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I A Psicologia por Michel BERNARD HA UM SECULO, exatamente em 1860, aparecia a primeira obra de psicologia experimental: Elemente der Psycho- physik de Fechner 1. Embora se origine de preocupacdes filosoficas, esta obra rompia com a tradicg&o da psicolo- gia filosofica, empregando, para o estudo dos fenémenos Bsiguicos, o mesmo méiodo_que_o_das_ciéncias di _natu- r € da vida: o médico e fisico Fechner consagrava assim a psicologia como ciéncia experimental e, por conseguinte, como ciéncia no sentido estrito. Nao obstan- te, essa consagracio s6 se torna verdadeiramente oficial a partir do momento em que ela se institucionalizou; de um lado, pela inauguracéo, em 1862, por Wundt, de um ensino cursivo de “A Psicologia do ponto de vista das Ciéncias naturais”, concretizado pelo aparecimento, em 1873-1874, do primeiro tratado de psicologia cienti- fica: as célebres Grundziige der Physiologischen Psycho- logie (Elementos de Psicologia Fisiolégica); por outro lado, e sobretudo, pela fundagio, gragas ao proprio Wundt, do primeiro Instituto e do primeiro Laboratorio de psicologia em Leipzig, em 1879. Nesse sentido, e através da enorme influéncia que exerceu por seus nume- _ rosos discfpulos nas principais nagdes *, Wundt pode ser 1 Para sermos justos, convém assinalarmos com Fratsse (Ma- nual Prético de Psicologia Experimental, p. 1, nota 1) que a primeira tentativa de psicologia experimental situa-se em 1756, com a obra de J. G. Krucen: Versuch einer Bxporimental-seclenlohre. 2 Para citarmos apenas os mais ilustres: na Alemanha, Krac- pelin, Kiilpe (0 criador da Escola de Wurzburg), Neumann; nos . Digitalizado com CamScanner 18 A Fiosoria pas Ciéncias Soctay, considerado como o “instaurador da psicologia exper, mental” e como o primeiro representante, com toda , razio da psicologia geral *. A esse nascimento institucional na Alemanha f; eco as iniciativas andlogas e consecutivas da Franga © curso de psicologia experimental de Ribot na Soy bonne, em 1885, apds o aparecimento, com grande reper. cussao, destes dois livros: A Psicologia Inglesa Contem, pordnea (1870) e A Psicologia Alema _Contemporéne, (1879), a criagéo da cadeira de Psicologia Experiment, e Comparada no College de France, em 1889, oferecids, ao proprio Ribot, a abertura no mesmo ano de um labo. ratorio de psicologia fisioldgica na Escola Prdtica de Altos Estudos, na Sorbonne, onde se ilustrard, a partir de 1895, Binet, que lhe assumird a direc&io *. Nos Estados Unidos, o crescimento da psicologia experimental deu-se “a imagem das cidades industriais”: se, “Na Europa, a psicologia teve de conquistar seu lugar entre as disci. plinas e as instituigdes, fazer-se reconhecer como ciénciz e néo mais somente como um ramo da filosofia”, a0 contrario, ela foi imediatamente acolhida pelas universi- dades americanas que, por isso mesmo, lhe deram uma fisionomia absolutamente nova*. Assim, Stanley Hall, discipulo de W. James, apds ter trabalhado alguns meses em Leipzig com Wundt, funda o primeiro laboratorio americano de psicologia na Universidade John Hopkins, em Baltimore, 0 que sera imediatamente imitado pelas outras universidades: em 1892, jd existirao dezessete! Além disso, desde 1887, Hall cria a primeira revista americana de psicologia, 0 American Journal of Psycho logy, enquanto nessa mesma data @ psicologia frances’ Estados Unidos, Stanley Hall, Mac Cattel, Miinsterberg (alemao ae crigem), Angell, Titchener (inglés de origem), Warren, Stratt® Judd; na Inglaterra, Spearman; na Franga, Bourdon; na Bélgic® Thiéry e Michotte ete. % Traité de Psychologie owpérimentale de FRAIsse e Practh t. I, cap, I, p. 17, P.U.F., 1968, interior oem, assinalarmos que, na mesma época, jd existiam © interior dos hospitais psiquidtricos da Salpétriére e de Sainte-AN™ ‘Laboratérios de pusicologia”, mas que eram exclusivamente coms*| Brados & observacio clinica dos doentes mentais e nao 2 experime™ taco sobre as fungdes do psiquismo normal. Assim, Janet dirigy 0 da Salpétrigre © Dumas 0 de Saint-Anne: ,6 0 segundo esboo experiéncias reais. Ambos eram diseipulos de Ribot. © FRAIssE, op. cit, p. 85. Digitalizado com CamScanner A PSICOLOGIA 19 sé dispunha, como 6rgio de expressio, de La Revue philosophique lancada por Ribot, e que, na propria Ale. manha, Wundt publicava suas pesquisas nas Philoso- phische Studien (que s6 seraio batizadas de Psycholo- gische Studien em 1903!). Outro fato significativo, desde 1892, € que Hall consegue agrupar trinta e um psicdlogos