Professional Documents
Culture Documents
Valerio DenisFabricio M
Valerio DenisFabricio M
Campinas, 2018
Denis Fabricio Valerio
Campinas, 2018
COMISSÃO EXAMINADORA
O presente estudo teve como objetivo realizar através da metabolômica uma análise da
resposta metabólica do treinamento de força de alta intensidade (TFAI) e treinamento de
força de baixa intensidade (TFBI) executados até a falha concêntrica e sua relação com a
hipertrofia muscular. A amostra foi constituída por 18 voluntários jovens saudáveis do
sexo masculino (idade 23 ± 3 anos, massa corporal 67 ± 2 kg, estatura 172 ± 6 cm), não
engajados em programas de TF por pelo menos 12 meses antes do estudo. Os voluntários
foram divididos de forma balanceada (baseado na espessura muscular do vasto lateral)
entre os grupos TFAI e TFBI. Foram realizadas duas sessões de treinamento por semana
utilizando os exercícios leg-press e cadeira extensora bilateral, nessa ordem durante 8
semanas. O protocolo consistiu em realizar 3 séries até a falha concêntrica em uma
intensidade de 80% 1-RM para o grupo TFAI e 30% de 1-RM para o grupo TFBI em cada
exercício, todos com de 90 segundos de pausa entre as séries e 120 segundos entre os
exercícios. Foi mensurada a espessura muscular dos músculos reto femoral, vasto
intermédio e vasto lateral antes e após as 8 semanas de treino, e na primeira sessão de
treino foram analisados os metabólitos expressos em 5 e 60 minutos após o protocolo de
exercícios através da metabolômica, assim como a atividade eletromiográfica durante a
realização do exercício leg press 45º. Como resultado a realização do TFAI e TFBI até a
falha concêntrica promoveu hipertrofia muscular e resposta metabólica similar entre os
protocolos, e maior amplitude EMG para o grupo TFAI em comparação ao TFBI. Em
conclusão, a realização do TF de alta e baixa intensidade até a falha concêntrica promove
hipertrofia muscular e alteração da resposta metabólica similar entre os protocolos, ao
contrário do que vem sendo sugerido o TFBI não gera maior estresse metabólico em
comparação ao TFAI.
The aim of the present study was to perform an analysis of the metabolic response of high-
intensity resistance training (HI-RT) and low-intensity resistance training (LI-RT)
performed until concentric failure and its relation with hypertrophy. The sample consisted
of 18 healthy young male volunteers (age 23 ± 3 years, body mass 67 ± 2 kg, height 172 ±
6 cm), not engaged in resistance training programs for at least 12 months prior to the
study. The volunteers were divided in a balanced way (based on the vastus lateralis muscle
thickness) between the HI-RT and LI-RT groups. Two training sessions per week were
performed using leg-press exercises and bilateral extensor chair, in that order for 8 weeks.
The protocol consisted of performing 3 series until concentric failure in an intensity of
80% 1-RM for the HI-RT group and 30% of the 1-RM for the LI-RT group in each
exercise, all with a 90-second pause between the series and 120 seconds between
exercises. As a result the realization of HI-RT and LI-RT until concentric failure promoted
hypertrophy and similar metabolic response between protocols, and greater EMG
amplitude for the HI-RT group compared to the LI-RT. In conclusion, the realization of
high and low intensity resistance training until concentric failure promoted a similar
alteration of the metabolic response, contrary to what has been suggested, the TFBI does
not generate greater metabolic stress in comparison to the TFAI, the greater concentration
and / or exposure to isolated metabolites does not appear to be a determinant factor for
hypertrophy. In conclusion, the realization of high and low intensity resistance training
until concentric failure promotes muscular hypertrophy and alteration of the similar
metabolic response between the protocols, contrary to what has been suggested the TFBI
does not generate greater metabolic stress in comparison to TFAI.
TF - treinamento de força
Pi - fosfato inorgânico
GH - hormônio do crescimento
EM - espectrometria de massas
EMG - Eletromiografia
mL – mililitro
µL – microlitro
1 - INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 10
2 - REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................................... 12
2.1 - Treinamento de força de alta e baixa intensidade ...................................................12
2.2 - Ativação muscular ...................................................................................................13
2.3 - Estresse metabólico .................................................................................................14
2.4 - Metabolômica ..........................................................................................................16
3 - OBJETIVOS .................................................................................................................. 20
3.1 - Objetivo geral ..........................................................................................................20
3.2 - Objetivos específicos ..............................................................................................20
4 - MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................... 20
4.1 - Amostra ...................................................................................................................20
4.2 - Desenho experimental .............................................................................................21
4.3 - Espessura muscular .................................................................................................23
4.4 - Controle dos hábitos nutricionais ............................................................................23
4.5 - Coleta sanguínea e análise metabolômica ...............................................................23
4.6 - Avaliação da força máxima dinâmica .....................................................................24
4.7 - Protocolo de exercícios ...........................................................................................25
4.8 - Atividade Eletromiográfica (EMG) ........................................................................25
4.9 - Análise Estatística ...................................................................................................26
5 - RESULTADOS.............................................................................................................. 27
5.1 - Espessura muscular .................................................................................................27
5.2 - Força máxima ..........................................................................................................28
5.3 - Macronutrientes .......................................................................................................28
5.4 - Análise metabolômica .............................................................................................29
5.5 - Análise univariada ...................................................................................................29
5.6 - Análise multivariada ...............................................................................................30
5.7 - Amplitude eletromiográfica ....................................................................................32
6 - DISCUSSÃO ................................................................................................................. 32
7 - CONCLUSÃO ............................................................................................................... 37
8 - REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 37
9- ANEXOS ........................................................................................................................ 46
Anexo 1: Parecer de aprovação do Comitê de ética em pesquisa (CEP) ........................46
Anexo 2: Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) ......................................57
Anexo 3: Recordatório alimentar ....................................................................................62
10
1 - INTRODUÇÃO
Muitas pesquisas têm demonstrado a eficiência do treinamento de força (TF) para
aumentar a massa muscular (WINETT e CARPINELLI, 2001; WEST et al., 2009; BURD et
al., 2010; MITCHELL et al., 2012). Essa adaptação muscular é de extrema importância, pois
pode gerar diversos benefícios para saúde, desempenho esportivo e estética (DOHERTY,
2003; HEITMANN e FREDERIKSEN, 2009; SRIKANTHAN e KARLAMANGLA, 2011;
DAMASCENO et al., 2015; HARRIES et al., 2016).
