You are on page 1of 19
CORRENTES DO ECOLOGISMO Este livro trata do crescimento do movimento ecologista ou ambientalista, uma explosio de ativismo que nos fa recordar, transcorrido quase um século e meio,o inicio do movimento socialista ¢ a Primeira Internacional.Contudo,nesse movimento, surgido numa sociedade de redes (como a denomina Manuel Castells), afortunadamente nao existe um comité executive. © ecologismo! ou ambientalismo se expandiu como uma reagio ao crescimento econdmico. Caberia assinalar que nem todos os ambientalistas se opdem ao crescimento econdmico. Alguns, até o apdiam em razio das promessas tecnolégicas que ele apresenta. Na realidade, é perfeitamente plausivel afirmar que nem todos os ecologistas pensam ou atuam de modo semelhante. Posso distinguir trés correntes principais que pertencem todas ao movimento ambientalista e que tém diversos elementos comuns:“o culto ao silvestre”, 0 “evangelho da ecoeficiéncia” e “o ecologismo dos pobres”. Tais vertentes sio como canais de um tinico rio, ramificagdes de uma grande drvore ou variedades de uma mesma espécie agricola (Guha e Martinez Alier, 1999, 2000). Os antiecologistas se opdem a essas trés correntes do ecologismo, as depreciam, desqualificam ou ignoram. Nesse contexto, oferecerei uma explanagio sobre estas trés correntes do ambientalismo, sublinhando as diferengas entre elas. Uma caracteristica substantiva de cada uma, enfatizada aqui, é a sua relagio "As palavras ambientalismo ¢ ecolegismo estio indistintamente empregadas neste texto. Os usos variam: na © ECOLOGISMO DOS POURES com as diferentes ciéncias ambientais, tais como a biologia da conservacio, a ecologia industrial ¢ outras. Suas relagdes com o feminismo, com o poder de Estado, com a religiio, com os interesses empresariais ou com outros movimentos sociais ndo sio menos importantes enquanto referéncias para defini-las. O culto 4 vida silvestre Em termos cronolégicos, de autoconsciéncia e de organiza¢io, a primeira corrente é a da defesa da natureza intocada, 0 amor aos bosques primirios ¢ aos cursos d’4gua. Trata-se do “culto ao silvestre”, tal como foi representada ha mais de cem anos por John Muir e pelo Sierra Club dos Estados Unidos. Passaram-se por volta de cingiienta anos desde que A ética da terra, de Aldo Leopold, direcionou a aten¢io no 6 para a beleza do meio ambiente, como também para a ciéncia da ecologia. Leopold graduou-se como engenheiro florestal, posteriormente, utilizou a biogeografia ¢ a ccologia dos sistemas, além de seus dons literérios ¢ sua aguda percepcio da vida selvagem, para mostrar que as florestas possuiam varias funges:0 uso econdmico e a preservacao da natureza (isto é, tanto a producio de madeira como a vida silvestre) (Leopold, 1970). O“culto ao silvestre” nao ataca 0 crescimento econdmico enquanto tal. Até mesmo admite sua derrota na maior parte do mundo industrializado. Porém, coloca em discussio uma “aio de retaguarda”, que nas consideragdes de Leopold visam a preservar e manter 6 que resta dos espacos da natureza original situados fora da influéncia do mercado.’ O “culto ao silvestre” surge do amor As belas A biologia da conservacio, que se desenvolve desde 1960, fornece a base cientifica que respalda paisagens e de valores profundos, jamais para os interesses niateria essa primeira corrente ambientalista. Dentre suas vit6rias, podemos mencionar a Convengao da Biodiversidade no Rio de Janeiro em 1992 (que desgragadamente permanece sem a ratificacio dos £uA), ¢ a notavel Lei de Espécies em Perigo dos Estados Unidos, cuja retérica apela aos valores utilitaristas, mas que claramente prioriza a preserva¢io sobre 0 uso mercantil. Nao consideramos necessirio responder, ¢ nem sequer perguntar, a respeito de como ocorreu a transi¢o da biologia descritiva para a conserva¢3o normativa, ou, colocando de uma outra maneira, se nao seria coerente que os bidlogos permitam que 0 proceso ora em curso prossiga de modo a eclodir numa sexta grande extingao da biodiversidade (Daly, 1999). De fato, os bidlogos da conserva¢io contam com conceitos e teorias — ? Ou, mais precisamente, se deveria dizer fora da economia industrializada, em razio de que a protegio a natureza, na forma de uma rede de reservas naturais cientificas, zapovedniki, também existia na Riissia CORRENTES DO ECOLOGISMO hot spots, espécies cruciais — evidenciando que a perda da biodiversidade caminha a pasos largos. Os indicadores da pressio humana sobre o meio ambiente, caso do indice avPPt, isto é,referente 4 apropriagdo humana da produgio priméria Kiquida de biomassa (ver capitulo“ indices de (in)sustentabilidade e neomalthusianismo”), evidenciam que uma proporgao cada vez menor de biomassa esti disponivel para espécies que nio sejam a humana ou associadas aos humanos. Sem dtivida, em muitos paises europeus (Haberl, 1997), as areas de floresta esto em expansio. Mas isso se deve A substituicdo da biomassa por combustiveis fosseis a partir de 1950, ¢ também pela crescente importa¢io de ragio para o gado. De qualquer modo, a Europa Ocidental ¢ a Europa Central sio pequenas e pobres em biodiversidade. O que importa é saber se a continua expansio da AHPPL no Brasil, México, Colémbia, Peru, Madagascar, Papua-Nova Guiné, Indonésia, Filipinas e India, para lembrar alguns dos paises com megadiversidade,conduzird a crescente desapari¢io da vida silvestre. Mesmo que inexistissem raz6es cientificas, existem sem davida alguma motivos estéticos e até utilitarios (espécies comestiveis e medicinais para 0 futuro), que justificariam a preservagio da natureza. Uma outra motivacio poderia ser 0 suposto instinto da “biofilia” humana (Kellert ¢ Wilson, 1993; Kellert, 1997). De resto, alguns argumentam que as demais espécies possuem direito 4 vida e nessa acepgao nao teriamos qualquer direito em elimind-las. Eventualmente, essa corrente ambientalista apela para a religido, como parece ilustrar a vida politica nos Estados Unidos. Pode apelar para o panteismo ou para asreligides orientais, menos antropocéntricas do que o cristianismo ou 0 judaismo. Pode ainda, escolher eventos biblicos apropriados,como a Arca de Noé,um caso notavel de conserva¢ao ex situ. Seria igualmente possivel constatar na tradi¢io cristi 0 caso excepcional de Sao Francisco de Assis, que se preocupou com os pobres e com alguns animais (Boff, 1998). Entretanto, mais razodvel seria, nas Américas do Norte e do Sul, procurar respaldo numa realidade bem mais proxima:a do valor sagrado da natureza nas crengas indigenas que sobreviveram 4 conquista européia. Por fim, sempre hé a possibilidade de criar novas religides. A sacralidade da natureza ou de partes dela assume neste livro uma conotagao importante. Notadamente por duas raz6es: em primeiro lugar,em fungio do papel real da esfera do sagrado em algumas culturas; em segundo lugar, porque contribui para esclarecer um tema central na economia ecolégica, a