.
A verdadeira forma de reduzir as desigualdades mundiais é através dos diferenciais de
crescimento positivos das economias em desenvolvimento em relação às economias avançadas:
foi do crescimento da China que veio o maior impacto para essa redução (e será́ do seu
continuado ganho de crescimento relativo, se não for compensado pela ascensão de outras
economias atrasadas de grandes dimensões – como a Índia –, que virá um novo aumento das
desigualdades mundiais).
Considerando que esse resultado foi conseguido com a globalização, temos um dilema: o
aumento das desigualdades nos países avançados foi também conseguido pela participação de
economias atrasadas na economia mundial e, por essa via, a desigualdade global reduziu-se. B.
MILANOVIC refere o coeficiente de Gini mundial baixou de 72,2 em 1988 para 70,5 em 2008 e
para cerca de 67 em 2011 – “a primeira vez desde a Revolução Industrial que a desigualdade no
mundo deixou de aumentar.” Ou seja, a diminuição na desigualdade mundial causa o aumento
na desigualdade dos países avançados.
v Políticas orçamentais:
i) Políticas Fiscais
Artigo 104º CRP:
Ø Nº 1: “O imposto sobre o rendimento pessoal visa a diminuição das desigualdades e
será́ único e progressivo, tendo em conta as necessidades e os rendimentos do agregado
familiar.”
Se a tributação direta incidir de forma global sobre o rendimento, se for progressiva, se
isentar um mínimo de subsistência e se contemplar deduções para despesas básicas de
saúde e educação, tem enormes virtualidades na diminuição das desigualdades (e,
também, se não puder ser contornada).
Ø Nº 3: “A tributação do património deve contribuir para a igualdade entre os cidadãos.”
O mesmo que se disse para tributação direta aplica-se para a tributação de património.
Com a diferença de que: o património imobiliário com localização nacional é inamovível,
ao contrário da sede fiscal das empresas ou o registo de veículos terrestres, aéreos ou
marítimos; e que a tributação de bens pessoais (p.e. joias, obras de arte), mesmo que
de alto valor, é dificilmente exequível.
Desde a reforma fiscal de 2003, Portugal é um dos 15 países da OCDE onde não
há́ impostos sucessórios (impostos sobre a receção da herança, aplicáveis aos herdeiros não
legitimários, serão mais elevados consoante o valor dos bens herdados).
A redistribuição a longo prazo que poderiam proporcionar tornaria, porém, menos
necessário um sistema redistributivo de curto prazo, baseado em impostos progressivos e
transferências regressivas.
Impostos Progressivos – são proporcionais ao nível de rendimento do contribuinte.
Transferências Regressivas – são inversas ao nível de rendimento do contribuinte.
Ø Nº 4: “A tributação do consumo visa adaptar a estrutura do consumo à evolução das
necessidades do desenvolvimento económico e da justiça social, devendo onerar os
consumos de luxo.”
A tributação do consumo tende a ser regressiva (quem tem menores rendimentos gasta
uma maior percentagem do seu rendimento, pagando, portanto, proporcionalmente
mais impostos de consumo, mesmo que muito menos em termos absolutos), mesmo
que taxas mais baixas sobre um cabaz de bens essenciais e taxas mais elevadas sobre
bens de luxo possam, em medida limitada, minorar essa regressividade.
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Repararemos na Lei da Procura, que nos diz que se os preços sobem a procura diminui, se os
preços descerem a procura aumenta. Daqui decorre que se põe em marcha um mecanismo
auto-corretor, porque se os preços sobem e a procura diminui, então os agentes económicos
que estão do lado da produção também têm que fazer uma correção porque as quantidades
vendidas vão diminuir. Se os preços descem e a procura aumenta, então os agentes económicos
do lado da oferta vão introduzir uma correção porque tendo aumentado a procura eles terão a
possibilidade de subir os preços.
Portanto, os mecanismos do mercado servem para repor situações de equilíbrio entre a procura
e a oferta e cada vez que há um desfasamento, seja para mais ou para menos os mecanismos
de preço funcionam como indicadores para que esse equilíbrio seja reposto.
Aquele que foi o desenvolvimento da ciência económica a partir de Adam Smith foi centrado
naquilo que era a atuação individual dos agentes económicos dentro de um quadro, (que era o
mercado) que permitia que houvesse o efeito de retroação, o feedback que mantém os sistemas
Homeostáticos ou os sistemas cibernéticos em equilíbrio.
O desenvolvimento da economia foi essencialmente centrado na microeconomia. Havia até a
ideia de que a única forma de se obter um equilíbrio global da economia era através da obtenção
de equilíbrios parciais em cada um dos mercados que compunham essa economia. Desde que
nós tivéssemos um equilíbrio no mercado de X, um equilíbrio no mercado de Y e um equilíbrio
no mercado de Z, se a economia fosse formada por estes 3 mercados, então a economia no seu
todo estaria em equilíbrio. Portanto, a lógica microeconómica era uma lógica que fazia depender
o equilíbrio do todo do equilíbrio das partes. O equilíbrio das partes era obtido através da
remoção dos constrangimentos a que as leis de mercado funcionassem o mais eficientemente
possível.
Por isso, a ideia de que havia uma abordagem macroeconómica diferente da lógica
microeconómica era invisível, até inconcebível, o resultado económico global dependia
da obtenção de resultados económicos parcelares.
O que, de tempos a tempos se verificava era que os mercados deixavam de permitir a obtenção
de equilíbrios e havia, no funcionamento da economia períodos de desequilíbrio. Isso tornou-se
evidente com a Grande Depressão de 1929/33 (nos EUA durou até 39).
Houve uma deflação nos EUA, o índice de preços caiu 1/3, os preços caírem 33%. A produção
mesmo com preços corrigidos, com preços constantes, caiu 30% e o desemprego aumentou de
3% para 25%.
A economia no seu todo estava a demonstrar exuberantemente que os equilíbrios não eram
obtidos.
A lógica dos Economistas Clássicos era ver o problema da falta de produção como um
desequilíbrio no mercado entre a oferta de fundos e a procura de fundos para investimento e
por isso, pensavam que a solução dessa crise passaria por um aumento do aforro, porque se as
pessoas aforrassem mais, então a taxa de juro desceria e ao descer compensaria fazer
investimentos que o custo de investimento era mais baixo fazendo investimentos, então a
economia poderia reatar o seu progresso.
Esta visão era a que grande parte dos decisores de política económica da época tinham, era o
único quadro de referência que tinham e aquilo que eles recomendavam era que as pessoas
gastassem menos, presumindo que isso provocaria um aumento do aforro, geraria descida da
taxa de juro e isso incentivaria o investimento e até o consumo financiado a crédito.
Depois houve um autor, Keynes, que no contexto em que as receitas tradicionais eram estas
veio defender que se fizesse exatamente o oposto. Disse às pessoas, não para poupar, mas para
gastar.
Enquanto que as receitas dos economistas clássicos apontavam para o aforro, aquilo que é a
recomendação Keynesiana é que se aumentem as despesas.
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Keynes aparece como o fundador da macroeconomia porque não só vem propor um quadro
interpretativo completamente diferente daquele que era o quadro clássico e neoclássico como
também propõe uma terapêutica para as situações de crise que é exatamente o oposto daquilo
que era a recomendação dos clássicos.
Portanto, temos uma mudança de paradigma, uma situação em que nasce um novo quadro de
reflexão sobre a economia, a macroeconomia, e esse quadro de reflexão nasce no contexto da
Grande Depressão.
A macroeconomia pode dizer-se que surge para um problema que supostamente inexistiria no
quadro da teoria económica ortodoxa/convencional.
A lógica do Say é que não é possível comprar alguma coisa sem se ter participado no processo
produtivo produzindo uma outra coisa e, como o nº de coisas é o mesmo para quem compra e
para quem vende, então tudo o que é produzido vai ser necessariamente adquirido.
Isto supõe que as pessoas não querem moeda para nada, supõe que as pessoas só querem a
moeda que recebem em troca do seu esforço produtivo para adquirir bens e, se realmente nós
não quisermos a moeda para nada então, queremos livrar-nos da moeda o mais depressa
possível e como fazemos isso? Adquirindo bens.
Desta forma se nós produzirmos para receber moeda e se utilizarmos a moeda para adquirir os
bens, o circuito fecha-se e a oferta cria a sua própria procura. Se nós não lançarmos mais bens
no mercado não teremos dinheiro para adquirir bens que outros puseram no mercado, mas se
nós adquirirmos os bens que os outros puseram no mercado eles têm que adquirir os nossos
bens porque não há outros para eles comprarem.
Portanto, a lógica da lei de Say era a de que, desconsiderando a existência da moeda como uma
variável autónoma, partindo do princípio que a moeda é apenas um véu que serve para facilitar
as trocas, no fundo as pessoas estavam a realizar trocas diretas. Estavam a trocar aquilo que
produziram por aquilo que outros produziram.
Como aquilo que as pessoas produzem não se evapora, então a soma necessária dos bens que
estão disponíveis para aquisição é igual à soma dos bens que foram produzidos.
Quantos mais bens forem produzidos mais bens serão adquiridos.
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CRÍTICA DE KEYNES: Keynes percebeu que a moeda tinha uma função autónoma, Keynes
percebeu que desde que as pessoas queiram deter moeda então, haverá uma parte dos bens
que não vai poder ser adquirida, só seria adquirida se as pessoas gastassem exatamente o
mesmo que receberam no processo produtivo a produzir bens e serviços. Mas se as pessoas não
transformarem todo o seu esforço de produção de bens e serviços em compras, porque retêm
uma parte do seu potencial aquisitivo através da conservação de moeda (aforro), então uma
parte desses bens não vai ser vendido.
v o Mercantilismo (remissão)
Os mercantilistas queriam acumular ouro, queriam ter uma balança superavitária, ou seja, um
registo das suas trocas com o exterior que lhes fosse favorável, isto é, que fizessem mais
exportações que importações.
Se eles exportassem mais do que importassem, havia um diferencial que tinha de ser liquidado
com meios de pagamento aceites e os meios de pagamento aceites eram, sobretudo o ouro.
Então se nós tivermos uma balança superavitária quer dizer que estamos a vender mais ao
estrangeiro do que aquilo que compramos e o estrangeiro tem que comprar a diferença
entregando ouro.
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Keynes publica a sua grande obra em 1936, a Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda,
mas, antes disso, já tinha apresentado as suas ideias.
Em 1933, numa carta aberta ao Presidente Roosevelt diz que as receitas que estavam a ser
administradas às economias, no sentido de as pessoas pouparem, eram terapêuticas erradas.
Aquilo que devia estar a ser feito era exatamente o inverso e formulou, aquilo que ficou
conhecido como o Paradoxo da Poupança. Este paradoxo diz-nos que se todos pouparmos mais
a poupança global não aumenta, diminui. Justamente aquilo que era a recomendação dos
economistas da época e dos políticos que seguiam o único guia de referência que tinham para
tentar resolver o problema que tinham entre mãos, aquilo que eles estavam a fazer era agravar
o mal.
Por Keynes, se cada um de nós poupar mais, cada um de nós gasta menos. É certo que se esse
dinheiro que nós pouparmos for posto no sistema bancário e se as taxas de juro baixarem isso
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pode ser um incentivo para os empresários irem buscar mais dinheiro para fazerem mais
investimento.
Pensando na nossa poupança, nós poupámos mais, isto quer dizer que gastámos menos, então
se gastámos menos, houve menos bens e serviços que foram absorvidos no mercado e a
indicação direta aos produtores não é a que vem do caminho sinuoso que nos leva a pôr o
dinheiro no banco e depois o excesso de dinheiro no banco vai fazer com que baixem as taxas
de juro e isto vai aliciar os investidores a pegarem naquele dinheiro e fazer novos investimentos
para produzir mais. Esse caminho sinuoso não é percorrido justamente porque os empresários
não têm interesse nenhum em produzir mais, porque eles nem sequer estão a conseguir vender
o que já produzem pois toda a gente está a aforrar.
Isto é uma lógica diferente da lógica prévia, é uma abordagem revolucionária sobretudo nas
implicações daquilo que é, agora, algo que está ligado a este diagnóstico, que é uma política
económica. Faz sentido ter uma política económica para o conjunto da economia, que era algo
que na lógica clássica não fazia sentido. Aquilo que se queria era que não houvesse intervenção
nos mercados.
Isto era bom se os mercados permitissem obter situações de equilíbrio à escala da economia
global, mas se os mercados não permitem obter equilíbrios à escala global, então será que não
é possível fazer algo para melhorar a situação? Segundo Keynes é que claramente isso era
possível e fazia-se através de despesas do único agente económico que as pode fazer. Na sua
carta Keynes dizia que só há 3 maneiras de aumentar a produção:
1ª Se as pessoas gastarem mais do que recebem – As pessoas gastam uma parcela maior
do que o rendimento que têm, antes gastavam 8/10 do que recebiam, agora gastam
9/10 do que recebem. Se nós conseguirmos fazer com que as pessoas gastem uma
parcela maior daquilo que recebem, então isto vai estimular a produção.
2ª As pessoas terem mais dinheiro – Se as pessoas tiverem mais dinheiro podem gastar
mais, já não se trata de gastar só 8/10 do rendimento que têm, trata-se de terem um
rendimento maior. Em vez de terem 100, têm 200 e sendo assim podem gastar mais.
Elas podem ter mais rendimento se houver mais atividade produtiva.
Na crise de 29 e em 33, quando Keynes escreve a carta, a crise estava na sua fase mais
funda, mas Keynes vem dizer que as pessoas não conseguem aumentar a parcela de
gastos dos rendimentos que têm, em grande parte as pessoas já nem têm rendimento,
por isso, as pessoas não podiam gastar mais do que aquilo que têm. Uma das políticas
que foi posta em prática, talvez por influência de Keynes, foi a contratação de imensas
pessoas para fazerem obras públicas de forma a permitir que mais pessoas têm
rendimentos.
3ª Se as pessoas não aumentam a parcela de gastos dos rendimentos que têm, se não têm
mais rendimentos a única solução é haver um agente económico que faça despesas
compensadoras – É preciso que seja o estado a gastar dinheiro. Nos EUA o estado
gastou dinheiro, o monte Rushmore, é uma maneira de gastar dinheiro, aquilo foi feito
segundo um dos programas do New Deal, para que pessoas fossem pagas para fazer
aquilo. Tal como houve outros programas de obras públicas de construção de
autoestradas e de vias de barragens… Ou seja, o Estado começou a gastar o dinheiro
que as pessoas não tinham para gastar. Porque se não fosse o Estado a gastar o dinheiro,
a economia afundava-se.
O que está a acontecer agora no mundo é isto, o que se pode fazer para minimizar os problemas
económico é a injeção maciça de dinheiro por parte do Estado.
Antes de 2008, Keynes tinha sido mais ou menos marginalizado nos círculos de decisão
económica, havia a ideia de que gastar dinheiro, sobretudo da parte do Estado era uma coisa
terrível e aquilo que era bom era ter uma economia de mercado a funcionar de forma mais livre
possível para que a economia permitisse realizar os tais equilíbrios.
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Portanto, a partir da crise financeira de 2008 a política dele voltou, os Estados fizeram gastos
compensadores, para isso incorreram em dívida. Depois para os países que estavam em situação
mais débil houve o problema das dívidas soberanas e a partir daí também a receita purgatória
da austeridade.
Agora, estamos de regresso ao mesmo dilema. O que tem de ser feito é gastar dinheiro, mas se
não houver uma boa solução para o gasto de dinheiro, as coisas não serão agradáveis. Por isso
é que é tão importante que se estabeleça qual é a forma de reativar as economias com dinheiros
públicos. A única forma de reativar a economia é injetar dinheiro nela por parte do único agente
económico que não está condicionado. Os investidores não investem, porque não têm confiança
no mercado. O consumo, para além das pessoas que têm cortes nos rendimentos, há ainda o
problema das pessoas se preocuparem com o futuro e, por isso, travaram as aquisições a não
ser as dos bens indispensáveis.
Se nós temos uma crise simultaneamente de produção, de consumo, os agentes económicos da
economia autónoma paralisados, a única instância que pode intervir é o Estado à escala nacional
ou supranacional.
A revolução keynesiana:
v Importância autónoma da moeda
O primeiro contributo de Keynes foi ter integrado desconsiderações monetárias no plano da
economia real.
A análise da moeda fazia-se, antes de Keynes, como se fosse autónoma da análise real e aquilo
que Keynes percebeu foi que a moeda não era apenas um véu e que quando nós
sobrepúnhamos considerações monetárias às considerações referentes à economia real havia
interferências recíprocas. Não era só a questão de os preços dos bens oscilarem em função da
quantidade de moeda disponível, era também o funcionamento da própria economia real ser
afetado por variáveis monetárias.
Essa integração da economia monetária e da economia real é um dos contributos de Keynes.
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Mas há também variações no rendimento, que induzem uma certa divisão desse acréscimo de
rendimento em consumo e aforro. A essa variação do consumo e a essa variação do aforro
quando varia o rendimento chamamos, Propensão Marginal ao Consumo e Propensão Marginal
ao Aforro.
Exemplo: se olharmos para o rendimento de um país e dissermos que o rendimento daquela
economia num período foi 100 milhões, se nós concluirmos que houve 90 milhões em consumo,
numa economia fechada, então a propensão média ao consumo desta economia é de 9/10 e é
de 1/10 a propensão média ao aforro. Resta saber agora como é que se comporta a decisão de
afetar rendimento a aforro e consumo, quando esse rendimento varia: então e se houver mais
100 mil unidades de conta do rendimento como é que os agentes económicos vão reagir? Vão
afetar esse acréscimo de rendimento a consumo e a aforro na mesma proporção que faziam
antes? Se sim, as Propensões Marginais serão iguais às Propensões Médias.
Primeiro, Keynes pensou que havia razões fora do mercado para que as pessoas decidissem
consumir bens. As pessoas não decidem consumir bens por causa da variação de preços dos
bens no mercado, as pessoas não decidem aforrar mais ou menos por força da taxa de juro, elas
têm uma certa propensão ao consumo e na medida da diferença para a unidade dessa
propensão ao consumo, uma certa propensão ao aforro.
Podemos aferir isso em termos médios ou em termos marginais para acréscimos de rendimento.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
v Função consumo
Neste diagrama há uma linha a 45º que quer dizer que as leituras no eixo vertical são iguais às
leituras no eixo horizontal. Essa linha era a linha em que nós teríamos igualdade entre o
rendimento disponível e o consumo, seria a linha que nós teríamos se os agentes económicos
afetassem todo o rendimento a consumo. Mas os agentes económicos não afetam todo o seu
rendimento a consumo.
No gráfico a partir do ponto E, essa parte que não é afeta a consumo afasta-se cada vez mais da
linha de igualdade entre o rendimento e o consumo. Quanto mais rendimento nós vamos tendo,
menos necessidade temos de afetar plenamente esse rendimento a consumo.
À esquerda do ponto E, há uma parte da função consumo (C) que fica acima da linha de
igualdade entre rendimento e consumo porque mesmo que as pessoas não tenham rendimento
algum como acontece no ponto em que a diagonal de 45º toca na origem dos eixos, elas
precisam de ter consumo. Quando as pessoas têm 1 de rendimento não podem ter só 1 de
consumo. Enquanto estiverem com um rendimento abaixo do ponto E, em que todo o seu
rendimento é afeto a consumo, as pessoas gastam mais do que aquilo que recebem. Portanto,
o rendimento não chega para financiar o consumo, este tem que ser financiado por outras vias,
mas como? Pode ser financiado a crédito, por dádivas de alguém que tenha rendimento
excedentário ou até por desentesouramento ou então tem que vender alguma coisa que têm.
Neste diagrama há um ponto em que o rendimento iguala o consumo, o E, nesse ponto aquilo
que é o conjunto das despesas incomprimíveis das pessoas mais aquela sua parcela que elas
afetam a consumo, somam a totalidade do rendimento. Ex: se as pessoas com 1000 afetam 8/10
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
a consumo e 200 a aforro, se nós pensarmos que estes 1000 correspondiam antes a uma
situação em que as pessoas gastavam 8/10 a consumo, mas tinham também despesas de
sobrevivência incomprimíveis de 200, então nesse ponto as pessoas gastariam 200 que são as
despesas de consumo incomprimíveis e mais 8/10 daquilo que tinham de rendimento. Estes
8/10 mais as despesas necessárias em que tinham que incorrer levariam a que não houvesse
aforro nenhum nesse ponto.
v Condição de equilíbrio: Aforro = Investimento
A primeira ideia do Keynes foi: a dimensão deste aforro depende unicamente da dimensão do
rendimento.
Posteriormente a Keynes houve outras sugestões quanto à motivação dos agentes económicos
na repartição do seu rendimento entre consumo e aforro. Há essencialmente duas explicações
alternativas a esta ideia de que o aforro cresce à medida que cresce o rendimento:
1. A teoria do ciclo de vida: Parte do princípio de que as pessoas gerem as suas decisões
quanto a aforro e quanto a consumo numa perspetiva de longo prazo, ou seja, as
pessoas tenderiam a ter padrões de consumo e aforro diferentes ao longo das
diferentes fases da sua vida.
No início da sua vida ativa, as pessoas tenderiam a gastar mais do que ganham.
Depois, na fase em que as pessoas atingem estabilidade e maturidade económica, o
rendimento das pessoas seria distribuído entre consumo e aforro de forma diferente de
modo, não apenas a pagar as dívidas do passado, mas também para constituir uma
reserva para a fase final da vida.
Nesta fase final da vida, em que as pessoas saem da vida ativa os seus rendimentos
diminuem, mas ainda assim podem consumir com base nas poupanças que constituíram
na fase intermédia do seu percurso.
2. A tese do rendimento permanente: Parte do princípio de que os agentes económicos
tratam as suas variações de rendimento de forma diferente, consoante interiorizem que
essas variações de rendimento são permanentes ou são transitórias. Exemplo: se
houver, num determinado momento um ganho anormal de rendimento, esse ganho não
altera o padrão de consumo e de aforro que as pessoas têm, porque elas partem do
princípio que esse encaixe não é renovável e não sendo renovável eles não entram em
linha de conta com esse encaixe para alterar os seus padrões de despesa.
Por outro lado, se as pessoas forem promovidas, mesmo que o eu rendimento tenha
subido apenas no 1º mês, as pessoas ajustam de imediato o seu padrão de despesas em
função daquilo que contem que seja a reiteração desse rendimento daí para o futuro.
Saltam de patamares de despesa em consumo e de aforro para um patamar diferente
mesmo que não tenham tido, num determinado momento, uma variação de
rendimento muito significativa, mas como estão a antever que a sua situação mudou
ajustam essas suas decisões em função daquilo que estão à espera de ser o seu padrão
de ganhos daí para a frente.
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v O Multiplicador
O multiplicador Keynesiano não foi inventado por Keynes, embora este tenha ajudado e tenha
sido ele a dar a designação. Tem esta designação porque está muito ligado à análise Keynesiana.
Pode estar associado a despesa pública ou a investimento. Porque é que, quer a despesa pública,
quer o investimento se multiplicam e as despesas de consumo não se multiplicam? Porque
quando se faz uma despesa de consumo lança-se dinheiro no mercado e tira-se dele um valor
equivalente (tirar e pôr). Quando se trata de despesas de investimento, o dinheiro que se gasta
a comprar uma máquina só vai ser recuperado ao longo de vários anos porque há os tais
períodos de amortização e a máquina não vai ser paga com a produção que é gerada nos
primeiros anos. Isto quer dizer que se gastou um determinado montante a produzir um
determinado bem de investimento e se o valor deste investimento era 1000 distribuíram-se
salários, rendas e lucros no valor de 1000, mas tiraram-se 1000 do mercado? Não. A única coisa
que se tirou do mercado foi o valor da quota de amortização, que se for um valor ao longo de
10 anos é de 100 anos em cada ano. Portanto, verdadeiramente lançaram-se no mercado 1000
e retiraram-se do mercado, através do aumento do custo dos bens para amortizar em cada
unidade desses bens uma parte do investimento que foi feito, de modo que ao fim de 10 anos
o investimento tenha sido completamente recuperado, aquilo que se retirou do mercado, em
acréscimo de preço dos produtos para amortizar os 10% do investimento que foi feito nesse 1º
ano, foi apenas 100.
Supondo que a propensão marginal ao consumo continua a ser de 9/10, então, desses 900 que
foram distribuídos na produção de bens adicionais de consumo para satisfazer a procura
acrescida decorrente do acréscimo inicial de investimento, será necessário haver uma produção
de 810 unidades de conta de bens. Porque 9/10 de 900 é 810.
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Quando for produzida uma quantidade de bens no valor de 810, distribuindo-se em salários,
rendas, juros e lucros pelos participantes nessa produção adicional, então os titulares desses
rendimentos de 810 vão gastar 729 unidade de conta de rendimento em consumo e vão aforrar
81 unidades de conta (810-729=81).
A lógica é, se eu tenho uma situação de equilíbrio em que os gastos se renovam de período para
período e num determinado momento há uma injeção adicional de liquidez, essa injeção vem
de investimento ou de gastos do estado financiados com criação de moeda ou com crédito. Por
isso, se se lança alguma coisa na economia, se há um acréscimo de procura líquida, então a
economia responde aumentando a produção. Se aumenta a produção, aumenta a distribuição
de salários, rendas, juros e lucros e com isto as pessoas vão tomar outra vez a sua decisão de
acordo com a sua propensão marginal ao consumo e ao aforro.
Em qualquer dos casos nós podemos saber qual é o montante global do impacto, quer no
rendimento, quer no aforro, quer no consumo. Temos que apurar o valor do multiplicador, que
é o inverso da propensão marginal ao aforro.
O valor do aforro é aquela parcela que retira do sistema o efeito multiplicador. O que se
multiplica em cada volta deste processo cumulativo é o montante que retorna à economia,
aquilo que é afeto a consumo.
Aquilo que é afeto a aforro sai em cada momento e esse dinheiro que sai é um dinheiro que não
volta a estimular a economia, é dinheiro que não serve para dar novas instruções à produção, é
retirado do circuito.
Nós sabemos que quanto maior for a propensão marginal ao aforro, menor será o efeito do
multiplicador, então o multiplicador é determinado pelo inverso da propensão marginal ao
aforro.
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O essencial é: o multiplicador é nos dado pelo inverso da propensão marginal ao aforro, porque
é da dimensão da propensão marginal ao aforro que depende a fuga ao efeito multiplicador. Por
isso, se a propensão marginal ao aforro for maior, aquilo que é o resultado do efeito cumulativo
da atuação do mecanismo multiplicador há de ser mais baixo.
Temos também o exemplo feito com uma propensão marginal ao consumo de 2/3 e uma
propensão marginal ao aforro, que é a diferença para a unidade. Se a propensão marginal ao
consumo é de 2/3 sabemos logo que a propensão marginal ao aforro é de 1/3, é a diferença
para a unidade. Então o multiplicador é 3/1, ou seja, o multiplicador é 3
Se tivéssemos uma propensão marginal ao aforro de 1/4 bastava pensar que a unidade são 4/4.
Se pusermos 4/4 sobre ¼ e se suprimirmos os 4 que aparecem em denominador ficamos de
imediato com o valor do coeficiente do multiplicador, 4/1.
Foi um gasto inicial de 1000 que veio permitir que esta sociedade poupasse mais 1000 ao longo
das voltas sucessivas de aforro induzidas por estas produções e consumos sucessivos.
Desde que não haja situações de bloqueios na produção, o efeito multiplicador não para.
Estamos novamente a considerar a condição ceteris paribus, estamos a pensar que desde que
não haja restrições ao funcionamento do mecanismo multiplicador, uma injeção de liquidez de
1000 dá origem a um valor de rendimento acrescido que é igual a esse montante inicial de
variação no acréscimo de procura x o coeficiente do multiplicador.
Se a propensão marginal ao consumo for de 1/10 o coeficiente do multiplicador é 10. Se a
propensão marginal ao aforro for de 1/3, o multiplicador é de 3.
Neste último caso, o acréscimo de rendimento induzido por esta injeção líquida será de 3000.
1000 serão aforro adicional induzido ao longo de todos os períodos de atuação do multiplicador.
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Este conjunto de características opostas entre as lentes clássicas e Keynesianas poderiam ter
criado algumas dificuldades de compatibilização. Não foi o caso, porque a macroeconomia
acabou por se tornar um capítulo diferente da microeconomia.
Dentro da macroeconomia, durante muito tempo as receitas Keynesianas foram aceites com
um grande unamismo.
