You are on page 1of 30
2 Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 69 (1), 1971 nas épocas apropriadas. Sob o ponto de vista de poluicées quimicas, ha algumas benéficas, como a adubaco nitratada e fosfatada da zona agricola de Itaguai que enriquece com elementos nutritivos as Aguas dessa baia, resultando abundancia de dtimo fitoplancto. Ao contrario, ha poluigdes quimicas maléficas, por substincias téxicas ao plancto, utilizadas contra pragas de insetos daninhos A agricultura, e contra mosquitos transmissores de docncas endémicas. Varias queixas dos pescadores motivaram suspeita de desequilibrio no ambiente aquatico, atribuindo ao combate a malaria, apés a Segunda Guerra Mundial, a eliminagéo dos numerosos moluscos como samanguaias, unhas de velho, ostras ¢ mexilhdes desde a Cidade de Scpetiba até a de Pedra de Gua tiba. Mas é necessdrio lembrar que passou a haver brusca diminuicao de salinidade, quando o Guandu artificialmente despeja enormes volumes; ésse rio aumenta, de até 4 metros, repentinamente 0 Seu nivel ao se abri- rem as comportas; tal fato passou a ocorrer depois da Segunda Guerra Mundial, e trouxe também diminuicio de a'gas rodoficeas (como a Bostrychia scorpioides Mont, nos pneumatéforos das arvores de mangue), cutras rodoficeas, cianoficeas e cloroficeas maritimas, na Baia de Sep: tiba, nas areas de sua influéncia mais direta. Apenas houve coinci déncia de fatos ocorridos ao mesmo tempo: a baixa de salinidade, a climinagéo da malaria, e a diminui¢do de moluscos aue se deu apenas nas Areas influenciadas pela Agua doce do Guandu. E importante assinalar que o saneamento é 0 maior beneficio, e tem maior significado econémico social, do que a diminuigéo de poucas espé- cies da biota, porém, desde que tais espécies nio apresentem significativo sécio-econémico. Também desde que tais espécies existam e prosperem bem em outros locais, protegidas de acdes téxicas. O ambiente ecolégico dos peixes, crustaceos e moluscos é diverso do ambiente das cidades, nao podendo coexistir os que apresentem incompatibilidade entre suas comunidades. Na publicagéo a seguir deveremos tratar de observagées sdbre 0 plancto, para ter-se o aspecto planctonolégico normal da Baia de Sepe- tita, Na parte referente a Satide Publica, ésse plancto futuramente poderia ser alterado por excesso de inseticidas. Entre as finalidades désses estudos estio as dirigidas para que se obtenham qualidades, quantidades e efeitos dos inseticidas que promovam o saneamento, mas em nada alterem a biota normal e 0 equilibrio ecolégico natural das aguas. Inseticidas de uso agricola, pesticidas, raticidas ete... residuos de polui- co industrial, quando alteram o plancto, também alteram as céres apa- rentes totais das aguas. Donde esta prospecgdo ja serve de apoio para futuras comparagées. BACIA POLUIDORA. Analisando-se a Area da bacia poluidora, verifica-se que, ela é muito maior que a superficie das aguas da Baia de Sepetiba, o que torna apreensivo o prognéstico futuro da biota aqua- tica, Dos rios, o mais importante é o Guandu com seus afluentes Ribeiréo das Lages, Santana das Palmeiras, Rio d’Ouro, e 0 Guandu- Mirim. Os limites da bacia hidrografica, que neste caso’é bacia polui- dora, séo a partir de Guaratiba: Serra da Guaratiba até Pedra Branca; Oliveira: Prospecedo hidrobiolégica 3 Serra do Bangu compreendendo a parte désse bairro que da vertente para Sepetiba, e daf até Quitumbo e Gericind, no Estado da Guanabara. Entrando no Estado do Rio: de Gericiné a Austin, e até Rio d’Ouro, toda ‘a bacia do Rio Santana das Palmeiras, e mais ao norte até Conrado Niemeyer e Serra do Couto; dai a Caigaras que corta a rodovia Rio- So Paulo no quilémetro 65. # limitada pela Serra das Araras, inclui téda a bacia do Ribeiro das Lages e limita-se pela Serra das Lages até Mangaratiba; rea tem cérca de 1.800 Km, e, no Estado da Gua- nabara que é limitada pelas margens do Rio Guandu, apresenta 480 Km*, Esta area além de ser grande, tem alto potencial poluidor, devido a intimeras indistrias que af j4 se localizaram e as que serao futuramente instaladas; entre as maiores citaremos: a Companhia Siderdrgica da Guanabara, 0 futuro Porto de Minérios, o futuro Cais do Pérto do Ric de Janeiro, que deveré sair da Avenida Rodrigues Alves, além dos aero- portos, grandes industrializagdes em Campo Grande, Santa Cruz e na Rodovia Rio - Sio Paulo. ‘A bacia poluidora é cérea de quatro e meia vézes maior que a Bacia Hidréulica de Sepetita, que apresenta ao redor de 480 Km‘. As 4guas da bacia do Rio Paraiba atualmente a influenciam, pois chegam pela adutora do Rio Pirai; no se deve pois subestimar a aco do Rio Paraiba, cujas Aguas sio derramadas in-bruto, em Sepetiba, por via indireta. ‘As observacées feitas por nés, em 1965, 1858, 1946, trazem pontos de referéncia para avaliacdo dos estragos da flora e da fuana aquatica de Sepetiba, futuramente. Pelos dados obtidos em 1965, poderemos cons- tatar futuras alteragdes nos caracteres fisicos, quimicos e biolégicos como sejam: mudangas na coloragdo e transparéncia das aguas, subs- tituicdo de planctos de aguas puras pelos tolerantes & poluigo, diminuicéo da atual biota saudavel do fundo, substituida pelas biotas benténicas de poluigées. Assim, as centenas de quilémetros quadrados de fundos propicios & dtima e abundante cringio do camario Penaeus schmidti, tao normal e natural em 1965, irdo se reduzindo, em relacao direta com © aumento da area poluida. De acérdo com o mapa da fig. 1, as polui- Ges so carreadas de longas distancias, donde ha grande dificuldade de se controlar os despejos. CIRCULAGAO DAS AGUAS. Exporemos 0 minimo indispensdvel para compreender as observacées s6bre biogeografia dessa regiao. Pelo exame das curvas batimétricas do relévo submarino nas cartas de Hi- drografia e Navegacéo, estima-se que a circulacio das aguas se processe acompanhando bisicamente a moriologia do fundo. Désse modo, a cir- culacdo se fara da Ponta de Castelhanos a Mangaratiba ¢ ira em direcdo Wha Guaiba; esta movimentacao também foi indicada por outros méto- dos, como os de distribuicio de salinidades, das temperaturas, das céres aparentes totais, das transparéncias, das