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Revista de Direito da Cidade vol. 08, n® 1. ISSN 2317-7721 DOI: 10.12957/rde.2016.19540 © DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTAVEL E O PLANO DIRETOR DE NATAL/RN URBAN SUSTAINABLE DEVELOPMENT AND THE MASTER PLAN OF NATAL/RN Henrique Eufrésio de Santana Junior? Magdi Ahmed Ibrahim Alloufa? Resumo O presente artigo busca tratar de uma reviséo conceitual e retrospectiva hist6rica e comparativa acerca das tentativas de planejamento urbano e planos diretores em Natal/RN, desde o inicio do ‘Século XX, e uma apresentago avaliativa do Plano Diretor de Natal, na sua tiltima versio de 2007, com foco na insergo dos critérios de sustentabilidade eco-sécio-econémicos ou do desenvolvimento urbano sustentavel contidos nessas iniciativas. O estudo esté metodologicamente baseado em revisdes bibliograficas e na andlise das legislacdes loceis. Esta andlise nos levou 20 entendimento de que o atual plano diretor no se mostra uma ferramenta completamente apropriada ao desenvolvimento urbano complementares, acompanhamento e revises que garantam a efetividade eco-sécio-econémica do plano. Espera-se que este estudo contribua na formataco dos processos revisionais rnecessérios ao atual estagio de desenvolvimento do Plano Diretor de Natal/RN. Palavras-chave: Planejamento urbano, direito urbanistico, sustentabilidade, uso do solo urbano, estatuto da cidade. ustentdvel da cidade, sendo necessario, portanto, estudos Abstract This article aims to deal with a conceptual review and historical and comparative retrospective about the efforts of uroan planning and director plans in Natal/RN, from the early twentieth century, and an evaluative presentation of the director plans, in its latest version of the 2007, focusing on the integration of criteria for eco-socio-economic sustainability or sustainable urban development contained in these initiatives. The study is methodologically based on literature reviews and analysis of local legislation. This analysis has led us to the understanding that the current master plan does not seem an entirely appropriate tool for sustainable urban development of the city, if necessary, so further studies, monitoring and review to ensure the eco-sacio- economic effectiveness of the plan. It is hoped that this study will contribute to format the revisional procedures necessary to the current stage of development of the Director Plan of Natal/RN Keyword: roan planning, urban law, sustainability, urban land use, status of the city. Engenheiro Civil, Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, doutorando em desenvolvimento e meio ambiente, ambos pela UFRN/PRODEMA. E-mail: 004.henrique@ gmail.com * Professor Doutor do Departamento de Biociéncias da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN}, E-mail: magdialoufal@gmail.com Revista de Direito da Cidade, vol, 08, n® 1. SSN 2317-7721 pp.271-293 271 Revista de Direito da Cidade vol. 08, n® 1. ISSN 2317-7721 DOI: 10.12957/rde.2016.19540 INTRODUGAO Em decorréncia dos padrées irracionais de ocupagao do territério, notadamente no meio urbano, surgem cendrios cada vez mais comuns nestes espacos em que se destacam intimeros conflitos de diversas ordens corn implicagdes, em especial, na qualidade de vida (RATTNER, 2009 citado por MARTINS; CANDIDO, 2013). Suscitar debates sobre conceitos e idelas no campo da sustentabilidade urbana consiste num didlogo bastante ousado (MELO & SOUZA; GIUDICE, 2009). As dificuldades da visio monodimensional do desenvolvimento, com foco ambiental, ¢ a confrontagao dos temas sociais € econémicos tém produzido farto material cientifico, notadamente aqui no Brasil. Essa discussao ganha complexidade e gera muitos conflitos quando voltada para a seara do meio ambiente urbano (MARQUES, 2010) As contradigées tém diversas origens e esto presentes sob diversas formas; sejan na midia, nos movimentos socials, nas formulagdes teéricas sobre a sociedade e a natureza, nos ambientes juridicos, nas discussées dos problemas da pobreza e da falta de moradia, sendo a questo ambiental o ponto principal desses debates. Esse conjunto de fatos ver desorganizando a cocupacdo do solo das cidades, com graves impactos eco-sécio-econémicos (MAGLIO, 2005). A rapidez do avanco desse proceso justifica a importancia dos estudos sobre o tema no Brasil. A administraggo dos fendmenos ligados 8 ocupa¢o das cidades enseja politicas piblicas de ordenamento do uso dos solos que, frente a realidade de conflitos, devem ter um cardter fortemente interdisciplinar e conciliatério, incorporando critérios de sustentabilidade urbana, \inica abordagem capaz de garantir acesso a vitais recursos naturais de forma perene (DUARTE, 2011). A sustentabilidade eco-sécio-econdmica relacionada a0 desenvolvimento pode ser chamada de “desenvolvimento sustentavel”, tendo, entre intimeros conceitos, a definicdo basilar de que & um modelo de desenvolvimento baseado na conservacdo e utilizagao racional dos recursos naturais planetérios no objetivo de garantir a sobrevivéncias das atuais e futuras geragdes (VEIGA, 2005) ou “que atende as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as, geragGes futuras atenderem as suas” (SACHS, 1986, 2007} © desenvolvimento sustentavel expressa, ainda, no entendimento popular, aspectos exclusivamente ambientais, de fungdes dos ecossisternas ou regulago ambiental como garantia de bem estar de todas as espécies do planeta (NATAL, 2013). Essa percepgao, todavia, ver evaluindo Revista de Direito da Cidade, vol, 08, n® 1. SSN 2317-7721 pp.271-293 272 Revista de Direito da Cidade vol. 08, n® 1. ISSN 2317-7721 OI: 10.12957/rde.2016.19540 com a incorporagao dos aspectos sociais e econdmicos, complementadores do triné de equilibrio desse modelo de desenvolvimento, na sua correta interpretacdo. Evolui-se atualmente da ética preservacionista radical para um enfoque contemporéneo de sustentabilidade ou equilibrio eco- sécio-econémico (MAGLIO, 2005). Esse é um importante avango conceitual Com 0 intuito de contribuir para o debate das reflexdes tedricas e metodolégicas relacionadas ao assunto este artigo apresenta uma revisio conceitual sobre a temética do desenvolvimento urbano sustentdvel, destacando as tentativas de planejamento urban e os Planos Diretores do Municipio de Natal/RN. A metodologia para a sua elaboracao foi a de pesquisa bibliografica e documental onde se confeccionou 2 base tedrica da pesquisa. Na pesquisa bibliografica foram analisados os novos enfoques da evolucio dos conceitos de sustentabilidade eco-sécio-econdmica no planejamento urbano, uma avaliagao acerca do desenvolvimento do urbanismo no Brasil e, especificamente, em Natal, quanto aos seus planos diretores. Forarn pesquisados livros de diversos encaminhamentos disciplinares, como o direito ambiental e Urbanistico, 0 uso e ocupago do solo urbano, geografia e palsagens urbanas, dissertagées de mestrado e teses de doutorado nas reas ligadas ao tema e outros trabalhos e artigos de interesse, obtidos por diversas maneiras, por aquisigéo, empréstimo ou em sitios digitais. Nesse estudo uma fonte importante foi obtida no acompanhamento de artigos, entrevistas e outros documentos jornalisticos. A pesquisa documental de fonte priméria propriamente dita é aquela realizada no interior de érgdos publicos (ANDRE, 2005). Neste sentido a pesquisa voltou-se para conhecer a produgao dos érgdos de planejamento