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FDRP - USP. DFB2003 - Sociologia do Direito Prof. Marcio Henrique Pereira Tépico 12 ~ p.193-199 e Tépico 13 - p.200-215 (Seta Peoveive: 23/04/09) Marialice Mencarini Foracchi' » José de Souza Martins SOCIOLOGIA. E SOCIEDADE (Leituras de introdu P Sopyram © 1077 - oe AS ee MARIALICE MENCARINI FORACCHI E JOSE DE SOUZA MARTINS Probide reproduce, weve paca, : : : ‘por qunlue’procste, em auroriagso ‘ rors do ator ¢ do ator, sSecicso: 977 ? “ . Hoe ‘Coondenador altri de: ‘eimpresdes: 1878 lous, 1980 ls, 2 ae fe fe ‘Gebsie! Coho 1981, 1083, 1984, 1985, : ° ; * et096. ra, iP Bra. Cetlogneso-neonce i : i Sinaesto Nacional dos Editare ce Uios, A ‘Sociologia e woiedade: etre do inrourdo 8 ‘ 5862 socioloaia (compllnfo de textos port Matace Mencoint ogee Foracch (0) sot oe Souse Martina Blo de dansiro, LTC ~ Liven Técnicos ¢Cientfcos El A 2 tore. 1977 4, Sociolopis |, Frat, Mariice Menern, 1929-1872, hele : starting Jos de Sours, 1828 — 770437 eopaor fans pia eattog start: ‘ & 1. Sosleaade: Sociologia 301, ; ~ 2 Soviolgie 301 Direos reread pr: DE wes sewces¢ coatcas eas, é er : MATRIZ FILIAL : ‘Rus Views Bueno, 21 us Vitoria, 408 — 2° andr : Bae. : yee Ou, 20920 Rletejanevo—Rs | 01.210 Sio Paul SP , 3 > ‘Bran — End, Teegréfien: LITECE | Toi: (011) 2236823, NaN ‘ 4 a Bey Tels: 580-5088 iva Postal 4.817 | e Se Venda: 500-0374 2 42 ‘0 que 6 uma instituicao social?* Peier L, Berger e Brigitte Berger J& definimos'& instiiuigdo como um padrao de controle, od seja, uma pro- gramacdo da conduta individual imposta pela sociedade, Provavelmente tal de- finigdo nfo terA despertado qualquer oposigao no letor visto que, embora difia d acepedo comum do termo, nio entraem choque direto com'e mesmo. No sentido usualy 0 termo designa uma orgenizaglo que abranja pessoas, como por exemplo “um hospital, uma pristo ou, no ponto que aqui-nos interessa, uma universidade, De outro-iado, também é ligado as grandes entidades socials que o pova enxerga quase como um ente metafisico 4 pairar sobre a vida do individu, como “o Es- ado", ‘'2 economia’, ou “o sistema educacional”. Se pedissemés a0 leitor que in~ ‘icasse uma instituigdo, ele provavelmente recorreria a um desses exemplos. E no estaria errado. Acontere, porém, que a acepedo comutt do term parte duma visio unilateral. Em termos mais precisos, estabelece ligagdo por demais estreits - entre 0 termo eas instituicdes socais reconhecidas e reguladas por lei. Talver isso constitua um exemiplo da influéncia que os advogados exercem em nossa maneite ‘de pensar. Seja como for, no contexto deste trabalho torna-se importante demons- trar que, sob a perspectiva sociologica, 0 significado do termo nao € exatamente este. E por isso que desejamos ocupar um momento da atengio doleitor para, num ‘apitulo pouco extenso, demonstrar que alinguagem uma insiittigto.. Diremos mesmo qe muito provavelmente @ linguagem € a instituiglo fun- damental da sociedade, alm de'sr a primeira instituigao inserida na biografia do inelividuo. B uma instituiggo fundamental, porque qualquer outra instituicko, sejam quais forem suas caractersticas ¢ finalidades, funda-se nos padrdes de con- ‘role subjacentes da linguazem. Seiam quaisforem as outras caracteristitas do Es- tado. da economia ¢ do sistema educacional, os-mestos dependem dum arca- bbougo linglistica de classificagbes, conceitos e imperativos dirigides & conduta in- dividual; em outras palavras, dependem dum univetso.de significados construidos através da linguagem ¢ que s6 por meio dela podem permanecer atuantes Por outro-tado, a linguagem.