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Transformacao e utilizagao de energia 1. Obtencdo de energia ‘Todos os seres vivos necessitam de energia para a realizagio das atlvdades necessérias 8 sua sobrevivéncia, Séo os compostos organicos, nomeadamente os energéticos, como a glicose, sintotizados pelos produtores durante os processos autotrficos, que constituem as moléculas 1 partir das quals esta energia é mobilizada. Os compostos organicos energéticas, velculados pelos alimentos através das cadelas alimentares, vo sendo degradados de modo a ocorrer a libertagao da energia de que os seres vivos necessitam. Uma parte desta energia perde-se sob 2 forma de calor @ outra parte é tomporariamente armazenada numa molécula designada ATP {adenosina trfosfato) (Fs. ) , posteriormente, € utlizada pela céiula nos diferentes tipos de. trabalho que realiza, como o de sintese de novas moléculas, 0 trabalho mecénico @ o de manu- tengo da concentracio do seu meio interno. ssn stare Festco Coin Adenine testare © conjunto das reagdes que ocorrem na célula € designado metabolisme celular. As reacoes ‘em que se liberta energia, e uma parte dela ¢ usada na sintese de ATP, sio as reagées cata- bélicas, cujo conjunto constitul o cataboltsmo; as que implicam consumo de energia, ou ATP, designam-se reacées anabéllcas, que no conjunto constituem o anabolismo. As primeiras 80 Teacdes exoenergéticas, uma vez que 05 produtos da reagio sao mais pobres em energia do que os substratos que os originaram (Fic. 28); as segundas so reacdes endoenergéticas, pois, 08 produtos da reago obtidos sdo energeticamante mals ricos (Fg. 28). Procite Desuren er eapS Baie Decursedaveagio Figura 2 — Reacbes exoonerasticas () o endoonergétcas (8) ‘As vias catabéllcas realizam-se de forma que a libertacdo de energia seja gradual, uma vez que se ocorresse repentinamente provoceria um aumento da temperatura que seria incompativel com a vida. |Nas vias catabéiicas ocorrem, por exemplo, reacbes de descarborllagéo, em que uma determ= ‘nada molécula perce CO,, ¢ reagdes de oxidagdo-teduéo, em que intervém moléculas como 0 NAD: (nicotnamida adenina dinuclestido) eo FAD (favina adenina dinuclestido) Estas motéculas reduzem-se ao receberem eletrdes de um substrato que fica oxidado. Por sua vez, nesta forma reduzida, cedem os eletrdes, fcando de novo oxidadas e 2 molécula que os recebe fica reduida. ‘Muitas dostas reagoes sao hidrogenacées/desldrogenacées em quo as moléculas recebem/ petdem elettOes e protdes e, em certa medida & como se tal equivalesse a hidrogénio (ot SH ou 26+2H Hy (09). XS Figure 3 Rosco co xiao (sions) oacko do reduce (hrogenacso) 2). 0s eletrdes transportados pelas moléculas de NADH e FADH, vo ser sucessivamente cedidos de molécula em molécula, até que séo recebidos por uma que jé no os cede a nenhuma outa, ficando assim reduzida — aceltador final de eletrées: «= Se esta molécula 6 0 oxigénio, 0 processo designa-se resplracao aerébla, «= Se esta molécula nao for 0 oxigénio, mas sim outras moléculas inorgdnicas, como nitratos, © processo designa-se resplragéo anaerébla, «Se esta molécula for uma molécula organica resultante do substrato original, a via catabdlica, 6 designada fermentacao. Algumas células, como as nossas células musculares, e alguns seres vivos, como as leveduras, utllizam como processo para a obtencdo de energia a respiraco celular quando tém oxigénio disponivel em quantidade suficiente; caso tal néo aconteca, usam a via da fermentac2o. S40, por este facto, designados anaerdblos facultatives. Glicdtise Fermentacdo ‘A fermentago @ um processo que ocorre no hialoplasma e pode ser realizado por seres vi- vyos como as bactérias @ as leveduras, assim ‘como, em determinadas circunstancias, pelas Ccélulas musculares. Compreende duas otapas: allcélise © reduco do deldo piruvico, Giicéise: para se iniciar esta via catabélica, que ‘ecorre no hialoplasma, € necessério ativar a ‘motécuta de glicese, pois esta € quimicamente inerte, gastando-se, para tal, duas