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ISSN 0104-0658 ARDRDYEYY Cadernos Antropologia Imagem 10 | Campo da | Imagem | Cadernos Antropologia Imagem 10 Campo da Imagem Cadernos de Antropologia e Imagem 10 Catan de Apdo «Inga sn bine Eiiers mand pes Nin dt AuopueInep (OAD, | lene Bry sn (te Onde Bain» Pinu ir Soin de | Pre ene Deerannt de nie Soa! Tita de Fifa ‘Gis Manes de Une do ae de i de | Cost Batra Jana CUERD Sue poet atin neta | Cnt ene fran an da inn es ein inne | Winn Pris Ete tin te tee tease Wate | pec Sm ‘nae Se wut mato | koe ones Pe Caderaos de Antropoogia © tmagcm Nicleo de Antropotogia'¢ lmagcim ona Ei : Ola se Ensinn © Peequlsn em Ciénciag | Ans Mac Galune (Universidade Feleral de Ri de Socias 1FeH/tERy let ne ee Rn Me | hie ent or Sth etd nacOoeal echt ua Sho Urancisco Xavier 524, Pavl Foto tyra Hho, Bloco A~ sala 9002 Cope 20550-015 | Patri uso, Donte Gato Our Maracant ~ Rie de Janeiro — wy ee Sin Poon, Ecobank Watered a Tebans (ORREI) 387-7590, | stem tte America lads EUAN? Eee Se apa: Fetograis seta do antiga “Eome nosis | ter Meter Bde en Stee Soon, Fan cess de ua novs exten” de Ant Maia | Roll ihn te memoria) i Man Galan. | teniersode de San Pani eter Loco Scat of Economics and Pole Seems. tpn tee! Pa use Email cadcrnosaueridbr Asistenteeeleoral Ana Faksman Begin Cin R Moers (Onvrid Foert te Re Versoes pars 0 inglés Cunt eiony se Tanion. Sie Cans Rove (Onivestnde de Sts Paulo furs Garett Panel, Sik Doc here San arte Pablcag sere = 20001 Wane He Rater, Fong Soles pert / Eichange desired ae Cotalogagae oa fonte UER/SISHUSERPROT |c122 Caters de Ameya nagetnivcsad da Bsa dy ode nie Nikon le | Antnpigs eT = N= (1995) inden UR, NAL II | Ge-paiienda com Progen de Pa-Gradgto en Cine Sis UR 4 Anup Posies, Universidad do Esch do Roe anc. Neen | Sgrmiters tom inn te ec Pepa Rs Gin | i 200 s7205) { Ce Pee Goorsndey de pablies. Renato Casini Careaado de predacio. Rosaria Rolins Paty Grifen Cats Ries Aveo deepaHchs Fancs Dg, Cokes de Feces ‘Reaet:Klsabeth Laon Fibo Mra BRAAYEYYEYYY Fotografar para descobrir, fotografar para contar A fotografia produzida durante uma pes quis pode ser de dois tipos, que compreen cdem dois momentos ¢ cuntprem duas final clades distntas: a) a fotografia feita com 0 objetivo de se obter infonmagdes,b) a ftogra- fi feta para demonstrar ou enunciar conclu- Stes. Exes dos pos de Fotografia, que repre senvamn apenas uma pate, ainda que substan cial e de importincia maior, do corpus foto sgrifico que pode ser constiuide 20 longo de uma pesquisa antropolégica, constisuem 16 objeto principal deste antigo, onde analisa- ‘os as principais questées teéticas e priticas inerentes a produgio © 2 utlizago dese tipo de Fotografias na reflexio antropoligica, Um corpus fotogrifico pode compreen- dlr, além deste material, imageas produzi- as fora do Ambito da pesquisa, anterior: ‘mente ou simulaneamente & este, por ter= eis ou pelos préprias membros da com nidade estudada* E 9 e1s0 dos dlbuns de familia e similares, reportagens © outs ti pos de documentagio sobre o assunto, como também do material produzido pelos préprios membros da comunidade estudads sob a coordenagio do pesquisidor:® ez Osa pl rove de We ees oo ide de Amelia do coeds Cada tipo de fotografia deve ser analisa- cdo tendo em conta sua especiicidade e 0 contexta de sua produgo. Uma distingao fundamental a ser considerada na anilise do material ftogrifico € a natureza emigue ou do ‘tique da imagem. No primeira caso, qua la foi produzida ou assumida pela com dade estudada, enconta-se foscosamente im- pregnada pela representagio que comun dade ou seus membros fazem de si proprios € por conseqiiéncia expressa de alguma ‘maneica 2 identdade social do grupo em questi. J2 2 fotografia feta pelo pesquisa dor, ce natureza etique, é sempre uma hips: tese a se confimar a parti do conjunto de dlados recolhides ou por meio de outros procedimentas de pesquisa.’ As fotografias, portato, podem ser utl- zadas como instrumento de pesquisa ou se confundirem com © proprio objeto de pes- quisa. As imagens de natureza emigue estio necessariamente nesta ikima categoria, 0 que ro impede que sejam também utlizadas como instrumento de pesquisa, ito é, como lum meio que 0 pesquisador emprega para induzit 0 pesquisado a buscar ele mesmo a Cadernas de Amtropologia e Imageim, Rio de Janeiro, LLL): 198-105, 2000 wr abe “nee (Oe dt Fema de ce Foc ‘Sapa coe sa on infoomagio que fad avancar a teflexto cien Gea, Alls, mada inpede que ume mesma imagem, sea ela emigue ou etgue, cumpra diversos paps durante 2 pesquisa na de mmonstaio das conclsbes. ‘A otogalia produzda “para deseo comtesponde iquele momento da obseragio participate em que 0 pesquisador se fai aria com seu objeto de estudo,e formula as Primelias questdes prities com relagio pesquisa de campo propriamente dia. £ 0 ‘momento de imptegnacio, no senda empre- sudo por Olver de Sadan (169579), em que © pesqusador vivencia © cotitiano de uma comunicade & comega a *perceber algura coi’, sem enteanta saber exatmente do que se tata. Muito cas coisas percebidas fea ro nivel de sensagdes, no chegando a se transfomar em dads, mas serve pra bale 6 trabalho de campo” O pesquisidor tem, a ‘sta altora, mais perguntas do que resposa, € 25 fotogais vio rete est stuag0, AS fotos obvias nesta fase podem ser utizadas diretaente em entevisas com os informan- tes como ceferéncia para a constugto do objeto de estudo. Els podem ainda adit um sentido mais sco o2 medida em que 0 pesquisadoravance na compreensio da re alidade estudada, volando a ser utlizadas em outs exapas do trabalho pare enuncie ou explciar concludes. ‘A fotografia “para contar® cortesponde 40 momento em que 0 pesqusador compre- ede e, de ceta foam, domina seu objeto de estat, podendo, portant, wtizar a fo- togiafia para destacar com seguranga aspee- tose siuacbes mareantes da cultura estuda 4a, e deseavolver sua reflesdo apoitdo nas cvidéncias que a fotografia pode apontar. E importante nokar que, embora estejem aqui hassifcados dlidatcamente em tempos dife- rentes, estes dois tips de trabalho fotogsifico se tomam mais € mais concamitanes na medida em que a pesquisa de campa avansa Fotografar para descobrir e para entender De maneia ger que é mais imponan- te mz utlzagio da forogafia, a meu ver, € que ela pode ser 20 mesmo tempo o ponta de patda © 0 resutado fina. Ow set, a foxograia pode ~ em tems vsuas ~ “zee uma pergunta © buscar a resposa a essa mesma petguna” (Caer-Bresson, 1952). Io porque, na medida em que a fotografi & capaz de captar 0 inesperado € mesma 0 imprevisivel, ela pode abrir novas posi des para a compreensi € 2 absorgo de um fio (Krebs, §, 1975. Una dts potencalidades da fotografia € destaca um aspect particular da raldade que se enconra divide num vaso campo de vio, explictando asim a singuaridade a wanscendéncia de uma cena, Como explica Piewe Fatumbi Verge, no dia-a-dia da vida (..) 