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Aula 28 - Direito Civil Desenhado - Pessoa Jurídica VII (Degravação)
Aula 28 - Direito Civil Desenhado - Pessoa Jurídica VII (Degravação)
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DIREITO CIVIL
Direito Civil Desenhado – Pessoa Jurídica VII
mado “Salomon x Salomon Company”. Salomon era dono de uma pequena empresa que
produzia botas de couro e resolveu limitar a responsabilidade de sua empresa sobre seus
bens, de acordo com as companies acts de 1984 (legislação do momento). Ele colocou seus
5 filhos e a esposa como sócios da empresa, pois a lei da época exigia a participação de pelo
menos 7 sócios para se criar uma empresa. Em seguida, ele emprestou dinheiro para a pró-
pria empresa e se colocou como credor principal tendo, portanto, prioridade no recebimento
da dívida. O grande comprador de seus produtos era o governo britânico, porém sua empresa
foi mal nos anos seguintes e passou a comprar de diversos fornecedores. Então, um admi-
nistrador local foi designado para liquidar os bens e pagar os credores. Entretanto, o credor
principal era o próprio Salomon. Verificou-se que os credores não receberiam os valores cor-
respondentes, já que os bens da empresa não seriam suficientes para pagar o primeiro credor
(Salomon). Em 1895, a Corte britânica recebeu o caso para então decidir a desconsideração
da personalidade jurídica e assim começaram as discussões sobre o tema. Os juízes abriram
o manto da PJ e atingiram o próprio Salomon para poderem liquidar seus bens e pagar todos
os credores.
Tem-se, então, uma questão temporária, conforme mencionado anteriormente. A empresa
vai continuar e não será despersonificada, ou seja, não será extinta.
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Em resumo, trata-se de uma doutrina que pretende o afastamento temporário da persona-
lidade da pessoa jurídica com o objetivo de atingir o patrimônio pessoal do sócio ou adminis-
trador que cometeu o ato abusivo.
ATENÇÃO
Teoria intra vires societatis – quando o sócio pratica uma ação prevista e permitida no ato
constitutivo, vincula à PJ e é legal.
Teoria ultra vires societatis – quando o sócio pratica uma ação que não tem permissão no
ato constitutivo, não vincula à PJ e é nulo.
Enunciado 284, JDC: as pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos ou de fins
não econômicos estão abrangidas no conceito de abuso da personalidade jurídica.
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Esse tema também é tratado do Código de Processo Civil de 2015 como intervenção
de terceiro (art. 133 a 137) e pode acontecer em qualquer fase processual, ser de requeri-
mento do Ministério Público ou da parte que interessa e o sócio comporá o processo ao lado
da pessoa jurídica, no polo passivo. Ele também permite expressamente a desconsideração
inversa, ignorando o sócio no polo passivo para atingir sua empresa.
O artigo 50 do Código Civil foi alterado em 2019 e teve diversos parágrafos acrescenta-
dos, entre eles o que permite expressamente a desconsideração inversa.
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Isso não quer dizer que tal desconsideração só foi autorizada a partir de tal ano. O STJ
já havia liberado e o que houve foi apenas uma redação para deixar clara e expressa sua
existência.
Exemplo: Maria possui conhecimentos em Administração e, em um dado momento,
conhece João, fica apaixonada e se casa com ele. O casal resolve criar uma empresa e
crescer conjuntamente. A empresa vai muito bem e com isso eles têm condições de abrirem
outras, todas no nome do João. Ficam milionários e ele, então, resolve comprar apartamentos,
carros, helicópteros no nome da empresa. Com o passar do tempo, João arruma outra mulher
e dispensa Maria. Com a separação, na partilha dos bens, João declara que não possui nada
em seu nome, mas no nome da empresa. Para casos assim, a Justiça considera João como
réu e os bens adquiridos na constância do casamento devem ser partilhados, inclusive a pró-
pria empresa. Se tais bens estiverem no nome da Pessoa Jurídica, a Justiça desconsidera
João e ataca a empresa. Assim funciona a desconsideração inversa ou invertida.
No Direito Empresarial, também existe a desconsideração indireta, expansiva, que acon-
tece quando uma empresa maior é controladora de outras empresas menores, controladas.
As menores não possuem dinheiro para sanar dívidas, mas a maior sim, então se desconsi-
dera a controlada para atingir a controladora.
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CC, Art. 50.Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou
pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe
couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações
de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa
jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso.
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com
o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza.
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os patrimônios,
caracterizada por:
I – cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou vice-versa;
II – transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de valor pro-
porcionalmente insignificante; e
III – outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.
§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão das obrigações
de sócios ou de administradores à pessoa jurídica.
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata o caput
deste artigo não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.
§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original da
atividade econômica específica da pessoa jurídica.
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• Teoria menor: mais fácil de ser aplicada, contenta-se simplesmente com a demonstra-
ção de insolvência da pessoa jurídica; o prejuízo ao credor (requisito objetivo) – artigo
28 do CDC (REsp 744.107 SP). Também requerida pelo interessado ou MP em ação
judicial. Ela é aplicada em relações de consumo e questões ambientais.
CPC, Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido
da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo.
§ 1º O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os pressupostos previstos em lei.
§ 2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da personalidade
jurídica.
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Enunciado 282: o encerramento irregular das atividades da pessoa jurídica, por si só, não
basta para caracterizar o abuso de personalidade.
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Enunciado 284: As pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos (associações
e fundações) ou de fins não econômicos estão abrangidas no conceito de abuso da persona-
lidade jurídica.
Enunciado 285: A teoria da desconsideração, prevista no art. 50 do Código Civil, pode ser
invocada pela pessoa jurídica em seu favor.
Esse último enunciado deve-se ao fato de que, dentro da PJ, existem outros sócios que
podem, em nome da pessoa jurídica, requerer ao juiz que ataque apenas o sócio que cometeu
ato abusivo. Na prática, é a própria PJ pedindo a desconsideração da personalidade jurídica
para que apenas o sócio abusador responda pela ação cometida.
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2. A medida de defesa dos sócios é por embargo à execução, por serem réus. Significa
que, quando um processo atinge patrimônio de um sócio sem que haja a desconsideração,
então há um equívoco, pois ele não é um devedor. Assim, deve apresentar sua defesa por
meio de embargo de terceiros. Mas, se o sócio foi colocado devidamente no polo passivo,
então a defesa deve ser apresentada por embargo à execução.
O condomínio, por ser uma massa patrimonial, não possui honra objetiva apta a sofrer
dano moral.
Quando se fala em pessoa jurídica, normalmente ela pode sofrer dano moral, segundo a
Súmula 227 do STJ. O condomínio, entretanto, é um sujeito de direito sem personalidade jurí-
dica, ou seja, não é pessoa jurídica.
Existe a possibilidade de várias bancas começarem a cobrar esse julgado em específico,
de forma a indagarem se o condomínio pode sofrer dano moral. A resposta é NÃO, pois con-
domínio não é PJ.
A Corte Especial, por maioria, conheceu dos embargos e lhes deu provimento, sufragando a tese de
que, no caso das pessoas jurídicas sem fins lucrativos, de natureza filantrópica, benemerência etc.,
basta, como as pessoas físicas, a simples declaração da hipossuficiência coberta pela presunção
juris tantum para a concessão da Justiça gratuita. EREsp1.055.037-MG, Rel. Min. Hamilton Car-
valhido, julgados em 15/4/2009 –INFO 390/STJ
�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pelo professor Roberta Queiroz.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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