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sa104i2023, 14:35, CColuna | Contrbuigsas para pensar a cidade a parr | Brasil de Fato INICIO > COLUNISTAS > COLUNA Contribui¢g6es para pensar a cidade a partir de uma perspectiva de género swgnmiy 01 de Abril de 202285 13:42 Diante de um ambiente predominantemente masculino, a crescente incidéncia de mulheres nao foi isenta de contradiges e tenses - Tiago Zenero/PNUD Brasil Frente 4 demanda a sociedade civil organizada tém conseguido dar respostas aos problemas emergentes SHARES hitps:twivn brasilefato.combr!2022104/0 t/contbulcoes-para-pensar-2-cdade-a-parti-de-uma-perspectiva-de-genero wn sa104i2023, 14:35, CColuna | Contrbuigées para pensar a cidade a parts | Brasil do S2SCHILiaL Pala @ LULIDLLUZAY UE UE LULULY CULE UIgIUAUE © JUSLIZa >ULVESpaLial. Destaca-se que a presente reflexao é desenvolvida no contexto da pandemia da covid-19, a qual jogou luz e aprofundou as desigualdades no espaco urbano, em especial nas cidades latino-americanas. A crise sanitaria e de bem-estar evidenciou uma série de dificuldades e desafios vividos no cotidiano das cidades, ligados & divisdo sexual do trabalho e a relacdo entre atividade produtiva e reprodugao da vida, no fornecimento de bens e servicos, cuidados, armazenamento, educacao, transporte e mobilidade. A pandemia exigiu também uma nova organizacao do espaco piiblico e privado, forgando o estabelecimento de novas relacdes desses espacos entre si, e da populacao entre essas. duas esferas, que tiveram suas fronteiras borradas. Na pratica, o contexto pandémico significou a sobrecarga de trabalho para as mulheres, especialmente as de menor renda, que além do trabalho remunerado e das tarefas de cuidado que jé realizavam, passaram a se responsabilizar pela familia em tempo integral. Metade das gestaées registradas anualmente no mundo sao indesejadas, diz agéncia da ONU Conforme explicitam as pesquisas desenvolvidas, a divisio sexual do trabalho se materializa nos espacos da casa e da cidade e implica na crise do cuidado, relegando este trabalho a esfera doméstica e individual. Tal condigao agravada na cidade, desde o inicio da Revolucao Industrial, a qual trouxe a estrutura da fabrica para o urbano e separou os espacos de acordo com as fungées de morar, trabalhar, ter lazer e circular, sendo reproduzida até hoje. Separou também 0 trabalho reprodutivo, que ficou no 4mbito doméstico, do trabalho produtivo, que deveria ser realizado no espaco piiblico, cabendo o primeiro as mulheres, eo segundo aos homens. Essa separacaio tem consequéncias negativas na qualidade de vida e na vida cotidiana de todos os habitantes, mas especialmente das pessoas que realizam as tarefas de cuidado, que ainda hoje sio majoritariamente atribuigées de mulheres. Em 2019, as mulheres brasileiras dedicaram em média 21,4 horas semanais para 0 trabalho reprodutivo nao pago, enquanto estas atividades tomaram apenas 11 horas semanais do tempo dos homens. Na Argentina, as mulheres executam mais de 75% do trabalho doméstico nao remunerado e dedicam em média 6,4 horas didrias ao trabalho doméstico, realizado por 88,9% da popula¢ao feminina do pais. Por outro lado, apenas 57,9% dos homens participam deste trabalho no pais, dedicando em média 3,4 horas diarias. :: No Distrito Federal, mulheres dedicam a trabalhos domésticos quase 10 horas a mais SHARES hitps:twivn brasilefato.combr!2022104/0 t/contbulcoes-para-pensar-2-cdade-a-parti-de-uma-perspectiva-de-genero an sa104i2023, 14:35, CColuna | ContrbuigSes para pensar a cidade a parr | Brasil de Fato Cuuauy Hay 9 HHILaNE aU e9payy WUIIESULU, AU LoHLanU, HpHLatt E11 Wit deslocamento complexo e acompanhado no espaco da cidade, e