O treinamento de força de alta intensidade (TFAI) tem sido uma das estratégias de
TF mais comumente aplicada na tentativa de se maximizar a hipertrofia muscular, é realizado
em intensidade de ~ 80% de 1RM (MITCHELL et al., 2012; SCHOENFELD et al., 2014;
VECHIN et al., 2015; KORAK et al., 2017). Uma alternativa ao TFAI é o TF de baixa
intensidade (TFBI) que normalmente utiliza uma intensidade de 30% de 1 RM (TANIMOTO
e ISHII, 2006; BURD et al., 2012; MITCHELL et al., 2012; JENKINS et al., 2015; JENKINS
et al., 2016). Estudos têm demonstrado que quando o TFBI é realizado até a falha concêntrica
pode promover ganho de massa muscular similar ao TFAI (TANIMOTO e ISHII, 2006;
BURD et al., 2012; MITCHELL et al., 2012; JENKINS et al., 2015; JENKINS et al., 2016;
NOBREGA e LIBARDI, 2016; NOBREGA et al., 2018), fato que contraria diretrizes que tem
sugerido uma intensidade acima de 60% de 1 RM para se maximizar o ganho de massa
muscular (ACSM, 2002; 2009).
O mecanismo responsável pela similaridade na hipertrofia muscular entre o TFAI
e o TFBI ainda é desconhecido. Uma das principais teorias proposta para explicar essa
similaridade baseia-se na premissa de que o TFBI quando o realizado até a falha concêntrica
mesmo utilizando intensidade mais baixa poderia promover grau de recrutamento de unidades
motoras similar ao do TFAI resultando em resposta hipertrófica semelhante (BURD et al.,
2012; MITCHELL et al., 2012). Contudo, estudos utilizando eletromiografia (EMG) tem
demonstrado maior amplitude EMG no TFAI em comparação ao TFBI e sugerem que o
estressse metabólico possa ser o mecanismo responsável pela resposta hipertrófica similar
entre o TFAI e TFBI (SCHOENFELD et al., 2014; JENKINS et al., 2015; JENKINS et al.,
2016).
O estresse metabólico se manifesta como resultado do acúmulo de metabólitos
resultante do exercício, tal como lactato, e com aumento de ions H+ com consequente queda
no pH (SUGA et al., 2012; TAKADA et al., 2012). Sugere-se que o estresse metabólico seja
maior em protocolos de baixa intensidade em comparação ao TFAI (SUGA et al., 2012;
11
TAKADA et al., 2012) e possa contribuir para uma hipertrofia muscular similar ao do TFAI
estimulando fatores relacionados com o aumento da massa muscular como o aumento da
fosforilação de poteínas pertencentes à cascata mTOR (FRY et al., 2010; OISHI et al., 2015)
que tem como resultado final a síntese de proteína (LEGER et al., 2006; CAMERA et al.,
2010). Especula-se também que o maior estresse metabólico no TFBI poderia prolongar a
exposição a metabólitos que podem atuar como estímulo para hipertrofia muscular (JENKINS
et al., 2015). Assim, mesmo treinando com menor intensidade no TFBI seria possível obter a
mesma resposta hipertrófica que o TFAI através de um possível maior estresse metabólico e
de caminhos alternativos para a hipertrofia muscular não dependentes da intensidade de
treino.
No entanto, apesar de importantes a maioria dos estudos que tem pesquisado a
resposta metabólica no TF tem conduzido análises com poucos metabólitos, se limitando à
lactato e fosfato inorgânico (TAKARADA et al., 2000; REEVES et al., 2006; MANINI et al.,
2012; SUGA et al., 2012; POTON e POLITO, 2016). Atualmente próximo de 4000
metabólitos que formam uma complexa rede metabólica já formam identificados em soro
humano (PSYCHOGIOS et al., 2011). Assim, o estudo de metabólitos e vias metabólicas
isoladas pode promover uma visão reducionista das alterações promovidas pelo TF no
metabolismo diante da complexidade que a resposta metabólica representa.
Nesse sentido, a metabolômica que é um campo de pesquisa que reúne várias
técnicas analíticas que visam identificar e quantificar grandes quantidades de metabólitos
presentes em uma amostra biológica de interesse (FIEHN et al., 2000), pode ser uma ótima
ferramenta para uma análise mais completa da resposta metabólica em decorrencia do TF.
Nesse sentido, o estudo de Berton et al. (2017) demonstraram através de uma análise
metabolômica que 13 metabólitos tiveram alteração em decorrência do TF. Além disso,
permitiu a identificação do aumento de metabólitos que até então não tinham sido observados
no TF como o 2-oxoisocaproato, 2-hidroxibutirato, 3-hidroxiisobutirato, lisina e hipoxantina.
Em outro estudo, Valério et al. (2017) compararam a resposta metabólica do TFAI e TFBI
com restrição de fluxo sanguíneo através de uma análise metabolômica e observaram
resultados que até então não tinham sido demonstrados em trabalhos anteriores, como maior
aumento dos metabólitos lactato, piruvato e alanina no TFAI em comparação ao TFBI com
restrição de fluxo sanguíneo.
Estes estudos indicam que o emprego de métodos abrangentes e exploratórios
como a metabolômica em trabalhos sobre resposta metabólica no TF pode permitir uma
análise mais ampla da resposta metabólica através da identificação de um número maior e
12
mais completo de metabólitos, o que pode ser de extrema importância para uma visão mais
profunda das alterações metabólicas geradas pelo TFAI e TFBI realizados até a falha
concêntrica e proporcionar um melhor entendimento da relação da resposta metabólica com a
hipertrofia muscular.
Portanto, o presente estudo teve como objetivo realizar através da metabolômica
uma ampla análise da resposta metabólica do TFAI e TFBI executados até a falha concêntrica
e sua relação com a hipertrofia muscular.
2 - REVISÃO DE LITERATURA
Os próximos parágrafos desta revisão de literatura têm como objetivo contextualizar o
papel da ativação muscular e resposta metabólica no TFAI e TFBI, assim como compreender
a metabolômica dentro das novas tecnologias ômicas e as possíveis vantagens de sua
utilização em experimentos com treinamento de força (TF).
período de tempo suficiente (SCHOENFELD, 2013a). É proposto que o limiar necessário para
ativar o espectro completo de fibras musculares, particularmente aquelas associada a unidades
motora maiores seja de uma intensidade de treinamento de no mínimo 60% de 1RM
(SCHUENKE et al., 2013). Assim, diretrizes sugerem uma intensidade de 60-70% de 1RM
para praticantes de nível iniciante e intermediário e 80-100% de 1RM para indivíduos com
nível de treinamento avançado (ACSM, 2002; 2009).
