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CHARLES DARWIN E SEUS MONSTROS MISTERIOSOS Charles Darwin descobriu alguns monstros que mudaram o mundo e, embora sonhasse com uma vida tranquila, pro- vocou mais debate do que qualquer outro cientista. Charles nasceu em Shrewsbury, Inglaterra, em 1809, Sua mie morreu quando ele tinha oito anos, e foi criado por suas irmas e por seu pai, Robert, que era um sujeito meio assustador. Robert pesava uns 150 quilos e, quando ficava bravo, berrava tao alto que se ouvia na China; mas quando nao estava bravo era muito legal. Charles e ele se davam muito bem. Uma vez Robert previu: Vocé s6 pensa em cacadas, em cachorros e em matar ratos. Vocé vai ser um desastre para vocé mesmo e toda a sua familia! Charles tinha, de fato, alguma dificuldade de aprendizado... 89 Os cientistas ¢ seus experimentos de arromba Tf Y Boletim Lscolar Medio Ty YY, i | Matematica Geografia Historia Francés Comentario geval Charles € um merino tiie @ ndo é um aluno muito catwante. O que mais Ihe Ly inberessa é catar besoures. & conch Ds 2 Um dos seus professores chegou a dizer: “Esse garoto é completamente abestalhado!”. Posso nao ser médico, mas sou barateiro Quando fez dezesseis anos, seu pai incentivou-o a tratar das pessoas do vilarejo que néo podiam pagar o médico; s6 depois é que 0 mandou estudar medicina na Universidade de Edimburgo. (Provavelmente teria sido melhor — e mais saudavel — para os pacientes de Charles se a ordem tivesse ee SEMPRE QUE ARRANCO 05 OL10S| Como Galil, ele n20. | bo PACIENTE, ELE SE ARRANCN se interessou muito pela GER medicina. Achava as aulas sem graga, a matéria uma chatice, sem falar nas ope- racées — feitas sem anes- tesia na époci tinha que assistir: ele nao gostava mesmo. — que ele Charles Darwin e seus monstros misteriosos Praticamente todo mundo na casa de Charles vivia doen- te, ¢ olha que seu pai era médico ¢ sua irma adorava usar ra contra res ja mesma inventara. Da star cheio da medicina. riado que uma mast para entender por que ele jé devia es Dai, mais uma vez como Galileu, as aulas a que cle assistia na universidade nao tinham nada a ver com a matéria que deveria estudar. Em seu caso, eram aulas de geologia. Charles nio ousou dizer ao pai que detestava medicina, ‘© que foi uma boa ideia. Melhor ainda foi a de pedir as irmas que contassem em seu lugar. Seu pai fez 0 maior es- candalo, mas disse que, se ele quisesse, podia ser pastor. (Naquela época havia poucas carreiras respeitaveis, como aquelas que envolviam medicina, Igreja, Exército, Marinha, politica ¢ direito.) Assim, aos dezenove anos, Charles foi para a Universidade de Cambridge estudar religido. Embo- ra também nao tivesse muito interesse pelo assunto, pelo menos acreditava piamente em cada palavra da Biblia. Charles divertiu-se um bocado em Cambridge, cagando, atirando ¢ fazendo amigos. Fez dois tipos de amigos: “jovens VIDA DE ESTUDANTE & 0 MAXIMO! depravados e pouco inteli- gentes”, com os quais ia beber, cantar e dar tiros; € cientistas tarimbados, com 0s quais conversava sobre ciéncia. Um dos seus me- Ihores amigos era um pro- fessor de biologia, Hens- low, que fez Charles gostar ainda mais de geologia — despachou Charles numa expedigaio geolégica no norte do Pais de Gales. Enquanto esteve por la, Charles também catou uns bichos do mar e tentou dissecd-los, mais ou menos como ol Os cientistas e seus experimentos de arromba Aristteles, no entanto muito mais desastradamente, porque dissecago nao era bem o seu forte. Quando voltou para casa, Charles encontrou uma carta animadora a sua espera. Era de Henslow, contando que precisavam de um naturalista na expedigio cientifica que partiria a bordo do Beagle. Apesar de nao ter qualificagdes cientificas, de o trabalho nao ser pago e de ser um bocado timido, Charles queria muito ir. Mas desconfiava de que seu pai nao ia concordar. E estava certo. Em todo caso, Robert