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Tike Calig do Tabalho Arter AAW. Ls Edisto Abel 201 Bain Beco Grice ‘Wolers Sue Poreugal sob 4 marca Coimbra Edicora Lisboa “Fores de Lisbo Rat Tome da Fonseca ‘Toure G 6 A 1600-209 Lisboa Coimbra Edificio Coimbra Edisora Ladeira da Pauls, n° 10 Anaahol — 3040-574 Coimbra cobra i ediveial@eoimbeedivor pt Diueribicter Coimbes Editors, SA, Ladeira ds Paula, 92 10 Antanhol —- 3040-574 Coimbre Tale 239 852 650 — Fax 239 852.651 emrons taro avis pr Wels Khor Perea ‘Nema maids nom pare dan cbr ade vr riper on tioanseda por ne mace ow mt, nln foie, seve maps gualger armacevamense de Iafmaae ima de reapeagin em ater por etd sd Wate Khower Pore. ISBN 9ragrza2 1867 Depo Lgl 316 9640010 CODIGO DO TRABALHO A REVISAO DE 2009 Coordenador PAULO MORGADO DE CaRvALMO Bi Coimbra Editora grupo Wolters Ktower is Marto Regina Redinha ada da exigéncia de que a operagio se revista de earécter “even- tual” = artigo 288° — como sucedia anteriormente, Nao é uma refor- mulagio menor, pois repercute-se na possibilidade de a cedéncia oca: sional integrar 0 objecto corrente ou normal da empresa cedente e, por ‘ssa via, poder acabar por se confundir cedéncia ocasional e trabalho temporétio. Se a cedéncia nfo tem que ser para a empresa cedente uma operagdo eventual, significa que, satisfeitas as condigoes de admissibi- lidade previstas em IRC ou no artigo 289. a empresa pode dedicar-se, exclusiva ou predominantemente, a ceder 0s seus trabalhadores, funcio- nando como uma empresa de trabalho temporirio informal. Por outro lado, 0 desaparecimento da referéncia ao “quadro de pessoal proprio” na definica0 legal do instituto, nlo obstante continuar ‘2 ser um dos seus pressupostos materiais, por defeito — artigo 289°, a2 1, al, a) — nao deixa de ter por consequéncia a possibilidade de a cedéncia atingir trabalhadores nao vinculados a entidade cedente por contrato de duragao indeterminada sempre que & contratacao colectiva dispense tal requisito. Esta nova configuragao filia claramente 2 cedéncia ocasional nos ins- tramentos de flexibilizagdo da contratacdo laboral, aproximando-a na sua ‘operacionalidade uma qualquer modalidade do contrato de trabalho. Num balango menos exegético do que dogmético das questoes que se deixam inventariadas é assim, possivel descortinar a mudanga no Cédigo do Trabalho de 2009, aprovado pela Lei n° 7/2009, de 12 de Feve- reiro, e compreender através dela que, afinal, femos um novo Cédigo de raiz “proteccionista”, mas que ressente jé a influéneia de modelos mais plurais e elésticos. Seré um Cédigo de transiga0? CONTRATO DE TRABALHO A TERMO NO CODIGO DO TRABALHO DE 2009 ALGUMAS NOTAS Mania D0 Rosi Pa Raseauno outorae agiegada em Direit, Professora Agwgada da Faculdade d2 Direto de Lisboa 1, REFLEXOES GERAIS E SEQUENCIA, I, No émbito deste Seminério, fol-nos pedida uma primeira analise das alteragies introduzidas pelo novo Cédigo do Trabalho numa figura muito importante do nosso panorama juslaboral: a figura do contrato de trabalho a termo, A partida, a tarefa no se afigura diftil, porque as alteragées intro- Guzidas pelo Cédigo do Trabatho de 2009 nesta matéria née so to significatives como as mudancas ocorridas noutras areas, reduzindo-se apenas a algumas mudancas pontuais. Contudo, deve deixar-se claro, desde ja, que, na nossa opinifio, estas poucas mudangas introduzidas no rogime juridico da figura sfo suficientes para demonstrar que 0 actual Codigo tem uma perspectiva bastante diferente da perspectiva do Cédigo anterior sobre esta figura. IL As alterapses introduzidas nesta matéria so de dois tipos: altera- ‘ses sisteméticas, que tém a