Em qualquer dos casos, até 1973 as prescrições Keynesianas funcionaram lindamente para
aplanar o círculo. Aquilo que os economistas aconselhavam os decisores políticos em matéria
económica era que evitassem que a economia passasse por círculos de expansão muito
acentuada, aos quais se seguiam situações de reversão dessa expansão e quedas no
funcionamento da economia. Para evitar estas oscilações havia um conjunto de políticas que
eram de bases Keynesiana que tinham efeitos opostos.
A curva de Phillips, que foi desenvolvida dentro da lógica Keynesiana, parecia mostrar que havia
uma relação inversa entre a inflação e o desemprego (mais desemprego, menos salários, menos
inflação; menos desemprego/mais emprego, menos salários, mais inflação). E, portanto,
percebia-se que com as políticas que eram adotadas na fase recessiva do círculo se conseguia
aumentar o emprego, mas percebia-se também que isso tinha um custo em termos de subida
de inflação.
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Por outro lado, se nós quiséssemos travar depois a subida de preços e se já estivéssemos na fase
em que a economia começa a retoma e até está em fase de expansão e porque está em
expansão está a gerar tensões inflacionistas, a economia está a crescer mas mesmo assim não
consegue acompanhar a subida dos preços porque a pressão da procura é elevada, então pode
ser necessário que se tornem medidas para travar esse aumento de preços. Que medidas são
essas? Exatamente as opostas àquelas que foram tomadas à fase recessiva do ciclo. Ou seja,
temos que diminuir despesas públicas, temos que subir os impostos e temos que subir as taxas
de juro. Ao subir estas últimas travamos o consumo a crédito e o investimento, se diminuirmos
as despesas públicas diminuímos a injeção de dinheiro na economia, se subirmos os impostos
tiramos dinheiro da economia. Isto faz com que os preços desçam (menos inflação/deflação).
A contrapartida disso é que descendo os preços a atividade económica tende a diminuir e assim
diminui a contratação de trabalhadores (mais desemprego).
Então, desde o fim da 2ª Guerra até ao choque petrolífero de 1973, os decisores de política
económica pensavam que sabiam o que tinham que fazer e as receitas eram claras.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
A partir de 1973, com o 1º choque petrolífero, e depois com o 2º de 1979, o preço do barril do
petróleo passou de 3 dólares para 40 dólares e, portanto, é uma multiplicação brutal de preços
daquilo que é a fonte energético fundamental do funcionamento da economia dessa época.
Desequilíbrios brutais também nas balanças de pagamentos, os países viram multiplicado a sua
fatura energética por mais de 10.
Obviamente se tentou adotar medidas para reduzir o consumo energético, mas as economias
estavam muito dependentes do petróleo. Não havia quase nenhumas alternativas.
Levou isso a que as receitas Keynesianas tivessem deixado de funcionar. Passamos a ter
situações em que se tentavam pôr em prática políticas quer expansionistas para estimular o
desenvolvimento da economia interna e, portanto, se se aumentavam as despesas públicas, se
subiam as taxas de juro e se reduziam os impostos e mesmo assim a economia não crescia, esta
ficava estagnada.
Em contrapartida a inflação subia. Este fenómeno da estagflação, isto é, inflação combinada
com estagnação económica marcou os anos 70 e inícios dos 80.
A Contra-Revolução Monetarista
No princípio dos anos 80 há duas vitórias políticas decisivas para a evolução da política
económica mundial. A eleição de Margaret Thatcher em 1979 no reino Unido e de Ronald
Regeen em 1980 nos EUA.
Ambos aconselhados por economistas da escola de Chicago e, são as receitas monetaristas que
vão permitir que as dificuldades que os poderes políticos tinham tido para controlar a inflação
tivessem sido bem-sucedidas.
Entre 1980 e 1983 a inflação no Reino Unido caiu de 18% para 3,8%. Houve uma redução brutal
da inflação em 3 anos, mas isto foi conseguido com o preço, ou seja, o desemprego no Reino
Unido aumentou de 5.3% em 1979 para 11.5% em 1983. (- inflação, + desemprego)
Nos EUA a redução da inflação foi de 13.5% em 80 para 3.21% em 83. Mas também à custa do
desemprego que, nos EUA passou de 5.7% para 10.1%. (- inflação, + desemprego)
A 1ª preocupação destes governos que depois foram ditos neoliberais passou a ser manter a
inflação controlada, ter os preços a subirem pouco, na casa dos 2 a 3%.
Se é certo que alguma inflação estimula a economia, em demasia faz com que os investimentos
especulativos sejam mais atrativos que os investimentos produtivos.
Com uma inflação alta aquilo que as pessoas preferem é comprar ouro. Com uma a inflação alta
não há confiança para os agentes económicos investirem a produção de bens. Aquilo que eles
fazem é tentar pôr as suas reservas em portos seguros, que muitas vezes podem ser no
estrangeiro.
Dentro desta lógica monetarista, as políticas Keynesianas foram postas de lado, e aquilo que se
tornou, a partir de então, o eixo essencial da política económica é a manutenção da estabilidade
dos preços. Ao ponto de a missão dos bancos centrais ter sido redefinida de forma a que na
maior parte dos casos estes deixaram de ter qualquer outro objetivo que não a garantia da
estabilidade dos preços.
Depois chegamos à crise financeira de 2008, com o afundar dos mercados secundários
organizados à volta dos títulos de dívida hipotecária nos EUA, porque o empréstimo hipotecário
é geralmente considerado seguro porque se as pessoas não pagarem, quem empresta fica com
o bem que as pessoas estão a financiar-se para adquirir. Se elas deixam de pagar o empréstimo
ficam sem o bem, o banco fica com o bem e por isso não terá ficado a perder. Sobretudo se nós
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estivermos numa fase em que o imobiliário vai-se valorizando progressivamente porque assim
vão ficar com uma coisa que foi comprada barata e eles agora vão poder vender mais caro.
A partir de certa altura, em vez de se trocarem empréstimos hipotecários garantidos pelos
próprios bens, começou a fazer-se a criação dos diferentes empréstimos.
A lógica é: se eu fizer um empréstimo para alguém comprar uma casa, há uma possibilidade de
essa pessoa falhar os pagamentos mas, se eu agrupar 10000 créditos hipotecários e utilizar esses
créditos como garantia/colateral para obter financiamento para depois fazer outro
investimento qualquer, quem está a entregar dinheiro ao banco recebendo em troca uma
garantia que, é constituída por aquela carteira de empréstimos hipotecários que tem 10000
empréstimos hipotecários, dir-se-ia que não arrisca quase nada. Porque em 10000 créditos
hipotecários poucos vão incumprir, apenas 5% ou 6%.
O risco de um empréstimo é o risco daquela pessoa concreta deixar de o pagar. O risco dos
10000 créditos é o risco dos seguros. As empresas seguradoras funcionam agregando riscos.
Por exemplo: Se as pessoas fazem um seguro de vida e têm um acidente fatal a seguradora tem
que pagar. Mas se a seguradora em vez de fazer seguro com uma pessoa, fizer com 100000
pessoas, o número de acidentes que ela vai ter que pagar é muito reduzido na carteira global,
elas não vão ter todas acidentes fatais.
Esta criação dos títulos de créditos hipotecários deu origem a pacotes que eram supostos ser
prime, mas que afinal começaram a ter empréstimos lá envolvidos que eram cada vez menos
prime, eram os sub-prime. Estes eram os empréstimos que eram designados como NINJA (No
Income, No Jobs, no Assets), eram empréstimos que estavam a ser atribuídos às pessoas que
não tinham rendimento, não tinham emprego e não tinham ativos que pudessem dar como
garantia.
Porque é que os bancos estavam a dar dinheiro a estas pessoas? Porque elas usam o dinheiro
para comprar um imóvel. Os bancos diziam-lhes que durante os primeiros 3 anos tinham que
pagar uma prestação baixa. Ao fim destes 3 anos começam a pagar alguns juros e ao fim de 5
anos pagam juros e começa a amortização do capital e as pessoas conseguiam ter acesso a
dinheiro para adquirirem imóveis em termos que eram compatíveis com o pouco dinheiro que
elas tinham.
Os bancos faziam isto porque já estavam a contar que elas deixassem de pagar o empréstimo
no momento que aqueles benefícios de entrada deixassem de lhes aproveitar/de ser benéficos.
Mas nessa altura não havia problema porque como o mercado imobiliário tinha subido, naquela
altura os bancos iam ficar com os imóveis que as pessoas tinham adquirido e iam vendê-los no
mercado a um preço muito superior ao que tinha sido o preço de aquisição por parte dos
interessados.
Então, enquanto o mercado imobiliário estava em subida constante, emprestar dinheiro a
pessoas que só tinham hipótese de pagar o empréstimo uns anos à frente, não tinha mal
nenhum.
Até que, mais uma vez o fenómeno da composição, o que funciona para uns não funciona para
todos. Se uma grande parte das instituições de crédito norte-americanas não tivessem feito
exatamente a mesma coisa, se tivesse sido só um ou outro banco as coisas não teriam provocado
a queda no mercado imobiliário. O problema é que era muita gente a fazer o mesmo.
Por isso houve um momento em que as instituições de crédito ficaram de repente, com um
património imobiliário enorme que precisavam de colocar no mercado.
Quando se preparam para colocar no mercado o imobiliário caiu a pique.
Portanto as carteiras de crédito constituídas por empréstimo sub prime passaram a valer de
repente quase nada e alguns bancos faliram, outros foram adquiridos por outros colossos
financeiros, que tinham meios suficientes para fazer face a essas imparidades e que compraram
esses bancos.
Mesmo assim foi necessária uma grande injeção de fundos públicos nos EUA.
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Ou seja, aquela ideia de que o Estado não se deve imiscuir no funcionamento da atividade
económica, de que a sua intervenção só causa problemas teve que ser posta de lado e em 2009
e 2010 houve intervenções quer no sistema económico norte-americano quer depois no sistema
bancário europeu. Os nossos bancos, o BNP, o BES, acabaram por ser levados à ruína.
Se não houver maneira de quebrar esta espiral recessiva, de voltar a pôr os animal spirits dos
agentes económicos em altas, aquilo que se aproxima são tempos negros do ponto de vista
económico.
Quem é que aqui está em condições de poder corrigir este funcionamento do mercado que
tenderá a agravar os problemas económicos? Só os Bancos Centrais e os Estados.
Voltamos outra vez à lógica Keynesiana, hoje já ninguém coloca em causa que a forma de sair
do buraco é recorrendo às políticas Keynesianas.
As mesmas que até 2006/7, nos círculos dos bancos centrais e dos governos e das universidades
se pensavam que já tinham sido ultrapassadas e que não iriam regressar mais.
Nesta altura todos estão a fazer figas para que as políticas Keynesianas funcionem.
O circuito económico
O circuito económico é um contributo dos fisiocratas à economia.
Os fisiocratas caracterizavam-se por defender a agricultura como a única atividade económica.
A agricultura gerava crescimento orgânico, assim como a pecuária e a silvicultura, originando
mais produtos do que havia inicialmente.
Esse posicionamento facilitou a construção do pensamento deles da economia funcionando
como um ciclo. Que ciclo era este? Havendo a possibilidade de se fixar apenas aquilo que era a
produção agrícola ou silvícola era possível identificar 3 classes:
1. Os proprietários da terra – a nobreza, a igreja, um conjunto de agentes económicos que
não participa na produção, apenas disponibilizavam a terra;
2. A classe estéril – artesãos, médicos, industriais, advogados, padres, que não
contribuíam para a atividade produtiva, há desperdício na produção deles. Uma classe
que, embora ligada a atividades, fazia-o, não aumentando a quantidade dos bens
disponíveis à partida e, por isso, podiam se considerar uma classe única e inútil;
3. Trabalhadores da terra – trabalhadores agrícolas, pessoas que arrendavam terras aos
proprietários para as explorarem, ou seja, os empresários agrícolas.
A fixação dos fisiocratas na ideia de que só o trabalho agrícola cria valor, simplifica imensamente
a criação de um quadro de relação entre os sujeitos membros da economia.
Quesnay era médico e sendo médico tinha a noção de que a ideia de circulação do sangue era
uma inovação essencial da ciência médica.
Até 1628, o ano da publicação do livro de William Harvey sobre a circulação sanguínea
(considerada uma das grandes descobertas da medicina), os médicos acreditavam que o sangue
era continuamente produzido no fígado, a partir dos alimentos digeridos, e a partir daí circulava
pelas veias para alimentar os pulmões ou os tecidos, que o absorviam; e que parte desse sangue
passava para o ventrículo esquerdo do coração, onde se misturava com a “pneuma”, uma
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
substância espiritual, que era captada pelos pulmões e que era depois distribuída pelas artérias
por todo o corpo. Em qualquer dos casos, a convicção era a de que o sangue tinha no fígado a
sua nascente e era distribuído centrifugamente por um sistema de canais (veias e artérias) para
os órgãos e tecidos que o absorviam, tornando necessária a renovação contínua da sua
produção. Acreditava-se que o sangue funcionava como a “gasolina” dos seres vivos, sendo o
sangue o que fazia com que o “motor” funcionasse.
A circulação dos bens e dos rendimentos no corpo social foi introduzida na Economia por
François Quesnay, um dos Fisiocratas – e, não por acaso, médico. No seu Tableau Économique
(Quadro produtivo), de 1759, Quesnay identificou três agregados:
1. A classe “produtiva” – Os rendeiros e os trabalhadores agrícolas. Desta forma, sendo a
terra o gerador de produção, o sustendo das atividades agrícola, silvícola, ou pecuárias,
é o recurso fundamental da produção e único relevante para a lógica fisiocrata.
2. A classe “rentista” – Nobreza, clero, que eram agentes económicos que participavam
na produção apenas através da disponibilização do fator produtivo, rendeiros da terra.
3. A classe “estéril” – As pessoas da classe média que estavam ligadas aos seguintes
setores: artesanato, pequena indústria, prestação de serviços, médicos, juízes, padres,
etc., de algum modo produziam certos bens, mas com perda pois aquilo que é a matéria-
prima inicial não está, na sua totalidade, incorporada no produto final, ou seja, há
desperdícios
Exemplo: Um sapateiro usa um pedaço de couro para fazer uma sola de um sapato, esse pedaço
de couro não vai ser usado na totalidade, uma parte dela não vai estar incorporada no produto
final, logo há desperdício.
No fundo, a classe estéril, muito embora tivesse atividades que produzissem bens, não
aumentavam a quantidade de bens disponíveis, sendo por isso esta classe considerada “estéril”.
Na medida em que a classe rentista retivesse parte do rendimento que lhe era entregue por
quem explorava as suas terras, haveria um défice na procura de bens agrícolas ou de bens
fabricados, mas, de outro modo, a economia faria circular entre as três classes os resultados da
produção, compensando com o aumento do consumo de uns (por exemplo, da classe estéril) a
redução do consumo de outros (por exemplo, os rentistas). Esta ideia de fluxos recorrentes
inspirou a criação de sistemas de registos que permitissem descrever, e medir, o ritmo – ou a
temperatura – da atividade económica.
Temos de esperar muito tempo para que a ideia da circulação que é o resultado da atividade
económica seja formalizado. Isto acontece pós 2ª Guerra Mundial através de estudos que criam
convenções para medir a temperatura da atividade económica.
v Uma versão estilizada dos sectores da Contabilidade Nacional: Famílias, Empresas, Estado,
Exterior, Capital.
John Keynes dá conta da importância do setor público e participação do estado na atividade
económica nacional. A lógica da moderna Contabilidade Nacional é uma decorrência da
perceção da relação entre agregados funcionais.
A primeira norma contabilística emanada das Nações Unidas (o System of National Accounts),
de 1953, referia a Contabilidade Nacional como uma forma de medir “o que ocorre na economia,
entre que agentes, e para que fim”. A OCDE definiu-a como uma técnica de apresentação do
conjunto de uma economia de uma forma quantificada.
Para facilitar a compreensão da linearidade das relações que se estabelecem, os agregados
tornam-se uni-funcionais:
• Famílias- supostamente só fornecem fatores de produção (sendo o salário o
pagamento) e poupam (aforro) ou realizam despesas de consumo (receita das
empresas).
Neste modelo ideal, cada agregado é um centro de imputação uni-funcional (as Famílias
não são Empresas, não fazem o que as Empresas fazem – produzir bens e serviços), e
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
não há relações internas entre cada agregado – as Famílias não compram fatores (terra,
trabalho) a outras Famílias.
As famílias não interessam na medida em que fornecem fatores de produção a outras
famílias (por exemplo: uma família tem uma empregada doméstica, estão a fornecer
fator de produção a outra família- no entanto isto não importa no ponto de vista dos
agregados puros, são abstrações, quando as Famílias compram fatores, e pagam salários
ou rendas, são, portanto, Empresas).
As convenções dos sistemas de Contabilidade Nacional podem, porém, dar relevo a
algumas operações internas, como o autoconsumo das Famílias, ou das Administrações
Públicas.
• Empresas- supostamente só produzem bens e serviços, comprar os fatores de produção
às famílias e realizam despesas de investimento (onde têm de recorrer a um outro
agregado, o capital).
Neste modelo ideal, cada agregado é um centro de imputação uni-funcional, não há
relações internas entre cada agregado – as Empresas não compram bens e serviços a
outras Empresas (estas relações podem existir, no entanto, não são importantes no
ponto de vista dos agregados puros).
As convenções dos sistemas de Contabilidade Nacional podem, porém, dar relevo a
algumas operações internas, como o autoconsumo das Famílias, ou das Administrações
Públicas.
• Capital – supostamente é um agregado que serve para concentrar dois fluxos: o aforro
das famílias, capital utilizado para financiar o investimento das empresas, ou seja, é um
agregado cíclico de onde entra o aforro das famílias e sai o capital disponibilizado às
empresas para estas fazerem investimentos.
• Estado- supostamente só cobra impostos às Famílias e às Empresas (receitas do Estado)
e fazem gastos públicos. Há desta forma um fluxo de entradas e um fluxo de saídas.
• Exterior- supostamente só compra às Empresas (exportações) e vende às Famílias e às
Empresas (importações de bens de consumo às famílias e bens de
investimento/produção/produtos intermédios às empresas). Se fosse uma economia
fechada não seria preciso este último agregado. Quando há relações entre duas ou mais
economias temos de considerar este setor adicional.
Trata-se, em todos os casos, de convenções: é fundamental medir a Produção, o Consumo e o
Investimento e, portanto, faz sentido criar um centro de imputação para cada: daí as Empresas,
as Famílias e o Capital; não se pode ignorar a intervenção do Estado na economia (a inclusão das
suas despesas como consumo final ou investimento – e não como consumos intermédios- foi
um contributo de Keynes) ; e é importante registar as relações de uma economia com as demais,
e portanto faz sentido considerar um centro de imputação dessas relações (o Exterior). Cada um
desses agregados – ou sectores – é idealizado em função de algo que se quer medir, e tem pouco
a ver com o que se entende, fora das convenções da Contabilidade Nacional, por Estado, ou
Famílias, ou Empresas.
A alteração de uma convenção faz como que ganhe ou se perca atividade económica – Exemplo
do PIB americano 2013 e PIB grego 2006:
• Referência ao ganho instantâneo de 2,5% do PIB norte-americano (400 mil milhões de
dólares), em 2013, resultante da mera decisão de reclassificar as despesas de
Investigação e Desenvolvimento incorridas internamente pelas empresas como
Investimento (em vez de como custos de produção).
• Referência também à revalorização em 25% do PIB grego, em 2006, obtida pela inclusão
do cálculo do tamanho da “economia informal”. Note-se que esse era realmente o valor
estimado para a economia informal grega (algo mais ou algo menos do que para a
portuguesa, consoante a fonte – e a data).
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Assim, os pagamentos (fluxo monetário) das Empresas, do Estado e do Capital às Famílias podem
identificar-se com o RENDIMENTO.
Como se viu, porém, as relações entre os agregados funcionais considerados são mais
diversificadas:
• Das Empresas para as Famílias há um fluxo real (a cedência dos bens e serviços
produzidos), compensado por um contra fluxo monetário das Famílias para as Empresas
(despesas de consumo);
• Das Empresas para o Capital há um fluxo monetário (despesas de investimento) que
remunera o aforro que lhes é disponibilizado pelo Capital;
• Do Estado para as Empresas há um contra fluxo monetário (gastos públicos – em bens
de consumo e investimento), compensador de um fluxo real (a cedência dos bens e
serviços produzidos);
• Do Exterior para as Empresas há um contra fluxo monetário (pagamento dos bens de
consumo e investimento exportados ou dos serviços prestados ao Exterior),
compensador de um fluxo real (a cedência pelas Empresas desses bens e serviços). Mas
também há contra fluxos monetários das Empresas e das Famílias para o Exterior
(pagamento dos bens de consumo e investimento importados ou dos serviços prestados
pelo Exterior às Famílias e às Empresas), compensador de um fluxo real (a cedência pelo
Exterior desses bens e serviços).
Assim, as despesas de consumo das Famílias somadas às despesas de investimento das
Empresas, aos gastos do Estado e às compras ao Exterior podem identificar-se com a DESPESA.
Os bens e serviços entregues pelas Empresas às Famílias, ao Estado e ao Exterior podem
identificar-se com a PRODUÇÃO.
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O valor da produção = ao valor do rendimento distribuído. Daí que do lado direito também exista
essa igualdade.
O arco inferior desse diagrama vemos o consumo: as despesas de consumo são as despesas que
as Famílias fazem, adquirindo às Empresas aquilo que estas têm para oferecer; ou seja, só as
Empresas é que têm bens e serviços para oferecer (estamos a considerar agregados funcionais
que nos servem para ilustrar as relações essenciais dentro da economia e por isso não nos
importam as relações que as empresas estabelecem com as famílias, ou com as outras
empresas, mas partimos do princípio que as empresas servem para produzir bens e serviços que
as famílias adquirem esses bens e serviços às empresas) --- temos aqui um fluxo que está
representado no arco inferior deste diagrama, que é o da despesa (ou seja, o consumo + as
exportações líquidas. Exportações líquidas no sentido em que se soma à despesa aquilo que é o
rendimento proveniente de compras feitas pelo exterior e por outro lado, aquilo que é
exportado sai do perímetro daquilo que pode ser adquirido internamente. portanto, a despesa
é de facto despesa, mas é realizada com rendimento do estrangeiro - tem que se fazer a
divergência daquilo que é despesa desta economia no estrangeiro (importações), e daquilo que
é a despesa das outras economias nesta economia (exportações). - O que interessa é o saldo
líquido que se apura das exportações e importações).
• Os fluxos que se estabelecem entre o Governo e as Empresas tem a ver com o
pagamento das empresas ao Governo, através dos impostos. Mas por outro lado, o
governo também faz aquisição às empresas.
• O governo também faz transferências, pagamentos às Famílias - daí estar representado
o fluxo do Governo para as Empresas.
• As Famílias aforram, e esse aforro é canalizado para as Instituições Financeiras, a troco
de um pagamento; pagamento esse que constitui os juros e depois, as Empresas vão
buscar às Instituições Financeiras esses montantes que foram aforrados pelas Famílias,
para realizarem investimento (para isso têm que pagar os juros das operações ativas,
que são necessárias para obter utilizar esses aforros das famílias em investimento).
• Relações com o Resto do Mundo: as Famílias quando compram, compram não só os
produtos que são fornecidos pelas Empresas, mas também as importações (fluxo em
que as despesas das famílias somam às despesas com as importações). Por outro lado,
o Resto do Mundo (exterior), na medida em que adquira bens às empresas, faz despesa
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que vai constituir rendimento, que por sua vez, as empresas podem distribuir em
salários, rendas e lucros.
↓
• Neste circuito simplificado, temos a representação das relações entre os diferentes
setores da contabilidade nacional e os fluxos que se estabelecem entre eles.
Já vimos que o Rendimento e a Produção são basicamente idênticos, contudo nada garante que
a Despesa venha a ser igual ao Rendimento distribuído. Na realidade, se não houver igualdade,
então é possível que haja variáveis que explicam essa desigualdade, essa não coincidência entre
Despesa e o Rendimento.
Uma dessas variáveis de ajustamento, para permitir que continuemos a considerar os 3
agregados fundamentais da contabilidade nacional com alguma relação entre si é a da variação
dos inventários (stocks = quantidade de bens que já foram produzidos, mas que ainda não foram
adquiridos/comprados. Já os serviços, à partida são consumidos no momento em que são
produzidos e, portanto, não stock de serviços.):
STOCKS:
• É muito possível que haja disparidade entre os bens que são produzidos e os bens que
são adquiridos. Se a disparidade for para mais, então o que acontece é que a produção
não é escoada na sua totalidade e acumula-se em inventários. A isto que se chama
investimento em stocks.
• O investimento em stocks pode ser involuntário: pode acontecer que as empresas não
quisessem constituir mais stocks do que aqueles que tinham, mas se a produção não se
escoar, haverá o acumular de produtos que não foram vendidos e, portanto, haverá um
aumento nos inventários ---- investimento positivo em stocks.
• Se a despesa exceder a produção, então isso acontecerá à custa de consumo de bens
que não foram adquiridos (eventualmente bens que são provenientes de períodos
anteriores). Se assim for haverá uma diminuição de stocks ---- investimento negativo em
stocks.
De acordo com a Lógica da Identidade dos Agregados da Contabilidade Nacional, então temos
aqui uma variável de ajustamento que permite a reposição da igualdade entre valores de
despesa e valores de rendimento.
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Ex: Suponhamos o valor do trigo que é usado para fazer farinha e depois é utilizado para fazer
pão. Se somarmos o valor do trigo, o valor da farinha e o valor do pão, estamos a contar o mesmo
valor 3x.
• Para evitar esta dupla contagem nós consideramos apenas o valor dos bens e serviços
que são destinados a consumo final, ou seja, o valor dos bens finais. O valor dos bens
finais já incorpora o valor dos bens intermediários e o valor das matérias-primas que
foram utilizados na sua produção -- desta forma é possível evitar a dupla contagem.
Teremos que fazer mais algumas correções, uma vez que algumas componentes dos bens finais
(que contabilizámos como valor da produção interna de um determinado período): de facto
algumas delas foram resultantes de produção externa (foram resultante de produção de
períodos anteriores)
Ex: Imaginemos que no dia 1 de janeiro começa a produção de pão, e essa produção tem que
ser feita com farinha que foi produzida no ano anterior. Portanto, se contabilizarmos o valor do
pão produzido no dia 1 de janeiro, temos necessariamente que ter em conta que os produtos
intermediários utilizados na produção desse pão, foram produtos em períodos anteriores.
Se contabilizássemos o valor final desses bens a partir do 1.º período, estaríamos a contabilizar
um valor de produção que vinha de facto de um período anterior. Se contabilizássemos o valor
total dos bens produzidos internamente, mas que em grande medida são resultado da
incorporação de bens que são produzidos no estrangeiro - estaríamos a sobreavaliar o valor da
produção interna.
↓
Portanto chegámos à conclusão que temos que fazer uma correção temporal (para ter em conta
que parte do valor produzido numa economia num determinado período é devido à
incorporação de produtos que vêm de períodos anteriores) e uma correção geográfica (para ter
em conta que uma parte daquilo que é o valor dos bens finais produzidos numa economia num
determinado período foi resultante de importações).
Em contrapartida, uma vez que temos em conta só valor dos bens finais, sabemos que no fim
do período também há bens intermediários e matérias-primas que foram parte da produção e
não foram contabilizados, porque ainda não foram incorporados nos bens finais. A razão pela
qual não contabilizamos os produtos intermediários e as matérias-primas não é porque esses
produtos não devam ser incluídos como valor de produção! Apenas não os contamos para não
os contar 2 vezes.
EM SUMA, de acordo com os dados apresentados, para se calcular o PIB pela via do somatório
dos bens finais, há que fazer 2 correções para mais e 2 correções para menos: Ou seja:
• 2 SOMAS:
o Somar o valor dos bens finais;
o Somar o valor dos bens intermediários e o das matérias-primas que chegam ao
fim do período como tais (isto é, que não foram incorporados nos bens finais),
ou que foram exportados -------- estes produtos não têm nenhuma forma de
serem contabilizados no valor dos bens finais que foram produzidos nesse
período;
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• 2 SUBTRAÇÕES (correções simétricas): temos que retirar ao valor dos bens finais:
o Subtrair o valor dos bens intermediários e o de matérias-primas que vieram de
períodos anteriores (portanto, contribuem para o valor dos bens finais
produzidos neste período, mas não são em rigor deste período);
o Subtrair o valor dos bens intermediários e matérias-primas que são importados.
Se somarmos o valor acrescentado dos bens, não necessitamos de fazer estas correções.
