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Grupos focais: 7 conceitos, procedimentos e reflexées baseadas em experiéncias com o uso da técnica em pesquisas de sauide HLeny A. Bomfim Trad 1 Resumo: Nas duas dltimas décadas, constata-se um incremento significaivo da utilizagio de grupos focais como instrumento de coleta de dados em pesquisas no campo da Satide Coletiva no Brasil, Seja ocupando a fungéo de eéenica principal, ou como estratégia complementar de tipo qualitatva, sua adosio atende invariavelmente 20 objetivo de apreender percepgées, opinises ¢ sentimentos frente @ um tema determinado num ambiente de interagio. A regularidade quanto 3 finalidade no emprego do grupo focal contrasta com a variagio observada no tocante 20s requisites « procedimentos priticos referidos. Este artigo apresenta conceitos, finalidades procedimentos relatives &téenica de ‘grupos focais e problematiza sua operacionalizagio prética na pesquisa, particularmente no campo da sade. Com base neste abjetivo, o trabalho integra uma revisio da literacura sobre grupo focal com uma reflexio derivada de experiéncias de utilizagio da técnica em estudos de avaliagio em sade, conduzidos ou orientados pela autora. > Palawas-chave: orupos focas;conceitos; proced mentos metadolagios, porenciaidades, avalagio qualtatva, UnveateLamar o 2 eso 03208 Introdugao De origem anglo-saxénica, a técnica de grupo focal (GF) foi intraduzida no final dadécada de 1940, Desde entao, tem sida utilizada como metodologia de pesquisas sociais, principalmente aquelas que trabalham com avaliagéo de programas, marketing, regulamentagio publica, propaganda e comunicagao (STEWART; SHAMDASANI, 1990). © custo relativamente baixo associado a seu emprego ¢ possibilidade de obtengao de dados vilidos e confidveis em um tempo abreviado contribuiram para a incorporacio maciga da técnica de grupos focais nas pesquisas “TON, 1990; SILVA; TRAD, 2005) Diferentes autores chamam atengo para o incremento na utilizagio dos grupos de marketing (PA focais nos tilkimos anos. Para Flick (2004), a técnica de GF experimenta uma espécie de renascimento. No campo das ciéncias sociais, sua penetragio se inicia pelo campo da politica, mas se espraia progressivamente pelos diversos segmentos dda pesquisa social (CRUZ NETO; MOREIRA; SUCENA, 2002). Na drea de satide, 0 grupo focal tem sido mais consistentemente usado a partir da segunda metade dos anos 80 (CARLINI-COTRIM, 1996; VEIGA; GONDIM, 2001). Com base na consulta realizada no MEDLINE, Carlini-Cotrim (1996) destaca o fato de que, até 1984, praticamente nao existiam estudos publicados em Satide Publica que utilizassem grupo focal. Em compensacio, para o perfodo 1990- 1994, aautora evidencia um aumento expressivo de pesquisas utilizando 0 método, com média de dois trabalhos publicados por més. Os Estados Unidos lideram 0 ranking, com 0 maior mimero de publicagées, 57% da produgio total (75/153) localizada no MEDLINE. O Brasil até entdo era representado em apenas duas publicagées, ambas realizadas em colaboracio com investigadores norte-americanos. Analisando especificamente a produgio cientifica na area de enfermagem, Godoy ¢ Munari (2006) constataram que as técnicas de grupo, com certo destaque para os grupos focais, cém sido exploradas em larga escala pelos pesquisadores em coleta de dados. Os autores identificaram um total de 52 artigos (34,4% do montante analisado) que referiram usar técnicas de grupo. A atual popularidade do grupo focal na Saiide Publica reflete a salutar disposiga0 de combinar métodos e perspectivas de vérias disciplinas para a compreensio de fendmenos que, de modo cada ver mais claro, nao conseguem ser abarcados € enfrentados dentro dos limites territoriais artificialmente construfdos entre as virias reas de saber (CARLINI-COTRIM, 1996) Py Revi de Sede Catv, io de Joi, 19:3} 77-796, 2008 A tilizagio dos grupos focais, de forma isolada ou combinada com outras téenicas de coleta de dados primérios, revela-se specialmente itil na pesquisa avaliativa. Vale lembrar que nos estudos de avaliagao de implantagio de programas « estratégias de satide, que costumam subsidiar a tomada de decisio, so mais valorizadas as metodologias de inspiragéo construtivista, posto que, nestes casos, & necessitio apreender a complexidade do objeto e seu cariter dinimico (NOVAES 2000). Este tipo de abordagem, sicuada na quarta geracio de avaliagSo, enfatiza a necessidade de considerar a visio de diferentes sujeitos e contextos sociais sobre os quais incidem 0 fendmeno a ser avaliado (TANAKA; MELO, 2004). No caso especifico da pesquisa de avaliagdo de satisfagao de usustio, a utilizagao de grupos focais € referida como uma estratégia para superar limites associados A mensuragio do nivel de satisfagio deste com o servigo prestado, sem um esforso de INARA et al., 1995; TRAD et al, 2002). Este artigo apresenta conceitas, finalidades e procedimentos relativos 8 técnica de grupos focais € problematiza sua operacionalizagao prética na