urbano de Natal, e da regio metropolitana, de sua legislac3o ambiental e urbanistica. Buscou-se documentos e notas-técnicas sobre todo o desenvolvimento das intervencdes urbanistica na rea de estudo, os planos diretores de Natal e das cidades da regio metropolitana, zoneamentos de diversos tipos nessa regio © outras operagdes urbanas. O principal érgdo visitado, fisicamente ou através da Internet em seus sitios préprios, foi a Secretaria Municipal de Melo Ambiente e Urbanismo de Natal (SEMUR8). Diante disso, veremos na primeira parte apontamentos acerca da sustentabilidade urbana suas diferentes dimensdes. Na segunda parte, teremos aportes sobre o Plano Diretor da Cidade do Natal e de como surgiu pela cronologia dos fatos os planos urbanisticos da cidade e por fim, na Ultima parte seré feito uma releitura do Plano Diretor de Natal. "Revista de Direito da Cidade, vol. 08, n® 1. (SSN 2317-7721 pp.271-293 273 Revista de Direito da Cidade vol. 08, n® 1. ISSN 2317-7721 DOI: 10.12957/rde.2016.19540 SUSTENTABILIDADE URBANA © conceito de desenvolvimento urbano sustentével traz consigo alguns conflitos teéricos, Dentre eles, as divergéncias entre a trajetéria da andlise ambiental e da andlise urbana que, originando-se em dreas do conhecimento diferentes, so obrigadas a caminharem juntas na proposta de desenvolvimento sustentével para o ambiente das cidades, com objetivos 8s vezes divergentes (MOTA, 2003). Tem-se como paradigma que hé sempre conflitos, oposigées contradigdes entre os conceitos de urbano e ambiental No processo de urbaniza¢ao, o espaco urbano, como a materializacdo das relagdes socials ou elemento transformador dessas relagSes, ocupa o cerne de uma falsa inconsonancia (RECH, 2007), Muitas tentativas de conciliago ou entendimento dessas duas anélises baseiam-se nas definigées em tomo da expresso “ambiente urbano", na busca da convivéncia entre a dimensiio fisica, natural ou construida e a dimensdo ambiental ou ecoldgica do espago urbane modificado (MARQUES, 2010). Essa sintese € a base das possibilidades do desenvolvimento sustentavel nas préticas da ocupagio das cidades, em busca de melhores condigdes de sobrevivéncia, seja para a cidadania, seja na busca de qualidade de vida urbana ou em uma justiga eco-sécio-econdmica, A acio do homem é predominante nesse sistema duplo e, por isso, 0 ambiente urbano difere dos outros ecossistemas naturais pela intensidade e rapidez das mudangas que se processam nessas regides (BORBA; CHAVES, 2008). De acordo com Mota (2003), 0 homem tem a capacidade de dirigir suas aces, no ambiente urbana, utilizando 0 melo ambiente como fonte de subsisténcia e energia ou como receptor de seus residuos, com posturas de excessiva valorizagio da tecnologia e de interesses econdmicos. Esse fato acentua os riscos da ocupagéo dos solos Uurbanos, com reflexos negativos, como a extingo de recursos naturais, poluiggo do meio ambiente, deterioracdo da qualidade de vida, segregacdo e desigualdades sociais, pobreza ou ma distribuigdo de renda, A urbanizagdo das cidades no & acompanhada do necessério crescimento das infraestruturas urbanas, criando, ao invés de cidades sustentavels, cidades desiguais (HUMBERT, 2010). O processo de urbanizacao no mundo contemporneo, expresso da acentuacso dos papéis urbanos sob o industrialismo e de novas formas de produgao e consumo da, e na, cidade, tem provocado 0 aprofundamento das contradi¢des entre o ambiental e o social nos espagos urbanos (SPOSITO, 2001). Isso porque, tem-se a cidade como 0 fruto do processo de desenvolvimento capitalista. De acordo com Pereira (2001), visto que 0 préprio capitalismo é, em sua esséncia, Revista de Direito da Cidade, vol, 08, n® 1, SSN 2317-7721 pp.271-293 274 Revista de Direito da Cidade vol. 08, n® 1. ISSN 2317-7721 DOI: 10.12957/rde.2016.19540 desigual, o espago urbano torna-se 0 palco de desigualdades, onde ¢ possivel observar grandes disparidades, como “ilhas” de riqueza e areas urbanas desprovidas de qualquer beneficio. Carlos (1994) ressalta o fato de que a cidade é reflexo, ao mesmo tempo, de um processo de produgdo e de uma forma de apropriag3o do espaco produzido, ou seja, nos padres de uso do solo urbano, 0 que gera um processo de segregaco espacial dentro do espaco urbano, Esse padrao de urbanizagio gera situagdes de insustentabilidade urbana caracterizada pela prevalancia de um processo de expansdo € ocupagdo dos espacos intra-urbanos, onde se encontram baixa qualidade de vida e parcela significativa da popula¢do (JACOBI, 2006). Nesse cenério surgem as desigualdades ambientais que, segundo Alves (2007), podem ser definidas como 2 exposi¢ao diferenciada de individuos e grupos socials a amenidades e riscos ambientais. Desa forma, “a desigualdade ambiental pode ser relacionada com o tras formas de desigualdades presentes na sociedade, tais como entre racas, sexo, grupos de renda, etc. e, neste caso, os individuos séo desiguais ambientalmente porque séo desiguais de outras maneiras” (ALVES, 2007), Os critérios de sustentabilidade adaptados ao desenvolvimento urbano sio bem adequados e descritos em um dos marcos mais importantes no processo de implementacio dessa politica no Brasil. Em 2003, 0 Governo Brasileiro através do Ministério do Melo Ambiei determinou um conjunto de normas, posturas, condigSes e procedimentos relacionados a0 planejamento urbano para elevar 0 padrSo de sustentabilidade socicambiental em diferentes arranjos territoriais, como os municipios. Esse trabalho sintetiza toda uma metodologia e abordagens baseadas nos estudos mundiais sobre o assunto, Esse documento & a Agenda 21 Local (BRASIL, 2000, 2006, 2011) e vincula 0 desenvolvimento urbano & sustentabilidade ecoldgica ambiental, social, econémica, demografica, cultural, politica e institucional. A Agenda 21 determina que 0 desenvolvimento urbano 6 assunto local das cidades e, portanto, é na insténcia municipal que se visa 0 atendimento dessas premissas, O documento define, ainda, a ferramenta que incorpora essas atribuigdes, normatizadas pelo Estatuto de Cidade (BRASIL, 2001), como Planos Diretores Municipais. O Estatuto das Cidades, Lei Federal n® 10.257 de 10 de julho de 2001, traga as diretrizes gerais dos planos diretores para o desenvolvimento urbano sustentvel dos municipios brasileiros, que sdo caracterizados pela formulago de politicas urbanas de gestdo democrética e planejada, bem como pelo aprofundamento nos temas ambientais, socials, econdmicos, histéricos e culturais e 0s relacionados as questdes polltico-institucionais. O Estatuto da Cidade e os planos diretores vieram positivamente de encontro as preocupacdes de Revista de Direito da Cidade, vol, 08, n® 1. SSN 2317-7721 pp.271-293 275 Revista de Direito da Cidade vol. 08, n® 1. ISSN 2317-7721 DOI: 10.12957/rde.2016.19540 ambientalistas, urbanistas, juristas @ gedgrafos que se envolveram na sua elaboracio (BRASIL, 2006). Desta forma, o plano diretor é 2 ferramenta legal e competente de implementagdo das politicas de desenvolvimento urbano sustentével, sendo, ou devendo ser, instrumento de soluggo de conflitos urbanisticos. Para tanto, 0 plano diretor tem como objetivo organizar os espacos habitéveis de modo a propiciar melhores condig6es de vida ao hornem na comunidade dos espagos habitévels, entendendo como espagos habitéveis todas as reas em que o homem exerce coletivamente qualquer das quatro fungdes sociais: habita¢go, trabalho, circulagdo e recreacgo (BARBOZA; QUINTEIRO, 2007). A urbanizago no Brasil teve um crescimento vertiginoso nas ditimas décadas do século passado. Segundo o IPEA, Instituto de Pesquisa Econémica Aplicada, em 1970, 56% dos brasileiros moravam em dreas urbanas. Atualmente, em 2015, estima-se em 80% @ até 2050 sero 90%, concentrados em grandes centros, com uma populacdo de mais de 200 milhdes de habitantes (\PEA, 2013). € urgente pensar as relagdes sécio espaciais da cidade, empreender, organizar € eficientizar as intervengdes de ordenamento da ocup \¢do sustentavel dessas reas, que so definidas em ages de planejamento urbano ou urbanistico (SILVA, 2010}. Para tanto so os planos diretores municipais, aprovados pelas Cmaras Municipais de Vereadores, os instrumentos basicos dessa politica, detentores das premissas fundamentais de suas intengées. O plano diretor deve ser efetivo instrumento de planejamento para 0 pleno desenvolvimento da urbis ¢ de suas funcées socials (SANT’ANA, 2006). Os planos diretores sao Leis Portanto, 0 trato com o assunto deve se remeter a quest6es de direito urbanistico (BARBOZA; QUINTEIRO, 2007). No caso brasileiro do direito urbanistico a competéncia legislativa é concorrente, ou seja, exige @ cooperacdo entre os entes federados. A politica urbana deve ser desenvolvida pelos Municipios, conforme atribuigao da Constituigaio Federal, cabendo aos Estados legislarem sobre a criagao e regulamentacao de regides metropolitanas e & Unido, a instituigdo das normas gerais para o desenvolvimento urbano. Mas, atualmente, os processos participativos de elaboragio, revisdo e regulamentacao dos planos diretores vm sendo desenvolvidos com muita dificuldade no Brasil, enfraquecendo-se em seu caréter técnico e democrético e na sua efetiva capacidade de induzir a perspectiva do desenvolvimento urbano sustentével nas insténcias deciséries dos governos (BORBA; CHAVES, 2008). Os processos revisionais, em particular, obrigatorios a qualquer plano diretor e com prazos de reviséo que variam de um a quatro anos entre os municipios, enfrentam conflitos de diversas Revista de Direito da Cidade, vol, 08, n® 1. SSN 2317-7721 pp.271-293 276 Revista de Direito da Cidade vol. 08, n® 1. ISSN 2317-7721 DOI: 10.12957/rde.2016.19540 ordens, sempre em toro da problematica eco-sécio-econdmica envolvida nas tratativas do desenvolvimento urbano sustentavel no ambito das atribuigdes de um plano diretor. A interdisciplinaridade contida nesse instrumento, que envolve interligagées com 2 estrutura do direito urbanistico, ecologia, geografia, geologie, economia, sociologia, entre tantas outras ciéncias, transforma 0 processo em um grande desafio (DUARTE, 2011). Supde-se que a falta de critérios e elementos cientificos sistematizados em nivel de detalhamento condizente com a necessidade para o entendimento das dindmicas eco-sécio-econémicas envolvidas sejam a causa desses conflitos. Um indicador dessa assertiva é 0 volume de desacertos ensejados nesses trabalhos, sempre em torno de interpretagdes ou leituras de seu contetido as mais diversas e na maioria das vezes equivocadas, sendo 0 foco principal dessas discuss6es 0 desenvolvimento sustentavel. © MUNIC{PIO DE NATAL E SEUS PLANOS DIRETORES Natal, capital do Estado do Estado do Rio Grande do Norte, localiza-se na Regido Nordeste Brasileira, na Mesorregigo do Leste Potiguar e inserida na Regigo Metropolitana de Natal (Figura 01), com seu centro geogréfico em 05° 47' 42" de latitude sul e 35% 12' 34" de longitude oeste tem drea de 168,53 km? (IBGE, 2013) ssa capital situa-se em zona costeira, abrigando uma grande quantidade de ecossistemas de importéncia ambiental e econémica, como a Mata Atlantica, os manguezais, dunes, restingas, falésias, bancos de coral e arrecifes, planicles costeiras e praias (NUNES, 2009) Na economia, Natal tem o turismo, comércio, prestagio de servigos e a industria como suas principais atividades. Em 1991 o IDH era de 0,572, passando em 2010 para 0,763 com indice GINI de 0,53 e em 2014 pare 0,733 (IBGE, 2014), um dos menores Indices municipals do Brasil. 0 PIB per capita a precos correntes é de RS 14,925,65 (IBGE, 2013). E grande o desequilibrio social que se apresenta, com mais de 60% da populaggo com renda mensal de até um salério minimo. Existem bolsées de pobreza com graves problemas demograficos, com crescimento popula em progressao geométrica e altos indices de analfabetismo (NATAL, 2014). © Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistice (IBGE) verificou, nos seus censos ss. Em 2010 essa demogréficos, quem 1991 Natal apresentava uma populagdo de 606.887 habitant populago passou a 803.739. Estimativa do mesmo IBGE avalia para 2015 uma populagdo de 869.954, Esse acréscimo ica de crescimento anual em torno de representa uma taxa média geomé 1,2%, Desta forma seremos mais de 1,2 milhdes de habitantes em 2050. E Natal, com suas Revista de Direito da Cidade, vol, 08, n® 1. ISSN 2317-7721 pp.271-293 277 Revista de Direito da Cidade vol. 08, n® 1, ISSN 2317-7721 DOI: 10.12957/rde.2016.19540 caracteristicas geoambientais e socioeconémicas, precisa enfrentar com competéncia os desafios dessa superpopulagdo As primeiras intervengées urbanisticas em Natal datam do inicio do século XX, que, nBo podendo serem vistas como ages de planejamento urbano, mesmo assim ganharam nomes de “planos" (NATAL, 20072}. José Afonso da Siva entende que “plano” estabelece objetivos, prazos de aleangé-los, atividades @ executar e responsabilidades pela respectiva execugao (SILVA, 2010) Nessa ética, essas intervengies, até ento, no poderiam assim ser chamadas. Foi ento como Plano Polidrell, a primeira iniciativa de organizago urbanistica de Natal, que constava de um projeto de criagéo de um novo bairro, um terceiro bairro, somando-se aos outros dois existentes, a Cidade Alta e a Ribeira. O crescimento desse novo bairro, denominado Cidade Nova e dirigido &s camadas mais abastadas, causou forte impacto social, deslocando populagdes pobres que moravam nesta area (RECH, 2007]. Essa migrago redundou no surgimento de precérios niicleos habitacionais ou favelas nas atuais regides da Praia do Melo e do Passo da Patria, Um importante instrumento técnico utilizado na implementago desse projeto foi 0 primeiro levantamento fisico da drea urbana de Natal, desenvolvido pelo engenheiro italiano Ant6nio Polidrelli, que deu nome ao estudo, Este levantamento, ou master plan de Natal, foi a primeira ferramenta de planejamento urbano da cidade e permitiu uma visuelizacéo sistémica para a definigo do arruamento reticulado dessa rea que hoje corresponde aos bairros do Tirol e Petrépolis (NATAL, 2013) © Plano Palumbo foi a segunda importante intervengdo urbanistica na capital Desenvolvido no final da década de 20, este plano tinha uma visdo estratégice que projetava para Natal uma populacéo de 100 mil habitantes, nimero que somente foi atingido trinta anos depois (NATAL, 2013). Juntamente com o plano, surgiu a Lei Municipal n@ 4, que dispunha sobre a regulamentagdo de constr ‘8es © reformas prediais e sobre o que se tem como o primeiro zoneamento da Cidade do Natal. Escse zoneamento dividiu a cidade em 4 zones: Zona Central, Zona Urbana, Zona Suburbana e Zona Rural. Essa particularizagao forgou estudos topograticos que definiram e ampliaram de forma organizada 0 arruamento da cidade, governada nessa época pelo seu primeiro prefeito, Omar O'Grady. Em seguida 0 Plano de Expansio de Natal de 1935, foi uma aco