moléculas de ATP. Formam-se duas moléculas de dcido plea Vico (0u piruvato}, das mo'éculas de NADH & ‘quatro moléculas de ATP (4). sc gets a oO sg. es pio e es 8 Fura 4 Gieotse Reducio do acide plruvico: de reducdo do dcido pirivico realizada pelas moléculas de NADH produzidas na glicélise podem resulta diferentes produtos, existindo assim diferentes tipos de fermentagdo, das quals se destacam: «+ Fermentagao aleoéilea — realizada por leveduras, origina dIcool etlco (ou etanol) ¢ diéxido de ccarbono (Fis. 5). «= Farmentacao latica — realizada por bactérias laticas, origina dcido latico. As células musculares, ‘em condigées de balxo teor de oxigénio no melo, também realizam este tipo de fermentacao (9.58). *® Fermentacao s Fermentacao a latica Glcose 2a0peag | 280 2M ‘2M + 2Piewate | > ND" hei itico Figure S— Fermentaséo alcodica (A) e fermentagéo ltia (8) ‘Como a oxidacdo da glicose é incompleta ou parcial, obtém-se apenas duas moléculas de ATP na glicdlise, o que corresponde a cerca de 2% da energia contida na molécula de glicose, pelo que os produtos desta via catabdlica possuem, ainda, ligagoes muito ricas em energia. ida ee ery Fermentacao alcoslica 2aTP aarp 2aTP Fermentacdo latica 2ATP 4arP 2 ATP As vias de fermentacio realizadas pelos microrganismos, como as leveduras e as bactérias, estéo na base da produgio, transformagao e conservacao de produtos utllizados na nossa die- ta, como € © caso, por um lado, do pao, da cerveja e do vinho, que resultam de fermentagso alcodlica realizada por leveduras, e, por outro lado, dos iogurtes e dos queljos, produzidos por fermentagao latica realizada por bactérias Iaticas. Respiracdo aerébia A respiragdo aer6bla € uma via catabélicarealizada matoritarlamente por seres eucariontes aero bios e ocorre quando existe oxigénio disponivel no meio. Compreende quatro etapas: glicélise, ‘comum a fermentagao; formagéo de acetil coenzima A (acetil CoA); ciclo de Krebs ou ciclo do Acido citrico; cadela transportadora de eletrées, também designada cadela respiratorla, com: {osforilacio oxidativa. ‘As trés citimas etapas, exclusivas da respiracéo, ocorrem dentro de um organelo — a mitocéndtla (Fis.6).A mitocéndria é imitada por duas membranas: uma externa, lisa e permedvel, outra interna, pregueada, formando invaginacées designadas cristas mitocondrials, sendo impermadvel & maior parte dos solutos. © interior deste organelo esta ocupado por uma matriz mitecondtlal de compo- ‘sicdo quimica variada. DNA. rmitocondrial Membrana—Matrie tena cond Ribossomas| Cristas mitocondriais Espaco intermembranar Membrana PS externa Figura 6 ~ Representagéo esquemética de uma mitocéndria, Etapas da respiragéo aerébia Glicélise: tal como na fermenta¢ao, esta etapa ocorre no citoplasma das células procaridticas e eucaroticas Produzem-se duas moléculas de NADH, obtém-e duas moléculas de ATP e duas de dcido pirivico. Glicose + 2 NAD'+2 ATP + 2P, +2 Acido pinivico +2 NADH +2 ATP Formacao de acettl CoA: se oxistir oxigénio disponivel, as moléculas do dcido piruivico entram na mitocéndria e af continua esta via catabéiica. Nesta etapa, que ocorre na matriz mitocondtrial, cada molécula de Acido pinivico val ser oxidada e descarboxllada, formando um grupo acetil que se liga molécula de coenzima A (CoA). 2 Acido pinuvico + 2 NAD’ + 2. CoA -» 2 Acetll CoA + 2 NADH + 2H" +2.CO, Ciclo de Krebs ou ciclo do acide citrica: conjunto de reagées que ocorre na matriz da mitocéndtria (9.7). Como na etapa anterior sdo produzidas duas moléculas de acetil CoA, por cada molécula, de glicose que inicia a Vie catabélica ocorrem dois ciclos de Krebs formam-se quatro moléculas de CO,, sels moléculas de NADH, sels H’, duas moléculas de FADH, e duas moléculas de ATP. cet CO Cos wos. ‘NADY NAD voor 40 _ ao ~ nao oH FAD A abp Figura 7 — Ciclo de Krebs. Cadela transportadora de eletrées (ou cadeia respiratéria): esta uitima etapa ocorre nas cists Imitocondtiais. € caracterizada pelo facto de a producdo de ATP estar associada a reagdes de ‘oxidacao-reducao - fosforllacio oxidativa, ‘As moléculas de NADH e de FADH,, produzidas durante a via catabdlica, vo ceder os dots ele- ‘res que transportam a uma das moléculas da cadeia respiratéria existente na membrana das ctistas mitocondriais, que apresonta um potencial de reducdo mais elevado, ou seja, que tem mmalor afinidade para as eletrBes, Estes serdo, par sua vez, cedidos por esta molécula a outra ‘com alinda malor afinidade para os eletrdes, e assim sucessivamente até ao aceltador final de eletrées — 0 oxigénio -, que & a molécula da cadeia transportadora de potencial de reducdo mais olovado. Depois de se ligar a dois protées, forma-se uma molécula de agua (Fs. 8). Durante o transporte de eletrdes, 0 potencial de reduc val sendo dissipado 8 medida que os ‘oletrdes fuem através das proteinas transportadoras da cadola respiratéria, Dsta forma 6 liber- tada energia, que 6 acoplada ao transporte de protées para o espaco intermembranar, contra © {gradiente de concentraclo, o que gera assim um gradiente de protées, que é depois dissipado através da ATP sintetase - a enzima que permite a sintase de ATP por fasforiiagio de ADP. space imtermembranae ‘iletl~ Campoes a ead respaia Figure 8 Cadeavanspertador de Ses na mica Sea molécula que cede os eletrdes a cadeia respirat6ria for o NADH, produzem-se trés molécu- las de ATP, porque os eletrées so cedidos a0 primeiro aceitador: se for o FADH,, produzem-se unicamente dois ATP, jd que os eletrSes transportados por esta molécula sdo cedidos apenas a0 segundo aceitador da cadeia respiratéria. Relativamente ao balanco energético relacionado com a cadela transportadora, a literatura nfo 6 consensual. No entanto, muitos bloquimicos consideram que nesta etapa se produzem trinta e duas moléculas de ATP, uma vez que as duas moléculas de NADH formadas na glicélise, no cito- plasma, ndo entram na mitocéndria, pois a membrana interna deste organito é impermedvel aestas ‘moléculas. Assim, estas cedem os dois eletrGes que transportam a moléculas de FAD existentes na ‘matriz mitocondrlal, que, por sua vez, os codem ao segundo aceltador da cadela transportadora. Por aste facto, por cada um dos NADH formado na glicélise, produzem-se apenas dois ATP. Considerando as quatro etapas da respiracdo aerobla, por cada molécula de glicose oxidada formam-se trinta e sels moléculas de ATP e o balanco energético é de cerca de 40% de apro- ‘veitamento da energia contida na molécula de glicose (Fis. 9). A oxidaco da glicose é completa, sendo os produtos da reacio portadores de ligagdes muito pobres em energia. Cadeia respiratéria Zz a Figura 9 — Balanco energético da respiragio aerébia. Fermentacdo versus respiracGo Fazendo uma analise comparativa da fermentacao com a resplracdo € possivel constatar que ‘existem algumas semelhancas: «= 880 vias catabélicas de degradacao da glicose: +» 08 dols processos metabélicos constituem vias catabélicas (de produco de energia) que tem ‘em comum a etapa da glicélise: «+ ocorrem reacdes de oxidacio-redugio com formagéio de moléculas transportadoras, como ‘NADH. As diferencas encontram-se esquematizadas no quadro seguinte. rn) +03 produtos finals s80 compostos de elevada ‘energia potencial (etanol ou cio ltico, +O rendimento energstico é de 2 ATP. +O NADH formado durante a glicslse 6 utllzado na etapa seguinte, sem, no entanto, ocorrer produgao de energia, + NBo 6 utiizado oxigénio, + As descarbonilacdes somente ocorrem na fetmentacao alcosiica. +0 écido pintvico € reduzido. + Os produtos finals so compostos de pouca ‘energia potencial (H,0 e CO,) +O rendimento energético pode chegar 336 ATP. SO NADH € 0 FADH, formados durante as -vérias etapas deste processo so utilzados na ultima ctapa (cadela respiratoria) para a produgao de grandes quantidades de energie. +E utilzado oxigénio, que funciona como ‘aceitador final de eletrBes. + As descarboxllacBes ocorrem em duas etapas = ne formagio de acetll CoA eno ciclo de Krebs. +0 dckdo pintvico ¢ oxidedo.

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