Valor acrescentado = é a diferença entre aquilo que se recebe pela venda do que se produz e
aquilo que se gastou com aquisição de produtos provenientes de fases anteriores do processo
produtivo.
Exemplo: Se o valor do pão é 10, mas o valor da farinha que é adquirida é 6, então o valor
acrescentado é 4. E se o valor da farinha é 6, mas aquilo que se comprou de trigo para se produzir
esse valor de farinha é 3, então o valor acrescentado é 3. Somando o valor acrescentado temos:
3 (valor acrescentado de trigo), 3 (valor acrescentado da farinha) e 4 (valor acrescentado do
pão). Assim também temos o valor de 10, mas como somámos valores acrescentados em cada
uma das fases do processo produtivo, não precisamos de fazer correções adicionais. Somando
os valores acrescentados temos logo um valor aproximado para o PIB.
O PIB, como dizem alguns autores, foi mais uma invenção da 2.ªguerra mundial, embora tenha
havido cálculos e teorias para determinar o ritmo da atividade económica, podemos dizer que a
matéria da contabilidade nacional e o próprio conceito de produto interno bruto foram
desenvolvido no contexto da 2.ºGuerra Mundial e depois o que foi desenvolvido nas economias
no pós-guerra.
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atentar àquilo que é a atividade produtiva sem uma dupla contagem inerente à contabilização
simultânea do valor de bens de produção e do valor de bens de consumo.
Nota: Em 2019 o PIB era de 212 mil milhões de euros e o PNB 207 mil milhões de euros, ou seja,
nesta relação de exportação/importação há um referencial de certa de 5 mil milhões de euros
que é desfavorável para os residentes em Portugal.
Mais alta diferença: 2008- cerca de 6 mil milhões de euros
Mais baixa diferença: 2003- cerca de 1,5 mil milhões de euros
Para evitarmos a dupla contagem, aqui nós não circunscrevemos o somatório do valor dos bens
ao valor dos bens finais. Se o fizéssemos, já não teríamos este problema de contabilizar duas
vezes o valor de bens de produção.
No entanto tínhamos um outro problema: Há anos em que há muito maior despesa- bens de
investimento, por exemplo e há outros períodos em que a despesa com essas matérias não é
tão elevada e portanto, se não contabilizarmos o valor de bens de produção, o que teríamos era
um registo da atividade económica que serias muito mais aplanado, constante, uniforme do que
aquele que nós poderíamos obter contabilizando também as variações, muitas vezes muito
significativas, no valor do investimento (aquisição de bens de produção).
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também aqueles valores que ficam retidos nas empresas. Temos então de fazer correções
sucessivas, mas ter em atenção estes rendimentos que afluem às famílias sem serem força da
sua participação no processo produtivo.
Também os juros dos empréstimos públicos são considerados uma atividade que não é
propriamente participar no processo produtivo, como quem adquire títulos de dívida pública,
que são semelhantes aos títulos de dívida privada, isto é, aos empréstimos que as famílias
decidem conceder às empresas. Mas, enquanto que os juros dos empréstimos feitos às
empresas geram retorno que é considerado fazer parte do valor da Produção Nacional,
considera-se que os empréstimos concedidos ao Estado não constituem participação no
processo produtivo, por causa das tais Convenções da Contabilidade Nacional. Portanto, não
são contabilizados na altura da determinação do PIB, mas são contabilizados na lógica do
Rendimento que as famílias têm Disponível para afetar a aforro ou a consumo.
Por outro lado, parte dos rendimentos que é gerado na economia interna e que são pagos aos
respetivos titulares do processo produtivo, podem ser exportados para o estrangeiro a título de
transferências unilaterais, a diferença do saldo primário de rendimentos, que falámos há pouco,
é que esse saldo era decorrente de participação no processo produtivo. Portanto, havia
residentes em Portugal que cediam fatores de produção a atividades produtivas no exterior e
recebiam uma remuneração. Por outro lado, havia processos produtivos em Portugal que
utilizavam fatores produtivos que eram pertença de residentes no estrangeiro, e isso não era
Rendimento Nacional, era Rendimento Interno, mas revertia para os países onde residiam esses
detentores dos fatores de produção. Aí estávamos sempre a falar de rendimentos que eram
gerados no processo produtivo e que eram integres aos titulares dos fatores de produção,
enquanto que aqui estamos a falar de não participantes no processo produtivo que recebem
transferências unilaterais. Portanto, estamos aqui a fazer referência a distribuições secundárias
de rendimento.
Se nós quisermos apurar o Rendimento Pessoal temos, não só que atender aos salários, rendas,
juros e lucros, que as famílias recebem no processo produtivo, mas também que apurar o saldo
das transferências unilaterais, de transferências secundárias de rendimento, porque, como já
foi dito, as famílias portuguesas recebem transferências do Estado e do estrangeiro que não têm
a ver com a participação no processo produtivo, mas por outro lado, também transferem para
o estrangeiro alguns valores que são gerados internamente (ex: estrangeiros que auferem
rendimentos em Portugal, depois podem transferir esse rendimento unilateralmente para os
países de origem).
Se quisermos ter um valor de Rendimento Disponível que depois possa ser afeto a despesa
interna, temos que considerar estas transferências secundárias de rendimentos, de residentes
em Portugal para o estrangeiro, e de residentes no estrangeiro para Portugal.
Temos que considerar que os agregados familiares não podem gastar tudo o que dispõem como
rendimento, uma parte disso tem que ser entregue ao Estado, através do pagamento de
impostos. Portanto, passamos para aquilo que é o conceito de rendimento disponível depois de
ter feito o saldo das transferências secundárias de rendimento e ainda deduzimos o valor dos
impostos. Só aí temos o rendimento com que as famílias ficam para fazer face às suas despesas.
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saudável e se mantiverem longe do sistema médico de saúde, isso não é contabilizado nos dados
da Contabilidade Nacional.
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Também se poderia ter em conta o tempo de deslocação do trabalho para casa e de casa para
o trabalho. É completamente diferente uma pessoa viver numa economia em que consegue
deslocar-se a pé ou de bicicleta para o trabalho, demorando 5/10 minutos, de ter de o fazer
deslocando-se durante 1h/2h em transportes públicos sobrelotados, em que as pessoas têm um
desconforto adicional, não apenas decorrente daquilo que é a sua atividade, mas também um
desconforto inerente à circulação entre o local de residência e o local de trabalho.
Outras razões que levam a que os dados da Contabilidade Nacional sejam meros indicadores.:
Ø Também se poderia ter em conta o tempo de deslocação do trabalho para casa e de
casa para o trabalho. É completamente diferente uma pessoa viver numa economia em
que consegue deslocar-se a pé ou de bicicleta para o trabalho, demorando 5/10
minutos, de ter de o fazer deslocando-se durante 1h/2h em transportes públicos
sobrelotados, em que as pessoas têm um desconforto adicional, não apenas decorrente
daquilo que é a sua atividade, mas também um desconforto inerente à circulação entre
o local de residência e o local de trabalho.
Ø Há também divergências que aparecem na Contabilidade Nacional, tendo em conta
aquilo que é a organização interna das empresas, se elas tiverem os seus próprios
departamentos de informática, de pesquisa de mercado, de marketing, isso aparece
como custos da sua própria atividade. Se estas empresas recorrerem ao mercado para
terem este tipo de serviços, isso conta como atividade económica adicional.
Ø Ainda há pouco foi mencionada a possibilidade de se valorizar a destruição de recursos
naturais como algo positivo para o PIB e, no entanto, seria da preferência das pessoas
que vivem nessa economia que os recursos se mantivessem próximos do seu estado
natural, tanto quanto possível, porque isso é que assegura uma maior satisfação.
Ø Há ainda a questão das despesas militares. Pode acontecer que uma parte dos
rendimentos de uma economia sejam decorrentes de despesas militares. As despesas
militares, em princípio, não dão uma satisfação por aí além aos habitantes dessa
economia, menos ainda quando essas despesas são muito elevadas para poder
assegurar o nível mínimo de segurança. Até ao Sistema Europeu de Contas de 2010, as
despesas militares eram consideradas um custo, por isso, não entravam nos valores do
PIB. No Sistema Europeu de Contas de 2010 as despesas militares passaram a ser
consideradas como investimento. A partir do momento em que passaram a ser
consideradas investimento, os gastos como investimento em material de guerra passam
a contar para o PIB. Isso quer dizer que as despesas militares passaram a ter um
enquadramento que torna mais fácil aos decisores de política económica resolver fazê-
las, porque fazendo-as estão a contribuir para um aumento do PIB.
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Portanto, para se poder comparar o valor de uma produção aos preços de um determinado
período com o valor da mesma produção aos preços de outro período, precisamos de saber qual
foi a evolução também do valor da moeda.
Para evitar que concluamos que houve alterações no valor da produção com base em alterações
daquilo que é apenas um instrumento de medida, o valor da moeda, utilizamos a técnica dos
números índices.
A técnica dos números índices serve justamente para expurgar da comparação entre valores de
produção em dois momentos diferentes, aquilo que decorre da destorção dada pela alteração
do valor da moeda. O valor da moeda é o inverso do nível geral de preços, quer isto dizer que,
se o nível geral de preços subir, o valor da moeda desce, se o nível geral de preços descer, o
valor da moeda aumenta.
A tendência durante dezenas de anos foi no sentido de haver uma perda progressiva e anual do
valor das moedas. O valor das moedas tendia a diminuir à medida que passava o tempo.
Acontece que nos últimos anos, a inflação diminuiu acentuadamente, tivemos até situações em
que houve fenómenos de deflação (descida de preços), portanto, isso garantiu uma maior
estabilidade no valor da moeda. O que não quer dizer que, mesmo assim, não tenha havido ao
longo do tempo uma diminuição desse valor da moeda.
Os números índice permitem corrigir isso, faz-se uma regra de três simples, atribui-se a um
determinado valor de preço/de moeda (valor da moeda é o inverso do nível geral de preços),
mas se tivermos a contabilizar, não a evolução dos preços à escala da economia, fazemos isso
para um determinado bem, para esse bem escolhemos um período para período base, que
pode ser o período atual, então se estivermos a compara o momento atual com o ano passado,
ou à 5 anos, ou há 10 anos, o valor do número índice ficará a baixo de 100. Se estivermos a
comparar preços entre aquilo que era o valor da produção de há 5 anos e o valor da produção
de hoje, também podemos atribuir o número índice 100 ao valor dos preços há 5 anos, então,
desde que tenha havido inflação, o número índice correspondente à atividade económica atual
será um valor superior a 100.
Portanto, com esta Técnica dos Números Índices conseguimos, de alguma forma, corrigir aquilo
que é a ilusão monetária, que seria nós acreditarmos que um aumento no valor da produção
dada com preços diferentes, corresponde a um efetivo aumento da produção.
Temos que apurar os números índices, fazendo corresponder ao preço de um determinado bem,
no período que estamos a considerar a base 100 e depois, através de correspondências
determinar qual é o índice que corresponde ao período atual e, assim, obter a correção que se
pode fazer para se verificar em que medida é que um maior nível de produção atual, revelado
por um valor global de produção, corresponde de facto a um aumento da atividade económica,
ou corresponde apenas, ou pelo menos em grande parte a uma variação na medida que estamos
a utilizar para fazer essa comparação.
Portanto, há índices de preços do consumidor, há índices de preços na produção. Os índices de
preços são um processo delicado de apurar, porque para se estabelecer um número índice à
escala da economia, tem que se escolher um determinado cabaz de bens, esse cabaz tem que
ser representativo, é preciso saber quais são os bens que entram no cabaz e em que
parcela/ponderação é que cada um dos bens entra no cabaz. Não basta saber que no cabaz
normal das pessoas entra pão leite, peixe, vestuário, calçado, combustíveis, renda, eletricidade,
gás, água, temos também que saber em que proporção é que cada um destes bens entra no
cabaz.
Construir um número índice à escala de uma economia, que nos permita perceber qual é que é
a evolução dos preços em função desse instrumento de normalização, que é este número índice,
que fica muito distante daquilo que é a distribuição de gastos de cada uma das famílias desta
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economia. É um resultado de um processo de agregação, que nos vai dar um valor médio global,
que não corresponderá praticamente a ninguém que seja um consumidor global nessa
economia.
Mas, como aquilo que importa não é o consumo de cada uma das pessoas, mas sim o consumo
daquilo que é a média da economia, estes números, elaborados com técnicas que são
padronizadas, e que também elas são alvo de uniformização à escala europeia e à escala
mundial, com a intervenção de diversas unidades que têm responsabilidades no apuramento
dos dados estatísticos dos respetivos países os zonas. Estas metodologias sofisticadas levam a
que se construam estes números índices.
Claro que como as pessoas vão mudando e os preços dos bens do cabaz também vão mudando,
o que acontece é que de tempos a tempos é necessário fazer uma recalibragem daquilo que é a
composição do cabaz de bens que serve para a elaboração dos índices. Por isso, de tempos a
tempos, mudam-se as regras de determinação do número índice. Quando isso acontece, ou se
refazem os cálculos feitos com os anteriores números índice, ou então temos aquilo que se
chamam as quebras de série.
As quebras de série querem dizer que se normalizaram no tempo, através dos números índices,
os gastos realizados numa determinada economia, durante um determinado período. Portanto
nesse período trabalhou-se com aqueles números índice que permitiram corrigir a divergência
no valor da moeda durante esse período. Mas depois alteraram-se as composições dos cabazes,
construiu-se um novo número índice, que é mais adequado à situação da economia atual e fez-
se uma quebra de série. Isto quer dizer que os resultados que foram obtidos com o novo número
índice diferem dos resultados anteriormente obtidos pelo anterior número índice.
Portanto, as coisas não são mais do que um valor muito aproximado e um valor que ainda fica
muito distante da realidade das diferentes economias.
Quer no ranking de PIB, quer no ranking de Paridade de Poderes de Compra, estamos em 42º
lugar.
Em 2007 houve uma conferência de alto nível em que debateram as insuficiências e a
desadequação dos dados correntes da Contabilidade Nacional.
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No Relatório de 2019 (UNDP, 2019), Portugal classifica-se em 40º lugar entre os 62 Países de
Muito Alto Desenvolvimento Humano (a Noruega é a 1ª, a Suíça, 2ª, os EUA e o Reino Unido
estão em 15º lugar, Israel em 22º, a Espanha em 25º, a Grécia e a Polónia em 32º e a Rússia em
49º).
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Não surpreende que as recomendações da Comissão não tenham alterado coisa alguma.
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v Balanço
A medição é um instrumento da política. What gets measured gets managed. O que se mede é
o que se pode (ou se quer) alterar: sem medição toda a mudança é aleatória – e, em todo o caso,
alheia a quem mede.
Por outro lado, como na física quântica, só́ se influencia o que se mede.
O desinteresse por formas de medição que substituam a contabilidade das coisas por uma
contabilidade social, ou ambiental, ou geracional, ou o que quer que seja que (agora) não se
mede, podia ser revelador do que, no fundo, se quer. Em contrapartida, pode também ser que
– como o bêbado que procura as chaves do carro debaixo do candeeiro de iluminação pública,
ainda que as não tenha perdido aí – ainda não se tenha encontrado forma de construir de forma
não arbitrária essas contabilidades alternativas.
Demais, qualquer índice de qualidade de vida que coloque, por exemplo, Israel, à frente de, por
exemplo, Portugal, é inerentemente suspeito: sendo um país admirável sob muitos pontos de
vista, Israel não é particularmente atrativo paisagística ou gastronomicamente, nem
particularmente tranquilo – como a omnipresença de militares armados nas ruas não deixa de
sublinhar.
O, ainda que insatisfatório, Índice de Desenvolvimento Humano – completando um indicador
económico com outros – parece, ainda assim, ser a melhor alternativa presentemente
disponível. Porém, como dizia um crítico, não admira que os países escandinavos fiquem tão
bem classificados nele (e Portugal nem por isso): o índice parece servir sobretudo para revelar
quão escandinavo um país é.
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Entre 1000 a.C e cerca, de 1800 d.C, a evolução económica da humanidade andou algumas vezes
ao nível 1 que era o rendimento por pessoa no ano de 1800, é o rendimento que as pessoas têm
per capita de 1800 que serve para determinar a escala do lado esquerdo deste diagrama.
Em 1800 nós considerávamos o valor 1 como o ponto em que se cria aquela divergência, em que
umas economias disparam para cima e outras continuam a sua trajetória oscilante. Mas, durante
estes 1800 anos, a maior parte do tempo a humanidade teve um rendimento per capita menor
do que aquele que cabia a cada pessoa em 1800.
Mas houve alguns bons momentos em que as pessoas à escala mundial tiveram um rendimento
que era superior aquele que em 1800 em média as pessoas tinham.
Depois houve por volta do ano 1100 uns momentos razoáveis.
Mas, na maior parte do tempo nós mantivemo-nos abaixo do nível de rendimento que
correspondia a cada pessoa, em média em 1800.
Em alguns momentos até menos de metade disso.
Aquilo que está desenhado neste diagrama é a “Armadilha Malthusiana”. Esta designação surgiu
porque o Malthus acreditava que a população tendia a crescer em escala geométrica enquanto
que os alimentos (aquilo que permitia a subsistência das pessoas) só cresciam em escala
aritmética. Ou seja, a produção de alimentos aumentava 2,4,6,8,10,12, uma progressão
aritmética, enquanto que a população crescia numa progressão geométrica: 2,4,8,16,32,64.
Se nós tivermos duas progressões deste tipo verificamos que aquela das duas que tem uma
progressão geométrica dispara e ultrapassa muito rapidamente a outra.
E aquilo que Malthus acreditava era que se não houvesse fatores de correção (as guerras, as
pestes e os desastres naturais que devastavam quantidades enormes de população). Se não
houvesse estes fatores corretivos exógenos, as pessoas tinham comida suficiente para
sobreviver e reproduziam-se. Como elas se reproduziam segundo uma tendência geométrica
passado pouco tempo a quantidade de bocas que havia no mundo já não conseguia ser
sustentada pela quantidade de alimentos que iam sendo produzidos.
Por isso, as pessoas morriam e a esperança de vida reduzia-se. Quando isso acontecia,
diminuindo o nº de pessoas, voltava a haver alimentos suficientes para alimentar as que ficavam
e quando essas se reproduziam, aumentava outra vez o número de pessoas que ultrapassava os
meios de subsistência disponíveis.
Portanto, a história que nos conta o oscilar da linha escura representada no gráfico é, de alguma
aquilo que o Malthus tinha descrito. Anos em que a população diminui são anos em que o
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rendimento que as pessoas dispõem em média é maior. Anos em que o nº de pessoas aumenta,
cada uma delas fica com menos e o rendimento cai.
Os pontos acima de 1000 estão numa altura em que houve as cruzadas. Por exemplo um dos
eventos históricos que acontece entre os anos 1030 e 1200 são as cruzadas, ou seja, guerras que
tiveram na altura um impacto destrutivo muito significativo.
O que aconteceu foi que, provavelmente diminuindo a quantidade de pessoas, o potencial de
compra ficava para os que sobravam.
A questão é perceber até que ponto os ciclos regulares de expansão e recessão têm uma
explicação. Por exemplo, se houver 20 anos de crescimento, depois 5 anos de recessão, depois
2 anos de crescimento seguidos de 20 anos de recessão, se não há regularidades é algo que é
aleatório. O funcionamento das economias então rege-se por pulsões, por movimentos que não
têm de ser explicados porque são irregulares.
O problema dos ciclos e das oscilações é o de saber se realmente há padrões na repetição destes
ritmos ou não.
v os ciclos económicos:
i) Juglar – CICLO DE JUGLAR
Já no século XVII, William Petty já tinha falado em ciclos de 7 anos, ciclos estes de fome e de
prosperidade.
Mas, a perceção de que há um ciclo de negócios (conhecido como o Ciclo de Juglar) de cerca
de 10 anos é atribuída a um livro de 1862 de Clément Juglar, um médico francês que
diagnosticou a origem das recessões na prosperidade que as antecede, tal como dizia Juglar,
a ressaca segue-se à embriaguez.
É claro que nós podemos sempre interpretar os valores desfasados a meio do ciclo, nós
nunca temos um ciclo em que temos um ponto alto e depois temos um ponto baixo
exatamente separados com o mesmo intervalo. Até pode acontecer que lá no meio haja
uma queda e se isto acontecer porque é que não ligamos o ponto alto ao ponto de queda
intermédio e depois vamos ligá-lo ao ponto de queda que está mais ao menos no termo do
ciclo.
Em Portugal por exemplo, desde o 25 de abril de 1974 tivemos os pontos mais baixos do
ciclo económico. Os valores do PIB são os seguintes:
Ø em 1975 temos uma quebra de 5.1% no PIB.
Ø a queda seguinte em que há uma variação negativa novamente no PIB em 1984, em que
há uma quebra de 1%.
Ø Em 1993 passámos a ter outro ponto negativo do ciclo, 0.69% de quebra no PIB.
Ø A seguinte foi em 2003, em que houve uma variação de 0,93%.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
ii) Kitchin
Um ciclo que tem entre 1 ano e meio e 3 anos, que foi identificado nos anos 20 do século
20 por Joseph Kitchin.
Ele explicava estes ciclos que eram os que estavam ligados aos stocks, ao aprovisionamento
que as empresas fazem.
Porque é que elas têm stocks? Há empresas que têm toda a vantagem em terem stocks, as
empresas que produzem vinhos têm vantagem porque eles ganham valor à medida que
envelhecem. Por isso, se uma empresa tiver condições físicas e económicas para estar a
acumular reservas que pode vender no futuro a um preço mais elevado tem toda a
vantagem em fazê-lo.
Assim sendo, conseguir acumular stocks é bom para certo tipo de empresas, mas para outras
não. Para outras isso significa que não se vendeu, como não se vendeu tem que se guardar
e isso pode ser um problema.
Exemplo: Em abril tivemos preços negativos de petróleo, porque os agentes económicos
que tinham petróleo tinham que pagar a alguém que o quisesse comprar e porquê? Não
tinham maneira de o guardar.
O Kitchin notou que havia ciclos de esvaziamento e de reposição dos stocks. Por exemplo,
na produção de fios de algodão, cimento ou pregos, porque é que os stocks encolhem e se
expandem? Segundo ele, cada vez que nós temos um processo produtivo temos intervalos
entre a transmissão de informação de uma fase para outra.
Portanto, o produtor responde à informação que lhe chega da falta de produto no mercado
aumentando a produção e durante um certo tempo trabalha com essa informação e ele
produz.
Quando é que lhe chega a informação? Quando nas diferentes fases do ciclo já se começa a
acumular o stock até ao vendedor final. É quando o vendedor final já tem pregos suficientes
no armazém em stock já não quer mais. Mas dessa altura, o processo produtivo está em
andamento, de maneira a que o sujeito não pode, de um momento para o outro travar o
processo produtivo e também ele vai começar a constituir stocks.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
Então nessa altura, o sujeito se puder trava a produção, caso não consiga diminuí-la, vai ele
constituir os stocks.
À medida que os stocks se vão esgotando, os sujeitos que estão no contacto com os
adquirentes finais vão dizer que precisam de mais produto e, nessa altura, começam-se a
esvaziar os stocks no topo do processo produtivo.
Enquanto se vão esgotar os stocks no topo do processo produtivo provavelmente não se
repõe a atividade económica no nível anterior, mas à medida que os stocks se esgotam
então a nossa produção está a ser escoada a jusante e assim faz sentido continuar a produzir
até que vem novamente a informação de que não é preciso mais.
Exemplo: Isto acaba por não ser muito diferente que o que fazem as bichas na autoestrada,
se todos os veículos se deslocassem a uma velocidade uniforme não havia engarrafamentos.
Muitas vezes estes nem são causados por acidentes, mas quando alguém diminui muito a
velocidade os outros todos atrás têm que ajustar e a partir de certo momento têm mesmo
de parar, quando param os outros que estão atrás ficam parados também.
Exemplo: Os donos da Zara são das pessoas mais ricas do mundo, uma das coisas que lhes
permite terem este poderio é que ela não tem stocks. A Zara é extremamente eficiente
porque tem um sistema de produção ligado ao retalho. Portanto, aquilo que se vende nas
lojas da Zara é aquilo que se está a produzir, não há o problema de os produtos não serem
vendidos porque se não forem vendidos não se produzem.
Lançam uma série de produtos, aqueles que se vendem continuam a ser produzidos, aqueles
que não se vendem param imediatamente de ser produzidos e por isso nunca há
acumulação de stocks nem a necessidade de recorrer a saldos para que seja possível escoar
os produtos. Claro que eles também fazem saldos, mas o problema dos saldos não é o
mesmo que para os outros agentes económicos que produzem roupa.
Este ciclo do Kitchin na Zara não se encontra.
iii) Kuznets
Kuznets também identificou oscilações de cerca de 15 a 25 anos no funcionamento da
atividade económica.
Ele associou estes ciclos a oscilações demográficas. Se houvesse num determinado
momento um influxo de emigrantes num determinado país, podia ser que essa alteração
muito significativa do nº de pessoas numa determinada economia desse origem a um certo
nº de investimentos infraestruturais, por exemplo criar escolas, parques habitacionais… Se
isso acontecer, é possível que, passado o prazo de vida útil desses investimentos, sejam
necessários investimentos de substituição e isso poderia permitir explicar a recorrência
destes ciclos de repetição de investimentos com um intervalo de 15 a 25 anos.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
1. 1780-1844/51
2. desde o fim da primeira até 1890/1896
3. 1914/1920
Nas ondas longas há uma fase de expansão e uma de diminuição da atividade económica;
essas duas fases são semelhantes e, portanto, há fases de ascensão e fases de diminuição
de atividade económica dentro da mesma onda.
Ele reparou também que as ondas estavam associadas a certo padrão de características:
Ø Transformação profunda de forma como a sociedade funcionava. De onda longa para
onda longa, a forma como a sociedade funcionava, as pessoas estabeleciam relações
entre si era profundamente transformada. As condições básicas da vida económica
mudavam cada vez que se entrava numa nova onda longa.
Ø Além disso parecia haver uma concentração das situações de conflito e revoluções na
fase ascendente da onda, cada vez que tínhamos uma nova onda tínhamos um
recrudescer de tensões internacionais que faziam com que houvesse choques e
conflitos internacionais. Esses conflitos atenuavam-se na fase em que a onda perdia o
seu auge e havia uma diminuição do ritmo da atividade económica.
Nesse momento, na fase de diminuição, havia, normalmente, crises agrícolas, esta fase
de diminuição estava associada a um período de depressão agrícola.
Pensou então ter encontrado alguma correspondência entre a tendência de cada uma das
ondas longas com as tendências dos ciclos de menor dimensão temporal que se inscreviam
em cada uma das partes da onda parte. Ou seja:
Ø Na fase de expansão da onda o ciclo de negócios do Juglar e o ciclo do Kitchin, estariam
em sintonia com a onda longa.
Ø Na fase em que a onda longa está em expansão, os ciclos de Juglar têm tendência para
ter fases de expansão mais acentuadas e mais duradouras e, ter fases recessivas mais
curtas e menos profundas.
Ø Em contrapartida, quando entramos na fase descendente da onda longa, a tendência é
para que os ciclos de menor dimensão que nele se inscrevem tenham uma duração da
fase recessiva maior e mais acentuada.
É possível com estes mais 100 anos de dados tentar estabilizar ainda mais a observação de
Kontratiev e é possível elaborar ou reelaborar aquilo que foram suas observações,
identificando cinco ondas até agora e começando a desenhar já uma sexta onda, a parir dos
nossos dias.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
1837-43, uma fase de problemas económicos generalizados. Isto porque estas crises não
são crises localizadas, têm uma tendência para ter uma grande expansão à escala
internacional. E esse pânico de 1837-43 de facto teve essa expansão internacional.
É claro que estamos a falar do ritmo de integração da atividade económica que nos dias de
hoje assistimos. Em 1837 o funcionamento da economia, com base naquilo que tinham sido
os padrões de produção mecânica da Revolução Industrial ainda não estava disseminado à
escala mundial e podemos dizer que em certas zonas da américa do sul, África, da ásia, não
se terá notado um conjunto de problemas económicos duradouros centrados nestes anos
de 1837-43.
Mas, mesmo nos países da Europa e América do Norte esta foi uma crise que foi sentida
com amplitude e generalidade.
Assim devemos estabelecer nesta altura o fim desta 1ª onda que vem da revolução industrial
e em que há uma tecnologia de base que sustenta a transformação social e económica.
Designadamente, a tecnologia Generalized Purpose technology (GPT) é uma tecnologia de
aplicação generalizada e é ela que serve como elemento explicativo para as fases das ondas
longas. No momento em que começa uma nova onda, essa está associada à disseminação
de setor para setor e de forma crescente de uma nova tecnologia de aplicação generalizada.
