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FINANGAS Cinco décadas de Financas area de Finangas experimentou, no Brasil, desenvolvimen- to importante. A partir de simples apéndice da Contabilida- de, evoluiu com modelos préprios, os quais se caracterizam pelo rigor analitico e pelo suporte 4 tomada de decisao. Para falar des- se processo, convidamos os professores William Eid Jr. e Piero Tedeschi, ambos da FGV-EAESP Na entrevista, tratam ainda de como os profis- sionais financeiros podem contribuir para a geracao de valor nas em- presas em um momento de grande énfase nos mercados de capitais. por Pedro F Bendassolli GV-executivo Quais os principais momentos da histéria ‘outras escolas de Administragdo, a érea passou a ser estuda- da area de Financas no Brasil? dda com mais profundidade e abrangéncia, seguindo os mno- William Eid Jr.: Hé cingienta anos, Finangas era um delos norte-americanos disponives campo de conhecimento ainda bastante incipiente no Brasil Naquela época, & area estava muito associada & Contabilida- A influéncia norte-americana sempre foi de, que foi impulsionada pelo desenvolvimento da USP. A mareante? partir da década de 1960, com a EAESP e, mais tarde, com — WES: Os livros, conceitos © abordagens eram, como, de CCV executive « 22 FINANGAS: CINCO DECADAS DE FINANGS certo modo, ainda continuam sendo, de origem predomi- nantemente norte-americana, Essa predominancia aconteceu por diversos motivos. Dentre eles, podemos destacar a che- gada das multinacionais dos Estados Unidos ao Brasil. Junto com elas vieram empresas de auclitoria que trouxeram, em sua bagagem, livros de fnancas, os quais retratavam as préti- cas daquele pais. Os professores da EAESP apesar de muito ligedas aos modelos norte-americanos, deram alguns saltos Jocais, Em particular, podemos destacaro estudo pioneito de finangaseinlagao, iniciado no final dos anos setenta pelo pro- fessor Wladimir Puggina, Um outro momento importante para o desenvolvimento da area de Financas no Brasil ocorreu entre 6 final dos anos setentae inicio dos anas oitenta. Na ocasio, iniciou-se o desenvolvimento no pats de andlises dos merca- dos financeiros, O elxo de atracto dos trabalhos comecava.ase deslocar da inflacdo para os mercados financiros. Esse deslo- camento angio auge nos anos noventa, quando os estudos de mercados financeiros se destacaram sobre as de finangas corporatvas. A década de noventa também trouxe wm outro ‘movimento importante para a area o uso cada ver mais inten- so de métods quanttativos. A rea 6 hoje fortemente caracte- rizada pelo emprego desses métodos. Mesmo assim, temos de registrar aqui que o Brasil ainda esté um pouco defasado no uso de fais métodos, quando comparado a outros paises. Por que isso ocorre? WES: Podemos levantar uma hipotese. Em nosso pais, mul tos pesquisadores e executivas consideram Finangas como um campo mais proximo das Ciénctas Humanas do que das Cie cias Exatas, Iso contribui para uma espécie de “preconeceito” ern relagdo aos métodos quanttativos, Na verdad, area de A partir da ruptura do modelo monopolista no século XX, nos Estados Unidos, as empresas passaram a se preocupar mais com seu desempenho. Em paralelo, a estratégia financeira passou a ser fundamental para a obtencao do desempenho positive. Finangas, como 0 campo da Administracio, é uma ea hibr- dda, que nio pode prescindir dos recursos disponivets nas varias ciéncia, as quaistém fronteiras com ela. Piero Tedeschi: Antes de pensarmos no contexto local temos ce mencionar que a area como um todo passou por -modiicagées significativas a partir da década de cingiienta, a ‘comegar pelos EUA. A principal delas refere-se a perda de prestigi sofida pelos modelos normativo-descrtivas em F- nangas~ dominante nos anos cingitenta esessenta, ¢ que se baseavam numa forte caracterizacéo institucional, No luger dees, surgiu a busca por modelos mais “positives”; ou sea, voltados @ verifcacio empirica. Surgiram, em torno dessa ‘mudanca de modelos, duas areas especificas e novas dentro de Finangas: a primeira foi chamada