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AS LEIS DO DISCURSO 11. 0 principio de cooperacao Um conjunto de normas Como vimos, para constcuir uma interpretacio, o destinatirio deve supor que o produtor do cnunciado respeita certas “regras do jogo”: por exemplo, que o enunciado ¢ “sério”, que foi produzido com a intengio de comunicar algo que diz respeito Aqueles a quem é dirigi- do. Evidentemente, a caracteristica de ser sétio nao estd no emunciado, ‘mas uma condigio para uma interpretag3o correta: até prova em contririo, se vejo uma placa com a proibigao de fumar em uma sala de espera, vou presumir que o aviso € para valer. Nao posso retragar a historia dessa placa para ter certeza: © simples fato de entrar num pro- cesso de comunicagio verbal implica que se respeitem as regras do jogo. Isso nao se faz. por intermédio de um contrato explicito, mas por um acordo técito, inseparsvel da atividade verbal. Entra em agio um saber mutuamente conbecido: cada um postula que seu patceiro aceita a regras ¢ espera que 0 outro as respeite. Essas regras nao sao obriga- t6rias ¢ inconscientes como as da sintaxe e da morfologia, sao conven- (gOes técitas. Essa problemitica foi introduzida na década de 60 por um fil6so- fo da linguagem, 0 americano Paul Grice, com 0 nome de “méximas conversacionais”," que na Franga se prefere denominat leis do discur- 0. Tais “leis” que desempenham um papel considersvel na interpreta- ao dos cnunciados sio um_conjunto de normas.que.cabe-aos inter- locutores respeitar, quando participam de um ato de comunicasio verbal. Grice coloca essas leis na dependéncia de uma Iei superior, que ele chama de principio de cooperacao: Que sua contribuigao a conversagio, no momento em que acontece, esteja de acordo com o que impde 0 objetivo ou a oricntagao da troca verbal da qual voc? esté participando, “Logique et conversation”, op. cit., p. 56, Em virtude desse principio, 6s parcciros devem compartilhar um certo quadro e colaborar para.o sucesso dessa atividade comum que é 4 troca verbal, em que cada um reconhece seus préprios direitos ¢ deveres, assim como os do outro. Esse prinefpio adquire todo seu peso nas conversagées, quan- do os interlocutores (dois ou mais) io em contato direto e inte- ragem continuamente um com 0 outro. Mas as leis do discurso valem também para qualquer outro tipo de enunciagio, até mesmo para a escrita, em que a situagio de recepcio é distinta da situagio de producio, Os subentendidos A leis do discurso nao sio normas de uma conversagao ideal, mas Tegras que desempenham um pape! crucial no processo de compreen- sao dos enunciados. Pclo simples faco de serem supostamente conheci- das pelos interlocutores, elas permitem a transmissio de contetidos implicitos. ‘Vamos supor que, em vez de “Nao fumar®, tivéssemos um cartaz «que dissesse “Nao sonhar”, na parede da sala de espera de um renomado guru indiano. Essa proibigio parece estranha; entretanto, 0 leitor pro- vavelmente no vai se prender a um diagnéstico de estranheza, mas vai desenvolver um raciocinio do seguinte tipo: 1. *Logigque et conversation" trad. ft. in Communintons, 2° 30, 1979, eh as wis po oscuns 2 © autor desse enunciado disse “Nao sonhar”, Nao tenho o dircito de pensar que ele nao respeita o principio de cooperagio. De acordo com esse principio, todo enunciado deve apresentar um certo interesse para aquele a quem é dirigido; o autor desse cartaz, sabe disso sabe tam- bbéin que os que o lerem também 0 sabem. Suponho, portanto, que, se cle infrigiu a lei segundo a qual os enunciados devem ser do interesse do destinatdtio, foi somente como disfarce. Na verdade, esse enuncia- do tem seu interesse, mas de uma outra maneira: no devemos nos fixar em seu contetido literal, mas procurar uma outra interpretasio ‘compativel com o principio segundo o qual os enuunciados tém algum interesse para seus destinatirios. Como 0 autor do eartaz no fez nada para que eu me atenha ao seu contetido literal, ele quer que eu chegue a. esse