espécies plancténicas. A con- figuracio das partes mais fundas a partir de Guaiba, ruma a leste, ¢ se divide em dois ramos: um ao norte, outro ao sul do arquipélago de Ja- guanum, sendo 0 ramo norte o mais influente pela sua profundidade maior, sempre mais de 10 metros, indo até 20 metros. Percebe-se haver constancia de salinidade, mantendo o regime maritimo, nas ilhas e lages 4 Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 69 (1), 1971 ao redor de Jaguanum, porque apresentam animais e vegetais de regime culitoral maritimo, fixados 4s suas rochas. Para isso, tomamos como indicador de regime hidrobiolégico a existéncia de crustaceos cirripedes Tetraclita squamosa (Bruguiére 1789), chamados popularmente de “ca- racas porosas”, OLIVEIRA, 1941, pag. 6. BACIA POLUIDORA DE POO ia crane Oceano Atlantico Ln aaeins Fig. 1 ~- Bacia Poluidora de Sepetiba. Depois de Jaguanum, as influéncias mais diretas da agua do mar se fazem sentir para 0 nordeste, passando ao sul e ao sudoeste de Ita- curucé, banhando a I!ha do Martins, chegando até a entrada do Saco da Coréa Grande, nas vizinhaneas da I'ha do Gato (Local 7). Um sinal dessa circulacdo se baseou no fato: as Aguas, mais intensamente coradas de verde, da Baia de Sepetiba, se acharem nesse local 7. Ali, a cér “verde esmeralda” era produzida por fitoplancto de diatomAceas Cen- trales do género Coscinodiscus Ehrenberg, em quantidade macica, ¢ tamkém com trarsparéneia pouco maior nos meses de abril e maio, Depois, indo para leste, da Ilha da Madeira para a Iha do Francés, Oliveira: Prospecedo hidrobiolégica 5 vimos 0 encontro das aguas verdes com Aguas castanhas ¢ barrentas, vindas dos rios Itaguai e Guandu, zona de estuarios, com salinidades mais baixas. Esses encontros so perturbados artificialmente pelas ir- regularidades da vitzdo do Guandu, que as vézes é natural e pequena, outras vézes fica enorme repentinamente quando as comportas hidro- elétricas so abertas. Produz-se o que os pescadores chamam de “marés dos Hippies” (querendo dizer: marés loucas, em desacérdo com as marés convencionais) pois, as Aguas sobem de nivel sem obedecerem as tabelas e previsdes do Observatorio Naciona! de Astronomia, e apresentam a distribuigdo das salinidades invertidamente. As Aguas pardacentas vio até ao sul da Tha da Madeira e vizinhancas da Tha do Francés, onde, em abril e maio, havia zooplancto em quantidade macica, tendo como predominantes copépodos Labidocera fluviatilis aestiva Wheeler 1899 (em: Oxtverra, 1946, pag. 470), com mais de um milimetro cada um, visiveis a élho nu, em intenso movimento, tio abundantes que néo pre- cisavamos de rédes de plancto para sua captura (cada decimetro qua- drado era pontilhado com mais de 2.000 copépodos). ‘As Aguas de estudrio se escoam 20 redor de sua foz formando cur- vas irregulares como semicirculares; as influéncias das aguas doces s° processam mais ou menos simétricamente em relacao ao eixo de desem- bocadura do rio; ésee eixo é dinamico, ora empurrado mais para leste, outras vézes mais para ceste, conforme as marés. Simétricamente em relagio ao eixo de desembocadura do Rio Guandu, as Aguas ficam cér de “ealdo de cana" seguindo dois ramos opostos: um para sudeste, outro para sudoeste e ésse tiltimo recebe a influéncia mais forte de agua do mar, em cér FOREL n° 6. Esses dois ramos limitam uma massa de agua central volumosa, com uma coloracdo uniforme verde agrifolium, tendo 70% até 90% de agua do mar em Agua doce; contribui para essa unifor- midade 0 feitio geografico, batimétrico ¢ os continuados ventos que mis- turam essas Aguas centrais. ‘A comunicacio de Sepetika com o mar é larga, é enorme em compa- racéo com a Baia de Guanabara, di-se em aguas de cér FOREL n? 6. Pelas cartas maritimas tiramos alguns dados aproximados, mas tnica- mente para compreensio dos estudos que seguem. De Marambaia até Guaiba sio cérca de 7.500 metros, sendo 1.300 em terras ¢ ilhas ¢ 6.200 em 4guas. As superficies de planos verticais correspondem a perfis de canais de Marambaia até Guaiba, com 25m de fundo, do areas de 110.000 m?, e, de Guaibinha ao continente: 11.500 m*. Assim o volume renovado que é a rea da baja pela maré mais baixa e pela mais alta, dar uma média de meio bilhdo de metros ciibicos sem se contar as des- cargas dos rios. Os renovamentos sio muito altos, as Aguas nao ficam estagnadas, nfo podendo haver mortandades de peixes por dificuldade de circulagéo; se houver mortandades, futuramente, outras causas deve- réo ser procuradas, comecando pelas acdes desalinizadoras das descargas artificiais do Rio Guandu, que a longo prazo deverao alterar a biota, e enfim, por futuras poluicées. Fenémenos gerais que se passam em Sepetiba, sio: as mudancas ciclicas e ritmicas com as marés que, quando enchentes, dilatam as zonas 6 Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 69 (1), 1971 mais verdes e diminuem as zonas barrentas, e, o inverno, nas marés va- zantes; mudancas mensais e anuais; mudancas irregulares, impre\ veis, devido a chuvas, ventanias, como os aguaceiros que aumentam as 4reas com c6res de enxurradas.' Excepcionalmente as enxurradas alte- ram téda a superficie da Baia de Sepetiba, fato ésse que ocorreu nos temporais de dezembro e janeiro de 1966-1967, téda a baia ficando de eér caramelo, quando em um s6 més choveu tudo o que deveria chover durante um ano. COR DAS AGUAS Nas aguas, as verificacdes das céres e das transparéncias dao informagées iiteis ao hidrobiologista, auxiliam a localizagio de alguns pesqueiros litoraneos, fazem parte das cotheitas de dados do habitat aquatico, podem preceder a estudos de dtica superior, fornecem indica- Ges comparativas antes e depois do crescimento de varias comunidades Biolégicas, e antes e depois do aparecimento de poluicdes. Entre as e6res consideradas pelos hidrobiologistas, citaremos: céres reais e céres aparentes; nessas iiltimas: cr aparente total, cér aparente da amostra, cr aparente da coluna de Agua, cor do seston. COR REAL. A tomada da cér verdadeira, da cdr real da gua, é facil. Segue técnicas descritas nos livros de exames de aguas e em livros de limnologia, (WELCH, 1948, pag. 137); nos Standard Methods