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3. Viver ¢ em $ Socieda wl 1. A vida familiar 2. A escola na sociedade do conhecimento 3. As organizagées - No final deste capitulo deverds ser capaz de: Suk on Rect} Cs shang ae BE ee na soledadecontempo- ce See eer Enter 0 138 Familia 1. Avida familiar 2. Rescola na Sociedade do conhecimento 1.1. 0 conceito de familia A familia, mais do que um fenémeno biolégico, € essencialmente um fenémeno social e o fundamento da organizagao de uma sociedade. Neste sentido, a familia consti. tui a instituigao social basica, sendo considerada um dos mais importantes pilares da sociedade A familia é @ mais antiga das instituigdes sociais humanas @ possui um earécter uni- versal, embora as formas de vida familiar variem de cultura para cultura e de geracao para geraedo. Por isso, alguns autores sugerem que se aborde o conceito no plural ~ familias dado que existe uma pluralidade de modelos familiares. Quando falamos de familia, podemos sentirnos tentados @ considerar a nossa como sendo 0 tipo “normal” € os outros como “menos normais” ou desviantes. Mas cada cul tura tem a sua concecao de familia e, mesmo na cultura ocidental em que vivemos, ela pode variar bastante. Como é constituida a tua familia? Que pessoas vivem contigo? E como sao as famflias dos teus colegas? Poderés rapidamente constatar que existem vérios tipos de familia e que nenhuma delas se pode considerar melhor ou pior do que as outras. Sao apenas diferentes Na base da constituigao da famflia, destacam-se trés tipos de necessidades humanas fundamentais, que explicam a universalidade do fenmeno familiar: ‘as necessidades de satisfacao sexual e reprodutiva; as necessidades de alimentacdo e seguranca; e a necessidade de afiliacdo e pertenca. A familia €, hoje, uma instituigao em mudanga. As estruturas, os modelos e as Vivencias familiares refletem as profun- das transformagées sociais, econémicas € tecnolégicas, assim como ao nivel das mentalidades e dos valores. Explicar as profundas alteragdes associadas a vida familiar nas socieda- des contemporaneas € refletir sobre as diferentes consequéncias sociais e eco- némicas desta evolugao serao alguns dos nossos objetivos centrais. A Fira 1 Aualmerte, eis € una institu do esteada ras ia formas que agus oes sugerem que fled cnc ro plural. 4, Sob @ orientacdo do professor, debate com os tous r cl cus Oley a tua famia? daintes questies: 1.4. Como € constituida Na estrutura dos grupos familiares distinguem-se dois tipos de relagdes bdsicas entre 205 Seus membros: a relagao de descendéncia ou consanguinea e a de unido ou afinidade. issim, no primeiro caso temos os filhos, os irmaos, os pais € os avés, enquanto no segundo temos 0S cOnjuges, 0s cunhados, os sogros e os enteados. 140 — Médulo 3 - Viver em Sociedade Conceitos elementares sobre a familia «Uma Familia 6 um grupo de pessoas unidas diretamente por lagos de parentesco, no qual og adultos assumem a responsabilidade de cuidar das eriangas. Os lagos de Parenteseo sao rela- Wes entre individuos estabelecidas através do casamento ou por meio de Tinhas de descendéncia que ligam familiares consanguineos (mies, pais, filhos ¢ filhas, av6s, etc.). O Casamento pode ser definido como uma unio sexual entre dois individuos adultos, reconhecida ¢ aprovada socialmente. Quando duas pessoas se casam, tornam-se parentes; contudo, 0 casamento une também um niimero mais vasto de pessoas que se tornam parentes. Pais, irmaos ¢ outros fami- liares de sangue tornam-se parentes do outro conjuge através do casamento.» Anthony Giddens, Sociologia, Fundagdo Calouste Gulbenkian, 2004, 4 edicgo Familia nucear Em quase todas as sociedades podemos identificar a chamada familia nuclear, consti- tuida por dois adultos de sexo diferente que vivem maritalmente, numa relagao reconhe Cida e aprovada socialmente, com os seus filhos biolgicos e/ou adotados. Quando com estes elementos vivem outros parentes (tios, sobrinhos, avés...), fala-se de familia Famfiaextersa ——_extensa. 1. Distingue familia extensa de famfia nuclear. Ja referimos anteriormente que, nas sociedades ocidentais, as familias ‘S30 monogami- 2s, ou seja, cada pessoa s6 pode ser casada com uma outra num dado momento. Nou: ‘tuas sociedades, porém, pratica-se a poligamia, 0 casamento de uma pessoa ‘com duas ou mais pessoas. Quando um homem é casado com mais do ‘due uma mulher, estamos perante a poliginia, 0 tipo mais comum de poligamia. Mais rara llandria, quando uma mulher é casada com mais do que um homem Selena Como ja foi referido, 0 modelo de familia considerado ideal em ca toria @ em cada sociedade néo assumiu sempre a sua forma mais pu formas diferentes de organiza¢ao familiar. Apesar disso, 6 possivel en regularidades e, acima de tudo, analisar a evolugao dos valores, atitud tos historicamente assoclados a esta instituicao. E neste pressupost seguida, em tracos muito gerais, uma contextualizagde histérica do processo dé ‘A fama anterior & Revoluedo Industrial era vasta em termos de estrutura, de fung Estrutura familiar de hierarquias. Ao nivel funn levado de fllhos — consi um fator de prestigio entre as clas 142 Médulo 3 - Viver em Sociedade obedece a um ertério de escolha pessoal, guiado por nor.» e-em que ¢ valorizada a sexualidade. Homem @! es posigdes, tarefas © autoridade na famfia: a! o home sai pare wabanar, ¢o/ criagao dos filhos. 0 casamento mas de afeigao ou de amor romantic mulher, marido e esposa tém diferent z mulher encarregase dos filhos ¢ das tarefas domésticas, “ganhapao”. f Em meados do século XX, estava jé generalizado 0 sentimento de que a familia é ~ oy deveria ser — um mundo privado de realizagao pessoal. A familia em mutagiio «A familia atual ja nao corresponde ao esquema tradicional enaltecido pela sociedade industrial. As geragGes ja nao coexistem sob 0 mesmo teto, e a importancia da autoridade paterna decresce & medida que se impée a afetividade como valor essencial. Nao existe desagregacao, mas a mutagio profunda da familia que, nao se limitando a um modelo unico, antes se desdobra em diversas modalidades de que nao tinhamos, até agora, nenhuma experiéncia. As transformagdes do nosso século modificaram profundamente o tecido social. (...) O emprego das maes, por exemplo, retira-lhes tempo para consagrar a familia. (...) Como corolario aparece 0 novo pai, mais & vontade nas tarefas que, outrora, eram estritamente da alcada da mae, como 0s cuidados prestados ao bebé.» ‘Jean-Pierre Pourtos, Hugutie Desmet e Christine Barras, “Edueagio Familiar ¢ Parental’, in Inovagdo, vol 7, 1994 arr om A partilha da socializagao por varios agentes Pos e noutras sociedades. Com