saber, a incomensurabilidade dos valores. E, nessa acep¢io, nao apenas o sagrado, como também outros valores sio incomensuraveis ante 0 econdmico.Contudo, basta que o sagrado intervenha na sociedade de mercado para 0 conflito tornar-se inevitavel, da mesma forma que acontecia quando, no sentido oposto, os mercadores invadiam o templo ou as indulgéncias eram vendidas pela Igreja. Durante os tltimos trinta anos, 0 “culto ao sagrado” tem sido representado no ativismo ocidental pelo movimento da “ecologia profunda” (Devall ¢ Sessons, 1985), que propugna uma atitude biocéntrica ante a natureza, contrastando com a postura antropocéntrica superficial. A agricultura tradicional ou moderna desagrada aos ecologistas profundos em razio de ter conquistado espago as expensas da vida silvestre. A principal proposta politica dessa corrente do ambientalismo consiste em manter reservas naturais, denominadas parques nacionais ou naturais, ou algo semelhante, livres da interferéncia humana. Existem grada¢6es a respeito das proporgdes que as areas protegidas toleram em termos da presen¢a humana, se estendendo desde a exclusio total até o manejo consorciado com as populagées locais. Os fundamentalistas do silvestre entendem que a gestdo conjunta nada mais configura do que convertera impoténcia em virtude,sendo a exclusio 0 seu ideal. Uma reserva natural poderia admitir visitantes, mas nao habitantes humanos. O indice auppL poderia tornar-se politicamente relevante caso exista uma massa critica de investigagao e um consenso quanto aos métodos de cAlculo, esclarecendo sua relagio mais exata com a perda de biodiversidade. Nesse caso. um pais ou regiio poderia decidir por uma redugio da sua AHPPL, digamos 50% a 20% num certo periodo de tempo. Metas mundiais também poderiam ser estabelecidas, da mesma maneira que hoje sio concordados ou discutidos limites ou cotas para as emiss6es de clorofluorocarbono (crc), de diéxido de enxofte, do diéxido de carbono ou para pesca de determinadas espécies. Os bidlogos e fildsofos ambientais sio atuantes nessa primeira corrente ambientalista, que irradia suas poderosas doutrinas desde as capitais do Norte, como Washington e Genebra, até a Africa, Asia e América Latina, apoiados por organizacées bem estruturadas como a International Unionfor the Conservation of Nature (IUCN), 0 Worldwide Fund of Nature (wwe) e Nature Conservancy. Hoje em dia, nos Estados Unidos nio sé se preserva a vida silvestre,como também cla é restaurada através da desativaao de algumas represas, da recuperagio dos Everglades* da Florida ou pela reintrodugio dos lobos no Parque de Yellowstone. O silvestre restaurado realmente equivale a uma natureza domesticada, talvez terminando por se converter em parques temiticos silvestres virtuais. Desde 05 finais dos anos 1970, 0 aprofundamento da estima pela vida silvestre tem sido interpretado pelo cientista politico Ronald Inglehart (1977, Ver Callicott ¢ Nelson (1998), sobre o grande debate sobre o silvestre nos Estados Unidos, iniciado por Ramachandra Guha (1989), com sua “Critica com base no Terceiro Mundo” dirigida aos “ecologistas profundos” e aos bidlogos da conservagio. * NT: Os Everglades formam um ambiente aquitico que domina extensdes meridionais da Florida, Sua frea atual (5.247 km?) corresponde somente a 20% da superficie original. No entanto, esses pintanos, ap6s anos de depredacio, tém sido alvo de campanhas de. recupera¢io. Diversos estudos demonstram que os Everglades sio de importincia essencial para 0 abastecimento de agua doce, CORRENTES DO ECOLOGISMO 1990, 1995), nos termos de um “pds-materialismo”, isto é, denotativo de uma ummaioraprego mudanga cultural na dire¢ao de novos valores sociais,que implic: pela natureza 4 medida que a urgéncia das necessidades materiais diminui em fungao de j4 terem sido satisfeitas. E desse modo que a mais prestigiosa revista de sociologia ambiental dos Estados Unidos, Society and Natural Resources,teve origem em um grupo de estudos sobre 0 6cio, que entendia o meio ambiente como um. luxo e nao como uma necessidade cotidiana. O corpo de membros do Sierra Club, da Audubon Society, da wwr e de organizacdes similares se expandiu consideravelmente nos anos 1970, possivelmente em razio de uma mudanga cultural caracterizada por uma maior estima pela natureza por parte de um segmento da populagio dos Estados Unidos e outros paises ricos. Sem divida, o termo “pés-materialismo” é terrivelmente equivocado (Martinez Alier Hershberg, 1992; Guha e Martinez Alier, 1997). Sociedades como as dos Estados Unidos, a Uniio Européia e 0 Japio, cuja prosperidade econémica depende da utilizacio de uma enorme quantidade per capita de energia e de materiais, assim como da livre disponibilidade de areas para descarte de residuos ¢ depésitos temporarios para seu diéxido de carbono,claramente contestariam este conceito. De acordo com pesquisas,a populacdo da Holanda encontra-se na posi¢io mais alta da escala de valores sociais denominados “p6s-materialistas” (Inglehart, 1995). Contudo,a economia holandesa persiste na sua dependéncia de um grande consumo per capita de energia e matérias-primas (World Resources Institute, et al., 1997). Contrariamente a Inglehart, eu defendo que o ambientalismo ocidental nao cresceu nos anos 1970 em fungao de as economias terem alcangado uma etapa““pos-materialista”, mas exatamente ao contrario pelas preocupagdes muito materiais decorrentes da crescente contaminagdo quimica ¢ 0s riscos e as incertezas suscitados pelo uso da energia nuclear. Tal perspectiva materialista conflitiva do ambientalismo tem sido proposta desde os anos 1970 por sociélogos estadunidenses como Fred Buttel ¢ Allan Schnaiberg. A organizacio Amigos da Terra nasceu por volta de 1969, quando David Brower, diretor do Sierra Club, se incomodou com a falta de oposigio de sua 21). Os Amigos da Terra adotaram a denominagio inspirados numa das frases de John Muir: “A Terra institui¢3o quanto a energia nuclear (Wapner, 1996: pode sobreviver bem sem amigos, mas os humanos, se quiserem sobreviver, devem aprender a ser amigos da Terra”. A resistencia contra a hidroeletricidade no oeste dos Estados Unidos, tal como foi encabecada pelo Sierra Club, transcorria em paralelo com a defesa das paisagens dotadas de beleza natural ¢ de espagos silvestres, como nas famosas mobilizagdes em defesa dos rios Snake, Colimbia e Colorado. A resistencia contra a energia nuclear iria se basear, nos © ECOLOGISMO DOS PODRES e com os vinculos entre os usos militar ¢ civil da tecnologia nuclear. Hoje, problema dos depésitos de dejetos radioativos é cada vez mais importante no contexto dos Estados Unidos (Kuletz, 1998). Agora, com mais de trinta anos nas costas, 0s Amigos da Terra sio uma confederagio formada por diversos grupos atuantes em paises distintos. Enquanto alguns grupos se orientaram em favor da vida silvestre, outros passaram