Qual é a primeira tecnologia de aplicação generalizada? É a mecanização, a substituição
daquilo que era a força humana e a força animal por uma força mecânica. E essa força
mecânica tinha origem na água.
Portanto, a revolução industrial é uma revolução que no início se faz com recurso à energia
hídrica e esse altera a escala de produção e altera a localização da produção. As primeiras
fábricas são localizadas junto dos cursos de água. Mas esta tecnologia tinha potencialidades
de ser aplicada em domínios sucessivamente mais alargados.
Resumindo: O início da revolução I. é o início da produção mecânica alimentada por energia
natural, mas que vem, sobretudo, dos cursos de água e que permite substituir aquilo que
era a força essencial da produção com a força mecânica que é gerada por causa da
deslocação de cursos de água de forma natural. Assistimos a uma tecnologia que tem um
impacto transformador da atividade económica e que leva a sociedade das economias que
sofrem com o impacto da revolução industrial e termina no pânico de 1837-43 e é
substituída por uma nova onda longa.
Ø 2ª Onda – Surge entre as décadas 1830-1880, com termo na Grande Depressão de 1873-
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Uma onda longa em que a Tecnologia de Aplicação Generalizada é agora dependente da
força do vapor. Temos também, uma outra fase de criação de unidades de produção geradas
por força hídrica, mas alimentadas pela força gerada pelas máquinas a vapor que por sua
vez, precisam de energia e esta advém da exploração que começa a ser mais intensiva do
carvão.
Assim vamos criar uma nova força que permite criar movimentos mecânicos que começam
por ser estáticos, mas progressivamente vão sendo aplicados no domínio do transporte,
inicialmente marítimos e depois transfere-se para os transportes terrestres.
Na onda que se desenvolve entre 1830-1880 encontramos uma Grande Depressão
económica em 1873/1879. Esta foi a depressão mais acentuada que era conhecida até
então, designa como a “Grande Depressão” – que perdeu essa designação em 1929/30.
Mais uma vez temos uma regularidade dos 50 anos.
A economia muda muito com a generalização das máquinas a vapor, houve uma enorme
transformação das viagens transatlânticas que passaram a durar muito menos tempo,
também houve a possibilidade de nos rios se conseguir fazer navegação contra corrente e
depois os caminhos-de-ferro, por exemplo, nos EUA, a ferrovia dava a possibilidade de
assegurar a deslocação de pessoas e bens metre as duas costas mudou a forma como as
economias estavam estruturadas, teve também impacto sobretudo nas economias de maior
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
Ø 4ª onda – Surge a partir da década 1930 e vai até 1980, com termo na Crise do Petróleo
de 1973-79
Associada à motorização do transporte. Os automóveis existem desde os princípios do
século XX, mas é a partir de 1930 que vamos ter a motorização das sociedades industriais.
A utilização dos automóveis particulares em dimensão crescente e mais alargada vai
permitir que as sociedades também se alterem e se altere a forma como se distribuem no
espaço.
Temos as grandes urbes e a grande circulação de pessoas em deslocações no seu veículo
autónomo.
A motorização do transporte origina a indústria fundamental, a automobilística, que vai
requerer transformação em outras indústrias (sobretudo, nas que lhe dão inputs) e gera a
motorização da produção agrícola, quer no que diz respeito ao transporte rodoviário, os
caminhos de ferro tem a capacidade de transportar enormes quantidades de pessoas e bens
mas os circuitos de linhas férreas são relativamente reduzidos por isso as áreas mais
distantes de uma linha férrea acabam por ficar para trás.
A possibilidade de haver deslocação de bens através de veículos de motor de combustão
interna (ex: camiões) isso permite que essas áreas isoladas das linhas ferroviárias possam
ser integradas na economia.
A motorização agrícola faz-se também com recurso aos tratores, recurso a máquinas que
permitem que a agricultura se industrialize.
Essa industrialização tem um impacto enorme no que diz respeito as transformações sociais.
Antes, havia uma franja muito larga da população ativa que continuava ligada à agricultura,
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
com esta introdução de máquinas agrícolas faz com que a população ativa na agricultura
caia muito acentuadamente. Passa-se de 20% da população ativa para 3 ou 2 % nos EUA.
Temos então uma fase de expansão que permite que uma série de fatores se beneficie dos
ganhos recorrentes. Até chegarmos a uma fase em que a introdução e aperfeiçoamento da
eficiência da tecnologia seja cada vez mais barata e isso fique ao alcance de mais agentes
económicos e tudo isto concentra-se na fase de expansão da tecnologia e depois os seus
efeitos vão, progressivamente, cair.
A linha divisória da década de 80 tem a ver com as crises petrolíferas de 73 e 79.
Ø 5ª onda – Surge na década de 1980 e parece estar, nesta altura, a terminar, com a Crise
de Saúde Pública do Grande Confinamento e nas crises económica e financeira que se
lhe seguirão
Podemos admitir que o grande confinamento que estamos a viver será uma crise
generalizada na escala internacional que vai marcar o fim de uma era, a dos computadores
e das tecnologias de informação. Podemos dizer que foi a tecnologia de aplicação
generalizada da 5ª onda.
A resolução dos computadores alterou imensamente a vida em sociedade, ainda mais com
a quantidade de informação que se possibilitou conhecer (alterou a logística de
funcionamento da economia).
A quantidade de informação que é possível armazenar e recuperar na logística dos
computadores também alterou a logística do funcionamento.
Podemos dizer que um computador com base nos circuitos integrados foi a grande
tecnologia que marcou esta onda longa entre 1980 e 2020.
Para nós fazermos os 50 anos devíamos fazer a transição em 2030 e não em 2020, estamos
adiantados. Mas a verdade é que houve uma aceleração da história, nos nossos dias as
coisas acontecem mais rapidamente.
Portanto, não é de espantar que estejamos a viver já hoje a fase de transição entre
paradigmas socio económicos ou estejamos nesta altura a assistir à mudança de tecnologia
de aplicação generalizada e estejamos a passar da tecnologia baseada no computador e na
internet e perto de alcançar uma nova forma de fazer funcionar a economia.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
Então sim, há uma grande probabilidade de o Grande Confinamento seja depois apontado
como o momento de transição entre a 5ª onda para a 6ª.
Supõe-se que nos dê uma fase de expansão rápida das economias, mas também com muitos
conflitos associados, desde que o padrão de Kontratiev volte a ser verificado. Sendo possível
que de 2020 a 2040 tenhamos uma fase em que a economia cresce, mas em que haja muitos
conflitos.
Bandeira vermelha para os EUA e a China, ainda por cima com o confinamento que teve
origem na China e há ressentimentos quanto a isso, mas há ressentimentos muito maiores
pelo facto de uma série de países estarem a perder os seus recursos porque os agentes
económicos reagem a situações de crise e de incerteza procurando refúgios seguros.
Está a haver exportações maciças de capitais das economias em desenvolvimento para
aquilo que é refúgio que nestas situações sãs as moedas de reserva. Ativos como o ouro,
mas o dólar está a ser procurado como porto seguro.
Portanto quem tinha capitais em países que podem passar por dificuldades económicas vai
tentar salvaguardar os seus recursos transferindo-os para ativos mais seguros e isso está a
acontecer em relação ao dólar.
Não é uma coisa que seja facilmente aceite pelas potências emergentes.
A China tem razões de queixa em relação a isso, bem como a Rússia, os BRICS de uma
maneira geral.
Portanto, a própria posição do dólar como moeda internacional de referência permite que
os EUA injetam valores colossais de dólares na sua economia para a reativar sem que os
outros países tenham a mesma possibilidade de o fazer, os americanos podem lançar um
trilião de dólares na economia. Eles podem fazer isso porque não têm problemas quanto à
futura subida de preços decorrente do aumento de moeda em circulação.
Eles estão a garantir que isso não acontece porque todas as pessoas que o podem fazer vão
transformar esses ativos nessas moedas receando o impacto futuro das medidas
económicas que não estão a ser tomadas e que vão agravar a situação dessas economias.
Na medida em que conservam valores de dólares em reseva, os americanos não têm que se
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
Temos outra vez a repetição do padrão. Temos uma grande crise que assinala a passagem
de um paradigma para o outro. Temos um conjunto de descobertas tecnológicas
significativas que têm o potencial de alimentar uma nova fase de expansão da economia e
temos conflitos de interesses com potencial para gerar sucessão de conflitos que marca as
fases ascendentes do ciclo longo.
Veremos em que medida este padrão se irá repetir ou se afinal não é agora que termina o
ciclo.
A outra explicação é a do iato/Lags (dos ciclos Kitchin). Estes ciclos têm algumas
particularidades. Se for necessário aumentar a produção de tecidos de algodão, isso consegue-
se fazer rapidamente, de uma semana para a outra. Agora, se houver um aumento de procura
de carne de porco, o aumento da oferta de carne de porco só chega ao mercado passado um
ano e meio. É o tempo que demora a ter mais ninhadas de leitões e só quando eles estão em
fase adulta é que pode haver o aumento da oferta da carne de porco.
Se for café, o iato é de 7 anos. Uma nova plantação de café começa a produzir passados 6 a 7
anos.
Os sobreiros são 25 anos para o 1º descortiçamento.
Os Lags são também uma razão pela qual a atividade económica não é lisa. Não pode ser porque
há os tempos de resposta aos tais Lags e estes introduzem uma série de atrasos e fricções que
depois se podem inverter.
No caso da carne de porco, se o preço aumenta vai haver mais produção dela e depois quando
chega ao mercado passado 2 anos faz com que os preços caiam, aí diminui-se a produção e
depois o ciclo repete-se.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
Para as flutuações longas, a explicação assenta essencialmente nas já́ referidas tecnologias de
aplicação generalizada (GPT). Tendo um potencial disruptivo do anterior paradigma de
produção, a sua difusão de sector para sector na fase ascendente do ciclo permite aumentar a
produção – mas pode também ser responsável pelo exacerbar de rivalidades internacionais no
controlo dos mercados de inputs ou de colocação dos produtos, o que traz associado um
aumento de conflitos nessa fase do ciclo. Progressivamente, os ganhos resultantes da
introdução da GPT vão-se esbatendo e a economia inicia uma fase descendente, que só́ será́
invertida quando uma nova GPT substituir a anterior – ou, noutra terminologia, quando um novo
paradigma tecnoeconómico substituir o anterior.
O Comércio Internacional
- Teorias explicativas do comércio:
a) A teoria da vantagem absoluta (Adam Smith) e a teoria da vantagem relativa (David Ricardo)
Temos um modelo muito simples de dois países e dois bens, País 1, País 2 e dois bens, o Bem A
e o Bem B.
Bem A Bem B Total de Horas Total de Bens
País 1 20 h cada 40 h cada 60 h 1Ae1B=2
País 2 40 h cada 20 h cada 60 h 1Ae1B=2
4 bens
Estamos a pensar no trabalho como único fator produtivo, trabalho é a única fonte de valor,
dentro da Lógica Clássica.
Temos um exemplo em que o País 1 e o País 2 cada um deles tem o mesmo stock de trabalho,
vamos imaginar 60h, e o País 1 precisa de uma unidade do Bem A e de uma unidade do Bem B
e o País 2 também precisa de uma unidade do Bem A e do Bem B.
Acontece que a forma de produção dos bens nos dois países é diferente de forma que no País 1
o Bem A custa a produzir 20h e o Bem B custa a produzir 40h. Inversamente, o País 2 gasta 40h
a produzir o bem A, mas só gasta 20h a produzir o bem B.
O que faz com que cada um dos países tenha o Bem A e o Bem B e cada um dos países gaste 60h
mas cada um deles por si produz dois bens, quer dizer que o Total De Produção dos dois países
são 4 bens.
O que é que aconteceria se cada país se especializasse naquilo em que tem vantagem absoluta,
se o País 1 concentrasse todos os seus recursos em A e o País 2 em B? Como o País A só gasta
20h a produzir uma unidade de A, então com as suas 60h ele conseguia produzir 3 unidades de
A. E o País 2 se empregasse as 60h na produção do bem B, como ele só precisa de 20h para
produzir cada unidade do bem B, produziria também 3 unidades de B. Quer dizer que o Total De
Produção dos dois países passaria a ser 6 unidades e não 4.
Bem A Bem B Total de Total de 1A=1B 2A=1B 1A=2B
Horas Bens
País 20 h cada ---------------- 60 h 3A e 0B = 3 2A e 1B 1A e 1B 2A e 2B
1 -
País ----------------- 20 h cada 60 h 0A e 3B = 3 1A e 2B 2A e 2B 1A e 1B
2 -
6 bens
Pela mera concentração dos recursos de produção daquele dos bens em que cada país tem
vantagem absoluta, em que é melhor e trocam o excedente da sua produção. Se houvesse uma
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
razão de troca de 1 para 1 (1A=1B) cada um deles podia ficar agora com 3 unidades no total,
podia ficar com uma unidade de A e duas de B e o reverso para o outro país. Ou podia, cada um
deles ficar com uma unidade e meia de cada produto em vez de duas unidades, ficaria com 3
unidades no total.
Isto também chama a atenção para o seguinte: afinal a forma de distribuição do ganho do
comércio, sendo que o facto de cada país se especializar naquilo em que tem vantagem absoluta
permite aumentar a produção global, é como se a fronteira de possibilidades de produção dos
dois países se deslocasse para a direita em 50% mas a forma como se vai repartir o ganho desta
especialização produtiva vai depender dos termos de troca. Porque imaginado que os termos
de troca, isto é, a razão pela qual se troca cada unidade de A por cada unidade de B era 2
unidades de A por uma unidade de B, se assim fosse o País 1 especializava-se A, produzia 3
unidades de A mas quando tinha que dar 2 unidades de A ao País 2 para obter uma unidade de
B, ficava na mesma com um A é um B.
Em contrapartida, nesta circunstância, o País 2 que tinha produzido duas unidades de B, podia
ficar com duas unidades de B dava uma unidade de B em troca de duas unidades de A e ficava
com 2 unidades de A e duas unidades de B.
Nesta circunstância o País 2 com uma razão de troca de 2 de A para 1 de B absorve todos os
ganhos do ganho internacional.
O mesmo aconteceria agora para o País 1 se a razão de troca fosse inversa, imaginado que a
razão de troca é 1 de A por 2 de B, se a razão de troca fosse esta, então o País 1 tinha-se
especializado na produção de A, tinha ficado com 3 unidades de A, só precisava de trocar uma
unidade de A no comércio internacional, obtinha em troca, duas unidades de B e ficava com
duas unidades de A e duas unidades de B.
Por isto, sabemos que a especialização segundo o padrão de vantagem produtiva absoluta
permite ganhos. E sabemos também que a forma como esses ganhos se repartem, entre os
intervenientes no comércio internacional depende dos termos de troca.
Temos uma primeira abordagem da lógica clássica que é a Teoria da Vantagem Absoluta
O Adam Smith, aliás, dizia que as pessoas, na sua vida corrente também não tentam fazer tudo
o que precisam, para evitar gastar dinheiro as pessoas não tentam produzir tudo, tentar ser
autossuficientes, o que elas fazem é especializar-se numa determinada atividade, receber
dinheiro pelo exército dessa atividade e depois comprar os bens que saem muito mais baratos
do que se fossem auto produzidos.
Nós, por exemplo, poderíamos poupar dinheiro se tricotássemos as nossas camisolas, mas
provavelmente achamos que é mais vantajoso comprar as camisolas, e porquê? Aquilo que nos
custaria produzir cada camisola seria, em termos de custo de oportunidade, tempo e em termos
de resultado final, pior do que adquirir a camisola a quem a faça em condições mais favoráveis
de preço.
Como dizia Adam Smith, aquilo que vale para as pessoas, vale para os países. Os países não
devem procurar ser autossuficientes, devem sim procurar explorar as suas vantagens absolutas
e concentrar os seus recursos naquilo em que são melhores que os outros. No caso dos Países 1
e 2, o País 1 era claramente melhor no Bem A, o País 2 era claramente melhor no Bem B.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
Neste quadro podemos ver um quadro que sintetiza também a lógica da teoria da vantagem
comparativa, que é uma evolução na teoria clássica que vem resolver a situação em que o País
1 é melhor produtor que o País 2, tanto no Bem A como no Bem B. O País 1 neste quadro produz
o Bem A com 20h e produz o Bem B com 50h de trabalho. O País 2 também consegue produzir
o Bem A e o Bem B, mas é mais ineficiente que o País 1, quer na produção de A, quer na produção
de B. Na produção do bem A gasta 80h e na produção do bem B gasta 60h.
Quer dizer que, para o País 1 produzir uma unidade de A e uma unidade de B (e terá que o fazer
se não recorrer ao comércio internacional, se estiver em autarcia), o País 1 precisa de 70h. O
País 2 para produzir exatamente as mesmas unidades vai precisar do dobro do tempo, 140h.
A questão é, será que ainda faz sentido, sendo o país 1 melhor produtor de A e de B que o país
2, ainda assim compre um destes bens ao país 2?
Repare-se que a desvantagem do País 2 em relação ao País 1 é muito maior na produção de A
do que na produção de B. Na produção do Bem B também há desvantagem mas esta é mais
reduzida, porque o País 1 gasta 50h para produzir uma unidade de B, o País 2 gasta 60h, portanto
gasta só mais 10h, quer dizer que se houver aqui uma especialização há-de ser no sentido de o
País 1 concentrar os seus recursos na produção de A porque o País 1 consegue produzir o A em
20h.
Se houver alguma especialização há-de ser do país 2 na produção do bem B que é aquela onde
a desvantagem relativa é menor.
O que é que aconteceria se cada um dos países utilizasse plenamente os seus recursos de
trabalho na produção do bem em que, ou tem mais vantagem ou tem menos desvantagem?
Bem A Bem B Total de Horas Total de Bens
País 1 20 h cada ---------------------- 70 h 3,5A e 0B=3,5
País 2 ---------------------- 60 h cada 140 h 0A e 2,3B =2,3
5,8 bens
País 1 concentra os recursos na produção do bem que tem mais vantagem.
Naturalmente o País 2 concentra já os seus recursos na produção do bem que a sua
desvantagem é menor.
70h concentradas na produção do Bem A davam 3,5 unidades de A. Quer dizer que em termos
físicos o País 1 teria passado de duas unidades, uma de A e uma de B para 3,5 unidades de A.
Em contrapartida, o País 2, concentrando as suas 140h de trabalho na produção do Bem B, teria
obtido duas unidades inteiras do Bem B e mais 1/3. Ele conseguiria produzir duas unidades de
B mais 1/3 de unidade de B por cada 140h que tivesse disponível.
Se somarmos a produção dos dois países verificamos que em vez de se conseguir um montante
máximo de 4 unidades, se obtém agora, 3,5 mais 2,3=5,8. Quer dizer que aumentou a produção
global de 4 para 5,8, aumentou 45%. E aumentou 45% muito embora os dois países se tenham
especializado, não segundo o seu padrão de vantagem absoluta visto que o País 2 não tinha
vantagem absoluta em coisíssima nenhuma, ainda assim se ele se especializar, não naquilo em
que é mais eficiente que o outro (neste caso não é em nenhuma produção), mas naquilo em que
ele é menos eficiente, permitindo portanto, que o país 1 concentre os seus recursos naquele
dos bens em que é muito mais eficiente, então, os dois também podem ganhar porque há mais
1,8 unidade que a especialização permite gerar.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
Para ilustrar esta possibilidade de os países perderem com o Comércio Internacional mesmo
quando se especializam segundo padrões que são totalmente racionais do ponto de vista
económico costuma dar-se o exemplo do Tratado de Methuen.
Este tratado foi celebrado entre Portugal e a Inglaterra, numa altura em que Portugal era melhor
produtor de vinho que Inglaterra, bem como melhor produtor de têxteis. E este tratado permitia
que os vinhos portugueses entrassem livres de direitos em Inglaterra e portanto, passavam a
ser muito mais competitivos no mercado inglês do que os vinhos espanhóis ou mesmo dos que
os vinhos franceses, que eram os principais concorrentes. Porque enquanto os vinhos espanhóis
e franceses pagavam direitos aduaneiros e portanto, ficavam mais caros à entrada em Inglaterra,
os vinhos portugueses passavam a entrar livres de direitos em Inglaterra.
Qual era a contrapartida? Os têxteis ingleses passavam a entrar livres de direitos em Portugal.
Portugal tinha uma vantagem muito superior à Inglaterra na produção do vinho, mas também
tinha alguma vantagem na produção do têxtil. Com o tratado de Methuen aquilo que se
influenciou a economia portuguesa a fazer foi transferir recursos dos têxteis, que agora
passavam a ser importados de Inglaterra sem direitos aduaneiros e, portanto, mais competitivos
no mercado interno para a produção agrícola de vinho, porque esta tinha agora um mercado
mais alargado na Inglaterra.
Portanto, aquilo que podia ser um processo de especialização produtiva em que ambos
ganhassem, acabou por ser um processo de especialização produtiva em que só Inglaterra
ganhou porque os termos de troca evoluíram contra a mercadoria que nós nos tínhamos
especializado, ou seja, cada vez tivemos que dar mais quantidades de vinho para obter uma
certa quantidade de têxteis.
Os termos de troca evoluíram contra a produção agrícola e a favor da produção industrial.
Portanto, embora nós tivéssemos uma vantagem muito superior na produção de vinho como os
termos de troca evoluíram de forma desfavorável, nós acabámos por não tirar proveito daquilo
que seriam as vantagens do comércio internacional e da nossa especialização produtiva.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
Temos a teoria clássica com estas duas formulações, a Teoria da Vantagem Absoluta do Adam
Smith e a Teoria da Vantagem Relativa de David Ricardo, ambas assentes na existência de um
único fator de produção que é o trabalho dentro da lógica clássica de que só o trabalho teria
valor. Temos também a chamada de atenção para a importância dos termos de troca, para a
forma como os ganhos que o comércio internacional pode gerar, pode permitir obter ou não
para cada país envolvido.
Num conjunto os dois ficam com mais bens, a questão é saber se cada um deles fica com mais
bens do que teria antes da especialização. Isso depende dos termos de troca.
Pode-se dizer que a Teoria da Vantagem Absoluta é um caso especial da Teoria da Vantagem
Relativa, pois a da vantagem relativa serve para todos os casos. A teoria da vantagem absoluta
serve só para os casos em que a vantagem dos dois países é oposta (um tem vantagem num
meio o outro tem vantagem no outro e por isso complementam-se). Nunca se pode dizer que
um país não tem uma vantagem relativa sobre os outros. A única maneira de não haver
vantagem relativa para um país era ele ter o mesmo desnível de ineficiência em todos os bens
que produz. Portanto, era 10% menos eficiente do que o país 2 na produção do bem A, era 20%
menos eficiente que o país 3 na produção do bem X, era exatamente 30% menos eficiente que
o país 4 na produção do bem Z e por isso teria que ter um padrão de desvantagem que
produzisse exatamente a máxima desvantagem de um outro potencial concorrente.
Isto simplesmente não acontece, há sempre um desnível de eficiência produtiva entre dois
países é por isso, naquele dos bens em que o país tiver menos desvantagem é aquele em que
tem vantagem relativa.
Exemplo: será que o leite produzido nos Açores é mais eficiente do que o produzido na Holanda?
Eventualmente não, a Holanda é um grande produtor de leite na Europa, mas os Açores também
produzem leite, será que eles têm vantagem absoluta na produção de leite? Não, mas
provavelmente é no leite que eles têm uma desvantagem menor em relação a outras coisas que
eles pudessem produzir.
Como a desvantagem é menor nesta linha de produção então é melhor produzir leite nos Açores
do que produzir por exemplo milho ou batatas ou chá... E é por isso que eles produzem leite e
não chá, nem milho.
Se eles fossem menos ineficientes do que os outros num outro produto alternativo, então
produziriam esse produto alternativo.
A Teoria da Vantagem Relativa serve para todos os países, todos têm um padrão de vantagem
relativa. Onde eles forem mais eficientes (tiverem vantagem absoluta) ou onde eles forem
menos ineficientes do que um outro, então eles adotarão essa atividade produtiva para
poderem concentrar os seus recursos de produção.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
Mas porquê? Porque uma abundância relativa traduz-se em preço, isto é, uma economia que
seja abundante em trabalho, tem o trabalho mais barato. Uma economia que seja abundante
em capital, tem o capital mais barato.
É uma questão de oferta. Havendo trabalho abundante, tem que haver concorrência entre os
detentores do fator trabalho para poderem colocar o seu produto no mercado. O seu produto
é o trabalho que eles têm disponível. Como há muita gente para oferecer trabalho, o preço dele
baixa.
O mesmo se diz para o capital. Com uma economia em que haja abundância em capital, o capital
que pode ser utilizado na produção sai mais barato do que num outro país onde o capital é
escasso (onde ele é raro e, por isso, é caro).
A lógica do Teorema de Heckscher Ohlin é a de que as economias são diferentes umas das outras
embora os seus processos produtivos até sejam iguais.
Mas como as economias são diferentes umas das outras em termos de dotação de fatores, então
faz sentido que, se houver imobilidade de fatores, porque se não houver esta imobilidade o
trabalho que é abundante na economia 1 passa para a economia 2 onde não é abundante.
Exemplo: porque é que os turcos querem ir para a Alemanha? Porque na Turquia há muito
trabalho e na Alemanha há relativamente pouco e, portanto, se houver movimentação livre de
fatores, então os fatores deslocam-se do sítio onde são abundantes e baratos para o sítio onde
são escassos e caros.
No caso de não poder haver movimentação de fatores consegue-se obter o mesmo resultado
movimentando os bens.
O que é que se pode fazer para minorar a falta de trabalho na Alemanha? Importando bens que
tenham uma utilização intensiva de trabalho da Turquia, porque se se importarem bens que
utilizam intensivamente o fator trabalho na Turquia, isso é basicamente o mesmo do que estar
a importar trabalho da Turquia.
Portanto a lógica do Teorema de Heckscher Ohlin é esta, há dois fatores (trabalho e capital),
mesmo que nós tenhamos processos produtivos iguais no País 1 e no País 2, há processos
produtivos que são de capital intensivo (que precisam de muito capital), há outros que precisam
de muito trabalho.
Onde é que nós vamos querer produzir bens que utilizam intensivamente o fator trabalho? Vai
ser nos países onde o trabalho é raro e caro? Não, mas sim nos países onde o trabalho é
abundante e barato.
Portanto nós temos uma teoria explicativa do comércio internacional que nos diz isto: a China,
a Índia e a Turquia vão exportar bens trabalho intensivo.
Já os EUA vão exportar bens capital intensivo.
Este é o Teorema de Heckscher Ohlin.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
E o que é que acontece nos países que são ricos em capital? O mesmo, se nós escolhermos
um país que é rico em capital e no qual o preço do capital é relativamente baixo, para
utilizarmos processos produtivos que utilizam intensivamente o fator capital estamos a
absorver uma parte do capital que esse país tinha disponível.
À medida que nós vamos absorvendo quantidades crescentes de capital, o capital vai-se
tornando cada mais raro, no sentido de que, o capital que sobra para outros
aproveitamentos vai sendo cada vez menos.
Então qual é a lógica da teoria de Heckscher Ohlin levada ao limite pelo aperfeiçoamento
de Samuelson? É que um dia vamos ter a equalização do preço dos fatores de produção em
todos os países. Porque enquanto o trabalho for mais barato na Turquia do que na
Alemanha, ou na China do que nos EUA, então nós vamos produzir produtos que utilizam
intensivamente o fator trabalho na Turquia e na China. Mas cada vez que nós utilizamos
mais mão de obra turca e mais não de obra chinesa vamos ficando com cada vez menos não
de obra disponível na Turquia e na China, isso quer dizer que o preço da mão-de-obra na
China e na Turquia vai subindo até que a vantagem que tinham por ter um excesso de
trabalho em relação ao capital se vai diluindo mesmo nas economias abundantes de capital.
À medida que vamos concentrando nessas economias processos produtivos capital
intensivo vamos deixando de ter o excesso de capital que tornava esse capital barato e,
portanto, tornava essa economia atrativa para a instalação de processos produtivos capital
intensivo.
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Leontief utilizou as matrizes de produção dos EUA, portanto, um produto era capital
intensivo ou trabalho intensivo consoante aquilo que é a matriz dos EUA. Pode acontecer
num país que se está a comparar a estrutura de produção desse bem seja inversa daquela
que está em causa na produção norte-americana.