Levando em consideração as possíveis vantagens de se treinar com intensidade
superior a 60% de 1RM, o TFAI realizado em intensidade de ~ 80% de 1RM tem sido uma
das estratégias mais comumente utilizadas no TF (TANIMOTO e ISHII, 2006; BURD et al.,
2012; MITCHELL et al., 2012; JENKINS et al., 2015). No entanto, alguns estudos têm
demonstrado que o TFBI com intensidade de 30% de 1 RM quando realizado até a falha
concêntrica promove ganhos de massa muscular similares ao TFAI e pode ser uma alternativa
ao treinamento de alta intensidade (BURD et al., 2012; MITCHELL et al., 2012; JENKINS et
al., 2015; NOBREGA et al., 2018). O mecanismo responsável pela resposta hipertrófica
similar entre o TFAI e TFBI permanece incerto até o momento. A seguir serão discutidos
alguns possíveis mecanismos responsávis pela similaridade da hipertrofia muscular entre o
TFAI e TFBI, a ativação muscular e o estresse metabólico.
2.2 - Ativação muscular
Uma das principais teorias proposta para explicar essa similaridade baseia-se na
premissa de que o TFBI quando o realizado até a falha concêntrica mesmo utilizando
intensidade mai baixa poderia promover grau de recrutamento de unidades motoras similar ao
do TFAI resultando em resposta hipertrófica semelhante (BURD et al., 2012; MITCHELL et
al., 2012).
Quando uma contração sub-máxima é sustentada, as unidades motoras que foram
recrutadas inicialmente fadigarão produzindo menos força ou cessarão, exigindo recrutamento
de unidades motoras adicionais para sustentar a geração de força. Assim, à medida que as
repetições com intensidade mais baixa são realizadas, chegando próximo ao ponto da falha
concêntrica será exigido um recrutamento máximo das unidades motoras para sustentar a
tensão muscular assim como no TFAI (FALLENTIN et al., 1993; FUGLEVAND et al., 1993;
MITCHELL et al., 2012).
Assim, ocorreria o mesmo grau de ativação de fibras musculares no TFBI em
comparação ao TFAI e presumivelmente um estímulo similar de síntese de proteínas e
resposta hipertrófica independentemente da intensidade desde que o exercício seja realizado
até a falha concêntrica (BURD et al., 2010; NOBREGA e LIBARDI, 2016; NOBREGA et
14
al., 2018). Foi demonstrado por Burd et al. (2010) que o TF de menor intensidade (30% de
1RM) e maior volume (24 ± 3 repetições) realizado até o fadiga voluntaria foi igualmente
eficaz em estimular taxas de síntese de proteína miofibrilar durante a recuperação de 0 a 4 h
assim como em exercício de força de alta intensidade (90% de 1RM) e menor volume (5 ± 1
repetição) (BURD et al., 2010). Contudo, estudos utilizando eletromiografia (EMG) tem
demonstrado maior amplitude EMG no TFAI em comparação ao TFBI. Embora não seja
possível afirmar com toda certeza é possível que a maior amplitude EMG no TFAI possa
resultar em uma maior ativação de fibras musculares no treino de alta intensidade
contrariando a teoria de grau de recrutamento de unidades motoras similar entre o TFAI e
TFBI (SCHOENFELD et al., 2014; JENKINS et al., 2015; JENKINS et al., 2016). Dessa
forma, uma quantidade maior de estudos mais completos que utilizem outras análises além da
EMG se faz necessário para um melhor entendimento da ativação muscular no TFAI e TFBI.
2.4 - Metabolômica
A metabolômica é um campo de pesquisa que reúne várias técnicas analíticas que
visam identificar e quantificar grandes quantidades de metabólitos presentes em uma amostra
biológica de interesse (FIEHN et al., 2000). Esse método tem como principal função
identificar biomarcadores, compreender o funcionamento das vias metabólicas de forma
17
global, gerar novas hipóteses, verificar a eficiência de drogas e também identificar a função de
um gene (FERNIE et al., 2004; ENEA et al., 2010).
Após o sequenciamento do código genético de diversos organismos (i.e.,
genômica) ocorrido nas décadas de 1980 e 1990 o funcionamento das células em nível
molecular passou a ser de maior interesse da comunidade cientifica (VILLAS-BÔAS, 2006;
BASSINI e CAMERON, 2014). No entanto, o conhecimento de todo o sequenciamento
genético de um organismo não é suficiente para relacionar o fenótipo com o genótipo, assim
como se entender todos os mecanismos moleculares de uma célula (NICHOLSON et al.,
2002; VILLAS-BÔAS, 2006). Assim, na era pós genômica foram aprimoradas e
desenvolvidas novas tecnologias que proporcionaram o estudo integrado de uma cascata de
eventos denominada de ciências “ômicas” que engloba além da genômica (genes) a
transcriptômica (RNA mensageiro, RNAm), proteômica (proteínas) e metabolômica
(metabólitos) (VILLAS-BÔAS, 2006; EMWAS et al., 2013).
Entre as análises citadas acima, a metabolômica é a mais recente e surgiu como
resposta às limitações da transcriptômica e proteômica, visto que alterações nos níveis de
RNAm nem sempre resultam em alterações nos níveis de proteínas que por sua vez podem ou
não estar enzimaticamente ativas. Assim, alterações observadas na transcriptômica e
proteômica podem não resultar em alterações de fenótipo (NICHOLSON et al., 1999;
NICHOLSON et al., 2002; GO et al., 2005; VILLAS-BÔAS, 2006). Já os metabólitos podem
ser entendidos como substratos, produtos ou cofatores em reações bioquímicas, são
determinados por um complexo sistema regulatório dentro das células que integra a tradução,
transcrição do gene e formação de proteínas, resultando na formação de metabólitos que
representam o resultado final da expressão e da atividade do gene com maior proximidade
com o fenótipo de uma célula como pode ilustrado na figura 2 (VILLAS-BÔAS, 2006;
DETTMER et al., 2007).