muito maior importancia surgiram, fora do ambito da unida que a familia oferece. Embora, em muitos casos, as fungdes 1.3. Tipos contemporaneos de familia A familia nuclear foi atrés descrta na sua forma mais tradicional: uma famfia consti- {ida por dois adultos de sexo diferente que vivem maritalmente com og seu fihos biol6. sicos €/ou adotados. No entanto, hoje em dia, encontramos diversos th enfl como terds verificado no breve inquérito realizado na tua turma, pee Vamos entao conhecer melhor 08 novos tipos de fami it ia que tém surgi des ocidentais nas vitimas décades, ue tém surgido nas socieds- a. Avica feriiar 144 criangas cedo comegavam a traba- thar e a contribuir para o sustento da famfia ~ era apenas contrariado Pelas elevadas taxas de mortalidade infantil. No grupo familiar conviviam Varias famflias nucleares de duas ou {és geragdes: os pais, os filhos sol teiros, os filhos casados e os respe tivos cénjuges e filhos. A residéncia era comum ou préxima, as ativida- des comuns e as relagdes frequen- tes. A familia detinha fungdes econd- micas (todos trabalhavam para um patriménio comum), de seguranga (em caso de velhice, doenca ou cui- dado das criangas), educativas (responsavel pelas socializacdes priméria e secundaria dos seus ele- mentos) e religiosas (a religiao sacralizava 0s principals momentos familiares e a familia perpetuava crengas e rituais atra- vés das geragdes). ‘a2 Na fama tcicional todos abalharam par um painénio comum, Nstafotgafa, vemos uma faa propa de uma chapelana, Além disso, @ sua hierarquia era rigida, baseada nas diferengas sexuais, de idade e de geragao: as mulheres estavam subordinadas aos homens, os jovens aos mais velhos € 0 elemento com mais autoridade na familia era o homem mais velho — 0 anciao. Este tipo de familia acolhia 6 individuo ao longo de toda a sua vida: era criado nela @p6s 0 nascimento, nela era preparado para o trabalho e 0 casamento, depois de casado era controlado nos seus papéis de marido ¢ pai, e poderia mais tarde controlar ele préprio a geragao seguinte do mesmo modo. A mulher gozava de um estatuto muito baixo: da alcada do pai enquanto solteira mudava para a do marido ao casar e, em caso de viuvez, passava a responder perante o {iho mais velho. 0 seu estatuto sé aumentava na proporgao direta do numero de filhos ue conseguisse ter. A Revolugao Industrial do final do século XVIll trouxe uma série de transformagées. AS populagdes abandonam as localidades rurais e migram para as cidades, para junto das fabricas onde passam a trabalhar, e esta autonomia de residéncia (0 facto de os indi Viduos passarem a viver longe das suas familias) torna invidvel o velho sistema familiar, Com isso, perdem-se nao 6 a estrutura hierdrquica como também os servicos Mituos. A forma de constituigao dos casais alterase: cessa o controlo familiar e passam @ dominar as preferéncias pessoais (a0 invés das patrimoniais) na escolha do conjuge. © Peso da aprendizagem dentro da familia diminui, assim como 0 controlo dos mais Velhos e dos parentes sobre 0 individuo. A escassez de espago nas cidades impede a Fsidéncia conjunta de muitos familiares ¢ limita o ntimero de filhos. Estes deixam de ‘Onstituir um fator de riqueza (mao de obra) para os pais, que, por seu lado, jé nao podem ‘ontar com a ajuda dos parentes na sua criagao. A familia tradicional vé-se, assim, substitulda pela familia conjugal ou nuclear, unida Por lacos emocionais, com um alto grau de privacidade doméstica e preocupada com a 144 — Médulo 3 - Viver em Sociedade Familias recompostas Familias recompostas 0s segundos casamentes esto relativamente generalizados na nossa Sociedade © pos dem acontecer em varias circunstancias, obedecendo a diferentes combinagdes possiveis, ! Uma situacao 6 o segundo casamento entre pessoas jovens que ndo trazem filhos doz anterior casamento. Outra inclui a existéncia de filnos de casamentos anteriores que vem! viver num novo agfegado com 0 novo cOnjuge. Por outro lado, numa idade mais tardia, estes filhos podem existir mas néio acompanharem os pais no Seu novo agregado familiar, tornando-se auténomos. Por tltimo, este novo casamento pode gerar filhos. Quanto situagao dos noivos, um deles pode ter sido soltelro, casado ou vitivo. No inicio do século XX, a maioria dos segundos casamentos acontecia ap6s a viuvez de um dos cénjuges. Com 0 aumento das taxas de divércio, passa a ser a situagao de divorciado a mais comum entre estes novos noivos. Quando pelo menos um dos cOnjuges traz para 0 novo casamento um ou mais filhos do casamento anterior, falamos de familias recompostas. Esta situacao pode trazer gran. des beneficios para todos, mas também ser fonte de algumas tensGes: porque um dos rogenitores mantém o contacto com os filhos 0 outro cénjuge pode sentirse posto de Parte; porque as relagdes entre enteados e padrastos nem sempre estdo bem definidas; Porque, havendo filhos de ambos os novos cénjuges, podem existir discrepancias quanto s regras de convivéncia familiar e de educacao. Propostas de trabalho 1. Esclarece 0 que entendes por familias recompostas. 2. Indica alguns problemas que podem surgir no seio deste tipo de familias. 3. Sugere alguns valores que podem mini ; 1. Avide familiar 143 ‘agregados monoparentais As familias monoparentals S20 constituidas por apenas um adulto e seus) filho(s). Familias Na grande maioria dos casos, o adulto destas familias é uma mulher. ‘monoparentals Existem diversas situagdes que originam a monoparentalidade: a separac3o ou divorcio, a viuvez, @ eracao por parte de uma mulher soltelra. Estas famflias ainda sao alvo de dis- criminago social, nomeadamente as maes solteiras € as divorciadas, embora esses pre- conceltos tendam a desaparecer nos meios urbanos. Por outro lado, a custédia partilhada dos fihos comega a ganhar adeptos, permitindo & mae € ao pai constituirem dois agregados familiares autdnomos mas partilhando os filhos (0 sistema mais comum 6 as criangas passarem uma semana com a mae e outra com 0 pai, sucessivamente). Nos restantes casos, trata-se maioritaria mente de familias que enfrentam alguma frag lidade financeira pelo facto de subsistirem apenas com 0 rendimento de um adulto, vivendo em contextos de pobreza ¢ de EXC sa. 44s tunes nomparnias mmar pasta deca en uses de so social. =! teers oct 1. Caracteriza as famflias monoparentais e indica os motivos do seu surgimento. 