raciocinio. ‘Assim, 0 leitor serd levado a inferir uma proposigio implicita, denominada implicatura, baseando-se no postulado de que as leis do discurso sao respeitadas pelo autor do cartaz. Como se trata de um grande guru indiano, tentaré chegar a uma implicatura compativel com © que conhece da doutrina do grande guru. Nesse caso, o principio de coopera¢io foi respeitado pelo enunciador, mas de uma maneira indi- reta: o guru me transmite uma mensagem que me diz. respeito, mas esse contetido nao me ¢ acessivel imediatamente; tal contetido esté implicito e preciso inferi-lo do enunciado escrito. Esse tipo de implicito que se evidencia pelo conftonto do enun- ciado com o contexto de enunciagso, pastulando-se que as leis do dis- ‘curso sio respeitadas, é denominado subentendido, Em geral, op6e- -se 0 subentendido a um outro tipo de implicito, os pressupostos, qu vyém inscritos no enuunciado. Por exemplo, a partir de Paul deixou de fumar na sala de espera u tirar 0 presuposto de que antes ele fiamava. Esse contetido im- plicito esti no enunciado, mas subtraindo-se a qualquer contestagao, como se sc tratasse de uma cvidéncia (ver capitulo 16, item 3). As trés dimensées da comunicagéo verbal prinefpio da “cooperagio” ¢ apenas uma das formas de expri mir algo que é constitutivo da comunicacao verbal e que muitos ou- ‘0s tedricos das tilkimas décadas do século XX elaboraram sob deno- minag6es variadas. Patrick Charaudeau, por exemplo, vé na base de todo exerefcio da palavra um “contrato de comunicagio”? que implica: + a cxisténcia de normas, de convengbes aceitas pelos participan- tes, para reger a comunicacao; as “leis do discurso” que examinaremos mais de perto sto normas desse tipo; * um reconhecimento miituo dos participantes, de seus papéis e do quadro de sua comunicagéo, Segundo F, Flahault, pode-se mesmo fa- lar de relagées de Lugares: Nao hé palavra que nZo seja proferida de um determinado lugar e no convogue 0 interlocutor a ocupar um lugar correativos seja porque essa palavra pressupte simplesmente que a relacio de lugares esti em vigor, seja porque o locutor espera do outro o reconhecimento do lugar que Ihe € préprio, ou porque obriga o interlocutor a se inscrever na relagio. La parole intermédiaire, Le Seuil, 1978, p. 58 + a incluso da fala em multiplos géneras de discurso que definem a situagio de comunicagio (ver capitulo 5, item 4) 2. As principais leis (00> Pertinéncia e sinceridade A lista das leis do discurso ¢ as relagdes que estas entretém entre si variam de um autor a outro. Algumas tém um alcance ex- tremamente geral, como, por exemplo, a lei da pertinéncia ou a da sinceridade. A kei da pertinéncia A lei da pertinéncia recebe definigées variadas, intuitivas ou sofis- ticadas.* Intuitivamente, estipula que uma enunciagio deve ser maxi- ‘mamente adequada ao contexto em que acontece: deve interessar a0 destinatirio, fornecendo-lhe informagées que modifiquem a situagio, 2. Ver“Le dialogue dans un mode de dscours” in Cais de LingniqueFrangaie, 2 V7, Genéve, 1995, 3, Referimo-nos 4 “teoria da petinocia” de Dan Sperber e Denre Wilton, autores gue ‘onsidcram que a pertingocia consti 0 principio fundamental que orienta 2 interpreta Gos «enanciaos (Le Petineme, 1986, trad, fe. Pars, Editions de Minuit 1989). as us Do oiscvaso 3 E em fingao dessa lei que o cliente do grande guru indiano vai procu- rar inferit um contesido implicito para “Nao sonhar”, Poderfamos fa- zer a mesma observagio a respeito de “Esta sala é um espago reservado a nao fimantes”: os leitores inferem que sao proibidos de fumar por- que postulam que essa assergio Ihes diz respeito e porque ela transmite uma mensagem capaz de modificar sua situagio. “Toda enunciagio implica sua pertinéncia, o que leva o destinaté- rio a procurar confirmar essa pertinéncia, Se um jornal publica na pri- meira pagina “Daniel yoltou a yer a princesa Stéphanic”, s6 0 fato de dizé-lo implica que esta informagao ¢ pertinente Id onde ela se encon- tra, do modo como se encontra