Por isso, podiam estar-se a contar importações de bens dos EUA como bens trabalho
intensivo ou bens capital intensivo que eram o oposto, podia haver a importação de bens
que fossem considerados bens de capital intensivo, nos EUA são bens capital intensivo
portanto, contavam como entrada de um bem capital intensivo, e na origem era um bem
trabalho intensivo e vice-versa, ia-se estar a contar a importação de bens trabalho intensivo
nos EUA e na origem esse bem era um bem de capital intensivo porque vinha por exemplo
do Canadá ou da Inglaterra.
Estas duas anomalias que são puramente estatísticas ainda são complementadas por outro,
é o nível de agregação.
É importante também saber a que nível de agregação é que nós estamos, por exemplo: se
nós considerarmos um veículo automóvel, segundo as matrizes dos EUA é certamente
considerado um bem capital intensivo.
Os morgans (Inglaterra) são feitos sobretudo sobre processos artesanais e não são um carro
capital intensivo, mas sim trabalho intensivo. Portanto quando nós consideramos a um nível
agregado, consideramos a generalidade dos bens que pertencem àquele tipo, não
consideramos as diferenças que existem ou podem existir em gamas específicas dentro
daquele tipo.
Estudos conduzidos a níveis mais desagregados têm também continuado a manter o tal
padrão paradoxal da exportação de bens trabalho intensivo nos EUA e de importação de
bens que são capital intensivo. Portanto, reproduzindo uma lógica que é inversa daquela
que corresponderia ao teorema de Heckscher Ohlin.
Outras explicações do lado da procura, vamos admitir que cada economia tem uma
preferência para o tipo de bens que utilizam intensivamente o fator de produção em que é
abundante.
Ex: a China, que é uma economia que é abundante em trabalho tal como a Índia, já
reparamos que as mobílias indianas e as mobílias chinesas são altamente retorcidas? O que
é que aquilo implica? Implica trabalho, implica um trabalho minucioso de escultura, as peças
indianas e as peças chinesas são obras de trabalho intensivo porque eles têm trabalho
suficiente para empregar esse trabalho a esculpir palitos, na China compramos palitos
normais, mas também podemos comprar palitos esculpidos e baratos. Porque é que eles
são vendidos na China? Porque são requintados, como é que é requintado algo que se utiliza
e a seguir se deita fora? É uma coisa que é apreciada para eles porque eles apreciam as
coisas que utilizam intensivamente o fator de produção de que dispõem em abundância,
isso vê-se também na decoração dos edifícios.
Isto quereria dizer que os EUA provavelmente têm muitos processos produtivos capital
intensivo e os bens capital intensivo que são produzidos são absorvidos nos EUA, porque os
consumidores norte-americanos têm uma preferência por bens capital intensivo e de facto
os EUA mostram uma grande preferência por gadgets, até às escovas de dentes elétricas
apareceram lá. Por isso eles quanto possível, substituem trabalho por máquinas.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
Então se os bens que são produzidos segundo procedimentos de capital intensivo ficam na
economia norte-americana o que é que sobra para exportação? Os bens de trabalho
intensivo que são aquele que não estão de acordo com as preferências dos consumidores
norte-americanos.
O que é que acontece nas economias abundantes em trabalho intensivo? Têm
procedimentos de trabalho intensivo, absorvem internamente esses bens que utilizam
intensivamente o fator trabalho e o que sobra para exportação são os bens capital intensivo.
O facto de cada país procurar proteger aquele setor que é menos competitivo.
Se os EUA são uma economia que é abundante em capital não precisam de proteger a
importação de bens capital intensivo, estes podem entrar livremente porque a economia
americana produz bens de capital intensivo tão bem ou melhor que os outros. Portanto, a
pauta aduaneira não precisa de criar barreiras à entrada de bens capital intensivo, precisa
de criar barreiras para a entrada dos bens trabalho intensivo porque eles têm desvantagem,
estes ficam barrados na fronteira.
Nos outros países provavelmente também haverá criação de obstáculos ao comércio que
são inversos da sua dotação de fatores. Na China não deve haver grandes problemas em
barrar entrada de bens trabalho intensivo, que são baratos na China. Agora, bens capital
intensivo provavelmente têm limitações em termos de barreiras pautais.
Isto também poderá ajudar a explicar o paradoxo.
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Se o intervalo de imitação for mais curto que o intervalo de procura, então quando as pessoas
despertarem para o desejo de bem já têm esse bem disponível a nível interno e nessa
circunstância não há comércio internacional.
Uma sequência que é apresentada graficamente (366) é uma inovação da qual se podem seguir
consequentemente outras, pode haver uma inovação, ela é copiada e a partir desse momento
deixa de ser preciso recorrer a importações mas a empresa que tomou a iniciativa de introduzir
esse bem está, obviamente mais avançada que as outras no seu procedimento introduzem-se
novas alterações e quando isso acontece cria-se um novo produto que é diferente daquele que
está a ser copiado. Isso permite que as pessoas que desejam obter a nova versão do produto
recorram de novo a importações.
Acontece que estas inovações podem novamente ser copiadas e aquelas pessoas que são menos
modestas a pretender obter a inovação também haverá satisfação interna.
O circuito pode continuar a renovar-se continuamente e cada vez que se introduz o produto
pode-se criar a tal dicotomia entre o intervalo de produção e o intervalo de procura.
Quando o produto chega a uma fase de maturidade faz sentido em vez de os produzirem as
economias onde o desenvolvimento desses produtos foi feito e onde foi a produção deles,
justamente porque são economias evoluídas e onde os custos de produção são altos, faz sentido
deslocalizá-lo para economias médias. Mas mesmo as economias médias deixam de ter custos
de produção compatíveis quando os produtos chegam à fase da estandardização.
Nesta fase aquilo é tudo igual ou muito semelhante e por isso o que interessa agora é produzir
ao mais baixo custo possível porque já não estamos a produzir para as elites, mas sim para as
massas e para produzir um produto para as massas precisamos de produzir esse produto ao
mais baixo custo possível e não vender ao maior número possível. Faz sentido transferir as
atividades produtivas para as economias de baixo rendimentos ou as economias onde a
produção seja mais barata.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
(Diagrama página 368, a parte superior representa o ciclo de exportações numa economia
desenvolvida, a economia que introduziu o produto. No diagrama intermédio temos as
economias de médios rendimentos a apanharem o comboio desta tecnologia numa fase em que
a tecnologia já é madura, em que já não há risco maior em estar a produzir esta tecnologia que,
agora é relativamente estável numa economia de médios rendimentos. Contudo, no momento
em que o produto se torna estandardizado e em que não há evoluções previsíveis neste produto
(pode ser que haja um produto diferente, por exemplo, ainda não são todas as economias que
estão a produzir ecrãs curvos ou ecrãs dobráveis mas lá chegarão, haverá uma altura que os
telemóveis com ecrãs dobráveis deixarão de ser fabricados na Coreia para passarem a ser
fabricados nas Filipinas ou na Tailândia, onde os custos de produção são mais baixos. Não se faz
isso enquanto estamos na crista da onda da tecnologia, mas faz-se isso subsequentemente para
diminuir os custos de produção e aumentar as potencialidades de venda desse produto no
mercado).
Quer através do iate tecnológico (a teoria do Posner), quer através do ciclo do produto, (teoria
do Vernon), nós temos explicações, mas estas valem apenas para uma parcela muito limitada
do comércio internacional.
Um exemplo disto foi quando a Ford, Volkswagen decidiu criar, em Portugal uma linha de
montagem dos seus veículos, porque desde logo, tinha um porto que permitia as exportações
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
por via marítima. Era necessária uma unidade de produção na Europa que ia produzir 3 tipos de
veículos de marcas diferentes (Ford, Volkswagen e Seat) mas que estavam a ser produzidas em
conjunto com facilidade de escoamento e de abastecimento por via marítima. Por isso é uma
decisão estratégica que foi tomada pelos decisores da Ford e da Volkswagen que chegaram à
conclusão que o melhor sítio para colocar a fábrica era Portugal, também pelos vantagens que
tiveram na negociação do governo português e dos apoios que foram concedidos para atrair
investimento para Portugal, tendo em conta que isso era importante para o desenvolvimento
de Portugal e também porque a mão-de-obra em Portugal era barata e competente.
Portanto, no menu de opções que os decisores tiveram eles acabaram por escolher Portugal.
Quando isto aconteceu Portugal tornou-se exportador, se não fosse tomada essa decisão as
indústrias automóveis não seriam hoje uma das indústrias exportadoras mais relevantes de
Portugal.
Temos então estas teorias e também as economias de escala que são teorias de raíz tecnológica.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
Mas uma das finalidades é a obtenção de receitas, o Estado precisa de receitas e onde pode
arranjar dinheiro é tendo um entreposto alfandegário, sobretudo se o país tiver poucos pontos
de entrada.
Se por exemplo tiver dois pontos de importação, se tiver dois aeroportos que recebem voos
internacionais, se tiver 5 ou 6 estradas internacionais apenas… Se puser um ponto de cobrança
de impostos em cada uma destas fronteiras, todos os produtos que chegarem estão sujeitos a
pagamento e, portanto, há uma finalidade reditícia, ou seja, uma finalidade de obter receitas.
Normalmente os direitos aduaneiros não servem só essas finalidades reditícias, também têm
finalidades protecionistas.
Exemplo: Se nós tivermos uma empresa portuguesa que produz carimbos, mas não tivermos
nenhuma empresa portuguesa que produza tinta para os carimbos o que é que é mais provável
que tenha um direito aduaneiro? É a importação de carimbos ou a importação de tinta de
carimbos? Seguramente a importação de carimbos, porque com um direito aduaneiro mais
elevado dissuade-se a importação de carimbos e não faz mal porque nós produzimos
internamente os carimbos.
Portanto, um direito pode ser protecionista se servir para proteger a indústria nacional.
A produção de tinta para os carimbos é necessária também para que as pessoas comprem
carimbos aos produtores portugueses e por isso talvez não seja tão prioritário aplicar direitos
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
aduaneiros elevados à tinta dos carimbos mas as aos carimbos sim, é possível, sobretudo se os
interessados (empresários, trabalhadores, financiadores) estiverem preocupados com a
viabilidade da fábrica de carimbos e então falam ao seu deputado eleito para que ele dê conta
das preocupações sobre o assunto e, este, quando se discutir o orçamento do estado, se puder
também lá tentará sugerir que se introduza um direito aduaneiro mais elevado para a
importação de carimbos.
c) restrições quantitativas:
Restrições quantitativas, pode haver quotas, proibições, licenças que têm que ser apresentadas.
i) Proibições – As proibições, por vezes diz-se “a restrição quantitativa é 0” aquele produto
não pode ser importado, por razões que podem ser de saúde pública, pode ser também
por razões de segurança (ex: não importam armas), em alguns casos até razões de
ordem moral (alguns produtos pornográficos estão proibidos em certos países ou p.e.
em Singapura proíbe-se a importação de pastilhas elásticas, não só não se produzem
como não se podem importar nem consumir sem ter penalizações.)
ii) Quotas – As quotas são um nº que pode também ser fixado em unidades e em valor que
se considera que é o limite máximo que se importa, vamos supor que há uma quota de
100 toneladas de bananas, então quer dizer que este país só importa 3 toneladas de
bananas. Na fronteira, quando se pesarem mais de 100 toneladas acabou a importação
de bananas.
Também pode haver uma quota fixada em valor, que permite, por exemplo a
importação até cem mil euros de produtos cosméticos provenientes de um
determinado país, quando esse país exportar até ao limite de 100 mil euros de produtos
cosméticos fez-se essa fronteira.
iii) Licenciamentos – autorização/licença dada por uma entidade para a construção de
edifícios ou instalação de indústria num determinado local.
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O escudo anos depois de 1974 esteve num processo de desvalorização deslizante, ou seja, como
a procura de moeda estrangeira era alta e a procura da moeda portuguesa no estrangeiro era
baixa, cada vez era mais difícil convencer os estrangeiros a comprar produtos portugueses, a
não ser que estes produtos ficassem mais baratos.
Como é que eles podiam ficar mais baratos? Se cada unidade de moeda estrangeira comprar
mais unidades de moeda portuguesa. Se com uma libra pode-se comprar 200 escudos em vez
de 180 e, a seguir, pode-se comprar 210 e depois 220 escudos, isso quer dizer que o potencial
aquisitivo da libra deixava de ser os 180 para passar a ser 200, ou 210, ou 220… A desvalorização
servia para isto, para potenciar a competitividade nas exportações portuguesas e para dificultar
(uma coisa que antes custava uma libra, no princípio custava-nos a nós 180 escudos, passado
um tempo já custava 200 e passado mais algum tempo já custava 210, quer dizer, tinha sido
como se aquela mercadoria inglesa tinha um determinado custo em libra estivesse estado
sempre a subir quando o preço da mercadoria em si não tinha subido, o que tinha subido era o
valor da libra e, portanto, nós estávamos a pagar cada vez mais caras as libras que precisávamos
para comprar os produtos de Inglaterra).
Portanto, a manipulação cambial tem possibilidade de operar por estas vias, a da exportação e
a da importação. A da exportação porque torna os produtos mais baratos e estimula a procura
externa dos nossos produtos, por outro lado, limitar as importações porque torna os produtos
mais caros e assim dissuade as importações.
Esta manipulação cambial age dos dois lados, do lado das importações e exportações, permite
não só travar as importações, mas por outro lado, permite também fomentar as exportações.
e) Acordos de Clearing
Modalidade de restrição ao comércio por via monetária.
São acordos bilaterais, entre 2 países, que permitem que a balança de pagamentos se mantenha
equilibrada. Os países A e B acordam depositar um certo montante numa conta especialmente
destinada a financiar as compras de cada um deles ao outro.
Se país A faz importações até ao valor do fundo, deixará de haver dinheiro para pagar
importações subsequentes, assim que se esgotar o dinheiro que existe no fundo, deixa de ser
possível fazer importações.
A forma de evitar que o fundo se esgote é o país que importa começar a exportar. Pois se fizer
exportações, o outro país terá que pagar e depositar o preço dessas exportações na conta.
Ambos os países têm interesse em que a conta não se esgote. O país B, exportador, que tem
uma balança superavitária, que inicialmente estava a vender ao país A sem lhe comprar nada,
acabará por ficar sem mercado com o país A se não lhe comprar alguma coisa.
A conta que está aberta vai esgotar-se se não houver uma certa reciprocidade de compras e
vendas um ao outro, continuamente. Tem que haver exportação para ambos os lados.
É uma forma de estimular o comércio bilateral. Mas nada impede que o país A tenha um défice
com o país B, e supere esse défice por ter um superávito com outros países. Aquilo que se faz é
fechar o comércio bilateral, quando podia haver um comércio multilateral.
Acordo que restringe o comércio internacional, pois obriga cada um dos países a comprar ao
outro. Evita que se compre ao melhor fornecedor possível.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
O ponto A representa o momento em que o custo marginal da última unidade produzida num
certo país iguala o preço do mercado internacional. OA representa a produção interna.
A diferença entre OB e OA viria de importações. A diferença entre OB e OA será fornecida com
recurso a importações do mercado internacional.
(a curva da oferta, S, representa a oferta interna, bem como a curva da procura, D)
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
Antes os produtos entravam no mercado livremente, sem pagar. Agora pagam o direito
aduaneiro que vai de W a T.
Cada uma das unidades importadas paga direito aduaneiro, portanto, o montante das receitas
adquiridas nas alfândegas deste país é a multiplicação do número de unidades importadas pelo
direito aduaneiro que incide sobre cada uma. Então se multiplicarmos a distância horizontal das
importações F a G pelo valor do direito aduaneiro J a F, conseguimos obter a área das receitas
aduaneiras encaixadas nesta economia pela aplicação do direito aduaneiro, área JVGF.
Há aqui também uma transferência de excedente para os produtores (abaixo da linha do preço
e acima da curva da oferta), antes tinham que parar de produzir em A, o excedente deles era o
triângulo AKH. Agora, o excedente do produtor vai aumentar para o triângulo TJH, aumenta a
área TJWK (variação positiva).
O excedente do consumidor (acima da linha do preço e abaixo da curva da procura) antes era a
área MLW. Agora o preço interno sobe, então o excedente desce o trapézio TVWL (variação
negativa), passando a ser apenas a área TVM.
Os consumidores perdem e os produtores ganham. Em termos económicos, isto não é uma
perda líquida, isto é uma transferência de rendimentos entre duas categorias dentro da mesma
economia.
Temos ainda as receitas, área FGVJ. Que também compensa uma parte do excedente perdido
pelos consumidores. As pessoas que estão a pagar mais caro por este bem, estão a receber uma
contrapartida fornecidas pelos direitos cobrados pela importação deste bem que lhes advém do
estado.
Assim, a perda do excedente do consumidor que não tem compensação fica, à partida, os
triângulos: VGL (deadweight loss) e JKF.
Mas vejamos melhor, JFK corresponde a quê? Tal como o quadrilátero AA’JK, corresponde à
utilização de recursos internos. Para podermos produzir mais, de A para A’, temos que utilizar
mais recursos.
Dividindo o quadrilátero AA’JK: AA’FK é aquilo que custaria produzir a quantidade de bens A a
A’ no mercado internacional; JKF são os recursos internos que não seriam necessários para obter
a produção daquele bem internacionalmente.
Estes recursos internos adicionai, JKF, poderiam estar desempregues. Pode dizer-se que há
algum ganho para esta economia ao produzir esta quantidade adicional do bem, mesmo que
não seja a solução mais eficiente do ponto de vista da eficiência na afetação de recursos. O
triângulo JKF corresponde ao pagamento de salários, rendas juros e lucros para quem participa
no processo produtivo.
A perda é só VLG, perda líquida. JFK também representa alguma perda, sendo que estamos a
utilizar recursos que se fossem utilizados noutras produções mais eficientes, seria melhor na
afetação global de recursos.
Na situação inicial esta economia, para poder importar AB, gastava os recursos que estão
delimitados no quadrilátero AKLB. O preço internacional, OW, vezes a quantidade de
importações (aquilo que não se produz internamente, mas que é consumido internamente) AB.
Agora, com o direito aduaneiro, precisamos dos recursos FGA’B’, para importar A’B’. Há uma
redução na quantidade de recursos.
Se o preço com o direito aduaneiro fosse T’, o gasto de recursos com importação era 0. As
importações não seriam necessárias, pois toda a procura ao preço T’ seria satisfeita com
produção interna. Um direito aduaneiro verdadeiramente protecionista.
Com a imposição de direitos aduaneiros, haverá sempre uma perda líquida no excedente do
consumidor. Mas o outro lado desta perda traduz-se numa diminuição dos custos de
importação.
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Os efeitos das quotas são os mesmos que os dos direitos aduaneiros. Se esta economia
determinasse que só se podem importar do estrangeiro as quantidades A’ a B’ (quota), o efeito
era exatamente o mesmo. A diferença é que o estado não obtém receitas aduaneiras.
Há 2 argumentos económicos que os protecionistas podem usar com a certeza de que eles
fazem sentido.
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cortiça são os países da orla do mediterrâneo. Um facto de um país ser ou não grande não tem
a ver com a sua dimensão, tem a ver com o facto de concentrar uma parte significativa da
procura de um determinado bem.
Mas, como eles agora vendem cada garrafa a 8€ mesmo vendendo 1 milhão de garrafas aquilo
que encaixam são 8 milhões e não 10.
Quer dizer que as importações inglesas de vinho do Porto deixaram de custar aos britânicos 10
milhões de euros para serem 8.
Isto é o efeito dos termos de troca do poder de compra dos países grandes.
Um país grande que reduza a sua procura interna, aplicando medidas de restrição à importação
ou que utilize a sua dimensão no comércio internacional para que, subindo os direitos
aduaneiros, diminuir as vendas nos países que têm ofertas relativamente rígidas provoca uma
redução dos preços desses bens, por isso consegue comprar mais barato aquilo que antes estava
a comprar mais caro.
O argumento dos termos de troca tem efeitos económicos demonstráveis e pode ser utilizado
para melhorar a situação dos países grandes. Tem a desvantagem de não valer para todos os
países, mas por isso mesmo é que os países tentam ganhar escala. E para além disso é suscetível
de retaliação.
Obviamente que os EUA se servem da sua posição como compradores de petróleo para reduzir
as compras de petróleo no mercado internacional, como desaparece uma parte significativa da
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
procura do mercado internacional isso faz cair os preços mas, se houver países grandes do outro
lado eles procurarão fazer outro tanto em relação àquilo que os EUA vendam.
Portanto, a utilização do argumento dos termos de troca do ponto de vista económico é
justificável, mas é também suscetível de gerar medidas retaliatórias, quer dizer que utilizando
de forma imoderada este argumento, podemos ter conflitos comerciais entre estes países que
são suficientemente grandes para tirar proveito desse argumento, mas por outro lado, aplicar
medidas retaliatórias em relação à aplicação deste argumento.
A ideia de que as indústrias nascentes têm de ser protegidas, tal como as bebés tem que ser
protegidos, isso acontece porque estados de desenvolvimento diferentes permitem que quem
está num estado mais avançado esmague quem está num estado mais primitivo.
Se houver a intenção de desenvolver uma indústria nascente, então justifica-se que haja
proteção desta. Porque se não houver, a concorrência das empresas que estão na fase inicial do
eu desenvolvimento vai ser esmagada pela concorrência das empresas que há muito estão
instaladas e que têm um poder reforçado.
A ideia é a de que há uma curva de aprendizagem na utilização de recursos e fatores para a
produção de um determinado bem e que inicialmente cometem-se alguns erros na estruturação
do processo produtivo e que à medida que ele se desenvolve esses erros vão ser protegidos e a
produção vai-se tornando cada vez mais eficiente.
Se derem tempo a essa indústria para ela se desenvolver ela crescerá e tornar-se-á forte. Se não
lhe derem tempo para crescer, então ela não terá condições para sobreviver.
Dentro desta lógica aceita-se que os países protejam indústrias nascentes, mas para que os
países tenham legitimidade económica para proteger indústrias nascentes é necessário que
estejam reunidos 3 testes:
Ø O teste de Mill: o mais simples, diz que só faz sentido haver medidas de proteção de
indústrias desde que essas sejam transitórias. Obviamente que se mantiver
indefinidamente a proteção de uma indústria é porque ela não é uma indústria
nascente, é uma indústria não competitiva. Para ela ser uma indústria nascente tem que
ser competitiva, para isso a proteção tem que ser transitória.
1º requisito para se poder invocar com fundamento económico o argumento das
indústrias nascentes é que a proteção que se concede numa determinada indústria seja
transitória.
Ø O teste de Bastable: é necessário que aquilo que se gasta para proteger a indústria ao
longo dos anos da proteção transitória seja menos do que aquilo que depois se ganha
com a sobrevivência e funcionamento desta indústria. Porque, por exemplo, se for uma
indústria com um ciclo de vida de 10 anos, não faz sentido estar a criar uma indústria
destas que tenha que ser protegida durante 8/9 anos porque ela aos 8 anos até já pode
ser muito competitiva, mas passados 2 anos ela acaba. Aquilo que se vai ganhar com o
desenvolvimento desta indústria não compensa por aquilo que se perdeu para custear
a proteção do seu desenvolvimento.
Tem que se fazer contas para perceber quais são os custos para os consumidores,
porque se houver uma proteção aduaneira os preços internos sobem, eventualmente
se o imposto for protecionista, barra completamente a importação de bens
provenientes do estrangeiro e não há receitas aduaneiras. Tem que se fazer a
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
contabilidade daquilo que custa proteger esta indústria e depois ver se a indústria se
tornou competitiva porque, nesse caso nós vamos ganhar emprego interno, aumento
de rendimentos, mais impostos e receitas exportação.
Comparando estes valores, o valor que se vai ganhar no futuro com a solidificação da
indústria então, através de aquilo que se perdeu para que ela tenha obtido esse estatuto
de solidez podemos avaliar se a proteção se justifica ou não à luz das indústrias
nascentes.
Ø O teste de Kemp: É dizer que se estiver garantido que a proteção é transitória, se estiver
garantido que as receitas que vão ser obtidas vão ser superiores aos custos, então é a
questão de deixar a iniciativa privada decidir se avança para o investimento ou não. Se
decidir avançar, está a tomar uma decisão que é igual a todas as decisões de
investimento. Nós só devemos recorrer à proteção desde que haja externalidades
positivas na produção interna, ou seja, desde que o facto de se proteger aquela
indústria, mesmo que no fim não permita que os ganhos sejam superiores aos prejuízos
no que diz respeito ao funcionamento estrito daquela empresa mas, isso teve efeitos de
estímulo na própria economia e gerou outras vantagens.
Então se houver externalidades positivas isso também pode funcionar como uma
justificação para o teste de Kemp.
Ou pode ser que haja imperfeições no mercado.
Exemplo: a indústria consegue fazer um certo desenvolvimento, mas quando chega à
fase da maturidade essas vantagens transferem-se para quem não teve que incorrer nos
custos de desenvolvimento.
Ao fim desse tempo cessaram os mecanismos de propriedade industrial que garantem
uma proteção aos investidores, mas pode haver quem aparece nesse momento no
mercado e absorva a mão-de-obra especializada que permite os ganhos futuros. Se
assim for, pode ser que o empresário não tenha interesse em correr o risco de suportar
durante anos os custos e depois na altura em que está à espera de tirar o proveito desses
custos acumulados acabar por não estar em condições de o fazer.
Portanto desde que haja situações de externalidades, de falhas de mercado, desde que
haja até no próprio cálculo dos custos e dos benefícios ponderações sociais que não
fazem parte da função de preferências dos empresários, então faz sentido que o Estado
intervenha e que haja proteção.
Quando na equação estiverem apenas custos privados e ganhos privados, se de facto o
teste de Bastable der positivo e não estivermos a considerar se não, custos e benefícios
privados então não há justificação para a proteção porque isso será um juízo que o
próprio empresário deverá fazer e assumindo ele os custos, depois daí retirará os
ganhos inerentes.
Portanto, desde que estejam preenchidos estes 3 testes, nós teremos uma justificação para a
adoção de medidas de proteção numa economia. Embora haja regras que reduzam e limitem na
medida do possível as restrições ao comércio internacional, regras essas que inicialmente
estavam para ser aplicadas por uma entidade internacional que seria a OMC, (que devia ter
nascido no pós 2ª Guerra juntamente com o FMI e o banco Mundial mas os EUA acabaram por
não ratificar a carta para a sua criação), de forma a que a única coisa que sobrou como
mecanismo internacional de disciplina foi o GATT, o acordo geral sobre pautas aduaneiras e
comércio.
O GATT foi depois substituído pela OMC que hoje funciona como entidade que procura fazer
com que o comércio internacional se paute por regras.
Dentro das regras do GATT, quer nas da OMC há limites quanto àquilo que os estados podem
fazer para proteger a sua produção interna.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
Agora aceita-se dentro das regras do comércio internacional a aplicação do argumento das
indústrias nascentes, por isso ele é válido para que as os países procurem desenvolver algumas
indústrias desde que elas sejam nascentes e tenham a possibilidade de depois deixar essa
proteção.
Notemos que o Comércio livre supõe que os mercados são concorrenciais, mas isso nem sempre
é assim. Pode haver ganhos para alguns países que interfiram deliberadamente no comércio
internacional.
Já na teoria dos jogos vimos que jogo sobre a produção dos super aviões deu uma vantagem a
um dos contentores, isto é, a um dos blocos que estavam em jogo. Não havia mercado suficiente
para desenvolver super aviões da Boing e da AirBus, quem entrasse 1º no mercado reservaria
para si toda a produção de super aviões. Como foi possível à AirBus ganhar dianteira em relação
à Boing, não houve aviões semelhantes ao 440.
Através da interferência dos estados houve a possibilidade de se alterar aquilo que seria a
padrão das trocas no comércio internacional.
Portanto, a teoria comercial estratégica consegue também do ponto de vista económico
demonstrar a vantagem, para alguns dos agentes que atuam no comércio internacional, de se
afastarem de receitas de puramente comércio livre.
É um facto que em certas circunstâncias algumas economias têm vantagem em não aderir às
receitas do comércio livre internacional. Porque há situações monopolistas e quem tiver em
condições de poder aceder a essa posição de monopolista fica numa posição de vantagem sobre
os outros participantes no comércio internacional.
E se não houvesse desvios em relação à lógica concorrencial não haveria razões para que uns
ficassem em situações melhores do que outros, afastando-se do comércio livre. Uma vez que os
mercados internacionais também geram situações monopolistas então, quem estiver em
condições de poder aceder a essas situações fica com uma situação de vantagem em relação
aos demais. Nessa medida, o afastamento de uma lógica estratégica em relação àquilo que seria
as receitas de comércio livre é justificada do ponto de vista económico.
