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Pesquisa de Jurisprudência: Processo XXXXX20124030000 • Tribunal Regional

Federal 9ª Região

Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de Nunzio Alfredo D Angieri


em face da 5° Vara Criminal da Capital de São Paulo. Na demanda, o paciente foi
acusado de porte ilegal de armas, falsificação de documento público, sonegação
fiscal, uso de documento falso e crimes de evasão de divisa. Contudo, postulou a
arquivação do processo, alegando que os atos supostamente praticados ocorreram
no período em que ele desempenhava a função de Embaixador de Belize no Brasil,
gozando, portanto, de imunidade de jurisdição penal absoluta. Assim, argumentou
que não há justa causa para o prosseguimento das investigações, visto que sua
pessoa é inviolável.
Diplomatas são os representantes do Estado acreditante responsáveis por
proteger os interesses de seu país de origem, promover relações amistosas,
econômicas e culturais junto ao Estado acreditado. Nesse panorama, os membros
da missão - embaixador e diplomatas - são beneficiados pela imunidade estatal por
força dos cargos que exercem. Assim, o Estado acreditado não pode exercer sua
jurisdição sobre agentes diplomáticos em capacidade oficial.
A imunidade diplomática é um princípio, previsto na Convenção de Viena
sobre Relações Diplomáticas de 1961, que objetiva proteger os atos praticados por
um diplomata durante o exercício de suas funções. Dessa forma, é possível garantir
eficaz desempenho de suas atribuições, respeitando, ainda, a soberania do Estado
acreditante.
É válido abordar que a imunidade divide-se em ratione materiae e ratione
personae. A primeira visa proteger os atos desempenhados durante o exercício das
funções oficiais, uma vez que são atos do próprio Estado acreditante. Já a segunda
objetiva resguardar os atos particulares ou de caráter oficial realizados durante ou
antes do exercício do cargo.
No caso acima exposto, a ordem de habeas corpus foi concedida. Ao
fundamentar sua decisão, o desembargador alegou que o paciente é detentor de
imunidade penal absoluta por força do artigo 29, 31 e 38 da CVDR, promulgada no
Brasil pelo Decreto nº 56.435, de 8 de junho de 1965. Nesse sentido, mesmo que o
ex-embaixador não desempenhe funções oficiais atualmente, a imunidade penal
absoluta à atos praticados durante a missão diplomática não prescreve em razão do
decurso do tempo, nem se extingue quando deixa-se o cargo. Segundo a Ministra
Ellen Gracie: "O diplomata estrangeiro ou tem imunidade no Brasil, e então nenhum
juiz brasileiro pode julgar crime que se atribua a tal diplomata, ou não a tem, e então
o foro, no Brasil, é o comum”.
Nessa conjuntura, o agente deverá responder em seu país de origem, sendo
submetido às lei penais e processuais de Belize, não às normas brasileiras. Vale
ressaltar que o crime só será punido se também estiver tipificado no Estado
acreditante, caso contrário, ele não poderá ser responsabilizado com base na
jurisdição do país acreditado.
Assim, o procedimento investigativo deve ser trancado em razão da
imunidade penal absoluta, que revela-se contraproducente ao enfrentamento da
referida matéria.

REFERÊNCIAS
https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/trf-3/888490881/inteiro-teor-88849089
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/antigos/d56435.htm

https://www.gov.br/mre/pt-br/assuntos/cerimonial/privilegios-e-imunidades/privilegios
-e-imunidades-de-missoes-diplomaticas

https://www.jusbrasil.com.br/artigos/a-imunidade-dos-governantes-frente-aos-tribuna
is-internacionais/1207582792

Comentários à Constituição de 1967, RT, 2ª edição, p. 23

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