18
Nesse sentido a metabolômica que pode ser definida como o estudo do conjunto
completo de metabólitos intermediários de baixo peso molecular (OLIVER, 2003). Tem se
destacado principalmente por sua maior proximidade com o fenótipo. As principais
abordagens analíticas para se analisar o metaboloma (i.e., conjunto de metabólitos) podem ser
dividas basicamente em duas: (1) análise direcionada, na qual há uma determinação do grupo
de metabólitos alvos do estudo ignorando os demais que não sejam de interesse (2) perfil
metabólico, em que se analisa o conjunto de todos os metabólitos ou produtos derivados dos
mesmos detectados em uma amostra em particular. Esta última pode ainda ser subdividida em
duas (a) fingerprinting referente a metabólitos intracelulares e (b) footprinting que reporta
metabólitos extracelulares (VILLAS-BÔAS, 2006).
Dentre as principais plataformas utilizadas na metabolômica destacam-se a
espectrometria de massas (EM) (com a adição da cromatografia líquida ou gasosa) e a
ressonância magnética nuclear (RMN). Contudo, existem diferenças entre essas plataformas a
EM possui como vantagem alta sensibilidade de detecção, o que possibilita a identificação de
um maior número de metabólitos. A RMN embora possua menor sensibilidade que a EM é
considerada mais rápida e com maior reprodutibilidade (EMWAS et al., 2013).
Alguns estudos já têm utilizado a metabolômica em suas análises para explorar
questões relacionadas ao metabolismo e TF. Dentre eles podemos destacar o estudo de Berton
et al. (2017) que teve como objetivo investigar o time course da resposta aguda metabólica
global após o TF, sua amostra foi composta por jovens do sexo masculino, que realizaram os
exercícios leg press 45º e cadeira extensora. O protocolo foi constituído por quatro séries de
10 repetições, a uma intensidade de 70% de 1RM, com intervalo de 60 segundos entre as
séries e entre os exercícios. Foram realizadas coletas sanguíneas em diversos momentos, -60
19
minutos, pré exercício, cinco, 15, 30 e 60 minutos após o exercício. Foram identificados 49
metabólitos dos quais 13 metabólitos obtiveram uma alteração significante em comparação ao
momento pré-exercício (piruvato, lactato, succinato, 2-oxoisocaproato, alanina, 2-
hidroxibutirato, 3-Hydroxi-isobutirato, hipoxantina, leucina, isoleucina, valina, lisina e
ornitina) em um e/ou mais momentos após exercício, posteriormente os metabólitos lactato,
piruvato, succinato, alanina e 2-oxoisocaproato foram classificados como de ação rápida (i.e.
alteração significativa em 5min), 2-hydroxibutirato, hipoxantina e 3-hydroxi-isobutirato como
metabólitos de ação intermediaria (i.e. com alteração significativa entre 15 e 30 min) e por fim
isoleucina, leucina, valina, lisina e ornitina metabólitos de ação lenta (i.e. com alteração
significativa em 60 min).
Valério et al. (2017) tiveram como objetivo em seu estudo comparar a resposta
metabólica entre o TFAI e o TFBI com restrição de fluxo sanguíneo, sua amostra foi
composta por jovens do sexo masculino com 8.7 ± 2.1 anos de experiência no TF. Nesse
estudo, todos os voluntários participaram de três condições, TFAI no qual os voluntários
realizaram 3 séries de 10 repetições com 80% de 1RM, TFBI com restrição de fluxo
sanguíneo que consistiu em realizar 3 séries de 15 repetições com intensidade de 20% de 1RM
com restrição de fluxo sanguíneo, ambos os protocolos foram realizados no exercício leg
press 45º e com 1 minuto de descanso entre as séries, e por fim a condição controle na qual os
voluntários não realizaram nenhum tipo de exercício. Em ambos os protocolos de treinamento
as coletas sanguíneas foram realizadas antes e 5 minutos após a realização do exercício.
Dentre os 48 metabólitos identificados e quantificados, seis apresentaram alterações
significantes entre as condições do experimento, com destaque para piruvato, lactato e alanina
que aumentaram mais após o TFAI do que TFBI com restrição de fluxo sanguíneo. Este
trabalho forneceu visão mais ampla da resposta metabólica entre o TFAI e o TFBI com
restrição de fluxo sanguíneo por meio da metabolômica, demonstrando uma resposta distinta
entre os protocolos analisados de alguns metabólitos que não são comumente analisados.
Outro estudo que utilizou a metabolômica para explorar questões relacionadas a
metabolismo e TF foi o de Yde et al. (2013) que teve como objetivo elucidar o impacto da
fonte de proteína (whey protein ou caseinato de cálcio) no metabolismo pós-TF e sua
importância para hipertrofia muscular, a amostra do estudo foi composta por indivíduos
jovens do sexo masculino que realizou TF com 10 séries de 8 repetições na cadeira extensora
em uma intensidade de 80% de 1RM. A coleta de sangue foi realizada em diferentes
momentos (-70, 0, 70, 220, 370 min). Como resultado o estudo indicou mudanças no perfil
plasmático dos metabólitos pós-TF que consistiram em alterações na alanina, beta-
20
3 - OBJETIVOS
4 - MATERIAL E MÉTODOS
4.1 - Amostra
A amostra foi constituída por 18 voluntários jovens saudáveis do sexo masculino
(idade 23 ± 3 anos, massa corporal 67 ± 2 kg, estatura 172 ± 6 cm), que não estavam
engajados em programas de TF por pelo menos 12 meses antes do estudo. Os indivíduos que
apresentaram doenças metabólicas que pudessem afetar as respostas hormonais, como
diabetes e doença de Cushing, que estivessem realizando dietas hipocalóricas e que
possuíssem problemas osteomioarticulares foram excluídos do estudo. Também foram
excluídos do estudo os voluntários com frequência nas sessões de treinamento inferior a 90%
ou que se ausentaram por mais de duas sessões consecutivas. Os participantes receberam
informações acerca dos benefícios, riscos e procedimentos experimentais envolvidos na
21
joelho até a posição inicial que era de 90º de flexão. A realização dos testes seguiu essa
mesma ordem para todos os voluntários. A carga inicial para o teste máximo foi estimada
durante as sessões de familiarização, e a partir disso, o peso levantado foi aumentado até que
o voluntário não conseguisse realizar uma repetição completa com aquela carga (BROWN e
WEIR, 2001). O número total de tentativas para achar o valor de 1-RM não foi maior que
cinco. Foi dado um intervalo de três minutos entre as tentativas. Entre os exercícios, foi
respeitado um intervalo de 10 minutos.