0 que voc vin 6 substituido tr segundos depois por wma outra impressdo que se sobrepée di prime a; a fotografia precisa ele ~ tom a van- tagem de parar as coisa.) ¢ desta manet- ra permits que se veja 0 que 54 tinha sido nirevisto e imediatamente esquecido, par- que uma nove impresdo vio apagar a ‘precedente, e assim por diame, ¢ 0 visto ira wma coisa esquecida...) (Verge, 1991-168) Cadternos de Aneropeogia ¢ Imagen, Rio de Janeiro, 101): 155-105, 2000 ‘Ou seja, conforme observou Roland Barthes (1980'52), “a fotografia fornece de mediao esses ‘detalhes’ que consttuem 0 prOprio material do saber etnatégico"* A foogatia tem se mostado bastante sfiews no estudo das elagdes sociais em que 1s indivduos se definem por meio da line guagem geswal. £ neste campo que a foto- syalia como instumento de pesquisa apie senta toda a sua capacidade “inquiridora quando apresentada as pessoas fotogatadas, ccmprindo 0 papel de perguntas {insrumen- tochave). Ela contém um invenitio com- plexo e reveladar de elementos sempre vis: {os com interesse por aqueles que nel es- tao representados, na medida em que ‘imagem ceflete a propria realidade destas pessoas (Collier, 168 © Guran, 1986b). As informagées obiidas por este processo tém vida propria, io independentes da imagem aque as fizeram vir 2 uz. Os comentirios dos informantes sto esimulados peta fotografia mas geralmente vio muito mais além, dis- pensando a peesenca desta no desdobramento do trabalho, Esta mesma fotografia, porém, poderd vir a inteyrar 0 dscurso final, cu prindo uma outa Fungo Este procedimento de restiuigio da ima- gem 3s pessoas representadas pode ser determinant para os rumos da pesquisa, uma vez que, como sublinhou Nalinowsky 2 pro- pésito das populacses das lhas Tiobriands, 6 conjumto da tradigo tribal como 0 con- unto. da estrusura social se enconiram _guardados no mais inacessve! dos materi- Ais 0 ser bumano.(..) Bxatamente como les (05 eres bumaos) obedecent aos seus instinos aos seus impukos sem saber es- tabelecer wma 56 lei de pscofoga, os ina ‘goias se submetem ao poder coerciteo € 4s obrigagées do cédigo tribal sem con: preendéls, (1922: bred. 1) Entetant, a contibuigo mais importante que a fekograia pode tazer 4 pesquisa e 20 discus antropol6gices, meu ver, eside no fato de que, pela sua propria nacureza, la obvign a uma pereepeto do mundo cie- rente daquela exigida pelos outros meétodos de pesquisa, dando assim acesso a inform- g8es que dificmente poderiam ser obtidas or outros meios. Estas informagées ~ def das por Maresca (1996-113) como “as tor cas que passam pelo siléncio, pelos oares, expressiesfaciais, mimicas, gests, distncia cc" ~ podem ser iteis mesmo quando mio nos € possivel enquadeidas no contexto l6gico do discurso cient. Esta contibui ho maior da fotografia 8s ciéncias sociais ~ 4 possiblidade de uma perceprio diferenci- ada da sealidade se encontra presente n0 estudo do que Piete (1992:11) chama de ‘mode mineur de la éalité *(.) sto identi- ficagdes laterais,aspectos isos, algumas indeteminagdes, coisas 2 considerar ou a desprezar, que S40 e 20 mesmo tempo 10 Sio..” A fotogsafia & considerada por Piette (19962149) como ‘o meio ideal para se des- cobrir esses detalhes © estimular um novo colhar sobre a via social’, que coincide de certa forma com a afirmagio de Barthes ci- tada cima ‘Anda que ests informacoes fiquem no nivel de simples impresses, elas podem aju- da a finer emerge algumas pistas que pet nitrbo uma melhor compreensio da seal dade estudada (Olivier de Sardan, 1987 © Caceres de Antropologiae bmagen, Rio de Janeira, 101): 155-185, 2000 cao por see 50 1995). E © que nos dia também Caiuby Novaes, quando afirma que ‘0 uso da imagem acrescenta novas dint ses imtypretagao da bistéria cultura, permitindo aprofendar a compreensi do tuniverso simbilico, que se exprime em si Jemas de attude por meio dos quais gru- (Pos socais se definem, constroem ident ddades e apreendem mentatidades, (.) Cerias fonémenas, embora