ayentou uma possibilidade: “Se vocé achar um homem sen- sato que o aconselhe a ir, eu deixo”. Por sorte, Charles co- nhecia o cara certo: um dos amigos prediletos do pai. VOU FALAR COM 0 TIO JOS, Tio Jos era Josiah Wedgwood, cuja fabrica fazia a porce- Jana que hoje é muito vendida em leildes de antiguidades. Charles foi ento falar com ele, e Jos nao s6 0 incentivou a ir como o acompanhou de volta para casa, a fim de con vencer Robert. E Charles partiu, sem diploma, sem ideia clara sobre o que fazer na vida, 6 com... 92 Charles Darwin e seus monstros misteriosos +. @ Cara e a coragem No dia 27 de dezembro de 1831, o Beagle zarpou levando Charles como consultor cientifico. Mais ou menos como em Jornada nas estrelas, essa era uma longa missao a lugares desconhecidos, com ele fazendo o papel de sr. Spock. Mas: * Charles no era cientista; * enjoava 4 beca no mar; * nao sabia como estabelecer 0 contato mental dos vulca- nos (embora tivesse orelhas ligeiramente pontudas). Também tinha um nariz batatudo, que fez 0 capitio Ro- bert Fitzroy ficar na mesma hora com o pé atras em relagdo a ele. Fitzroy era fissurado por narizes e possuia, ele pro- prio, um belo exemplar. O capitio achava que vocé podia saber uma porgiio de coisas sobre uma pessoa sé pela forma do nariz, e quando viu o de Charles farejou encrenca. Apesar de tudo, a viagem foi espléndida para Charles, embora tenha enjoad it enjoado muito AGORA EA MINKA ce discutido mais ainda com VEZ DE RESPIRAR! Fitzroy — principalmente por om cd ter compartilhado com ele a mesma cabine miniscula por cineo longos anos. _ Quando chegou as ilhas de Cabo Verde, Charles ficou ma- ravilhado com a enorme variedade de animais ¢ plantas. Comecou a coletar tudo como um louco — aranhas, con- ‘has, besouros —, encantou-se até com as carnivoras formi- 8aslegionérias, os morcegos-vampiros, sem falar, claro, nas fantésticas borboletas. A Gnica coisa que nao Ihe agradou 7 ‘er sido atacado certa noite, enquanto dormia, por um ag de insetos chupadores de sangue de trés centime- ‘© comprimento. 93 Os cientistas ¢ seus experimentos de arromba OCEANO PACRCD 5 Sh ZA fn ayase ners = CABO HORW “The rene 94 4 Charles Darwin e seus monstros misteriosos Zan cocos- \=5" pw E corm mcs qbreciess \= AUSTRALIA f iv Xn Wy DA ores ye) = ESPERANCA \ 1 Os cientistas e seus experimentos de arromba Como a fotografia acabara de ser inventada, Charles ain. da nao tinha maquina; assim, em ver de fotografar, empa. Ihava os bichos e mandava-os para a Inglaterra sempre que podia. Dai eles estarem as vezes meio podres quando sey amigo, o professor Henslow, os recebia. > ee I Wa Charles era um cara resistente pra caramba: era capaz de cavalgar dex horas seguidas e caminhar quilémetros no meio da floresta. Numa dessas excursdes, encontrou o que chamou de “catacumba de monstros”. Charles também encontrou os remanescentes de um roedor do tamanho de um elefante ¢ o fossil de um animal parecido com um cavalo, Como seria impossivel nao vélos quando vivos, era claro que fazia tempo que estavam extintos. Mas Pot que teriam se extinguido? Aquilo tudo era fascinante, ¢ & dezembro de 1832 Charles decidiu que “o melhor que tent? - Bae aa ae 00 a fazer com a minha vida é dedicé-la a contribuir um pov" Para o avango das ciéncias naturais”. E era mesmo. 96 Charles Darwin e seus monstros misteriosos Em 1835, 0 Beagle chegou as ilhas Galapagos, que eram cobertas por uma arcia negra, cheiravam como algo que ti- vesse ficado no forno por tempo demais ¢ eram povoadas por tartarugas gigantes que Charles gostava de cavalgar e depois comer, (Bem antiecoldgico! Mas parece que eram deliciosas.) Charles descobriu que cada ilha tinha a sua variedade de tartarugas e de passarinhos. A forma do bico dos passari- nhos era adaptada ao tipo de alimento que havia em cada ilha: biquinhos delicados, onde havia sementes macias; bi- cos pontudos, para pegar vermes