de precifica- (ao de ativos ea segunda fol de financas corporat vas, Em relagdo & preci cagio de ativos, 0 marca inicial foi langado pelos estudos de Markowitzso- bre diversficagao de car teiras,realizados em 1952 ¢ 1959, e pelos trabalhos de Sharpe ¢ Lintner. am- bos em 1964, sobre o modelo de preciticagao de aivos bati- zado de CAPM ~ Capital Asset Pricing Model, Este ttimo ‘modelo ofereceu novas ideas sobre a natureza do risco, crian- do também as condigies para as futurasinvestigagdes emp ricas fundamentals para o desenvolvimento da érea E quanto as financas corporativas? PT: No que diz respeito a financas corporativas, as idéias pioneiras foram apresentadas por Modigliani c Miller, em 1958 ¢ 1961. Estes autores postularam a irrelevancia do capital para a determinacéo do valor de uma empresa e da politica de dividendos para o mesmo fim. Outro aspecto importante da area de Finangas, e que caracteriza muito de sua evolucdo nesses iltimos cingtienta anos é a énfase cada vez maior que se passou a dar @ mensuragdo do de- sempenho das empresas, a andlise das decisdes de investi- ‘mento ¢ & busca de uma estrutura de capital adequada, ‘em detrimento da simples busca de financiamentos. Fot a ——————— iancas: ernco tcabas DE FINAN AS propria EAESP que trouxe esses modelos para cée os apli- cou a realidade local De que forma a EAESP marcou esta histéria de cinco décadas? WES: Quando a EAESP surgiu, em 1954, néo havia uma grande preocupagdo com a area de Finangas no pats. As em- presas eram dominadas por engenheiros ¢ outras profissio- nals, que estavam mais preocupados com anzlises contabets, A partir da fundacao da BARSP a area comecou a ser consi- derada como merecedora de um reconhecimento individual AA atuacio de professores da EAESP. que haviam se formado nos Estadas Unidas, fez com que houvesse uma transferén- cia muito grande de conhecimentos dos grandes centros para © Brasil. Isso contribuiu decisivamente para o desenvolvi- mento do instrumental de financas no pais. Qual 0 cenario atual? PT: Depois de décadas de dominio inconteste da EAESP da USP no cenéio de Financas no Brasil, temos novos atores no horizonte, InstituigSes como a Fundacao Dom Cabral e 0 TBMEC, entre outras, vém fazendo um esforgo enorme no sentido de participarem mais aivamente da produgio di- fusio de conhecimentos na area, Até mesmo as escolas mais tradicionais, embora com pouca presenga no meio académi- coem Finangas, vém mudando sua postura, Dois bons exemn- plos sio a Universidade Presbitertana Mackenzie ea Univer sidade Federal do Rio Grande do Sul. Quais foram os grandes temas ‘que dominaram a atengao da area ao longe de sua histéria no pais? PT: Durante as tkimas décadas, em especial na década de citenta, a preocupacao com decisées financeiras em um am- biente de elevada inflagdo dominow as agendas dos profisio- nais da érea. O allo contexto inflacionério levow a uma cres- cente preocupacao com questdes ligadas & administragdo de capital de giro. Com o Plano Real, em 1994, as preocupagses se voltaram basicamente para o funcionamento dos merca- dos de capita. Isso também ocorreu porque estes tiveram lum forte crescimento na tiltima década, em parte gracas a0 firme processo de internacionalizagao, Quanto a area de fic nangas corporativas, a preocupacao atual est associada com a replicagio e verficagdo, em mercadas emergentes, das ini iativas realizadas em mercados desenvolvidos. ‘Quais as principais contribuigées da area para a gestao ¢ competitividade das empresas brasileiras? WEI: Penso que um dos maiores beneficios trazidos pelos estudos de Finangas para as empresas brasiliras fo a disse- ‘minagao de modelos de gestio estratégica de recursos. Se, por um lado, no temos um histérico de grande criatividade ro desenvolvimento de solugées locais, por outro temas 0 -mérito de ter difundido as técnicas mais modernas de gestio financeira existentes. PT. 0 modemo ensino de Financas, em diversas institu «es do pais, ocortido em paralelo com a prépria maturacéo

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