5 - RESULTADOS
Figura 3. Espessura do músculo vasto lateral (A); soma da espessura dos músculos reto femoral e vasto
intermédio (B); soma da espessura dos músculos vasto lateral (VL), reto femoral (RF) e vasto intermédio (VI) e
aumento percentual de cada grupo (C); antes (Pré) e após oito semanas de treinamento (Pós). Treinamento de
força de alta intensidade (TFAI); treinamento de força de baixa intensidade (TFBI). *Diferença significativa em
relação ao momento Pré.
28
Figura 4. Teste de 1RM dos exercícios leg press 45º (A) e cadeira extensora (B). TFAI: treinamento de força de
alta intensidade, TFBI: treinamento de força de baixa intensidade, Pré: teste realizado antes das 8 semanas de
treinamento (Pré), 4S: teste realizado na quarta semana de treinamento (4S), Pós: teste realizado na oitava
semana de treinamento antes da última sessão de treino (Pós). *Significativamente diferente de Pré para ambos os
protocolos (efeito principal de Tempo), # Significativamente diferente de 4S para ambos os protocolos (efeito
principal de Tempo).
5.3 - Macronutrientes
Para o consumo calórico total e quantidade macronutrientes (carboidratos, lipídios
e proteínas) consumidos no dia anterior às coletas sanguínea não houve diferença entre grupos
em nenhum dos dias de coletas (Tabela 1).
29
Figura 5. Análise de componentes principais da resposta metabólica da área sob a curva de 5 minutos após
exercício (A), Análise de componentes principais da resposta metabólica da área sob a curva de 60 minutos após
exercício (B). Os círculos preenchidos de vermelho representam TFAI e os verdes TFBI.
Figura 6. A) Treinamento de força de alta intensidade (TFAI), B) treinamento de força de baixa intensidade
(TFBI). Todas as vias numeradas foram alteradas significativamente em A e/ou B. 1- Metabolismo de alanina,
aspartato e glutamato (A: asparagina, alanina, piruvato, succinato; B: alanina, piruvato, succinato), 2-
aminoacil-tRNA biossíntetase (A; arginina, fenilalanina, alanina, lisina, isoleucina, leucina, treomina; B:
fenilalanina, alanina, lisina, isoleucina, leucina, treomina, tirosina), 3- Metabolismo da arginina e prolina (A:
ornitina, N-metilhidantoína, piruvato; B: N-Metilhidantoína, creatinina, piruvato), 4- Metabolismo da beta
alanina (A: malonato, pantotenato), 5- Metabolismo do butanoato (A: 3-hidroxibutirato, piruvato, succinato;
B: 3-hidroxibutirato, piruvato, succinato), 6- Ciclo de Krebs (A: piruvato, succinato; B: piruvato, succinato), 7-
Glicólise ou Gliconeogênese (A: piruvato, lactato, glicose; B: piruvato, lactato, glicose), 8- Pantotenato e CoA
biossíntese (A: pantotenato, piruvato; B: pantotenato, piruvato), 9- Via fosfato pentose (A: glicose, piruvato; B:
glicose, piruvato), 10- Metabolismo da fenilalanina (A: fenilalanina, piruvato, succinato; B: fenilalanina,
piruvato, succinato, tirosina), 11- Fenilalanina, tirosina e triptofano biossíntese (B: fenilalanina, tirosina), 12-
Metabolismo do propanoato (B: succinato, lactato), 13- Metabolismo do piruvato (A: piruvato, lactato; B:
piruvato, lactato), 14- Metabolismo da taurina e hipotaurina (A: alanina, piruvato; B: alanina, piruvato), 15-
Metabolismo da tirosina (B: tirosina, piruvato), 16- Valina, leucina e isoleucina biossíntese (A: piruvato,
treomina, leucina, isoleucina; B: piruvato, treomina, leucina, isoleucina).
32
Figura 7. Root mean square normalizado (RMS, 50% da série de aquecimento) do sinal EMG do músculo vasto
lateral para os grupos TFAI: treinamento de força de alta intensidade, TFBI: treinamento de força de baixa
intensidade.*Significativamente diferente de TFBI.
6 - DISCUSSÃO
O presente estudo teve como objetivo realizar uma ampla análise da resposta
metabólica do TFAI e TFBI realizados até a falha concêntrica e sua relação com a hipertrofia
muscular após um período de oito semanas de treinamento. Nossos resultados demonstraram
uma hipertrofia muscular similar entre os grupos TFAI e TFBI. Também houve uma
similaridade da resposta metabólica entre grupos, as vias metabólicas alteradas de forma
significativa e que foram impactantes foram semelhante entre o TFAI e TFBI. O maior
aumento apenas dos metabólitos lactato, piruvato e metilguanidina para o grupo TFAI da área
sob acurva de 5 minutos não foi suficiente para promover alteração distinta do metabolismo
global em comparação ao TFBI, também não foi suficiente para influenciar na resposta
hipertrófica.
A similaridade na hipertrofia muscular entre os protocolos de alta e baixa
intensidade corrobora com diversos trabalhos anteriores nos quais ambos os protocolos foram
realizados até a falha concêntrica (TANIMOTO e ISHII, 2006; BURD et al., 2012;
MITCHELL et al., 2012; JENKINS et al., 2015; JENKINS et al., 2016). Esse resultado
33
enfatiza a eficiência do TFBI como uma alternativa ao TFAI para se promover o aumento da
massa muscular mesmo que realizado com menor intensidade.
Tem sido sugerido que o TFBI seria capaz de gerar maior estresse metabólico em
comparação ao TFAI (SUGA et al., 2012; TAKADA et al., 2012), além de prolongar a
exposição a metabólitos que poderiam atuar como estímulo para hipertrofia muscular
(JENKINS et al., 2015). Também é proposto que exista um sensor metabólico (em adição a
um sensor mecânico) que serviria como uma alternativa para crescimento muscular. Essa
teoria baseia-se na premissa de que o estresse metabólico possa contribuir para uma
hipertrofia muscular similar ao do TFAI estimulando fatores relacionados com o aumento da
massa muscular como o aumento da fosforilação de poteínas pertencentes à cascata mTOR
(FRY et al., 2010; OISHI et al., 2015) que tem como resultado final a síntese de proteína
(LEGER et al., 2006; CAMERA et al., 2010), fornecendo assim um mecanismo potencial
para o crescimento muscular que não é dependente da intensidade e estimulado pelo
metabolismo (DANKEL et al., 2017). Dessa forma, tem sido proposto que mesmo treinando
com menor intensidade durante o TFBI seria possível obter a mesma resposta hipertrófica
que o TFAI através de um possível maior estresse metabólico e de caminhos alternativos
para a hipertrofia muscular não dependentes da intensidade de treino (JENKINS et al., 2015).