contorcionistas; fortes bi- ces, onde 0 rango eram coquinhos e frutos de casca dura. Tudo muito pratico, tudo muito curioso. Segundo as ideias da época, todas as espécies animais tinham sido cria- das por Deus no inicio dos tempos e durariam para sempre. PARA SEMPRE?) <2 Ate . Logo, Deus teria de ter projetado animais ligeiramente diferentes para cada ilha... Al, MEU DEUS, ores EE FAZER IST 10 i ° que parecia meio esquisito, 97 Os cientistas e seus experimentos de arromba A luta pela sobrevivéncia Cinco anos depois, Charles voltava para casa num Navio entupido de espécimes ¢ com a cabeca transbordando ig suposigdes. Uma ideia era clara para ele: apesar do que 4 religido dizia, as espécies se modificavam, sim, senhotes, g longo do tempo. Os fésseis que ele havia encontrado, assim como as criaturas vivas que vira, convenceram-no disso, Eles se adaptaram gradativamente ao seu ambiente, como no caso do bico dos passarinhos. Em outras palavras, evo. luiram. Mas como? Precisava dar uma boa pensada para poder responder essa pergunta. A primeira coisa que Charles fez foi alugar alguns quartos em Cambridge e arrumar os exemplares que trouxera. Quem © ajudou a fazélo foi Simms Covington, um tocador de ra- beca que viajara com ele no Beagle, e o professor Richard Owen, que conhecera num jantar da Geological Society. Charles também comegou a pér suas aventuras no papel. glaterra durante a viagem tornaram Darwin um cientista ¢” nhecido e respeitado. Resultado: fez dois novos e important®s amigos no ramo, o geélogo Charles Lyell e o botinico Jose? Hooker. Essas novas amizades seriam muito tteis depot 0 professor Owen... Espere um pouco, voce vai ver Charles ficou matutando a sua teoria da evolusa>r que um dia, “para se distrait”, leu um livro que previa ate oR Charles Darwin e seus monstros misteriosos todo mundo ia morrer de fome loguinho. Era uma teoria muito simples e interessante: / POUCA COMIDA” / , i YLT aes Charles percebeu no mesmo instante que era 0 que pre- cisava para completar sua teoria. Caderno perdido do Darwin BQWQ Vv < 7 Saguei! 1A coisa funciona assim: 1. Cada casal de bichos produx nuitos, filhos e muitissimos netos — 0 bastante para cobrir a Terra intetra em alqumas geragbes, se todos sobreviverem. Ww Os cientistas ¢ seus experimentos de arromba 2. A comida disponivel sb dé para alimentar uma mena fracio dos bichos nascidos. 3. Os bichos competirio um com 0 outro e os es morrerdo de fome. 4. Os bichos vencedores serio os mais ‘ados a explorar 0 = oe ae _ Ores talvex por serem cagadores mats inteligentes, combatentes mats fortes ou or serem capazes de exapar a inimigos ee fugindo ou ta -08. Charles chamou esse processo, pelo qual as criaturas mais fortes sobrevivem e as mais fracas morrem, de “selegao natural”. Era assim que a evolucao funcionava. Agora, cle tinha a explicagao basica para a incrivel varie dade de seres vivos na Terra, da 4gua-viva a aguia ¢ a0 car valho. Cada um era idealmente adequado ao lugar em qué vivia e as condigdes que tinha de enfrentar, ¢ esses compor tamentos e corpos vencedores surgiam ap6s muitas geragoes de conflito entre criaturas estruturadas de forma diferente © conflito fazia as criaturas com corpos inferiores more 100 Charles Darwin e seus monstros misteriosos rem. De repente, todo o mundo natural se explicava, sem precisar que Deus projetasse tudo com sua santa paciéncia. Pp a ee ae SEGREDOS DA CIENCIA Depois de Charles, a ideia da evolugao foi aplicada a todo tipo de coisa, até a programas de computador! Pois 6, em vez de bolar um programa que execute de- terminada tarefa, o programador pode simplesmente mandar o computador rodar varios programas ligeira- mente diferentes e deixa-los competir para ver quem faz melhor o trabalho. Uma paixdo légica Mas Charles nao ficava 0 tempo todo pensando em biolo- gia. Em 1837, achou que estava na hora de casar. Talvez. Como bom cientista, fez uma lista dos prés e contras: yo" BALANCO SUCINTO “““%G do casamento CONTRAS Memos tempo para estudar a ev0l Menos expedicées Mais ‘parentes para visitar Filhos Musica ¢ conversa Companhia na velhice Charles chegou a seguinte conclusao: teoricamente falan- do, ele precisava arranjar uma mulher e, em 1839, logo depois de ter sido eleito para a Royal Society, casou-se com uma prima, Emma Wedgwood. Um jeito meio esquisito de resolver o problema, mas nao é que deu certo? Tiveram um montao de filhos e viveram felizes para sempre. 