A avaliação que se possa fazer daquilo que é o comércio livre e o protecionismo é, hoje, muito
menos claro do que aquilo que poderia parecer há uns anos. Nessa altura as receitas do
comércio livre mundial eram aceites quer nos ciclos económicos quer nos ciclos académicos
Os protecionistas prometem a proteção do emprego interno, da salvaguarda de indústrias que
já deixaram de ser competitivas e as pessoas têm tendência para aderir mais a essas razões de
proteção do que aos ganhos de descida de preços dos bens que sendo importados arrasariam
as indústrias locais. Eventualmente os consumidores teriam algum ganho, mas esse ganho seria
obtido à custa da produção interna, da redução do emprego e da diminuição das expetativas de
evolução económica das populações.
Portanto, os protecionistas têm algum apoio popular que segue em ciclos, em alguns casos os
países podem ter políticas livre cambistas ou políticas que alinham a sua política comercial com
a política de outros estados que são eles também livre cambistas, noutros momentos a
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
É muito provável que nós nesta altura estejamos a entrar num ciclo de fechamento, de
diminuição do comércio internacional.
Isso tem custos especialmente para as pequenas economias abertas, como é o caso do nosso
país. Quer dizer que a mudança de tendência provavelmente terá também custos para a nossa
economia.
Basicamente, o protecionismo já esteve em queda e neste momento está em ganho.
Imaginemos que esta economia, na situação inicial está a importar o bem, aqui representado,
ao preço internacional que será W, W’ e consequentemente a produção interna vai só até A.
A curva da oferta interna vai de H a J.
Imaginemos que os decisores de política económica deste país pretendem aumentar a produção
interna de OA para OA’. De facto uma solução possível para isso é a aplicação de um direito
aduaneiro, se houver um dinheiro aduaneiro que faça subir o preço de W, W’ para T, T’, portanto
um imposto aduaneiro que tenha a medida de W a T então, o preço das mercadorias importadas
passam a ser não WW’ mas TT’ e isso permite aumentar a produção interna até ao ponto A’,
ponto este em que a curva dos custos marginais da produção interna se defronta com a linha
do preço que se estabelece agora na economia interna.
Portanto é possível de facto utilizar o mecanismo de proteção aduaneira para obter um
resultado que é o de aumentar a produção interna. Mas reparemos que, fazendo isso obtém-se
também um resultado do lado do consumo e o resultado do lado do consumo é a redução do
consumo de B para B’. A curva da procura é negativamente inclinada, anteriormente o último
bem consumido era aquele que era vendido ao preço W W’ ao consumidor marginal, àquele
cujo preço de reserva era igual também a W W’. Simplesmente agora o preço interno subiu
graças à aplicação do direito aduaneiro e subiu de forma a que o consumidor marginal agora
deixou de ser L para passar a ser V. Portanto o consumo interno retrai-se de B para B’.
Parece de alguma forma paradoxal que os decisores de política económica para conseguirem
aumentar a produção de um bem que eles entendem que deve ser produzido em maiores
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
quantidades, adotem uma medida de política económica que faz com que diminua a quantidade
consumida do bem que eles querem aumentar a produção.
Portanto uma forma alternativa de obter o resultado e uma forma que justamente por estar
próxima da origem do problema que se quer resolver seria mais eficiente seria, subsidiar a
produção deste bem. Se isso fosse feito, ou seja, se se fornecesse aos produtores deste bem um
incentivo monetário à produção que poderia ser uma soma única global que lhes permitisse
baixar os custos até que se a curva da oferta se deslocasse de H J para P F’, ou então subsidiar
cada uma das unidades cada uma das unidades que é produzida de forma a induzir o mesmo
interesse do produtor interno em produzir tantas unidades quantas possíveis.
Em qualquer dos casos, se houvesse um subsídio à produção que deslocasse a curva da oferta
para baixo, poderia ser possível manter o preço internacional na economia interna e portanto,
poderia ser possível manter o consumo que anteriormente se registava nesta economia.
Esta teoria, conhecida como teoria das divergências domésticas no fundo, o que nos diz é que
qualquer instrumento de política económica deve ser aplicado o mais perto possível da origem
do problema que se quer resolver.
Portanto, a utilização de mecanismos de proteção pautal não deve ser utilizada para estimular
a produção, nem deve ser utilizada para reduzir o consumo.
Imaginemos que aquilo que estava em causa na decisão dos responsáveis pela política
económica era diminuir o consumo de um bem que se considere que é nocivo de alguma
maneira. Tem custos, tem externalidades negativas.
Agora imaginemos que aquilo que se pretendia era reduzir o consumo deste bem de B para B’.
É verdade que se se utilizasse um direito aduaneiro o que fizesse subir o preço de WW’ para TT’,
ou seja, que fizesse subir o preço interno na medida da aplicação desse mesmo direito
aduaneiro, se conseguia obter esse resultado, isto é, redução do consumo.
Mas teria o efeito perverso de estimular o aumento da produção interna porque se o preço subir
de WW’ para TT’, então a procura reduz-se, mas a oferta aumenta.
O que os decisores de política económica estariam a fazer era a promover resultados que até
poderiam parecer contraditórios.
Então, o que é que se deve fazer? Deve-se utilizar o mecanismo que estiver mais próximo da
origem do problema, é isso que nos diz a teoria das divergências domésticas. Se aquilo que se
pretende é aumentar a produção é melhor subsidiar.
Se aquilo que se pretende é diminuir o consumo é melhor taxar o consumo, impor impostos
sobre o consumo, ou eventualmente desenvolver campanhas para convencer as pessoas que
esse bem é nocivo.
Integração económica:
A integração económica tem um passado já vetusto, entre 1812 e 1914 houve 16 uniões
aduaneiras constituídas no mundo. É uma tendência que remonta ao século XIX e que teve o
expoente máximo no Zollverein, que foi a reunião de 18 estados que antes eram estados
independentes, num único território aduaneiro.
Este acordo deu origem à Alemanha e aquilo que realmente lhe dá origem é este movimento de
integração de quase todos os estados de língua alemã que se uniram do ponto de vista
económico perante terceiros, no sentido de que se rodearam de barreiras pautais em relação a
terceiros estados e entre eles desmobilizaram completamente esses obstáculos pautais. De
forma a criarem um espaço económico comum deram origem à Alemanha.
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Os movimentos de integração económica têm uma tradição antiga e este resultado que é
converter vários estados diferentes numa única potência económica.
c. Uniões aduaneiras
Já implica que além da livre circulação interna de bens, os países estabeleçam por acordo
uma pauta aduaneira comum. Quer dizer que os obstáculos que este país quisesse aplicar a
terceiros deixam de ser possíveis porque ele tem que aplicar sempre a pauta aduaneira
comum da união. Os bens circulam livremente dentro do espaço formado pelos países que
são membros da União Aduaneira, mas os países já não têm soberania comercial para
negociar acordos com países terceiros.
d. Mercados Comuns
Aqui não temos apenas a livre circulação de bens interna e uma posição comum externa.
Temos também livre circulação de fatores de produção.
Portanto um mercado comum é uma união aduaneira com mais coisas.
Como por exemplo: livre circulação de pessoas, de capitais e de iniciativa. Quer dizer que,
além da livre circulação de bens somamos mais 3 liberdades, a de circulação de fatores de
produção, capital e a iniciativa.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
v União Europeia
A história da União Europeia é a história da passagem daquilo que começou por ser uma união
aduaneira para o mercado comum e depois para uma união económica e monetária. Ainda se
fala a propósito especificamente da evolução económica europeia e daquela fase do mercado
interno. Este mercado não faz parte da tipologia de movimentos de integração, mas este é uma
fase que para além de haver a união aduaneira e o mercado comum havia também a redução
de barreiras não pautais.
É algo mais que uma união aduaneira porque se desmobilizam também as restrições não
pautais.
Exemplo: durante muito tempo cada país tinha as suas próprias normas sobre o que é que era
o cimento que estava validado para a construção.
Qual era a consequência disto? É que nós tínhamos que utilizar cimento português porque a
norma portuguesa era diferente da norma espanhola e do outro lado da fronteira faziam-se
obras utilizando cimento espanhol que ficava mais caro que o ponto de abastecimento mais
próximo que estava no território português. E, acontecia o inverso noutras zonas do país, tinha
que se utilizar cimento português porque o cimento espanhol não obedecia à mesma norma
técnica autorizada em Portugal.
Portanto, embora a fonte mais próxima de abastecimento fosse em Espanha não se ia comprar
e utilizar cimento espanhol porque ele não estava conforme a regra de utilização.
Uma das formas de garantir que além de não haver obstáculos pautais, outra das possibilidades
para estimular o comércio internacional é o criar standards comuns ou então obrigar os países
a reconhecerem os standards uns dos outros, isto é, se a regra para um determinado bem é boa
em Portugal, então tem que ser boa em Espanha, França… Porque cada país reconhece os
standards técnicos dos demais.
Quer nós consideremos ou não a fase intermédia do mercado interno, que é uma característica
da evolução específica da forma de integração da UE, quer nós nos cinjamos aos tipos de
movimentos de integração que são normalmente identificados, nós verificamos que há uma
progressiva evolução no nível e na intensidade da integração.
Ainda que no caso das zonas de comércio livre e no caso da união aduaneira essa passagem para
um estádio superior seja algo complexa.
Quer nas zonas de comércio livre quer nos clubes de comércio preferencial, quer nas uniões
aduaneiras, que são as 3 formas essenciais de liberalização comercial, quando passamos as
uniões aduaneiras deixamos de estar já num plano puramente comercial.
Nos mercados comuns já estamos a falar de livre circulação de fatores de produção, já falamos
da livre iniciativa, ou seja, da possibilidade de alguém que tem um negócio, tanto poder montar
esse negócio em Portugal, como em Espanha, como em França, onde quiserem.
Liberdade também de circulação de fatores de produção, podemos trabalhar tanto em Portugal
como em qualquer outro sítio.
Tal como há livre circulação de capital, se quisermos depositar o nosso dinheiro num banco
francês podemos fazê-lo.
O mercado já está fora do plano puramente comercial, já tem camadas de integração que
transcendem a lógica puramente comercial.
A lógica puramente comercial joga-se nestes 3 primeiros patamares:
O clube de comércio preferencial é dois países negociaram entre si quais são os bens em relação
aos quais eles estão dispostos a não fazer controlos fronteiriços. E são bens em que não há
sobreposição, isto é, em que produtos é que é fácil 2 países chegarem a acordo para que os
produtos circulem livremente um com o outro? São produtos que um produz e o outro não.
Espera-se que haja ganhos para os dois lados e para isso acontecer provavelmente um país
combina com o outro que “se eu deixares que os meus bens X entrem livres de direitos no teu
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
território aduaneiro, então eu deixo que os bens Y que tu produzes entrem livres de direitos no
meu território aduaneiro”.
Os negócios são mais fáceis de fazer assim porque ninguém fica prejudicado internamente.
v O Artigo XXIV do GATT e a Teoria das Uniões Aduaneiras (Jacob Viner): a explicação
(superveniente) para a admissibilidade de Zonas de Comércio Livre e Uniões Aduaneiras (os
efeitos opostos de criação e desvio de comércio dos movimentos de integração económica).
O que estamos a dizer com isto é que os clubes de comércio preferencial geram sobretudo aquilo
que Jacob Viner disse:
Jacob Viner desenvolveu uma teoria explicativa do funcionamento dos movimentos de
integração. Um dos possíveis desfechos dos movimentos de integração é aquilo que ele chamou
desvio de comércio.
Este acontece quando um produtor menos eficiente substitui um mais eficiente, mas que
sentido tem isto? É que o produtor mais eficiente paga direitos aduaneiros, o menos eficiente
antes, eventualmente pagava direitos aduaneiros, mas depois, graças ao acordo que os países
fazem entre si deixa de pagar. Então se o melhor produtor mundial fica barrado pelo direito
aduaneiro e o produtor menos eficiente do país parceiro não fica, o preço final do bem pode ser
mais baixo para quem produz mais caro, mas não paga direito aduaneiro, do que para quem
produz mais barato, mas tem que pagar direito aduaneiro.
Dentro desta lógica do desvio do comércio nós percebamos que afinal a aplicação de direitos
aduaneiros é um mecanismo de seleção de quem é que vai fornecer o mercado interno porque
se os direitos aduaneiros não forem iguais para todos, vamos ter aqui distorções. Se forem iguais
para todos não há problema, aquele que produz mais barato, tem o preço final mais baixo
porque o direito aduaneiro que incinde sobre os seus produtos é igual ao direito aduaneiro que
incide sobre os produtos similares.
Como o seu produto, à partida tem o preço mais baixo, o valor final da soma do preço mais baixo
com direito aduaneiro é mais baixo do que a soma do preço mais alto de um concorrente com
o mesmo direito aduaneiro.
Exemplo: se eu produzo a 5 e tenho que pagar 5, o preço final é 10. Se o meu rival, produz por
7 e tem que pagar os mesmos 5, o preço final é 12.
Portanto, ele não pode ter esperança de vencer na concorrência económica com o meu produto.
Mas se eu tiver que pagar o direito aduaneiro e ele não, eu produzo a 5 e pago mais 5 de
imposto, ele produz a 7 e não paga imposto nenhum. Então, são os 7 dele contra os 10 meus.
Quer dizer que quem vai fornecer o mercado do país parceiro é aquele que foi discriminado
positivamente e, portanto, ficou isento do pagamento de imposto aduaneiro.
Isto permite desvios de comércio, permite que um produtor menis eficiente substitua um
produtor mais eficiente. É um dos efeitos possíveis dos movimentos de integração.
O outro efeito, também identificado por Viner, é a criação de comércio. Que é a substituição do
produtor menos eficiente por um produtor mais eficiente. Porque é que pode haver substituição
de um produtor menos eficiente por um mais eficiente na sequência da formação do movimento
de integração? Mais uma vez, o produtor mais eficiente não ter que pagar o imposto aduaneiro
que antes pagava.
Exemplo: eu produzo internamente a 7 e o país parceiro tem produtores que conseguem
produzir a 5, só que para eles venderem no mercado interno têm que pagar o direito aduaneiro
de 5, então eles só conseguem vender no meu mercado a 10. 5 que é o custo de produção, 5
que é o imposto.
Como eu produzo a 7, o mercado é meu.
Se eu fizer um movimento de integração com o país parceiro, os produtores do país parceiro
vão conquistar o mercado. Produzem a 5 e não têm de pagar direito aduaneiro nenhum, vão
vencer a concorrência de quem só consegue produzir a 7.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
O que é curioso é que o Viner desenvolveu a teoria das uniões aduaneiras num livro de 1950.
Explicou então que cada vez que se faz uma remoção seletiva de direitos e, um movimento de
integração é uma remoção seletiva de direitos, porque os direitos continuam a ser aplicados a
países terceiros, mas deixam de ser aplicados aos parceiros, é uma discriminação de uns agentes
em relação aos outros.
Cada vez que se trata diferentemente os agentes económicos daí resultam efeitos que são
diferentes.
No desvio de comércio aquilo que acontece é que, os produtores menos eficientes ganham
mercado aos mais eficientes. Para o Viner isto era mau, prejudicava a eficiência na afetação de
recursos, eram os menos eficientes a ganhar aos mais eficientes.
O outro efeito da remoção seletiva de direitos era a criação de comércio, isto é, eram situações
em que havia a substituição de produtores menos eficientes por produtores mais eficientes.
Isto, dentro da lógica do Viner era bom porque se aumentava a eficiência na afetação de
recursos.
Isto é curioso porque o Viner explicou isto em 1950 e em 1944 foi negociado a Carta de Havana
que era o texto constitutivo da OMC que devia ter nascido no pós 2ª Guerra, mas não nasceu.
Mas sobrou o GATT que era a aplicação de uma parte da carta de Havana e era aplicação
imediata dessa parte.
Esta parte tinha a ver com as regras de funcionamento comercial e toda a gente estava
convencida que o resto da Carta de Havana seria ratificada e constituir-se-ia a OMC. Não foi o
caso, mas o GATT sobreviveu como acordo entre as partes e lá, estavam as regras que proibiam
a formação de clubes de comércio preferencial.
O artigo 24º do GATT, 6 anos antes da explicação do Viner proíbe a formação de clubes de
comércio preferencial.
Admite a formação de zonas de comércio livre e uniões aduaneiras.
Um dos negociadores do GATT, inglês achava aquilo uma coisa bizarra porque no fundo, para
ele, era o mesmo que nós dizermos: trocas de preferências pautais (clubes de comércio
preferencial) são más e são tanto piores quanto maior for a cobertura comercial que eles
permitam. Portanto, um clube de comércio preferencial onde houvesse trocas de comércio, de
preferências pautais sobre 10 bens era apesar de tudo melhor do que, um clube de comércio
preferencial onde houvesse trocas de preferências pautais sobre 100 bens. E, um clube de
comércio preferencial onde houvesse trocas de preferências pautais sobre 500 bens era muito
pior do que um que tivesse trocas de comércios pautais sobre 100.
Portanto, os clubes de comércio preferencial eram maus, eram tanto piores quanto maior fosse
a parcela de comércio que cobriam, mas se cobrissem o comércio todo eram bons porque eram
zonas de comércio livre ou uniões aduaneiras.
Ele achava aquilo uma coisa bizarra: como é que é que é possível que nós consideremos uma
coisa má, tanto pior quanto maior ela for até chegar a 100%, quando chegar a 100% torna-se
boa e é permitida.
Isto porque na verdade a diferença entre os clubes de comércio preferencial e as zonas de
comércio livre ou uniões aduaneiras é que, estas últimas duas têm de cobrir o essencial das
trocas entre os países participantes.
Aparentemente, os negociadores americanos, que foram quem impôs esta proibição dos clubes
de comércio preferencial, não tinham a teoria, mas já tinham percebido o que estava em causa.
O principal negociador americano na carta de Havana insistia que clubes de comércio
preferencial estava fora de questão, mas zonas de comércio livre e uniões aduaneiras podia ser.
Mas não havia nada que pudesse consolidar o ponto de vista teórico, este preconceito.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
Isso só vem a ser bem explicado por Viner, em 1950. Quando este percebe que uma remoção
seletiva de direitos provoca estes 2 efeitos contraditórios: desvios de comércio e criação de
comércio e, que a criação de comércio é boa porque substitui produtores menos eficientes por
produtores mais eficientes e que o desvio de comércio é mau porque substitui produtores mais
eficientes por produtores menos eficientes.
Quando o representante inglês leu o livro do Viner percebeu, é que se os países forem livres de
escolher eles vão escolher as formas de integração e portanto, o tipo de bens que maximize os
desvios de comércio, que vão procurar minimizar as situações em que há criação de comércio.
E, numa zona de comércio livre ou união aduaneira, como tem que cobrir o essencial, não dá
para elas estarem a escolher o que querem e o que não querem.
Portanto, percebe-se porque é que as zonas de comércio livre e uniões aduaneiras acabam por
ser boas, porque como os países não podem escolher porque querem que fique coberto pelo
acordo, nós vamos ter efeitos de criação e efeitos de desvio (e havia a presunção de que os
efeitos de criação fossem maiores). Se deixarmos aos países escolher eles não vão querer os
efeitos de criação, vão querer os efeitos de desvio.
Agora falta-nos perceber porque é que os países afinal querem maximizar os desvios e minimizar
a criação? Quando é que há criação de comércio? Quando o nosso país parceiro que é mais
eficiente do que a nossa produção interna deixa de pagar direitos aduaneiros e, portanto, vem
invadir o nosso mercado, com os produtos deles que são mais baratos que os nossos e arrasa
com os nossos produtores internos.
A criação do comércio do ponto de vista da eficiência é boa, do ponto de vista da atividade
económica dos países é péssima. Porque se houver criação de comércio, são os nossos
produtores que são excluídos do mercado pelos produtores do país parceiro que são mais
eficientes do que nós.
Portanto, a criação do comércio pode ser boa do ponto de vista da eficiência, mas tem custos
para a atividade económica interna.
O que é que acontece no desvio? Eu estou a importar do Japão ou dos EUA e porque é que não
importo de França, Inglaterra ou Alemanha? Porque o produto japonês/americano chega aqui
mais barato. Se eu fizer um movimento de integração com os franceses, os alemães e os
ingleses, eles deixam de pagar direitos aduaneiros. Quem continua a pagar direitos aduaneiros
são os japoneses e os americanos. As vendas deles para o meu mercado acabaram porque
embora eles sejam melhores continuam a ter que pagar direitos aduaneiros, enquanto que os
meus parceiros mesmo sendo piores deixaram de pagar direitos aduaneiros.
Há um princípio essencial do GATT que é a cláusula da nação mais favorecida, é o princípio nº1
do GATT. Quer dizer que todos os países devem ter o mesmo tratamento, quer dizer que, se eu
dou o tratamento a um produtor do país A tenho que dar o mesmo tratamento ao produtor do
mesmo bem do país B e ao mesmo produtor do país X.
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É de notar que isso não acontece numa Zona de Comércio Livre. Nestas os únicos bens que
circulam são os bens dos países que fazem parte da zona de comércio livre. Não podem circular
livremente bens que venham de países terceiros porque o direito aduaneiro que um produto
japonês paga nos EUA, é diferente do que paga no Canadá.
Cada um deles, os EUA, o México e o Canadá fazem parte de uma Zona de Comércio Livre, mas
cada um deles tem a sua própria estrutura pautal.
Se não houvesse controlo na circulação das mercadorias os japoneses não iam mandar as
mercadorias para o país que tivesse o direito aduaneiro mais elevado.
Exemplo: O Canadá tem uma imposição de 10% para telemóveis e que os EUA têm uma de 20%.
Se houvesse livre circulação de mercadorias entre o Canadá e os EUA, o que os japoneses iam
fazer era mandar todos os telemóveis que quisessem vender na América para o Canadá para
pagarem 10% e não 20% e depois mandavam os produtos, através da fronteira do Canadá para
os EUA.
Se não houvesse controlos então a única pauta aduaneira da zona era a mais baixa.
Então as zonas de comércio livre têm que ter um sistema de regras de origem que serve para
que se estabeleça o sítio de onde vêm os bens em termos económicos e não em termos de
proveniência. Claro que todos os bens que vão para o Canadá através da fronteira dos EUA, são
provenientes de lá. Mas serem provenientes não significa que são produzidos nos EUA.
SUMA:
Zonas de Comércio Livre – Cada país mantém a sua soberania pautal, está livre de fazer acordos
com países terceiros, que não sejam parte dessa zona de comércio livre, tem é que haver as
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
regras de origem para ver quais os bens que se qualificam para poder circular livremente dentro
da zona de comércio livre. Só os bens originários é que circularão livremente, os outros terão
que pagar direitos aduaneiros.
União Aduaneira – passa a poder haver não apenas livre circulação de bens originários, mas de
todos os bens, porque a pauta aduaneira é comum, portanto, qualquer que seja o ponto de
entrada dos bens numa UA, os direitos pagos são sempre os mesmos. Reparem que isto pode
colocar um problema para países que não sejam pontos de entrada numa UA, há países que
estão situados no centro da europa, não têm fronteiras marítimas, só têm importação a entrar
no seu país vinda de países terceiros por via aérea. Enquanto que, os países com portos
marítimos são pontos de entrada para mercadorias vindas do resto do mundo, e o transporte
pesado de mercadorias faz-se por via marítima principalmente. E não se trata só da melhor
localização, trata-se também de serem mais eficientes, mais baratos e melhores. Nesses países
onde entram a maior parte das mercadorias é onde são cobradas as receitas aduaneiras, mesmo
que depois os bens sejam distribuídos internamente. Então uma UA também dá vantagem aos
países que tenham melhor acessibilidade externa. Por isso é que a União Europeia transformou
as receitas aduaneiras em receitas próprias da União. De qualquer forma perde-se atividade
económica devido às mercadorias não virem parar ao país de destino, há pessoas que trabalham
nos portos, etc.
Então para saber se o bem é ou não originário temos as tais regras de origem. Estas são o
mecanismo legal que atribui a origem aos bens para efeitos de tratamento alfandegário e
assentam em 2 sistemas:
1. O sistema do valor acrescentado: quando se negocia numa zona de comércio livre
negocia-se qual é o conteúdo de valor acrescentado que permite qualificar o bem como
originário.
Vamos supor que um bem se considera originário quando tem 60% de incorporação dos
países que fazem parte daquela zona de comércio livre, então o que tem que se apurar
é a que preço é: o bem está a ser vendido por 100€, 60% foi ser gerado nesta economia?
Se sim, é um bem americano. Se tiver 55%, não é um bem originário e paga o valor da
importação como se viesse de um país terceiro.
Os países têm então interesse em estabelecer um valor de percentagem do valor
acrescentado que lhes seja conveniente. Um país que ganhe alguma coisa por atrair
produção interna mesmo que de pouco valor acrescentado têm interesse em defender
regras de origem baixas.
Aconteceu em PT no momento da adesão à UE, desde que houvesse 15% de
incorporação nacional contava-se como um produto português e os produtos
portugueses começaram logo a beneficiar da isenção de pagamento de direitos
aduaneiros para os países da união.
Isso permitiu que países terceiros tivessem interesse em pôr umas linhas de montagem
em Portugal porque os direitos aduaneiros da pauta aduaneira portuguesa eram mais
baixos do que da pauta aduaneira da UE. Então como bastava que houvesse 15% de
incorporação nacional eles montavam aqui uma fábrica onde montavam as
componentes e depois disso tinham 15% de incorporação de valor nacional e já podia
entrar livres de direitos na UE.
Na fronteira do México com os EUA há uma série de empresas que são as maquiladoras,
as linhas de montagem de produtos que vêm de países terceiros e que em vez de
exportarem diretamente para os EUA, exportam para o México, lá são montados e
depois são exportados para os EUA como produtos do México porque têm uma baixa
componente de valor acrescentado de regras de origem.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
2. Operação Crucial: escolher uma fase no processo de produção que se considera que é
definitiva para a definição da origem do produto.
Exemplo: O petróleo, é extraído e produzido na Arábia Saudita, é transportado para os
estados Unidos com petroleiros com bandeira do Panamá e é refinado nos EUA.
Este petróleo considerasse originário de onde? Do sítio onde foi extraído? Do transporte
(que representa uma parte importante do custo da transferência)? Ou do sítio onde foi
refinado?
Para vários efeitos pode escolher qual é o critério que nós queremos escolher para a regra de
origem, os países negoceiam de acordo com os seus interesses. São escolhas que estão na
disponibilidade de quem negoceia uma zona de comércio livre mas esta tem que ter um sistema
de regras de origem porque se não tiver, então, o facto de cada um deles poder manobrar e
mexer na sua pauta aduaneira à vontade acaba, porque os países terceiros tornearão sempre
direitos aduaneiros mais altos, canalizando os seus produtos para aquela economia que tenha
o direito aduaneiro mais baixo e depois reexportam a partir dessa economia.
Vamos ver como se podem representar os efeitos comerciais que são comuns a essas três
formas de integração económica (Clubes de Comércio Preferencial as Zonas de Comércio Livre
e as Uniões Aduaneiras).
Ø Situação Inicial:
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
Curvas:
SIII – curva da oferta infinitamente elástica. Curva da oferta do país terceiro que não participa
no Movimento de Integração, que se confunde com a oferta internacional.
SII – curva da oferta infinitamente elástica. Curva da oferta do país parceiro do Movimento de
Integração.
O facto de as curvas da oferta quer do país parceiro quer do país terceiro serem horizontais quer
dizer que eles são países grandes. Portanto, a procura do país de referência, o país em relação
ao qual se constrói este diagrama, é insuficiente para provocar alterações nos preços
internacionais ou no país parceiro.
A curva da oferta do país parceiro não tinha que ser horizontal, podia ser positivamente
inclinada como é a curva da oferta interna, S1, mas para simplificar, é representada como sendo
infinitamente elástica.
A aplicação de um direito interno nesta economia A, implica que os preços a que são
disponibilizados os bens importados do país terceiro e os preços a que são disponibilizados
internamente os bens importados do futuro país parceiro, sobem para respetivamente TIII e TII.
A linha tracejada que parte de TII é a sobreposição do mesmo direito aduaneiro, que incide
sobre as importações de países terceiros, numa base mais elevada, que é a oferta do país
parceiro SII. Como a oferta do país parceiro, II, tem um preço mais elevado que a oferta do país
terceiro, III, então a aplicação do mesmo direito aduaneiro, vai fazer com que a curva da oferta
interna que é possível disponibilizar pelo futuro país parceiro no momento inicial seja essa curva
TII.
A distância que vai na vertical entre SII e TII é a mesma que vai de SIII a TIII, é o direito aduaneiro.