pesquisa, particularmente no campo da satide. Com base neste objetivo, o trabalho integea contextualizagio cultural (GAC uma revisio da literatura sobre GF com uma reflexao sobre os desafios inerentes & sua insergéo em pesquisas em satide, tendo como referéncia experiéncias com a utilizago da técnica em estudos conduzidos ou orientados pela autora. No processo de revisio, que nfo teve a pretensio de ser exaustiva, foram considerados trés critérios principais: i) livros especializados em metodologia qualitativa que apresentavam de modo destacado a técnica de grupo focal; ii) trabalhos localizados na base SciELO a partir dos descritores grupo(s) focal(ais), grapo(s) focal(ais)¢ sande; it) autoresttrabalhos citados pela maioria dos autores consultados nas duas categorias anteriores, reconhecidos como referéncia na tema ~ & caso de Merton, Fiske e Kendall (1990) e Morgan (1992, 1997, 1998) Os relatos da experiéncia prética com grupo focal, inseridos ao longo do texto, remetem a pesquisas de avaliagio do Programa de Satide da Familia em cstados do Nordeste (Bahia, Sergipe e Ceard) realizados na tiltima década. Podem ser destacados como objetivos dos estudos coordenados pela autora, e nos quais ela atuou como moderadora em virios dos grupos focais realizados, os seguintes aspectos: a anélise de implantacio do programa em um dado contexto territorial (COPQUE; TRAD, 2005); a avaliagio da satisfacao de usuérios do PSE (TRAD et al., 2002) ou a an do proceso de interagao entre equipes e comunidade, Phys Reve de Satie Coli, Rode anc, 93} 777-796, 2008 779 pe fet considerando, entre outros aspectos, a coeréncia com os prineipios da humanizagio em satide (TRAD, 2006). Nos trés trabalhos citados, foram realizados grupos focais em separado com profissionais ¢ usuérios do PSF, ea técnica foi utilizada em associagio com entrevistas estruturadas. Sio referidos ainda estudos orientados pela autora e nos quais ea assessorou os autores no proceso de condugio do grupo focal. Insere-se nesta categoria um. ; TRAD, 2005) ¢ a trajetéria profissional e experiéncia no PSF de médicos inseridos no programa (ROCHA; TRAD, 2005). Em ambos os estudos, os GF contemplaram apenas os profissionais do PSE, nfo contemplando, portanto, usuttios. estudo de caso sobre o processo de trabalho de uma equipe do PSF (SILVA Informagées adicionais sobre os estudos destacados acima serio comentados, oportunamente, & medida que estes sejam referidos no artigo. Grupo focal: definigées ¢ finalidades Morgan (1997) define grupos focais como uma técnica de pesquisa qualitativa, derivada das entrevistas grupais, que coleta informag&es por meio das inceragées ‘grupais. Para Kitzinger (2000), 0 grupo focal ¢ uma forma de entrevistas com ‘grupos, baseada na comunicagio e na interagio. Seu principal objetivo € reunir informagées detalhadas sobre um t6pico especifico (sugerido por um pesquisador, coordenador ou moderador do grupo) a partir de um grupo de participantes selecionados. Ele busca colher informagées que possam proporcionar a compreensio de percepgées, crengas, atitudes sobre um tema, produto ou servicos. O GF difere da entrevista individual por basear-se na interagao entre as pessoas para obter os dados necessdrios & pesquisa. Sua formacio obedece a critérios previamente determinados pelo pesquisador, de acordo com os objetivos da investigacdo, cabendo a este a criacio de um ambiente favordvel & discussio, que propicie aos participantes manifestar suas percepgBes e pontos de vista (PATTON, 1990; MINAYO, 2000). Gaskell (2002, p. 79) considera que os grupos focais propiciam um debate aberto acessivel em torno de um tema de interesse comum aos participantes. Um debate que se fundamenta numa discussio racional na qual as diferengas de status entre os participantes nfo sio levadas em consideragio. Nestes termos, ele define os grupos focais como uma “csfera piiblica ideal”, tendo como referéncia o conceito de esfera publica de Habermas. Esse autor identifica ao menos és tradigbes associados & Py Revi de Sede Catv, io de Joi, 19:3} 77-796, 2008 utilizagio de grupos focais como técnica de entrevista, sendo eles: a tradigao da terapia de grupo (Tavistock Institute); aavaliagao da eficcia da comunicagio (Merton; Kendall); a tradigao da dinamica de grupo em psicologia social (Lewin). O grupo focal ocupa uma posicao intermediria entre a observacio participante eas entrevistas em profundidade (GONDIM, 2002). De acordo com Flick (2002, p. 128), os grupos focais podem ser vistos também como um ‘protétipo da entrevista semiestruturada” ¢ os resultados obtidos por meio desse tipo de entrevista, Os grupos focais so preferencialmente adotados em pesquisas explorativas ou avaliativas - podendo ser a principal fonte de dados - ou como uma técnica complementar em pesquisas quantitativas (MERTON; FISK; KENDALL, 1990) ‘ou qualitativas associada &s técnicas de entrevistas em profundidade e de observacio participante (MORGAN, 1997). Sio identificados, contudo, outros propésitos de caréter