Contudo, nossos resultados não demonstraram maior estresse metabólico para o
TFBI. Foram identificados 46 metabólitos em ambos os protocolos e quando analisados
isoladamente apenas 3 (lactato, piruvato e metilguanidina) foram diferentes entre grupos com
maior aumento para o TFAI analisando a área sob a curva de 5 minutos. Os metabólitos
lactato e piruvato são produtos finais da via glicolítica, o aumento desses metabólitos é
esperado e bem relatado na literatura logo após a realização do TF (GOROSTIAGA et al.,
2012; MENDEZ-VILLANUEVA et al., 2012; GOROSTIAGA et al., 2014; BERTON et al.,
2017; VALERIO et al., 2017). Em outro estudo em que a resposta metabólica decorrente do
TF foi realizada através da espectroscopia de ressonância magnética nuclear também foi
constatado maior aumento desses metabólitos no TFAI quando comparado com outro
protocolo de menor intensidade, porém nesse estudo o TFBI foi realizado com a adição de
restrição de fluxo sanguíneo (VALERIO et al., 2017). Os resultados desse estudo juntamente
com os nossos indicam que existe uma maior demanda energética da via glicolítica anaeróbia
no TFAI em comparação ao TF realizado com menor intensidade, provavelmente em
decorrência do recrutamento de unidades motoras de alto limiar (fibras mais glicolíticas)
desde os segundos iniciais do exercício à medida que no TFBI essas fibras são recrutadas
apenas próximo ao final do exercício com o aumento da fadiga (FRY, 2004; POTVIN e
34
FUGLEVAND, 2017).
Já a metilguanidina é sintetizada a partir da creatinina que por sua vez vem da
creatina gerada pela quebra da fosfocreatina (TAKEMURA et al., 1998). A fofocreatina é
uma grande contrubuinte para produção de energia (ATP) em exercicio de alta intensidade e
curta duração como o TFAI. Dessa forma, o maior aumento da metilguanidina no TFAI em
comparação ao TFBI pode ter sido em decorrência de uma possível maior produção de
creatina a partir da quebra da fosfocretatina. Não é de nosso conhecimento outro estudo que
tenha relatado o aumento da metilguanidina em decorrência do TF. Porém, Pechlivanis et al.
(2013) ao investigarem a resposta metabólica a sprints máximos de 80 metros com 10 ou 60
segundos de intervalo entre os sprints, exercício com predominância do metabolismo
anaeróbio assim como o TF, observaram o aumento da metilguanidina pós exercício em
ambos os grupos.
Dentre os três metabólitos que apresentaram maior aumento no TFAI o lactato é o
único que possue evidências que sugerem que possa ter potencial anabólico (NALBANDIAN
e TAKEDA, 2016). As evidências que suportam suas supostas propriedades anabolizantes
vêm de estudos de cultura em célula que indicam que o lactato induz a miogênese
(WILLKOMM et al., 2014; OISHI et al., 2015), assim como o aumento da fosforilação da
p70S6K (OISHI et al., 2015), proteína pertencente à cascata mTOR que tem como resultado
final a síntese de proteína (LEGER et al., 2006; CAMERA et al., 2010). Porém, o maior
aumento do lactato no grupo TFAI não resultou em maior hipertrofia muscular em nosso
estudo.
Ao contrário do lactato não há indicios na literatura de que o piruvato ou a
metilguanidina possam exercer influência direta sobre a hipertrofia muscular. Contudo, nossos
resultados demonstraram não haver essa relação uma vez que mesmo o grupo TFAI tendo
maior expressão desses metabólitos na área sob a curva de 5 minutos obteve hipertrofia
muscular similar ao TFBI, assim a resposta aguda de metabólitos isolados parece não ter
relação direta com a hipertrofia muscular.
Além da comparação entre grupos de cada um dos metabólitos identificados
também realizamos análises multivariadas, pois uma análise mais ampla dos dados
metabólicos requer uma metodologia capaz de expor tendências subjacentes do metabolismo
levando em consideração todo o conjunto dos dados e não apenas os metabólitos de forma
isolada, diante da complexidade que o metabolismo pode representar (WORLEY e POWERS,
2013). Dessa forma, realizamos a análise de componentes principais que não demonstrou
segregação dos dados indicando comportamento similar na perturbação da resposta
35
metabólica frente ao TFAI e TFBI tanto para área sob a curva em 5 quanto em 60 minutos
(figura 6).
Após ter constatado diferença para área sob a curva em 5 minutos entre os grupos
TFAI e TFBI para os metabólitos lactato, piruvato e metilguanidina foi realizada uma análise
das vias metabólicas que foram alteradas de forma significativa em cada um dos protocolos de
treinamento, com o intuito de verificar se a diferença desses metabólitos (lactato, piruvato e
metilguanidina) resultou em alguma alteração distinta das vias metabólicas que possuem
ligação com esses metabólitos podendo indicar um comportamento distinto da resposta
metabólica entre os grupos. A análise das vias metabólicas demonstrou que 16 vias foram
alteradas de forma significativa, 12 no TFAI e no TFBI, uma via foi alterada apenas no TFAI
(4- Metabolismo da beta alanina), e três vias foram alteradas somente no TFBI (11-
Fenilalanina, tirosina e triptofano biossíntese; 12- Metabolismo do propanoato; 15-
Metabolismo da tirosina) (figura 6).
A análise de vias metabólicas além de demonstrar alterações que foram
significantes também destaca as vias metabólicas que foram mais impactantes no TFAI e
TFBI, ou seja, as vias que possuem metabólitos alterados pelos protocolos de treinamento e os
mesmos realizam uma grande quantidade de conexões dentro dessa via. As vias alteradas de
forma significativa em ambos protocolos como 13- Metabolismo do piruvato, 8- Pantotenato e
CoA biossíntese, 10- Metabolismo da fenilalanina, 5- Metabolismo do butanoato, 6- Ciclo de
Krebs, 7- Glicólise ou Gliconeogênese foram as que apresentaram um alto impacto tanto no
TFAI quanto no TFBI, enquanto as vias alteradas em apenas um dos protocolos de forma
geral apresentaram baixo impacto (figura 6). Em resumo nossos resultados indicam que houve
uma similaridade das vias metabólicas alteradas de forma significativa e que foram
impactantes no TFAI e TFBI (figura 6).