2. Refletee indica algumas propostas que diminuam o risco de raglidade nancelra das famnfias monoparentais. st6dia partlhada e explicita as vantagens © desvantagens desta 3. Diz 0 que entendes por cu opcao para 0 ber smestar das criancas. bh 145 . Eis, agora, alguns dados curiosos relativamente o Voltar a casar rou -Por mais estranho que tal possa parecer, a melhor f \ Ccasiaden das e se divorciaram tém mais probabilidades de voltar a casar do i as pessoas solteiras da mesma idade. Em todos os grupos etarios os homens divorciados so mais propensos a casar do que as mulheres divorciadas ( mentos so menos bem-sucedidas do que montos so mais elevadas do que ). Em termos estatisticos, pelo menos, 08 novos casa. 08 primeiros. As taxas de divércios dos segundos casa as taxas dos primeiros.» Anthony Giddens Se Coabitacdo A coabitagao € cada vez mais frequente entre os jovens, sobretudo como um periodo Caabitacae de experiencia de vida em comum antes do casamento oficial. No entanto, a coabitagao também pode acontecer por opgao e com descendéncia, indiciando algum desinteresse pelo casamento formal. Até hd bem pouco tempo esta situagao era considerada social- » mente escandalosa, mas as novas geragdes parecem optar cada vez 4 mais pela aceitagdo livre dos com promissos inerentes uniéo do Que pela sua contratualizacao atra- vés do casamento. Em Portugal, a uniao de facto € reconhecida juridicamente. Em ter- Mos praticos, duas pessoas de Sexo oposto que vivam juntas apresentem nas Finangas uma declaracdo conjunta de rendimen tos durante dois anos consecuti- os passam a ter os mesmos direl- tos (em termos fiscais) de um sal que tenha oficializado a sua Unio pelo casamento. O mesmo @contece em relagao aos filhos: a0 Contrio do que acontecia hd alguns anos, a cifcunstancia de os progenitores nao serem casados ndo altera os seus direitos @ deveres para com os descendentes. f Estes dois fatores que acabamos de referir poden 3% verem o casamento como um ato necessario. No entanto, os unidos de facto nao $€0zam ainda de alguns dos direitos inerentes a0 cas mento, COMO o direito de vi gime de bens, 0 direito de heranga e a Ambiente hospitalar ou prisional, a definigdo do Bh ae a Fur Acobitego jf do 6 enarada como uma opgdo maaiente epee ‘a maori dos eis sci. m explicar 0 facto de muitos casais ita em "regulamentagao da dissolugao da unido. 146 Médulo 3 ~ Viver em Sociedade reconhecimento juridico das unides 1. Explica, de forma sucinta, as condigdes necessérias para 0 Ge facto. 2. Enumera as limitagdes juridicas das unides de facto e avalia a necessidade de ultrapassar essas limitagdes. Casais homossexuais A evolugao das mentalidades tem possibilitado a estabilizagao das relagdes entre pessoas homossexuiais que optam por viver maritalmente Dado que @ maioria dos paises, sobretudo fora da Europa, nao reconhece oficial mente estas unides ~ ou seja, nao autoriza o casamento entre pessoas do mesmo Casais Sexo -, 08 casais homossexuals assumem livremente os compromissos inerentes a0 homosseruais casamento, nao tendo, porém, acesso aos mesmos direitos dos garantidos aos casais heterossexuais. Na pratica, verificam-se situagdes de coabitacdo, partilha de rendimento e relacionamento sexual, mas a adogio de criangas, por exemplo, conti- nua a ser proibida em muitos paises. Fira As rages terdem ser mas ils regis teterssenss 4.Avida familiar = 147 cries dstiies ce leveres. Outros estados europeus adotam 5 8S Parcetias civis, ou nao reconhecem qualquer forma de unido entre casais do mesmo sexo, casos da Grécia e da Italia, Os casais hi 1s cas omossexuas apresentam algumas caracteristicas diferentes dos casais pienso ib act de envoiverem duas pessoas do mesmo sexo, a divisdo de tarefas © de papéis tinica dos casais de sexo diferente nao é téo comum. Assim, nestes casais, sejam eles de homens ou de mulheres, tudo pode ser mais negociado e o grau de igualdade tende a ser superior ao verificado nos casais heterossexuais. O casamento homossexual em Portugal «Depois de anos de debates, muitas marchas contra a homofobia e até tentativas falhadas de contrair matriménio, o casamento entre pessoas do mesmo sexo é a partir de hoje um ato possf- ‘vel no nosso pais. Portugal é, assim, a oitava nagdo do mundo em que é permitido tal matrimé- nio e entra na rota daquelas que pretendem uma sociedade mais aberta. Foi no ano de 2006 que Helena Paixao e Teresa Pires se apresentaram numa conservatéria de Lisboa para selarem votos. Mas a lei falou mais alto 0 sonho de se casarem desmoronou-se. Quatro anos depois, sera hoje o primeiro casal homosexual a contrair matrimonio civil. (...) Foram precisos cinco meses, entre Assembleia da Reptblica, Presidente da Repdblica e Tribu- nal Constitucional, para que o ato de contrair matriménio entre duas pessoas do mesmo sexo passasse da utopia para a realidade, No artigo 1577.°, a Lei n.° 9/2010 ¢ bem especifica: “Casa~ mento é 0 contrato celebrado entre duas pessoas que pretendem constituir familia mediante ‘uma plena comunhdo de vida”. Agora, s6 falta as conservatorias colocarem-na em pratica. No registo civil, a defini¢ao de casamento passara somente a conter que “é um contrato entre duas pessoas que implica direitos ¢ deveres reciprocos”, podendo o ato ser consumado no proprio dia do pedido. Ou seja, 0 processo do casamento homossexual segue os prineipios-base de um matriménio heterossexual. (...)» Pablico, 2010-06-07 ——_—___—— Cees ee ok ce net sobre 0 tema do casamento homossexual em Portugal, dando entos a favor e contra 0 direito & constituigéo deste tipo de familia. jusdes com as dos teus colegas ¢ discute-as na sala de aula. 1. Faz uma pesquisa na Inter especial atengao aos argumé Depois, compara as tuas conc! 148 — Modulo 3 - Viver em Sociedade 1.4, Novos comportamentos da familia ‘A.evolucao dos papéis familiares esta intimamente ligada as transformacdes ocorridas: ra estrutura familiar, como veremos a seguir. i Desde logo, a proibigéo do trabalho infantil e a instituigéo da escolaridade obrigatorias tomaram a erianga uma fonte de despesa para a familia e nao mais uma fonte de rend. Valorzagdo mento, mas também [he deram um lugar central na orientacao da afetividade dos elemen. a infancia tos da familia uy, A valorizagiio da infancia | «Na Idade Média, nos tempos modernos, por mais tempo ainda nas classes populares, as erian- as confundiam-se com os adultos assim que se considerava que eram capazes de passar sem a |) ajuda da mae ou da ama, poucos anos apés um desmame tardio, por volta dos sete anos de idade. Entravam entao, sem transigéio, na comunidade dos homens, compartilhando com os ‘seus amigos jovens ou velhas os trabalhos e os divertimentos de cada dia. A familia desempe- nhava uma fungao, a de assegurar a transmissao da vida, dos bens e do nome, mas nao tinha grande influéncia na sensibilidade. O coneeito de educagao nio existia. Hoje, a nossa sociedade depende, e