mais especifico na utilizacio dos grupos focais na pesquisa, tais como: focalizar ‘a pesquisa ¢ formular questdes mais precisas de investigacao; subsidiar a claboracao de instrumentos de pesquisa experimental € quanttativa; orientar 0 pesquisador para um campo de investigagio e para linguagem local; avaliar um servigo ou programas desenvolver hipéteses de pesquisa para estudos complementares (MORGAN, 19975 MINAYO, 2000; VEIGA; GONDIM, 2001; GASKELL; BAUER, 2002). Sobre caracteristicas ¢ procedimentos dos grupos focais Considerando as miltiplas finalidades dos grupos focais descritas acima, pode-se dizer que um dos passos mais importantes ao se planejar um grupo focal é estabelecer © propésito da sessio (BARBOUR; KITZINGER, 1999). Contudo, 0 planejamento dessa atividade deve considerar um conjunto de clementos que garantam seu pleno desenvolvimento, a saber: recursos necessirios, com destaque especial para os moderadores do grupo: definigio do niimero de participantes e de grupos a serem realizados: perfil dos participantes; processo de selego e tempo de duragio, Discutiremos a seguir cada um destes elementos, considerando preserigées e situagées concretas referidas pela literatura. O tépico referente aos moderadores cacondugio do grupo serd analisado em separado, tendo em vista sua importincia, Recursos Para realizacio dos grupos, devem ser reservados espacos apropriados, de preferéncia em cerritério neuro e de facil acesso aos participantes. O ideal é uma sala que Phys Reve de Satie Coli, Rode anc, 93} 777-796, 2008 781 pe fet abrigue confortavelmente o niimero previsto de participantes e moderadores e que esteja protegida de rufdos ¢ interrupgées externas. Os participantes podem ser discribuidos em torno de uma mesa retangular ou oval, ou dispostos em cadeiras arrumadas em forma circular. E recomendavel também disponibilizar égua, café e um lanche ligeiro para os participantes, Como apontam alguns autores, espagos privados ¢ comunitérios sio comumente acionados para realizagio do grupo focal -residéncias, escrit6rios, salées de igreja, sedes de associagdes de bairro, salas de aula, Nos estudos que conduzimos, em que foram adotados os grupos focais, os locais escolhidos para sua realizacéo exam, via de regra, centros comunitérios ou religiosos disponiveis na rea, espagos habitualmente utilizados na realizagio de palestras e de outras atividades extramuros das equipes do PSF. Em algumas situacées, os grupos foram realizados nas dependéncias da Unidade de Satide da Familia, em salas destinadas & realizacao de grupos e outras atividades coletivas, Neste segundo caso, vez por outta, os participantes - tanto em grupos com profissionais do PSE, como nos de usuarios - ppareciam mais inibidos para emitir sua opinigo sobre o programa. Este dado reforga a necessidade de garantir locais neutros para a realizagao dos grupos. Quanto aos equipamentos requeridos, © uso de gravadores (minimo dois) & considerado imprescindivel. Para potencializar a qualidade do dudio na fase de transcrigdo, a presenga de microfones revela-se especialmente vtil. Cimaras, microfones ¢ notebooks podem ser considerados recursos adicionais, cujo uso dependerd da utilizacdo pretendida de som ¢ imagem pelos pesquisadores. Vale ressaltar que a utilizagéo de qualquer um destes recursos estar condicionada & expressa permissio dos participantes dos grupos. Este ¢ outros aspectos, que serio discutidos mais adiante, integram os requisites éticos no manuseio do GE Numero de participantes, quantidade de grupos e duragao Com relagdo ao miimero de participantes nos grupos focais, encontramos na lixeratura uma variagio entre seis a 15. © tamanho étimo para um grupo focal é aquele que permita a participacio efetiva dos participantes ea discussio adequada dos temas (PIZZOL, 2004). Em nossa experiéncia, temos encontrado uma média de dex participantes por grupo. Em apenas uma situago em que foram contabilizados 16 participantes no grupo focal, foi especialmente dificil a condugao das discussdes. Comprovou-se, na ocasiéo, a dificuldade de garantira participagso Py Revi de Sede Catv, io de Joi, 19:3} 77-796, 2008 de todos os presentes, bem como mantero foco das discussdes em torno das questoes centrais pretendidas. Avaliou-se, posteriormente, quea conduta adequada era dividir 1s participantes, realizando dois grupos de oito. Sobre a situagio relatada, vale esclarecer que o ntimero de pessoas convidadas havia sido superior ao limite desejado. Esta estratégia foi adotada porque, em cexperiéncias anteriores, alguns convidados, embora confirmassem presenca na ocasifo do convite, néo compareciam no momento da realizagio do grupo. A auséncia de garantia da presenga dos participantes em data e horario combinados para o grupo 6, sem diivida, um aspecto a ser considerado no planejamento da atividade. © nuimero de participantes no grupo focal incidirs, sem diivida, na sua duragio. A complexidade do tema ou 0 grau de polémica em torno das questées que se apresentam sio