ver com a qualificagao do contrato de trabalho a termo como um contrato de trabalho especial e com a reorganizagao global do seu regime em termos sistematicos; e alteragSes substanciais no regime do contrato a termo, que se reportam & natureza deste regime legal, eins tar? Meria do Rosério Palma Ramalho a alguns dos fundamentos objectivos do contrato, & sua duragio méxima 20 limite de renovagdes, e ainda & consagragio, como nova modalidade deste contrato, do contrato a temo de muito curta duragao. ‘Vojamos entio, sucessivamente, estas alteragées. 2. AS ALTERACOES SISTEMATICAS NO TRATAMENTO DA FIGURA DO CONTRATO DE TRABALHO A TERMO NO CODIGO DO TRABALHO DE 2009 1. A primeira grande mudanga que se observa no tratamento da figura do contrato de trabalho a termo no novo Cédigo do Trabalho tem a ver ‘com a importincia que 0 novo Cédigo do Trabalho dé aos contratos de trabalho especiais. O contrato de trabalho a termo aparece no Cédigo como © primero contrato de trabatho especial (arts, 139.°¢ ss.), mas, na verdade, @ orientacéo global do novo Cédigo do Trabalho em matéria de contratos de trabalho especiais merece um realce em termos gerais, (© Ciidigo do Trabalho reconhece a categoria dos contratos de trabalho especials, Nao é que eles no existissem até aqui, mas 0 Cddigo reco- rhece-os como tal, dedicando-Ihes uma secgo propria, intitulada «Mfoda- lidades de contrato de trabalho» (Secgo IX do Capitulo dedicado 20 contrato de trabalho, arts. 139°). Nesta seco, 0 Cédigo trata sucessiva- mente as figuras do contrato de trabaltio a tenrno resohitivo (arts. 139. ss), do contrato de trabalho a tempo parcial (arts. 150.° ss), da comissio de servigo (arts. 161. ss., do contrato de teletrabalho (arts. 165. ss.), do trabalho tomporirio (arts. 172.° ss.) e introduz ainda, como figura nova, contrato de trabalho intermitente (arts, 157.° 35) ®. Esta opedo do legislador no &, « nosso ver, uma opedo de indole meramente sistematica, mas sim uma ope que tem implicita uma valoragio da diversidade que hoje assiste aos vinculos de trabalho. 1 Ne que toes ao tabatho intermitente, no se trata, na verdade, de uma figura nova, uma vee que jf Cinha sido previa no contexto do regime jurdico do trabalho ‘los profisionsis de especticulos, instituldo pela L. n* 4/2008, de 7 de Fevereiro Cort, $5), Sobre este ponte, vd. Rosario Pata Raoaino, Direito do Trabathe, I Situagdee Laborais Individuals, 3+ eé., Coimbra, 2010, 358 ss. Contudo, com 0 novo Ciligo do Trabalho, a figura asnha alcance geral comba sae Contrato de Trabalho a Terma no Cédigo do Trabalho de 2009 E, como jf tivemos oportunidade de referir noutras sedes ®, esta & opeilo comecta, uma vez que estamos cada vez mais longe do modelo tre- dicional de vinculo laboral — i.e, 0 modelo da relagao laboral tipica, titulada por um contrato de trabalho por tempo indeterminado, a0 qual est associado um certo nivel de protecedo e, sobretudo, no caso portugues, uma grande estabilidade — para passarmos 8 ter uma miriade de vineulos labo- rais, comespondentes a necessidades de gestio diferentes, ¢, em alguns «casos, também correspondentes a anseios diferenciados do proprio traba- Thador. Assim, e de uma forma mais realista do que regime anterior, 0 actual Cédigo do Trabatho néo faz mais do que traduzir, na lei, aquilo que Jf € a realidade da laboral, Fé-lo através desta secgdo de contratos de trabalho especiais, evidente que podemos contestar a recondusso de algumas destas figuras a um contrato de trabalho especial (6 0 entendimento sufiagado por alguns sectores, quanto ao trabalho a tempo parcial © & comissio de ser- vigo). Mas 0 que, de facto, esté em questo nesta