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8. Questiondrios e entrevistas* Na pesquisa social, é muitas vezes difi- cil, ou até imposstvel, coletar dados sobre 4s pessoas através da observacio. Em tais situagSes, utilizam-se geralmente entrevis- {as e questiondrios para obter essas infor- tmagées. Alguns dos temas tipicos de inte- esse slo: o nivel de conhecimentos de uma pessoa, suas atitudes, crengas, sentimentos, motivagdes, expectativas, planos para o fu- turo e comportamento passado. ‘Na entrevista ¢ no questiondrio da-se um_ grande peso 20s relatos verbais dos suj ‘tos para obtengao de informagées sobre os ‘estimulos ou experiéncias a que estdo ex- postos ¢ para o conhecimento de seus com- portamentos. Os relatos podem ou néo ser aceitos pelo seu valor aparente: podem ser {nterpretados & luz de outros conhecimen- tos a seu respeito, ou em termos de algu- ‘mma teoria psicolégica; ou ainda, é possivel fazer inferéncias sobre aspectos da atuacdo dos sujeitos que nfo foram relatados por ‘es. Quaisquer que sejam a quantidade e ‘9 tipo de interpretacao, no entanto, o pon- to de partida 60 auto-relato do sujeto. Por * Fste capitulo foi onganizado e revsto por Leonard ‘Lancto inclu rekon do ApBadie da teria edi ‘go de auteria de Arthur Kornhauser © Paul B, Uheatley. isso, geralmente 0 investigador s6 pode co- letar material que o sujeito possa relatar e cesteja disposto a fazé-lo. Ha muitos anos existe, na bibliografia das cigncias sociais, uma controvérsia s0- brea validade dos relatos verbais. A ques- ‘io é: quando uma pessoa diz “Eston com fome”, como podemos saber que ela est realmente com fome? Nessa pergunta exis- tem muitas questdes diffceis, que nao dis- cutiremos.* Devemos assinalar, contudo, * Una discus desas questdes, fete por Galtung (0967, apresenta o argumpento de que os dadosver- Deis dever ser coniderados como importantes ex rlesmos onto vomente por causa da sua relago com com io verbal. Gatung afta que nfo ‘hé nada de rinsecamento mals valloso no compor- ‘amento nfo verbal, pos ambos pode ter conseqOEn- clas de diferentes graus de importinc.a 0 comporta- ‘meno verbal pode produzi grande vfrimento ox po 221, eo nko verbal pode no ter impacto sobre os ou- fros, Da mesma forme, nenium dos dois pode pre- ‘ender uma validade maior; ¢ posivel mentir ou en- (ganar fanto por pelaveas coma pela gto. Assim. st ‘onexdes ene comportameato verbal eno verbal ‘Blo so, necessariamente, um teste de vaidade dos ‘dados coltados sobre qualquer um dees. O que uma ‘Pessoa diz (num determinado conteto socal) n80 ee sa ter rag com o que ela fax (aum outro contex- to social); ambos podem set fato importantes a es ‘ello da pessoa dos contextos socials. Exigir con- ‘htncia etre dle impor uma simpicdade que viola fr compleidade das relagdes soci 15 que na vida didria aceitamos muitos rela- tos verbais como validos. Por exemplo, se perguntamos a uma amiga o que achou de determinada peca ¢ ela nos diz: “€ ter vel”, geralmente acreditamos que sua afir- ‘macdo representa corretamente seus senti- ‘mentos. Contudo, na vida cotidiana, com- reendemos também que, em certas ci cunsténcias, no devemos confiar nos re- latos verbais. Por exemplo, sempre que te- ‘mos raz6es para suspeitar que um auto-re- lato veridico seria embarasoso, ou de al- guma forma poderia colocar a pessoa em posigio desfavordvel, tendemos a manter algumas reservas em relagdo a cle. Ou, sempre que temos razdes para acreditar que uma pessoa esté usando um relato verbal para ganbar simpatia, respeito ou presti- aio, para divertir ou surpreender alguém, ou de alguma outra forma, eriar determi- nado efeito social, tendemos a ter pouca confianga no relato. Em outras palavras, quando as circunstncias em que ocorre 0 relato nos fazem supor que a motivacdo da Pessoa, OU as presses a que esté exposia so de tal ordem que impedem um relato sincero, tendemos a néo the dar muito