of Water Examination, nos tratados de quimica, de engenharia sanitaria, de higiene. As particulas vivas e mortas, minerais ou organicas, sao isoladas por filtragem ou centrifugacio; elas constituem a parte inso- liivel com a cér dos planctos e a cér das particulas em suspensio, que separamos, para ficar na outra parte a 4gua com a cér fornecida pelas substancias dissolvidas e coloidais, isto é, a “cér real”. Quanto & “cor real” das aguas da Baia de Sepetiba, tédas as amostras que foram exa- minadas, em 1965, foram incolores, isto 6, tiveram “cor real” igual a ZERO e apresentaremos detalhes sdbre tais andlises em préxima pu- blicagao. COR APARENTE DA AMOSTRA DA AGUA — Uma certa quan- tidade de Agua vai a um colorimetro comum (nos modelos de trabalho no campo ou no laboratério) ; faz-se a comparagdo com escalas adotadas, sejam soluees, vidros coloridos, como os do U.S. Geological Survey; a Agua nao ¢ filtrada, é colhida a certa profundidade, com o seu plancto e tédas as particulas em suspensio (WELCH, 1952: Color of Water, pag. 84-87). COR DO SESTON. © trabalho de NAUMANN “Cér de Seston” no inicio do século XX, mostra nomenclaturas para as cOres dos lagos, baseadas nas células planctdnicas; assim diz: lago de cér verde da alga cianoficea Anabaena flos-aquae (Lyng.) Bréb., em cadeias celulares a 2.000 por centimetro ciibico; para outro lago, por ex., diz: cér verde da alga cloroficea Ankistrodesmus falcatus (Corda) Ralfs, na intensi- dade de 10.000.000 de células por litro e assim por diante. Foi dificil Oliveira: Prospecedo hidrobiolégica 7 essa padronizacio do colorido porque dependia da determinacao do plancto microscépico e das contagens de células por litro, para depois, baseado nisto, enunciar a cér. Poucas pessoas no mundo poderao ter gabarito seguro e tio alto désses conhecimentos para que possam comu- nicar suas idéias sbre a cdr dos lagos por éste sistema, que foi e sera acessivel a poucos hidrobiologistas, e, mormente, impraticavel pelo exaus- tivo trabalho na obtengio dos resultados. Contudo, ésse processo é as vézes utilizivel, quando se refere a uma floracéo macica, que aparece periddicamente (por. ex., a cér de uma lagoa de oxidacdo, quando esta no maximo de uma certa floragéo, como por ex. de Euglena viridis.). COR APARENTE DA COLUNA DE AGUA. Obtém-se eliminando- se os efeitos de fundo, para isto usa-se mergulhar um disco de porcelana branca, 0 DISCO DE SECCHI que faz com que o fundo seja sempre a cér branca. (HUTCHINSON, 1957, pag. 415 Color of Lakes; TAYtor, 1949 Estimation of color in Water pag. 29, 104, 272, 695; Harvey, 1928, pag. 155). COR APARENTE TOTAL. Cér do mar, vista e dita pelo pescador; Cér total do lago; Color of lake, dos limnologistas. Color of Seston, de NAUMANN, pro-parte. Color of the Sea, de SveRpRUP, 1946, pag. 88. A presente publicagdo trata principalmente desta cér. Ea cér da luz da gua, como ela emerge da superficie dos lagos, mares, baias e outros corpos de agua, olhando-se 4 vista desarmada. O observador a bordo de um barco, o'céu claro com luminosidade média; nao sendo as obser- vacées feitas nas horas mais escuras ou da manha ou da tarde e nem nas horas do intenso brilho do meio dia. Influi nela o reflexo do céu ea cér do fundo quando razo (neste caso esta Sepetiba). Donde, em fundos diferentes, a cér total aparente nfo seré a mesma, embora que a “cér aparente da amostra da 4gua” seja sempre a mesma, ‘A tomada da cér aparente total 6 facil e rapida, por comparacées com amostras coloridas — No coméco désse século bastavam 11 padrées de céres, ou em vidros coloridos, ou pintados de acérdo com o impresso pela “Lithographie Mueller, Lausanne: Numeros de la Gamme Forel” da obra de FOREL, “Le Lac Leman”. Tais processos nunca pretendem substituir resultados mateméticos fornecidos pela fisica, sendo ésses mais difice:s quanto ao pessoal e equipamento, quanto maior a preciso exigida. Uma das técnicas consiste em fazer cartdes pintados com tintas resistentes, com furinhos no meio do colorido. Quando se olha para a Agua, com ou sem telescépio d’4gua, procura-se qual cartéo deu homogeneidade com a cOr da agua e a comparacio perfeita conseguida, ndo se percebera mais o furinho, pois tédas as caracteristicas das céres se casam plenamente: classe, carater, tonalidade, potencialidade, matiz, gran, intensidade, tendéncia; entdo estaré a cér aparente total, que sera referida pelo cédigo que se usa. No presente trabalho usamos o A Dictio- nary of Color de Mazz & PAUL, 1950, Diremos, entao, o niimero da estampa, a letra da carreira horizontal e 0 mimero da coluna vertical, bastando isso; pode contudo ser precedida do nome da cér, de suas sino- 8 Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 69 (1), 1971 nimias, por ex.: cér MAERZ & PAUL, 1950 n® 15-L-4 ou querendo acres- centar: cér verde-oliva, pelo padréo Olive Green, descrito em 1613, Maerz & Paur, 1950, n? 15-L-4. Nao ha tabela uniformemente adotada pelos hidrobiologistas para as céres que nao sejam da Escala de FOREL. As comparagées tém sido referidas conforme as facilidades ou prefer®neias de cada autor. Destas tabelas empiricas, algumas do século XX, sio: OBERTHUER & DAU- THENAY, 1905; Rivcway, 1912; W. Ostwatp Farbenatlas, Farbenlehre 1919; TRILLICH Das deutsche’ Farbenbuch 1923, BRITISH COLOUR COUNCIL Dictionary of Colour Standards, 1934; MAERZ & PAUL, A Dictionary of Color, 1930, 1950; SEGUY Code Universel des Couleurs 1936 ¢ muitas outras de valor. Apresentaremos as correspondéncias com © “Cédigo Universal de Cores” de SEGUY, (C.U.C.) por ser comum nas bibliotecas brasileiras, pois tem um resumo em portugués. Nao ha ainda padrées brasileiros; deveré sair um cédigo brasileiro de c6res, pelo Dr. ARNALDO ROSEIRA, do Instituto Nacional de Tecnologia, a ser publicado com mais de 2.000 amostras. Agradecemos ao Dr. A ROSEIRA, autoridade brasileira em céres, consultas e numerosas infor- macées. Em hidrobiologia, entre as dificuldades de comparag&o, umas ocor- rem das aguas serem superficies polidas e brilhantes, enquanto que os padres sio foscos; outra dificuldade 6 que o olhar humano néo penetra através da opacidade do padrao pintado, mas penetra nas