sabe que depende, do bom funcionamento do seu sistema educative. Ciéncias recen- tes como a psicandlise, a pediatria, a psicologia aplicam-se aos problemas da infancia, e as suas recomendagdes chegam aos pais por intermédio de uma vasta literatura de vulgarizagao. © nosso mundo vive obcecado pelos problemas fisicos, morais, sexuais da infancia, O grande acontecimento foi, portanto, no inicio dos tempos modernos, o ressurgimento das preo- cupagoes educativas. A familia e a escola, juntas, arrancaram a crianca A sociedade dos adultos. Compreende-se sem dificuldade que esta invasao das sensibilidades pela infancia tenha condu- zido aos fenémenos do controlo dos nascimentos. Philippe Arts, A Crianga ea Vide Familiar no Antigo Regime, Rligi d'Agua, 1988 (adaptada) A mulher, durante muito tempo mantida dentro de portas como “dona de casa”, responsavel pelas tarefas domésticas e pelo Cuidado dos filhos e do marido, passa a trabalhar fora de casa, tal como o homem, ¢ a acumular o emprego com © trabalho doméstico. A partir desta situagao, atenua -Se a exclusividade do papel expressivo associado mulher ¢ do papel instrumental (garante do sus- tento da economia doméstica) atribufdo ao homem, gerando-se familias de dupla carrelra - @ mulher ¢ 0 homem desempenham em simul t&neo os papéis expressivo e instrumental. A medida que 0 casamento deixa de ser constituido com base em critérios econémi 08, 0 amor romantico ganha terreno como fator de selecao dos cinjuges e a satisfagao sexual 6 trazida para dentro do casamento. Valoriza-se a intimidade emocional ¢ sexual do casal. Fiera 7 A valozagio da infcea@ um ferdmenohistrcamerte muito eer. 41. Avida familiar Mais fecentemente, a mulheres tm reivindicado a Igualdade de direitos e de deveres vos papés no casamento, exigindo a0 homem a partitha das tarefas domésticas e do cuidado dos parentas fihos. Embora esta reivindicacao possa ser aceite pelos homens, a situa io de ajuda € @ mais comum (quando existe), pelo que as grandes res- ponsabilidades domésticas continuam a recair sobre a mulher, Uma vez que, hoje em dia, as relagdes matrimoniais comegam pelo amor € terminam pelo amor (ou a falta dele), 08 casais séo confrontados ‘com responsabllidades acrescidas, Nomeadamente a de serem felizes jun- tos, fator antes meramente secundario. Esta busca de harmonia e de felici- dade na relagao afetiva implica uma série de escolhas e, por vezes, de sacrificios. Giddens refere um estudo levado a cabo pelos socidiogos Beck e Beck- -Gemsheim que revela uma nova perspetiva, a este respeito, na Sociologia da Familia: aa vex ais aor cua doses. Os novos desafios do casal ae «Para Beck e Beck-Gernsheim, a nossa época est repleta de interesses conflituosos entre a fami- lia, 0 trabalho, o amor e a liberdade para prosseguir objetivos individuais. A colisao é sentida de ‘uma forma mais incisiva nas relagdes pessoais, particularmente quando existem duas “biografias de mercado de trabalho” em vez de uma, Os autores querem dizer com esta expressao que, al dos homens, um niimero crescente de mulheres tem carreiras profissionais no decurso das suas vidas. (...) tanto os homens como as mulheres do hoje uma importéncia enorme as suas necessi- dades pessoais e profissionais. Os autores concluem que as relagies na nossa época moderna so, por assim dizer, muito mais do que relagdes. Nao s6.0 amor, 0 sexo, os filhos, 0 casamento e os deveres domésticos sdo t6picos de negociagio nas relagSes, mas também 0 sao 0s t6picos que tem aver com o trabalho, a politica, a economia, as profissdes ¢ a desigualdade. Os casais modernos enfrentam um conjunto variado de problemas, que vao dos mais mundanos aos mais profundos.» Anthony Giddens, op. cit. bare e mort) 1. Explica e fundamenta a importancia da partiha equllibrada ¢ justa das tarefas domésticas e do cuidado para com os filhos entre 0 casa. 2. Verifica se ha diferencas significativas nas respostes entre os rapazes e as raparigas da tuma. i Fig 8 0s pais tem virdoa assum um papel 149 150 Module 3 - Viver em Sociedade Indicadores demograticos A evolugao das familias em Portugal 5. Indicadores demograficos sobre a familia mpanhada através dos seguintes indica. A evolugao da instituigao familiar pode sor a dores demograticos: ~rgiatoads {casamentos) ou coabitagdo (pessoas que vivem maritalmente mas que nao oficializaram a relagao através do casamento); ~ divércio (dissolugao de casamentos); hatalidade (niimero de criangas nascidas por mulher). As principais tendéncias nas sociedades ocidentais revelam a diminuigao do numero de casamentos, que por sua vez acontecem em fases mais tardias da vida, € 0 aumento do nimero de divércios. Os segundos casamentos ~ ou recasamentos - sao também atualmente mais comuns. A coabitagao tem sido utilizada pelos jovens, na maioria dos casos, como um perfodo experimental antes do casamento. Apesar das diferencas entre regides, a maior parte dos matriménios hoje celebrados em Portugal prescinde da consa- gracao da religiao catética. ro. “Sofrendo 0 impacto da modernizagdo da sociedade portuguesa, a vida familiar regista algumas mudangas assinaléveis. Salienta-se a diminuigio da dimensao média da familia e o aumento dos agregados de pessoas s6s ou 0 decréscimo dos agregados numerosos e das familias comple- xas. Por outro lado, como reflexo provavel da descida e adiamento da fecundidade, do aumento do divércio ou do envelhecimento populacional, diminuem as famflias de casal com filhos e aumentam as de casal sem filhos e as monoparentais.» Sofia Aboim, “Evolugso das estruturas domésticas (Dossié «Familias no censo 2001: caracterizagdo e evolugio das estruturas domésticas em Portugal”, in Scciologia - Problemas e Préticas, n.° 49, janeiro de 2004 cr Existem diversos fatores inerentes a evolugao destes fenémenos, de que a Sociologia da Familia dé conta. 