e para o ptiblico ao qual sc destina. Da mesma maneira, se um outro jornal publica na sua primeira pégina: 0 atentado de Hebron evidenciou a urgéncia de um acordo judaico- -palestino. Le Monde, 3 de jancieo de 1997. cle propde como sendo pertinente um titulo que declaradamente nao pretende anunciar um acontecimento, mas que constitui, na realidade, © comentario de um acontecimento. Assim, ele reforga sua propria ima- gem de jornal que € capaz. de tomar distancia com rela¢ao aos aconteci- ‘mentos. Apresentando como pertinente um comentério como esse na primeira pigina, ele legitima um tipo de comunicagio jornalistica que atribui ao leitor maior interesse pelo enriquecimento de sua comprecn- sao do mundo do que pela modificagio de seu estaque de informagies. A lei da sinceridade Diz respeito 20 engajamento do enunciador no ato de fala que realiza. Cada ato de fala (prometer, afirmar, ordenar, desejar etc.) im- plica um determinado niimero de condigoes, de regras do jogo. Por cexemplo, para afirmar algo, deve-se estar em condigées de garantita verdade do que se dizs para dar uma ordem, deve-se querer que a.ot- dem seja obedecida, no ordenar alguma coisa impossivel ou jé realiza- dactc, A Ici da sinceridade nao sera respeitada se 0 enunciador enuncia tum desejo que no quer ver realizado, se afirma algo que sabe ser falso ete. O fato de que a lingua dispde de advérbios de enunciagio como “francamente” ou “sinceramente”, por exemplo, mostra-nos que essa lei entra as vezes em conflito com outras, relativas & polidez, uma vez que, normalmente, nao deveria ser necessirio esclarecer que se est falando “francamente”... Lei de informatividade e da exaustividade A lei da informatividade Incide sobre o contetido dos enunciados ¢ estipula que nao se deve falar pata no dizer nada, que os enunciados devem fornecer in- formacées novas ao destinatério, Mas uma regra desse tipo s6 pode ser avaliada em situacao. E em virtude dessa lei que as tautologias (*Um “marido é um marido”) geralmente obrigam o destinatério a inferir subentendidos: se alguém proferiu um enunciado que aparentemente nao fornece nenhuma informagio, ¢ para transmitir-me um outro con- tetido. E 0 caso deste amdncio publicitério de 1997 para a Fiat: ‘Para aqueles a quem o Punto j{ do bastava, aqui esti o Punto. Constatando que o enunciado aparentemente no fornece nada e-novo, o keitor, valendo-se da lei da informatividade, vai inferir que deve haver, de algum modo, uma inform: a, por exemplo, que se trata de um novo Punto. iste-| MY 1 A lei da exaustividade ‘Nao é uma repetigio da lei da informatividade. Ela especifica que o enunciador deve dar a informagio maxima, considerando-se a situa- “gio. Quando se Ié em um artigo de jornal “Sete reféns foram libertados rna embaixada do Japao”, supde-se que o enuinciado deu a informagao méxima, isto €, que sete reféns ao toile foram libertados. Com efeito, de um ponto de vista estritamente Iigico, dizer que cinco reféns foram libertados nao seria falso. Da mesma maneira, se, num guia turistico do Brasil, é-se “O Rio esté localizado a uma certa distincia da Bahia”, ‘sem maiores precisGes, pode-se considerar que a lei de informatividade foi transgredida, relativamente a0 contrato imposto a esse tipo de li- vyro, que visa fornecer informagdes priticas. A lei da exaustividade exi- ge também que no se esconda uma informagao importante. Seria esse (0 caso se um jornal publicasse a manchete “Um grupo de jovens agride um homem” ¢ sc o homem em questo fosse um “policial fardado”. Em contrapartida, se o titulo fosse “Um grupo de jovens agride um policial loiro de sctenta e sete quilos”, a lei da exaustividade seria igual- ‘mente transgredida por excesso de informacio. Mas pode-se imaginar que haja circunstancias em que um titulo desse tipo no seria insdlito: .informatividade depende da pertinéncia, 2s Las o oscURSO a As leis da modalidade ‘Um determinado mimero de leis da modalidade prescreve cla za (na prontincia, na escolha das_palavras, na