numa primeira associagao, a “American Psychological Association”, a primeira Sociedade de Psicologia do mundo! N&o obstante essa mudanga repentina e profunda da psicologia pré-cientifica em psicologia cientifica, que se realizou no decurso da segunda metade do século XIX, nado parece, por causa mesmo de seu cardter repentino, ter sido tao radical quanto se poderia crer & primeira vista. Com efeito, e este nio é dos paradoxos menores da_psicologia contemporanea, se ela 6 reconhecida ofi- cialmente como ciéncia e é ensinada nas faculdades de Letras e Ciéncias Humanas e nas faculdades de Ciéncias (Certificado de psicofisiologia), onde 6, a partir de 1948, na Franga, objeto de diplomas (licenga, mestrado, douto- rado), dando acesso a profissdes sancionadas pelos seto- res plblico e privado, nem por isso ela deixa de ser uma. discipli suspeita e contestada em sua finalidade, em sua eficdcia, em seu rigor e em sua _unidade. Em outras palavras, a psi gia cientifica é mais do que centendria e, no entanto, ainda se interroga sobre a natu- reza e o valor, tanto epistemoldgico quanto cultural, dessa ciéncia. 1% assim que, em 1958, num artigo que provocou algum barulho, G. Canguilhem julgou-se auto- rizado a colocar a questio: “O que 6a psicologia?”, enquanto ja trinta anos antes, numa obra densa e caus- tica, Georges Politzer podia lancar esta invectiva: “Os psicdlogos sfo cientistas como os selvagens evangeliza- dos sio_cristfos” ", Embora com motivagaio e argumenta- cao distintas, F. L. Mueller faz um processo mais obstina- do e mais ambicioso (certamente, porém, menos sutil e incisivo) da “histéria da psicologia da Antigiiidade aos nossos dias” e especialmente da “psicologia contempora- hea” cuja pretensio cientifica sé Ihe parece atingir uma “universalidade vazia”, e & qual somente uma “antropolo- | ° Critique des fondements de la Psychologie, 1928, reed. em 1969, P.U.F., p. 6, Digitalizado com CamScanner 20 A FILosoria pas CliNCIAs Soci gia filosdfica” estaria em condi Todo o mundo conhece a sur; plica dada por Piaget a ess rente de suspeita e de criti igdes de trazer Temédio: ‘preendente e retumbante te e autor €, em geral, a essa Cor. ica filosdficas, denunciando, filoso} + DO} la situacdo, “as ilusdes da ie » SOb a pressio e com o auxilio de uma teoria positivista da ciéncia. Ora, desse divércio, tal como ele foi justificado, siste matizado e dogmatizado por Watson, a Psicologia con. temporanea permanece aparentemente e apesar dela, tributaria; mais ainda, Permanece, em certo sentido, alie. nada: ela se assemelha a um adolescente que nao teria conseguido liquidar seu_complexo de Edipo e, como tal, estaria ci ado _¢ a deslocar ou a inverter seu i través dos mecanismos de defesa de que dispée. Alids, poderiamos encontrar nessa alienacgao a explicagio da_agressividade polémica de certos psicdlogos em re lag&o aos fildsofos, cujo altivo desprezo, em troca, difi- cilmente oculta certa frustrag&o. Incessani temente amea- gada de ser absorvida pelo im 10_das_paderosas | ciéncias atureza, como _a. a_piologia, ou de ser suspeitada como .bastarda e ingrata da filosofia, a psicologia cientifica permanece, pois, dilace- rada e destinada a incerteza: “é a infelicidade do psicd- logo”, constata P. Greco, “ele nunca tem certeza de qué ‘faz_ciéneia’”. Se a faz, nunca esta certo de ai sicologia °, aa a Mas seria verdadeiramente esta uma situagio irre mediavel, uma fatalidade intransponivel? Em vez de leg ponder a tal pergunta’ tao freqiientemente levantada ¢ seja Histoire de la Psychologie de TAntiquité & noe jours, Payot? “La psychologic contemporaine”, Payot, 1968. 8” "Sageeee et ilusions de ta Philosophie, P.U-E, 1965. Ge ® Logique et Connaissance scientifique, cap. pistemologi la Psychologie”, p. 987, Encyclopédie de la Pléiade, NRF, Digitalizado com CamScanner A PSICOLOGIA 21 infelizmente!, de modo bastante vio no decurso do inicio do século, convém interrogar-se sobre sua validade, isto é, em suma, estabelecer a problematica da situagio da cién- cia psicolégica nesta segunda metade do século XX, em fungdo nao somente de sua histdria propria e da historia das outras ciéncias e técnicas, mas da historia total, com suas dimensdes econdmicas, sociais, politicas e culturais, Para isso,e a fim de evitarmos toda confuséo de pontos de vista, escolheremos como fio diretor a distingao feita Por Robert Pagés, em resposta ao artigo de G. Cangui- Ihem (que, alias, “reconheceu” lealmente a insuficiéncia de sua argumentagio sobre esse ponto preciso), entre a _ciéncia_psicologica, a té psicolégica e a filosofia (implicita ou explicita) da psicologia !, Com efeito, se @ psicologia, como jd foi salientado, apresenta-se oficial- mente como ciéncia e, por conseguinte, coloca os dificeis problemas epistemolégicos de sua especificidade, de sua unidade e de seu valor com relacio as outras ciéncias , da natureza e do homem, ela também_existe, de 1 um lado, como técnica e fonte de técnicas ou_de_transformacio. Je _técnicas preexistentes_de_trabalho oOu_de lazer; do outro, como forma ou fi c rma _ou_funcao cultural, isto 6, nao somen- ‘te como produto ou resultado de uma cultura, mas como fator_de mutacao )_OU_renovacao dessa cultura: assim, @ psicologia, apenas Por sua “imagem”, revela-se poder de transformacio do modo de_vida_individual, das_re- Ges humanas, las_instituigdes e das atividades ", Ora, tural da psicologia implica, no sentido fia ou, mais precisamente, uma certa } em suma, uma ideologia, que caberd nos explicitar. Assim, explorando a distingio de . Pages, ais: o primeiro serd consagrado & epistemologia da sicologia, isto é, a0 exame dos dois problemas funda- ntais da cténcia psicolégica, a saber, o da definigio Seu objet 0 @ de seu método, portanto, de sua unidade 11 Hevue Métaphysique et Morale, jan-margo de 1958, pp. 80-31, si embteEO aqui o conceito de “formu” ou “fungio ‘ultural” Bentido de Cassirer em La Philosophio des formes. symboliques © Heeai sur Phomme, isto 6, como uquilo que permite ao homem prender a realidade como sentido, As quatro principals fungies / Murais io: u linguagem, a eléucia, o mito a arte ICOLO 1A | PISS cous D Digitalizado com CamScanner 22 . A FiLosoria pas CifnctAs Soctaig e de sua especificidade em relagfio 4s outras ciéncias; por outro lado, o de seu valor, isto 6, de seu alcance explicativo. O segundo capitulo consideraré a psicologig como féenica, tentando avaliar sua eficdcia e determinar sua orientagio na pratica social. Enfim, 0 terceiro capi. tulo visara A andlise das transformagées da cultura ope. radas pelo aparecimento e pelo desenvolvimento da Psico- logia como ciéncia e técnica, e procurard desvendar suas licacSes ideoldgicas, Esforcar-nos-emos, de modo todo em cada nivel, por indicar as tendéncias adeiramente atuais da Psicologia e, na medida do 1, por prever o sentido de sua evolucio. oe I. A CIENCIA PSICOLOGICA que A. Comte, em seu programa positivista de 30, exclui categoricamente a psicologia da ordem das ciéncias. Em sua classificagéo das ciéncias em fisica inorganica e fisica organica e, mais particularmente, no campo desta ultima, nenhum lugar é previsto para um conhecimento especifico da organizacio mental, entre as ciéncias que se ocupam da organizac&o social e politica € as que se ocupam da organizaciio fisiolégica. O homem, animal histérico herdeiro de uma tradicio, explica-se, segundo ele, em sua animalidade, pela fisiologia das fungdes orgfnicas e, em sua dimensio cultural, pela sociologia como ciéncia da histéria intelectual e moral do GrandeSer, a Humanidade de que cada individuo é apenas a abstracio. Ora, na verdade, como observa justamente P. Greco, este ostracismo pode surpreender numa época em que, a0 lado dos vios artificios da psicologia filoséfica do ecletismo cousiniano voltado para a introspecgio da alma-substancia, esboga-se 0 embrifio de uma psicologia empirica, guer comparativa ¢ matemiatica, com Herbarl, quer fisiolégica e patoldg! com Broussais, quer fisica, com Weber, quer neurofisiolégica, com Helmholtz, 0U médica, com Lotze. O proprio Comte, em sua “Introdugi® Fundamental”, nfio formula o voto de que o estudo das fungées mentais e “morais” se torne um estudo expert mental e racional? No entanto, permanece a exclusive contra a ciéneia psicologica propriamente dita: Comte recusa, em seu principio, a introspecgio sob todas 85 A Digitalizado com CamScanner A PSICOLOGIA - 23 suas formas, enquanto contemplagio ilusdria do espirito por si mesmo; somente permanece vdlida a observacio externa do individuo, e esta é da algada da biologia. “O que Comte rejeita nio 6, pois, tanto ‘a ciéncia da «-alma’ que poderd ser feita tao positivamente quanto se faz uma ‘ciéncia da vida’, mas a ‘ciéncia do sujeito’” . Nao ha “ciéncia do sujeito” distinta e irredutivel as da natureza fisioldgica e da natureza social de todo ser humano. O reconhecimento comtiano do valor objetivo apenas do método de observacio externa leva, assim, a um dilema insuperdvel: ou a psicologia pretende manter sua especificidade epistemoldgica, entrando assim em choque