0 prolongamento do percurso académico por parte das mulheres tem estado na origem do adiamento da idade do casamento, por exemplo. Uma maior permis: sividade ligada & evolugdo recente das mentalidades toma mais acessivel, sobretudo aos Jovens, a coabitagao, mesmo que eles nao prescindam do casamento numa fase poste. rior da sua relagao. O divércio generalizou-se em Portugal nos anos posteriores 4 Revolu- cdo de Abril de 1974; a consumagio do divércio antes da implantagao do regime demo- cratico era legalmente restringida e do ponto de vista social era uma pratica reprovavel. ‘Aos motivos legais, religiosos € sociais que impossibilitavam a pratica do divércio Podemos acrescentar que o divércio ou a simples separagao era para muitas mulheres uma pratica impossivel, jé que dependiam economicamente dos maridos. A generalizacao do trabalho assalariado feminino, e a conse- quente independéncia financeira das mulhe- res, @ crescente associagao entre casamento, felicidade e afetividade colocam uma maior exigéncia instituigao do casamento e trans- formam 0 divércio numa opgao real caso essa felicidade nao seja nele encontrada. Few 9 Ainsttuigdo matiavil tem vind a sokerprondas lransfrmagies arts de fenbmanos como 0 dic, 1. Avida familiar = 254 Quanto 2 natalidade, as mulheres tam cada vez me la vez mais tarde. Natalidade 0 prokongamento da sua carrita esse menos filhos @ cada vez mals © académica e as insuticientes politicas de apoio smidade e a a materi 8 atemidade ~ as grvidas © aos pois © maes de eriangas pequenas - pesam bastante na decisdo de ter menos iithos e de os ter mais tarde, quando © percurso profissional da mulher esta supostamente mais consolidado, Esta tendéncia de redugao da fecundidade s6 nao se verifca nos extremos da estrutura social, ou seia, nas classes mais baixas, onde nao é praticado o pla. neamento familiar (0 que agrava a situagao de preca- riedade e de pobreza), € nas classes mais elevadas, onde esse mesmo planeamento nao é igualmente pra- ticado, mas por opeao. Por outro lado, tem aumentado 0 recurso a trata- mentos de fertilidade, 0 que significa que 0 desejo de ter filhos nao diminuiu. No entanto, nos paises mais desenvolvidos do mundo ocidental, o ntimero atual Fear 10s rulers tam mas ees de air a matemiade em far da sua de nascimentos decresceu de tal forma que nao se verifica a renovacdo —tarerapotsiral das geragdes (estatisticamente, cada casal deverd ter 2,1 fllhos para que se verifique a renovagao das geragdes). Este fendmeno, acompanhado do aumento médio da esperanga de vida, contribui para o envelhecimento das populagdes a passos largos. As consequéncias sociais e econémicas decorrentes do envelhecimento da populacao so graves, dado que hé uma tendéncia para o desequilrio orcamental dos sistemas de protegao social. As despesas com as reformas e a satide aumentam consideravelmente, enquanto as receitas diminuem drasticamente, uma vez que a populagao em idade ativa é menor. Este desequilfbrio coloca em causa os diferentes sistemas de protegao social, 0 Estado Providéncia e 0 pr6prio Modelo Social Europeu, a a Com a ajuda e sob a orientagao do teu professor: 1. Faz uma pesquisa na Intemet sobre os seguintes conceitos: * Estado Providéncia * Modelo Social Europeu 2. Debate com os teus colegas a importancia dos diferentes sistemas de protecao para o equil brio e bemestar social. 3. Debate e expe propostas que possam inverter a evolugdo negativa da taxa de natalidade em Portugal 152 Module $= \ 49) © Soo Portugal com mais ébitos do que naseimentos 1» pasado om Portugal foi os 0 2007 divulgados «Pela primeira vez em 90 anos, o niimoro de dbitos mpistados Ne superior 20 dos 1: egunda os indicadores demograiticas relath ontem pelo Instituto Nacional de Estatistiea (INE). : 9 ano passado, morreram em Portugal 103 512 pessoas, enquanto o ntimero de naseimentos no foi além dos 102 492, o que representa um saldo natural negative de 0.01%. As estatisticas confirmam 0 abrandamento do crescimento populacional ¢ a tendéneia de enve- Ihecimento demogrsifico, ji que diminuiu, mais uma ver, o mimero de nados-vivos (menos 2957 do que em 2006), sumentando o mimero de dbitos (mais 1522). A taxa de crescimento efetivo fixou-se nos 0,17%, s6 niio sendo negativa devido ao ligeiro aumento da populagio imigrante no pais, que cresceu 0,18% em 2007. Até agora, s6 uma vez, em 1918, coincidindo com a epidemia de gripe espanhola, 0 ntimero de obitos registado em Portugal tinha sido superior ao total de nascimentos. No total, no final de 2007 residiam em Portugal 10 617 575 cidadaos, dos quais 446 333 imi- grantes legais. Entre os residentes, 15,3% eram jovens com menos de 15 anos ¢ 17,4% idosos com mais de 65, “A populagao residente em Portugal tem vindo a denotar um continuado envelhecimento demo- grafico, como resultado do declinio da fecundidade e do aumento da longevidade’, salienta a informacao do INE. indice de fecundidade foi de 1,33 criancas por mulher, face a 1,36 registado no ano anterior e muito longe das 2,1 necessarias para assegurar a substituicao de geragdes. Ja a idade média da mulher com o primeiro filho aumentou ligeiramente, fixando-se nos 28,2 anos. A diminuir est4 também 0 mimero de casamentos: no ano passado, foram celebrados 46 329 enlaces, menos 1528 do que em 2006 Jé os divércios continuam a aumentar, tendo sido decretados 25 255, mais 1320 do que no ano anterior. Em média, os casais que pediram o divércio estavam casados hi 14 anos.» ‘imentos, Jornal de Noticias, 2008-09-11 sq Observernos agora os seguintes dados estatisticos': Quadro 1; Evolucdo do nuimero de casamentos em Portugal entre 2002 e 2007 ‘Ano | Portugal | Norte | Centro | Lisboa | Alentejo | Algawe | Agores | Madeira ‘Nimero de casamentos 2002 | 56457] 21849] 12084] 14099] 3560] 1807] 1502] 1547 2003 | 83735| 20828| i1ss6[ 1310/3343) 1800| isai| 1658 2004 | 49i78| igiei| soe7| t1730[ 2887] 1502] 1494 1467 2005 | 48671 | is680| i0551| ti863| 3082| 1605] 1499] 1981 2006 | 47857 | i8502[ 10342| ii778| 2779) 1682] 1465] 1920 2007 | 46320| i7e72[ gota] iisva| 27e1| 1672] 130a] 1282 ‘Taxa bruta de nupclalidade (pom habltantes) 2002 5/4] aaa) ee ar 46 63 64 2003 et eS ne 44 45 64 64 2004 47{ 52] a 38 39 62 "60 2005 48] 5 40 | 40 62 56 2006 435 | 6] 40 60 54 2007 44] 39. Ba 50 jpatituto Nacional de Estatstice, Quadro 2: 4. Avida familiar Evolugao do numero de divércios om Portugal entre 1996 e 2007 1996 13.245 2007 24968 2004 270| 262) 268 28,7 218 28,3 240 aa 2005 273) 265] 274 290 281 281) 24d 269 ame | 25] 267] 273 29.2 280/288] 245 268 zor) 278| aro] ae 295 2a; 290/250 212 E a Pets i | 2002 280/273 278 29,3 28,7 29,4 260 278 2008 2427.6) 282 23,7 22|297| 262 282 2004 236, 278] 286 304 zeal 301) 283 285 2005 289| 281/287 30.4 299 304) 27,0 285 2006 201; 233] 289 30,7 300] 307] 270 28,7 [poor 2oa| 285/293 309 304) 3a] 270 29.1 Quadro 4: Idade média da mulher aquando do nascimento do primeiro filho em Portugal 2004 275 2007 282 Quadro 5: Evolueao do numero de casamentos catdlicos em Portugal entre 2002 e 2007 (%) ee 65,7 52,5 461 22.6 472 706; 63.4 48.6 43,6 IA 434 680; 60,7 472 376 23,7 386 oi} 594 43,2 3a8| 212 a9 55) see, 39.0 sig] 524 339 | 153 154 — Médulo 3 - Viver em Sociedade Quadro 6: Sintese dos indicadores demografics os sobre a familia Nupcialidade e coabitagao * Diminuigao do niimero absoluto de casamentos, * Aumento dos casamentos civis © diminuigao dos casamentos catélicos. * Aumento da idade média do primeira