de planejamento de obras estruturantes que contemplava a construco de prédios governamentais, implantago de avenidas e criagdo de bairros. Segundo Siqueira (2012), o Plano de Expanséo de Natal, de 1935, é de suma importéncia para a compreenso de um perfodo especifico do desenvolvimento urbano do Revista de Direito da Cidade, vol, 08, n® 1. SSN 2317-7721 pp.271-293 278 Revista de Direito da Cidade vol. 08, n® 1. ISSN 2317-7721 DOI: 10.12957/rde.2016.19540 municipio, pois foi quando as reformas realizadas durante a década de 1920 foram sistematizadas e se deu andamento a um planejamento-base para as futuras transformacBes da cidade. © Plano_Urbanistico e de Desenvolvimento de Natal de 1968, ndo chegou 2 ser regulamentado, mas serviu de base para o que se entende como o primeiro plano diretor de Natal, seis anos depois (SILVA, et al,, 2009). De acordo com Borba; Chaves (2008), este plano urbanistico contém um banco de dados bastante completo sobre a condigiio ambiental e de infraestrutura da capital. Além disso, foi neste documento em que o meio ambiente foi visto como pega-chave para © bem-estar da populacgo, bem como valioso instrumento de desenvolvimento socioeconémico relacionado ao turismo. © Plano Diretor do Municipio de Natal de 1974 no propés mudangas na estrutura da cidade, porém trouxe grandes contribuigées para o processo de urbanizagio no municipio (SILVA, etal, 2009). Elaborado anteriormente & Constituigo de 1988, esse plano néo incorporou a participaco popular no seu processo de desenvolvimento, tendo sido elaborado por técnicos mobilizados pela prefeitura municipal. Baseado no Plano Urbanistico e de Desenvolvimento de Natal, de 1968, j4 se antecipava a uma nova abrangéncia das politicas pliblicas de desenvolvimento, embora desconsiderando 0 tema que viria ser preponderante nas politicas publicas urbanas, a questo ambiental. Porém, foi este plano que trouxe as primeiras prescrigdes urbanisticas a respeito das zonas especiais que contém areas verdes (BORBA; CHAVES, 2008). Esse plano incorporava questées socials, econdmicas e administrativas, além de estabelecer novos aspectos e ratificar diretrizes sobre 0 zoneamento da cidade sintetizado no ordenamento urbano definido em sessenta e oito (NATAL, 2013}. © Plano Diretor de Organizacdo Fisico-Territorial do Municipio de Natal de 1984 foi focado na regulamentacio do uso do solo urbano a época. € nesse plano que se insere no zoneamento urbano de Natal, uma regido de expansdo que veio a ser den minada “Zona Norte”. Além disso, este plano criou as Areas de Preservagéo Permanente (APPs) no territério urbano, além da defini¢go da Area Urbana (AU) e da Area de Expanséo Urbana (AEU) (NATAL, 2013) © Plano Diretor de Natal de 1994 pode ser considerado uma revisao do plano instituido dez anos antes. Esse trabalho foi a primeira proposta de planejamento urbanistico apés a Constituico Brasileira de 1988 com sua visdo moderna do planejamento urbano e incorpora pioneiramente os critérios democréticos e pat cipativos no seu desenvolvimento (NATAL, 1994). De acordo com Queiroz (2010), este plano dividiu a cidade em areas urbanas, em éreas de expansio urbana e em areas de preservacio e, de forma pioneira voltou-se para os aspectos Revista de Direito da Cidade, vol, 08, n® 1. SSN 2317-7721 pp.271-293 279 Revista de Direito da Cidade vol. 08, n® 1. ISSN 2317-7721 DOI: 10.12957/rde.2016.19540 relacionados aos conceitos de cidade sustentavel. Esse novo conceito, advindo nas discussées acerca da nova vistio desenvolvimentista que incorporou critérios ambientais como condigao de equilbrio, previa cidades geridas por politicas de desenvolvimento que “ndo atrapalhessem a natureza” e lancava uma moderna interpretagio sobre meio ambiente natural e meio ambiente construfdo e as relacdes entre eles, sugerindo a interdependéncia da atividade antrépica na cidade com os fenémenos naturals (MARQUES, 2010) Critica-se negativamente essa versdo do Plano Diretor de Natal por ndo haver proposto ndido como intervencdes urbanisticas que invertessem o zoneamento de bairros de entéo, e segregacional desde o Plano Polidrelli ou da Cidade Nova (NATAL, 2007a). De mais importante, essa iniciativa urbanistica, contemporaneamente, formatou as bases para 0 macrozoneamento ambiental da Zona Urbana de Natal, definindo a particularizagio de dreas ambientais, que, todavia, no vieram a ser locadas, mas que criou zonas de adensamento minimo, zonas adensdveis e zonas, de protecéo ambiental © ATUAL PLANO DIRETOR DE NATAL/RN A dinamica dos planos diretores requer um continuo proceso de monitorame avaliacS0 e revisio (NATAL, 2007b). O Estatuto da Cidade prevé em seu § 3° do art. 40 a atualizagao e revisdo periédica, tecnicamente elaborada, dos pianos. Essa a¢do deve ser instituida por lei, observado em qualquer caso 0 processo legislativo e o preceptivo de audiéncias piiblicas debates que garantam a participagdo da sociedade, associagdes representativas e a publicidade dos atos e documentos produzidos. A falta de reviséo periédica pode, em relacao ao Prefeito Municipal, caracterizar improbidade administrativa, consoante estatui o art. 52 da mesma Lei (BRASIL, 2001). 0 Plano Diretor de Natal de 1994 jé previa a sua revisto anualmente, conforme determinava seu Art. 67. Mas exceto intervengGes pontuais, como a Lei Complementar n® 22 de 18 de agosto de 1999, que dispés justamente sobre a necesséria revisio desse plano, nada foi feito efetivamente para esse processo. Essa Lei, com apenas onze artigos, referia-se particularmente & revisdo dos pardmetros basicos, o perimetro das zonas adensdveis e o estoque de érea edificdvel. Foi somente em 2004 que o Municipio de Natal iniciou o proceso revisional do seu Plano Diretor de 1994, Este processo se estendeu por mais de dois anos, tempo em que foram realizadas audiéncias publicas de discuss8o de solugées para o crescimento urbano sustentavel da capital Esse tempo gasto demonstra o nivel de dificuldades enfrentado jé naqueles anos, O produto desse trabalho, enviado em maio de 2006 & Camara Municipal de Vereadores para andlise e votac3o, Revista de Direito da Cidade, vol, 08, n® 1. SSN 2317-7721 pp.271-293 280 Revista de Direito da Cidade vol. 08, n® 1. ISSN 2317-7721 DOI: 10.12957/rde.2016.19540 representou um grande avanco por sua forma de elaboragao participativa, constituindo, portanto, 2 expressio da sociedade no processo, legitimando as formulagdes apresentadas (NATAL, 2013}. Contudo, o ritual legislativo foi eivado de problemas e despendeu mais de seis meses para 2 sua anélise, um tempo excessivo sob qualquer aspecto. Algumas modificagées no conteuido do projeto original aprovado nas audiéncias tiveram um carter corretivo adequado. Outras emendas, propostas pelos vereadores, foram entendidas como fruto de negociagbes corruptas, promovidas por interlocutores da industrie da construgao civil e do mercado imobilidrio e um grupo de vereadores. Isso, mais uma vez, demonstrou as dificuldades desse processo, daquela feita exibindo toda fragilidade técnica de um planejamento desprovido de um marco legal ou cientifico que embasasse mais solidamente as propostas apresentadas e discutidas e a tomada de deciso de implementé-las. ses conflitos tém natureza na triade da sustentabilidade. As questées econdmicas giram em torno da produgo do espaco urbano, envolvendo os atores interessados, a partir das relagdes capitalistas, em suas miltiplas dimens6es (DUARTE, 