outros fatores que podem interferir neste ponto. Contudo, uma variagdo entre 90 (tempo minimo) € 110 minutos (tempo méximo) deve ser considerada para um bom emprego da técnica. E preciso determinar também ntimero total de grupos necessérios para explorar a tematica em questo. Além de considerar a complexidade do tema abordado, o critério de saturagio, comumente utilizado em estudos qualitativos, também é aplicdvel neste caso. Ou seja, os grupos se esgotam quando nio apresentam novidades em termos de contetido e arguments, os depoimentos tornam-se repetitivos € previsiveis; ou seja, acredita-se que a estrutura de significados tenha sido apreendida (VEIGA; GONDIM, 2001). Perfil dos participantes Os participantes de um grupo focal devem apresentar certas caracteristicas em comum que estio associadas & temitica central em estudo. © grupo deve sex, portanto, homogeneo em termos de caracteristicas que interfiram radicalmente na percepcio do assunto em foco. Barbour ¢ Kitzinger (1999) recomendam que os participantes sejam selecionados dentro de um grupo de individuos que convivam com o assunto a ser discutido e que tenham profundo conhecimento dos fatores {que afecam os dados mais pertinentes. Para fins mercadolégicos ou de coleta de opinides sobre um determinado assunto, diferengas econdmicas e sociais, o nivel de formagio ea faixa exéria dos entrevistados 1ndo so relevantes para aandlise (GASKELL, 2002). Também nao € necessério que ‘os membros de um grupo focal se conhegam ou tenham algum tipo de vinculo Phys Reve de Satie Coli, Rode anc, 93} 777-796, 2008 783 pe fet (WELLER, 2006). O contritio é, inclusive, mais recomendavel. A franqueza ea profundidade de troca de experiéncias ocorridas num contexto como esse muitas vezes sao especialmente ricas justamente pelo fato de seus participantes nao terem nenhum compromisso posterior de se verem ou conviverem a partir desse encontro casual (CARLINI-COLTRINI, 1996). Embora essa caracteristica do ‘grupo focal seja altamente desejivel, ela nem sempre € possivel, como € 0 caso, por exemplo, da utilizacao de grupos focais para coleta de dados em pequenas comunidades (WHO, 1992). De qualquer modo, ¢ imprescindtvel assegurar um clima confortavel para a troca de experiéncias e impress6es de caréter muitas veres pessoal (CARLINI-COLTRINI, 1996; GASKEL, 2002), de modo que 0 {grupo no resulte em incontorndveis discussées frontais ou em recusa sistemética de emitir opinides (MORGAN, 1988), A constituigéo de diferentes subgrupos por faixas etérias, género, renda ou outras caracteristicas pode ser considerada necesséria na medida em que tais varidveis, possam influenciar de modo nao controlado os resultados do estudo. No trabalho de Castelao, Schiavo e Jurberg (2003), abordando a sexualidade em pessoas com Sindrome de Down, os grupos focais foram realizados com trés categoria distintas: pais, profissionais e pessoas portadoras da sindrome Pedrosa ¢ Teles (2001), em estudo destinado & avaliagio de determinado programa, optaram por realizar grupos em separado para mulheres ¢ homens, com a justificativa de que a varidvel género influenciaria 0 comportamento dos participantes e que deste modo seria posstvel contrastar diferentes perspectivas entre pessoas semelhantes, Por raz6es diversas, em estudo sobre satisfagio de usudrios do PSF (TRAD et al., 2002), uma parte dos grupos focais foi composta apenas por mulheres. A énfase no universo feminino derivou em grande parte das observagées de estudos anteriores, na qual a mulher despontava como informante-chave nos processos de avaliagio dos servigos de satide. Esta posisio € resultante do protagonismo da mulher nas tarefas de cuidado & satide no interior da familia ¢ que se reflete no estabelecimento de vinculos duradouros com a rede de servigos locais, notadamente no Ambito da atengio priméria de satide. Outro ponto em comum entre os participantes dos grupos deste estudo era o pertencimento as classes populares. A decisio de conceder o privilégio as mulheres na composicio dos grupos focais apresenta raz6es mais dbvias no estudo de Ribeiro, Hardy e Hebling (2007) sobre Py Revi de Sede Catv, io de Joi, 19:3} 77-796, 2008 preferéncias de mulheres brasileiras quanto a mudangas na menstruagio. Neste caso, 0s grupos focais foram realizados antes do inicio da pesquisa propriamente ¢ visaram a subsidiar a elaboracao de um questionério. Para tanto, foram selecionadas mulheres que apresentassem caracteristicas semelhantes a0 universo a ser pesquisado. Vale notar, contudo, que em grupos focais realizados com profissionais do PSE, ‘em raras ocasiGes separamos os participantes por género ou categoria profissional. De modo geral, integramos num mesmo grupo homens e mulheres pertencentes a diferentes categorias profissionais que integram o PSF (TRAD ct al., 2002; NUNES et al., 2002; SILVA: TRAD 2005). Esta composigio, cuja homogeneidade € garantida pela condigao de pertencimento a0 PSF, favorecia 0 objetivo de identificar convergéncias ou contradigées nas