Dankel et al. (2017) propôs recentemente em seu trabalho que o aumento de
metabólitos em decorrência da atividade física deve-se a um maior nível de esforço gerado
pelo exercício que equivale a uma maior utilização de energia e consequentemente maior
produção de metabólitos e, portanto, devem representar uma consequência da contração
muscular e não ser a causa da hipertrofia muscular. Nesse sentido a similaridade da resposta
metabólica entre o TFAI e TFBI pode ser devido ao mesmo percentual de fibras musculares
recrutadas em ambos os protocolos. Diversos pesquisadores têm apontado o percentual de
fibras recrutadas como fator primordial para o crescimento muscular e sugerem que o TFAI e
TFBI realizados até a falha concêntrica podem promover uma ativação de fibras musculares
similar (BURD et al., 2012; MITCHELL et al., 2012). Assim, o recrutamento do mesmo
36
contribuinte para resposta hipertrófica similar entre o TFAI e TFBI tem apontado o TFAI
como sendo capaz de gerar maior ativação muscular que o TFBI e que a menor ativação
muscular no TFBI pederia ser compensada por um maior estresse metabólico estimulando
caminhos alternativos para hipertrofia muscular não dependentes da intensidade de treino
(JENKINS et al., 2015). Porém, nossos resultados demonstram que a hipertrofia muscular no
TFAI e TFBI parece estar ocorrendo através do mesmo mecanismo, e dificilmente existe um
ponto ao longo do espectro de intensidade (isto é, 0-100% 1RM) em que o estímulo
hipertrófico do TF deixa de ser mecanicamente conduzido e se torna metabolicamente
dirigido (DANKEL et al., 2017).
Nosso estudo não está livre de limitações, apesar de os voluntários terem
consumido um café da manhã padronizado, a dieta de todo o dia que antecede a coleta
sanguínea pode influenciar a resposta metabólica. No entanto, os participantes completaram
um recordatório de dieta em relação ao dia anterior a realização dos protocolos de TF.
Posteriormente esse recordatório foi utilizado para analisar as calorias totais, bem como o
consumo de macronutrientes (carboidratos, lipídios e proteínas) do dia anterior a coleta
sanguínea como resultado não houve diferença entre grupos para essas variáveis. Outra
limitação referente ao experimento foi a realização da EMG apenas no exercício leg press 45º,
por uma questão de logística não foi possível coletar a amplitude EMG no exercício cadeira
extensora.
7 - CONCLUSÃO
A realização do TF de alta e baixa intensidade até a falha concêntrica promove
hipertrofia muscular e alteração da resposta metabólica similar entre os protocolos, ao
contrário do que vem sendo sugerido o TFBI não gera maior estresse metabólico em
comparação ao TFAI.
8 - REFERÊNCIAS
Alessio, H. M. et al. Generation of reactive oxygen species after exhaustive aerobic and
isometric exercise. Med Sci Sports Exerc 2000; 32(9):1576-81.
Anção, M. S. et al. Programa de Apoio à nutrição - NutWin, versão 1.5 [CD ROM]. São
Paulo: Departamento de Informática em Saúde - SPDM - UNIFESP/EPM 2002.
Bassini, A.; Cameron, L. C. Sportomics: building a new concept in metabolic studies and
exercise science. Biochem Biophys Res Commun 2014; 445(4):708-16.
Braith, R. W.; Stewart, K. J. Resistance exercise training: its role in the prevention of
cardiovascular disease. Circulation 2006; 113(22):2642-50.
Burd, N. A. et al. Bigger weights may not beget bigger muscles: evidence from acute muscle
protein synthetic responses after resistance exercise. Appl Physiol Nutr Metab 2012;
37(3):551-4.
Burd, N. A. et al. Low-load high volume resistance exercise stimulates muscle protein
synthesis more than high-load low volume resistance exercise in young men. PLoS One
2010; 5(8):e12033.
Camera, D. M. et al. Early time course of Akt phosphorylation after endurance and resistance
exercise. Med Sci Sports Exerc 2010; 42(10):1843-52.
Crewther, B. et al. Possible stimuli for strength and power adaptation: acute hormonal
responses. Sports Med 2006; 36(3):215-38.
39
Dankel, S. J. et al. Do metabolites that are produced during resistance exercise enhance
muscle hypertrophy? Eur J Appl Physiol 2017.
Debold, E. P. Recent insights into the molecular basis of muscular fatigue. Med Sci Sports
Exerc 2012; 44(8):1440-52.
Doherty, T. J. Invited review: Aging and sarcopenia. J Appl Physiol (1985) 2003;
95(4):1717-27.
Dos Anjos, F. V. et al. The Spatial Distribution of Ankle Muscles Activity Discriminates
Aged from Young Subjects during Standing. Front Hum Neurosci 2017; 11:190.
Enea, C. et al. (1)H NMR-based metabolomics approach for exploring urinary metabolome
modifications after acute and chronic physical exercise. Anal Bioanal Chem 2010;
396(3):1167-76.
Fallentin, N.; Jorgensen, K.; Simonsen, E. B. Motor unit recruitment during prolonged
isometric contractions. Eur J Appl Physiol Occup Physiol 1993; 67(4):335-41.
Fernie, A. R. et al. Metabolite profiling: from diagnostics to systems biology. Nat Rev Mol
Cell Biol 2004; 5(9):763-9.
Fiehn, O. et al. Metabolite profiling for plant functional genomics. Nat Biotechnol 2000;
18(11):1157-61.
40
Fry, A. C. The role of resistance exercise intensity on muscle fibre adaptations. Sports Med
2004; 34(10):663-79.
Fry, C. S. et al. Blood flow restriction exercise stimulates mTORC1 signaling and muscle
protein synthesis in older men. J Appl Physiol (1985) 2010; 108(5):1199-209.
Gorostiaga, E. M. et al. Energy metabolism during repeated sets of leg press exercise leading
to failure or not. PLoS One 2012; 7(7):e40621.
Gorostiaga, E. M. et al. Blood ammonia and lactate as markers of muscle metabolites during
leg press exercise. J Strength Cond Res 2014; 28(10):2775-85.
Handayaningsih, A. E. et al. Reactive oxygen species play an essential role in IGF-I signaling
and IGF-I-induced myocyte hypertrophy in C2C12 myocytes. Endocrinology 2011;
152(3):912-21.
Heitmann, B. L.; Frederiksen, P. Thigh circumference and risk of heart disease and premature
death: prospective cohort study. BMJ 2009; 339:b3292.
Jenkins, N. D. et al. Muscle activation during three sets to failure at 80 vs. 30% 1RM
resistance exercise. Eur J Appl Physiol 2015; 115(11):2335-47.