2011). A urbanizago 6 um fendmeno com ralzes no modo de p rodusio c: pitalista, que se reproduz no ambiente artificial e traz @ ocupagtio dos solos das cidades, a industrializago e os problemas socioespaciais decorrentes (RECH, 2007}. So disputas por ocupagio e negociaco de areas que confrontam empresérios do setor imobiliério, instituigdes e grupos financeiros e érgaos governamentais, principalmente ligados & gestdo urbanistica e ambiental e ao Ministério Publico especializado. Questées sociais, notadamente habitacionais, também so perpetradas por grupos menos favorecidos e por isso de menor poder de presséo, mas que crescem e se fortalecem rapidamente nos dias atuais (NATAL, 2013). A problematica ambiental é interpretada sob diversos aspectos, desde os mais rigorosos e desprovidos de fundamentagao técnica, aos liberals pouco comprometidos com a preservagiio ecolégica. Cria-se um cendrio de disputa, onde se discute, por um lado, a fungdo social da terra e 0 direito 8 propriedade e, por outro, a defesa do meio ambiente e a aplicacdo de restricbes urbanisticas baseadas nas leis de protecao ambiental Acredita-se haver exageros e interpretagées equivocadas de parte a parte. Se o fundamentalismo econémico tende a ultrapasser as barreiras dos critérios do desenvolvimento Urbano sustentdvel, uma vis3o ambientalista radical em outra trincheira no contribui para a sinergia necessdria 3 elaboracdo, revisées e implementagao dos planos diretores. £ preciso crescer e criar espagos urbanos a ocupar em um proceso acelerado ¢ inevitavel. Essa expansio deve vir a Revista de Direito da Cidade, vol, 08, n® 1. SSN 2317-7721 pp.271-293 281 Revista de Direito da Cidade vol. 08, n® 1, ISSN 2317-7721 DOI: 10.12957/rde.2016.19540 atender a criagio de condigdes de moradia e de trabalho, visando a redugao de problemas sociais e segregacionais altamente relacionados com a crise de violencia que se avoluma. Mas é preciso respeitar a perspectiva ambiental, obedecendo a limites e condigdes naturals do melo ambiente e das infraestruturas disponivels Finalmente em 21 de junho de 2007 foi sancionada a Lei Complementar n® 82, que corresponde ao Plano Diretor je Natal 2007 (NATAL, 2007b) vigente até hoje, em que pese o descumprimento do prazo de quatro anos determinado para a periodicidade de suas revisies, Desta forma esse plano jé deveria ter sido revisado desde 2011. Os planos diretores, como Leis, tém formato proprio que obedece a pratica juridica e que a ela serve. Na andlise do Plano Diretor de Natal (PON) optou-se por sua visio em seus sete titulos divididos em capitulos. © Titulo |, "Da Politica Urbana”, tem trés capitulo. O primero trata das diretrizes e abjetivos do plano, ratificando o Plano Diretor de Natal como instrumento basico da politica de desenvolvimento urbano sustentavel do Municipio (NATAL, 2007b}. Por critérios para o desse objetivo, destacam-se os de preservagio, protecdo e recuperagio do meio- ambiente e da paisagem urbana, da igualdade de distribuigdo dos beneficios de obras e servigos de infraestrutura, da politica habitacional que contemple a produgéo de novas habi tacdes em localizagdes e condigSes dignas e de permisso e condigdes para a participargo da iniciativa privada nos investimentos destinados a programas e projetos de interesse coletivo. Por diretrizes, ficou evidenciada a obrigagdo da observancia da capacidade da infraestrutura urbana para a ocupacdo do solo da cidade, considerando-se 4reas onde a ocupago pode ser intensificade ou limitada. ainda nesse capitulo, s80 lancadas as bases diretivas para o zoneamento ambiental, principal instrumento de gestdo ecolégica do plano. 0 Capitulo II se refere & “Funcao Socioambiental da Propriedade” e trata da prioridade dos interesses coletivos ou difusos em relago ao direito da propriedade individual. A funcao socioambiental também seré cumprida quando esse direito satisfizer requisitos relacionados a0 Uso do solo de forma compativel com a infraestrutura e servicos urbanos instalados e a qualidade ambiental © Capitulo Ill trata das definigées e significados gerals necessérios ao entendimento aplicacao do plano. Sao 46 termos de uso comum, nomenclatura técnica que se torne acessivel Dentre essas definigdes, destaca-se a de “conservacdo ambiental’, corrente de dificil compreensiio, mesmo por especialistas. No texto do plano esse termo vem corretamente Revista de Direito da Cidade, vol. 08, n® 1. ISSN 2317-7721 pp.271-293 282 Revista de Direito da Cidade vol. 08, n® 1. ISSN 2317-7721 DOI: 10.12957/rde.2016.19540 enguadrado nos principios de sustentabilidade, diferenciando-o dos _entendimentos preservacionistas e reforgando seu cardter voltado 8 protestio, manutengdo e restauragtio do ambiente natural, garantindo caracteristicas originais de determinado ecossistema, sendo possivel a sua utilizag3o sob regime de manejo sustentivel. No mesmo sentido, 0 texto define a preservacdo ambiental como a protegio do habitat quando o ecossistema é incompativel com a ocupacdo humana, Nesse capitulo sao definidas as unidades de conservaco (UCs) e as “zonas”, referidas como elementos que devem ser legalmente institu(dos e caracterizados por suas fungdes sociais e fisico-ambientais diferenciadas. © Titulo I tem cinco capitulos. Essa parte é a mais importante no plano diretor, pois trata do uso e ocupagéo do solo, funcio principal dessa ferramenta de planejamento urbanistico. © Capitulo | trata do macrozoneamento, definindo inicialmente a abrangéncia da area urbana para todo 0 Municipio de Natal e determinando trés zonas a serem consideradas: Zona de ‘Adensamento Basico, Zona Adensével e Zona de Protecgo Ambiental. A Zona de Adensamento Basico € aquela onde a ocupag3o somente pode ser feita no limite do coeficiente de proveitamento bésico, que vern a ser o indice que representa a relagao entre a drea do terreno 2 drea permitida a ser edificada, O art.10 do PDN define esse coeficiente em 1,2. Ou seja, para cada metro quadrado de area de terreno passivel de edificacdo serd permitido uma érea de construcao de 1,2 m?, Houve muita discussio, quando da reviséo do plano de 1984, quanto a esse coeficiente que é basico para 2 ocupacio e uso do solo, principalmente por se relacionar com a verticalizago. A Zona Adensdvel € aquela onde as caracteristicas naturais e a disponibilizago de infraestrutura possibilitam um adensamenta maior do que o bdsico. Esse indice varia de 2,5 até 3,5. No seu art. de ii 15, 0 plano introduz a figura da outorga onerosa. Como instrument tervenco urbana & regulacéo do direlto de construir, a outorga onerosa diz respeito ao institute do solo criado aplicado nas Zonas Adensdvels. O plano estabelece que na Zona Adensdvel o Poder Executivo outorgue, de forma onerosa ou com custo, autorizagdo para construir érea superior aquela permitida pelo coeficiente de aproveitamento basico e até os limites definidos nos parémetros maximos para cada bairro. A verticalizacdo em Natal é uma realidade e esse é um assunto que deveré ser inscrit ras prioridades das revisées do PDN. J8 existe um entendimento entre os técnicos dos érgios envolvidos com a gesto urbanistica da capital de que a altura ou o nlimero de fixo, mas pela disponibilidade de pavimentos dos edificios no deve ser limitado por um gabai infraestrutura, principalmente a relacionada ao saneamento bésico e mobilidade, Atualmente a altura e 0 numero de pavimer 5 de edificios permitidos em Natal estdo fixados no limite de 65 Revista de Direito da Cidade, vol, 08, n® 1. SSN 2317-7721 pp.271-293 283 Revista de Direito da Cidade vol. 08, n® 1. ISSN 2317-7721 DOI: 10.12957/rde.2016.19540 metros de altura ou 20 pavimentos para as zonas de adensamento basico e 90 metros ou 30 pavimentos nas zonas adensveis. A terceira zona a considerar é a Zona de Protecdo Ambiental, definida como a 4rea na qual as caracteristicas do meio fisico restringem o seu uso ou ocupa¢go, visando a protecdo, manutengéo e recuperaco dos aspectos ambientais, ecolégicos, paisagisticos, historicos, arqueolégicos, turisticos, culturais, arquiteténicos e cientificos. As ZPAs, como séo conhecidas, foram identificadas e definidas em 10 areas no Zoneamento Ambiental e pelo atual Plano Diretor de Natal/RN. Cada uma dessas zonas deveria ser regulamentada por Lei especifica, mas atualmente apenas 5 delas assim se encontram, 0 que demonstra @ complexidade desse processo. 