opinides expressas pelos diversos profissionais em relagao aos t6picos discutidos. Critério e objetivo semelhantes foram referidos por Pizzol (2004), ao utilizar grupos focais em avaliagdes no campo da agricultura Em outro estudo, sobre trajetdrias de médicos do PSF (ROCHA; TRAD, 2005), ‘5 grupos focais foram compostos exclusivamente por esta categoria profissional. Neste caso, a finalidade dos grupos era subsidiara selec de sujeitos para o estudo de casos. Concluindo este tpico, a definigéo dos participantes nao ser guiada pelo critério de representatividade (quantitativa) deste ou daquele segmento social. Selecao dos participantes Uma ver definidos o perfil do grupo eos critérios de inclusio, passa-se a0 processo de selegao dos participantes. Trata-se de uma selecao intencional em conformidade com os objetivos da pesquisa (LIMA; BUCHER; LIMA 2004; PIZZOL, 2004; ‘TRAD et al., 2002). Considerando que os participantes do grupo devem ser ‘competentes para posicionar-se diante das tematicas a serem abordadas na pesquisa, € conveniente nesta fase realizar algumas consultas com informantes-chave que conhecam particularidades do fenémeno/situacio em estudo ou do universo a ser pesquisado. Os resultados destas consultas podem justificar em alguns casos a revisio dos critérios de selecdo dos participantes previamente definidos. Nos casos de estudos de avaliagio de politicas e servigos piiblicos de satide, é recorrente a referéncia 20 apoio solicitado a coordenagdes, chefias locais ete. no processo de selecdo dos participantes dos grupos (PEDROSA; TELES, 2001; Phys Reve de Satie Coli, Rode anc, 93} 777-796, 2008 785 pe fet 786 PIZZOL, 2004). Contudo, nio & convenience deixar a cargo desses atoresa definicio propriamente dita dos integrantes do grupo. Nao se pode esquecer que cles esto diretamente implicados com o objeto da avaliagéo pretendida pelos pesquisadores, fato que pode contribuir para uma indicagao tendenciosa. Com efeito, em nossa experiéncia com pesquisas sobre o PSF, geralmente as coordenagies locais de satide e profissionais que integtam as equipes so acionadas para subsidiar o processo de identificacio de possiveis participantes, mas a definicio final dos participantes fcava.a cargo do pesquisador. Na convocagao dos participantes para os grupos, destacamos duas alternativas utilizadas: através da equipe de pesquisadores, seja enquanto realizavam entrevistas domiciliares ou em contato realizado com usuarios do PSF especialmente pata este fim; ¢ por intermédio dos agentes comunitérios de satide. A primeira alternativa mostrou-se mais apropriada. © papel do moderador ¢ a dinamica da discussio Chama atengéo o fato de que, enquanto informagées relativas a0 ntimero de participantes, tempo de duragio ou finalidade do GF sejam frequentemente referidas em estudos que utilizaram o GF no campo da satide, raramente os autores fornecem dados a respeito do moderador e da dinamica dos grupos dois aspectos especialmente importantes para dimensionar o emprego adequado da técnica. No tocante a0 moderador, uma condigio de partida é que ele tenha substancial conhecimento do tépico em discussie para que possa conduzir o grupo adequadamente. Além do moderador, deve haver um apoio, atuando oportunamente, como segundo moderador. Pode haver ainda a presenca de observadores externos (que néo se manifestam) para captar a reagio dos participantes, ou como assinalam Stewart e Shamdasani (1990), participar através do espelho unilateral. E preciso, contudo, ter cautela com relagio a0 uso desta estratégia, Para Gomes e Barbosa (1999), deve-se evitar a presenga de pessoas estranhas 20 grupo, fato que poderia produzie nos participantes a sensacio de estarem sendo observades. Scrimshaw ¢ Hurtado (1987, p. 12) identificam como atribuigées do moderador: (a) introduzir a discusséo ea manter acesa; (b) enfatizar para o grupo que nao hé respostas certas ou erradas; (c) observar os participantes, encorajando a palavra de cada um; (d) buscar as “deixas” de comunidade da prépria discussio ¢ fala dos participantes; (¢) construir relagdes com os informantes para aprofundar, Py Revi de Sede Catv, io de Joi, 19:3} 77-796, 2008 individualmente, respostas e comentarios considerados relevantes pelo grupo ou pelo pesquisador; (f) observar as comunicagées nio-verbais ¢ 0 ritmo préprio dos participantes, dentro do tempo previsto para o debate. A tarefa de condugio do grupo focal, enquanto instrumento de pesquisa, ‘exige do moderador habilidades especificas no manejo de discusses em grupo. Ele deverd ter sensibilidade e bom senso para condwzir 0 grupo de modo a manter 0 foco sobre os interesses do estudo, sem negar aos participantes a possibilidade de expressar-se espontaneamente. O moderador de grupo deve ser treinado para exercer um papel menos diretivo e mais centrado no processo de discussio; alguns moderadores dirigem 0 grupo de tal modo que a discussio gira em torno de suas opinides, ¢ no daquelas expressas pelos participantes (GONDIM, 2002). Deve