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Caso Delegação de Poderes
Caso Delegação de Poderes
UNIVERSIDADE PORTUCALENSE
PROPOSTA DE RESOLUÇÃO
DELEGAÇÃO DE COMPETÊNCIAS
II)
Sugestão de resolução
O caso prá tico em aná lise relaciona-se com atribuição de competê ncias a um
determinado órgão (conjunto de poderes funcionais que a lei confere a um órgão
para a prossecução das atribuições da pcp a que pertence) e a consequente
delegaçã o e subdelegaçã o de poderes ou de competê ncias. Antes de proceder à sua
aná lise, deverá fazer-se uma breve nota introdutó ria. Com efeito, importará ter
presente algumas das seguintes noçõ es fundamentais.
A competê ncia, de acordo com o artigo 36.º, n.º 1 do CPA é irrenunciá vel e
inaliená vel. Com efeito, os ó rgã os nã o podem renunciar aos seus poderes, nem
transmiti-los, salvo quando a lei o permitir. Ee , pois, nulo todo o contrato ou ato de
renú ncia ao exercı́cio de uma competê ncia nos termos e para os efeitos do artigo
36.º, n.º 2 do CPA. Sucede, contudo, que a lei permite a figura da delegaçã o de
competê ncias (artigo 36.º, n.º 1, 2.ª parte do CPA). Assim podemos falar em
competê ncia delegada quando nos deparamos com o exercício de uma competência
a ser realizado por um órgão que primariamente não se encontrava legalmente
dotado para o efeito.
A delegaçã o de poderes dá observância, desde logo, ao princı́pio da desconcentraçã o
de competê ncias. A expressã o “desconcentraçã o de competê ncias” visa significar a
existência de um sistema em que o poder decisó rio se reparte entre vários órgãos
ainda que hierarquicamente organizados em escalões diferenciados. Este tipo de
sistema de administraçã o desconcentrada distingue-se do sistema de concentraçã o
de competê ncias ou de administraçã o concentrada em que o mais elevado órgão
hierárquico é o ú nico competente para tomar decisõ es, ficando os subalternos
limitados à s tarefas de preparaçã o e execuçã o das decisõ es daquele. A
desconcentraçã o de competê ncias opera de duas formas distintas: I) pode resultar
da lei, ou seja, é a lei que reparte as competê ncias entre o superior e o subalterno,
sendo que aqui falamos em desconcentraçã o originá ria; ou entã o, II) pode resultar
de um ato especı́fico de transferê ncia de competê ncia do órgão primariamente
competente para outro órgão atravé s da delegaçã o de competê ncias, sendo que aqui
falamos em desconcentraçã o derivada. O regime geral da delegaçã o de
competê ncias, sem prejuı́zo de lei especial, vem previsto nos artigos 44.º a 50.º do
CPA.
A delegaçã o de poderes ou de competê ncias pode, assim, definir-se como o ato pelo
qual um ó rgã o da AP, normalmente competente para decidir em determinada
maté ria, permite, de acordo com a lei, que outro ó rgã o ou agente pratique atos
administrativos sobre a mesma maté ria. Para que haja uma delegaçã o de
competê ncias é necessá rio que se verifiquem trê s elementos essenciais: 1)
existê ncia de uma lei de habilitaçã o; 2) existê ncia de dois ó rgã os – o delegante
(aquele que era originariamente detentor da competência e que se encontra
habilitado a delegar) e o delegado (aquele chamado, através da delegação de
competências, a dar observância ao seu exercício), que sã o os elementos subjetivos
da delegaçã o; e 3) existência do ato de delegaçã o propriamente dito que concretiza
e traduz a vontade do delegante, configurando o elemento volitivo da delegação de
poderes.
Verifiquemos se no caso que nos é colocado se verificam todos estes elementos e se,
de facto, a decisã o emitida ao abrigo de uma delegaçã o de competê ncias pelo Reitor
é ou nã o vá lida.
Presumindo que existiu lei de habilitação (não há dados no caso que nos conduza
noutro sentido) e que temos dois órgãos – o delegante (o Ministro) e o delegado (o
Reitor) – cabe analisar se o ato de delegação propriamente dito se encontra válida e
eficazmente praticado.