opelo do Cédigo é 0 reconhecimento global de que 0s vinculos laborais seguem modelos dife- renciados, @ que comespondem regimes também diferentes. I Centrando-nios agora especificamente no caso do contrato de tra- balho a termo resolutivo, o resultado desta opso do Cédigo do Trabalho de 2009 em relagio aos contratos de trabalho especiais significou, para ja, que a figura passou a ter muito mais visibilidade no Cé Como € sabido, no Codigo do Trabaltio de 2003, 0 resultado algo paradoxal da sistematizagdo escolhida era que, por exemplo, o teletrabalho ou a comissio de servigo tinham mais visibilidade do que 0 contrato de trabalho a termo, porque este tiltimo contrato era tratado a partir da quali- ficaglo do termo como cléusula acesséria do contrat. E certo que, tecnicamente, o termo € uma cliusula acesséria do negs- cio juridico (art. 278° do CC). Contudo, no caso do eontrato de trabalho a terno resolutivo, a verdade & que aquele termo em conereto altera de modo tao significative a fisionomia global do contrato que néo pode, a nfo ser por um excesso de rigor formal, ser tratado como cliusula acesséria ® RosAno Pata Raasuo, De duanomia Dogméticn do Direito da Trabalho, Coimbra, 2001, $90 ss. ¢ passin, ¢ Divito do Trabalho, 1 ~ Dogaticn Geral, 2" e, Coimbra, 2009, 68 ss. ¢ 98 ss. 252 Maria do Rosirio Palma Ranatho Assim, esta nova oppo do Cédigo no tratamento da figura do trabalho a termo & uma opgdo que dé ao contrato de trabalho a termo a visibitidade que ele merece € que reconhece a grande importincia este contrato na nossa ordem juridica WIL. Por outro lado — e esta € a segunda observacao de indole sistemética que gostariamos de fazer — esta opgdo do Cédigo tem também a vantagem de concentrar o regime da figura, tomnando-o assim mais acessivel Na verddade, os tnicos aspectos que esto fora desta subseceao 0s aspectos relatives a0 periodo experimental ¢ a cessagao do contrato de trabalho a temo, gue continuam a ser tratados, respectivamente, a propisito da disciplina do periodo experimental (art. 112°, n° 2, do CT), € a propésito do regime da cessago do contrato de trabalho (arts. 344° € 345° do CT). Mas tudo o resto é mais visivel e corresponde melhor 4 realidade das coisas. JV. Ainda em sede de observagées gerais, convém chamar a atengo para o art. 9 do Cédigo (que correspondie, ro CT de 2003, ao art. 11:9, que estabelece a regra da sujeigao dos contratos de trabalho especiais 20 regime laboral comum em tudo aquilo que no tenha @ ver com a sua especificidade. Naturalmente, esta regra ¢ aplicdvel ao contrato de trabalho a termo ‘como a0s outros contratos de trabalho especiais. Ora, embora a form agio desta regra até pudesse ser considerada dispensavel, ela tem hoje uma visibilidade superior, porque @ reunido de todos estes contratos sob uma seogao dedicada a contratos de trabalho especiais remete de uma forma mais evidente para o preceito geral do art. 9° V. Por fim, ainda em termos sistematicos, importa realgar que 0 esforgo global de economia legislativa, que animou o legislador do Cédigo do Trabalho de 2009, se observa também na diseiplina do con- trato de trabalho a termo, com a concentrago do regime juridico deste contrato em menos preceitos ¢ alguma preocupagao de uniformizacéo terminolégica. Neste ponto destacam-se, entre outras, a norma sobre o fundamento ‘objectivo do contrato de trabalho a termo, que trata agora conjuntamente Contrato de Trabatho a Termo no Cidigo do Trabalho de 2000 253 6 contrato a termo certo e 0 contrato a termo incerto (art. 140.° do CT), € a norma sobre a conversio legal do contrato termo em contrato por tempo indeterminado, que aglutina todas as situagGes de conversio (ert. 147... 