¢ a primeira insttuigo cori que se defronta 0 in- dividuo. Esta afirmativa pode parecer surprecndente” Se perguntissemos ao leitor ‘qual’ a primeira instituiclo com que a ctianca entra em contacto, serd provavel- ‘mente a familia que the vird a mente: E de certa forma nfo deixa de tet raztio, Para, a grande maioria das criangas & socializagto primaria tem lugar no Ambito duma_ | (e) Pear Ls Benger © Brigit Berger Sociology —A Biographical Approach, 2.* ef, Basie Books, in or one 175 pp adn ce Rc Pai Raunt nea de 194 — Conceitos socioldgicos fundamentais familia especifica, que por sua vez representa urna faceta peculiar da instituigo ‘mais ampla do paienteseo na sociedade a que pertence. Nao hé divida de que a familia é uma instituicso muito importante...) Acontece, porém, que @ crianca rio toma conhecimento deste fato. Ela de fato experimenia seus pals, itmaos, ir mils ¢ outros parentes que possam estar por perto naquela fase da vida.-S6 mais ‘tarde pereebe que esses individuos em particular, e os atos que praticam, cons- fituem uma das facetas duma realidade social muito mais ampla, designada como “a familia". E de supor que essa percepgio ocorra no momento em que a crianga comera a comparar-se com outras criangas — 0 que dificilmente acontece na fase. inicial da vida. Ja a linguagem muito cedo envolve a crianga nos seus aspectos macrossociais, No est imicial da existéncia, a linguagem aponta as realidades mais extensas, que se situam-além do microcosmo das experiéncias imediatas do. individuo. E por meio da linguagem que a erianga comera a tomar conherimento dum vasto mundo situado “la fora", um mundo que the é transmitido pelos adul- tos que acercam, mas vai muito além deles. Allinguagem: a objetivacio da realidade 5 s 2 ‘Antes de mais nada, & 0 microcosmo da crianca, evidentemente, que encontra ‘ua estnuturacdo através da linguagem. Esta realiza a objetivardo da realidade —9 fuxo ineessante de experifncias consolida-se, adquire estabilidade numa série de objetos distintos ¢ identificdveis. [sso acontece com os objetos materiais. O mundo ‘ransforma-se inum todo orginico formado por Srvores, mesas, telefones. Mas ‘organizaclo nto’se restringe & atribuicdo de nomes; também abrange as relagbes significativas que se estabelecem entre os objetos. A mesa pode set levada para baixo da Arvore, s¢ quisermos subir nesta, ¢ pelo telefone podemos chamar 0 miédico se alguém adoece. A linguagem ainda estrutura o ambiente humano da ctignge! por-meio da objetivacdo e por estabelecer relapSes significativas. Por in- ‘termédio dela a realidade passa a ser ocupada por Séres distinfos, que vao desde a ‘mamie (que geralmenite € uma espécie de deusa reinante, cujo trono esti erigido ‘0 centro dum universo em expansio) até.o menininho malvado que tem acessos de célora no quarto contiguo. E é através da linguagem que se deixa claro que ‘amie sabe tudo, ¢ que menininhos malvados serdo castigados; aliés, s6 através da linguagem tais proposiqBes poderdo continuar plausivels, mesmo que a ex- periéncia forneca pouca ou nentruma prova em abono das mesmas. Hi outro detalhe importante. E por meio da linguagem que os papéis desem- penhados pelos diversos seres se estabilizam na experiéncia da crianca. J& alu- ddimos aos papéis sociais quando falamos no aprendizado da erianga para assumir © papel do outro — que constitu um passo decisive no processa de socializacio. A ‘rianga aprende a reconhever 0s papéis como padroes repettivas ma conduta de otras pessoas — trata-se da experitnela que ja resumimos na frase “la vai cle de ‘oro (1) Esta percepcio transforma-se numa feigdo permanente da mentalidade {A defincto de papel adotada test passagem & birtantecottnte tanto na Sociologia como