demandam espacos coletivos de realizacao. Se os homens costumam transitar apenas entre a casa e 0 trabalho, as mulheres, por exemplo, levam os filhos na escola antes de ir trabalhar e Passam no comércio na volta. Assim, a perspectiva de género é capaz de apontar os limites do urbanismo desenvolvido na sociedade capitalista atual, que privilegia espacos e atividades ligados 4 produgao e associados ao masculino, em detrimento daqueles relacionados as tarefas reprodutivas ligadas ao cuidado e associadas ao feminino. Além das limitacées materiais provocadas pela compreenso de que os espacos piiblico e politico pertencem aos homens, também as dimensées simbélica e politica so afetadas, na medida em que as mulheres sentem medo de percorrer os espacos ptiblicos, nos quais sao vitimas de violéncias, como o assédio sexual, e sao privadas ou limitadas da participacaio de espacos de poder e tomada de decis’io. No Municipio de Curitiba, alguns dados apontam para a existéncia dessas limitacées, como o fato de 73% das curitibanas terem medo de andar sozinhas pelas ruas, especialmente A noite, e de apenas 8 das 38 cadeiras na Camara Municipal de Curitiba serem ocupadas por mulheres. A exclusio, portanto, nao é apenas material, mas também simbdlica e politica. :: Nas ruas de Sao Paulo, 88% das mulheres relatam aumento do assédio e da violéncia Nesse sentido, tomar género como categoria de analise permite a visibilizagao das desigualdades, mas também a acao politica de transformagao, trazendo contribuicdes das epistemologias feministas em relagao a perspectiva situada, considerando o contexto de produgao das cidades, bem como as ¢ os sujeitos que o produzem. Na metrépole de Tucuméan, a partir de pesquisas recentes que permitem identificar varidveis censitarias associadas vulnerabilidade — cuidado/mulher chefe de familia/presenga de criangas e idosos -, percebe-se como as mulheres da periferia urbana e, particularmente, em alguns munic{pios do leste, esto tensionadas. Essa tensdo acentua-se para as chefes de familia de menor renda e com maior presenca de menores, em regides com baixo acesso a servigos e equipamentos piiblicos e pouca disponibilidade de infraestrutura urbana, que dedicam maior tempo de suas vidas as tarefas de cuidado. Além disso, os padrdes de mobilidade das mulheres mostram que elas fazem mais viagens a pé e de transporte piiblico. No Municipio de Curitiba a territorializagao da desigualdade de género evidencia dois perfis distintos de mulheres chefes de familia. Nas proximidades da area central, uma SHARES hitps:twivn brasilefato.combr!2022104/0 t/contbulcoes-para-pensar-2-cdade-a-parti-de-uma-perspectiva-de-genero a sa104i2023, 14:35, CColuna | ContrbuigSes para pensar a cidade a parr | Brasil de Fato dl, reolueln a> UHEIES UE Lala UE valAg Lena © LUI fase da vida que demanda mais tempo voltado para as tarefas de cuidado, Ao contrario da area central, a regiao sul é caracterizada pela precariedade de infraestrutura urbana, servicos e equipamentos piiblicos, bem como das condigées de habitabilidade dos domicflios. A maioria dessas mulheres é branca, 0 que seria esperado considerando 0 perfil racial da populagao de Curitiba. Ainda assim, a significativa maioria das mulheres negras responsaveis por domicilio encontram-se inseridas nesse perfil, demonstrando como a desigualdade de género se articula com a segregacao social e racial no espaco urbano. i> LUNUS Ha pUEIL LaLa, Quero apoiar Aanilise das mulheres chefes de domicilio é também um indicador das mudangas socioculturais que apresenta uma tendéncia crescente. Em 1991, 22,4% dos domicilios na Argentina eram chefiados por mulheres, atingindo 27,7% em 2001 e 34% em 2010. Além disso, 