casamento pata ambos 0s Sex0s. * Aumento dos segundos casamentos. * Aumento do nimero de flhos fora do casamento, * Aumento do niimero de casais que vivem em coabitagao ou outras formas de Cconjugalidade, como a unio de facto. * Crescente importancia do amor, da afetividade e da partiha como valores estruturantes da conjugalidade. + pificuldades dos jovens em entrar no mercado de trabalho, + Procatiedade no trabalho. + prolongamento do percurso académico da maioria dos jovens. + Diminuigdo da influéncia da Iereja e da religido na sociedade. + Maiorliberdade de expresso e de autenticidade dos sentimentos, em detrimento das convengbes tradicionais. + plteragdo de oritérios valoratives fundamentais e consequente valorizagdo do individualismo e do hedonismo. Divércio Causas * Aumento do nimero de divércios. * Alteragées legislativas que simplificar o divorcio, * Generalzagdo do trabalho feminino e consequente autonomia financeira das mulheres. * Preponderdncia de um maior individvaismo e legitima- géo social relatvamente & procure da felicidade, * Diminuigdo da influéncia da religiio e da lgreja na sociedade. * Crise econdmica que afeta a estabilidade de muitos casais. Natalidade Causas * Diminuigao do nimero de filhos por mulher. * Adiamento da decisdo de ter filhos por parte dos casais e das mulheres em particular * Aumento das familias com um tnico filho e das familias sem filhos. * Prolongamento da carrera escolar e académica dos jovens ¢ particularmente das mulheres. * Dificuldades na entrada no mercado de trabalho. * Precariedade no trabalho, “Aumento do custo de vida em contraposigao aos bai- X0s salérios auferidos pela maioria dos trabalnadores em Portugal. * Diffculdades em concilar a vida profissional com a vide familiar. “Insufcientes apoios estatais & promogo da natalidade, “Inexisténcia de uma rede publica abrangente, de qualidade ¢ com horéras compaties 8 realdade laboral da maioria dos pais, ITTTIVETVTIV TITTY PTO RTT TFET PROUT OO OOTOEOTOTTTOTOTEM ldoias Essenciais A ransigo da Sociedade agratia @ alteragdes da institui¢ao familiar e dos Novos papéis familiares: * Valorizagao da infanela: os filhos passam a . {ural Para a socledade industrial ¢ urbana est na base das profundas Ser desejados e nao um recurso acrescido de rendimentos; os seis © eH oO ee ENS teri iea ata te ter aceg er erro para as fama. As crangas, £80 0 cento da afetividade e do amor dos elementos de famfia. * leualdade entre homem @ mulher: @ generlizago do trabalho sssalariado feminino e consequente autonomia fnancelra ds mulheres; o desaparecimento da figura jurdica do chete de femilia; a evoke ao natural das mentalidades leva a uma maior igualdade de direitos e deveres no casamento € a uma partiha tendencialmente mais equilibrada das tarefas domésticas e do cuidado com os filhos. * Valorizagao dos sentimentos: valorizagdo da autenticidade dos sentimentos, da intimidade emocional e ‘sexual, do respeito pelas diferencas de cada um dos membros. Conceitos-chave = Familia ® Novos papéis parentais = Familia nuclear = Valorizagao da infancia Familia extensa ™ Indicadores demogratficos Familias monoparentais = ‘Nupcialidade Familias recompostas ® Div6rcio Coabitagao ® Coabitagao Casais homossexuais ™ Natalidade Propostas de trabalho : 1. Questiona familiares, amigos ou pessoas conhecidas mais velhas (homens e mulheres) sobre a forma como estas situagdes aconteceram (ou nao e porqué) nas suas vidas: casamento, divércio, idade de casamento e idade aquando do nascimento do(s) filho(s). 2. Obsena e interpreta os quadros 1 a 5 das paginas 152 a 153. Comparaos com as respostas que obtiveste na questo anterior e regista 0 modo como evoluiu a instituigaio famiiar em Portugal nas Ultimas trés a quatro décadas. 158 — Médulo 3 - Viver em Sociedade Descendéncia Consanguinidade ‘inidade ‘Nupcialidade/coabitagao ll i i aig g z =] é r z Fecundidade ‘Monoparental Recomposta ‘Unido de facto WE Socializadora Realizago pessoal iedade do conhecimento_ mascara oe 2.4. A socializagao formal e informal Que importancia tem a escola na tua vida? Que fungdes atribuis a escola? Educativas, socials, econémicas, culturais...? Achas que ela te ensina tudo o que pretendes saber € tudo 0 que precisas? Serd esse o seu papel? Vimos atrés que a escola € um agente socializador decisivo na nossa sociedade, pro- porcionando a chamada educagdo formal. Entende-se por este termo toda a educacao (ou instrugao) integrada no sistema educativo, portanto em estabelecimentos de ensino ¢/ou formagao. Escolas, universidades e centros de formacao profissional sao, assim, conside rados agentes da socializagao formal. Noutro ambito, toda a educagao que acontece fora do sistema educativo institucional zado € considerada informal. Donde, a socializagao levada a cabo pelos agentes que ndo aescola ~ e, mesmo na escola, tudo 0 que no seja a transmissao de um curriculo prede- jterminado ~ é informal = E, pois, informal a aprendizagem das regras de bom comportamento na sala de aula, ido reconhecimento da autoridade do professor e da necessidade do cumprimento de horérios, por exemplo. JA a transmissao dos contetidos dos manuais escolares constitui a Eeducacao formal Fw 14 A secilzagiofomal das cana ed overs acartece na escalates da transis sds cuca preeabledos Socializagao formal Socializagao informal 159 160 2 Médulo 3 - Viver em Sociedade izagao, a recente obrigatoriedade de oradores, a diversificacao dos cur? ao de especializagdes sob a forma! dada @ componente formal da Fatores como 0 alargamento temporal da escolar ‘as empresas proporcionarem formagao aos seus cole! sos de formacao (profissional ou outta) ¢ a multiplicag de pésgraduagdes dao conta da crescente importancia p educagao. Com efeito, a qualificagao dos recursos humanos de um pais essencial para © seu desenvolvimento e requer investimentos de longo prazo. No entanto, esta valorizagaio da educagaio formal nem sempre se verifica. Como viros no tema anterior, existem outros agentes socializadores ~ a familia, 0 grupo de pares, os meios de comunicagao social ou a religiao - que podem nao estar de acordo entre si quanto aos valores a transmitir e aos modelos de acao preconizados. Nestes casos, nem sempre a escola ¢ valorizada pelos outros agentes socializadores, 0 que pode comprome- ter 0 percurso académico dos individuos. Vejamos, como exemplo deste confronto de ideals socializadores, 0 impacto que a televisio pode ter no papel da escola Escola versus televisao | «Todos conhecemos a opiniéo dominantemente negativa da influéncia da televisao sobre as criangas ¢ os jovens, nomeadamente no que respeita ao fascinio que sobre eles