aguas, por metros a dentro, onde ha particulas de planctos ou outras, ora de carater fésco de pouca reflexdo, ora de carater brilhante de forte reflexio (Color Matching Marrz & PAUL, 1950). A terminologia usada para cOres, por nés (grau, potencialidade, cardter, tonalidade, amostra ou padrao, matiz, tendéncia, intensidade de pigmentos, textura, nuances, situacio no circulo de céres, claridade (em branco ou em negro), contraste, variagdes) se acha na bibliografia referida. De modo cientifico e absoluto, acha-se a cér com filtros coloridos, colorimetros, com espetrofotémetros, equipamentos de preciso, mas, nessa década de 1960-69, ésses métodos nfo tém sido vidveis a0 uso corrente dos biologistas.. Tém servido para trabalhos de alta ética, radiagées, determinacées fisicas para oceandgrafos, os quais se estendem por lingiistica matemética que é estranha & maioria dos biologistas e que € usual no estudo de radiacdes 'uminosas durante a sintese cloro- filiana de algas plancténicas (LavFr, 1967). MARCEL LOCQUIN, do Muséum d'Histoire Naturelle de Paris, publicou sua CHROMOTAXIA, em 1967, com filtros compensados KODAK, resolvendo de modo seguro as comparagées de céres. Seu sistema evita os erros dos desbotados das tabelas e torna desnecessario fazer as correcdes com pigmentos recen- temente misturados; LOCQUIN acrescentou vocabuldrios e cédigos em varias Iinguas. # grande a importancia da determinacdo da “cér aparente total” sobretudo em aguas relativamente razas, uma vez que traduz a associa- “ Cliveira: Prospecedo hidrobiolégica 9 co de séres vivos predominante, existente por mais tempo. A determi- nagio da “cor da coluna d’égua” pode dar uma informacao apenas passa- geira e totalmente diversas das mais freqiientes. Por exemplo, seja uma vala negra, por onde passa freqiientemente 0 esgéto e com suas margens e fundo azul-verde-escuro, coberto de cianoficeas repugnantes, dando mais passagem a lixo, urina'e fezes que sustentam as associagées dessas algas. Raramente ali poderé passar uma Agua transparente, e, se determinarmos a “cér da coluna d’Agua” nessa ocasiio excepcional, 08 resultados serio apenas os daquele raro momento: 4guas transparentes e branco azulado, raramente freqiientes naquele local e nada indicaré de definitivo e certo em relagdo Aquele habitat daquela vala. Andloga- mente 0 mesmo pode acontecer com habitats de crustéceos, moluscos ou peixes, cuja cr aparente total é influenciada e dependente da reunido das associagdes plancténicas e benténicas permanentes. COR DA PAISAGEM DO LAGO. # importante lembrar que a cor aparente total do lago, vista de um karco, olhando-se para as 4guas onde le flutua, traz conceitos cientificos de padronizar aspectos de luz, de- pendentes do plancto, do bentos e de outros aspectos do fundo, com 0 total da parte viva e nao viva. i método objetivo e imparcial nos resul- tados, Visa determinar com exatidio uma das caracteristicas do am- biente aquatico, dando resultados importantes para estudos ecoldgicos. Nao é assim a “cér da paisagem do lago” pelo pintor ou fotdgrafo. ‘A cér dada pelo pintor sao efeitos artisticos obtidos na tela por reflexos @o céu, nuvens € ambiente ao redor do lago, onde entram fungées men- tais criadoras, com caracteristicas individuais e liricas do pintor, como artista transmissor de sentimentos altamente subjetivos e psicoldgicos. De natureza semelhante é a fotografia colorida do lago, quando o artista fotégrafo procura os mais belos efeitos, que séo reais naquele local e condigées especiais, no justo momento em que bateu & chapa; e, outras vézes, so artificios irreais, Por exemplo, as 4guas negras da Enseada de Inhatima, que servem de espelho fiel quando tranqiiilas, fotografadas, dio paisagens coloridas, com gua azul celeste pelo reflexo do céu ¢ nuvens, dando uma idéia aprazivel, de lago transparente azul, agradavel e limpo, justamente 0 opésto do que é na realidade. Seguem éstes efei- tos artisticos numerosos quadros célebres, nos Museus de Belas Artes. Concluindo, qualquer apreciacdo artistica, neste setor da Hidrobio- ogi. € considerada aberracdo desastrosa da finalidade e funcio cientifica. Quanto a cér aparente total do lago, o hidrobiologista tem que proceder hostilmente & intromissio da arte pictérica, embora ela seja util, neces- sdria’e indispensdvel em outros setores da biologia aquatica. CORES E ESTUARIO PADRAO. Para um mesmo local, numa mesma bafa, as condigdes de luminosidade sendo andlogas, de um modo geral, parte-se do principio de que cada corpo de agua em seu regime de salinidade (oligohalino, mesohalino, polihalino etc...) mantém as mesmas céres aparentes totais, por periodos tao longos quanto se man- tenham os mesmos planctos e as mesmas condigées fisicas, quimicas e biolégicas. Entdo, em todos os estudrios, formam-se varios corpos de 10 Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 69 (1), 1971 Aguas, com misturas bastante uniformes durante longos perfodos de tempo € que se sucedem de distancia em distancia, desde a desembocadura do rio até pelo mar afora. THIEMANN, em 1938, sintetizou éstes aspectos num estuario tipico, tomando um “rio ideal’ 'hipotético se derramando no mar. Nesse “estuério-médio-padrao” quando anotadas as coloracées totais aparentes, elas sempre se apresentam com reas mais amareladas ¢ acastanhadas proximas dos rios barrentos e depois vio passando para areas verde-oliva, nas aguas mais salobras com detritos vegetais em decomposi¢io, até que, no fim da plataforma continental, ficam com as Céres oceanicas da Escala Forel, Esta divisio é valida também para 0 plancto, pois préximo sos rios as diatomaceas mesohalinas chegam 20 maximo, e, entrando em pleno oceano o plancto passa a maritimo prd- priamente (REMANE, 1958, pag. 180). Nas préximas publicagées pre- tenderemos expor “graficos de estudrio padrao”, feitos para Sepetiba, tendo nas suas ordenadas dados sdbre as cores, salinidade, plancto, bentos e nas abscissas as distdncias da foz do rio principal, que é 0 Guandu. COR DA ESCALA FOREL. Forel, o fundador da limnologia, féz a primeira escala de céres para lagos, com solucdes de sulfato de cobre € de cromato de potassio ¢ depois ULE