É um direito aduaneiro não discriminatório, incide da mesma forma sobre as importações
provenientes de países terceiros e sobre a importação de bens que venham de um futuro país
parceiro.
Nestas condições, no momento em que não há discriminação na aplicação do direito aduaneiro,
a curva da oferta relevante no mercado interno de A é TIII, porque os consumidores internos
não têm a possibilidade de adquirir ao preço internacional, que seria o de SIII. Portanto têm que
pagar o preço internacional, SIII, mais o direito aduaneiro que é cobrado à entrada das
mercadorias nas fronteiras do país A, têm de pagar TIII.
A curva que arranca de TII é irrelevante, porque como os consumidores internos têm acesso a
este bem ao preço TIII, não precisam de adquirir nenhuma unidade ao preço TII, que é mais
elevado.
Portanto na situação inicial temos uma curva da procura interna negativamente inclinada, D, e
temos um ponto de interseção desta curva com a curva da oferta relevante no mercado interno,
TIII. Esse ponto de interseção é o ponto V, que projetado no eixo horizontal dá o ponto B,
portanto, o consumo total deste bem vai de O a B.
A curva da procura positivamente inclinada, S1, vai ter também um ponto de interseção com
TIII, o ponto J, que projetado no eixo horizontal dá o ponto A. A produção interna é de O a A. A
produção interna pode oferecer unidades sucessivas do bem até ao ponto em que a última
unidade que produz custa o mesmo que custa uma unidade importada, que tem lá fora um
preço mais baixo, mas que tem que pagar um direito aduaneiro.
É impossível produzir mais porque os consumidores não estão dispostos a pagar por este bem
mais do que TIII, sendo que eles conseguem obter no mercado interno o bem ao preço TIII.
Se não houvesse direitos aduaneiros e houvesse uma situação de comércio livre, a procura
interna iria até L, nesse caso a produção interna só poderia ir até K, deixaria de ser concorrencial,
competitiva, a partir do ponto K. Mas como não estamos numa situação em que o comércio livre
funciona para este país A, o país A mantém os seus direitos pautais à importação, então, a
situação inicial é a situação em que o preço interno é de TIII, a oferta interna vai até ao ponto A,
a procura interna vai até B.
Há um excedente do produtor, o triângulo S1JTIII.
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O excedente do consumidor fica acima da linha do preço e abaixo da curva da procura, portanto,
é a área do triângulo feito com os pontos TIII, V e ponto de interseção da curva D com o eixo
vertical.
As importações que podemos medir entre A e B, vêm do país terceiro, pois é o fornecedor mais
eficiente. Mas quando se importam as quantidades AB e depois se aplica um direito aduaneiro
que vai de SIII a TIII, então essa área entre os pontos JVGF é a receita aduaneira que é obtida
por este país nas importações deste bem.
Os recursos que têm que ser mobilizados por esta economia para pagar as importações são a
multiplicação entre o preço e a quantidade de importações, é equivalente à área FGBA.
A situação inicial é muito semelhante ao da aplicação de um direito aduaneiro, que analisámos.
v As variações:
i) na produção/oferta interna
Na sequência da formação deste movimento de integração, a oferta interna vai reduzir-se,
antes conseguia-se produzir até ao ponto J, agora a última unidade produzida tem que ficar
em K’, porque nesse ponto o custo interno atinge o custo do país parceiro e a partir daí os
consumidores não estarão dispostos a pagar mais por um bem que conseguem obter ao
preço SII. A oferta interna reduz-se de A para A’.
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Isto mostra porque é que quando os países podem fazer escolhas, não querem a criação de
comércio. Embora isso só tivesse sido esclarecido com a explicação de Viner em 1950,
quando se discutiu o texto do GATT em 1944, ficou lá a proibição dos clubes de comércio
preferencial. Esta análise gráfica que é posterior ao Viner mostra o que os países perdem
com a criação de comércio.
É claro que melhorou a afetação internacional de recursos, melhorou a eficiência
internacional, quando o país 1 deixou de produzir a partir do ponto A’, mas isso traduziu-se
para o país 1 numa perda da utilização interna de recursos de K’JAA’, e não só perdeu isto
como também perdeu receitas aduaneiras, perdeu excedente do produtor, perdeu o
aumento de recursos que tem que arranjar para custear as importações.
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Isto para dizer que, se os países tiverem escolha, eles não são grandes entusiastas de
movimentos de integração, aquilo que quererão fazer é Clubes de Comércio Preferencial.
Aquele tipo de acordo entre dois países que os faça maximizar os desvios de comércio, ou
seja, atirar com os custos para os consumidores e para os países terceiros. Porque sobretudo
os países terceiros é que vão perder vendas. O país parceiro vai substituir o país terceiro no
mercado com aquele país.
Os americanos, que negociaram em 1944 o GATT, percebiam isto na prática, portanto,
proibiram os Clubes de comércio Preferencial, permitindo apenas Zonas de Comércio Livre
ou Uniões Aduaneiras.
Como é que isso se avalia? Como é que isso afere? É praticamente impossível, porque depende
das circunstâncias de cada uma das economias.
Na altura em que, nos anos 70, a Grã-Bretanha procurou participar no, então, mercado comum,
a União Europeia, um dos argumentos chave da campanha pela adesão era o argumento do
duche frio.
Nas “public schools” começava-se o dia de trabalho com um banho frio, é claro que um banho
frio logo pela manhã custava muito, mas acreditavam que era a maneira de aumentar a
resistência e de estimular a atividade das pessoas. O argumento do banho frio era também
aquele que era utilizado para justificar a entrada da Grã-Bretanha no mercado comum.
Um acréscimo da concorrência para as empresas inglesas, com sacrifício e custos, que as
obrigaria a ser mais eficazes e mais competitivas. E, portanto, tirarem proveito dos benefícios
da participação nesse espaço integrado.
O facto de haver um movimento de integração que cria um mercado alargado permite obter
ganhos de especialização.
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Exemplo: uma empresa metalomecânica que, antes de participar num destes espaços
integrados, produzia porcas e parafusos. Tal como produzia porcas e parafusos uma empresa
metalomecânica de um dos países parceiros. Como sabemos, as porcas e os parafusos não são
exatamente a mesma coisa, portanto, se tivermos uma linha de produção de porcas
conseguimos transformar essa linha de produção em parafusos, mas isso implica a conversão
da forma como se conduz a produção, implica alterações na calibragem das máquinas, implica
isso tudo… se tivermos que produzir porcas e parafusos, então, temos que ter uma sequência
de produção de um produto, depois, encerrar a forma produção desse produto quando se
atingiu o nível de produção julgado suficiente e, depois, recomeçar o processo produtivo do
outro bem que é complementar do primeiro. Porque, em princípio, quando utilizamos
parafusos, precisamos de porcas também.
Quer dizer que, é bem possível que haja duas linhas de produção em dois países e as duas delas
a produzir bens complementares (porca e parafuso são só um exemplo), mas que para se passar
da produção de um para o outro isso implique paragem, implique alteração do processo
produtivo, implique perda do ritmo de produção.
Se houver um mercado único com estas duas empresas, uma de cada lado da fronteira, é muito
provável que cada uma se especialize numa das linhas produtivas. Isto é, se aquilo que
precisamos são bens complementares e se agora temos duas empresas com igual acesso ao
mercado, então, uma produz parafusos e outra produz porcas, assim não se perde tempo na
mudança das linhas de produção de um produto para o outro e consegue-se obter um resultado
final mais eficiente e, do ponto de vista quantitativo, mais alargado.
Por vezes, é necessário que haja uma integração de mercados para se atingir a massa crítica
suficiente para produzir certo tipo de bens. Isso, no caso europeu, é facilmente ilustrável com a
Airbus.
A Airbus é uma empresa que produz aviões de passageiros de grande dimensão e,
provavelmente, só o facto de a Europa ter criado um mercado potencial para esse tipo de aviões
é que deu confiança suficiente às empresas que antes atuavam na área aeronáutica em cada
um dos países para se lançarem na produção desse tipo de aviões. De outra forma, aquilo que
cada empresa, dentro do seu país, faria era trabalhar a uma escala mais pequena e trabalhar
para mercados que não fossem mercados mundiais.
Só na altura em que se atinge uma dimensão crítica de escala que garante que uma parte da
produção dos aviões de grande porte produzidos na Europa tinham mercado garantido na
Europa, justamente porque temos um mercado suficientemente grande para absorver essa
produção, é que se tornou viável criar uma indústria dessa dimensão num determinado
segmento de mercado que, provavelmente, sem a integração europeia não teria sido possível
atingir.
É de notar também que as economias de escala, (semestre passado) para certas atividades
produtivas que têm economias de escala muito significativas, a dimensão do mercado é
fundamental. E, portanto, o facto de haver economias nacionais ou haver um espaço integrado
onde os bens possam circular livremente, permite que a escala de produção se altere. E,
alterando essa escala de produção, se consigam obter condições de produção mais eficientes.
Quer estes ganhos de especialização, quer ganhos de economias de escala, quer ganhos de
concorrência acrescida e de alteração de mentalidades no que diz respeito ao funcionamento
das empresas, justamente, porque há o tal efeito da rivalidade mais intensa decorrente de haver
mais agentes económicos que potencialmente possam aceder ao mercado de cada um dos
países que faça parte dessa área de integração.
Tudo isto são vantagens que são muito ligadas às circunstâncias concretas do caso (analise
dinâmica), portanto, são efeitos decorrentes dos movimentos de integração que a teoria
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
económica reconhece como muito importante, mas que não tem possibilidade de avaliar antes,
como se pode fazer em relação à criação e ao desvio do comércio.
Em relação à criação ou ao desvio de comércio, mesmo até aos efeitos de consumo, é fácil de
alguma forma modelar ou antecipar o que é que poderá acontecer.
Em relação a estes efeitos dinâmicos, ou efeitos de escala, ou efeitos de especialização, é muito
mais difícil fazer uma antecipação do que serão os efeitos, depende das circunstâncias concretas
do caso.
Pode dizer-se que os espaços integrados e alargados têm estas vantagens todas, mas o comércio
mundial tem estas vantagens todas por maioria de razão e a uma escala ainda maior.
É evidente que, se em vez de se trabalhar para o mercado da zona de comércio livre ou da união
aduaneira ou mesmo do clube de comércio preferencial, se trabalhar logo à escala mundial,
então os ganhos que decorrem do aumento de dimensão do mercado são pouco sensíveis.
Talvez não seja por acaso que uma economia como a Suíça nunca mostrou grande interessa em
participar na União Europeia, nem no mercado comum, nem na CEE.
É que a Suíça há muito tempo trabalha à escala mundial no que diz respeito a uma indústria
muito forte que lá existe, que é a indústria farmacêutica. A indústria farmacêutica suíça não tem
como objetivo produzir bens para o mercado suíço, nem sequer produzir bens para o mercado
da UE, tem como objetivo produzir bens para o mercado mundial. Tal como os serviços
financeiros da Suíça, estes escalaram, não para dar resposta às necessidades da economia Suíça,
nem sequer para dar resposta ao espaço integrado da Europa, mas para se posicionarem como
uma prestação de serviços à escala mundial.
O mesmo se poderia, eventualmente, dizer das escolas de formação suíça que são muito
reputadas e são muito frequentadas pelas elites mundiais, desde as elites árabes, às elites
chinesas, às elites americanas. Há muita gente que vai fazer a sua formação nas escolas suíças.
E o mesmo se diga para o turismo suíço.
Portanto, podemos dizer que sim, economias de dimensão relativamente reduzida ganham com
a integração num espaço alargado, mas isto que dizemos em relação a movimentos de
integração, poderíamos dizer em relação ao comércio livre mundial. Se em vez de se trabalhar
nestas economias de dimensão relativamente reduzida para um espaço maior, resultante de um
movimento de integração, se trabalhar à partida para o mundo, então, os ganhos seriam ainda
maiores.
Para algumas economias isso é uma opção, como foi para a Suíça, como foi para Singapura,
como para Hong Kong. Hong Kong e Singapura são portos livres, isto é, são portos em relação
aos quais não há obstáculos alfandegários e, portanto, quer num, quer no outro, não há
limitações à entrada de bens. Os bens circulam livremente nesses países, porque foi a forma de
eles se posicionarem em relação a um comércio com o mundo.
Para terem comércio com o mundo é mais facilmente, de facto, não estabelecer barreiras
alfandegárias.
Para muitos outros países, a opção não foi e não poderia ser essa.
Uma integração, sobretudo, com economias que sejam próximas, tem vantagens e pode traduzir
uma opção realista em relação àquilo que seria uma política de primeiro ótimo, que seria o
comércio mundial, portanto, a desmobilização pautal unilateral. É claro que os países podem
sempre fazer a desmobilização pautal unilateral, podem sempre optar pelo comércio livre,
supondo-se que, com essa opção, tinham todos os ganhos e nenhuns prejuízos. Do ponto de
vista da eficiência, os prejuízos estão associados aos desvios de comércio, e a criação de
comércio é supostamente boa.
Ora, se os países quiserem criação de comércio, não têm que fazer mais se não acabarem com
as suas barreiras alfandegárias e abrir o seu país ao comércio livre mundial.
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Mas como já vimos, não é, normalmente, uma das opções, porque cada vez que há criação de
comércio, há sacrifício de produção interna. É compreensível que os países estejam
preocupados com a possibilidade de manter uma posição equilibrada no comércio
internacional.
Para terem uma posição equilibrada no comércio internacional, não podem importar tudo sem
exportar pelo menos o suficiente para custear essas importações.
Portanto, os países vêem com alguma apreensão esses fenómenos de criação de comércio,
porque estes fenómenos reduzem a atividade interna e, ao reduzir a atividade interna, há um
aumento das importações para suprir a falta de produção interna daí decorrente.
Em suma, muitas vezes, por razões práticas, por custos, e até por estratos políticos de diversa
ordem, a melhor opção possível para permitir um aumento de eficiência na afetação dos
recursos internos, uma vez que o comércio livre mundial não é uma opção realista, muitas vezes
estes movimentos de integração constituem uma política razoável e realista.
Mais tarde, nos anos 90, houve um novo recrudescimento do interesse internacional por
movimentos integração. Numa só década houve notificação de 82 esquemas de integração
regional de dois ou mais países.
Este 2º regionalismo excedeu em dimensão a própria soma dos movimentos de integração do
1º regionalismo.
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Pensou-se que o melhor era estabelecer um controlo comum para estas duas indústrias
necessárias para a guerra. E assim foi, a CECA resulta de uma iniciativa francesa e leva à primeira
comunidade económica. Mais tarde, vem a ser assinado o Tratado de Roma que cria a CEE.
A França, a Itália, a Bélgica, a Alemanha, a Holanda e o Luxemburgo são os países fundadores da
CECA e que estão, também, na origem do mercado comum, a CEE.
Na altura da formação da CECA, a Grã-Bretanha, porque não quer participar nesta União
Aduaneira, que lhe retira soberania comercial, que lhe retira a possibilidade de estabelecer
relações comerciais de acordo com os seus interesses estratégicos com países terceiros, na
medida em que atribui a um diretório as possibilidades de decidir quais são as relações
económicas com países terceiros, justamente, porque a Grã-Bretanha não quer participar nessa
união aduaneira, lança uma Zona de Comércio Livre.
Essa zona de comércio livre era a EFTA, na qual Portugal participou. Progressivamente, aquilo
que se verifica é que os países que participam na EFTA vão achando cada vez mais interessante
participar na CEE.
Portanto, vão havendo movimentos sucessivos de transferência dos membros da EFTA para a
CEE.
Quem é que ficou de fora deste movimento de transferência? A Noruega, que esteve para aderir
quando aderiu a Grã-Bretanha, mas fizeram um referendo e foi negativo por isso ela ficou de
fora. A Islândia e o Liechtenstein.
Hoje, os países que são membros da EFTA são só estes três países: Noruega, Islândia e
Liechtenstein.
Mas, dá-se a circunstância destes países, muito embora não participarem nas instituições
comunitárias, aceitam as regras determinadas pelas instituições comunitárias. E, por isso
participam no que diz respeito à obediência às regras de circulação de mercadorias e, não
participam no que diz respeito ao processo de formação dessas regras.
Isto foi uma solução que foi tentada de sugerir aos britânicos agora que eles saíram da UE:
aceitarem a mesma posição de relação comercial com os países da UE que os países da EFTA
têm, seria uma forma de regressar ao espaço de integração que ela própria tinha dinamizado.
Os britânicos recusam esta solução, justamente, porque ficariam, nessas circunstâncias,
vinculados às regras produzidas em Bruxelas, ficariam, inclusivamente, vinculados às decisões
do Tribunal de Justiça da União Europeia, com a desvantagem acrescida de nem terem juízes
deles no Tribunal, nem terem participação na formação das regras que lhes seriam aplicadas.
Os britânicos recusam liminarmente ter um estatuto igual ao da Noruega, da Islândia e do
Liechtenstein. Temos, nesta altura, duas áreas de integração na Europa que, verdadeiramente,
funcionam como uma, visto que os membros da EFTA aceitam as regras que são determinadas
por Bruxelas. Mas, daqui a algum tempo, teremos a determinação de qual será a situação da
Grã-Bretanha no que diz respeito ao funcionamento da economia europeia.
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- Na Ásia (ASEAN):
Na Ásia, o grande movimento de integração é a ASEAN (Associação de Países do Sudoeste
Asiático).
A China está a ter uma estratégia de integração regional muito clara: constituiu um banco de
desenvolvimento, uma espécie de banco mundial à escala asiática. Possivelmente, haverá uma
também evolução no sentido de China procurar, através da iniciativa do “one belt onde road”,
criar canais de circulação de mercadorias, sobretudo, entre a China e a Europa, passando por
todos os países intermédios e também englobando África.
Estes são investimentos em infraestruturas maciços e que favorecem os países que fazem parte
desta nova “rota da seda”, “one belt one road” ecoa a lógica de criar vias de comunicação
(caminhos de ferro, estradas, estruturas aeroportuárias), de forma a que os países desta rota
possam ter redes de ligação eficientes que permitam que os bens circulem com grande
facilidade.
Quer no sentido da China para os países em causa, quer no sentido inverso. Portanto, os
chineses têm uma causa de desenvolvimento que começa por ser à escala da Ásia, mas que
muito facilmente se tornará mundial.
A China é vista com alguma reserva pelos países da Ásia, porque é uma potência de dimensão
tal, que é compreensível que os países da área receiem ser absorvidos pelo poder que uma
economia daquela dimensão tem. Portanto, há sempre uma reserva em que os movimentos de
integração tenham uma participação muito forte da China. Mas haverá, seguramente, evolução
nesta matéria, até porque os interesses regionais tenderão a ser fortalecidos, não só por causa
desta iniciativa, mas também pela criação do tal banco asiático de desenvolvimento.
Este banco de desenvolvimento asiático reproduz o modelo dos bancos de desenvolvimento e
também o modelo do banco mundial, dotado de um capital muito significativo e, portanto, com
uma grande capacidade de financiamento na região.
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também tinha uma intervenção direta, porque que conduzia intervenções estabilizadoras com
as reservas que lhe eram disponibilizadas pelos países que participavam nesse acordo.
A criação do eco transferiu, para a soberania dos países participantes neste acordo monetário,
competências que antes residiam no banco central francês. Então há uma autonomização desta
moeda em relação aquilo que era o anterior arranjo do Franco CFA.
- Na Oceânia (CERTA).
Na Oceânia há uma relação de integração muito próxima entra a austrália e a nova Zelândia, é
conhecida como a CERTA, sigla de Closure Economics Trade Agreement.
A CERTA é uma forma de cooperação entre duas economias com graus de desenvolvimento
semelhantes, que têm alguma complementaridade e que leva a certas coisas que vão mais longe
do que aquilo que são as regras de integração no espaço mais integrado do mundo que é a União
Europeia. Tirando os Estados Federados, as relações económicas mais estreitas que se
estabelecem são, certamente, as que ocorrem na União Europeia.
Em alguns domínios, a CERTA vai ainda mais longe. Não tem só a livre circulação de fatores
(como na UE), mas tem também políticas comuns decididas à escala conjunta. É verdade que a
Europa também as tem, mas por exemplo é muito corrente que os reguladores de um país
tenham à sua frente nacionais de outro. É o mesmo que dizer que, no que diz respeito à
autoridade da concorrência, a autoridade da concorrência australiana tem um neo-zelandês à
frente, ou pelo menos já teve. E, outras entidades independentes com impacto significativo na
economia que é exercida num país têm justamente à frente um nacional do outro país. Isto é
uma coisa curiosa.
É verdade que o banco de Inglaterra tem tido como seu governador pessoas que não são de
nacionalidade inglesa, mas são da Commonwealth.
A Commonwealth é uma forma de relacionamento internacional entre Estados em que há uma
soberana que é comum: a Rainha Isabel é chefe de Estado não só da Inglaterra, mas também do
Canadá e da Austrália.
Na Commonwealth ainda há a figura do chefe de Estado que é a rainha de Inglaterra e que se
faz representar por um representante dela que tem funções semelhantes àquelas que a rainha
tem na estrutura constitucional britânica, que são poderes de representação puramente
formais, sem nenhuma capacidade de intervenção política. Mas, em todo o caso, são países que
aceitam como chefe de Estado a Rainha Isabel.
v O Acordo Geral sobre Pautas Aduaneiras e Comércio (GATT) como sucedâneo da abortada
Organização Internacional do Comércio:
Praticamente todos os países do mundo participam pelo menos num movimento de integração.
Há uns mais alargados, outros menos, há sobreposição de zonas de comércio livre. Onde há
proibição de acordos sobrepostos é nas Uniões Aduaneiras, nestas, essa soberania acaba por
ser atribuída ao conjunto: tem que haver um mecanismo intergovernamental. No caso europeu:
o conselho que é formado pelos chefes de Estado/governo dos países membros e a comissão
que é o órgão permanente que se encarrega da gestão comum.
Esta sobreposição de relações comerciais compara-se a uma terrina de esparguete, o
esparguete aqui funciona como uma relação comercial privilegiada entre duas ou mais
economias, e como as relações privilegiadas entre duas ou mais economias se sobrepõem e se
é possível que um país seja parte de uma série de acordos comerciais.
Na Europa, como vimos, temos o acordo entre a UE e EFTA, havemos de ter o acordo entre a UE
e a Grã-Bretanha, temos os acordos de terceira geração com os países da orla mediterrânea,
temos os acordos de cooperação e de livre circulação de alguns produtos com países africanos.
Há, aqui, uma sobreposição de relações económicas que, de alguma forma, são privilegiadas, e
que faz com que nos estejamos a distanciar muito da regra da cláusula da nação mais favorecida,
que é o primeiro princípio do GATT.
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Enquanto que lógica do GATT era a lógica de tratar todos por igual. Isto é, um país A dá um
privilégio comercial ao país B, esse privilégio comercial conferido pelo país A ao país B é
extensível todos os países que são membros do GATT, ficavam só de fora dessa igualdade de
tratamento os países que não fossem membros do GATT.
Para todos os países membros do GATT vigorava a obrigação de dar o mesmo tratamento a
todos por igual.
a) o princípio da nação mais favorecida (Artigo I) e a exceção das zonas de comércio livre
e uniões aduaneiras (Artigo XXIV);
O que acontece é que com esta multiplicação de acordos comerciais limitados, em vez de termos
um tratamento preferencial igual para a generalidade, temos tratamentos que são, de facto,
diferenciados e em escada. Temos uma relação privilegiada, primeiro, pelos que são membros
da UE. Temos, de seguida, uma relação privilegiada com os membros da EFTA. A seguir,
eventualmente, teremos uma relação privilegiada com a Grã-Bretanha. Depois, temos uma
relação privilegiada com os países da orla mediterrânea. Depois, temos uma relação privilegiada
com os países de leste que ainda estão ou, eventualmente, poderão vir a estar interessados um
participar na UE. Depois, temos uma relação privilegiada com a Turquia, porque muito tempo
quiserem ser um país que iria aderir à UE. Depois, temos relações privilegiadas com os países
africanos, ao abrigo dos acordos que se vai celebrando, no sentido, de manter aquilo que são
relações estreitas entre aquilo que foram as potências coloniais. Quer a Grã-Bretanha, quer a
França, quer Portugal, quer a Alemanha constituíram acordos com aquelas que foram as suas
colónias. Quando se criou a CEE, criaram-se também mecanismos para dar continuidade a essas
relações privilegiadas que, até então, eram relações privilegiadas de uma economia específica
com uma economia que foi pertença colonial com as suas ex colónias. Mas que agora passaram
a ser relações privilegiadas à escala da CEE ou, mais tarde, da UE.
Portanto, em vez de termos aquilo que devia ser igual para todos, temos uma terrina de
espaguete em que as ligações simbolizadas no fio de espaguete se emaranham e se sobrepõe
uma às outras. Há discussão sobre se isto é bom ou é mau para a evolução no sentido de uma
maior integração mundial e para uma relação comercial entre as economias que se aproxime
mais da economia internacional.
O professor Manuel Porto tem sempre uma visão otimista das coisas e, portanto, admite que
esta terrina de esparguete seja uma aproximação ao comércio livre mundial.
O Calvete tem as maiores dúvidas e crê que a evolução não será nesse sentido, a evolução será,
cada vez mais, no sentido de se formarem blocos rivais.
Acredita que iremos evoluir para termos um bloco comercial centrado na Europa, sem dúvida
que é a maior potência comercial do mundo, mesmo não sendo a maior potência económica.
Isto quer dizer que, de todas as potências económicas, aquela que está mais ligada à importação
e à exportação quer de bens, quer de serviços. Portanto, é aquele bloco que está mais presente
no comércio internacional em termos de dimensão.
Mas, é muito fácil antever que se a China se integrar nos blocos comerciais, ou se criar um bloco
comercial na Ásia, sobretudo se o Japão também for parte desse grupo, sobretudo se a Rússia
também for parte desse grupo, e tudo indica que os interesses da China e da Rússia já
convergiram e do Japão tenderão a convergir também; é muito fácil prever que um bloco
regional na Ásia se torne um bloco extraordinariamente importante, quer em termos
económicos, quer em termos comerciais.
Depois, há o bloco das Américas, portanto, o NAFTA.
É verdade que a presente administração americana parece menos interessada na integração à
escala americana, e parece muito mais interessada em centrar as suas atenções naquilo que é
economia interna norte-americana. Mas a política anterior à administração de Trump e,
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
Isto leva-nos à tal teoria do Second best. A teoria do second best, tem como uma das suas fontes
a teórica as Uniões Aduaneiras do Viner.
Jacob Viner percebeu que os movimentos de integração não eram propriamente um passo no
sentido do comércio mundial, não eram um caminho para uma solução de primeiro ótimo. Se a
evolução mundial for no sentido do fortalecimento de blocos rivais, vamos ter situação em que
há desvios de comércio acentuados. Isto é, em que o melhor fornecedor dos bens está no outro
bloco, mas justamente por isso, ele é barrado pelas barreiras alfandegárias que cada um dos
blocos vai erigir, de forma a que esse produto que tem o melhor fornecedor no outro bloco seja
produzido internamente. Portanto, dois blocos ou três ou quatro, vão maximizar desvios de
comércio, embora os desvios de comércio estivessem mais limitados se houvesse realmente
fronteiras nacionais e não houvesse movimento de integração nenhum, isto é verdade. Num
espaço integrado vai haver criação de comércio, isto é, vai haver substituição de produtores
menos eficientes por produtores mais eficientes. Portanto, dentro de cada bloco, teremos todas
as razões para pensar que la dentro há eficiência na produção e há eficiência na utilização de
recursos. Como alguns melhores produtores de muitos bens estarão fora de um bloco.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
O facto de a China ter sido admitido como membro teve um impacto absolutamente
extraordinário, porque os países ficam obrigados a atribuir à China o tratamento da nação mais
favorecida.
Isto é, tirando aquelas regras especiais que são aplicáveis aos parceiros de zonas de comércio
livre ou uniões aduaneiras, tirando estes acordos privilegiados que são admitidos ao abrigo do
artigo 24°, também há uns outros movimentos que são admitidos ao abrigo da chamada parte
IV do GATT, que tem a ver com o auxílio ao desenvolvimento.
É nesse sentido que surgem, primeiro, os acordos de Iaondé e depois os acordos de Maomé,
aqueles acordos que regulam as relações comerciais privilegiadas da CEE (e mais tarde, do
mercado comum) com os países africanos. Portanto, são acordos para o desenvolvimento
comercial desses países africanos.