101 Os cientistas e seus experimentos de arromba Charles e Emma se mudaram para uma casa em Londres tiveram uma vida social intensa. Mas por pouco tempo, No outono de 1839, Charles achou que andava se cansan- do a toa. Embora sé tivesse trinta anos, nunca mais se sen- tiu 100% desde entio. As vezes estava tao mal que passava dias sem trabalhar. Nao se sabe que doenca tinha, mas hoje tende-se a pensar que era um problema psicol6gico. Em 1842, Charles e Emma mudaram-se para a Down House, em Downe, um subirbio de Londres. Todos os ou- tros cientistas famosos tinham alguma instituigaéo em que trabalhavam e discutiam o seu trabalho — como 0 Liceu de Aristételes, a Royal Society de Newton e a Royal Institution de Faraday. Charles nao. Mas ele transformou a casa e seus jardins num centro de pesquisas pessoal. Chegou até a criat uma estufa de plantas carnivoras. Probleminhas Naquele mesmo ano, Charles escreveu um resumo da sua teoria da evolugdo, com 35 paginas, que ampliou par a) em 1844, Mas limitou-se a mostré-lo a alguns amigos ¢™° © publicou em livro. Charles Darwin e seus monstros misteriosos Havia umas poucas razGes para que Charles nao estives- se interessado em publicar: * era um cara cauteloso por natureza; * sabia que ia escandalizar as pessoas religiosas, como sua esposi © ainda havia umas questdes em aberto. © fato de que a evolugdo contradizia a Biblia nao fez Charles duvidar da sua validade (da teoria da evolugao, nio da Biblia). Alias, ele achava que nao havia nada que mos- trasse ser a Biblia verdadeira. Tem mais: ele achava 0 cris- tianismo mais besta que um vulgar besteirol. De fato, néo consigo entender como alguém pode pretender que o cristianismo seja verdadeiro. A linguagem insossa do texto parece dizer que quem nao acreditar nele, © que inclui meu pai, meu irméo e quase todos os meus melhores amigos, serd castigado por toda a eternidade, O que 6 uma doutrina odiosa. Em 1846, Charles parou um pouco de burilar a sua teoria da evolugdo para trabalhar sobre as cracas. Nao é 0 que vo- cé est pensando (nao viu o r?), mas aquela espécie de ma- tisco que gosta de grudar nas pedras e no casco dos navios. Charles tinha encontrado um tipo estranho de craca que cavava buracos para se esconder e ficou fascinado com ela. S6 oito anos depois (Charles era um cara tremendamente minucioso) voltou a teoria da evolugao, que continuava sem Publicar. Com a mania que teve a vida inteira de colecionar fudo, agora estava colecionando fatos — fatos em apoio a Sua teoria da evolugao, de modo a fazer com que as pessoas “aissem de quatro se um dia ele publicasse 0 livro. 103 Os cientistas e seus experimentos de arromba Finalmente, em 1856, ele achou que tinha coletado um mimero suficiente de fatos para convencer qualquer um de que a teoria da evolugio estava certa, € comegou a escrever um livro enorme sobre ela, que teria umas 750 mil palavras — quase vinte vezes maior do que este livro. Dois anos depois... WWENTEL ESSA TEORIA HA ANOS? Charles Darwin e seus monstros misteriosos Wallace topou e eles escreveram, mas ninguém deu mui- ta atengao ao tal artigo. Charles comegou a achar que tinha de publicar logo seu livro. Passou os treze meses seguintes botando no papel sua obra, Sobre a origem das espécies por meio da selecao natu- ral. Parecia que nao ia ter muitos leitores, por isso 0 editor imprimiu apenas 1250 exemplares — que se