a aumentou com solugées de sais de cobalto para obter as tonalidades mais pardas, (HUTCHINSON, 1957, pag. 416, preparo da Escala de Forel). A cér n° 1 das escalas FOREL, 1889 ¢ Forex - Ure, 1892, é o azul resultante da dissolugdo de sulfato de cobre. Aparece em Aguas dticamente puras, onde existem fendmenos fisicos de reflexdes, refracdes, dispersdes, absorgdes, como se a luz atr vessasse gua distilada, isto é, em Aguas sem particulas em suspensa nem minerais, nem vivas, nem coloidais; em Aguas no tendo nenhuma célula vegetal ou animal, porque esta acrescentaria céres. A cér n? 1 de FOREL, 0 cansativo azul do oceano, corresponde segundo KALLE, 1938, ao comprimento de onda de 0,475 micro, A cor nO’, extraordinariamente rara na natureza, corresponde até 0,468 micro de comprimento de onda, pode ser aproximadamente tabelada, como cdr de pigmento, pelas amostras n? 33-A-12 e 41-A-12 de MAERZ & PAUL, 1950. Em 1897, Garint dava esta cOr para o lago de Garda; éste azul n? 1 existe transitriamente em poucos lagos originados por atividades vulednicas, com os do grupo “caldeiras” (Tipo 13, HUTCHINSON, 1957, pag. 25), apenas enquanto éles ainda estejam desprovidos de séres vivos. Em qualquer local, sempre o ar e as chuvas trazem bactérias, esporos de algas cianoficeas que logo ao se instalarem n’Agua, tiram 0 nitrogénio da atmosfera, e, a sua clorofila traz o amarelo que se soma ao azul, passando a cor seguinte, cdr n? 2, ainda rara, existente hoje no Lago ‘Tanganika e pouco depois & eér n° 3 existente em lagos subalpinos. As cores dos lagos podem ser consultadas durante o estudo e leitura, em bibliotecas, em livros: para isso usam-se cédigos e diciondrios de céres. A cor FOREL n° 1 se assemelha, em papel branco pintado, ao pigmento material descrito em 1777, com o nome de azul de cobalto, efeito que foi catalogado na amostra’n? 34-L-7 de MARZ & PAUL, 1950. A cor n? 1 Forel, corresponde no Code Universel des Couleurs de Sécvy, 1936, & amostra C.U.C. n° 466, que no seu indice, na sua pagina XXXII, Oliveirs Prospeceao hidrobiolégica 1 ‘estA com dois nomes: bleu de gentiane e bleu de sulfate de cuivre, amos- tras estandardizadas nesses dois materiais. # ébvio que, a cor no mar, nas bafas, na natureza, nunca corresponda totalmente com'a cér de liquidos padrées em tubos, e nem com a cor de cartées pintados com tintas-pigmentos disponiveis. Porém, é possivel uma comparacéo aproximada, para que se possa, na pratica, pela consulta de tabelas de céres, reconstituir durante o estudo sem erros significati- ‘vos, 0 que se encontra na natureza, para se entender 0 que os hidrobio- logistas explicam. Garsit, em 1897, dizia que 0 Jago DI GARDA estava mais azul que o Forel n? 1; aceitamos isso e explicamos pela seguinte experiéncia. As férmulas de’ preparo da Escala Fore! dizem: acrescente aménia forte, mas no dizem quanto. Se pingarmos pouca aménia obteremos 0 azul de cobalto, amostra n° 34-L-7 de Maerz & PAUL; se colocarmos aménia fortissima, obteremos azuis mais fortes que os de cobalto, se aproximando do azul cloissoné n° 34-D-12 indo até a amostra n° 33-A-12. Essa amos- tra azul n? 33-A-12, sem tragos de cinza, corresponde ao comprimento de onda 468 milimicra, foi impressa por Marr & PAUL, em intensidade total de pigmento, no melhor papel que obtiveram e que refletia 86,2%. Entao acreditamos que a cor FOREL n? 1 tenha um conceito mais largo ¢ possa se localizar em varios graus coluna vertical L, da estampa 34, desde 7 até 12; e na horizontal 12 dessa estampa 34 corresponde aos azuis oxyde blue (34-L-8) e ao azul de cianina 34-L-10. Rigorosamente, o Forel n? 1 corresponde a varias amostras, analisando-se com rigor, porque 0 resul- tado total depende também da’ hora de observagio, do estado do céu, do volume da massa d’égua observada do fundo que pode ser o branco, quando se toma a cdr da coluna d’égua. Usando cartées coloridos também parece-nos justificavel encontrar varias tonalidades e graus, dependentes do nimero de amostras que se tenha para comparar, conforme o cédigo que se usa. O cédigo SEGUY tendo 720 amostras, para uso dos naturalistas, expée menos que o M. & P. com 7.200 amostras. Assim a amostra C.U.C. de SEGUY, reune o bleu de gentiane e 0 bleu de sulfate de cuivre que sio amostras separadas em outros eédigos. Quanto maior o mimero de amostras, mais tempo e trabalho para comparagées, pois separam-se as que foram agrupadas na feitura dos pequenos eédigos. Ento o bleu de gentiane deveré ir mais para a cér da amostra 34-L-7 de Mamrz & Paut ¢ a cér sulfate de cuivre se localizaré separadamente da gentiane, para as amostras hori- zontais n? 12, na mesma estampa 34-L; ora, variagées ocorrem com a cér n? 1 de FOREL, também o mesmo ocorre para outras cores da n® 2 em diante, quanto mais detalharmos 0 assunto. Dai compreendermos porque grandes limnologistas como Brrce & Jupay, em 1933, achavam que a tomada da cér aparente total do lago era subjetiva, e por isso, de pouco valor. Porém, depois que KALtE, em 1938, fixou padres para as coloragées das Aguas do mar, usando tintémetros, as céres aparentes passaram a ser adotadas unanimemente pelos limnologistas, tal como se Ié no tratado de HUTCHINSON, em 1957, pois néo eram mais subjetivas, mas referidas a padres seguramente definidos. 