a se preocupar com a ecologia industrial, € outros ainda, se envolveram com os conflitos ambientais e de direitos humanos provocados pelas empresas transnacionais no Terceiro Mundo." Os Amigos da Terra da Holanda conquistaram um reconhecimento importante no inicio dos anos 1990 devido a seus cilculos sobre 0 “espaco ambiental”, demonstrando que esse pais estava utilizando recursos ambientais ¢ servicos muito maiores do que os oferecidos pelo seu proprio territério™ (Hille, 1997). De resto, 0 conceito de “divida ecol6gica” (ver capitulo “A divida ecolgica”) foi incorporado nos finais dos anos 1990 aos programas e campanhas internacionais dos Amigos da Terra. Desse modo, estamos longe do “pés-materialismo”. O evangelho da ecoeficiéncia Ainda que as correntes do ecologismo estejam entrelagadas, 0 fato ¢ que a primeira corrente, a do “culto ao silvestre”, tem sido desafiada durante muito tempo por uma segunda corrente preocupada com os efeitos do crescimento econdmico, nao s6 nas areas de natureza original como também na economia industrial, agricola e urbana, Trata-se de uma corrente aqui batizada como “credo — ou evangelho — da ecoeficiéncia”. Sua atencio esté direcion’ada para os impactos ambientais ou riscosa satide decorrentes das atividades industriais,da urbanizagio e também da agricultura moderna. Essa segunda corrente do movimento ecologista se preocupa com a economia na sua totalidade. Muitas vezes defende © cresciinento econdmico, ainda que nio a qualquer custo. Acredita no “desenvolvimento sustentavel”, na “modernizagio ecolégica” e na “boa utilizago” dos recursos. Preocupa-se com os impactos da produgio de bens e * Nota da Revisio Técnica (N.R.T):A expressio Primeiro Mundo indicava os paises desenvolvidos do chan bloco capitalista durante os anos da Guerra Fria, distinguindo-os dos que formavam 0 Segundo Mundo, 0 socialistas, e dos paises do Terceiro Mundo, que estava internacional em que aqueles dois blocos desapar mundos perde 0 sentido. Apesar disso, emprega-se essa divisio regional do mundo com muita freqiiénc excluidos desses dois grupos. Em um contexto mn, a divisio regional em primeiro, segundo e terceiro Entre os especialistas, organizam-se novas divis6es regionais do mundo segundo critérios como a renda da populacio (paises de renda elevada, renda média e renda baixa),o indice de Desenvolvimento Humano, que combina variiveis como renda, escolaridade e satide da populagio para discriminar paises, entre outros, “NT: Este conceito é também formulado nos termos da chamada ecological footprint, isto & CORRENTES DO ECOLOGISMO como manejo sustentavel dos recursos naturais,¢ nao tanto pela perda dosatrativos da natureza ou dos seus valores intrinsecos. Os representantes dessa segunda corrente utilizam a palavra“natureza” porém falam mais precisamente de“recursos naturais”, ou até mesmo “capital natural’ ¢“servicos ambientais’. A extingao de aves, ris ou borboletas “bioindica” problemas, tal Como a morte de candrios nos capacetes dos mineiros de carvio.* Contudo, essas espécies, enquanto tais, nio possuem direito indiscutivel 4 vida. Esse credo é atualmente um movimento de engenheiros e economistas, uma religido da utilidade e da eficiéncia técnica desprovida da nogao do sagrado. Nos anos 1990, seu templo mais importante na Europa foi o Instituto Wuppertal, localizado em meio a uma feia paisagem industrial. Neste texto, denominamos essa corrente de“evangelho da ecoeficiéncia” em homenagem & descrigio de Samuel Hays a respeito do “Movimento Progressista pela Conservagio” dos Estados Unidos, atuante entre 0s anos de 1890 ¢ 1920, enquanto um “evangelho da eficiéncia” (Hays, 1959). Hé cem anos,o personagem mais conhecido deste movimento nos Estados Unidos era Gifford Pinchot, formado nos métodos europeus de manejo florestal cientifico. Entretanto, essa corrente também possui raizes em outros campos que nio o florestal, como provam os muitos estudos realizados na Europa desde meados do século xix sobre 0 uso eficiente da energia e sobre a quimica agricola (0s ciclos de nutrientes) em 1840 sobre a dependéncia do guano™" importado, ou quando Jevons,""** em 1865, escreveu seu livro sobre 0 carvao, assinalando que uma maior eficiéncia Essa nogao é implicita, por exemplo, quando Liebig’* advertiu das mquinas a vapor poderia,paradoxalmente, respaldar uma utilizagio ampliada do carvio ao baratear seus custos de producao. Outras raizes dessa corrente podem ser encontradas nos numerosos debates do século x1x entre engenheiros e especialistas em satide pablica quanto 4 contaminagio industrial ¢ urbana. Hoje, nos Estados Unidos ¢ de modo ainda mais acentuado na superpovoada Europa, na qual muito pouco resta da natureza original, o credo da “ecoeficiéncia” domina os debates ambientais, tanto os sociais quanto os politicos. Os conceitos-chave sio as“‘curvas Ambientais de Kuznets”, pelas quais o incremento de investimentos conduz, em primeiro lugar, a um aumento da contaminagao, mas no final conduz a sua redugio; o “desenvolvimento * N-T:: No passado, aves eram utilizadas nas minas para acusar emanagdes de gases venenosos. “NT: Referéncia a Justus von Liebig (1803-1873), renomado quimico alemio, com ampla atividade cientifica no processamento de alimentos e produgio de fertilizantes. °° N.T: Fertilizante natural encontrado nas ilhas do litoral pacifico da América do Sul, principalmente do Peru. N.T:: Referéncia a William Stanley Jevons (1835-1882), economista britinico, © ECOLOGISMO DOS POBRES sustentavel”, interpretado como crescimento econémico sustentivel;a busca de solugdes de “ganhos econdmicos e ganhos ecolégicos” — win-win" ~, ¢ a “modernizagao ecolégica”, terminologia inventada por Martin Jaenicke (1993) ¢ por Arthur Mol, que estudou a indastria quimica holandesa (Mol, 1995, Mole Sonnenfeld, 2000, Mol e Spargaren, 2000). A modernizagao ecologica caminha sobre dus pernas: uma econémica, com ecoimpostos e mercados de licencas de emissdes; a outra, tecnol6gica, apoiando medidas voltadas para a economia de energia e de matérias-primas.Cientificamente, essa corrente repousa na economia ambiental (cuja mensagem é sintetizada em “conquistar pregos corretos” por intermédio da“internalizacio das externalidades”) ¢ na nova disciplina da Ecologia Industrial, voltada para o estudo do “metabolismo industrial” aprofundado tanto na Europa (Ayres ¢ Ayres, 1996,2001), quanto nos Estados Unidos. Neste Giltimo. caso, trata-se precisamente da Escola Florestal e de Estudos Ambientais da Universidade de Yale, fundada sob 0 auspicio de Gifford Pinchot, responsavel cology). Assim, a ecologia se converte em uma ciéncia gerencial para limpar ou remediar a degradacio causada pela industrializagio (Visvanathan, 1997: 37) Os engenheiros quimicos estio particularmente ativos nessa corrente, Os pela edigio do excelente Journal of Industrial biotecndlogos tentaram inserir-se nela