eré- dito. As pessoas — além de no desejar des- crever abertamente suas crencas, sentimen- ‘06, motivagdes, planos e assim por diante — podem também ser incapazes de fazé- lo, Como o mostraram os psicanalistas, rio estamos conscientes de muitas de nos” sas crengas ¢ motivagées importantes, por- tanto, no podeos relaté-las. Além dis- 80, 0 auto-relato freqlentemente exige 0 utodiagndstico. Mesmo algumas pergun- tas aparentemente simples, como '*Voc® & timido com estranhos?”” ou ‘“Vocé prefe- reir auma festa on ficar em casa e ler um bom livro?” exigem que os individuos fa- cam julgamentos sobre si mesmos, com ba- se em muitos eventos passados. Sentimen- tos, crengas ¢ motivacdes tomnam-se claros para o individuo, sob uma forma intelec- tualmente compreensivel, apenas como re- sultada final de um complexo processo de 16 inferéncia, Com relagdo a atitudes soci ‘complexas, algumas pessoas nunca aprei deram a fazer as inferéncias necessérias ra.um relato verbal adequado; no co! guem indicar, sob qualquer forma sistemé! tica ou analitica, suas atitudes em relacta ao marido ou mulher, por exemplo, em relagao a previdéncia social, ou a0 sis s, hé oportunidade para um cui- Pitnaior na comunicacao das questdes jrnecer informacao. Além disso, o dlor tem a oportunidade de obser- (0 0 sujeito como a situago total 1 resposta ocorre. Entrevistas con- pelo telefone esto entre 0 ques- ‘¢entrevistas face a face, na medi- aué escolas mais distantes da vizinhangay4 ‘como um meio de promover a intesragia racial nas escolas. ¢ desvantagens. Um resumo desta precisos porque algumas vezes as pessoas. edo estd apresentado na tabela 8.1. se sentem desmotivadas para ou incapazes™ de Iembrar ou descrever precisamente 0 que ‘saber, 0 que ou como sentem € 0 que fa zem. N&o obstante, todas as pessoas tém ‘uma oportunidade impar de se observarer, A medida que elas possam ¢ comuniquemt ‘conhecimento sobre si mesmas, fornece: ‘ao ao investigador informagaes que de ot ‘tro modo somente poderiam ser obtides, se 0 fossem, através de métodos muito mais falhios que 0 auto-relatos. Em geral, pa i rece razodvel supor que as pessoas dito & ‘erdade sobre si mesmas, a menos que te- hamos razBes especificas para pensar de 4a ‘outro modo. O pesquisador que esté para iniciar um estudo com base em auto-relatos deveria identificar tdpicos particularmen- te sensiveis, caso existam, etentarlevar em conta a sensibilidade através de técnicas apropriadas de entrevista, linguagem das questdes ete. do questiondrio Yantagem principal do questionério é ps slo freqientemente menos disper ‘para se aplicar. Isto porque ques- os so, na maioria das vezes, sim- enviados pelo correio ou forne- grandes niimeros de informantes si- nte. Com uma dada quantia de de mais pessoas, através de ques- cdo que entrevistando cada infor- ‘por telefone. segunda vantagem do questionério ele evita vieses potenciais do entre~ dor, 0 que é discutido mais adiante é capitulo. vvantagem dos questionérios ¢a de 9 informantes poderdo se sentir mais fgtiros com os mesmos em funcéo de seu riter andnimo ¢, com isto, se sentirem. )4 vontade para expressar pontos de g que temam colocé-los em situapio @blemdtica ov que julguem nfo ter apro- fo. Embora um entrevistador possa as- ‘Comparagio entre questiondrios ¢ entre- vistas 4 Embora entrevistas ¢ questionérios déem ambos forte crédito A validade dos relatos verbais, bd importantes diferencas entre os dois. Num questiondrio, a informacdo que se obtém é limitada &s respostas escritas dos sujeitos a questdes pré-elaboradas. Numa entrevista, uma vez que o entrevistador ¢ © entrevistado estio ambos presentes, i @ ‘medida que as questdes so formuladas ¢ fie, como o endereco, ou outra informa- Fque idenifique o eatrevistado, Se um s rio for aplicado anonimamente, ¢ no houver nenhuma informagao que aparentemente identifique os informantes, ‘estes. poderdo sentir maior conflanca pot