70% eram chefes porque nao tinham companheiros, mas 30% encontravam-se nesta posicao por serem as que mais contribuiam com a renda para a casa. Em 2014, 0 total urbano de mulheres na condigao de chefes de domicilio atingiu 37% na Argentina e 34% em Tucumén, confirmando uma tendéncia regional. O Brasil, por exemplo, registrou em 2007 uma chefia feminina em 29,2% dos domicilios, a qual se elevou para 40,5% em 2015. Importante destacar que essa tendéncia é acompanhada pelo relativo empobrecimento das familias, uma vez que as mulheres esto inseridas principalmente em empregos precdrios e sio mais vulneraveis ao desemprego e ao subemprego. Soma-se a isso, no caso brasileiro, 0 avanco do modelo neoliberal de desinvestimento piiblico em politicas sociais, que afeta 0 acesso das pessoas ao cuidado e aumenta a carga de trabalho nao remunerado das mulheres. Em contrapartida, assumir o cuidado a partir de uma perspectiva ampla, nao como responsabilidade exclusivamente feminina, mas coletiva e viabilizada por uma cidade cuidadora que possibilita o cotidiano, nos leva a refletir sobre as estratégias de diferentes grupos sociais, da cidade como direito. Entende-se que a vida cotidiana é 0 conjunto de atividades que as pessoas realizam para satisfazer suas necessidades nas diferentes esferas da vida, que incluem tarefas produtivas, reprodutivas, pessoais e politicas ou comunitarias. Essas atividades sao realizadas em um meio fisico (bairro, cidade, territério) e consomem um determinado tempo, constituindo “infraestrutura sare _a-stidacotidiansal SHARES hitps:twivn brasilefato.combr!2022104/0 t/contbulcoes-para-pensar-2-cdade-a-parti-de-uma-perspectiva-de-genero a7 sa104i2023, 14:35, CColuna | ContrbuigSes para pensar a cidade a parr | Brasil de Fato Anuiuetes, © PUL HIEIU UE HELaILIsHIUS UE UaLAU pala Lita CoHpuLueHt ula satu alternativa as emergéncias que surgem no cotidiano e nas escalas de proximidade. Também experiéncias em bairros que, a partir do atendimento das necessidades praticas decorrentes de seu papel de mulher, subvertem ao mesmo tempo papéis definidos para mulheres ¢ homens e tendem a uma maior equidade. Essas experiéncias consideram as tarefas didrias que as pessoas realizam, além de outras caracteristicas, como diversidade funcional, origem ou nivel de renda das pessoas. Durante a realizacao das atividades da disciplina “Desigualdades de Género, Cidade e Politicas Piblicas” na Universidade Federal do Parana (UFPR), foi possivel visitar duas dessas experiéncias: a Bicicletaria Cultural, localizada no Centro de Curitiba, e a Associacao de Moradores da Vila Joanita, localizada no bairro Taruma. Com dinamicas, insergdes urbanas, funcées e compartilhamento de responsabilidades diferentes, ambas trazem solugdes a demandas cotidianas coletivas, que podem alimentar politicas publicas. J4 em Tucumén, aponta-se como exemplo a aco das cozinhas comunitérias, assim como centros de atengo as violéncias, como estratégias de acao coletiva sustentadas durante a pandemia e vinculadas 4 acdo estatal. Importa destacar que essas iniciativas nao eximem o Estado de sua responsabilidade em trazer solugdes as demandas cotidianas e de cuidado, pelo contrario, marcam a importancia da construgo de uma agenda piiblica compartilhada. Acreditamos que a capacidade de tracar caminhos e a construgao de uma agenda publica para nossas cidades supée a contribuicao essencial da construcao coletiva de ideias, nogGes e formas de vivenciar conflitos. Nesse sentido, destaca-se ainda nossa responsabilidade enquanto comunidade académica em contribuir para essa construgao, no que diz respeito a insergao da questo de género nos debates e para seu embasamento tedrico. Além