ss ontrasCincas Socal. Commparese, por exempla, a segunts defacto formulada por Ralph Tur. fcr "Na maloria der acepybes oni que o trmo € empregase, 8 sequintet demeatos ho inculdos na ‘efinigto de pape: fomece um pedro para a condota¢ as attudes; constitul uma er ‘ratégi para o confronto com situates repetitivas; 6 soclamente (denote, de forma mais od ‘enos clara, cano-unta enidade; pode sr desempeahado de forma perowirel pot indivdus des: emethants: « constitu uma das bases mals importantes para & lntfierdo¢ aclessificarao dos i “vidios a sociedade,” ("Role: Socalogieal Aspects”, in Intemational Encyclopedia ofthe Socal Sciences, Mavoillan, Nova Torque, 1968, vl 13, p. 852.) . poe Durkbeian. que é uma insttuigao-social? — 19 {infantil e; portanto, da sua interapao.com outras pessoas, realizada por meio d ‘finguagem. © a linguagem que especifica, numa forma capaz de ser repetida ‘exatamente 0 gue a-outra pessoa vai fazer de novo — “LA vai ele de novo com ess jit de papai castigador”, “1d vai ele de novo com efsa cara de quem espera ¥ sita”, ¢ assim por diante. Na verdade, é s6 por meio de fikagbes lingtisticas com ‘estas (através das quais a acd alheia adguire um significado definido que ser fatribuido a eada acto do mesmo tipo), que a crianca pode aprender a assumir papel do outro. Em outras palavras, a linguagem estabelece a ligagio entre 0 “1 ‘valele de novo" ¢ 0 “cuidado, que lf vou ex”. ‘Alinguagem: a interpretacio e justificacao da realidade : (© microcosmo da crianga é estruturado em termos de papéis. Muitos dess papéis, porém, estendem-se ap campo mais amplo do macrocosmo ou, para ust nos a imagem inversa, consituem incursSes do macrocesmio na situacdo media da erianga. Os papéir reprecentam instcuicdes,(2) No momenta em que 0 pai fuime aquele jeto de castigador, podemios presumir que'essa ago seré acomps tihada de boa dose de verbosidade. Enquanto castiga, o pa fala. Fala sobre o qu Parte de sua fala pode constitair apenas um meio de dar vardo & sua contrarieda¢ ‘ou ralva. Mas, na maria das vezes, grande parte da conversa constitui um c ‘mentirio ininterrupto sobre 9 sto incorreto ¢ 0 castigo tia merecido, As palavr interpretam cjustifearn 0 castigo. & & inevitavel que isso seja feito duma matics due ultrapassa as reagbes imediatas do proprio pai. O castigo € enquadrado nui ample contexto ético-moral; em casos extremos, até mesmo a divindade pode invoceda como autoridade penal, Deixando de lado a dimensio teolbgica do f ‘meno (sobre a qual infelizmente a Sociologia nada tem « dizer), cabe ressall ‘ave as explaniagdes sobre a morale a ética igam 0 pequeno drama que se dese Tula naquele microcosmo a todo um. sistema de instituigGes 5 ‘Naquele momento, o pai que aplica o castigo 0 representante desse sistema(ma precisamente, do sistema da moral ¢ das boas maneiras como tais); quando trianga voltar a situar-se no mesmo, ou Seja, no momento em que repetiro desea penho de um papel identficdvel, esse papel representard as instituigdes do sister moral. Desa forma, a crianga, 20 defrontarse com a linguagem, vé nela tn realidade de abrangéncia universal. Quase todas as experiéncias que sente em te ‘mos reais estrutyram-se sobre a base dessa realidade subjacente — sio fttrad através dela, organizadas por ela, entrant em expansio por meio deta ou, 20 co {tdilo, por ela sto relegadas a0 eayurcimento — pois uma coisa sobre a qual podemos falar deixa unta impress30 muito tShue na memria. {sso acontece co {oda e qualquer experiéncia, mas principalmente com as experiéncias ligadas proximo.e a0 mundo socal. : 2 ‘Caractoristicas fundamentais de wma inatitulcSe: sexterioridade \is: sdo. algumas das