esgotaram no dia do lancamento. Certamente contribuiu para 0 sucesso 0 fato de Hooker e Lyell terem dado a maior forga, além de © maior zodlogo do pais, Thomas Huxley, ter escrito uma tesenha entusiasmada sobre o livro. Mas uma porgdo de gente nao gostou nem um pouco... Trombando com a Biblia Charles tomou o maior cuidado para nao dizer nada de ‘specifico sobre a evolugio do homem, mas nao era preciso *, um génio para entender que, se a teoria da evolugaio oe ae os fren humanos, como todos os outros fe os, descend de alguma criatura primitiva. A ‘aS pessoas achava que essa criatura era 0 ma- 105 Os c1 entistas ¢ seus experimentos de arromba caco, mas Charles ¢ outros cientistas nao tinham a meg E ; m: opiniéo — na moita, Charles achava que descendianes ; f . le um bicho marinho, um polvo-caramujo ou algo assim I Muitos cientistas nao concordavam em absoluto com Charles, inclusive o professor Richard Owen, seu ex-colega, que escreveu uns artigos anénimos criticando Charles e fal- sificando descaradamente o que ele dizia. As pessoas nio conseguiam admitir que suas mamies e seus papais nio passavam de uns macacos melhorados. Por seu lado, padres e pastores tiveram chiliques. Resumindo, foi 0 maior aué. ++. 8 08 fildsofos e os Esperemos que nao seja estudantes cismarem de verdade, mas, se for, explicar tudo e desacreditar | oremos para que poucos 0 que nao podem provar, fiquem sabendo. para mim é um grande mal. ps Daqui a dez Charles Darwin e seus monstros misteriosos Charles nao se limitou a liquidar a ideia de que Adio e Eva eram nossos antepassados remotos; além disso, pos em davida a versio que a Tgreja dava para a histéria da Terra, mostrando que ela devia ter milhées de anos, e nao 6 mil e alguma coisa, como decorria da Biblia. SEGREDOS DA CIENCIA Até Darwin aparecer, as pessoas achavam que a idade da Terra e do resto do Universo era de alguns milhares de anos — um tempo que ainda dava para as pessoas imaginarem. Depois de Darwin, as pessoas se torna- ram mais realistas, e logo ficou claro que a Terra era muito mais velha do que se pensava. Hoje é sabido que a Terra tem cerca de quatro bilhdes e meio de anos, € 0 Universo, uns treze bilhées. A coisa pegou fogo na célebre reuniao de 1860, em Ox- ford. Incentivado por Richard Owen, um bispo mais escorre- gadio do que sabonete (tanto que tinha o apelido de Sam Sabonete), fez um discurso avacalhando a teoria da evolugaio e terminou com a pergunta: “Ele pretende descender do ma- caco por parte de avé ou de avé?”. Charles, que vivia doente, no estava presente para se defender, mas seu amigo, 0 tam- bém cientista Thomas Huxley, estava. Primeiro, Huxley expli- cou a teoria de uma forma convincente. E por fim emendou: “Prefiro ser parente de um macaco a ser parente de um bispo”. Foi uma tirada to forte que uma senhora até desmaiou. Daquele dia em diante, 0 proprio Huxley passou a se chamar de buldogue do Darwin, tendo como missio defen- der a teoria da evolugao, Nada mais conveniente para Char- les, que nao queria saber de debates: tudo o que queria € es se que o deixassem em paz com sua familia, suas pesquisas 107 Os cientistas e seus experimentos de arromba seus escritos. Escreveu um monte de livros, a maioria uns baitas calhamagos repletos de teorias cientificas e de inte- ressantissimas observagGes que ele reunia com carinho, UM LANCAMENTO IMPERDIVEL A DESCENDENCIA DO HOMEM Por que os pavées so t8o chiques? Por que nossas orelhas séo assim? & de quem — ov de que ~ a gente descende? Todas essas perguntas € muitas outras séo respondidas em A descendéncia do homem, o dltimo livro de Charles Darwin, que continua a partir de onde sev best-seller 4 origem das especies pavou. ALCUNS COMENTARIOS “Outro maravithoso livvo de um grande cienticta.’ Thomas Huxley ‘Este livvo & ovtra tremenda || boa [.u] kitwa.” Mitte TAN Ww Z Arcebispo da Cantudvia Z \) Y, ‘Ev mesmo nao teria escrito melhor.” \ Mi, Alfred Russel Wallace aw A descendéncia do homem explicava que o homem desce™™ dia de um ancestral nao humano e que aquelas coisinhas pontudas que a gente tem na orelha eram vestigios de uma orelha pontiaguda. E acres mento a0 centava mais um ele! teoria da evolugao, imais pre explicar que os ani tanto cisam se acasalat, . m comet, & mas quanto necesita que é por isso que alg 108 Charles Darwin e seus monstros misteriosos das suas caracteristicas evoluem, para torné-los mais atraen- tes — apesar de essas caracteristicas também atrapalharem um bocado na hora de ir cagar 0 almogo. Uma experiéncia chocante Charles era muito amigo de Michael Faraday, cujo gerador eléirico utilizava para dar choque nas pessoas, s6 para ver com que cara ficavam. Em prol da ciéncia, claro. Falando sério: isso fazia parte das pesquisas para seu livro A expres so das emogées no homem e nos animais. Seu cachorro, Bob, ajudou muito. Charles desenhou Bob quando ele es- tava com fome, com raiva, feliz etcétera. AGORA PARECE CHATEADO) TA NA CARA, NEP E UM POUCO IRRITADO. I ( i IT ! 0 MP me ‘; > ~ Shs {l | > > a La Se /ocing So a Charles descobriu muito mais coisas também — por ¢xemplo: como as plantas se movem e o tamanho do menor Pedacinho de carne que uma planta carnivora é capaz de detectar (um milionésimo de grama). 109 Os cientistas e seus experimentos de arromba Minhocas de estimagaio O ultimo livro do Charles foi todo dedicado as minhocas, Ele adorava minhocas! Costumava dar de presente a elas lindas pedronas para se escon- derem embaixo, Saia de noite | SNE QUE ELE AKO QUERA para ver 0 que as minhocas fazem a essas horas, punha minhocas no piano e tocava violoncelo para elas, chegou até a ir a Stonehenge (0 céle- bre monumento pré-hist6rico que fica na Inglaterra e é feito de enormes blocos de pedra), 86 para ver 0 que elas fizeram nos iiltimos 4 mil anos. Calculou que a populacao de minhocas de onde morava produzia umas 45 toneladas de terra por hectare a cada ano. O estudo que ele fez das minhocas comprovou o ponto geral da evolugo, de que pequenas modificagdes podem causar efeitos gigantescos, com o correr do tempo (muito tempo). Numa coisa Charles era igual a Newton e Galileu: usava a matematica para verificar suas teorias. Quando as pessoas disseram que as minhocas eram inferiores demais para fazet todas as coisas interessantes que Charles afirmava, ele fez uns calculos para provar que nao eram, nao. Infelizmente, como Faraday, ele era meio ruim em matematica e cometet alguns erros basicos nos livros que tanto tempo dedicat para escrever, mas, também como Faraday, tinha plen@ consciéncia da importancia, em ciéncia, de testar as teotias € fazer previsdes, Charles viveu feliz na Down House, com a familia, Bob ¢ suas minhocas, por muitos anos mais, até que em 1882, mosérrimo de morrer, faleceu de um ataque cardiaco. Era 1° famoso que foi enterrado ao lado de Isaac Newton na abacl® 110 Charles Darwin e seus monstros misteriosos . Charles havia mudado a maneira como as de Westminst pessoas consideravam o Universo, tanto quanto Isaac o fizera. De Charles em diante, ficou claro que o mundo natural nao era um mundo imutavel, criado de repente e de uma vez por todas alguns milhares de anos atras, mas um mundo em cons- tante — embora lenta — modificagio ao longo do tempo. (CHARLES DARWIN) ly ESTA FOLSUAVIDA “ZG Revolucionou: a biologia “TIN PRINCIPAL DESCOBERTA: © a teoria da evolugao pela selecao natural INTERESSE NAO CIENTIFICO: 4 ler romances (mas s6 0s que acabam bem) 7 eeevublts Havia, no entanto, uma grande lacuna na teoria da evo- lugdo, como Charles sabia muito bem. Na Origem das es- pécies, ele afirma: “Ninguém pode dizer por que a mesma peculiaridade em individuos diferentes (...) as vezes € her- dada, as vezes nao; por que o filho muitas vezes repete certas caracteristicas do avé6...”. P~ 11

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