ter 0 cuidado, como adverte Minayo (2000), de nao induzir 0 grupo, de forma consciente ou nao, a partir de seu ponto de vista. ‘Além disso, em muitos casos, 0 moderador precisard ter habilidade para administrar possfveis catarses coletivas, Neste sentido, ¢imprescindivel que haja uma capacitacéo especifica destinada aos responséveis pela conducéo dos grupos ‘ou, ainda, delegar esta tarefa a um especialista no manejo da téenica, assegurando- se, neste ilkimo caso, que cle tenha familiaridade com o objeto de estudo, O objetivo do grupo deve ser expresso de forma clara no momento de abertura dos trabalhos, sinalizando as questées centrais sobre as quais a discussio iré concentrar-se. Apés breve apresentagio dos participantes, é conveniente especificar as regras bdsicas de funcionamento dos grupos, esclarecendo de partida o papel do moderador. Gondim (2002) apresenta uma lista bésica de regras para esta ocasifo, a saber: 1) falar uma pessoa de cada ver; 2) evitar discussdes paralelas para que todos possam participar; 3) dizer livremente o que pensa; 4) evitar 0 dominio da discussio por parte de um dos integeantes; 5) manter a atengio € 0 discurso na temdtica em questéo. © moderador deve assegurat, ainda, que todos os participantes tenham assinado previamente o termo de consentimento livre ¢ esclarecide (TCLE), 0 qual deve incluir a referéncia a0 uso de gravadores ou camaras (se for o caso). Certamente, 0 modo de explicitar estas regras pode variar, desde que sejam preservados os principios norteadores. Aoordem de introdugao das questdes ¢ tempo dedicado a cada uma delas pode variar conforme o ritmo da discussio de cada grupo ¢ 0 ntimero de participantes. Phys Reve de Satie Coli, Rode anc, 93} 777-796, 2008 787 pe fet Os trabalhos de Veiga e Gondim (2001) fazem referéncia & utilizagio da técnica dos grupos nominais na condugio dos grupos focais. Esta técnica consiste na formulacio oral de uma pergunta, pelo coordenador do grupo, a ser respondida breve e individualmente, e por escrito, por cada um dos participantes. O objetivo desta tée , neste caso, é documentar algumas opiniées pessoais sem a influéncia do grupo e preparar psicologicamente os participantes para a discussio. O roteiro ¢ 0 processo de andlise © roteiro de questdes que iré nortear a discussto nos grupos deve conter poucos itens, permitindo certa flexibilidade na condugio do grupo focal, com registro de temas nao previstos, mas relevantes. Convém estruturar o roteiro de tal modo que as primeiras questdes sejam mais gerais ¢ mais “faceis” de responder, Esta estratégia visa a incentivar a participacao imediata de todos. Gradativamente vio sendo inseridos os t6picos mais especificos e polémicos, bem como questées suscitadas por respostas anteriores. Devem ser evitadas questées que sc iniciem com a expresso “por que”, as quais podem deixar os participantes numa situagio muito defensiva, admitindo 0 lado “politicamente correto” da questio (GOMES; BARBOSA, 1999). Na formatagio do roteiro dos grupos, é imprescindivel nfo perder de vista a coeréncia deste processo com 0 referencial tedrico-metodolégico adotado na pesquisa. Neste sentido, em estudos de avaliagao do PSF de inspiragéo construtivista (TRAD et al., 2002; COPQUI que emergiram do préprio universo investigado. Os grupos cederam espaco também para a emergéncia de aspectos que, embora guardassem relagio com o objeto de pesquisa, nao foram a priori contemplados pelos pesquisadorcs. TRAD, 2005), 0 roteiro incorporou questées Para potencializar a técnica, cuja finalidade € captar impresses dos informantes, valorizando, portanto, dimensées simbélicas e/ou subjetivas, nao ¢ conveniente incorporar no roteiro questdes objetivas que poderiam ser obtidas através de outras fontes. Desta forma, 0 tempo do grupo ser4 aproveitado para o debace de questées mais complexas, cuja apreensio seria mais limitada através, por exemplo, de questionérios. Focalizando, por fim, o momento da andlise dos contetidos dos grupos, enfatiza se a necessidade de utlizagao, nesse processo, de um método capaz de apreender opinises solidamente mantidas c frequentemente expressas (GOMES; BARBOSA, 1999). No caso especfico de pesquisas avaliativas, a andlise sistemética e cuidadosa Py Revi de Sede Catv, io de Joi, 19:3} 77-796, 2008 das discussdes vai fornecer pistase insights sobre como um produto, servigo ou plano é perccbido (CARLINI-COLTRIN, 1996). Entre as técnicas mais empregadas nesta fase, destacam-se a andlise de contetido e a anilise do discurso, Sempre que 0 grupo focal for wilizado em combinagio com outras téenicas, deve-se procedertriangulacio das informagées como parte do processo de validacio dos dados. © processo de andlise deve contemplar dois momentos complementares: andlise especifica de cada grupo e andlise cumulativa e comparativa do conjunto de grupos realizados. Em sintese, 0 objetivo deste processo ¢ identificar tendéncias « padrées de respostas associadas com o tema de estudo (MORGAN, 19975 WHO, 1992; GASKELL, 