0 atraso na regulamentacdo das zonas restantes prejudica o andamento do proceso revisional que |é deveria ter sido instalado em 2011 e 2015 e causa demandas juridicas desgastantes. Ja fo ‘am regulamentadasa ZPA 1 (Dunas dos bairros de Pitimbu, Candelaria e Cidade Nova), a ZPA 2 (Parque das Dunas de Natal}, ZPA 3 (Rio Pitimbu), ZPA 4 (Dunas dos bairros de Guarapes e Planalto) e ZPA 5 (Regio de Lagoinha). Resta regulamentar a ZPA 6 (Morro do Careca), 2 ZPA7 (Forte dos Reis Magos), a ZPA 8 (Mangues do Estuario do Rio Potengi e do Rio Jundiai) a ZPA 9 (Lagoas e dunas ao longo do Rio Doce e da Rua Moema Tinoco) ¢ a ZPA 10 (Farol de Mae Luiza). © plano determinou que cada uma das ZPAs poderia ser subdividida, para efeito de sua utilizago, em trés subzonas.A Subzone de Preservacao compreende as areas de dunas e vegetacao local fixadora, a vegetacdo de mangue, os recifes e as falésias, as nascentes, a cobertura vegetal que contribua para a estabilidade das encostas sujeitas 8 eroséo e deslizamentos e as dreas que abriguem exemplares raros da flora e fauna. A Subzona de Conservacdo compreende a Zona Especial de Preservagao Histérica e as Zonas Especiais de Interesse Turistico (ZETS). Pela importancia da industria do turismo na capital, as ZETs tém grande importéncia e merecem uma atengdo especial. Atualmente so 4 dessas zonas definidas em Natal. A ZET 1 (Ponta Negra), regulamentada pela Lei n? 3.607/87; a ZET 2 (Via Costeira), regulamentada pela Lei n® 4.547/94; ZET 3 (Forte dos Reis Magos), regulementada pela 3.639/87 e a ZET 4 (Redinha), em proceso de regulamentago. A Subzona de Uso Restrito, por fim, engloba as areas que se encontram em processo de ocunacdo, para as quais © municipio estabeleceré prescrigdes urbanisticas no sentido de ordenar e minimizar as alteragées e impactos no meio ambiente, dentro dos critérios do desenvolvimento sustentavel. © problema fundidrio nas éreas declaradas de protegéio ambiental ver se agravando. O municipio negligencia as solucdes definitivas para a posse e manutencéo dessas zonas, perpetuando os conflitos com proprietarios nao indenizados, invasores e suas habitagdes e quanto Revista de Direito da Cidade, vol, 08, n® 1, SSN 2317-7721 pp.271-293 284 Revista de Direito da Cidade vol. 08, n® 1. ISSN 2317-7721 DOI: 10.12957/rde.2016.19540 a0 proprio questionament 1 localizagao e correta restrigo a0 uso dessas éreas. Natal tern 16.853 hectares e 0 conjunto de ZPAs somam mals de 6.800 hectares (NATAL, 2013). S80 mais de 40% de rea urbana com restrigées ambientais de ocupacao do solo. Esse fato alimenta a discussd0 maniqueista entre os critérios técnicos do zoneamento e a necessidade de ocupacao de éreas frente o crescimento da populacdo e suas necessidades.Faltam marcos cientificos que definam, de forma inconteste, os critérios justificadores da preservagio dessas éreas ou dos modelos do seu Uso ou manejo. € faltam recursos para as devidas desapropriagdes Nesse sentido, o plano determinou que para os terrenos situados em Zona de Protecgo ‘Ambiental poderia ser utilizado o mecanismo de Transferéncia de Potencial Construtivo, que vem a ser a faculdade de pagar por essas dreas, com valores reais, utiizando como moeda a permissdo ou direito de construir em outras dreas em volume superior aquele permitido pelo coeficiente de aproveltamento bésico, conforme jé foi referido com relagdo 8 Outorga Onerosa © Capitulo II trata das “areas especiais” que s4o porgdes da zona urbana que devem ter tratamento urban'stico diferenciado, por conta de sua destinaco especifica. Enquadram-se nesse caso as areas de controle de gabarito ou da altura dos edificios, as dreas especials de interesse social, as éreas de Operacdo Urbana e as dreas nao edifical ss. As éreas de controle de gaberito so aquelas que, mesmo passiveis de adensamento, tem caracteristicas cénico-paisag! tices que precisam ser protegidas, visando assegurar as condigdes de bem-estar, qualidade de vida e equilibrio climatico da cidade. So terrenos que por sua localizagio interagem no acesso visual das paisagens de interesse na cidade. Um exemplo so as éreas ao longo da Avenida Roberto Freire, em Ponta Negra, que caso venham a ser edificadas a partir de certa altura abstaculizariam a viséo da paisagem. Areas Especiais de Interesse Social (AEIS) so aquelas definidas e demarcadas no plano contidas na Mancha de Interesse Social destinada produgio, manutengao e recuperagio de habitagdes e & producdo de alimentos com vistas a seguranga alimentar e nutricional da populagao em terrenos ocupados por favelas, vilas, loteamentos irregulares ou assentamentos, onde predominam familias de baixa renda ou onde se desenvolvam atividades produtivas agropastoris, principalmente na periferia da Zona Norte de Natal com sua produgo hortigranjeira, © Capitulo Ill se refere as prescrigées urbanisticas adicionais, normas que devem ser observadas para garantir a ocupacao do solo de forma adequads as caracteristicas do meio fisico. Sao elas: a taxa de ocupacdo, taxa de impermeabilizacdo, os recuas e o gabarito das edificagdes. Hé lum dispositive nesse capitulo que determina que as aguas pluviais que incidem em cada terreno devam vir a ser infiltradas na prépria érea do terreno, Isso beneficia a recarga do lencol frestico Revista de Direito da Cidade, vol, 08, n® 1. SSN 2317-7721 pp.271-293 285 Revista de Direito da Cidade vol. 08, n® 1. ISSN 2317-7721 DOI: 10.12957/rde.2016.19540 que, pelas caracteristicas geolégicas e pedolégicas de grande parte da zona urbana de Natal, se da por infitragao. © Capitulo IV trata da destinagao dos usos do solo urbano e de sua localizacdo, estabelecendo que, de forma genérica, todos os usos sero permitidos no territério do municipio, desde que obedecidas as normas especificas de licenciamento, sejam eles residenciais, néo residenciais ou mistos. © Capitulo V trata do parcelamento do solo, os loteamentos. Ficou definido que a érea do lote minimo & de 200 m? com testada minima de 8 metros em todo o territério do municipio, exceto nas dreas especiais de interesse social, que devergo obedecer a normas préprias e pontuais. © Titulo il trata do sistema de areas verdes e arborizaglo da capital. Essa parte do plano diretor se refere as defini s das responsabllidades pela criaglo, protecdo e manutengio dos espacos destinados a areas verdes nos loteamentos € condominios, jardins publicos e espacos verdes situadas 20 longo da orla maritima, lacustre e fluvial, bem como de unidades de conservacio de protege integral