implicitas na gia da cultura, 96 padem explicitar no plano das formas sensiveso sex significa. do mais profunda, (1998:116) © que € cortoborado por Edwards, para quem a fotografia tornase 0 local para a anicu- lagdo de ontras abordagens e outas for mas de expresso e consumo. Ao fazer iso, ela esabefece uma fluider ene o cleni- 0 20 popular, realism e expressionism, ‘assimilando num uso maior da foografia imagens normalmente descritas como emogrificas, (1997.53-54) Esta situagio paradoxal ¢ explicada pelo filésofo Vlém Flusser (1985) pelo fto de a Fotografia, na sua condicio de imagem, pet- ‘encet 20 “mundo da magia™, enquanto que 0 discurso cientfico situa-se no “mundo da consciéncia histérica", que ¢ presidido pela escrit linear, Segundo este autor, (.) ete spago-tempo priprio da imagem Jotogrfica ndo & owiro que o mundo da ‘magia~ mundo onde tudo se repte onde toda e qualquer coisa participa a um con- texto de significagio.(..)A sigficagio das Jmagens € méica, (1996 10) A imagem teonolien~ 90 nosso i802 foxoata ~ pode, enti, sewir como uma espéci de poate ence estes dos mundos de aque Fla ss a medi cm qu, enantio imagem, eta & uma representgio da raid de oda por impeesio graces & aplicagio dos textos cetices. A imagem tecnlogca €, portanio, ontologicamente diferente cas imagens tacos, uma ver que ela pe: ce a0 mesmo tempo 0 mundo da magia exo mundo cieniieo desenolvido a pair da seria linear. Una fotografia ~ na sua diner so documenta = ado € 0 produto live da ‘naginag de alguém, ms, plo conti, & sempee 0 reslado da acto da hz sobre um suponte sensivel, ow sea, ums pagoda da relate No enanto, para que & fotografia cum pra com efcincia sus fnges na pesqu- 52 na tflexao antopaligies, € neces fio que ela responds a certs trittios de aualidae. Antes de mais nada, 2 boa ut lzagao fotografia como iastumento de pesquse depende dirtamente da feta da imagem, ito é, do reconhecimento dos davos a pani dos quis pode-se desenvcl- ver uma reflexto ceniea uma fotografia rca em informagio na medida em que o ler sea capaz de perceber suas ances de represenacio. A kinura depende tame hem, na mesma medida, da qualidade da Imagem. £ preciso que ext sejaefcente na 0a fungto de reclher e de transmiir informagdes: uma fotografia mal feta € Commo um text mal escrito cujo sentido es- capa 2a lito Cnderuos de Antropologia ¢ Imagem, Rin de Lancire, 101): 185-165, 2000 A fotografia éficientena pesquisa de campo Para melhor compreendermos esta nogio de ficizncia da imagem ftogrfc, temas de levar em conta 35 especficdades ca fotogsa- fia como meio de expressio, bem coma a logica do seu proesso de produsio$ Temos de considerar também que nem tudo que se 8 pode ser fotografado, ou set, pode ser traduzid de forma eficaz por meio da lingua em fotogrtica No que conceme & sua propria natureza, © ato de fotogafar implica sempre ¢ neces- sariamente a “escolha de um enquadamento no espacoe de um instante no tempo" (Horvat, 1990) A fotografia se realiza em um espago de tempo muito curto, ¢ esa pariculaidade resume toda sua singuaridade e complexida de: tat-se de efetuar um reconhecimento antecpado de uma determinada cena, jé que © que € visto nio é mais foto, uma vez que jf serd passado no momento do click Esta caracersica singular da fotogralia ~ a escolha do momento - que a diferencia do cinema e do video, & deteminante para sua uilzagao como instrumento de pesquisa de ‘campo. No caso do cinema e do video, que trabalham com o plano continuo, uma toca de iias xo longo da flagem entre aquele que opera a cimera © aquele que dirige a pesquisa € perfetamente possivel, assim como uma espécie de