exeree, em detri- mento do estudo. A televisdo é acusada de roubar tempo que deveria ser utilizado na leitura, no estudo, na pratica do desporto ou no convivio familiar; é acusada de habituar a passividade e de criar maus habitos alimentares, de desinteressar as criangas e os jovens da leitura e, de uma forma geral, da escola, de habituar & violéncia e de criar modelos sociais de agressao fisica e moral, de destruir 0 convivio familiar, de legitimar a vulgaridade e 0 mau gosto. Por outro lado, qualquer professor pode constatar nos recreios ¢ nas aulas que os seus alunos imitam comportamentos ¢ atitudes, utilizam uma linguagem recheada de onomatopeias, Iéxico e referéncias implicitas diretamente vindos de séries televisivas, de publicidade, de filmes e de desenhos animados passados na televisio. Os universos da escola ¢ da televisdio opdem-se pelas normas que os regem: a faci- lidade, a simplificagao e ao imediatismo da TV a escola contrapée a com- plexidade do raciocinio, o esforco continuado e a reflexao critica. (...) No estrito campo da oralidade, a televisdo representa a lingua varia, 0s modelos orais nao valorizados on mesmo ignorados pela norma escolar, o reforco e a legitimacao de situagdes conversa cionais diversas e a-escolares, Por outro lado, e no campo dos instrumentos de socializagao, a TV ganha a escola em preco- cidade de intervengao, nao s6 pelo lugar privilegiado que atualmente ocupa como guardia da infancia como na apre- sentacdo de modelos sociais, de normas de comporta- mento e mesmo de projetos de futuro a que a crianca e 0 jovem se vai habituando como telespectador.» ‘Maria José Seixas, “«Mesmo nos coneursos # gente aprende coisas» ‘Televisdo ¢ Escola ~ Um conflto de universos e discursos" in Bducagdo, Sociedade & Culturas, n° 8, 1997 Fiewa 12 0 nies da escola eda {wed so dstntes por eas, opotos. bh necimento 16 2. A escola na socledtade do con! De ROC he 1, Distingue socializacao formal de ‘Socializagao informal, 2 Bollea as funcdes da escola enquanto agente para uma socializagdo formal ¢ inforrnal 3. Analisa 0 teu caso pessoal e partilha com a turma a tua reflexdo: em que é que a televisdo Complementa a socializacao proporcionada ela escola? Em que aspetos entram em confiito? 2.2. A escolaridade obrigatoria Hoje em dia, consideramos ser natural e inevitavel o facto de todas as criangas fre- Sventarem a escola. No entanto, durante muitos séculos 0 conceito de instrugdo esteve —_obrigatéria afastado da grande maioria das Populagdes. Antes da invengao da imprensa escrita, os Sic2ss0s textos que existiam eram escritos & mao € poucas pessoas tinham acesso a @les. Além disso, ler e escrever eram atividades intteis NO Quotidiano da maioria dos indi- duos, A Revolugao Industrial e a expansio das grandes cidades geraram a 'S80 do trabalho e a necessidade de mao de obra cada vez mais espe “lalzada letrada. Além destes fatores, verificou-se a aceleragao do ‘senvolvimento cultural decorrente dos ideais humanistas e iluministas —(século NM) cuja principal carateristca ue ganharam forma no século XVill. A Reforma protestante também terd ‘i a f8 nas capacidades da razdo para ‘ido um papel importante, «Pols @ aprendizagem da leltura era essencial ao "ONE os problemas que se nes depa- “onhecimento direto do texto biblico:*. Os sistemas de ensino Beneraliza. [ON M0 decurso da Hits. Acedltana se ” 28Sim como os conhecimentos mais abstratos, por oposigdo aos ‘Wee! da azo iuminsiam a aggn font {os homens e isso pemnitia organi Scimentos préticos que eram transmitidos oralmente de geragao em mundo de moo mais ust eae “Bora 2 divi Periodo da época moderna europeia 1980. Nas sociedades modemas, passa a ser indispensavel saber ler, Medina Corea, 0 Estado oa Edueagio, Cademos do Publica, n.° 7, 8/4. 162 i & Médulo 3 - Viver em Sociedade fisico, social e econémico. 6 fundamental na definicao das oportu- nidades de carteira e para 0 posiciona. mento dos individuos no mercado de tre: batho. Embora nem sempre andem a par com as necessidades especificas deste mercado a cada momento, esperase das escolas e das universids des que formem 0 cidadios do futuro e Ines deem ferramentas que permitam desbravar novos campos do conheci mento e da técnica, tendo em vista 0 desenvolvimento dos paises e a melho- fia das condigdes de vida das pessoas. Em Portugal, a alfabetizacdo das Populages aconteceu tardiamente em relagdo aos outros paises europeus. Em meados do século XIX, 75% da populagao portuguesa era analfabeta e em 1960 — ha pouco menos de meio século - este valor decresceu apenas para 40,3%. No inicio do século xX, (© ndmero de escolas era insuficiente, os professores nao estavam bem preparados do Ponto de vista cientifico © pedagdgico e as criangas eram ainda muito necessérias em casa para contribuirem para a economia doméstica, pelo que os pais resistiam ao seu ingresso na escola. © periodo designado por Estado Novo, que teve inicio em 1933, marcou 0 aparect mento de uma tentativa de combate ao analfabetismo e de recuperagao do atraso de cerca de um século em que 0 nosso pais se encontrava relativamente & Europa mais evo luida. No entanto, esta tentativa ficou marcada por algumas opgdes politicas que tiveram consequéncias consideradas negativas: ewe 13 A quofleago ds recs humanos de um pais em um enorme imacto ma seu gau de olen, A opgao do Estado Novo sobre 0 contetido do ensino «O Estado Novo, nao podendo isolar-se em absoluto das novas exigéncias, teve de escolher (...) Amparando-se na contraposicao entre a “instrugao” ¢ a lecto ¢ esta como formagao do cardcter, valorizou a fungao edueat da sua finalidade instrutiva. Destinada a incutir a “virtude”, e nao a Propiciar o treino profissio- nal ou a transmitir conhecimentos ties, a escola passa a ser concebida mais como instrument0 vantajoso de doutrinagao do que local de aprendizagem para a vida profiesional.« tiva da escola, em detrimento Medina Carreira, O Estado. a Edueagdo, Cadernos do Piblico,n.