3. ALTERACOES SUBSTANCIAIS AO REGIME DO CONTRATO. DE TRABALHO A TERMO. 1. J4 no dominio das alteragGes substanciais introduzidas nesta rmatéria, a primeira observacdo a fazer refere-se a norma que estabelece 2 natureza globalmente convénio-dispositiva do regime legal do contrato atermo. Esta norma, que consta actualmente do art. 139. do CT (que corresponde 20 art. 128. do Cédigo de 2003) foi alterada. Como se sabe, esta norma, que foi introduzida pelo Cédigo de 2003, tem uma grande importineta, porque constituiu uma inversio relativamente 20 regime do contrato de trabalho a termo, que, tradicio- nalmente, era absolutamente imperativo © que passou a ser o que a doutrina designa habitualmente como regime «convénio-dispositivon — ow seja, um regime que, nos termos do art, 3°, n 5, do actual Cédigo do Trabalho, pode ser afastado por convensao colectiva de tra- balho mas nao pode ser afastado por contrato de trabalho. Ora, no que a0 contrato de trabalho a termo diz respeito, a altera- 40 da natureza do seu regime legal, ocorrida em 2003, levava implicita a intengdo de viabilizar a flexibilizagdo deste regime, permitindo que as convengses colectivas dispusessem de forma diferente, tanto em sentido mais favordvel a0 trabathador como em sentido menos favoravel. Acontece que o alcance deste prinefpio néo € 0 mesmo no Cédigo do Trabalho de 2003 ¢ no actual Cédigo do Trabalho, havendo mais matérias subtraidas & negociagao colectiva no ambito do actual regime do contrato de trabalho a termo. © Sobre o terme ¢, em geral, sobre o significado dos regimes eonvénio-tispe- sltvos, RosAnto Patuta Ranats, Direio do Trabaihe ci, 1,227 ess, com indicagbes Aoutrinais 254 Maria do Rosario Palma Ramatho ‘Assim, para além das matérias da al. 6) do n.° 4 do art. 140° do CT (correspondente no Cédigo de 2003, a0 art. 1298, n.°3, al. 6) — ou seja, o regime do contrato de trabalho a termo no caso de pri- meiro emprego ou de trabalhadores em situagao de desemprego de longa duragio — ainda se exceptua a possibilidade de alteragfio, em convengao colectiva, das regras sobre a durago do contrato de traba- Tho a termo (regras que constam hoje do art. 148.° do Cédigo). Assim, © Ambito de intervengdo das convengdes colectivas nesta matéria ficou reduzido. ‘Chamamos, todavia, a atengo para a necessidade de continuarmos a ler a norma do art. 139-° do CT com muita cautela, porque dela no se pode retirar, @ contrario sensu, que todo 0 restante regime do contrat a termo € passivel de alteraco em convengao colectiva. Na verdade, |j4 nfo podia ser assim no 2mbito do CT de 2003 e pensamos que no pode ser assim no ambito do actual Cédigo. E que esta norma é enga- nadora, exigindo um cuidado redobrado do intérprete perante cada norma legal do regime do contrato de trabalho a termo, para avaliar se tal norma é ou nao absolutamente imperativa (nao permitindo assim 0 afastamento em convengao colectiva de trabalho, € em qualquer sentido), mesmo que ndo se reporte a uma das matérias de exclusao da negocia go colectiva contempladas no art. 139.2 ©, Em suma, a nova redacedo da norma néo veio resolver os proble- mas por ela criados no Ambito do direito anterior. IL. A segunda alteragio substancial do regime do contrato a termo introduzida pelo novo Cédigo do Trabalho tem que ver com os funda- mentos objectivas deste contrato (art. 140.