12 Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 69 (1), 1971 A escala de Forel, usada com sucesso para grandes massas de 4gua doce e para os oceanos, 6 adotada nos navios oceanograficos. Para resultados no Oceano Atlantico, no litora! do Brasil, vejam-se as viagens dos Navios Oceanograficos Almirante Saldanha e outros, e publicacdes da Diretoria de Oceanografia, e Cartas da Marinha. Também pode ser consultada em numerosas publicacdes de navios estrangeiros, que passam pelo litoral do Brasil; por ex.: na viagem do Navio Toko-Maru, no item 4, pag. 203: FOREL-no, mizu iro, hyojun eki-ni yoru, isto é, tomada da cor das aguas pela escala de liquidos de Forel; dé por ex.: Cér Forel n? 2 em 0,5°34” Lat. N por Long. W. G. 49°60". Outro ex.: Cor Forel n° 3 em 00°17" Lat. N. por Long. W.G. 44°50’, e outros numerosos dados no lito- ral brasileiro. Quando se lida com ‘quantidade macica de dados, das céres da Escala de Forel, determinada por numerosos navios oceanogré- ficos e postos limnolégicos, a maneira mais eficiente de se trabalhar é com computadores eletrénicos; para isso, veja as publicacées do National Oceanographic Data Center Processing Systems, por exemplo, a n° G-15 de S. A. SCHUYLER, 1969. COR DAS AGUAS DA BAIA DE SEPETIBA Na Baia de Sepetiba ha numerosas massas de Sguas, distinguiveis pela sua cér total aparente, COR ESMERALDA. Presente em Sepetiba como cér aparente total, nas areas mais influenciadas pelo mar, que influenciadas pela parte cen- tral desta baia, sempre com mais de 90% de agua do mar em agua doce ¢ onde se dé a maior assimilacio de fosfatos, denotada pela produ¢io ma- ciga de diatomaceas do género Coscinodiscus, Tais areas se achavam & leste da ha do Gato, e nas circunvizinhangas da Iha de Itacurucd, com uma cér esmeralda, intensamente resplandescente, em carater bri- Ihante, de forte reflexdo, tendéncia azulada, em quantidade intensa de pigmento, textura homogénea devido ao tamanho microscépico das par- ticulas que refletem a cér, j que eram diatoméceas na maioria. Esta cér corresponde a amostra emerald green pigment n° 26-C-12 MAERz & Pavt, préxima & C.U.C. 406, 407 SEGUY, e foi estandardizada em pintura pela tinta pigmento éxido'transparente de cromo, em 1860. COR MALAQUITA. Outros graus da escala Forel, correspondentes & cér da pedra malaquita, descrita por THEOPHRASTUS, em 32 antes de Cristo, foram encontrados nos locais marcados na fig. 2, como FOREL n® 6; podem ser em cartées pintados padronizados pela tinta verde mi- neral, que entrou na pintura em 1815. Sao as amostras n° 391 de SEGUY. © 08 malachite green MAERZ & PAUL, 1950. HA massas d’égua, em varias gradacées, mais intensas ou menos intensas, formando bolsdes nas marés enchentes que se diluiam aqui e acola, passando & cr Forel n? 7. Na nossa figura em hachuriado horizontal, com a cér n° 6, mostra guas oceanicas entrando pela barra, subindo ao lado de Marambaia, contor- nando a plataforma désse nome, véo passando ao sul de Itacurugé e Tiha do Martins, e, finalmente terminavam na Ilha do Francés, quando esbar- ravam com aguas barrentas das fozes dos rios. Como ésses locais apre- CORES CUC.408 : Esmeralda carregat Alpine green c.UC.381 < Oliva Ardosia Cor FOREL N°6 Ocean green Euc. 301, 302 Fig. 2 Caramelo yo ssabellinus, mastique CUC. 337, 339, Verde Musgo Coc. 326 “caldo de cana” Cu.c, 302 agritdie cue. 301 CBR FoREL NST Lic so5 ‘Acqua green eee lymphaceus BAIA DE SEPETIBA agrifolum Aerragem C.UC. 336 Fig. 2 — Céres Aparentes Totais, Baia de Sepstiba, povbigqoiqoupry opdoadsoig 8 oc Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 69 (1), 1971 sentavam flora e fauna maritimas normais, poderemos considerar estas malaquitas indicadoras de dtimas e sadias condigées ecolégicas, ai em Sepetiba. Os graus da escala Forel I a II ficam na 5% seco do circulo de céres: azul. As Aguas Forel IV- VII (ou n? 4a n° 7) tém tonalidades derivadas s6 azul e verde, ficam na série das estampas 25-32 MAERZ & PAUL, em seus graus mais claros e mais cinzas, As amostras da estampa 25, feitas sdbre papel branco de reflexdo de 82,5%: turquoise bleu, bleu turquoise, turquoise green beryl green, podem representar em papel impresso, céres de 4guas nos graus FOREL IV - VII. Continuando as cstampas depois da n? 25, seguem até aos verde-esmeraldas, com teor de reflexdo de 73,5% ; e seguem depois os glaucous green, naiad green e por fim com menos de 50% a série dos malaquitas; todos éstes ficam na 4% seco do circulo de cdres: verde. A mudanca para cér FOREL VII, salta para outra série de tonalidades, para a 3# secdo do cireulo de céres: amarelo, onde estdo nas estampas 17-24 de Maerz & PAUL, os arcadian green, acqua green, glaucous green, ‘moss green derivados de misturas de verde, amarelo e cinzas; estas tona~ lidades menos azuladas ja podem revelar influéncia oceanica menor. COR VERDE MUSGO. Uma parte de Sepetita estava em verde musgo, C.U.C. SEGUY n? 326, que corresponde & cér moss green, des- crita em 1884, conforme a referéncia para a amostra n° 21-L-22 do Dicio- nario de Macrz & Paul. Nessa parte ficavam os locais em que abun- davam as larvas muito pequenas de camardes, nessa ocasiaio de 1965. Na cér verde musgo nao ha elementos avermelhados, que nessas baias, geralmente sao detritos de vegctais superiores ou inferiores, muitos em humificagio. Esta observacio é apenas para chamar a atenc&o sébre futuros esiudos ecolégicos do habitat do camario Penaeus schmidti por- que podera ser encontrada alguma correlac&o talvez antagonista, entre © teor de Acidos hiimicos e humosos, que aumentam os componentes ver- melhos e as preferéncias habitacionais dessa espécie de camarao. Estas coloracées verde-musgo, muito suaves, iarn até ao Piai e Pedra de Gua- ratiba. COR FOREL N° 5, Excepcionalmente encontramios essa cor em Pequenas superficies, passageiramente. Nas vizinhangas de Ibicui, as Aguas recebem influéncias ocednicas mais acentuadas, por receberem aguas vindas ca Baia da Wha Grande, cér verde turqueza, turquoise green, cér descrita em 1895, n? 25-I-5 e n® 25-I-4 MERZ & PAUL; estas aguas tanhavam pedras com numerosas algas feoficeas da familia Sargassaceae e numerosas rodoficeas; nas grandes marés, chegavam a cor Forel n® 5, que foi o grau mais baixo influenciado pelos componentes derivados do azul e que encontramos num tom de nayad green n° 27-B-7, e a cor da coluna d’égua com o fundo tranco pelo disco de Secchi, era verde glauco, glaucous green, n? 27-B-5 M. & P. COR FOREL N° 6. Nas cores propriamente da escala de Forel, essa cér n° 6, amostra verde chantilly n° 26-F-6 M. & P., era das Aguas que entravam pela tarra em Marambaia, e seguiam direco nordeste, indo Oliveira: Prospecedo hidrobiolégica 15 para as ilhas de Jaguanum e Itacurucé, e que mostravam grande influén- cia maritima, pois apresentavam-se com cérea de 99% de agua do mar em 1% de Agua doce. & larga a comunicacdo com o mar, a que possibi lita a cér n® 6 chegar até Itacurucé. J4 referimos que de Marambaia até Guaiba, vio cérca de 7,5 Km, c essa comunicagao nao é somente larga, mas também volumosa, pois