com a metafisica e com o discurso literdrio; ou entao submete seu objeto ao método positivo, e conver- te-se em ciéncia_ da natureza, nfo sendo mais ciéncia do sujeito. Em definitivo, a psicologia se encontra subme- tida “ao critério de uma concepcao a priori da objetivi- dade cientifica, identificada com um método. Trata-se, segundo a feliz expresséo de P. Greco, de “um veto”, “o veto do positivismo” oposto a toda pretensao cienti- fica da psicologia como ciéncia do sujeito. Ora, este veto pesou sobre toda a historia da psico- Jogia, desde a metade do século XIX até nossos dias. Ainda. hoje ele continua, apesar de tudo, mas de uma forma mais insidiosa e mais subterranea, a semear a dtivida sobre a legitimidade da psicologia de figurar no pindculo das ciéncias, ao lado das matemiticas e das ciéncias da natureza. Por isso, temos o direito de nos perguntar, de um lado, como, apesar desse veto, a psico- , logia conseguiu conquistar seu estatuto oficial de ciéncia e, mais precisamente, de ciéncia humana; do outro lado, em que medida essa conquista é verdadeiramente legi- tima. A primeira quest&o significa descobrir como se afirmou a especificidade da psicologia, isto 6, a origina- lidade de seu objeto com relacio as outras ciéncias, sem cair na metafisica ou no pathos literdrio; a segunda signi- . fica estabelecer, contra a opinido de Comte, o valor epistemoldgico da explicacio psicolégica, isto 6, a obje- tividade de um modo de conhecimento que nao sacrifica a especificidade do dominio estudado, 42 Op, oit., p. 986, Digitalizado com CamScanner 24 A FiLosoria pas Cifncts Soctas PROBLEMA DA UNIDADE EB DA ESPECIFICIDADE DA CIBNCIA PSICOL6GICA Uma primeira constatagiéo se impde: considerada dia. cronica ou sincronicamente, a psicologia se nos apresenta mais como uma associacéo de disciplinas distintas do que como uma So e Unica ciéncia. Com efeito, do ponto de vista histérico, se retomarmos 0 quadro das diferen. tes correntes internacionais da psicologia contemporanea, que tivemos a oportunidade de esbogar rapidamente, observaremos que a_ psicologia alema, com Wundt e Fechner, nasceu do encontro da filosofia com a psico- fisiologia; que a psicologia inglesa, com Galton, resulta essencialmente da convergéncia do evolucionismo darwi- niano com a_psicologia diferencial; que a psicologia americana, submetida & influéncia do darwinismo, tam- bém € tributdria, antes de tudo, do experimentalismo da psicologia fisiolégica de Wundt 18; que a psicologia sovié- tica deriva diretamente das pesquisas pavlovianas de neurofisiologia animal. Por outro lado, Canguilhem sa- lientou que certas disciplinas, partes integrantes da psicologia, como a psicofisiologia e a psicofisica, ou certos modos de abordagem constitutivos do estudo psicolégico, como a introspecgio ou a observagéo pura: mente externa, néo relevavam de um mesmo projeto ou sentido origindrio. Assim, a psicofisiologia remontaria descoberta, por Galeno, das fungées da circulacio e da respiracio, e mesmo, mais longe, & teoria aristotélica da alma como objeto natural e, por conseguinte, como tema fisiolégico; por seu lado, a psicofisica encontraria seu fundamento e seu primeiro esbogo na tentativa carte- siana de reducio das diferengas entre as qualidades sensoriais a diferengas de figuras geométricas, Da mesma forma, a psicologia, como exame introspective da subje tividade, ciéncia do senso intimo, se teria originaco da meditacio biraniana, enquanto a Observagdo minuciosd apenas das reay6es comportamentais, tal como a pratica 4 peicologia contemporanea, deriva do postulado ins trumentalista do homem instrumento, comandado pelas exigénclas de adaptacio ao meio 14 “A Psicologin americana (escreve Boring, em sun Hiatort of Experimental Peycholayy, p. 606) herdou sou corpo dow expert mentalistas slemiee, mus tomou seu vspivite de Darwin," Digitalizado com CamScanner A PSICOLOGIA 25 Contudo, para além dessa diversidade dos sentidos origindrios das disciplinas e métodos psicoldgicos, nao se encontra um dilaceramento ainda mais radical (jd denunciado por Comte) no estatuto ambiguo da psicolo- gia, ao mesmo tempo ciéncia de um ser vivo, portanto, | | da natureza, e do homem como produto e produtor de / cultura? De fato, assim como mostrou justamente D. La-/| lgache, a histéria da psicologia é a do conflito entre dois/ estilos de pensamento aparentemente antinémicos, resul-| tando da atracao exercida pelo rigor objetivo das ciéncias \ da natureza e pela exigéncia de inteligibilidade do senso do devir complexo