Para o efeito, este terceiro elemento da delegação de poderes pressupõe a
observância de um conjunto de requisitos especiais. Tais requisitos especiais
situam-se ao nı́vel dos requisitos de validade e / ou de eficá cia do ato de delegaçã o
(artigo 47.º, n.ºs 1 e 2 respetivamente do CPA). Sã o requisitos de validade do ato de
delegaçã o a especificaçã o dos poderes que sã o delegados ou quais os atos que o
delegado pode praticar, bem como a menção da norma de habilitação, que permite
ao delegante proceder à transferência do exercício da competência e ao delegado
exercê-la legitimamente (artigo 47.º, n.º 1 CPA). Admitindo que, no caso, se
verificam tais requisitos de validade, a questã o coloca-se ao nı́vel dos requisitos de
eficá cia (artigo 47.º n.º 2 CPA). O ato de delegaçã o, para ser eficaz, está sujeito a
publicaçã o no Diá rio da Repú blica ou na publicaçã o oficial da entidade pú blica, e na
Internet, no sı́tio institucional da entidade em causa, no prazo de 30 dias (artigo
159.º ex vi 47.º, n.º 2 do CPA), e conter todos os elementos referidos no n.º 1 do
artigo 151.º do CPA (artigo 151.º, n.º 1 ex vi artigo 159.º do CPA).
Posto isto, cabe enunciar que, tal como demandado pelos termos do artigo 159.º do
CPA, a publicação terá de ocorrer ou através do DR OU através da publicação
institucional da entidade pública em causa E na internet. Assim, o ato de delegação
poderá ser perfeitamente eficaz se, ainda que não tenha sido publicado no DR, o tiver
sido na publicação institucional da entidade pública e na internet.
No caso, presumindo que nã o houve publicaçã o nem em DR, nem na publicação
oficial da entidade, nem na internet, estaremos perante a inobservância dos
requisitos de eficácia do ato de delegação. A falta de publicidade da delegaçã o gera
a ineficá cia da delegaçã o de poderes (artigo 47.º, n.º 2 do CPA). Nã o podendo o ato
de delegaçã o produzir efeitos jurı́dicos – daı́ a noçã o de ineficá cia –, o ato do suposto
delegado, praticado na sequê ncia de uma delegaçã o ineficaz, ficará viciado, quanto
à sua validade, de acordo com a tese da transferência do exercício, advogada pelo
Professor Freitas do Amaral. No caso, temos um ó rgã o de uma p.c.p. – Ministro da
Ciê ncia (p.c.p. Estado) – que havia supostamente delegado algumas competê ncias
num outro ó rgã o de uma outra p.c.p. – o Reitor da Universidade do Porto (sendo a
Universidade outra p.c.p. para efeitos de organizaçã o administrativa). Deste modo,
o ato praticado pelo Reitor – aval à construçã o de uma cantina-bar, no Campus do
Campo Alegre e autorizaçã o da respetiva despesa – encontra-se inquinado pelo vı́cio
da incompetê ncia absoluta – pois nã o só subverte as competê ncias do Ministro da
Ciê ncia, mas també m se imiscui nas atribuiçõ es desse mesmo Ministé rio – que
determina a nulidade do ato (artigo 161.º, n.º 2, a) do CPA).
III)
Em 15.01.2019, o Reitor da UTAD delegou certas competê ncias nos seus Vice-
reitores. Delegou no Vice-reitor Joã o a competê ncia para decidir o recurso previsto
no art. 43º, n.º 1 do DL n.º XXX/YY, de 11 de junho (recurso do ato de exclusã o de
um concurso para o recrutamento e seleçã o de pessoal para a Universidade, que é
dirigido ao órgão má ximo). Pressupondo que o Reitor avoca a competê ncia e, nã o
obstante a ter transmitido, pretende ser ele mesmo a decidir um recurso interposto
por um candidato excluı́do de um procedimento concursal aberto pelos serviços da
UTAD, mencione se tal desiderato é possı́vel.
Sugestão de resolução
IV)
O Reitor da Universidade de Lisboa, por despacho n.º 13 715/2019, publicado no
site no dia 12 de Julho de 2019, delegou nos atuais Presidentes de Faculdade um rol
significativo de competê ncias, sendo que, de entre elas, cumpre destacar a
competê ncia para a constituiçã o de jú ris de seleçã o dos concursos de admissã o de
assistentes convidados, autorizar a realizaçã o de chamadas telefó nicas
internacionais e autorizar a equiparaçã o a bolseiro de docentes por perı́odos de 15
dias. Neste contexto, considerando a hipó tese de terem decorrido eleiçõ es em
Setembro de 2019 e ter sido eleito um novo Reitor, diga se o Presidente da
Faculdade de Direito, ao abrigo daquela delegaçã o, pode nomear jú ri para
recrutamento de um assistente convidado para o grupo das ciê ncias jurı́dico-
polı́ticas e autorizar a realizaçã o de chamadas telefó nicas internacionais.
a) Imagine que, na sequência, um docente não contente com a nomeação
do júri para recrutamento de um assistente convidado, decide reagir
administrativamente. O que poderia fazer, sabendo que entre o Reitor
e os Presidentes das Faculdades há uma relação de hierarquia?
Sugestão de resolução