essas aguas passam polos locais mais fun- dos, onde estio as populacdes benténicas de Ophiuroidea e por outros lo- cais com numerosas Renilla. COR FOREL Ne 7. Esta cér, no padrio acqua green n? 18-B-5 até ao arcadian green n9 17-F-7, ocupava fundos mais rasos que as FOREL NO 6; suas 4guas banhavam uma faixa estreita junto a restinga, com fundos arenosos claros, cér de oca palida, fundos muito limpos, que iam de Marambaia até ao'coméco dos manguezais da Pedra de Guaratiba (Fig. 2, em hachuriado vertical) ; e eram aguas sadias tendo numerosos escudos do mar Encope emarginata e as estrélas do mar Astropecten brasiliensis, e, mais junto & Baia de Marambaia a grande estréla de nove pontas Luidia senegalensis, Outra parte com 4guas Forel n° 7, ficava defronte as cidades de Sai, Muriqui, e Tkicui, nas tonalidades arcardian green n° 17-G-8, Distanciado um pouco de Saf, marcado no nosso mapa fig. 2 como C.U.C. 381, havia: um corpo diferente de aguas, de verde bastante escuro, ¢ que nas tabelas com apenas 20% de reflexo de luz, é 0 alpine green n® 31-C-9 M. & P.; de tex.ura fibrilar, perdendo potencia- lidade para um cinza esverdeado, cardter no brilhante, tendéncia para verde cinza. Alguns pescndores, chamavam essas aguas de cér de félha de banancira; cram locais onde colhemos abundancia de plancto da alga cianoficea Trichodesmium erythraeum Ehrenberg. VERDE CALDO DE CANA. Além das aguas apresentarem esta cér chamada de “ealdo de cana” pelos pescadores, clas sio turvas, com transparéncias pequenas, de 30 centimetros até 1 metro, possuem plancto mesohalino. Correspondem ao hellebore green n® 23-L-3 de MAERZ & PAUL, ficavam entre a zona de estudrios e a massa central da ba‘a, man- tinham-se uniformes, pela especial situacio geografica; ha variacées den- tro désse grupo, que vao do verde heléboro, até ao verde cha, o tea green n® 21-C-2 M. &P., também com pouca potencialidade de reflexdo e quan- do em grau mais claro tendendo para um cinza esverdeado. VERDE OLIVACEOS. No grupo de céres onde estio os olivas, sen- do em M. & P. nas estampas 9 — 16, onde se acham misturas procedentes dos tons laranjas, amarelos e cinzas. A presenca de componentes & base de vermelho, aparece muito em 4guas com detritos acastanhados, de hit- mus, pedacos de vegetais superiores, avermelhados. No grupo onde esto os olivaceos, em Sepetiba, enquadram-se as cé- res isabellinus, os bistres; ésses nfo ocorriam nas massas de 4guas cen- trais, conforme a fig. 2; eram guas de influéncia de estudrio, barrentas, que se esparramavam das fozes dos rios tanto para noroeste, como para sudeste. E por vézes a c6r de aguas nos manguezais, que por vézes so mais barrentas, outras vézes sio mais agrifolium com transparéncias pe- quenas: de 0,30 até 10m. A Baia de Marambaia, com equilfbrio eco- 16 Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 69 (1), 1971 légico sadio, apresentava cér verde-mar, cér de acetato de cobre, descrita primeiramente por LOMAZZO, em 1598, no seu Tratado de Pintura (amostra sea green n? 19-K-6 M. & P.) e aproximadamente o lymphaceus de SEGUY. Aguas com essa cOr estavam muito préximas do mar, e com fundo arenoso muito claro; para la se dirigiam grandes cardumes do camarao Penacus schmidti, quando adultos de grande porte, antes de voltarem para o oceano. Possivelmente porque seja 0 caminho mais sim- ples para se ir ao mar pela configuracao geografica de Sepetiba. Os cardumes saem da Aguas mais escuras para as de cér Forel n? 7, depois n? 6, e entram no oceano na barra de Marambaia, com Aguas de cér Forel n? 5. Notemos que a cdr sea green fica na série das estampas 17 a 24, cujas amostras nao tém participagio de elementos avermelhados e fazem parte do habitat désse camarao P. schmidti quando adultos, e tamanho major, prontos para voltarem para o alto mar. Porém, o local das larvas de camardo, em populacdo maxima, e com alguns milimetros e até perto de centimetros de comprimento, era em Agua de cér aze- vinho, agrifolium SEGUY, correspondente ao holy-green MAERZ & PAUL, n° 23-L-1, cdr deserita em 1898. Sao Aguas sadias, ocupam todo © grande centro de Sepetiba com cérca de 150 quilémetros quadrados, e tém pequenas variagdes que vdo ao hellebore green M. & P, n? 23-L-3, nesta época, em 1965. A parte leste da Baia de Sepetiba, proxima & Barra de Guaratiba, em manguezais sadios, virgens de depredagoes e de poluigdes, neste ano de 1965, a cdr aparente total era essa, 0 agrifolium, como acorreu antigamente em 1939, junto aos manguezais na Baia de Guanabara, entre as Ilhas do Pinheiro e Sapucaia. Os pescadores locais afirmam que as tainhas gostam muito de aguas com esta cér agrifolium. Essas Aguas tém um bom cheiro e um bom gosto, semelhantes talvez a0 feno fresco. COR OLIVA ARDOSIA. Ao nordeste da Ilha de Marambaia, uma faixa lovando detritos para o mar, estava cér oliva ardésia slate olive RIDGWAY 1912, (NO 23-A-3 MAERZ & PAUL) e se limitava ao sul com Aguas acqua green grau 7 da eseala de Forel, em fundos de areias muito claras, onde havia densidade populacional alta de escudos do mar Encope emarginata Leske; éstes escudos, com cheiro agradavel de algas, dife- rentes dos mesmos, quando capturados na Ilha do Governador, onde pos- suem cheiro desagradavel. COR DAS MANCHAS DOS CAMAROES. A figura n° 2 mostra uma rea cér de ferrugem rust color n? 6-2-12 M.&P. No meio das aguas cér de azevinho, agrifolivm apareceu repentinamente essa mancha cér de ferrugem, e cérca de uma hora depois ela desapareceu. “Essas manchas so normais em Sepetiba, mostram aguas sadias, fundo normal e sadio, so levantadas por cardumes de camardes que revolvem o fundo, cuja primeira camada é muito delgada, macia, escorregadia, de cér acasta- nhada pelas diatomaceas benténicas. Tais manchas so por vézes cér de terra de siena natural (n° 13-L-10 M. & P.) ou como registra o cédigo de SEGUY, C.U.C. n0 386, ¢ préximas as vézes, ao bure color n0 18-H-8 .