com promessas de sementes de aborat6rio que prescindiriam dos praguicidas e com a realizagio de uma sintese melhor do nitrogénio atmosférico, ainda que jé tenham encontrado uma resistencia piblica as organismos geneticamente modificados (oGm) Indicadores ¢ indices como os referentes ao uso de insumos de matérias-prim: por unidade de servigo, pmR/TMR (ver capitulo “{ndices de (in)sustentabilidade neomalthusianismo”), calculam 0 progresso da “desmaterializa¢ao” em relagio com © Produto Interno Bruto (PIs), ou, inclusive, em termos absolutos. As melhorias em ecoeficiéncia em nivel de uma empresa sio avaliadas no decurso da anilise/do ciclo de vida dos produtos ¢ processod eda auditoria ambiental.) Efetivamente, a “ecoeficiéncia” tem sido descrita como “o vinculo empresarial com od sIvimento sustentivel”. Mais além dos seus multiplos usos para a “limpeza verde") a ecoeficiéncia conduz a um programa extremamente valioso de investigagio, de relevancia mundial, sobre © consumo de matérias-primas ¢ energia na economia ¢ sobre as possibilidades de desvincular o crescimento econdmico da sua base material. Tal investigagio sobre 0 metabolismo social possi uma larga historia (Fisher-Kowalski, 1998; Haberl, 2001). Existem duas interpretagdes: a otimista e a pessimista (Cleveland ¢ Ruth, 1998) no “grande debate sobre a desmaterializa jo” que agora esti se iniciando. + ane siomifica ane todos podem obter 0 que desejat CORRENTES DO ECOLOGISMO A classificacao das correntes de um movimento, como propomos neste capitulo, tende a incomodar as pessoas que pretendem nadar nos seus redemoinhos. Nao obstante, uma recente histéria do ambientalismo estadunidense (Shabecoff, 2000) inicia como segue: “Faz um século, em meio a uma tormenta nas alturas de Serra Nevada, um homem fraco e barbudo subiu até a copa de uma conifera que oscilava fortemente para, segundo explicou, desfrutar do prazer de cavalgar o vento. Uns poucos anos mais tarde, o primeiro chefe do servi¢o florestal do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, um aristocritico engenheiro florestal formado na Europa, andava a cavalo pelo parque Rock Creek, de Washington D.C., quando repentinamente Ihe ocorreu uma idéia. Considerou que a satide e a vitalidade da nagio dependiam da satide e vitalidade dos recursos naturais” (Shabecoff, 2000: 1). E facil adivinhar que os dois personagens descritos sio John Muir ¢ Gifford Pinchot. Tornou-se usual tragar a diferenga existente entre ambos: no primeiro caso, uma reveréncia transcendental para com a natureza; no segundo so, a gestdo cientifica dos recursos naturais para conseguir sua utilizacio permanente. Resulta mais polémica a inclusio por Shabecoff de um terceiro personagem no nascimento do ambientalismo nos Estados Unidos. Trata-se de um partidario de Pinchot, a saber, o presidente Teodoro Roosevelt, um homem muito distante de ser um ecopacifista.A esta listagem de trés personagens, se podem agregar outros grandes precursores (G. P. Marsh) ¢ grandes sucessores (Aldo Leopold, Rachel Carson, Barry Commoner). Ainda que seja possivel reclamar a inclusio de Lewis Mumford, e destacar outras tradigdes do ambientalismo, incluindo a imponente figura de Alexander Von Humboldt, de dois séculos atris, a genealogia do ambientalismo estadunidense esti muito bem demarcada e dificilmente sofrera modificagdes. Tém sido duas, por conseguinte, as correntes principais: 0 “culto ao silvestre” John Muir) ¢ 0 “credo da ecoeficiéncia” (Gifford Pinchot). A historia da preocupagio pelo meio ambiente é mais complicada do que temos relatado até aqui. Por volta de 1900, 0s Estados Unidos,como o restante da sociedade ocidental, assumiu um compromisso com a idéia do progresso, dominada pelo utilitarismo. A civilizagio estadunidense emergia da sua mentalidade fronteiriga, na qual parecia normal disparar contra qualquer ser vivente. Por exemplo, o ornitélogo Frank Chapman institui censos relativos as aves desenvolvidos no periodo natalino para despertar a opiniio publica contra as competicdes de tiro no Ano Novo, que ainda eram comuns,¢ as matangas anuai de serpentes cascavéis, que continuam a ser uma pritica desportiva local no sudoeste americano. Houve igualmente queixas de pescadores desportivos contra a contaminagao dos rios e das represas, assim como se criticaram o desmatamento € 0 exterminio do bisio. Nasceu 6 movimento Audubon (1896), que se tornou mais influente do que o Sierra Club nessa mesma época.* Contudo,asimplificagio do combate “John Muir vs. Gifford Pinchot” nio faz justiga 4 riqueza do ambientalismo dos Estados Unidos, deixando de lado uma parte dessa historia. Exemplificando, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos existiram criticos ecol6gicos da economia desde meados do século xix em diante,aos quais dediquei um livro inteiro ha quinze anos. Por que entao nao citar novamente, entre os autores estadunidenses, 0 economista Henry Carey, que lamentava a perda da fertilidade agricola? Por que nao citar a “Carta aos Professores de Histéria dos Estados Unidos”, de Henry Adams, com sua discussio (de segunda mio) sobre entropia e economia? Por que nao citar 0 “imperativo energético” do mentor de ‘Henry Adams, Wilhelm Ostwald:“Nao desperdice nenhuma energia, aproveite- a” (Martinez Alier ¢ Schlupmann, 1991). No contexto colonial europeu, Richard Grove descreveu os intentos dos franceses ¢ ingleses em preservar as matas, que remontou aos finais do século xvi localizados emalgumas pequenasilhas agucareiras como Mauricio—na qual o modelo foi de nove porgées de cana-de-agticar para cada uma de floresta preservada ~, uma proporgio melhor que a reservada pelos espanh6is nas regides ocidentais de Cuba colonial ou pelos estadunidenses em Cuba oriental pés-colonial em principios do século xx. Tal como a hist6ria é relatada por Richard Grove,acrenga na teoria francesa de “dessecagio”, que entende o desflorestamento como causa do declinio da chuva, orientou jé em 1791 a aprovagio, na ilha caribenha de San Vicente, de uma legislacio para preservar trechos de mata “para atrair a chuva”.® Essa politica ambiental, também praticada em outras ilhas como Santa Helena sob a doutrina de Pierre Poivre ¢ outros estudiosos e administradores coloniais, foi implementada 120 anos antes de Gifford Pinchot ingressar em Yale.No Brasil, José Augusto Padua (2000) mostra a consciéncia clara, constatada desde os primérdios do século x1x em autores e politicos (relativamente fracassados) como José Bonifacio, a respeito dos vinculos existentes entre a escravidio,a minera¢io ¢ a agricultura de plantation que arruinow a selva da costa atlantica.