Mas, o facto, de a China poder usar de tratamento da nação mais favorecida, facilitou
imensamente as exportações chinesas. A situação da China como nação exportadora antes de
participar no GATT e depois de participar no GATT alterou-se profundamente. Antes da China
participar no GATT, os países podiam ter uma pauta aduaneira específica para a China e tinham,
na medida em que, nas pautas aduaneiras aparece:
• Países membros das zonas de comércio livre- não pagam
• Países membros do acordo de Maomé (no caso da Europa) - não pagam, ou pagam
muitíssimo pouco.
• Países da orla mediterrânea- não pagam, ou pagam muitíssimo pouco.
• Países que vieram do anterior bloco soviético ou da Europa central- não pagam ou
pagam muitíssimo pouco.
• Países membros do GATT- ficam sujeitos ao melhor tratamento conferido a outro país
qualquer.
• Países não membros do GATT- ficam com a pauta aduaneira sem desconto nenhum.
Enquanto que a China foi não membro do GATT, ficava com o tratamento aduaneiro pior. Agora
que é membro do GATT, no caso, da Organização Mundial do Comércio, mas que mantém os
textos do GATT, porque o que se criou em 1993 foi a organização que não nasceu, as regras
substantivas do GATT foram aprovadas, mas o que faltou foi o aparato institucional. O aparato
institucional vem a ser criado em 1993, ou seja, temos os princípios do GATT a funcionar sem
alteração. Os textos do GATT foram integrados aos acordos que dão origem à constituição da
Organização Mundial do Comércio. Mas a China, também é membro hoje em dia, assim como
quase todos os países do mundo, há uma grande adesão dos países a esta OMC e aos princípios
que estão subjacentes, em termos substantivos, aos que estão no GATT.
O princípio da não discriminação é o primeiro dos princípios, mas depois o que o GATT fazia era
levar a cabo rounds de redução dos obstáculos ao comércio mundial. E, de tempos a tempos,
reuniam-se os representantes dos países participantes para negociarem a redução das barreiras
pautais. Houve oito rondas de negociações. A última das quais, Uruguai round, foi a tal ronda
que tinha, entre os seus dossiers, não apenas a redução destas barreiras, mas a criação da tal
Organização que se pensava fazer falta para fazer funcionar melhor o sistema comercial
internacional.
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
Depois de 93, nunca mais foi possível negociar nenhum round de negociações. Enquanto o GATT
vigorou, entre 1944 e 1993, houve oito rounds bem-sucedidos. Isto é, houve negociações
internacionais entre representantes dos estados e, em todos estes, foi possível chegar a um
acordo e fazer baixar os direitos aduaneiros. Tanto que a média dos direitos aduaneiros caiu
para valores muito reduzidos hoje em dia, graças a estas negociações. De qualquer forma, foi
possível completar os rounds e em cada round dar um salto significativo no que diz respeito às
barreiras ao comércio e, portanto, também, ao aumento do comércio internacional. Desde
1994, nasce a OMC e esta nunca mais conseguiu completar um round.
O millenium round foi lançado com este nome por causa da mudança de milénio, foi lançado de
forma a que passaria entre 1998/99 e 2000/01. Os rounds às vezes eram muito demorados.
Houve rounds a demorar 3/4 anos. Mas o Millennium round, esse começou antes da viragem
do século e não há maneira de terminar. Não há maneira de terminar porque os países não
chegam a acordo. Já mudou até de nome, seria ridículo falar no Millennium round quando já
estávamos tão adiantados no século, passou a ser a agenda de Doha. Doha, uma cidade na área
dos Emirados Árabes Unidos. Portanto, a agenda de Doha substituiu a lógica das negociações do
Millennium round, mas o facto é que não há acordo. Não há acordo e, muito provavelmente,
vai continuar a não haver acordo, porque os interesses dos países participantes no comércio
internacional são cada vez mais divergentes. Portanto, é natural que seja difícil chegar a um
acordo que estimule o comércio internacional.
Como sabemos, as medidas unilaterais que têm sido tomadas numa escalada entre os EUA e a
China, levam a admitir que o caminho não seja esse, seja sim no sentido de criar mais obstáculos
ao comércio.
E, muito provavelmente, como parece ao Calvete, no sentido de um potencial bloco criar a sua
própria esfera de influência. Claramente, os chineses estão a fazer isso à escala asiática e os
russos embarcam com os chineses, será eventualmente uma questão de tempo até os japoneses
participarem também e, eventualmente, a Índia também. Na América, se os americanos
realmente se fecharem no Norte, haverá uma emergência, eventualmente, por parte do polo
do Sul. A Europa vai fazendo o que pode para ver se, pelo menos, África continua na sua esfera
de influência.
Pagamentos internacionais:
v Composição e (des)equilíbrio da Balança de Pagamentos:
A balança de pagamentos é a forma de registar as relações que se estabelecem no âmbito do
comércio internacional.
Aquilo que estivemos a dizer tem expressão no registo daquilo que cada economia teve ou tem
relações com as outras economias, isso é registado na balança de pagamentos. Evidentemente,
a balança de pagamentos é um instrumento contabilístico e, sendo um instrumento
contabilístico, está em equilíbrio. Falamos em desequilíbrio da balança de pagamentos, mas na
verdade devíamos falar em desequilíbrio de segmentos da balança de pagamentos, porque a
balança de pagamentos, no seu todo, tem de estar equilibrada, pela mesma razão que o
orçamento está sempre equilibrado, embora também falemos em desequilíbrio orçamental.
Mas afinal de contas um orçamento é o quê? É a previsão de gastos e de receitas. Ninguém pode
apresentar um orçamento desequilibrado, apresentá-lo seria dizer assim: eu vou gastar 100000
e prevejo ter receitas de 50000. Como é que se pode gastar 100000 tendo receitas de 50000?
Para se fazerem as despesas de 100000 têm de vir outros 50000 de algum sítio. Ora, esses 50000
de crédito é o défice. Os instrumentos estão equilibrados até ao cêntimo, o orçamento de estado
está sempre equilibrado até ao cêntimo, do ponto de vista formal, porque aquilo que faltar de
receitas efetivas (receitas que entram e não constituem divida/encargo futura) tem que se
recorrer em receitas não efetivas, isto é, tem que se ir buscar dinheiro a empréstimos junto da
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
população nacional ou no exterior. Tem que se ir buscar dinheiro a algum lado. Para se terem
despesas tem de se ter o mesmo exato valor em receitas. O orçamento, do ponto de vista formal,
está sempre equilibrado.
O mesmo se diz da balança de pagamentos, no seu todo, está sempre equilibrada. Se tivermos
défice da balança de pagamentos, então, alguém nos está a financiar esse défice, o que quer
dizer que a nossa posição sobre o exterior está a deteriorar-se, estamos a a recorrer a crédito
para financiar as nossas transações com o exterior e vamos acumulando dívida. Haverá um
momento em que alguma coisa tem que ser feita para corrigir esse défice da balança de
pagamentos. Mas, em algum ponto do registo, encontramos uma variável na balança de
pagamentos que faz a compensação das insuficiências da balança de pagamentos. Portanto,
vamos então decompor a balança de pagamentos:
1) Balança corrente
Dentro da balança de pagamentos temos uma sub-balança, a balança corrente que, por sua vez,
é decomposta entre 4 sub-balanças:
ii) de rendimentos
A balança de rendimentos, ou de transferência de rendimentos, é aquilo que dá origem
ao rendimento nacional, na contabilidade nacional. Já vimos que quando um residente
em Portugal recebe a renda de um imóvel que tem em Inglaterra, isso é uma
remuneração de um fator de produção. Portanto, é uma entrada de rendimento ligada
a uma atividade produtiva. Quando um sueco que vive no Algarve recebe os dividendos
das ações das empresas suecas, ou inglesas, ou americanas, ou o que seja, quando
recebe esses dividendos, isso constitui uma entrada de rendimento em Portugal, mas
que é devido a uma participação de um residente. Portanto, isso são rendimentos que
são incumbidos nesta balança de rendimentos. Do mesmo modo, quando os lucros
gerados pela atividade da Autoeuropa são transferidos para a sua respeitava sede, esses
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Nos últimos anos, também tivemos uma evolução no sentido de termos uma balança
comercial positiva, durante muitos anos tivemos uma balança deficitária, importávamos
largamente mais do que exportávamos. Mas, tirando os dados de 2019 em que
apresentamos um défice, outra vez, pequeno. Mas, desde 2013 até 2019 até
conseguimos manter uma balança comercial positiva, quer dizer que estávamos a
exportar mais bens e serviços do que os que estávamos a importar. Isto, também se deu
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com o boom do turismo e, por outro lado, com o facto de em 2013/2014 ainda haver
vestígios da crise e, portanto, haver menos compras ao estrangeiro e menos viagens ao
estrangeiro, menos saúde de divisas no que diz respeito à balança de serviços.
De qualquer das formas, temos esta balança corrente formada por:
§ Uma balança comercial desdobrada em balança de bens e balança de serviços;
§ Uma balança de rendimentos, que tem a ver com a transferência de remuneração
de fatores de produção, tem a ver com a disponibilização ao processo produtivo de
fatores de produção por parte de residentes que são remunerados e, o inverso,
aquilo que é o fornecimento à economia portuguesa de fatores, mas por residentes
no estrangeiro. Portanto, opera-se assim o saldo. A balança de rendimentos é
deficitária, fornecemos menos fatores de produção ao estrangeiro, do que o
estrangeiro nos fornece a nós. E isso tem implicações naquilo que é o apuramento
do produto nacional bruto. A diferença entre produto interno e produto nacional é
justamente este saldo de rendimentos com o estrangeiro e este saldo é nos
desfavorável, mas depois é compensado com aquelas vantagens nas transferências
unilaterais e com o saldo positivo na balança comercial.
2) Balança de capital;
Para além da balança corrente, temos a balança de capital. Esta balança tem duas componentes
essenciais. A primeira, as transferências de capital, são transferências que estão associadas a
movimentações de capital que são unilaterais (ex: subsídios que são atribuídos a Portugal pela
união europeia), essas transferências que recebemos e não temos que dar em troca, entram
nesta balança de capital. Também, se houver um perdão de dívida, nesta altura não é
evidentemente o nosso caso, mas há apelos do Banco Mundial e do FMI no sentido de, para
facilitar a possibilidade dos países com mais dificuldades em tempos do Covid, que se perdoe a
dívida desses países. Se se perdoar a dívida internacional desses países, eles deixarão de ter que
pagar ao estrangeiro os juros inerentes e ficaram com recursos que poderão canalizar para
combater a pandemia. Esses perdões de dívida também entram na balança de capital. Portanto,
são transferências de titularidade que ocorrem sem uma contrapartida específica. Vão para a
balança de capital e, evidentemente, não estão na balança corrente. Não correspondem a
atividade econômica, são uma espécie de transferências unilaterais, mas agora uma
transferência unilateral com uma outra dimensão e com outros intervenientes. Entram não
como transferências unilaterais, mas para a balança de capital.
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3) Balança financeira.
Depois, encontramos a balança financeira, que é a balança onde acabamos por encontrar os
desequilíbrios das outras balanças. Se for necessário fazer acertos, faz-se nesta balança
financeira. O que é que entra aqui nesta balança financeira? A balança financeira tem várias
componentes, nestas componentes umas podem ser positivas e outras podem ser negativas. O
investimento direito, aqui entram os saldos entre aquilo que é investimento de Portugal no
estrangeiro e aquilo que é investimento estrangeiro em Portugal. Se a Jerónimo Martins faz
investimento na Polônia, isso antes representava investimento português no estrangeiro. Agora
já não, a Jerónimo Martins transferiu a sua sede para a Holanda onde paga menos impostos.
Portanto, agora os investimentos da Jerónimo Martins na Polónia são exportação de capital
holandesa. Quando há investimentos diretos estrangeiros em Portugal, isso vai ao saldo.
Portanto, aquilo que nos interessa é se exportamos mais capital para o estrangeiro em termos
de investimento lá fora, ou se houve mais investimento português estrangeiro proveniente de
residentes no exterior da nossa economia. Depois, temos investimentos de carteira, estes não
são investimentos direitos como a compra de ativos ou a construção de ativos. Os investimentos
de carteira são aquisições de posições acionistas, por exemplo, de compras de aços no mercado,
na bolsa são transacionadas todos os dias ações de inúmeras empresas, da EDP, da Rene, da
Galp. Enfim, as empresas que são cotadas na bolsa são transacionadas, e há aqui investimentos
de carteira. Isto é, há desde logo gestores de ativo (sejam de fundos de pensões, sejam de
fundos de gestão de fortunas, etc), que andam sempre à procura de bons negócios para
ganharem dinheiro. Se uma qualquer análise de mercado disser que as ações do BCP estão
abaixo de qualquer valor que venham a valer amanhã ou em duas semanas, então vamos
comprar estas ações e depois quando subirem vamos vendê-las e ganhar dinheiro. Estes
investimentos de carteira também são registados na balança de pagamentos na balança
financeira. O que acontece para gestores de investimento estrangeiro que vêm à procura de
bons negócios na bolsa portuguesa, como também poderá acontecer, nalguma menor
dimensão, de gestores de ativos portugueses que vão à procura de negócios fora de Portugal. E,
portanto, também se fazem negócios no estrangeiro. O que interessa, no fundo, é verificar qual
dos dois fluxos é maior para calcular o saldo na balança de pagamentos, no caso, na balança
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Depois temos o ouro. O outro monetário. Portugal já foi um dos 5 países com maiores reservas
de ouro do mundo, noutros temos. Hoje é um dos 10 países com mais reservas de ouro do
mundo. Era uma política que Salazar tinha adotado, era um homem desconfiado e acumulava
outra. Durante muito tempo, julgava-se que acumular ouro só dava despesa, porque o ouro, no
sistema de Bretton Woods e do funcionamento monetário do FMI, tinha um valor fixo. Uma
onça de ouro valia 35 dólares e, portanto, de acordo com o compromisso que tinha sido
estabelecido em Bretton Woods, se tivermos uma onça de outro tínhamos 35 dólares. Passado
um ano tínhamos na mesma 35 dólares. Passados 10 anos tínhamos, ainda, 35 dólares. O valor
do dólar estava fixado em relação ao ouro. Normalmente, o que se fazia era, se o ouro vale
sempre a mesma coisa, transformamos o ouro em dólares, recebemos por cada onça de ouro
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Finalmente, na balança de pagamentos entram os erros e omissões, que são uma categoria
residual que permite que as contas batam certo. Se houver desequilíbrios nestes componentes
e, portanto, não tivermos uma balança de pagamentos que, no seu todo, tem valores iguais das
posições ativas e negativas, então, isso fica a dever-se a erros e omissões. Essa categoria residual
permite termos uma balança de pagamentos que é formalmente equilibrada. Esta balança
formalmente equilibrada decorre dos ajustamentos que são feitos necessariamente em algumas
destas posições. Se tivermos uma balança comercial, ou uma balança de transações correntes e
uma balança de capital, deficitárias, as duas, e se os movimentos na balança financeira não
forem compensadores, então, no fim, ou temos que estar a vender outro, ou temos que estar a
usar as nossas reservas cambiais e, portanto, estamos a diminuir os nossos ativos face ao
exterior, ou temos de estar a utilizar as nossas posições de reserva. É por isso que não se pode
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ter balanças que sejam permanentemente deficitárias, porque se não, esgotam-se as nossas
reservas das várias espécies e ficamos numa situação ainda mais complicada.
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Este movimento era posto em marcha pelo próprio desequilíbrio. Portanto, num padrão ouro,
supostamente, não é necessário haver qualquer política destinada a corrigir desequilíbrios na
balança de pagamentos, porque a própria circulação do ouro entre as diferentes economias
garante que esse reequilíbrio é reestabelecido.
Falando para já num mecanismo de correção automático, também por via preços, mas por uma
diferente via de fazer oscilar os preços. No sistema padrão ouro os preços das mercadorias
oscilavam, nos países inicialmente superavitários subiam, nos países inicialmente deficitários
desciam, portanto, eram um mecanismo de correção via preços.
Há um mecanismo automático de correção via preços, mas que opera em câmbios flutuantes.
Este mecanismo supõe também que há uma oscilação de preços, as não dos preços das
mercadorias, preços das moedas umas nas outras, ou seja, através da taxa de câmbio (preço de
uma moeda expresso noutras).
Para introduzir a questão do reequilíbrio automático da balança de pagamentos, vamos falar na
Teoria da Paridade dos Poderes de Compra:
Não podemos comparar níveis de rendimento em diferentes países atendendo apenas ao
número de unidades monetárias que as pessoas têm, porque o poder de compra da moeda é o
inverso do nível geral de preço, quer dizer que se os preços forem altos o poder aquisitivo da
moeda é baixo, mas se os preços forem baixos, o poder aquisitivo da moeda é alto. Portanto,
aquilo que interessa no que diz respeito à comparação dos níveis de vida internacionais nem é
tanto o PIB per capita (rendimento de uma economia distribuído pelo número dos seus
habitantes, como se essa distribuição equitativa per capita fosse a que corresponde à
distribuição interna do rendimento), mas sim saber realmente qual o poder aquisitivo que as
pessoas têm quando têm uma certa quantidade de moeda.
É claro nos países pobres, isto é, nos países em vias de desenvolvimento, o poder de compra de
cada unidade de moeda é muito superior ao poder de compra numa economia elevada, onde
os preços são mais elevados.
Portanto, o que tem que se comparar é o poder aquisitivo que as pessoas têm, quanto é que
gastam para comprar 1kg de arroz, quanto é que gastam para comprar um frango ou num índice
que é muito utilizado internacionalmente, quanto é que gastam para comprar um Big Mac.
No Big Mac Index temos o custo de um Big Mac nos diferentes países do mundo. Este é utilizado
como índice de poder de compra nos diferentes países pois este é um bem que está disponível
em toda a parte, em quase todas as economias do mundo se encontram McDonnalds e a
composição do Big Mac é sempre a mesma, o que quer dizer que este hambúrguer devia custar
o mesmo em toda a parte. Aquilo que se verifica é que há um a diferença muito significativa
entre aquilo que é o preço do Big Mac em cada país, e aquilo que deveria ser o preço do Big
Mac, se atendesse à taxa de câmbio oficial destes países. Por exemplo, na África do Sul o preço
é 2,15rand (moeda da África do Sul), quando se nós convertêssemos para dólares, daria 5,47$,
o rand está muito desvalorizado em relação ao dólar, está 62% abaixo daquilo que devia ser o
seu potencial aquisitivo em Big Mac.
Portanto, há aqui uma série de disparidades que nos alertam para isto: a Teoria da Paridade dos
Poderes de Compra deixa supor que nas economias o poder de compra deveria ser idêntico,
mas não é. Deveria ser idêntico, porque a lógica é esta, se uma determinada moeda tem mais
poder de compra do que outra, faz sentido que, por exemplo, convertamos dólares para rands
e compremos coisas em rands, se nós fizermos isto diminuem as aquisições que são feitas
diretamente em dólares e aumentam as que são feitas em rands, mas à medida que aumentam
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as aquisições feitas em rands, sobrem o preço das coisas que estão denominadas em rands. Por
outro lado, se estamos a converter dólares para rands para fazer compras, então diminui a
procura de bens produzidos na economia americana com o preço de dólares, e quando diminui
a procura destes bens produzidos internamente na economia americana então vai diminuir o
preço dos bens para eles poderem ser escoados novamente. A Teoria da Paridade dos Poderes
de Compra assenta nesta lógica, se uma moeda tiver um maior potencial aquisitivo do que outra,
então deixamos a moeda que tem menos potencial aquisitivo, compramos moeda que tem mais
potencial aquisitivo e compramos as coisas com essa moeda.
Porque é que isto não funciona? Porque há muitos bens non tradeable, não transacionáveis, um
desses bens são os bens alimentares. Claro que era muito mais barato para um americano
comprara rands e com esses rands comprar Big Macs, comprava mais do dobro na África do Sul
do que nos EUA, acontece que ele não pode fazer isso, ninguém pode encomendar nos EUA um
Big Mac proveniente da África do Sul.
Non tradeable goods – bens alimentares, eletricidade, fornecimentos de água, fornecimentos
de serviços médicos. Não se podem comprar bens que não tenham capacidade de exportação,
de deslocação no espaço.
O facto de não haver um potencial aquisitivo que seja inteiramente transferível de uma
economia para as outras, faz com que esta Tese da Paridade dos Poderes de Compra dê a ideia
de que as economias acabarão por tender para uma situação em que as diferentes moedas têm
o mesmo potencial aquisitivo. Se tiverem diferente potencial aquisitivo, os agentes económicos
preferem fazer é converter uma moeda com menos potencial aquisitivo numa moeda com mais
potencial aquisitivo e fazer as compras nessa moeda. Se todos os bens fossem transacionáveis,
podia ser que isto acontecesse, mas como há uma grande quantidade de bens que são não-
transacionáveis, não podem ser exportados de uma economia para serem consumidos noutra,
então há uma grande diferença naquele que é o potencial aquisitivo das diferentes moedas, há,
afinal de contas, uma Paridade dos poderes de compra que só se aplica aos bens que são
transacionáveis.
Tendo esta lógica por pano de fundo, há um mecanismo de reequilíbrio automático quando os
câmbios flutuam. Os câmbios flutuam desde logo quando não há intervenções corretivas do
valor das moedas, ou seja, se os bancos centrais não intervirem no mercado, então aquilo que
determina o valor das moedas é a sua procura relativa. Num determinado momento há muita
procura de dólares, supondo-se que a oferta dos mesmos se mantém estável, a cotação do dólar
sobre (o dólar fica mais caro). Suponhamos agora que há uma diminuição da procura de dólares,
então há um excesso de dólares de oferta em relação à procura, para que as pessoas que têm
esse excesso de dólares obtenham as outras moedas, têm que aceitar receber menos dessas
outras moedas (o dólar fica mais barato). Em câmbios flutuantes aquilo que determina o valor
das moedas é a sua é a procura relativa.
O que faz aumentar a procura da moeda, do euro, p.e.? As exportações feitas pela Europa, se
fizer mais exportações, quem compra os bens europeus tem que ter euros para os pagar, se a
europa exportar menos, então há menor procura de euros, porque as pessoas não precisam de
ter euros para viajar para a europa, para comprar carros europeus, etc. Portanto, o movimento
de mercadorias e serviços é uma das causas essenciais da procura das divisas, das moedas
internacionais, quanto maior for a procura maior é a pressão para a valorização da moeda.
Temos aqui a mesma lógica de reequilíbrio que encontramos a propósito ado mecanismo
padrão ouro, com a diferença de que no padrão ouro era o preço das mercadorias
transacionadas no plano internacional que subiam ou desciam, em câmbios flutuantes o único
preço que mexe é o de câmbio, o valor da moeda.
Imaginemos que num determinado momento há uma procura muito grande de euros porque a
europa se tornou mais superavitária do que era antes, então os outros países do mundo
precisam de mais dinheiro para poder pagar as importações que estão a fazer da europa, quando
aumenta a procura de euros, o valor do euro sobre, então as mercadorias exportadas pela
Europa ficam mais caras para os outros países, bem como vir fazer férias à Europa.
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Entre 1945 e 1971, o mundo viveu num sistema de estabilidade cambial, todas as moedas
tinham a sua cotação central em relação ao dólar e estavam obrigados a manter essa cotação.
Isto é, imagine-se o escudo, há uma tal procura de dólares no mercado, que em vez da taxa de
câmbio do escudo para o dólar ser 28,75 escudos, passa a ser 29 escudos. O Banco Central de
Portugal não pode permitir isso, tem que garantir que a paridade se mantém em relação ao
dólar. Portanto, se o escudo está a perder valor em relação ao dólar, o Banco Central compra
escudo e vende dólar. Disponibiliza no mercado dólares a 28,75 escudos, dessa forma não há
nenhum agente económico que compre os dólares a 29 escudos, sendo que os pode comprar
mais barato. O Banco de Portugal tem que garantir que a paridade se mantém, para que os
câmbios se mantenham estáveis no plano internacional.
Imagine-se agora que é o escudo que se está a valorizar, isto é, é o dólar que está a perder valor,
há um excesso de dólares no mundo. O dólar passa a transacionar-se para o escudo a 28
escudos. Nesse caso, o Banco Central de Portugal tem que comprar dólares no mercado a 28,75
escudos, não tendo que os vender por 28 escudos, recebem mais dinheiro pela venda.
Este mecanismo cria a possibilidade de os americanos fazerem o que quiserem com a sua moeda
e os custos de manutenção do valor do dólar caem sobre todos os outros bancos. Os outros
bancos do mundo é que têm que garantir o valor do dólar, quer ele perca valor (os bancos
compram dólar), quer ele ganhe valor (os bancos vendem dólar). Este arranjo de Bretton Woods
catapulta o poder económico americano para um plano inimaginável. Os EUA saem da 2ªGM
não só como uma potência, com a sua capacidade produtiva intacta, com a economia reativada
pelo esforço de guerra, com 75% das reservas de ouro mundiais (os outros países que
precisavam de comprar armamentos, não tendo maneira de os adquirir, transferem o ouro para
os EUA). Mas isto serviria de pouco se não tivessem depois a possibilidade de usar o dólar como
moeda internacional.
Isto estoira em 1971, ano em que o preço do ouro nos mercados internacionais já não tem nada
a ver com o preço do ouro fixado nos acordos de Bretton Woods. A única obrigação que os
americanos tinham era a de trocar dólares por ouro a uma taxa fixa (35$ por onça de ouro).
Os países do mundo não se importavam nada de ter dólares pois a qualquer momento podiam
trocar dólares por ouro. Quem não embarcou nisto foi Salazar, que em vez de ter dólares
preferia de ter ouro, tratando de acumular reservas de ouro.
Embora entre 1945 e 1971 o valor das moedas fosse fixo, e embora até 1971 os EUA aceitassem
converter dólares em ouro a esta cotação fixa. A 15 de agosto de 1971, os EUA, declararam
unilateralmente o fim da convertibilidade do dólar em ouro, pondo termo ao acordo de
estabilidade cambial de Bretton Woods.
Regressamos aos câmbios flutuantes.
Um arranjo em 1973 para garantir alguma estabilidade cambial, mas de facto voltámos ao
sistema de câmbios flutuantes, quer dizer que, hoje em dia as moedas oscilam em função da
procura e da oferta, portanto, temos o tal mecanismo de reequilíbrio das balanças de
pagamentos.
No artigo 4º do FMI há missões que vão vigiando o comportamento das economias para tentar
evitar que haja desequilíbrios tamanhos que originem desvalorizações. As desvalorizações das
moedas trazem perturbação ao sistema monetário internacional, por isso, o FMI tem esta
função de vigilância, de acompanhamento daquilo que é o funcionamento das economias para
evitar crises.
A coisa não correu nada bem em 2008, isso também levou a críticas muito grandes em relação
ao FMI. Pois o FMI andava a vigiar os países tinham dificuldades económicas, mas não vigiava as
economias supostamente poderosas. Portanto, não viu os problemas que estavam a ser
acumulados na economia norte-americana. Daí resultaram também algumas alterações no
funcionamento do FMI, mas não parecem ter alterado a assimetria da vigilância que o FMI faz
aos países.
Na Europa o reequilíbrio supostamente deveria ser feito através do aumento do
desenvolvimento das regiões mais periféricas e mais atrasadas, portanto, deveria haver, através
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Mariana Santos e Mariana Gonçalves 2019/2020
dos fundos regionais capacidade para que as diferentes economias criassem condições para não
manter desequilíbrios entre elas. Até já se sugeriu a criação de um fundo específico para auxiliar
as economias que tivessem, num determinado momento, dificuldades de balança de
pagamentos, mas as coisas não foram suficientes.
Um dos problemas que Portugal teve na sequência da crise de 2011/12 foi que, para responder
à crise de 2008 os Estados tiveram de lançar dinheiro no mercado, o que fez com que
aumentassem as dívidas, o que criou suspeitas nos mercados internacionais quanto à
capacidade de sustentação dessas dívidas, deixaram de ter acesso a financiamento externo,
tendo que recorrer ao FMI, no caso, ao Banco Central Europeu e à Comissão Europeia, a célebre
TROIKA, que obrigou a políticas de austeridade, isto é, políticas de correção dos desequilíbrios
que passaram por restrições àquilo que era a atividade normal da economia. Desde logo, evitar
que comprássemos tanto ao estrangeiro e promover as exportações para o estrangeiro, isso
conseguiu-se através de uma política de diminuição interna de preços, as pessoas tinham menos
capacidade de compra ao estrangeiro, o que faria com que houvesse menos desequilíbrio no
que diz respeito a importações e, por outro lado, esmagar os preços dos bens que fossem
produzidos internamente, para que se tornassem mais competitivos lá fora, de modo a que
houvesse mais exportações.
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