° do CT), © De facto, se no fosse assim, poderiamas cheger solugdes absolutamente Inadequadas em matéras essencisis do regime do contrato a tsa, que, todavia, 80 foram contempiadas no art. 139% — assim, por exemplo, ums convencio colectiva que retrase 0 dreto do tabaltador & evmpensagzo por eessapio do contato a termo fou ue exeiuisse 0 dieezo de preferéncia do trabalhador no acessa a novos postos de trabalho, ou ainéa que afasiasse as exigéncias de forma do contrato a temo ou @ consequéncia da conversto legal destes contatos em cortuatos por tempo indetermni nado, em caso de vies graves. Conrato de Traballi a Termo no Ciigo do Trabelho de 2009 Neste ponto, para além das alteragOes sisteméticas que resultam do desaparecimento da norma autnoma de fundamentacio do con- trato de trabalho a termo incerto (art. 143.° do CT de 2003) — a lei refere-se agora aos fundamentos do contrato de trabalho a termo certo nos n.* 1, 2 € 4 do art, 140.°, ¢ refere-se aos fundamentos do contrato de trabalho a termo incerto no n° 3 do art. 140.° — cabe realgar a alteragGo substancial introduzida num dos fundamentos do contrato de trabalho a termo: trata-se da justificaco objectiva destes contratos no langamento de uma nova actividade de duragao incerta ou no inicio de laboragio de uma empresa ou estabelecimento (art. 140., n? 4, al. q), do CT). E que, contrariamente ao que sucedia no regime anterior, no caso de contrato de trabalho a termo, com este funda- mento, tal fundamento sé vale se a empresa tiver menos de setecen- tos ¢ cinquenta trabalhadores. ‘Temos aqui que expressar a nossa perplexidade, por dois motivos: em primeiro lugar, porque a fixagd0 do limite nos setecentos e cinguenta trabalhadores por empresa é absolutamente arbitréria; mas, sobretudo, porque @ imposigio de qualquer limite, que vem aqui penalizar as gran- des empresas, carece de razoabilidade neste contexto, porque obviamente as grandes empresas também podem langar novos estabelecimentos, ott assumir novas empreitadas, ¢ isso deveria, como é Sbvio ser incentivado nao limitado, Em suma, do nosso ponto de vista, este regime é arbitrério © eco- nomicamente desadequado, ULL A terecira alteragdo substanciel no regime do contrato de tra- batho a termo, para a qual chamariamos a atengao, tem a ver com a introdugo de uma nova modalidade neste contrato: é 0 «contrato de trabalho de muito curta duragao», previsto no art. 142.2 do CT. Este contrato tem a particularidade de nao exigir a forma escrita, desviando-se assim das exigéncias de forma do art. 1412 do CT, desde que no seja de duragio superior a uma semana. Neste caso, bastard 20 empregedor comunicar a celebragao do contrato aos servigos de seguranca social em formulario electrénico préprio (art. 142°, n.° 1) E um aligeiramento das exigéncias de forma do contrato a temo (que se mantém no art. 141.°) que se compreende pela duragao muito redu- ida do contrato 256 Maria do Rasirio Polma Ramalho Chamamos, todavia, a ateneio para a dificuldade de detimitar estes casos especiais de contrato de trabalho de muito curta duragdo, uma vez que eles apenas potlem ser celebrados em dues dreas de actividade — a actividade agricola e a actividade turistica — mas estas reas néo esto bem determinadas. Assim, no que toca & celebrago destes contratos no ambito da agricultura, 0 art. 142.° do CT nfo parece contemplar a actividade agri cola comum, nem a actividade pecudria, mas apenas @ actividade agri- cola sazonal (pot exemplo, fazer as vindimas ou a apanha da azeitona) e desde que niio ultrapasse uma semana de duragao. Menos claro ainda € 0 segundo caso em que pode ser celebrado este contrato, que é a realizagio de «evento turistico», porque & nogzo de evento turistico suscita as maiores dividas: um evento turistico é sO na actividade do turismo, ou pode também ser fora da actividade do turismo? Ou, pelo contrétio, nem sequer pode ser no émbito da activi- dade de turismo? Do