de inseri-la no campo das pesquisas, evidenciamos os desafios emergentes de interpretagdo e compreensao sobre a questdo de género no quadro disciplinar (projeto e planejamento urbano). As areas de formagao, construgao de conhecimento e pratica profissional de arquitetura, urbanismo e design sao atualmente desafiadas por novas demandas no contexto nacional e regional. Diante de um ambiente predominantemente masculino, a crescente incidéncia de mulheres nao foi isenta de contradigdes e tensdes. sem ir mais longe, embora seja possivel registrar contribuicdes desde o final do século XX, nesta segunda década do século XXI convergem processos que dao origem e demandam a construcao de novos paradigmas interpretativos, novas questées para essa mudanga de época. SHARES hitps:twivn brasilefato.combr!2022104/0 t/contbulcoes-para-pensar-2-cdade-a-parti-de-uma-perspectiva-de-genero sa104i2023, 14:35, CColuna | Contrbuigées para pensar a cidade a parts | Brasil do Cueiayay SeAUA! © IICHEIUAUES UE BEHELY, UVa apEHIUAS UE LIVEISUaUE © EopayL, intersecsio das escalas de corpo, casa, bairro e cidade, entre outros temas que merecem igual atengao e precisam ser explorados tanto na academia como no desenvolvimento de politicas piblicas urbanas, rumo a territérios mais equitativos e sustentaveis. *Natalia Czytajlo - Professora e pesquisadora do Observatdrio de Fenémenos Urbanos e is da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (Universidade Nacional de Tucumdn); Elisa Siqueira - Mestranda em Planejamento Urbano (UFPR) e pesquisadora do Observatério das Metrépoles Nicleo Curitiba; Kamila Silva - Mestranda em Planejamento Urbano (UFPR) e pesquisadora do Observatério das Metrépoles Niicleo Curitiba Territoric **No marco da parceria e da trajetéria de trabalho conjunto desenvolvido desde 2012, entre grupos de pesquisa da Universidade Federal do Parand (UFPR) - Brasil e da Universidade Nacional de Tucumdn (UNT) - Argentina, este artigo faz parte das atividades desenvolvidas em Curitiba pela Profa. Natélia Czytajlo no dmbito do Projeto CAPES Print “Espao, sociedade e desenvolvimento: desafios contempordneos”, coordenado pela Profa. Olga Castreghini de Freitas na UFPR. Além disso, incorpora resultados do trabalho da disciplina “Desigualdades de Género, Cidade e Politicas Piiblicas”, ministrada pela pesquisadora junto aos Programas de Pés-Graduagdo em Geografia e de Planejamento Urbano da UFPR. ***Hd mais de 20 anos o INCT Observatério das Metrépoles vem trabalhando sobre os desafios metropolitanos colocados ao desenvolvimento nacional através da sua rede de pesquisa, organizada em 16 nticleos regionais. No contexto da atual crise econémica, social e sanitdria, suas respectivas consequéncias presentes e futuras podem ser elementos mobilizadores para a construgdo de uma contra narrativa progressista e redistributiva para 0 pats, Esta coluna se relaciona com os esforcos atuais da nossa rede de reflexdo e incidéncia sobre 0 tema, a partir do projeto "Reforma Urbana e Direito a Cidade nas Metrépoles". Leia outros artigos aqui. Este é um artigo de opinido. A visdo do autor nao necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato. Edicdo: Vivian Virissimo SHARES hitps:wivn brasiiefato.combr!2022104/0t/contbulcoes-para-pensar-2-cdade-a-parti-de-uma-perspectiva-de-genero sa104i2023, 14:35, CColuna | ContrbuigSes para pensar a cidade a parr | Brasil de Fato Todos os contetidos de produc reproduzidos, desde qui va ¢ de autoria editorial do Brasil de F alterados e que se deem os devidos hitps:twiwn brasiiefato.combri2022104/0t/contibulcoes-para-pensar-2-cade-a-parti-de-uma-perspectiva-de-genero a

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