das experiéncias humanas. Assim, a psicologia se dissolveria na pesquisa fisica, tisiolégica ou nas conjecturas filosdficas ou socioldgicas. Esses dois estilos, que D. Lagache chama de “o natu- ralismo” e de “o humanismo”, seriam representados, © primeiro, por homens téo diferentes quanto Aristdteles, Wundt, Ribot, Titchener, Pavlov e Watson; ° segundo, | por W. Stern, Jaspers e Sartre. A_oposi zaria na maneira de conceber _o fato_psiquico, ass _pelo outro a_uma_consciéncia; outro, holisticos e Teduzido do 4 “explicacao” “compreensio” por Epo Stalin ou_model pelo outro; 1 ‘ase conferida & natureza or fendmenos ‘psiquicos, por um, a si = sua origem inconsciente, pelo outro; _enfim,_na_tomada em consideracai penas dos fatos descritos em sua apa-_ réncia sensoriomotora, por um, valor funcional relativamente_a: cao vital, pelo outro™, Em sintese, a especifici psicologia encontra-se ameacada por um duplo reducio- nismo: 0 primeiro 6 realizado _pelo_imperialismo_das ‘iéncias fisicoquimicas e bioldgicas, o segundo, mais \ambicioso e sutil, € obra, de um lado, da critica perma- / nente e nostalgica dos filésofos, que pretendem manter | ‘seu direito de vigilincia sobre o estudo do psiquismo / ] humano; do outro, dos psicanalistas e dos wine, que _julgam possuir a chaye desse_mesmo_psiquismo, 4 Cf. D. LacacuE: Unité do la Peyohologic, P.U.F., 1949, pp. 265 e 2.8 ed, aumentada, 1969, pp, 20-28, Digitalizado com CamScanner A. FILosoFiA DAS CrfNCIAS Soctay rimeiros no inconsciente, para og oes sociais e, mseguinte, rele. jemnente da _comunicagio verbal ou simbé. . rar essa dupla ameaca, basta citar, para | turalista, Piéron, que declarava em sua “No dia em que OS progressos da psico- sho adequada para as moda. logia cientifica perderd sua individualidade, como a fisiologia ingressaré um dia, por completo, no dominio da quimica; e a propria qui- mica encontraré, na fisica, 0 simbolismo matematico que Ihe possibilitard, na unidade harmOnica de suas formas, expressar a diversidade aparente das formas naturais.” Watson — convém notar de passagem , que, por preocupagao objetivista, sempre manteve a distancia ou suspeitou da fisiologia como conjectural e @ priori, tam- pém proclamou sua fé, em 1914, “na natureza inteira- mente psicoquimica de toda resposta, da mais simples a mais complexa” *°. Quanto as reivindicagdes filosdficas, lembremos 0 processo formado por Sartre para a psicologia cientifica na obra atualmente tao desacreditada *, Esboco de uma Teoria das Emocées, onde pretende langar 0S fundamen: tos de uma psicologia puramente fenomenoldgica. Por outro lado, é inttil insistirmos sobre 0 desejo freudiano de decifrar, unicamente pela linguagem do inconsciente, a totalidade das condutas humanas, das mais automaticas as mais sutis e complexas, bem como sobre o desejo durkheimiano de explicar essas mesmas condutas pelas manifestagdes da consciéncia coletiva ou a intengaéo more niana de reduzi-las a atragdes ou repulsdes interpessoais e, por conseguinte, a certa dinamica de grupo. ' Contudo, antes mesmo dessas tentativas reducionis- tas, desses diferentes imperialismos tedricos, a ciéncla ps oldgica encontra-se ameagada por um perigo mais insidioso e mais permanente que afeta, alids, mas num ica. Para ‘a tendéncia nal ligio de 1908: logia fornecerem. uma expressao- lidades do comportamento, a psicol 6 Gi r ; ee : th» Pinte por Fraisse no Traité de Psychologie expérimentale, 10" Aludo aqui as soveras eriticns fei 7 D i } ave ritiens feitas por ocasidio do debate sobre Pavoholonte ot PMiosophte oxganisado pela, Coralslo da ‘Filo- om Raison ae Bacionaliste na Sorbonne, em 6/5/66, e aparecid? oma Kaleo, prieend, Tot; 9 em Peyohologte! st Mareteme, Coll 10/18; Digitalizado com CamScanner A PSICOLOGIA 27 sentido diferente, o estatuto da sociologia’’, a saber, g prépria-pretensio ae sono 06 mum. fie_deter-a_chave ou _a_solugdo_pritica de toda ificuldade-psicoldgica. No Gizer de D. Haméline: “Ninguém disputa ao fisico seus dtomos, nem suas sinapses ao neurofisiologista: nao séo realidades de uso corrente. Quanto ao psicdlogo, ele nao tem essa boa oportunidade, e sé pode falar daquilo de que todo o mundo pode pretender ter consciéncia” **. Em outras palavras, a autonomia da ciéncia psicolégica encontra-se contestada pela “arte psicolégica”, pela pra- tica cotidiana e empirica do psicoldgico. “Somos psicdlogos antes_de_sermos_Psicdlogos”, diz justamente R. Zazzo 8, Esta prdatica psicoldgica dilui-se na diversidade e na heterogeneidade das receitas tradicionais