ou de uso sustentével existentes na malha urbana (NATAL, 20076 No art. 56, neste Titulo, o plano determina que na érea das ZPAs possam estar contidas Unidades de Conservacdo Ambiental (UCS), nos moldes da Lei Federal n? 9.985 que rege o assunto. E necessério entender a sutil diferenga entre essas duas conceituagdes. Em que pese ambas terem por objetivo a garantia da preservaco ambiental, suas formas de criagdo séo distintas e seguem legislagdes préprias. No tocante as suas caracteristicas, a ZPA é conforme citada anteriormente, uma drea que por suas caracteristicas naturais devem ter seu uso restringido. O conceito de UCs € mais abrangente, englobando a protecao de diversos outros bens naturais. Além disso, no sio reas previamente delimitadas por seus atributos geoambientais, requerendo estudos técnicos & consulta popular para que sejam definidas suas dimensGes, limites e quais atributos naturais sero protegidos, e principalmente em qual grupo serio enquadradas, seja de protegtio integral ou uso su vel. Isso significe que o dispositive nesse artigo prevé ser possivel estudos posteriores que criem em uma ZPA, uma UC, com caracteristicas técnicas e legais mais fundamentadas e com manejo melhor definido. ° lo IV disp8e sobre a politica de mobilidade urbana, que vem a ser o instrumento de incluso social que visa ampliar a capacidade de acesso fisico da populagdo a servigos € equipamentos piiblicos, ao laser e a integrago social, com seguranca e respeito 2o meio ambiente, objetivande promover o desenvolvimento econdmico. Natal jé vive, em 2015, um caos no transito com consequéncias sociais e econémicas graves. Poucas iniciativas de estudos se transformam em. Revista de Direito da Cidade, vol, 08, n® 1. SSN 2317-7721 pp.271-293 286 Revista de Direito da Cidade vol. 08, n® 1. ISSN 2317-7721 DOI: 10.12957/rde.2016.19540 obras e intervenges que minimizem os problemas da mobilidade urbana. Tém-se sérios problemas nas calcadas de toda a cidade, prejudicando o deslocamento de pedestres ¢ a falta de estacionamentos complica 0 tréfego de veiculos. Faltam obras vidrias, viadutos e outras infraestruturas de transposigéo, integra¢o urbana e alargamento de ruas, imprescindiveis ampliacao do horizonte de planejamento para 0 colapso no transito da frota desses veiculos que cresce exponencialmente. A implantag3o ou ampliagio, regulagao e articulagio do transporte de massa, como op¢do ao transporte individual é urgente, como uma das solugdes ao problema, © Titulo V trata dos instrumentos da gestao urbana. Cada um deles é descrito em um capitulo, sendo eles: 0 Fundo de Urbanizagio (FURB), criado pela Lei Complementar n*7, de 5 de agosto de 1994 retine recursos de diversas origens, arrecadados pela méquina publica compulsoriamente e principalmente destinados execugio de obras de infraestrutura, desapropriagdes e demais despesas necessérias a implementagao de projetos urbanisticos, visando © fortalecimento institucional do érgo municipal de planejamento urbano e meio ambiente. A Outorge Onerosa (00), ja referida pelo autor neste trabalho, 6 a autorizago para construsiio acima do coeficiente de aproveitamento bisico. O seu valor monetério define quanto pagar pela érea suplementar a construire é calculado com base em percentual do Custo Unitério Bésico (CUB) definido por érgéos ligados & construcdo civil. Um destaque importante & 0 incentive empreendimentos que apresentarem aplicaggo de tecnologias urbano-ambientais sustentaveis e de valorizagio do conforto ambiental urbano que recebergo descontos de até 70% do valor da Outorga Onerosa, A Transferéncia de Potencial Construtivo visa compensar os proprietérios de iméveis impedidos par restrigdes urbanisticas de edificar em seus terrenos. A esses praprietérios seré dado o direito de transferir 0 potencial construtivo nao utilizavel desses iméveis, Na prética, terrenos em que 0 poder puiblico vislumbre impediments a edificago ou que sejam do interesse da prefeitura para localizago de obras enquadradas em politicas piiblicas, poders a gestdo municipal dispor dessas éreas, com garantia de transferéncia de tituleridede, com a contraprestagio de pagamento através do direito de construir - moeda a ser utilizada no pagamento da Outorga Onerosa, Em que pese o dificil entendimento dessa ferramenta, é, em tese, de grande importancia para a solug3o de conflitos em reas de preservacdo ambiental ou interesse social. A compulsoriedade do parcelamento e edificagéio e a progressividade do IPTU visam ao combate & especulacdo imobilidria e funcionam como mecanismos de incentivo & disponibilizacao de dreas urbanas para a ocupacdo. 0 Direlto de Preempgéo ¢ a garantia de preferéncia do Poder Publico Municipal na aquisicio de imével urbano objeto de alienaca0. © Consércio Imobiliério € Revista de Direito da Cidade, vol, 08, n® 1. SSN 2317-7721 pp.271-293 287 Revista de Direito da Cidade vol. 08, n® 1, ISSN 2317-7721 OI: 10.12957/rde.2016.19540 utilizado nos terrenos privados localizados em reas especiais de interesse social ou zonas especiais de preservacdo histérica, que desta forma poderdo vir a serem urbanizadas para a edificagio de habitagSes de interesse social. Ao proprietério é previsto o pagamento dos seus direitos com a parte urbanizada e valorizada do seu préprio imével, em valor “correspondente 20, valor original antes das obras realizadas com recursos pUilicos” (NATAL, 2007b). O capitulo seguinte dispée da Operacao Urbana Consorciada (UC), entendida como o conjunto integrado de intervengdes e medidas urbanisticas que definem um projeto urbano para determinadas areas da cidade, executadas em parceria com a iniciative privada, instituigées financeiras, agentes governamentais, proprietarios, moradores ¢ usudrios permanentes, com a finalidade de alcancar transformagdes urbanisticas estruturais, melhorias sociais e valorizagio ambiental, A Gnica OUC realizada em Natal até 2015 € a da Ribeira, com resultados a serem analisados e utilizados como exemplo para a calibragdo desta importante ferramenta. A uiltime parte ou capitulo desse titulo trata dos Planos Setoriais (PSs). Esses instrumentos so dispositivos legais de planejamento urbano que tém como objetivo detalhar 0 ordenamento do uso e ocupacgo do solo urbano de duas ou mals unidades territoriais contiguas da cidade com vistas a otimizar a fungio socioambiental da propriedade e compatibilizar 0 seu adensamento & respectiva infraestrutura de suporte. © Titulo VI trata do Sistema de Planejamento e Gestdo Urbana do Municipio de Natal/RN No Capitulo | define-se que esse sistema se rege e compde por normas federais de desenvolvimento urbano € pela Lei Orgénica do Municipio do Natal, de 6rgos ou unidades administrativas de planejamento, politica urbana e de melo ambiente, transito, transporte mobilidade urbana, habitecdo de interesse social e saneamento ambiental (NATAL, 2007b). A participacao da sociedade civil organizada, incorporando os critérios democraticos desse processo, definidos no Estatuto da Cidade se dard, segundo o plano, através de representagées, em regime paritério com 0 Poder Municipal, garantindo direitos condizentes com os critérios de diversidade, pluralidade e representatividade. 