* Tndiscutivelmente, no que se refere a todos esses precedentes — em que pese a “ Agradego aos comentarios escritos de Roland C. Clements, 28 de janeiro de 2000. > Apresentagio na Escola de Silvicultura c Estudos Ambientais da Universidade de Yale, 4 de fevereiro de 2000, também Grove (1994) * N.T: Eis como José Bonificio, considerado por muitos ambientalistas brasileiros 0 “Patriarca do Reflorestamento”, registrava, em 1823, esse processo de devastagio: “A Natureza fez tudo a nosso favor, nds, porém, pouco ou nada temos feito a favor da Natureza. Nossas terras esto ermas, as poucas que temos rotcado sio mal cultivadas, porque 0 si por bragos indolentes e forgados. Nossas numerosas minas, por falta de trabalhadores ativos € instruidos, estio desconhecidas ou mal aproveitadas. Nossas preciosas matas CORRENTES DO ECOLOGISMO existéncia de muitos autores de fora da Europa e dos Estados Unidos e mesmo. também considerando as complexidades da preocupagdo ambiental no interior dos Estados Unidos —, para os propésitos deste livro reitero a opiniio de que as duas correntes ecologistas dominantes, nao s6 nos Estados Unidos como também no cenério mundial, so “o culto ao silvestre” e 0 “credo da ecoeficiéncia” (esta ultima com muitas contribuigdes européias nas duas tiltimas décadas). Os verdes alemies, que eram internacionalistas, uniram-se ao movimento europeu da ecoeficiéncia. Em 1998, um amigo meu, Domingo Jiménez Beltran, diretor executivo da Agéncia Ambiental Européia, fez um discurso no Instituto Wuppertal intitulado “Ecoeficiéncia, a resposta européia ao desafio da sustentabilidade”. Eu © contestei dizendo-Ihe que escreveria um livro sobre “Ecojustiga, a resposta do Terceiro Mundo ao desafio da sustentabilidade”’. Trata-se justamente deste livro. Segundo Cronon, “durante décadas a concepgao de um mundo silvestre tem sido um principio fundamental — de fato, uma paixio — do movimento ambiental, em particular dos Estados Unidos” (Cronon, 1996: 69). Parece existir uma afinidade entre “o silvestre” e a mentalidade estadunidense (Nash, 1982). Sabemos,entretanto, que o silvestre € pouco “natural”. Nesse sentido, como explica Cronon (¢ também Mallarach, 1995), 0s “parques nacionais” foram criados depois do deslocamento ou da eliminagio dos povos nativos que viviam nesses territérios O parqueYellowstone nao foi o resultado de uma concepgio isenta de controvérsias. Nio obstante, a relagio entre sociedade e natureza nos Estados Unidos tem sido observada com base em termos: sujeita a transformac silvestre”, Mais precisamente, acredito na tese de Trevelyan pela qual o aprego pela io de uma historia socioecol6gica dialética ¢ mas sim de uma reveréncia profanda e permanente “pelo natureza se expandiu de modo proporcional 4 destruigdo das paisagens provocada pelo crescimento econémico (Guha e Martinez Alier, 1997: xii). Nao sem razio, também argumenta-se que nos Estados Unidos, asegunda corrente, qual seja,a referente a conservacao e ao uso eficiente dos recursos naturais, procede da primeira corrente, preocupada com a preserva¢io da natureza (ou de algumas das suas partes), uma cronologia que se tornou plausivel devido a ripida industrializagao dos Estados Unidos aos finais do século xtx. Desse modo, Beinart © Coates (1995: 46), na sua breve historia ambiental comparativa dos Estados Unidos ea Repitblica Sul-Africana,consideram a preservagaio do mundo silvestre vio desaparecendo, vitimas do fogo ¢ do machado destruidor da ignorincia ¢ do egoismo. Nossos montes ‘ostas vao-se escalvando diariamente ‘om © andar do tempo, faltario as chuvas fecundantes que fam a vegetagio ¢ alimentem nossas fontes ¢ rios, sem 0 que 0 nosso belo Brasil, em menos de dois séculos, ficari reduzido aos piramos de desertos aridos da Libia. Vird entio este dia (dia terrivel e fatal), em que a ultrajada natureza se ache vingada de tafitos erros e crimes cometidos.”("Representagio 4 Assembléia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil sobre a escravatura”, em Octaviano Nogueira (org.), Obra noltica de losé Bonifacio. Brasilia. Senado Federal. 1973 118251). © ECOLOGISMO DOS POBRES uma idéia mais recente que a corrente da ecoeficiéncia. A esse respeito, escrevem oseguintesquando a ética utilitarista (de Pinchot) dominava, este outro pequeno afluente preservacionista,ndo mais,naquele momento,do que um pequeno riacho, merecia aten¢io porque se convertia no canal principal do ambientalismo moderno”. Samuel Hays, especialista em historia dos problemas urbanos e de satide nos Estados Unidos, concorda com o anterior (Hays, 1998: 336-337). Porém, seja qual for a corrente que detém a primazia,as duas vertentes do ambientalismo — 0 “culto ao silvestre” e “o credo da ecoeficiéncia” — convivem entido, observamos que se a procura utilitarista da eficiéncia no manejo florestal poderia atualmente em simultaneidade, entrecruzando-se as vezes. Nesse confrontar-se com 0s direitos dos animais, num sentido oposto os mercados reais ou ficticios de recursos genéticos ou de paisagens naturais, poderiam ser entendidos como instrumentos eficientes visando 4 sua preservagio. A idéia de estabelecer contratos de bioprospec¢ao foi primeiramente promovida na Costa Rica por um bidlogo conservacionista, Daniel Janzen, que evoluiu na diregio de uma economia dos recursos naturais. A Convengio da Biodiversidade de 1992 propoe 0 acesso mercantil aos recursos genéticos como o principal instrumento para a conservacio (ver capitulo “Ouro, petrdleo, florestas, rios, biopirataria: 0 ecologismo dos pobres”). Contudo,a comercializagio da biodiversidade constitu um instrumento perigoso para a conservagao. Os horizontes temporais das empresas farmacéuticas sio curtos (40 ou 50 anos no maximo), enquanto a conservagio e co-evolugio da biodiversidade é um assunto que requer dezenas de milhares de anos. Caso as rendas provenientes da conservacio em curto prazo resultem baixas, e na hipétese de a légica da conservagdo se tornar meramente econémica, a ameaca 4 conservagio sera entio mais forte do que nunca. Efetivamente, outros bidlogos conservacionistas dos Estados Unidos (como Michel Soulé) se queixam de que a preservagio da natureza perde seu fundamento deontolégico porque os economistas, com sua filosofia utilitarista, estio controlando cada vez mais o movimento ambientalista.Em outras palavras, Michel Soulé adverte que recentemente ocorreu uma transformagio lamentavel no movimento ambiental: a idéia de que 0 desenvolvimento sustentavel precisa se ligar ao lugar da reveréncia ao silvestre. Essa cronologia de idéias ¢ plausivel se considerarmos o “desenvolvimento sustentivel” uma auténtica novidade. Porém, torna-se duvidosa no caso de observarmos o desenvolvimento sustentavel como de fato ele é,0u seja, um irmio gémeo da“modernizagio ecolégica”,ou mesmo uma reencarnacio da ecoeficiéncia proposta por Pinchot. As vezes, aqueles cujo interesse pelo meio ambiente associa-se exclusivamente a esfera da preservacio da vida selvagem exageram sobre a suposta farilidade com ane ce naderia decmaterializar a economia terminanda em se. CORRENTES DO ECOLOGISMO converterem em apéstolos oportunistas do evangelho