°7, 84 imatunnare ei Durante mais de quatro décadas, a escola foi ut tica e religiosa, 20 invés de um espaco de aquisi 0s, hist6ricos, etc. im local privilegiado de doutrinagao por 'G0 de conhecimentos cientificos, téo"" escrever @ caleular, assim como possuirs conhecimentos basicos sobre 0 meio! , ‘Atualmente, a educacdo proporcio.! nada pelos estabelecimentos de ensing: “educagao”, aquela como treino do inte-_ | 2. Clarifica, de forma sucinta, o sist Estado Novo. 2. Neco 163 la na Sociedade do corhesinento ‘Sma educativo vigente em Portugal durante 0 perfado do 3. Indica 08 valores que a escola promovia durante este periodo, Aeducagao no Estado Novo -Durante a ditadura salazarista, 0 desenvolvi- mento educacional foi muito limitado. A escolari- dade obrigatéria foi reduzida, de inicio, para trés anos € 86 muito lentamente elevada primeiro Para quatro anos e depois para seis no final da década de [19]60. A politica governamental era ade manter a educagio da maioria da popula- 0 tao limitada quanto possivel. As escolas Punham 0 acento ténico na obediéneia, submis- Sio, ordem, respeito pelas hierarquias, confor- mismo, perseveranga, gosto pelo trabalho ¢ lim- Peza. O sistema educative era altamente centralizado e estritamente controlado. (...) O menos que se pode dizer é que estas politicas tudo faziam: para desencorajar uma educagéo Civica, participada e esclarecida.» Fira 16 Os mantis esolares do Estado Novo extavem elt de pen ics dotinodres ede esters soca, como ads la de apes ede ngs enteo harem ea mulher na ania. Don Davis et al., As Bscolas e as Familias em Portugal - Realidade e Perspetivas, Livros Horizonte, 1989 Proposta de trabalho < a MiMi ) ' 1. Sob a orientagdo do teu professor, debate com os teus colegas as ideias expostas no texto anterior. 164 — Médulo 3 - Viver em Sociedade 414 no periodo de reconstrugo europeia do pés-Segunda coe Eee vistvel ag inadequagao do sistema de ensino vigente. 0 anatfabetismo manteveS® PGvACo, assim: como 0 insucesso escolar ¢ a fuga a escola de muitos Joven’, bars além do numer. reduzido de professores e da escessez de instalagdes e de material escolar. AS assim trias regionais eram muito marcadas, com uma escolarizagao multo Superior nas Zonas: Iitorais € urbanizadas relativamente a0 interior € aos meios rurais. Verificavam-se tam bém assimetrias sociais, dado que as famfias de baixos recursos nao consegulam sus tentar um percurso escolar dos filhos apés 0 ensino obrigatorio, Em suma, 0 sistema de ensino eliminava facilmente os filhos das famfias de trabalhadores e residentes no inte rior de Portugal. Nos anos 70 do século XX, a insustentabilidade do atraso do pais obrigou a instaura do de grandes reformas, que aconteceram pela mao do entao ministro da Educacdo, Veiga Simao, Estas reformas incidiram no fomento da educagao pré-escolar, no prolonga: mento da escolaridade obrigatéria, na reconversaio do ensino secundario e na expansao € diversificacao do ensino superior. As reformas de Veiga Simao | «O regime saido da reforma atribuiu a todos os portugueses o direito & educacdo, mediante 0 acesso aos varios graus de ensino e aos bens da cultura, sem distingdes que nao se fundas- sem na capacidade e nos méritos, tornou efetiva a obrigatoriedade de uma educacao basica generalizada, procurou facilitar as familias o cumprimento do dever de instruir e educar os filhos. O sistema educativo de 1973 passou a abranger a educacao pré-escolar, a educacao escolar & ‘a educagao permanente. O ensino escolar compreendia 0 ensino basico ~ primario e prepara- t6rio -, 0 secundério, a formagao profissional e o ensino superior. O ensino basico era obriga- torio e com a duragao de oito anos. ‘A institucionalizacao da educagao pré-escolar permitiria assegurar que as situagées de privi- égio na area da educagio se nao consolidassem na infancia e que as eriancas pudessem ter ‘um desenvolvimento equilibrado menos dependente dos estatutos familiares. 0 ensino obrigatério atingiu os cinco anos com a Repdblica, diminuiu para trés anos nos pri- meiros tempos da ditadura de 1926, subiu depois para os quatro anos, fixando-se em seis em 1964, A elevacdo para os oito anos constitufa, pois, um importante progresso quantitativo.» | Medina Carreira, op. cit. EE Apesar de nao haver unanimidade quanto aos méritos destas reformas, até porque elas exigiam uma série de meios materiais (escolas, manuais e materials escolares) humanos (professores qualificados e em numero suficiente) e ideolégicos (um regime democratic ¢ uma cultura que valorizasse a escolarizacao) que nao existiam na altura, 05 prineIpios a elas subjacentes prendiam se com o acesso a escolarizacao por parte de tod8 a populacao e a melhoria qualitativa dessa mesma escolarizagao. No entanto, para @ SU plena implementagao seria nécesséria a instauragao de um regime democratico no Pal © que $6 veio a acontecer em 1974. wtade do conhecimento 165 2. Noscola na si O estado da educagio portuguesa antes d «A educagio nao tinha sido uma jrande 1926 de uma forma conservador: tos de Deus, Patria e Autoridade lo recebia, era essenci 1974 prioridade para Salazar, que governava 0 ‘A, autoritaria © antidemocratica. A educagao obedecia aos pres slats al do ensino primério, que 10 que a maioria da popul otrssolta pie Deus ian m prolongamento da Igreja, O objetivo da escola primaria era 1 ‘cus, Patria e Autoridade, ¢ se mais alguma coisa ela fizesse, nao seria certamente expor criangas a ideias “perigosas”,(...) Marcello Cactano, sucessor de Salazar (...), estabele agai pare 9 ongeragto & ligeiramente mais liberal. Pouco a pouco, fol crescendo o recunhoet, Cocmtnimeno Eeonimcn f oa ciento dn pennies ide. Snodapiies ce, eas inert Soe Ps é ax” o pais eo papel da educacdo —_comprometidos com 05 principios da nesse processo. Em particular, 0 ministro da Educago de entéo, Veiga —_democracia repreentatia @ da eco Simio (...), foi muito influenciado pelo que aprendeu nas conferéneias e _"omia de lve mercado. Tem co artigos da OCDE sobre o papel da educagao na modernizagdo (e no °Pietvosfundamentais 0 res “atraso” de Portugal nesta drea). No inicio dos anos [19]70, ele introdu- © eandmica ¢ 0 desea ziu uma série de reformas no setor obrigatério que ndo tinham prece- "et"? #6 sos pabes sina dentes e que romperam claramente com a heranga de Salazar. Como resultado da sua politica, instalou-se um clima muito mais aberto e ameno a reforma educativa em Portugal nos anos imediatamente anteriores a revolugao.» ensing coe ‘Stephon Stoor e Roger Dale, “ApropriagBes Politicas de Paulo Freire: Um exemplo da Revolugao Portuguesa”, in Edueapdo, Sociedade & Culturas,n.* 11, 1999 Com efeito, a Revolugao de Abril de 1974 gerou uma grande preocupagao em instruir as populagdes e em combater o analfabetismo. Foram criados movimentos de voluntarios ‘que se deslocaram para as zonas mais remotas do pafs, com o objetivo de ensinar a ler € a escrever os adultos que nao tinham tido oportunidade de ir @ escola (as designadas “campanhas de alfabetizacao"). 0 direito a educagao passou, entdo, a ser considerado universal e inalienavel e a esco- latizaggo das criangas um dever. Com esta obrigatoriedade, teve inicio aquilo a que ainda Escola de massas ma, hoje se chama escola de massas. Alfabetizagao e poder popular

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