diregio de cena. Ainda que sj desevel que 0 antropélogo acumule as fancies de realizado, isto no consttui uma {questo fundamental no caso do cinema e do video como instrumentos de pesquisa (Mead, 19752197. No que toca 2 fotografia, entretan- to, as coisas so bem diferentes, uma vez que Fag pe ae, gi pe todo © processo se conclu em uma fragdo de segundo repousa sobre um momento intuido, Nao se tata, ent20, de comparthar (© enquadsamento da reaidade, mas sobret- do de prever (ou melhor, ini) € capa um -momentosintese representaivo de um aspec- to do universo em estudo. Estas peculiridades fazem da fotografia uma realizacto estitamente pessoal, resulta- do dito da interagio ene 0 fo16grafo e 0 conteédo da cena registrada, Contrariamente 2 utlizao do cinema e do video, o empre- 0 da Fotografia como insrumento de pesqui 26, portanto, uma tarefa a ser ealzada pelo ppréprio pesquisador.? Tanto mais que, tal como os outios procedimentos da pesquisa de campo, 0s procedimentas para a tomada de fotograias sio a0 mesmo tempo de con- teiido e de forma (Olivier de Sardan, 1987), ‘uma vez que a postura do pesquisadar-fors srafo também faz parte da técnica de pesqui- 52, como veremos 2 seguir, | pereepeto dos acontecimentas visindo 4 sun traduglo em imagens requer um certo tipo de interagio com a realidade que & con- dlicionado pelas necessidades especticas do ato fotogrfica, Ao antropélogo nao se pede {que abandone sua condligao de pesquisador ~ isto 6, seus pressupastas centificas ~ para se {omar um “artista, ou sea, alguém que esti cexclusivamentevoltado para expressio pes soa. Entetanto, 0 pesquisador fot6grafo pre cisa se colocar em um certo “comprimento de ‘ondas’ face 20s acontecimentos, de movda que 0 raciocinio possa, por um momento, ceder a primazin 2 sensbiidade © 2 intuiglo, Esa cespeciicdade do ato fotogréfico condiciona (0 tabalho de campo. Fm conseqiéncia, 0 pesquisador que tenha a responsabilidade de Caderwos de Antropelogia ¢ Imagem, Rio de Janeiro, 10(1): 155-165, 2000 ‘hee mais ver A i 8 aia, es ii ey coma esti esa trails psp feepl is ‘pe esi pds pes cap oe iengen ‘ee tapi st 160 conduzir sozinho uma pesquisa no poder cle mesmo, explorar todas as potencialidades dd fotografia como insteumento, de pesquisa A fotografia, enquanto extensto da nosst capacidade de ver, constiu-se naturalmente ‘em um inscumento da observa participa te (Rouill, 1991) na busca de dadas antropo- Hogicos. Ou seja, a funcio da fotografia &a de destacar um aspecto de uma cena a pati do qual sea possvel se desenvolver uma relle- 20 objetia sobre como 0s indviduos au os ‘grupos socias representam, organizam e cks- sifcam suas experiéacis © mantém relages centee si. Seu papel mais importante como méolo de observagt, convém sublinha, nd9 € apenas expor aquilo que é visivel, mas sobretudo tornarvisivel o que nem sempre é visto, como observou Paul Klee com relagio 4 piotura (Read, HL, 1985). As entrvisas fe 135 com Fotografias petmitem, por exemplo, ‘que aspectos apenas percebidos ou intidos pelo pesquisador sejam vistas ~e se tansfor- ‘mem em dados ~ a partir das comentiios do informante sobre 2 imagem, Consideradas estas quesides relativas & postr do forSgrafo e 4s Fungbes que a foto pode exercer no seio de um wabalho de pesquis, € na natureza mesmo do processo fotogralico que reside a chave para sua boa utlizacao. A matéia-prima da fotogralia é a face visivel da realidade, que se encontra ppermanentemente em movimento, Cabe 20 Fo1Sgafo-antrapslogo observa este movimen- to, selecionar o que for significative eat nivel plistico ¢ em nivel cienfic, ¢ regisrélo fexograficamente, Fotografar € antes de tudo atcbuir (ou reconhecer) valor a um aspecio eterminado de uma cena. Ese aspecto deve ser evidente e claro desde © primero clhar sobre a fotografia, como ja observamos. En- teetanto, muito freqientemente acontece que uma fotografia desperte nossa atengio - ou mesmo nos emacione ~ enquanto que uma coutra, da mesma cena, no chegue nem mesmo a seter nosso olhas. O que fez 4 di fereaca & apenas e o-somente a boa wiliza- ho da linguagem fotogetica, s elementos principals da linguagem Fotogréfica ~ tanto na fotogeaia a cores como ra em preto-e-branco ~ sio a luz, a escalha ‘do momento, 0 foco e 6 enquadramento, aiém clas questdes colocadas pelos dlferenes fil. mes e objevas® Uma vez Fetes os procedi rmentostécnicos ~ 4 medigio da luz, 0 ajuste di velocidade de obturagio, do dlaftagma © do foco ~ € a qualidade da luz, 0 enquadrs- mento e a escolha do momento, ov se, 0 instante em que © conjunto de fares teni- 05 e 05 dados de contetido se integram & atingem a plenitude da expresaa plisica que conferemn (ada 2 sua eficicia 4 imagem fox _grifica. Nas palavras de Canier-Bresson (1952), “uma fotografia € (..) 0 reconhecimento si- ‘multineo, numa mesma fragio de segundo, dd sigaiicagto de um fato © a organizacio rigorosa das formas percebidas visualmente que exprimem este fat’ 0 ato fotogrifico comega entao pelo re- conhecimento do conteida de uma cena, pela selegio de um aspecto que mereca ser des- tacado. Dentio do visor, excluemse ou wa cetios elementos visuais ~ que entretan representam também dados ou informagdes ~ ‘com objetivo de destacar o aspecto essencial dla cena segundo o ponto de visa escolhi, fundamental eliminar 20 maximo os ele rmentos acessérios que possam poluir a men- sagem principal ou concorrer com ela. Da Gaderas de Antropologia ¢ basen, Ria de Jancre, 101) 158-105, 2000 mesma maneia que uma emisoraiofniea pox ser prejudicada por mudos pastas, 2 eficincin da comunicago Toogetica se re- dz pela preseaga de elementos visuais de- sorganizads. ‘imagem fotogrfca se consi a parti de um elemento visual que consul 0 pomta de pana gaa sua letura. Este ponto deve ser reconhetido dsse o primes olay scbre 1 fotografia. Ele deve sero pineic elementon visual a despertar nossa atengio,e esperse que todo mundo comece a lead agem por este ponta? A ausfncia dese pono, ot 2 exstnci de vétios pontas com 0 mesmo sive de evidéncia, pode ser uma solugto estén, mas de uma forma geral tora imagem confsa e faca Os procedimentos relatives ao enguadi mento € escola do insaate sto ligados 3s quests ténicas{ilumiaago, objets, ia fragma, foo, tipo de ime), mas eles depen- dein também e sobretido da prépia postura o fiografo face a0 seu abeta de estudo. © pesqisadoc no € de mod algum um caga- dor de imagens, nem um trabalho cieattico pode se consiue de imagens “oubadas’. & verdade que a foto insantine, como um grate jomalisic, & um elemento essen a do dlscurso fotogtico. Nas, no que concesne 2 pesquse, & mais importante a documentache das agbes e atudes que se repetem ~ 0 que exige sempre a escolha do momento mas rico em signifiagbes ~ do que rar fotas como wm paparazzo, com sco de pertubar uma determinada sinagao e até mesmo comprometer toda a pesquisa. O res Bello 20 outo, tanto no nivel das rlagdes pessoas quanto soci (por exemplo, no que toca aos espacs publics ¢ privads), € um ‘ool ont agp cat dos pontos mais importantes a serem obser- vados se quetemos ober bons resultados 4 partir de um trabalho fotogrifico. Como sabe- ros, « fotografia desde a sua invengio sem pre foi alvo de preconceites ¢ interpretacbes clas mais diversas em teas as culras" xa atitude