complexidade das frases etc.) ¢, principalmente, economia (procurar a formulacio mais dire- ta), Essas norms sic evidentemente relativas aos pois nao pode existir uma norma universal de clareza: as que prevale- em para um artigo de filosofia ou de fisica quantica, por exemplo, no ‘as mesmas que as que podem ser aplicadas a uma conversa familiar. No inicio dos anos noventa, a marca do sabao em pé Omo lan- ‘sou na televisio francesa uma campanha de publicidade em que ma cos vestidos de homem produziam enunciados que transgrediam niti- damente as leis da modalidade. Por exemplo: “Ké nsimero so mini ripow (imagem da familia que olhao filhote bater palmas de alegria, porque seu macacio esté limpo). “Loukati papinon?” (0 fllote levanta o copo para brindar & fotografia do avo). Aqui, a compreensio s6 pode ser muito parcial; os enunciados ido sao destinados a ser compreendidos no sentido habitual da palavra, mas a suscitar a procura kidica de sua significagao, Esta intligibilidade parcial toma-sc verossimil pelo fato de que os locutores sio também. apenas parcialmente humanos (macacos vestidos de homens). Como se trata de ‘uma lingua “humanéide”, o leitor nao vai tentar descobrir um subenten- dido: 0 fato de que se trata de publicidade ¢ de que os locutores sio ‘macacos provoca um tipo de suspenséo das normas usuais da comunica~ io verbal. Mas somente em um primeiro nivel, pois, em um nivel supe- rior, a enunciagio funciona normalmente, respeitando as leis da modali- dade, Na qualidade de mensagem publictéria destinada a procamar a superioridade do sabao em pé Ome, ela é perfeitamente clara: a mensa- gem é veiculada entio por outras vias, em particular pelas imagens. 3. A preservacdo das faces } Face positive e negativa wiry aN ws Como a comunicaggo verbal é também uma relagao social, cla se submete como tal is regras que costumamos chamar de polidez. Trans- gredir uma lei do discurso (falar fora do assunto, ser hermético, nto dar as informagoes solicitadas etc.) é se expor a ser chamado de “mal- -educado”. O simples fato de dirigir a palavra a alguém, de monopoli- ar sua atengao jé € uma intrusdo no seu espaco, um ato porencialmen- te agressivo. Esses fendmenos de polidez, estio integrados na teoria denominada “das faces”, desenvolvida desde o final dos anos setenta principalmente por P. Brown ¢ S, Levinson,* que se inspiraram no socidlogo americano E. Goffiman.* Nesse modelo, considera-se que todo individuo possui duas fice; © termo “face” deve aqui ser tomado no sentido que este termo possti uma expressio como “perder a face”: + uma face negativa, que corresponde ao “territério™ de cada um (seu corpo, sua intimidade etc.); * uma face positiva, que corresponde & “fachada” social, & nossa propria imagem valorizante que tentamos apresentar aos outros. Como a comunicagéo verbal pressupée no minimo dois partic antes, existem, no minimo, quatro fices envolvidas na comunicasgo: a face positiva ¢ a face negativa de cada um dos interlocutores. Todo ato de enunciagéo pode constituir uma ameaga para uma ‘ou virias dessas faces: dar uma ordem valoriza a face positiva do locu- tor, desvalorizando a do interlocutor; dirigir a palavra a um desconhe- cido ameaga a face negativa do destinatario (é uma intrusio no seu territério), mas também a face positiva do locutor (que pode ser visto como sendo excessivamente desinibido). Podem-se entio distinguir: * as falas ameacadoras para a face positiva do locutor: admitir um erro, desculpar-se etc., que representam aos humilhantes; + as falas ameagadoras para a face negation do locusor: a promessa, Por exemplo, compromete 0 sujeito a realizar atos que demandario tempo ¢ energia etc.; * as falas ameagadoras para a face positina do destinatdrio: a ceitica, 0 insulto etc.; * as falas ameagadoras para a face negatina do destinatdvio: per- guntas indiscretas, consclhos nao solicitados, ordens etc. 4, Polten, Carbide, Cambridge University Press, 1987. 