principais caracteristicas de uma instituicdo? Te tarot lid Is or noi do caso d ingutgem (3) Neve pont qucremos 2) Nest pont amon cmnand «cnet ep om se rocco tor mal RU) Ar corctenl equ adeadas atm etament deseo dos fats soci fore 196 — Conceitos socioldgicos fundamentais mular uma sugesto. Sempre que o leitor se detrontar com alguma afirmativa sobre instituiges, sobre 0 que sto e como funcionam ou sobre como mudam, poderd seguir a norma pritica de indagar em primeiro lugar qual a impressto que se cole dessa afirmativa se a mesma for aplicada & linguagem, Evidentemente cexistem: instituigdes totalmente diversas da linguagem — pense-se, por exemplo, no Estado. Todavia, se uma afirmativa formulada em termos bastante amplos, ‘mesmo depois de adaptada convenientemente a outro caso institucional, for total- mente absurda quando aplicada & linguagem, teremos boas raz6es para supor que 1 algo de muito errado com a mesma, As instituicdes sd0 experimentadas como algo dotado de realidade exterior: em outras palavras, a insttuigdo é alguma coisa situada fora do individuo, alguma coisa que de certa maneira (duma maneira bastante “éndua”, dislamos) difere da realidade formada pelos pensamentos, sentimentos ¢ fantasias do indiyiduo. Por esta caracteristica, uma instituigto assemelha-se 2 outras entidades da realidade exterior — guarda certa semelhanca até mesmo com objetos tais como Arvores, mesase telefones, que esttio/é fora, quer oindividuo queira, quer no. O individuo allo seria capaz de eliminar uma érvore com um movimento da mio — e nem uma instituicto. A linguagem é experimentada desta mancira, Na verdade, sempre que © individuo fala, esté como que “pondo para fora" alguma coisa que estava “den- tro’” dele — © 0 que pée para fora no sto apenas os sons de que € feita a lin- {guagem, mas os pensamentos que a linguagem deve transmitir. Acontece que este pOr para fora" (para exprimirmos o fenfmeno de maneira mais elegante, po- derlamos usar 0 termo ““exteriorizagio”) realizase em termos que no resultem da idjossinerasia criadora de quem fala, Suponhamos que ele estejafalando inglés. A \ingua inglesa ngo foi criada nas profundezas de sua consciéncia individual. Exis- ‘tia Id fora multo antes do momento em que o individuo a usou. Ele a experimenta ‘como alguma coisa que existe fora dele, e a mesma coisa acontece com a pessoa & qual se dirige; ambos experimentaram a lingua inglese como uma realidade ex- terior no momento em que comecaram a aprendé-la, Caracteristicas fundamentals de uma instituicio: a objetividade 7 ins so cpr co prs it, frase apenas repete, de forma um tanto diferente, a proposigio anterior. Alguma coisa ¢ objetivamente real quando todos (ou quase todos) admitem que de fato a mesma existe, que existe duma maneira determinada. Este ltimo aspecto € Sosa ee ene eee SRI ices aie eit a cumtnerenie gt oe rarefaction ar see ‘rar uma forma muito melhor e mais racional de organizar a linguagem. F eviden- Cnn e eane ms eee earner ae deste Cal oe Sattar iae ane a eae ae Sais SR Shas oes dinaria. Jean Piaget, o psicélogo infantil suico, relata que, em certa oportunidade,, Perguntaram a uma criancinha se o sol poderia ser chamado por outro nome que’ dite tl ee alee hatte eee SUS cael nea mane ae SESS cae ee etre ees ont 0 que é uma instituigdo social? — 197 Caracteristcas fundamentals de uma instituigio a coercitividade ‘As instituigdes sao dotadas de forca coercitiva. Em cerla medida, esta q lidade esth implicita nas duas que ja enumeramos: 0 poder essencial que a ins- fituigzo exerce sobre o individuo consiste justamente no fato de que a mesma tem existéncia objetiva e nao pode ser afastada por ele. No