suas respostas ndo serem (ou ndio poderem ser) identificadas. Estudos que se utlizem de ambos 0s métodos tm encontrado al- sgumas vezes diferengas ainda mais marcan- tes entre as respostas dadas a entrevistas € aquelas dadas aos questionsrios. Edwards (0954), por exemplo, num levantamento realizado com moradores de Seattle sobre suas atitudes em relapo a uma proposta de um fundo estadual para bonus a vete- ranos de guerra, utilizou entrevistadores para metade dos informantes. Para a ou- tra metade foi fornecida uma folha com a inscrigo “Cédula secreta”, a qual preea- chiam, dobravam e colocavam numa ‘‘cai- xa de votacio secreta”. (Esta foi, é claro, uma maneira pouco usual de enfatizar 0 anonimato.) As entrevistas apresentaram um niimero muito maior de respostas “no sei” e menor nimero de respostas desfa- vordveis do que aquele obtido com ques- tiondrio. Um plebiscito realizado poucas semanas mais tarde propiciou uma verifi- cago; as proporgdes obtidas na cédula se- creta eram muito mais préximas do voto real do que os resultados da entrevista fa~ ce a face. Outta caracteristica do questiondrio que ¢ desejavel, algumas vezes, mas nem sem- pre, é quc este poderd exercer menos pres- ‘so sobre o respondente para que dé uma resposta imediata, Algumas vezes isto €ne- cessdrio dependendo do assunto investiga- do. Quando se dé uma ampla margem de tempo aos sujeitos para responderem ques- tes sobre atitudes, eles poderéo conside- rar cuidadosamente cada aspecto da res- posta em ver de responder o que lhes vem A mente, como o que ocorre sob a presso social dos longos periodos de siléucio nu- ‘ma entrevista. Por outro lado, pode-se que- rer que as perguntas sejam respondidas nu- ‘ma determinada ordem para evitar que se induzam as respostas do informante com as idéias contidas nas questdes subseqiien- ” aa? + ‘Brirevisia por ‘elefone ‘Questiondrios ‘apileudas face face 44 Brirevites ‘ace a face ‘Questiondrios aplicados em rupo, a tae ++ ‘Quesiondrios elo coreio ‘ informante para resporta imediats ‘ ponibilidade de obter uma boa amosira ‘ecapacidade de infcrmantes em ler ‘questiondros © excreverrespostas ‘ probabilidade de esubelecer apport fom o informante a populagdo «= etes do entrevistador ‘Tabela 8.1. Vanagens de varios métodos de levantamento (+++ reltivamente bom: ++ intermediério; + relaivamente pobre). 1A menos que ama texa de resporta relativamente ala poses sr obtide, 2A menos que se consgam moradores sem tslefone ¢ com teefones ndo-regstrados * sundadia de presto sobre 1 bustacia de dependéncia da mativagao Vantogens = baizo custo ‘rapier * anonimato vido de maneira a encorajar — i garantir — que 0 informante res- ‘cada item por vez. Poderia conter -quest6es em cada pagina ¢ instro- G4 Serem seguidas antes de passar para gina seguinte (Galtung, 1967). da entrevista Principal vantagem da entrevista — face ou por telefone — sobre o ques- que a entrevista quase sempre ‘uma melhor amostra da populacto tudo. se questiondrios so envolvidos correio para a populacdo, em geral, 10 a 15% deles serdo normalmente idos,mesmo apés uma série .de ientos pelo correo. A grande ios poderd ser muito diferente ‘que devolvem, em aspectos que th ser cruciais para o estudo. Aqueles “ado respondem so freqientemente iinstaveis na habitacSo de menor ni- ynal e menos interessados No te- indo um quadro muito engana- § partir de um levantamento sobre aer questo para a qual mais da me- ontrario, 0 fadice de resposta para ace a face ou por telefone, na jo em geral, ¢ freaiientemente pré- it de 70 a 80%. A maioria das pessoas Misposta e & capaz de cooperar num es- 3 nde tudo o que ela tem a fazer ¢ fa~ AS pessoas normalmente apreciam fa- Tae earn pessoas que so amigaveis ¢ que Sees ‘naquilo que pensam. jd se deve imaginar, questiondrios y ptovaveis de serem devolvidos se construidos de uma maneira atrati- pequénos, claros ¢ faceis de preencher pene E também de