8. Les rites dierati, trad. fe, Paris, Editions de Minuit, 1974, As its 00 oscunso 2 Visto que uma mesma fala pode ameagar uma face com 0 intuito de preservar uma outra, os interlocutores sao constantemente levados a buscar um acordo, a negociar. Eles devem efetivamente procurar um meio de preservar suas prdprias faces sem ameagar a de scu parceiro. Desenvolve-se, entio, todo um conjunto de estratégias discursivas para encontrar um ponto de equilibrio entre essas exigéncias contraditérias, Onde ninguém 6 preguicoso Consideremos, entio, esse primeiro pardgrafo de um antincio pu- blicitétio para o uisque Jack Daniel’: acima do texto hé uma foto onde se vé, sentado perto de um grande barr de élcool, em ambiente semi- obscuro, um operério tomando café: Fe NA HOKA DO FRIMEIRO CAFEZINHO..., © senhor McGee jé produziu mais do que a maioria de nds em um tinico dia, Esse texto procura apresentar McGee como 0 empregado mode- lo da destilaria Jack Daniel’. Se estivesse escrito “a maioria de vacés”, a face positiva de Jack Daniel’s seria valorizada (levantar cedo & uma prova de disposicio para o trabalho), mas a face positiva do leitor estaria ameagada, uma vez que a impressdo seria a de que os compradores potenciais do produto sio preguigosos. Escrevendo “a maioria de nds”, o texto tenta um meio-termo: a face positiva da empresa é valorizada por intermédio de seu empregado modelo, mas 0 “nds” generalizante inclui o locutor da publicidade no conjunto daqueles que no se levantam cedo. Esse meio-termo, no entanto, tem um preco: pode ameagar a face positiva do locutor, isto é, a empresa Jack Daniel's, que pode dar a impressao de s6 empregar funciondrios nao muito esforgados. Esse conflito ¢ resolvido no pardgrafo seguinte: ‘Richard McGee levanta-se muito antes do amanhecer. No frescor € no siléncio das manhas do Tennessce, cle roda os pesados bartis de Jack Danie’s através das armazéins de envelhecimento. Lentamente; no seu rit- 's, nunca fazemos nada Pela passagem de um “n6s” generalizante a um “nés” que se refe- re somente aos empregados da empresa, a frase “na destilaria Jack Danief’s, nunca fazemos nada com pressa” permite eliminar a ideia de {que os empregados néo gostam de trabalhar cedo. Agora, as qualida- des de McGee sfo as mesmas que as de scus colegas ¢ nao hd mais ameaca para a face positiva do Ieitor. Discurso publictério, discurso jomalistico e faces iio foi por acaso que utilizamos esse exemplo de discurso publi- citirio, Na verdade, existe uma diferenca importante entre discurso publicitério e discurso jornalistico. Para 0 primeiro, é primordial 0 problema da preservacio das faces, pois sua enunciagio é por natureza ameagat + o simples fro de pedir para ser lido constitui ao mesmo tempo uma ameaga para a face positiva do responsavel pela enunciacio, a ‘marca do produto (que corre o risco de ser vista como uma “chatice”) ‘uma ameaga para as faces negativa e positiva do destinatirio (tratado como alguém sem importincia, a quem sc pode pedir que dedique uma parte de seu tempo & leitura do entunciado publicitério); + todo enunciado publicitirio visa pedir dinheiro ao Ieitor-con- sumidor, 0 que representa também uma ameaga & sua face negativa, bem como a do locutor, em seu papel de solicitante. Criar um antincio que seja sedutor, isto é, que agrade ao destina- tério, significa anular imaginariamente essa ameaga &s faces, que & ‘constitutiva da enunciagio publicitéria. Em contrapartida, o discurso jornalistico é de certa forma anteci- padamente legitimado, uma vez. que foi o préptio leitor que © com- rou. O jornal procura apresentar-se como quem responde a deman- das, explicitas ou nfo, dos leitores. Quando o jornal prope uma segio Sua satide” ou “Resultados esportivos”, ele valoriza a face positiva do leitor, interessando-se pelas suas preferéncias ou necessidades, accitan- do-as como legitimas ao satisfazé-las; ele valoriza também sua prépria face positiva de locutor, a0 mostrar-se preocupado com o bem-estar de seus clientes.

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