ou proverbiais, de conselhos dos antigos ou de “curandeiros” — ligdes de experiéncia profissional ou nao etc. —, em suma, de_mul- tiplas fontes de sabedoria em que participa o conjunto da ‘vida_social, econdmica, politica e cultural dos indi- viduos. a Ora, esta “arte” psicolégica da existéncia banal 6 aparentemente, fanto mais nociva & elaboracao de uma _ ciéncia psicolégica auténoma e especifica, quanto se expressa na linguagem cotidiana, & qual o psicdlogo nao pode deixar de recorrer. Como escreve D. Hameline: “O psicdlogo permanece sujeito da psicologia e podemos aplicar-Ihe suas proprias descobertas. A codificagao-deco- dificacio objetiva da linguagem formalizada da ciéncia psicolégica corresponde, em filigrana — mas colocado em questéo por uma espécie de rito sacramental que se desespera por chegar um dia & eficdcia seu véu —, outro cddigo, em que o primeiro encontra sua validade, sua coloragio significativa num universo semantico “mediador” de que Osgood tentou enfatizar_as dimensées e mostrou bem a espessura dos feixes*. Este universo semfntico 6 0 que cada um de nds veicula através de sua vida cotidiana, isto 6, as significagdes pré-formadas — TT Gh Le Métior do sociologue do P. Bounoteu, JC. CHAN BOREDON @ J.-C, PASSERON, Mouton-Rordas, 1968, pp. 87ss., . 18 Cf, 1870-1970. Le centenaire do La Psychologie anglaise contemporaine de Théodule Ribot. Cent ans de Psychologie scien tifique ou le Psychologue uu malconfort”, de D. HAMELINE, em Bull. de Peychologie 1910-1971 — 289, XXIV, 6-6, p. 242, | 4 Cf, Conduites ot Conscience de R, Zazzo, Delachaux et Niestlé, 1968, t, II, Prefacio, p. XI. 20 Artigo citado, p. 246, Digitalizado com CamScanner 28 A FiLosoria pas Crfncias Soctais pelas determinagdes s6cio-econémicas mediatizadas pelo discurso singular de nosso inconsciente, Assim, 0 psicdélogo traz em si um Tival de que nao pode prescindir: trata-se, segundo a bela expressao de Merleau. Ponty, “deste mundo antes do conhecimento, de que sempre fala 0 conhecimento e em relacio ao qual toda Geterminacao cientifica é abstrata, ‘sinalativa’ e depen- dente, como a geografia em relacio a paisagem em que aprendemos antes o que é uma floresta, uma pradaria, um rio”, Em Suma, a_especificidade da_ psicologia ¢ ameacada, nao Somente pela heterogeneidade de_suas origens e de seu campo de investigacdo, mas também, € sobretudo, pela da propria linguagem do psicdlogo. Contudo, essas ameagas foram percebidas, denuncia- das e, até certo ponto, superadas. Com efeito, para se evitar esse duplo perigo, varias solugdes foram propos- tas, e isso, em diregdes diferentes: 12°) Antes de tudo, as que procuraram assegurar a especificidade da ciéncia psicolégica determinando a unidade e a autonomia de seu dominio, quer corrigindo e aprofundando a nocio watsoniana de comportamento, quer enfatizando sua natureza evolutiva e sua finalidade. 2°) Aquelas que, recusando-se a reconhecer esta unidade e esta autonomia do dominio psicoldgico, acreditaram, pelo contrario, des- cobrilas no nivel da implicacio ideolégica do projeto psicoldgico; em outras palavras, no sentido sui generis da perspectiva do psicdlogo. 8.) Aquelas que, invocando a necessidade de completar e de melhorar a nogaio de comportamento, percebem ao mesmo tempo a necessi- dade de se fazer apelo a uma nova metodologia cuja aplicacio — a dinamica propria — bastaria para fundar a autonomia do processo cientifico do psicdlogo, ao mes- mo tempo que para assegurar sua colaboracéo com as outras ciéncias. 4.") Enfim, aquelas que, aceitando a plu ralidade dos campos diversificados da psicologia, clesco- brem sua unidade e sua especificidade na organizagao € na estratificagio interna desses campos, “em corres pondéncia com as sucessivas emergéncias do Espirito cientifico”. A primeira tendéncia 6 a mais difundida e, histor camente, a mais ldgica. Com efeito, ao definir a psico % Phénoménologi de la Perception, Gallimar cap. IM, citado por D, Hameline, ef. art. cit, p. interiorizadas ¢ 1945, 28 parte, a. Digitalizado com CamScanner A PSICOLOGIA 29 | logia como ciéncia do comportamento, e reduzindo este a uma soma de pares elementares estimulo-resposta (S-R) rigorosamente descritiveis em termos fisicos ou quimicos, Watson foi o primeiro a conseguir, embora imperfeitamente, realizar uma unificagéo objetiva do | campo psicolégico, de tal sorte que seu estudo pode | revestir um cardter positivo. Todavia, como jé indicamos | anteriormente, esta unificagiio e esta Objetivagao reali- ; Zam-se com a ajuda de postulados