de respeita tanto 3s pessoas quanto a0 método de cabal foi muito bem estacada por Bateson, 20 comentar sua pes quisa com M. Mead em Bali Lis procuramosfotografar as acontecimen- ‘as nomalmente e cam espontanedade, ao snes de decidir segundo noses proprics ‘pariimeiras © em seguida pedivmos aos balinenses que representassem o gue tinba- ‘os deidido em wo local mats bem thmi- nado. Os aparesfotografics foram tra dos em campo como insrumentos de re isto, ¢ ndo como un meio para iisrar ‘as nassaspriprias tse, (194249) Fotografar para contar feo Fa para conta & aque que vist espeiamene inegar 0 dscuso, ape senar 2 coches ds pesquisa, somandose as demas inagens do corps ftogico © fimcoranda sobreudo ma descigio © na in cerpreacio dos Fendmenos esas. gera- mente pred quando opesquiidor pode ident os aspects elevates xj regio conti pra apresentago de sua rfleao Nic impede, porm, que Fetografas fas na primeira fase do pesquisa ~a de descobi — assem por una fleur evenham a integer © edscus firl nest catego fara que a uilzagio da fotgnia sea fice na apresetacto das conclosdes da Gadernos de Antropologia ¢ lagen, Rio de ancire, 10(1): 155-105, 2000 cores etd Et se 0 prc hentece esos gem mi ones pe shoe 8 pon de ‘Sin ceo semi agen Seren Fa Sea we cone Ou 20 ‘woo drone (oops ho a nom "csi 162 pesquis,€ necessirio que aja uma arcu Go etre as duas linguagens, 9 esctia © 9 Wual, de modo que uma complete © en queca a outra. Na verdade, tata-se de concatenar dois discursosditinos que 5 fun- Gionam juts se dtlogando ent SS fot- gras, pra fciae a Feta, devem sex ore sadas cle miado a produzitem um sentido or Si mesma em seu cnjunoe indvidualente ra aa rego com 0 exo. Pr to, € vane jas que els se ntecalem 20 texto, foonan- do um todo com as infomagées ecrias esa ariculgio, 2 fotografia pode: «) suceder 20 esto, apresetando-s como ex plicagto complement on como evidénca de lum aspecto deserio ou comenzado; ou b) funciona como ponte de panda para una ‘eflexio!” 0 primeiro caso € aquele em que 4 forogrsfia participa da desrsto do univer se fsico da pesquisa, bem como de rita, procedimentos tecnolgicos, relagdes socks ate. © apoio da fxogaia prop una des- crigio mais completa e detahada de si ees complexas, de agbes rips, la pode, por exemplo, marcar as etapas de um sa, destaat a posigo precisa dos personages, seus gets, indumentiis, pondo em evi <éaciaaspectas que dificimente podesam ser vadides claramente apenas peas linguagem sci. A preocupagao em bem deserever as situagdes em campo foi 0 que levou Malinowski (1985) 2 investr tanto na docu meniagto fotogréfica, como podemos consta- sar pels leitura de seu ditrio de campo. A fotografia pode funcionar também como uma espécie de “encenagic" da reflexio an twopelégica, a qual passa a se desenvolver a partir da imagem, A fungio da fotografa & entio definida como dustragao interpretative por Attané e Langewiesche, que explicam que 4 ftcgrafa poem evidéncia aspects dt realidede esudada que so detetades tn too discurs dos informants quanto nas neta unas divas formas de ober saga Bla constitu, ent, em dado plementar a mesmo tmp que sa ues etapa da reflexio antropolgica. Sua i aio implica em um vaie-cem consante entre a reflexio anrapolgica e os dads apresentades na imagem. (1997) Um exemplo da uilizagao radical deste recurso € 0 clissico de Bateson e Mead, Balinese chavacier~ A photographic analysis, {que continua sendo, mais de cingienta anos clepois de sua publicago,a principal obra de referéncia quanto 2 uliizaglo da fotografia para descobrir © para coniar no campo da antropologia. 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