entanto, se acontecer que ‘este nio nate 0 fato, esquega o mesmo — ou, o que é pior —, queira modificar 0 estado de coisas existente, & nessas oportunidades que muito provavelmente a for {ga coercitiva da instituiglo se apresenta de formia bastante rude. Numa familia es- Garecida da classe média, e numa idade em que fodos concordam que tais deslizes ‘si0 de esperar, a erianga geralmente 6 submetida a uma persuasio suave quando ofende os padrées do inglés correto. Essa persuasio suave poder continuar 2 set aplicada numa escola progressista, mas raramente o ser pelos colegas que & crian- a encontra na mesma, Estas provavelmente reagirdo a qualquer infraglo ao seu cédigo de inglés correto (que evidentemente nto 0 mesmo do professor), por meio ‘duma zombaria brutal ¢ possivelmente de represélias fisicas. Se o adulto insiste nessa atitade de desafio, ficaré sujeito a represélias partidas de todos os lados. O jovem de classe operdria podera perder a namorada se no quiser falar “bonito”, ¢ por esse mesmo motivo poder perder a promocdo. O dicionario Webster ¢ 0 ‘manual Modern English Usage, de Fowler, montam guarda em cada degrau da es- cada de ascensto social. Mas, ai do jovem da classe média que continue a falar ‘bonito no exéreitol E ai também do professor de meia-idade que pretenda captar as simpatias dos jovens, falando a “linguagem deles'; evidentemente, estara sem pre ao menos dois anos atris das convenobes destes, sujeitas sempre a mudangas répidas, e seu choque com o poder coercitivo da linguagem atinge as feigbes pa- ‘téticas duma tragédia de S6focles. a Reconhecer 0 poder das instituigdes ndo é 0 mesmo que afirmar que elas nic podem mudar. Na verdade, elas mudam constantemente — e precisam mudar pois ndo passam de resultados necessariamente difusos da agio de intimeros in fividuos que “atiram’” signifieados para o mundo. Se, de ua dia para outro, todo os habitantes dos Estados Unidos deixassem de falar inglés, a lingua ingles Geixarie de existir abruptamente como uma realidade institucional do pais. En outras palavras, a existéncia objetiva da linguagem depende da fala ininterrupt de muitos individuos que, ao se comunicarem, exprimem suas intengbes, sini cagdes e motivos de ordem subjetiva.(4) £ claro que essa objtiidade, a0 contra da objetividade dos fatos da natureza, nunca pode assumir cariteresthtico, Mud Constantomente, mantém-se nim fluxa dindmico e, as vezes, sofre convulsde Jiolentas. Mas para o individuo no é facil provocar mudances deliberadas. S epender exclusivamente dos seus esforeos individuais, as possibilidades de éxit hum empreendimento desse ipo ser4o minimas. Imaginemos que o Jeitor se lane Dtarefa de reformular a gramétice ou de renovar o yocabulério. & possivel qu tenha algum éxito no microcosm que o rodeia. E até provavel que tenha cons ‘guido algum €xito no tempo de evianga: talver sua familia tenha adotado alguma das criagbes mais extravagantes de sua fala de bebe, incorporando-as&linguager intragrupal da famfia. Como adulto, o individuo poderd sleancar pequenss ¥ tGrias como estas, quando fala & esposa ou ao cireulo de seus amigos mais intime (4) A distingto entre linguagem fla procede de Ferdinand de Sausure, um llngist ferteme {ejnflvenciado por Durkhaim. 