ilegitimos, de exclusi- vas e de redugdes radicais que tornam sua conducaio | bastante penosa e estéril. Assim, em primeiro lugar, como observa D. Deleule, 9 behaviorismo ¢ tributdrio da mesma problematica que a de Ribot, e que rege toda a psicologia moderna: com efeito, de onde ele tira sua legitimidade, “senéo da von- tade — por sinal, pouco justificada — de declarar como cientifica uma atitude de espirito que utiliza técnicas cuja validade cientifica repousa numa problematica comple- tamente diferente”? Ao invés de constituir um objeto novo, verdadeiramente especifico, a psicologia watsonia- na.contenta-se em retomar 0 mesmo objeto jd estudado pelo bidlogo, mas estudando-o, nao mais do ponto de vista essencial, mas fenomenal. Por conseguinte, diz De- leule, “nao €é o ‘fenédmeno psiquico’ que adquire aqui sua especificidade; antes, é a psicologia moderna que. ataca © ‘fenémeno psiquico’ a partir de pressupostos metodo- i6gicos que contribuem para liquidar a especificidade eventual do objeto psiquico” Ademais, a recusa watsoniana de recorrer & “expli- : cacao” fisioldgica, enquanto ela se refere ao inobservavel (isto 6, ao trajeto entre o estimulo e a resposta), ao elementar (entre o fisioldgico e o psiquico, a diferenga seria apenas, segundo Watson, a da parte em relacio ao todo), e enquanto ela é inferida a priori, levou-o a subestimar o papel do sistema nervoso e, por isso mes- mo, a desacreditar as conclus6es de seus préprios tra- balhos. Nao se pode deixar de sorrir diante desta decla- racgio de Watson: “H perfeitamente possivel, para alguém que estudaria 0 comportamento sem nada saber sobre 0 sistema nervoso simpatico e sobre as glandulas e os miusculos lisos, e mesmo, sobre o sistema nervoso cen- tral, escrever um estudo inteiramente completo e exato 22 D, De.eute, La Psychologic, mytho scientifique, Laffont, 1969, pp, 60-61. Digitalizado com CamScanner 30 A FILOSOFIA DAS CifinciAs Sociaiy sobre as emocdes” **. Pavlov demonstrou magistralmen © absurdo dessa posigéo de Watson, numa polémica ee um de seus discipulos, Lashley, que pretendia estudar condicionamento sem remontar & atividade nervosa, Fe lizmente, a descendéncia watsoniana soube Tetificar 5 erro do mestre e retornar a uma apreciacéo correta da contribuigdo da fisiologia. Por outro lado, a recusa watsoniana da consciéncia como objeto de estudo ou conceito explicativo, se permj. tiu & psicologia no descambar para as ficgdes do egocen. trismo ou para as elucubragGes verbosas e incontrolaveis de um introspeccionismo ilusdrio, nem por isso deixa de revelar, como toda negag&o, uma secreta dependéncia em relagio Aquilo que nega, isto 6, ao espiritualismo. Como justamente observa R. Zazzo, “o vicio oculto do behavio. rismo, que esté na origem de seus excessos como de algumas de suas conseqiiéncias remotas, consiste, no fundo, em desconfiar da alma e, portanto, provavelmente, em ainda crer nela de certa forma”**. Isso pode ser verificado, de certa maneira, nos prolongamentos do behaviorismo, quer em Tolman, quer em Weiss, onde todo conhecimento se dissolve numa linguagem formali- zada. “Tendo partido de uma negacaio da consciéncia”, diz Zazzo, “o behaviorismo, sob sua forma mais rigorosa, chega a uma negacéo do mundo. Paradoxalmente, 0 obje- tivismo chega a uma negagéo do objeto, a um novo solipsismo. O objetivismo absoluto coincide com um subjetivismo absoluto que, de modo estranho, Jembra..- o imaterialismo de Berkeley” **. Por outro lado, a recusa behaviorista da consciéncia impediu igualmente, como todo o mundo sabe, toda inteligibilidade da significaga0 dos comportamentos propriamente humanos e, especial: mente, sociais. . & por isso que Janet, por sua vez, julgou necessario distinguir, ao lado do comportamento animal elemental, a Peychology from the Standpoint of View of a Behaviorish PAM De fato, como observou Zazzo, houve duas etapas: emt 191) (Psychology as the Behaviorist Views It), a consciéncia 6 coloca entre parénteses, como a instrospeegio, Em 1919 (Psychology fr, the Standpoint of View of a Behaviorist), cla pura e simplesmes, negada como o ultimo despiste da alma. Cf, R. Zazzo, Conduiles comselenes, tT, PP. 18-19, Delachaux et Niestlé, 1968. » Pe 26 Ibidem. Digitalizado com CamScanner A PSICOLOGIA 31 no sentido watsoniano, essencialmente traduzivel “na linguagem dos fatos exteriores”, uma “conduta” humana de natureza mais complexa, na qual intervém a cons- ciéncia. “Para se aplicar as condutas dos homens a psico- logia do comportamento”, escreve, “é necessdrio nao so