nosso ponto de vista, deve dar-se 20 preceito a maior amplitude possivel, até porque se trata de vinculos de muito curta durago, mas 6, efectivamente, dificil balizar os fundamentos deste contrato, TV, Uma outra alteragio introduzida pelo Cédigo do Trabalho de 2009 tem a ver com o regime da sucessio de contratos de trabalho a termo (art. 1438, n? 1) e resulta do alargamento do Ambito das situagoes que so consideradas para efeito de sucesso de contratos. ‘Como € sabido, a norma correspondente a esta no Cédigo do Tra- balho de 2003 (art. 141.9) provinha da LOC'T, onde tinka sido inserida por imposigéo da directiva comunitiria sobre o trabalho a termo, que profbe a sucessdo de contratos no mesmo posto de trabalho. Contudo, no Cédigo de 2009, € dado a esta norma um alcance muito superior 20 exigido pela directiva, uma vex que no 36 € impedida a admissio de novo trabalhador através de contrato de trabalho a termo, ou de trabalho temporirio, cuja execugo se concretize no mesmo posto de trabalho, mas também a «sucesso» de um contrato a termo a um contrato de pprestagiio de servigos para 0 mesmo objecto. Por outro lado, a lei quax Tifica como sucessio no s6 0s contratos seguidos que sejam celebrados écom 0 mesmo empregadom, como também 0 caso em que fais contra~ tos sejam celebrados «com sociedade que com este se encontre em coins Een i i Contato de Trabalho a Terma no Cédigo do Trabalho de 2008 ws relago de dominio de grupo ou que mantenha estruturas organizativas comuns» ©. Assim, se um trabalhador tiver um contrato de prestagio de servigo para executar uma determinada tarefe, € 0 empregador, 2 certa altura, decidir criar um posto de trabalho para aquele trabathador, porque isso se passout a justificar, 0 tempo que ele jé trabalhou como prestador de servigos, se 0 objecto do contrato for o mesmo, vai contar para efeitos do regime de sucesso dos contratos a termo ¢ tal contrato seré proibido, nos termos do art, 143.%, n2 1, do CT; € se isso ocorrer, no na mesma empresa, portanto, no com referéncia ao mesmo posto de trabalho, mas até em empresas do mesmo grupo da empresa onde ele esté inserido, resultado serd o mesmo, ‘Nao podemos deixar de observar nesta norma uma filosofia, per- secutéria em relagio a este tipo de situagdes, que parte do principio de ‘que, em todos os casos de celebragao sucessiva de contratos envolvendo una actividade de trabalho (em regime dependente ou aut6nomo), quer fem contexto de grupo quer fora desse contexto (i.e, para um mesmo credor), hi um objectivo de iludir a tutela laboral inerente 20 contrato de trabalho por tempo indeterminado, através do expediente da sucesso de contratos de trabalho a terino. Ora, na maior parte dos casos no é isso que sucede, sendo fre 4quente, mas nio necessariamente malicioso, comegar uma relaso pro- fissional com uma certa configuraciio (por exemplo, um contrato de prestago de servigo ou 0 recurso ao trabalho tempordrio) ¢ evoluir posterionmente para a celebragéo de um contrato de trabalho; e, natu- ralmente, se houver fundamento, celebra-se um contrato de trabalho a termo, em primeito lugar. ‘Tendo tido 0 objective bondoso de perseguirsituagties de fraude, «lei foi longe demais, pelo facto de partir do principio que a fraude constinut 8) A nosso ver estas referéncias« situagdes de dominio e de grupo socititio nifo podem deixar de 32 entender come uma remissio para as sitwagies jurdicas de ‘grupo prevists no Cédigo das Sociedades Comercais (arts. 481* .), abrangendo as Situopdes de dominio © a5 situagaes de grupo em seatido préprio. Em especial sobre festa matéra eas respetivasrepereasbes boris, vd. Rosinlo Pata RAMA, Grupos