2002). Possibilidades ¢ limites dos grupos focais Gaskell (2002) chama atengdo para o fato de que um dos desafios no momento de decidir adotar ou no 0 grupo focal ou, mais precisamente, escolher entre esta técnica ¢ a entrevista individual, é que nao hd consenso na literatura sobre as condigdes especificas em que um ou outro mécodo é mais eficaz. Embora muitos pesquisadores tenham articulado muito bem razées de quando por que se deve empregar um ou outro enfoque, a literatura de pesquisa sobre o problema é bastante confusa (MORGAN, 1998). © mesmo autor (MORGAN, 1992), a0 fazer uso combinado de grupos focais, c entrevistas em estudo que avaliow a relagio entre médicos ¢ cuidadores familares no atendimento a idosos com enfermidade Alzheimer ou outras enfermidades relativas 2 meméria, amplia a discussio sobre vantagens ou limices dos GFs em ‘comparago com outras técnicas. Ele observa, por exemplo, que uma das vantagens do grupo, em relagio as entrevista individuais, € que nesta dtima sio maiores as chances de os informantes fornecerem respostas “prontas”. Na sua experiéncia, alguns sujeitos reelaboraram suas colocagGes iniciais quando colocados na situagio de grupo, como no caso dos grupos com familias, nos quais um familiar podia completar ou colocar em discussio a informacéo fornecida por outro. Em efeito, nos dois estudos sobre o PSE, onde também ocorreu 0 uso combinado de grupos focais ¢ entrevistas, identificou-se que durante os grupos os participantes iam progressivamente se desvencilhando das respostas padronizadas, por vezes, quando questionados sobre sua veracidade por alguém do grupo. Phys Reve de Satie Coli, Rode anc, 93} 777-796, 2008 789 pe fet Em contrapartida, Morgan (1992) observou que uma vantagem das entrevistas individuais em relacao aos grupos é que foi possivel incorporar, através dela, informantes que por alguma razio teriam dificuldade de se deslocar para o local do evento ou que nao atendiam aos critérios mais estritos de incluso nos grupos focais. De fato, ha sicuagées em que nem todos os convidados para o grupo se apresentam, ¢ existem grupos cujo puiblico-alvo é dificil de recrutar, a exemplo de minorias érnicas, os velhos e portadores de deficiéncias, maes com filhos ELL, 2002). ‘Morgan (1992) acrescenta que, na comparagio com a observacio, os grupos muito pequenos (GA focais mostraram-se mais vantajosos aos interesses dos seus estudos, pois diante da complexidade das questées a serem investigadas, a utilizagao da primeira demandaria muito tempo. Gaskell (2002) avalia que, para o mesmo ntimero de encrevistados, 0 grupo focal & mais eficaz, ¢ enumera as seguintes vantagens associadas com 0 emprego da técnica: a) fornece critérios sobre 0 consenso emergente ¢ a maneira como as pessoas lidam com as divergéncias; b) em uma sesso grupal, 0 pesquisador/moderador pode explorar metéforas e imagens e empregar estimulos de tipo projetivo; &) a partilha eo contraste de experiéncias constroem um quadro de interesses e preocupagées comuns, em certos casos vivenciados por todos, que so raramente articulados por um tinico individuo. Sio referidos na literatura outros beneficios dos grupos focais, como a eficdcia da técnica na obtengio de informagées qualitativas, relativamente complexas, com um minimo de interferéncia dos pesquisadores (RALLIS; ROSSMAN, 1998; MORGAN, 1992, 1998). Pode-se considerar que os participantes se sentem livres para revelar a nacureza ¢ as origens de suas opiniGes sobre determinado assunto, permitindo que pesquisadores entendam as questées de forma mais ampla (BARBOUR; KITZINGER, 1999; TEMPLETON, 1994). Valoriza-se ainda, no emprego do grupo focal, a flexibilidade do seu formato, que permite a0 moderador explorar perguntas nao previstas e incentivar a participagao dos integrantes; além disso, sio referidos como pontos positivos: seu baixo custo ¢ rapidez no fornecimento de resultados (GOMES; BARBOSA, 1999; RALLIS; ROSSMAN, 1998; GREENBAUM, 1998). Quanto a estes dois tiltimos aspectos, entretanto, uma ressalva é sugerida por ‘Morgan (1998), que os considera como “mitos” dos grupos focais. Segundo © autor, os GF muitas vezes podem ser mais caros, quando comparados a métodos Py Revi de Sede Catv, io de Joi, 19:3} 77-796, 2008 ‘como a observagio participante, e menos demorados, se comparados, por exemplo, com a entrevista individual. E preciso advertir também que temas de natureza muito pessoal e delicada possivelmente apresentario resultados decepcionantes se abordados em grupo focal. Da mesma forma, é preciso ter em mente que estudos ‘com grupo focal no oferecem boas estimativas de frequéncia, uma vez que néo é esse seu propésito (CARLINI-COLTRINI 1996). Podem-se enumerar outros limites associados com o emprego da técnica: a dificuldade de garantir um total anonimato; a susceptibilidade de incerferéncia quanto aos juizos de valores do moderador; o risco de que as discussées sejam desviadas ou dominadas por poucas pessoas, enviesando os resultados. Este tiltimo reforga tanto