dar um lugar a consciéncia, mas ainda consideré-la como uma complicagéo do ato que se acrescenta as condutas elementares, sem se esquecer, na descrigéo dessas condu- tas, de suas formas superiores, como a crenga. Pode-se designar esta psicologia pelo nome de ‘psicologia da conduta’*?, Portanto, a psicologia da conduta é ‘uma forma ampliada e superior da psicologia do comporta- mento’” 5, Assim, 0 dominio da psicologia encontra-se hierarquizado em niveis, segundo uma complexidade crescente da agio observada, em fungio da riqueza das significagdes de que ela é portadora. Neste sentido, a linguagem constitui uma agio particular mais complexa, ao mesmo tempo externa, enquanto desencadeia reagdes nos outros, e interna, enquanto determina reagdes no proprio sujeito. Contudo, essa hierarquia se exprime nao somente pela complexidade das formas psicolégicas observadas, mas também por seus graus de tensdo, asse- gurando a fungéo do real em todo individuo, isto 6, © cardter mais ou menos consciente de seus atos, © pelo lugar na evolugdo onto e filogenética do psiquis- mo”, Em outros termos: Janet substitui a especifici- dade monolitica da psicologia behaviorista, fundada n2 unidade formal vazia do conceito de comportamento, por um campo psicoldgico diversificado e articulado segundo o triplice critério da complexidade qualitativa, da tensdo e da génese. Donde o privilégio conferido, do ponto de vista metodoldgico, a observacado sobre a expe- rimentagio e, especialmente, ao estudo psicopatoldgico e genético. « ® Infelizmente, o valor das observagGes de Janet Rail tamente reside mais”, como observa P. Greco *, “na I Baa lidade do autor do’ que nas virtudes de um método preciso”. Por outro lado, seus dados genéticos, eee wan etnoldgicos ou antropoldgicos, estéo sujeitos a Seat Pas mesma forma como o estao suas referéncias biofisi 2% Etude philosophique, 1946, p._ 86. 2 De PAngoisse a UExtase, 'p. 205. 20 Les Névroses, 1909, pp. 360-363. 30 Op. cit., p. 963. Digitalizado com CamScanner 32 A FILosoria DAs CiANCIAS Soctayy gicas, quer A teoria da hierarquia funcional de J. H. Jack. son, quer & das tensdes e da forga psicolégica que tém “um cardter_ mais metaférico do que operacional oy explicativo”, Para produzir todos os seus frutos, a psico. logia da conduta proposta por Janet precisa, pois, ser consolidada_e completada. 0 que exatamente tent, realizar D, Lagache, ao mesmo tempo fildsofo e médieo como Janet e, como ele, mais particularmente preocupado em observar as condutas patoldgicas do que em discer. nir-Ihes 0 sentido". Mas este interesse pelo aspecto sim. bdlico de toda conduta, como ele proprio diz, pelo “comportamento enquanto significativo” (interesse her. dado, deve-se notar, tanto da fenomenologia quanto da psicandlise) acha-se contrabalanceado e, de certa forma, equilibrado pelo conhecimento licido, embora pondera. do, da contribuigéo do rigor do método experimental e dos dados objetivos da psicometria ou da psicotécnica, Donde sua vontade de ultrapassar a oposigéo das duas correntes doutrindrias do “naturalismo” e do “humanis- mo”, como representando duas maneiras de trabalhar, as do experimentalista e do clinico que, longe de se contradizerem, completam-se e fazem apelo uma & outra: a primeira, submetida aos imperativos do rigor quantita- tivo e da generalidade das leis; a segunda, preocupada com 0 esmero qualitativo da observacéo dos casos indi- viduais. Desta forma, D. Lagache pretende descobrir a unidade e, por isso mesmo, a especificidade da psicologia no objeto mesmo a que se aplicam esses dois métodos complementares: ao integrar na nogéo de comportamen- to watsoniano as novas categorias de “sentido” e de “tenséo” transmitidas pela prdtica psicanalitica e pelo ensinamento freudiano, bem como a de “totalidade”, evidenciada pela Teoria da Forma, ele define a psicologia como “ciéncia da conduta”. Com efeito, para ele, a con ae é “o conjunto das respostas_significativas_através das quais o ser vivo, @1 i fio, integra_as tensdes oe ame id ibrio do organismo”*, Um ma _unidade eo equi 0” pouco mais tarde, em 1952. 958, em seus cursos na Sol % Convém, no entanto, observarmos aqui que D. Laguche : psicanalista e, como tal, inscreve-se na linha freudiana, de que Janet foi, como todo o mundo sube, um ferrenho rival, reivindicativo ¢ inabilidoso, D. Lagache 6 : cingio Psiet alien a Pea eaeache & um dos tundadores da Associngto a2 L’Unité de la Peychologie, p, 51. Digitalizado com CamScanner

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