da ecoeficiéncia. Por qué? Porque ao afirmar que as mudangas tecnolégicas tornarao compativel a produgao de bens com a sustentabilidade ecolégica, enfatizam a preservacio daquela parte da natureza que, ainda, se mantivera fora da economia. Nessa perspectiva, o“culto ao silvestre” eo credo da ecoeficiéncia” eventualmente dormem juntos. Assim, vemos a associagio entre a Shell e a wwr para o plantio do eucalipto em varias reas ao redor do mundo com base no argumento de que isso diminuird a pressio sobre os bosques naturais ¢, presumivelmente, promoveri também o aumento da absor¢io do carbono.O preficio de uma versio popular do livro de Aldo Leopold, A Sand County Almanac (1949), escrito pelo seu filho Luna Leopold (1970), contém um apelo redigido em 1966 contra a energia hidroelétrica no Alasca e no Oeste, que inundaria locais de nidificagio de av s aquaticas migratorias. A economia nao deveria ser o fator determinante,escreveu hé 35 anos Luna Leopold. Ademais, a contabilidade econdmica utilizada seria inadequada em vista das possibilidades de se“encontrarem fontes alternativas e factiveis de energia elétrica”. Nessa postura encontramos uma convivéncia do argumento da preservagao da natureza ¢ a posi¢do pré-nuclear, com as quais nem todos os ambientalistas estadunidenses estariam de acordo. Anos antes,em 1956, Lewis Mumford, que se preocupava mais com a contaminacio industrial ea expansio urbana do que com a preservagao da natureza, j4 havia alertado sobre os usos da energia nuclear em tempos de paz:““Apenas temos iniciado a resolucao dos problemas da contaminagio industrial cotidiana, Porém, sem realizar qualquer anilise prudente, nossos lideres politicos e empresariais agora propdem implantar energia atémica em uma vasta escala sem possuir a mais simples nogao de como realizara disposigo final dos 147). dejetos da fissio nuclear” (Mumford, apud Thomas et al., 1956 A justica ambiental e 0 ecologismo dos pobres Como sera visto ao longo deste texto, tanto a primeira quanto a segunda corrente ecologista sio desafiadas hoje em dia por uma terceira corrente, que constitui justamente o tema principal do presente livro, conquistando notoriedade como ecologismo dos pobres, ecologismo popular ou movimento de justica ambiental. Este também tem sido denominado ecologismo da livelihood,” do sustento, da sobrevivéncia humana (Gari, 2000) e, inclusive, como ecologia da libertacio (Peet e Watts, 1996). Essa terceira corrente assinala que desgracadamente o crescimento econémico implica maiores impactos no meio ambiente, chamando a atengio *N.T:: Em inelés, subsisténcia ou ganh: © ECOLOGISMO DOS PoORRES para o deslocamento geogrifico das fontes de recursos e das dreas de descarte dos residuos. Nesse sentido, observamos que os paises industrializados dependem de importagSes provenientes do Sul para atender parcela crescente e cada vez maior das suas demandas por matérias-primas e bens de consumo. Os Estados Unidos importam metade do petréleo que consomem.A Uniio Européia importa uma quantidade de materiais (inclusive energéticos) quase quatro vezes maior do que a que exporta. Ao mesmo tempo,a América Latina exporta uma quantidade seis vezes maior de materiais (inclusive energéticos) do que aquela que é importada. O continente que constitui 0 principal sécio comercial da Espanha, nao em dinheiro, mas em quantidade importada, é a Africa. O resultado em nivel global € que a fronteira do petrdleo e do gis, a fronteira do aluminio,a fronteira do cobre, as fronteiras do eucalipto e do dleo de palma,a fronteira do camario, a fronteira do ouro, a fronteira da soja transgénica... todas avangam na diregio de novos territdrios. Isso gera impactos que nao sio solucionados pelas politicas econdmicas ou por inovagées tecnolégicas e, portanto,atingem desproporcionalmente alguns grupos sociais que muitas vezes protestam e resistem (ainda que tais grupos ndo sejam denominados de ecologistas). Alguns grupos ameacados apelam para os direitos territoriais indigenas e igualmente para a sacralidade da natureza para defender eassegurar seu sustento. Efetivamente,existem muitas tradi¢des em alguns paises (documentadas na india por Madhav Gadgil) nas quais se nota uma preocupacao em reservar dreas para conserva¢io, como arvoredos ou bosques sagrados. Apesar disso, eixo principal desta terceira corrente nio é uma reveréncia sagrada 4 natureza, mas, antes, um interesse material pelo meio ambiente como fonte de condi¢ao para a subsisténcia; nio em razio de uma preocupacio relacionada com os direitos das demais espécies e das futuras geragdes de humanos, mas, sim, pelos humanos pobres de hoje. Essa corrente nao compartilha os mesmos fundamentos éticos (nem estéticos) do culto ao silvestre. Sua ética nasce de uma demanda por justi¢a social contemporinea entre os humanos. Considero isso tanto como um fator positivo quanto uma debilidade. Essa terceira corrente assinala que muitas vezes os grupos indigenas ¢ camponeses tém co-evolucionado sustentavelmente com a natureza e tém assegurado a conservagio da biodiversidade. As organizagSes que representam grupos de camponeses mostram crescente orgulho agroecolégico por seus complexos sistemas agricolas e variedade de sementes. Nio se trata de um orgulho meramente retrospectivo. Nos dias de hoje, existem muitos inventores ¢ inovadores, tal como tem demonstrado a Honey Bee Network para 0 caso da india (Gupta, 1996). O debate iniciado pela Organizagio das Nacdes Unidas para a Alimentagio e a Agricultura (Fao) sobre os chamados “direitos dos agricultores” contribui com a CORRENTES DO ECOLOGISMO tendéncia de defesa dos agricultores, hoje organizada na Via Campesina e apoiada por oNcs globais como 0 Etc Group’ (anteriormente Rafi) e a Grain (Genetic Resources Action International). Enquanto as empresas quimicas e de sementes exigem remuneragio por suas sementes melhoradas e por seus praguicidas,solicitando que sejam respeitados seus direitos de propriedade intelectual por intermédio de acordos comerciais, o conhecimento tradicional sobre sementes, praguicidas e ervas medicinais tem sido explotado gratuitamente sem reconhecimento. Isso tem sido chamado de “biopirataria’” (ver capitulo “Ouro, petrdleo, florestas, rios, biopirataria: © ecologismo dos pobres” para uma discussio detalhada). A luta nos Estados Unidos pela justi¢a ambiental é um movimento social organizado contra casos locais de “racismo ambiental” (ver capitulo “Os indicadores de insustentabilidade urbana como indicadores de conflito social”), possuindo fortes vinculos com o movimento dos direitos civis de Martin Luther King dos anos 1960. E possivel afirmar que, na comparagio com o culto a0 silvestre, o movimento por justia ambiental, dada a dimensio que as questdes do racismo e do anti-racismo assumem na sociedade norte-americana, é um produto da mentalidade estadunidense. Muitos projetos sociais