Jenkins, N. D. et al. Neuromuscular Adaptations After 2 and 4 Weeks of 80% Versus 30% 1
Repetition Maximum Resistance Training to Failure. J Strength Cond Res 2016; 30(8):2174-
85.
41
Joy, J. M. et al. Phosphatidic acid enhances mTOR signaling and resistance exercise induced
hypertrophy. Nutr Metab (Lond) 2014; 11:29.
Kefaloyianni, E.; Gaitanaki, C.; Beis, I. ERK1/2 and p38-MAPK signalling pathways, through
MSK1, are involved in NF-kappaB transactivation during oxidative stress in skeletal
myoblasts. Cell Signal 2006; 18(12):2238-51.
Korak, J. A. et al. Effect of rest-pause vs. traditional bench press training on muscle strength,
electromyography, and lifting volume in randomized trial protocols. Eur J Appl Physiol
2017.
Lang, F. et al. Functional significance of cell volume regulatory mechanisms. Physiol Rev
1998; 78(1):247-306.
Leger, B. et al. Akt signalling through GSK-3beta, mTOR and Foxo1 is involved in human
skeletal muscle hypertrophy and atrophy. J Physiol 2006; 576(Pt 3):923-33.
Manini, T. M. et al. Growth hormone responses to acute resistance exercise with vascular
restriction in young and old men. Growth Horm IGF Res 2012; 22(5):167-72.
Nicholson, J. K. et al. Metabonomics: a platform for studying drug toxicity and gene
function. Nat Rev Drug Discov 2002; 1(2):153-61.
Nielsen, A. R.; Pedersen, B. K. The biological roles of exercise-induced cytokines: IL-6, IL-8,
and IL-15. Appl Physiol Nutr Metab 2007; 32(5):833-9.
Oishi, Y. et al. Mixed lactate and caffeine compound increases satellite cell activity and
anabolic signals for muscle hypertrophy. J Appl Physiol (1985) 2015; 118(6):742-9.
Oliver, S. Functional Genomics: all the king's horses and all the king's men can put Humpty
together again. Mol Cell 2003; 12(6):1343-4.
Pechlivanis, A. et al. 1H NMR study on the short- and long-term impact of two training
programs of sprint running on the metabolic fingerprint of human serum. J Proteome Res
2013; 12(1):470-80.
Poton, R.; Polito, M. D. Hemodynamic response to resistance exercise with and without blood
flow restriction in healthy subjects. Clin Physiol Funct Imaging 2016; 36(3):231-6.
Potvin, J. R.; Fuglevand, A. J. A motor unit-based model of muscle fatigue. PLoS Comput
Biol 2017; 13(6):e1005581.
Psychogios, N. et al. The human serum metabolome. PLoS One 2011; 6(2):e16957.
Schoenfeld, B. J. et al. Muscle activation during low- versus high-load resistance training in
well-trained men. Eur J Appl Physiol 2014; 114(12):2491-7.
Schuenke, M. D.; Herman, J.; Staron, R. S. Preponderance of evidence proves "big" weights
optimize hypertrophic and strength adaptations. Eur J Appl Physiol 2013; 113(1):269-71.
Sjogaard, G.; Adams, R. P.; Saltin, B. Water and ion shifts in skeletal muscle of humans with
intense dynamic knee extension. Am J Physiol 1985; 248(2 Pt 2):R190-6.
Srikanthan, P.; Karlamangla, A. S. Relative muscle mass is inversely associated with insulin
resistance and prediabetes. Findings from the third National Health and Nutrition Examination
Survey. J Clin Endocrinol Metab 2011; 96(9):2898-903.
Stewart, C. E.; Pell, J. M. Point:Counterpoint: IGF is/is not the major physiological regulator
of muscle mass. Point: IGF is the major physiological regulator of muscle mass. J Appl
Physiol (1985) 2010; 108(6):1820-1; discussion 1823-4; author reply 1832.
Suga, T. et al. Effect of multiple set on intramuscular metabolic stress during low-intensity
resistance exercise with blood flow restriction. Eur J Appl Physiol 2012; 112(11):3915-20.
44
Suzuki, Y. J.; Ford, G. D. Redox regulation of signal transduction in cardiac and smooth
muscle. J Mol Cell Cardiol 1999; 31(2):345-53.
Takada, S. et al. Low-intensity exercise can increase muscle mass and strength proportionally
to enhanced metabolic stress under ischemic conditions. J Appl Physiol (1985) 2012;
113(2):199-205.
Takarada, Y. et al. Effects of resistance exercise combined with moderate vascular occlusion
on muscular function in humans. J Appl Physiol (1985) 2000; 88(6):2097-106.
Tanimoto, M.; Ishii, N. Effects of low-intensity resistance exercise with slow movement and
tonic force generation on muscular function in young men. J Appl Physiol (1985) 2006;
100(4):1150-7.
Tardivo, A. P. et al. Associations between healthy eating patterns and indicators of metabolic
risk in postmenopausal women. Nutr J 2010; 9:64.
Valerio, D. F. et al. Early metabolic response after resistance exercise with blood flow
restriction in well-trained men: a metabolomics approach. Appl Physiol Nutr Metab 2017;
43(3):240-246.
van den Berg, R. A. et al. Centering, scaling, and transformations: improving the biological
information content of metabolomics data. BMC Genomics 2006; 7:142.
Vechin, F. C. et al. Comparisons between low-intensity resistance training with blood flow
restriction and high-intensity resistance training on quadriceps muscle mass and strength in
elderly. J Strength Cond Res 2015; 29(4):1071-6.
Willkomm, L. et al. Lactate regulates myogenesis in C2C12 myoblasts in vitro. Stem Cell
Res 2014; 12(3):742-53.
Xia, J.; Wishart, D. S. MetPA: a web-based metabolomics tool for pathway analysis and
visualization. Bioinformatics 2010; 26(18):2342-4.
Yarasheski, K. E. et al. Effect of growth hormone and resistance exercise on muscle growth
in young men. Am J Physiol 1992; 262(3 Pt 1):E261-7.
Yde, C. C. et al. Metabonomic Response to Milk Proteins after a Single Bout of Heavy
Resistance Exercise Elucidated by 1H Nuclear Magnetic Resonance Spectroscopy.
Metabolites 2013; 3(1):33-46.
9- ANEXOS
Anexo 1: Parecer de aprovação do Comitê de ética em pesquisa (CEP)
47
48
49
50
51
52
53
54
55
56
57