Empresariais e Socetérioe. Incidéncias Laborais, Coimbra, 2008, passim oink ato 258 Maria do Rosério Palma Ramalho sempre © animus destes empregadores — 0 que nifo corresponde & reali- dade. Por outro lado, deve ter-se em conta que o sistema juridico jé dispoe de outros mecanismos para atacar as situagdes de fraude na sucesséo da posi¢ao do empregador entre entidades distintas ¢, designadamente, no Ambito dos grupos de empregador — assim, soliSes de desconsideragdo dda personalidade colectiva eo reconhecimento de situagdes de pluralidade atipica de empregadores, que ja suffagimos noutra sede ®, sto aptas @ resolver estes problemas, onde eles efeetivamente exister, e sem necessi- dade de estabelecer uma espécie de presungao de fraude, que no se adequa f maioria dos casos. Esta norma no seria pois necesséria. Por fim, atente-se no facto de a norma pecar por inoperacionali- dade, pelo menos na sua aplicaglo aos grupos de empresas, porque neste contexto parece dificil reconhecer a existéncia de um mesmo posto de trabalho em duas entidades juridicas distintas. J4 no que se refere aos ‘contratos de prestago de servigo, a norma parece mais facil de aplicar. V. Uma iltima area em que houve alteragdes substanciais signi cativas ao regime do contrato a termo, que evidenciam a diferente perspectiva do legislador de 2009 em relagio a esta figura, € a da dura- ‘80 do contrato (art. 148. do CT). As alteragtes aqui introduzidas sto quatro: @ duragao méxima do contrato de trabalho a termo certo passou a ser trés anos, como regra geral (art. 148°, n? J, al); © mimero de renovagées normais do contrato deixou de ser de duas renovagses para passar a ser de tes (art, 148°, 1S 1, corpo), mas estas ts renovagdes tm que ocorrer dentro do limite maximo dos trés anos, tendo desaparecido a possibitidade de renovagiio adicional, entre um ano ¢ trés anos, ao fim do tempo maximo de duragdo, inicial ou dentro das renovagdes comuns do contrato de trabalho a termo, ue tinka sido instituida pelo Cédigo de Trabalho de 2003; foi estabele- ida uma duragio maxima para o contrato a termo incerto de seis anos (art. 1482, n° 4); por fim, deve atentar-se na nova regra de cGmputo da duracio maxima do contrato a termo, que toma em consideracdo as reno- vagées do contrato mas também a duragio de contratos de trabalho tem- © Rosato PALMA RAMALHO, Grupos Empresarils e Societrias ct, 389 ss. 402 s3., 471 38. ¢ pase. Controto de Trabalho a Terma no Cédigo do Trabalho de 2008 239 poritio ou de contratos de prestago de servigo concretizados no mesmo posto de trabalho ou para a mesma actividade e celebrados com o mesmo empregador ou com empresa do mesmo grupo (¢ a nova regra constante do art. 148°, n2 5, e que correspond ao regime dos contratos sucessivos, no nova formulaca0 do art. 143°, n.° 1, acima referida). Estas novas regras merecem algumas reflexdes criticas. No que se refere regra sobre a durapao maxima do contrat de trabalho a termo incerto, que foi fixada nos seis anos (art. 148.°, n° 4), compreende-se a sua razo de ser, que reside na intengdo de no eter- nizar este tipo de contratos. Contudo, deve ter-se em conta que, com esta regra, um contrato a termo incerto pode agora prolonger-se por muito mais tempo do que um contrato a termo certo (i que a durago maxima deste contrato foi fixada em trés anos), tornando-se assim mais apelativo. Ora, este desequilibrio contratia o designio global do regime do contrato a termo, que sempre tem privilegiado 0 recurso a0 termo certo sobre 0 recurso a0 termo incerto, Jé a nova regra sobre o cémputo da duragdo do contrato (art. 148., 5), se sujeita &s mesmas criticas que enderegdmos a regra correspon- dente em matéria de sucesso de contratos a termo — ou seja, trata-se de uma regra que corresponde a uma filosofia persecutéria em relagdo a estas situages, mas que 6 de aplicabilidade dificil. Acresce além disso, que da conjugagio desta regra com a do art. 143.