aimportancia de levar ‘a cabo uma selegio criteriosa dos participantes, como o fato de que os comentétios devem ser interpretados sempre no contexto do grupo. Acrescentam-se, ainda, & lista de limitagées, os seguintes pontos: i) ela nao permite identificar nexos causais ¢ correlacionais mais precisos entre varidveis, na medida em que é uma técnica de corte transversal, com baixo controle de varidveis; ii) a composigo intencional e de conveniéncia da amostra limita as possibilidades de generalizagio para a populagio investigada (Gondim, 2002). Vale notar que os aspectos assinalados poderiam ser referidos a outras técnicas qualitativas Reflerindo um pouco mais sobre a dindmica prépria de uma discussio em ‘grupo, que tanto pode servir para identificar 0 que a distingue do enquadre da entrevista individual, como pode langar luz sobre a questao do risco de imposigao da opinido de uns sobre outros, tomam-se emprestadas as consideracdes apresentadas por Schrader (1987). O autor reconhece, primeiramente, que grupos sociais atingidos coletivamente por fatos ou situagies especificas desenvolvem opinises informais abrangentes sobre estes; deste modo, quando se apresenta uma situagio de interlocugio entre membros de um desses grupos a respeito de um dado fato ou situagio, tais opinides se impéem, influindo normativamente na conscigncia e no comportamento individual (SCHRADER, 1987). As pessoas em geral precisam ouvir as opiniées dos outros antes de formar as suas préprias. E constantemente mudam de posigio (ou fundamentam melhor sua posicao inicial) quando expostas a discussbes de grupo. Especificamente no ambito da pesquisa avaliativa em satide, concordamos com Westphal (1992), para quem a utilizagio de grupos focais se revela especialmente oportuna em estudos de andlise de implantacio de programas ¢ Phys Reve de Satie Coli, Rode anc, 93} 777-796, 2008 791 pe fet agies de satide nos quais se pretende valorizar a aprender a opinio, percepgio de sujeitos diretamente envolvides com 0 objeto a ser avaliado. ‘Nos estudos em que adotamos os grupos focais, estes demonstraram ser espacos privilegiados de discussao ¢ de trocas de experiéncias em torno de determinada temética, Seu formato estimulava o debate entre os participantes, permitindo que os temas abordados fossem mais problematizados que numa situagio de entrevista individual. ‘Tanto 0s grupos focais com os profissionais do PSE, como aqueles realizados com as famflias cadastradas nas respectivas Unidades de Saiide da Familia, favoreceram a reflexio critica coletiva sobre a implantagio e funcionamento do programa. A técnica facilitou também a identificagio de consensos ou divergéncias significativas sobre os pontos abordados. Deve-se ressaltar, ainda, que os resultados encontrados através dos grupos focais coincidiram com aqueles obtidos através de entrevistas domiciliares que atingiram cerca de 10% das familias cobertas por determinada equipe, demonstrando alto grau de sensibilidade da técnica. Uma vez indicados vantagens ¢ limites associados ao grupo focais, é preciso enfatizar que a escolha dependera em grande medida da natureza da pesquisa, dos seus objetivos, do perfil dos entrevistados ¢ também das habilidades ¢ preferéncias pessoais do pesquisador (GASKELL, 2002). Uma ver que 0 pesquisador decide utilizar 0 grupo focal como estratégia metodolégica principal ou complementar em seu estudo, torna-se imprescindivel conhecer os fundamentos ¢ procedimentos desta técnica, certificando-se de que estes serao adequadamente incorporados na pesquisa pretendida. Referéncias BARBOUR, RS. KITZINGER, J. 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Py erie de aie Coli, Rio deci, 193 777-796, 2009, 795 pe fs 796 Abstract Focal groups: concepts, procedures and reflections based on practical experiences of research works in the health area In the two last decades it has been evidenced a significant development of focal groups as a daca collection instrument in researches in the field of Collective Health in Brazil. By occupying the function ‘of main technique or as a complementary and qualitative strategy, its use attends invariably to the purpose of apprehending perceptions, opinions and feelings, once is faced to a determined theme within an inceractive environment, The regularity regarding the use of the focal group rechnique contrasts with the observed variation of requirements and practical procedures described. This paper presents concepts, purposes and. procedures related to the focal group technique and dliscusses its practical use in research, particularly in the health field. So this work allies data from specialized literature review with reflections arising ofthe author's ‘own experience with the use of this technique, especially in health evaluation researches. > Key words: focal groups; methodological procedures potentialities, qualitative evaluation. ysis Renin de Sede Cain, io de ni, 193} 777.796, 2008

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