nas areas centrais das cidades e areas industriais em varias partes do pais tém chamado a atengio a respeito da contaminagio do ar, da pintura com chumbo, dos centros de transferéncia do lixo municipal, dos dejetos toxicos e outros perigos ambientais que se concentram em bairros pobres ou habitados por minorias raciais (Pundy, 2000: 6). Até muito recentemente, a justica ambiental como um movimento organizado permaneceu limitado ao seu pais de origem, muito embora o ecologismo popular ou ecologismo dos pobres constituam denominagées aplicadas a movimentos do Terceiro Mundo que lutam contra os impactos ambientais que ameagam os pobres, que constituem a ampla maioria da populagdo em muitos paises. Estes incluem movimentos de base camponesa cujos campos ou terras voltadas para pastos tém sido destruidos pela mineracdo ou por pedreiras; movimentos de pescadores artesanais contra os barcos de alta tecnologia ou outras formas de pesca industrial (Kurien, 1992; McGrath et al., 1993), que simultaneamente destroem seu sustento e esgotam os bancos pesqueiros; e, por movimentos contririos s minas e fibricas por parte de comunidades afetadas pela contaminagio do ar ou que vivem rio abaixo dessas instalagSes. Essa terceira corrente recebe apoio da agroecologia, da ctnoecologia, * N.T::Acrénimo para Action Group on Erosion, Technology and Concentration. “IN.T: Sigla deThe Rural Advancement Foundation International, isto &, Fundagio Internacional para sediada no Canadé voltada para a conservacio ¢ utilizagio sustentivel da © Avango Rural ~ organizaga biodiversidade agricola ¢ responsabilidade ‘social no desenvolvimento de tecnologias rurais e das comunidades rurais. © ECOLOGISMO DOS FOBRES da ecologia politica e, em alguma medida, da ecologia urbana e da economia ecolégica. Também tem sido apoiada por sociélogos ambientais. Essa terceira corrente est crescendo em nivel mundial pelos inevitiveis conflitos ecolégicos distributivos. A medida que se expande a escala da economia, mais residuos sio gerados, mais os sistemas naturais sio comprometidos, mais se deterioram os direitos das gerages futuras, mais 0 conhecimento dos recursos genéticos sio perdidos. Alguns grupos da gera¢io atual sio privados do acesso aos recursos e servi¢os ambientais, e sofrem muito mais com a contaminagio. As novas tecnologias talvez possam reduzir a intensidade da utilizagio de energia e de matérias-primas por parte da economia. Mas somente depois de j terem causado muita destruic¢do, sem contar que com isso podem desencadear um “efeito Jevons”. Nio fosse suficiente, as novas tecnologias implicam muitas vezes “surpresas” (analisadas no capitulo “Economia ecol6gica: ‘levando em consideragio a natureza’” sob a rubrica de“‘ciéncia pés-normal”).Da forma como o problema esti colocado, as novas tecnologias nao representam necessariamente uma solugo para 0 conflito entre a economia e 0 meio ambiente. Pelo contririo, perigos desconhecidos incorporados 4s novas tecnologias engendram em muitos momentos conflitos de justica ambiental. Estes seriam os casos emblemiticos tanto da localizagio de incineradores — cujo funcionamento pode gerar dioxinas —, como de Areas voltadas para armazenar residuos radioativos ou, ainda, do uso das sementes transgénicas. O movimento pela justi¢a ambiental tem fornecido exemplos de ciéncia participativa, como os que respondem pela denominagio de “epidemiologia popular”.” No Terceiro Mundo, a combinagio da ciéncia formal com a informal, a concepgio de “ciéncia com pessoas”, antes que uma “ciéncia sem as pessoas”, caracteriza a defesa da agroecologia tradicional de grupos camponeses ¢ itidigenas, com os quais ha muito que ser aprendido através de um auténtico diilogo de saberes. O movimento por justic¢a ambiental dos Estados Unidos assumiu consciéncia de si mesmo nos injcios dos anos 1980. Sua “historia oficial” destaca a primeira apari¢o em 1982. Quanto aos seus primeiros discursos académicos, datam do inicio dos anos 1990.A nogio de um ecologismo dos pobres também reporta a uma histéria de vinte anos. Ramachandra Guha identificou as duas principais correntes ambientais como wilderness thinking (0 que agora rubricamos como “o culto ao silvestre”) ¢ 0 scientific industrialism, que ora estamos denominando como “credo da ecoeficiéncia”, “modernizagio ecolégica” ¢ * N.T:: A epidemiologia popular tem por base movimentos surgidos principalmente nos paises centrais em contextos considerados “de risco”. Esses movimentos sociais/ populares liderados por ativistas sociais diante de ameagas ambientais em muitos casos relacionadas com os residuos t6xicos, sio eventualmente associados com oNGs, travando lutas para interferir nos impactos de quadros de exposigOes a riscos,¢ simultaneamente questionando a falta de resposta efetiva e gil por parte das instincias governamentais, administrativas ou nal (Eva), em 1978, quando toneladas, de residuos potencialmente téxicos foram despejadas préximas a uma grande comunidade. ‘eu grande ponto de iniflexio foi o episddio de Love CORRENTES DO ECOLOGISMO “desenvolvimento sustentivel”’. A terceira corrente foi identificada a partir de 1985 como “agrarismo ecologista”’ (Guha e Martinez Alier, 1997: cap. 1v), aparentado a um'“narodnismo ecolégico”* (Martinez Alier e Schlupmann, 1987) que implicava um vinculo entre os movimentos camponeses de resisténcia ¢ a critica ecolégica para o enfrentamento da modernizagao agricola, assim como da silvicultura “cientifica” (vide a histéria do movimento Chipko: Guha, 1989, ed. rev. 2000). Em 1988, um amigo meu, 0 historiador peruano Alberto Flores Galindo, que possuia um grande interesse pessoal a respeito dos Narodniks do século XIX ¢ principalmente do século xx na Europa Oriental ¢ na Russia, percebeu que a terminologia “econarodnismo” requisitava um conhecimento histérico que nao estava disponivel ao pablico em geral, sugerindo substitui-la pela utilizacdo da expressio “ecologismo dos pobres”. A revista Cambio, de Lima, publicou em janeiro de 1989 uma extensa entrevista travada comigo sob o titulo “O ecologismo dos pobres”.’ Sob os auspicios da “Social Sciences Research Council” (de Nova York), Ramachandra Guha ¢ eu mesmo organizamos trés reunides internacionais nos inicios dos anos 1990 direcionadas para as diversas variedades do ambientalismo ¢ do ecologismo dos pobres (Martinez Alier ¢ Hershberg, 1992). Como est explicado no capitulo “Ecologia politica: 0 estudo dos conflitos ecolégicos distributivos”, existiu, durante os anos 1990, uma intensa investigagio no Ambito da ecologia politica preocupada com os desdobramentos dessa perspectiva. A convergéncia entre a nogio rural terceiro-mundista do ecologismo dos pobres ¢ a nogio urbana de justica ambiental, tal como € utilizada nos Estados Unidos, foi sugerida por Guha e Martinez Alier (1997: caps. I e II) Una das tarefas do presente livro é precisamente comparar esse movimento por justica ambiental com o ecologismo dos pobres, mais difuso e estendido em nivel mundial, na tentativa de explicitar que ambos podem ser entendidos como integrantes de uma s6 corrente. Nos Estados Unidos, um livro sobre 0 movimento de justi¢a ambiental poderia facilmente ser intitulado ou subtitulado “O ecologismo dos pobres ¢ as minorias”, pois esse movimento luta em favor dos grupos minoritarios e contra 0 racismo ambiental no pais. Contudo, 0 presente livro preocupa-se com a maioria da humanidade, com aqueles que, na contramao, dispdem de relativamente pouco espago ambiental; que tem “N-T.: Narodnik € © nome dado aos membros de um movimento ocortido no antigo Império Russo q uu. Esse no século xix, advogavam 0 regresso 4 vida no campo, inspirados no romantismo e em Rouss movimento ficou conhecide como Narodnichestve — ou Narodnismo ~, palavra que em portugués resulta em “populismo”, significado desprovido, é dbvio, da adjetivac3o atualmente inserida nesse termo. ©" ecologismo dos pobres” apareceu também nos livros de Martinez Alier (1992), Gadgil e Guha (1995:cap. 'v)eGuhae Martinez Alier (1997:cap.t).Provavelmente, foi utilizado pela primeira vez em inglés—o equivalente académico de um consentimento de trabalho visando a um sans pascer~ em Martinez Alier (1991) © ECOLOGISMO DOS POBRES gerenciado sistemas agricolas ¢ agro-florestais sustentaveis; que realizam um aproveitamento prudente dos depésitos temporirios e sumidouros de carbono; cuja subsisténcia esta ameagada por minas, pocos de petréleo, barragens, desflorestamento e plantations florestais para alimentar 0 crescente uso de energia e matérias-primas dentro ou fora dos seus proprios paises. Como investigar a respeito dos milhares de conflitos ecolégicos locais, que muitas vezes nem recebem atengio dos periédicos regionais ¢ que ainda nao sio ou nunca foram assumidos como inseridos nessas questées por grupos ambientalistas locais ¢ por redes ambientais internacionais? Em qual arquivo encontrario os historiadores as referéncias para reconstruir a hist6ria do ecologismo dos pobres? Notadamente, o que consideramos minorias ou maiorias depende do contexto. Os Estados Unidos contam com uma populacio crescente que representa menos do que 5% do total mundial. Na populagio desse pais, as chamadas“minorias” perfazem aproximadamente a terca parte.Em nivel mundial, grande parte dos paises que em seu conjunto constituem a maioria da humanidade contam com populagées cujo perfil, num contexto estadunidense, seriam classificadas como minorias. Tanto o movimento Chipko quanto as lutas encabecadas por Chico Mendes nos anos 1970 e 1980 constituiam conflitos por justica ambiental, mas nao é necessdrio e tampouco procedente interpretar esses movimentos nos termos de um racismo ambiental. O movimento pela justiga ambiental é potencialmente importante, sempre e quando se disp6e a falar em nome nao s6 das minorias localizadas nos Estados Unidos, como também das maiorias de fora desse pais (que nem sempre estio definidas em termos raciais), envolvendo-se em assuntos como a biopirataria e biosseguranga ¢ as mudangas climiticas, para além dos problemas locais de contaminagio.O que © movimento pela justiga ambiental herda do movimento pelos direitos civis dos Estados Unidos também vale em escala mundial devido a sua contribuigao para formas gandhianas de luta nao-violenta. Com base no que foi exposto, em resumo, verificam-se trés correntes relativas 4 preocupagio e ativismo ambientais: + O“culto ao silvestre” ou “A vida selvagem”, preocupado com a preservagdo da natureza silvestre, sem se pronunciar sobre a indiistria ou a urbanizacio, mantendo-se indiferente ou em oposigao ao crescimento econémico; muito preocupado com o crescimento populacional ¢ respaldado cientificamente pela biologia conserva + O “credo da ecoeficiéncia”, preocupado com o manejo sustentivel ou “uso prudente” dos recursos naturais e com 0 controle da contaminagio, nao se restringindo aos contextos industriais, mas também incluindo em suas preocupagées a agriculeura, a pesca ¢ a silvicultura. Essa corrente se apoia na crenca de que as novas tecnologias ¢ a “internalizacio das externalidades” cionista. COMRON TES 00 66 on vets o coesttuem insttumentos decisivos da modernizagio ecolégica, Essa vertente esti respaldada pela ecologia industrial ¢ pela economia ambiental * © movimento pela justiga ambiental, o ecologismo Popular, o ecologismo dos pobres, nascidos de conflitos ambientais em nivel local, regional, nacional € global causados pelo crescimento econdmico e pela desigualdade social. Os Sxemplos sio os conflitos pelo uso da Agua, pelo acesso is florestas, respeito das cargas de contaminagio e 0 comércio ecolégico desigual, questées estudadas Pela ecologia politica. Em muitos contextos, os atores de tate conflitos nao uuclizam um discurso ambientalista. Essa é uma das razdes pelas quais a terceira Corrente do ecologismo nio foi, até os anos 1980,plenamente identificada.Assim, este livto analisa tanto injusticas ambientais que completaram urn século de existéncia quanto aquelas que ocorreram hi poucos meses Existem pontos de contato ¢ pontos de desacordo entre esses trés tipos de ambientalismo. Ressalvo que uma mesma organizagio pode pertencer a mais de um destes tipos. Exemplificando, o Sierra Club, ainda que tenha trabalhado pela preservacio da natureza, publicou livro: Quanto a0 Greenpeace, trata-se de uma organizacio fisndads he trinta anos sobre justica ambiental. com base na preocupagio com os testes nucleares com finalidade bélica e em defesa da preservacio das baleias em Perigo de extingdo. Do mesmo modo, também tem participado dos conflitos de Justi¢a ambiental. O Greenpeace ‘eve importante papel na Convengio de Basiléia, que profbe a exportagio de tesiduos téxicos para a Africa outros lugares. Tem respaldado ¢ capacitado comunidades urbanas pobres nas suas lutas contra o risco representado pelas dioxinas provenientes dos incineradores. Tem apoiado as comunidades dos mangues na resisténcia contra a carcinicultura, Por vez0s, 0 Greenpeace tem assumido o papel de promotor da ecoeficiéncia quando, por exemplo, recomenda tm reftigerador na Alemanha que nio apenas dispensa a utilizagio de crc como também é eficiente no uso da energia. Entretanto, uma coisa une todos 0s ambientalistas: € a existéncia de um poderoso lobby antiecologista, Possivelmente mais forte no Sul do que no Norte. No Sul, os ambientalistas sdo em muitas ocasi s atacados pelos cmpresirios € pelo governo (e pelos Rmanescentes da velha esquerda), considerados servigais de estrangeiros cujo objetivo & estancar o desenvolvimento econémico. Na India, os ativistas antinucleares sio considerados contririos 4 patria e ao desenvolvimento. Na Argentina, os escassos ativistas antitransgénicos também sio tidos como traidores pelos exportadores agricolas.

You might also like