%, no I, resulta que 2 norma do art. 148°, n.° 5, s6 pode ter aplicagdo nas situagdes de sucesstio liita de contratos 2 termo (ie, nas situagbes do art. 143, n2 2), porque nos outros casos se cai sob a previséo do n° | do art. 143. e sob a respectiva proibigao. Nesta parte, a norma tem assim um alcance muito residual. Deixamos para o fim a alterago em matéria de duragio do contrato a temo que, a nosso ver, € a mais importante — ie,, a redugao da durago maxima geral do contrato a termo certo para os trés anos, por forga do desaparccimento da renovacdo adicional (art. 148°, nt, corpo, € al. 6). ‘A redugao do tempo maximo de duragio do contrato de trabalho a termo evidencia uma perspectiva mais restritiva do legislador em relagio & figura do contrato de trabalho a termo do que aquela que combea eae 260 Maria do Rosério Palma Ramalho ddecorria do Cédigo de 2003. Ora, no nosso entender, esta perspectiva restrtiva no se adequa aos tempos de erise econdmica ¢ de depressito gravissima do emprego que vivemos, tempos estes que imporiamn 0 facilitar da contratagdo laboral a todos os niveis —~ y compris, a con- tratagao a termo. E que, como ja tivemos casio de referir noutros contextos ®, 0 contrato de trabalho a termo tem um lugar absolutamente vital no nosso sistema juriico, por forga do regime juridico restrtivo dos despedimen- tos. Neste contexto, este contrato serve ndo apenas o objective tradi- clonal para 0 qual fot instituido (ou seja, fazer face a necessidades temporérias de servigo), mas também para 0 empregador gerir a sua orca de trabalho sem ter que ficar onerado com os constrangimentos de um despedimento, que é, no sistema juridico portugues, particular- mente dificil E certo que esta nao é a funcio propria do contrato de trabalho a termo, Mas aquilo a que vimos assistindo a0 longo da histéria do Direito do Trabalho, desde # Lei dos Despedimentos de 1975, & que sempre que se constrange o contrato de trabalho a termo, o resultado é aumentarem os reeibos verdes, os falsos independentes © outros fené- menos de fuga leita ou ilicita 40 regime laboral que, de facto, se devem também a um regime restritivo de cessagio do contrato de trebalho por iniciativa do empregador a0 qual no se pode chegar por imperatives constitucionais, ‘Assim, num sistema deste tipo, estruturalmente, no se devia difi- cultar © recurso a0 contrato de trabalho a termo. Mas, mesmo que se entendesse que devia haver uma posigio restr- tiva em termos estruturais em relaco ao contrato a termo, no momento em que estamos, devia admitir-se 0 alargamento do contrato de trabalho a termo. Ora, esse alargamento pode ser feito por uma de duas vias: através dos fundamentos objectivos do contrato; ou através da duraca0 do mesmo. 1 im expecial sobre este ponto, Rosimto PALMA RAMALKO, Dnseguranca ow insite do emprege? O caso portugués, in ROSARIO PALMA RAMALHO, Estudas de Provo do Trabalho f, Coimbra, 2003, 95-105. oink Ene Contrato de Trabatho a Termo no Cédligo do Taba de 2009 261 Como € sabido, 0 alargamento pela via dos fundamentos objecti- vos do contrato a termo nio foi a opelo do Cédigo de 2003, mas houve um alargamento pela via da duragdo do mesmo, Ora, € este alargamento que 0 Cédigo de 2009 vem agora reverter. E uma solu- 80 que no se acompanka, porque, uma vez mais, ¢ desadequada da realidade.

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