0 Capitulo Il define o érgdo municipal de planejamento urbano meio ambiente, suas atribuigdes, competéncias os organismos coligados. O Capitulo Ill dispde sobre 0 Sisterna Municipal de Habitagio de interesse Social (SMHIS), mecanismo que se destina a implementar a Politica Habitacional de interesse Social para o Municipio de Natal/RN.O Capitulo IV se refere & criagdo e definigdes para o érgdo municipal de transporte e transito urbano, que tem como obrigacao principal a elaboraggo e gestdo do Plano Diretor de Mobilidade Urbana de Natal/RN.O Capitulo V trata da Agéncia Reguladora dos Servigos de Saneamento Basico do Municipio de Natal (ARSBAN), que se destina a regular a prestacdo de servicos piiblicos de "Revista de Direito da Cidade, vol. 08, n® 1. ISSN 2317-7721 pp.2/1-293 288 Revista de Direito da Cidade vol. 08, n® 1. ISSN 2317-7721 DOI: 10.12957/rde.2016.19540 saneamento basico e do Conselho Municipal de Saneamento Basico (CONSAB). 0 ultimo capitulo trata da articulagiio do Sistema de Planejamento e Gestdo Urbana com outras instancias da administragao direta e indireta de governos, federal, estadual e de outras municipalidades. © Titulo VII, a Ultima parte do PON, trata das disposicdes finais e transitérias comuns a qualquer Lei. De mais importante nesse titulo estdo as definigdes de prazos para as revises desse plano e de regulamentaco de normas que nao tenham sido contempladas ou que venham a ser entendidas como incompativels nesta Lei. Nesse Titulo, define-se ainda para as zonas de protecao ambiental néio regulamentadas um prazo de dois anos pare essa regulamentaggo, e, especificamente em relago 8 ZPA 5 (Lagoinha), seis meses. Para a ZET 1 (Ponta Negra], 0 prazo para a sua regulamentacSo foi de sessenta dias Quanto ao processo revisional do plano, previsto no Estatuto da Cidade, O PDN deveria ser revisto a cada 4 anos. Conforme o art. 116 do PON, “Este Plano sua execugdo ficam sujeitos a continuo acompanhamento, reviséo e adaptacgo as circunstancias emergentes e serd revisto a cada 4 (quatro) anos, utilizando os mecanismos de participago previstos em legislaglo propria” Desta forma, publicado em 2007, 0 PDN teria o ano de 2011 como previsto para a sua revisdo. Isso ainda nao ocorreu. Em julho de 2013 a Secretaria Municipal de Mefo Ambiente e Urbanismo (SEMURB) anunciou a impossibilidade de discussao e elaboracao do projeto de revisio. Segundo a secretaria, as dificuldades resultam da complexidade que envolve regulamentar as cinco ZPAs que faltam. £m 2015, novamente a SEMURB expressou sua dificuldade nas tratativas para a reviséo do PON. Em que pese trabalhos internos com este objetivo, notadamente estudos complementares que esto em processo de contratago de consultorias externas, muito pouco de fez. Enfim, quatro anos apés o prazo determinado em Lei para 2 sua revisio, ainda ndo houve uma articulagiio que permita o cumprimento deste compromisso. Esta é uma preocupacdo que envolve importantes atores, como 0 Governo Municipal, Ministério Publico Estadual, entidades ambientalistas, construtores e proprietérios de iméveis urbanos. Existem ainda questionamentos quanto ao contetido da proposta de reviséo a ser formulada, quanto as deficiéncias no acompanhamento das regras definidas no documento de 2007 e na falta de um diagnéstico que Indique se é necessdrio e o que & necessério revisar. A questo ambiental se perpetua como foco principal dos conflitos nesse processo. AS restrigdes a0 uso do solo urbano, objetivando a preservacdo e conservagdo de éreas ambientalmente frégeis, tm sido discutidas em debates infrutiferos. Essas éreas so principalmente demandadas diretamente pela populacdo na necessidade de moradia e, indiretamente, pelos proprietarios e empresarios do setor imobilidrio € Revista de Direito da Cidade, vol, 08, n® 1. SSN 2317-7721 pp.271-293 289 Revista de Direito da Cidade vol. 08, n® 1, ISSN 2317-7721 DOI: 10.12957/rde.2016.19540 da indistria da construgo civil com seus também legitimos interesses. Confrontam-se ambientalistas, operadores do direlto e especuladores com visbes distorcidas de part a parte. A fungao social da terra, 0 direito € as garantias da propriedade e a ecologia nao vém sendo tratados em um cenario que permita o encaminhamento de instrumentos legais garantidores do desenvolvimento urbano sustentavel. CONSIDERACOES FINAIS Em que pese todo um aprofundamento do arcabouco legal normalizador das posturas que garantiriam 0 desenvolvimento urbano sustentivel do Municipio de Natal/AN, na pratica, muito ainda falta para 0 alcance desse objetivo. Nao se pode aceitar 0 atual Plano Diretor de Natal como ferramenta apropriada ao desenvolvimento urbano sustentavel da cidade. Questiona-se a insergio dos critérios de sustentabilidade eco-sécio-econémica adequados 20 atual estagio de urbanizagio e desenvolvimento da Cidade do Natal, no Plano Diretor vigente, € necessério avaliar e atualizar essa norma legal. O crescimento da cidade e as mudangas diferenciacSes sociais, econdmicas e de estrutura urbana precisam ser levadas em consideracdo para essa retificago. Novas demandas socials, como a necessidade de areas para projetos de habitacdo de interesse popular e novos setores econdmicos, como o da industria do turismo, exigem essa adaptac3o, S30 ainda indispensaveis estudos complementares, acompanhamento € revises que garantam @ efetividade eco-sécio-econémica do plano. £ @ realidade de questionamentos sobre temas indefinidos, conflitos e deficiéncias institucionais néo vém permitindo que os processos previstos de monitoramento e revisionals sejam postos em pratica. O entendimento ou investigago, a aplicagdo de instrumentos de avaliago e a mediacdo desses conflitos tornam-se imprescindivels 20 sucesso desse objetivo, para que este atenda as demandas urbanas e incorpore diretrizes e prioridades do desenvalvimento urbano sustentdvel em qualquer cidade. Natal cresce muito rapidamente em um quadro de segregagio social, pobreza, desequilibrio no uso dos recursos naturais como da agua de subsolo, falta de dreas para construges se opondo a invasdes de zonas de protecdo ambiental, baixos indices de crescimento econémico responsabilizados a gargalos ambientais diversos; disputas entre proprietérios, empresirios do ramo imobilidrio e da construgo civil, ambientalistas, membros do Ministério Pai jlico e da Magistratura ligados ao setor ambiental, entre outros, que se digladiam em volta de discussbes inconclusivas. Nesta realidade de caréncias de infraestruturas basicas a condigbes Revista de Direito da Cidade, vol, 08, n® 1. SSN 2317-7721 pp.271-293 280 Revista de Direito da Cidade vol. 08, n® 1. ISSN 2317-7721 DOI: 10.12957/rde.2016.19540 minimas de qualidade de vida, com grande parcela da populagio vivendo em habitagdes precérias e em risco sanitério e social, dentre outros problemas que afetam o desenvolvimento sustentével da capital, condena-se o futuro sustentavel da cidade. E preciso agir. REFERENCIAS ALVES, H. P. F, Desigualdade ambiental no municipio de So Paulo: andlise da exposigo diferenciada de grupos socials a situages de risco ambiental através do uso de metodologias de geoprocessamento, Rev. bras. estud. popul. vol. 24, n. 2, p. 301-316. 2007. BARBOZA, J. V.; QUINTEIRO, W. L. D. Do plano diretor. 1? edi¢o. Maringé/RJ. Projus. 2007. BORBA, A. C. de A.; CHAVES, M.S. Meio Ambiente e planejamento: a relago cidade-natureza nos planos urbanisticos da cidade de Natal no Século XX. Okara: Geografia em Debate, v.2, n.2, p. 130 141 BRASIL, (2000). Ministério do Meio Ambiente. Construindo a agenda 21 local. 1* edicgo. Brasilia/DF. 2008. Ministério das Cidades. 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