198 — Conceitos socioldgicos fundamentais Mas, se nao for considerado um "grande escritor” ou um estadista, nem realizar esforgos imensos para congregar as massas em tomo de sua bandeira de revolugto Jingistica (neste ponto podertamos evocar 0 reavivamento do hebraico clssico n0 sionismo moderno ou os esforeos menos bem sucedidos de fazer a mesma coisa ‘com © gaélico da Irlanda), o impacto aleangado sobre a linguagem de seu ma- ‘srocosmo serd privavelmente nulo no dia em que abandonar este vale de palavras, Caracteristicas fundamentais de uma instituleo: a autoridade moral As instituigdes tém uma autoridade moral. Nao se mantém apenas através da coercitividade. Invocam um direito a legitimidade; em outras palavras, reservam- se 0 direito de ndo 36 ferirem o individuo que as viola, mas ainda o de repreendé-lo no terreno da moral. £ claro que o grau de autoridade moral atribuido as insti- ‘tuigdes varia de caso para caso. Geralmente essa variagio se exprime através da, gravidade do castigo infligido ao individuo desrespeitoso. O Estado, no caso ex- remo, poderé maté-lo, enquanto a comunidade duma rea residencial talvez se limite a tratar friamente sua esposa, quando esta freqienta o clube, Num caso ‘como noutro, 0 castigo ¢ acompanhado dum sentimento de honrader ofendida. Raramente a autoridade moral da linguagem encontra expresso na violéncia, fisica (muito embora, por exemplo, existam situagBes no Israel moderno onde & pessoa que no fala o hebraico pode ficar sujeita a certo desconforto fisico). Geral- ‘mente exprime-se num estimulo bastante eficiente, representado pela sensacdo de vergonha e, por vezes, de culpa, que se apossa de infrator. A crianca estrangeira que continuamente comete erros de linguagem, 0 pobre imigrante que carrega 0 fardo do sotaque, 0 soldado que nao consegue superar o habito arraigado da fala olida, o intelectual de vanguarda cujo falso jargdo mostra que nao esté “por den- ro", todos eles sio individuos que experimentam um sofrimento muito mais in- teniso que o das represilias externas; quer queiramos, quer no, temos que re- conhecer netes a dignidade do sofrimento moral. Cavacteristicas fundamentals de uma instituigdo: a historicldade As institigdes tim a qualidade da historieidade. Nao sto apenas fatos, mas fatos hist6ricos; tém uma historia. Em praticamente todos os casos experimen- {ados pelo individuo, a instituigao existia antes que ele nascesse e continuars a cexistir depois de sua morte. As idéias corporficades na instituigdo foram acu: muladas durante um longo periodo de tempo, através de indmeros individuos ‘eujos names e rostos pertencem irremediavelmente ao passado, A pessoa que fala © inglés contemporaneo dos Estados Unides, por exemplo,reitera sem saber as ex- Deriéncias verbalizadas de geragBes mortas — os conguistadores normandos, 05 Se7¥0$ saxdes, os eseribas eclesisticos, os jurstas elizabetanos, além dos puri tanos, dos homens da fronteira, dos gangsters de Chicago e dos misicos do ja, ue viveram em Epocas mais recentes. A linguagem (c, de fato, geralmente o mundo das instituig3es) pode ser con- ‘ebida como-uni grande rio que flui através do tempo. Aqueles que por um mo- mento Viajam em suas éguas, ou vivem As suas margens, continuamente atiram ‘objetos nele. Na sua maioria, estes vio ao fundo ou se dissolvem imediatamente, Mas alguns deles se consolidam e slo carregados por um perfodo mais eurto ou ‘mais longo. Apenas uns poucos percorrem todo o trajeto, chegando 4 for, onde es- ‘terio, tal qual todos os outros, se despeja no oceane do olvido, que 60 fim de toda historia empiri serene ‘sere O que é uma instituicao social? — 19 Para Karl Kraus, um escritorausiriaco, alinguayem é a habitagdo do esprit hhumano. E ela que proporcionao contextovitalicio das experiéncias dos outros, proprio individuo, do mundo, Mesto ao imaginarmos mundossituados além des fe, somos obrigades a formular nossos temores e sperancas em palavras. A lin ‘guagem é a instituigdo social que supera todas as outras. Representa o mais po

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