grande ajuda o es nor nto, vie Paren (180.1. fato de serem personalizados na carta de encaminhamento, ¢ se algum dinheiro ou ‘Outro incentivo puder ser oferecido em tro- ca da resposta. E também recomendavel enviar pelo menos trés acompanhamentos pelo correio para aqueles que no respon- deram de imediato (Dillman, 1978). Hi alguns passos a serem dados para re- duzir o problema da falta de resposta. Por exemplo, depois que os acompanhamentos pelo correio foram feitos, poder-se-ia se- lecionar uma amostra dos nao-responden- tes e tentar entrevisté-los pessoalmente ou por telefone. E Sbvio que estes métodos se aplicam a qualquer levantamento onde se imagina que a taxa de resposta seja baixa. s métodos de acompanhamento reque- fem, contudo, que os nomes € enderecos dos individuos da amostra sejam conheci- dos ¢, desta forma, o carater andnimo ¢ tal- ‘ver alguns sentimentos de confianca fi- ‘quem prejudicados. Outra importante vantagem da entrevis- ta face a face ou por telefone sobre 0 ques- tiondrio € a inabitidade de muitas pessoas em responder adequadamente por escrito. Estima-se que mesmo para propdsitos de Preenchimentos de simples questionsri pelo menos 10% da populaglo dos E.U.A. ¢iletrada. Para questiondrios complexos a poreentagem seria, sem duivida, considera yelmente mais alta. Assim, um dos maio- res empecithos do questiondrio comum é que ele € apropriado apenas para sujeitos ‘com um considerdvel nivel educacional. Questionérios complexos que requerem Jongas respostas escritas podem ser usados apenas com uma pequena porcentagem da populardo. Mesmo um grande mimero de estudantes universitérios tem pouca fecili- dade pata escrever, e aqueles que a tém nao apresentam, na maioria das vezes, pacién- cia ou motivacio para escrever tanto quan- to para falar. Conseqiientemente, a técni- @egnvelope com as respostas. ‘eatrevsta-padrao de levantamentos. Vantagens de entrevistas por telefone Entrevistas por telefone combinam as vantagens ¢ desvantagens tanto das entre- vistas pessoais como dos questionérios en- viados pelo correio. Baixo-custo e preen- ‘chimento rdpido com altas taxas de respos- as sio as maiores vantagens de entrevis- tas por telefone (Sudman, 1967). Organi- zagbes de opinio publica, por exemplo, freqiientemente realizam ‘levantamentos nacionais por telefone sobre opiniGes de vo- tantes nos tiltimos dias de campanha elei- toral e fornecem os resultados aos candida tos em poucas horas. Estas informacdes po- ddem auxiliar 0 candidato na elaboragdo de seus apelos finais a determinados segmen- tos do eleitorado e pociem ser especialmente ‘importantes na determinacdo dos resulta- dos de eleipdes préximas (Oberdorfer, 1970). B também posstvel realizar levantamentos ‘em larga escala em poticas horas sobre a ‘ovorréncia de eventos trauméticos com 0 ‘objetivo de extrair reagdes imediatas. Fi- nalmente, o baixo custo permite a realiza- ‘so de entrevistas adicionais que seriam in- vidveis economicamente em outros casos. A maior reserva em relagdo as entrevis- tas por telefone tem sido a de que aquelas ‘Pessous que possuem telefone ni sito re- presentativas da populasao mais ampla, Este argumento é ainda vélido em certo grau. Um segundo problema & que uma ‘roporedo crescente de assinantes de tele- ‘fone vers mantendo nimeros ndo listadas. ‘Se estes grupos podem ser identificados, podem-se fazer consideragdes apropriadas ara possiveis vieses na andlise. Técnicas de discagem aleatéria podem ser usadas em estudos onde seja essencial incluir aqueles amimeros néo listados. Discam-se combina- ‘ges casuais nas centrais telefSnicas em funcionamento de tal forma que os mime- 10s nao listados tém a mesma chance de se- rem escolhidos quanto os listados. Hi al- ‘gumas dificuldades pelo fato de haver te- efones comerciais e telefones residenciais. Entrevistadores devem discar de quatro a

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