&P. Oliveii Prospecgito hidrobiolégica 1 © reconhecimento dessas manchas, assim como certas técnicas de captura do camarao de dia, representa uma pratica tradicional passada de pescador a pescador; éles chamam essas manchas de “cér mae das &guas do camarao legitimo” Penaeus schmidti o explicam que a cér mae aparece quando éles “comilam”. Vocabulario local, comilar significa: os camarées em repouso no fundo, movimentam as aguas com patas e pled- podes, produzindo uma corrente circular, dirigida para remexer 0 solo e levantar as particulas que Ihes servem de alimento. Esta movimentagio também se liga as necessidades respiratérias do animal, passando mais gua em suas branquias. Os pescadores reconhecem essas manchas enormes a quilémetros de distdncia, pelo rebrilho acastanhado das on- das, ¢ para lé se dirigem; explicam que sio de cheiro especialmente agra- dével. © componente vermelho na cér dessas manchas vem principi mente do fundo, da lama e das diatomaceas. Alguns fazem distingéo entre as céres das manchas levantadas pelas raias, ¢ as levantadas pelos camarées; vimos os cardumes delas determinarem manchas de céres mais escurecidas do que as dos camardes; porque elas revolvem as aguas com grande violéncia e levantam outras camadas do fundo, mais escuro azuladas, e com cheiro tendendo para o de fundo com Ophiuroidea. O fundo onde existe ofiuroides predominantemente, quando dragado, apre- sentava a lama esverdeada, ¢ quando ainda molhada, com o aspecto de uma argamassa de cér crag, no 15-C-2 onde também havia grandes ver- mes Chaetopteridae. COR NOS ESTUARIOS. Ha coloracdes amarelo oca nas areas in- fluenciadas pelos rios, sendo 0 maior o Rio Guandu, que vem sobrecar- regado de areia ¢ argila, dio As 4guas a cor isabellinus SEGUY, n® 337 (aproximadamente 0 Isabella Color n? 13-K-7 de MAERZ & PAUL. Essa coloracio é normal e sadia nesses locais de choques de aguas doces com as salobras, com grandes turbuléncias e bruscas mudancas de salinidade. Ocupam areas ora maiores, ora menores, ritmadas conforme as marés, Todo o conjunto, e suas variagdes de coloragées se enquadram no grupo onde esté a cdr caramel n° 12-F-10 M. & P., cdr descrita em 1921, por MATHEWS. Na regio de estuarios, hé minima quantidade de planc- tos, devido & ago mecanica dos gros de areia. O caramelo se desfaz pouco a pouco, desmancha-se em listras de céres vizinhas como o old ivory color n?'12-C-3; depois um pouco esverdeado, quando jé tem um pouco de fitoplancto, nas céres mastic n® 13-E-5. Esse conjunto de céres difere basicamente dos outros, pois suas céres se encaixam na série — estampas 16 até 19 M.&P., procedentes de misturas de laranjas, amare- los e cinza, entrando em quantidade minima, ou quase nao entrando, 0 azul. As aguas barrentas dos estudrios se esparramam tanto para no- roeste como para sudoeste, cheias de areia, e suas cores isabellinus, bis- tre e outras do grupo dos olivaceos invadem os manguezais, e nesses com transparéncia muito baixa, de 30 centimetros a meio metro apenas. CORES DE AGUAS POLUIDAS Algumas aguas polufdas possuem cOres proprias, caracteristicas de alguns processos de poluico. Como exemplo, daremos alguns resultados 18 Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 69 (1), 1971 por nés obtidos, na Baia de Guanabara, e que servirdo de térmo de com- paragdo com 4guas puras na Baia de Sepetiba. De 1948 a 1952 varias alteragdes nos chamaram a atencio, pois fo- ram 4guas que passavam por antigos aquarios, em funcionamento, na Ilha do Pinheiro. A fauna maritima déstes, morria bruscamente ao re- ceber Aguas poluidas, fortemente coloridas, 0 que impossibilitou manter- se aquarios em funcionamento normal, com Aguas estragadas da parte oeste da Baia de Guanabara. Eram Aguas de cores escuras, como as da plancha XXIV de SEGUY, céres n°s 426, 427, 428, isto 6, proximas aos olive green n® 15-L-4 e aos gazelle brown n® 15-C-7 e cub color n° 15-C-1 de MAERZ & PAUL, éste iiltimo padrao cér de urso escuro, muito co- mum nas 4guas da Tha da Sapucaia, onde era a tomada de aguas para os aquérios. Por vézes apareciam céres escuras como as da plancha SEGUY n? 431, 432, 433, que correspondem as céres de asfalto, castor, e de urso escuro: asphalt color, n? 16-A-2 a castor color n° 16-A-8 e cub color n? 15-C-1, tddas em Aguas grossas e fétidas. No canal da Sapu- caia, onde havia o depésite de lixo da cidade do Rio de Janeiro, as céres iam se carregando de préto, até chegar A tinta negra total, C.U.C. 516 SEGUY. Esta Enseada de Inhaiima, também onde se langa 0 lixo do Rio de Janeiro, exala seus maus odores e banha praias defronte ao Instituto Oswaldo Cruz e & Refinaria de Petréleo de Manguinhos. Esta refinaria, rica colaboragio para o progresso do Brasil de um lado, de outro, uma das indesejaveis vizinhas, para nés os biologistas, porque é poluidora das Aguas, do ar, e do solo, langando-lhes residuos de petroquimica. Varios dias no ano,’a partir de 1953, a Tha do Pinheiro fica recoberta por bol- sdes de ar, as vézes irrespiraveis, cheirando ora a gases de fogao ou ga- solina, querosene, cetonas, aldefdos e outros gases locais, como o gas sulfidrico, que chegam ao ponto de corroerem estruturas metélicas com rapidez. ‘Ultimamente devido ao progresso industrial, as 4guas vindas dos Rios Jacaré, Faria, podem chegar inesperadamente com tédas as c6res imaginaveis: desapareceram os ritmos coloridos ciclicos normais, naturais do subir e descer das marés na Enseada de Inhaiima, meso- halina e normal outrora. Se uma fabrica na bacia Jacaré-Rio Faria despejar residuos carmins, amarelos, violetas, as aguas tomario a cor do residuo, dependendo inicamente da carga poluidora. Como exemplo, durante o més de julho de 1969, as 4guas dessa Enseada estiveram em deslumbrante verde, em carater de fortissima reflexo, de tendéncia azu- lada, de textura granular, passando a irradiante pela dissolucao dos grio- zinhos, e tudo parecia centenas de quilos de anilinas, de alto prego, em dissolugio (cér arsenate, n? 25-K-11 de MABRZ & PAUL). Tais gra ‘zinhos cram residuos de fabricas situadas nos morros defronte a0 La- boratério de Hidrobiologia. A lama do fundo esverdeada assim artifi- cialmente quando fervida com frasco de vidro, dava positive um teste grosseiro de poluigio: desprendia um cheiro repugnante, semelhante ao da urina podre, teste indicador de ser um bom meio de cultura para cia- noficeas polissaprébias.

You might also like