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Apostila - Reabilitacao - Psicossocial
Apostila - Reabilitacao - Psicossocial
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE I
REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL................................................................................................................ 9
CAPÍTULO 1
A CRÍTICA AO MODELO MANICOMIAL...................................................................................... 9
UNIDADE II
O MODELO PSICOSSOCIAL.................................................................................................................. 23
CAPÍTULO 1
ATITUDE PSICOSSOCIAL........................................................................................................... 23
UNIDADE III
MODELOS DE GESTÃO......................................................................................................................... 46
CAPÍTULO 1
ARRANJOS ORGANIZACIONAIS E GESTÃO COMPARTILHADA.................................................... 46
REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 63
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
5
Atenção
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
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Introdução
O presente Caderno de Estudos e Pesquisa visa direcionar o aluno para uma leitura
no tema da “Reabilitação Psicossocial”. Este caderno reúne conceitos, abordagens e
referências nessa área em articulação com a Saúde Mental e o processo da Reforma
Psiquiátrica. Deste modo, temos aqui uma leitura de diversas disciplinas do saber e da
prática profissional que visam compreender e inter-relacionar perspectivas e métodos
de cuidado e tratamento em saúde, vinculados a uma prática social.
Para concluir nosso caderno – ou para (não finalizar) - apresentamos também algumas
considerações finais do tema reabilitação psicossocial no âmbito da saúde mental,
coletiva e da gestão em saúde, articulados com o processo de elaboração deste conteúdo,
e com referências cruciais e importantes em saúde.
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Desejamos a todos uma boa leitura, e um ótimo aproveitamento do curso e do conteúdo
dessa disciplina.
Objetivos
»» Apresentar uma compreensão do tema “Reabilitação Psicossocial” no
campo da saúde mental.
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REABILITAÇÃO UNIDADE I
PSICOSSOCIAL
CAPÍTULO 1
A crítica ao modelo manicomial
“ TRADUZIR-SE
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte delira.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte, linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?”
(FERREIRA GULLAR)
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UNIDADE I │ REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL
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REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL │ UNIDADE I
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UNIDADE I │ REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL
Esse processo caracteriza-se por três diretrizes que, segundo Rotelli (1990), vão tomando
corpo à medida que o manicômio vai sendo destituído – e que assim representam seus
pilares de sustentação e fundamentação para um trabalho antimanicomial em saúde
mental:
Deste modo, no que tange a uma prática antimanicomial, podemos destacar que a
desinstitucionalização requer um movimento não meramente clínico, mas também
social e político – de reconstituição de uma cidadania –, culminando em um movimento
da luta que congrega todas as suas dimensões e todos os seus aspectos – da reforma.
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REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL │ UNIDADE I
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UNIDADE I │ REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL
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REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL │ UNIDADE I
Conceitos e fundamentos da
Reabilitação Psicossocial
Mais adiante, Pitta (2001) descreve que, para a OMS, a Reabilitação Psicossocial é
definida como:
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UNIDADE I │ REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL
E mais:
Portanto:
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REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL │ UNIDADE I
Segundo Pitta (em HIRDES e KANTORSKI, 2004), existem variáveis relacionadas aos
resultados da reabilitação que podem ser compreendidas em dois níveis – macro e micro:
Clínica ampliada
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UNIDADE I │ REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL
Assim, uma clínica ampliada tece-se e é tecida numa rede social ampla e articulada
entre profissionais e usuários em prol do cuidado em saúde mental. Mais uma vez,
singularidade, limite e articulação são evocados como princípios e principalmente
como recursos de atenção e cuidado.
Nesse contexto, uma nova prática clínica faz-se vigente. De acordo com Garcia (1997),
um novo posicionamento ético faz-se necessário nessa “clínica do social” – que presta
atenção aos sujeitos portadores de sofrimento psíquico:
Aqui, o autor nos convoca a uma clínica do acontecimento que se oferece no presente,
naquilo que ocorre no cotidiano de nossa prática em saúde mental – como conteúdo e
recurso de cuidado e tratamento. Configura-se como uma estratégia mesmo da clínica
antimanicomial.
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REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL │ UNIDADE I
Bezerra Jr. (2007) contextualiza a clínica ampliada – pós cenário da luta antimanicomial
– conforme algumas perspectivas: clínica propriamente, psicopatológica e política:
Freud (1856-1939) introduz seu artigo sobre o mal-estar do homem em sociedade, com
um paradoxo existente entre os ‘pensamentos’ das pessoas e suas ações ou atitudes.
O pai da psicanálise introduz aqui um conflito subjetivo entre o indivíduo, o desejo
pulsional e as exigências sociais (para dizer de modo sintético) que inaugura a questão
do sofrimento psíquico. Isto é, o homem constitui-se desde sua origem em uma situação
paradoxal ou conflituosa que precisa ser vista e cuidada.
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UNIDADE I │ REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL
É um sujeito que se constitui em seu meio sócio-político, sujeito único e singular, que
aparece nesta mais recente perspectiva de uma clínica ampliada. Trata-se de uma
experiência peculiar e subjetiva:
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REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL │ UNIDADE I
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UNIDADE I │ REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL
No que tange ao aspecto ético de uma clínica ampliada, queremos destacar a função
transformadora de uma prática em saúde mental, que utiliza seus recursos e instrumentos
técnicos em prol de um cuidado e tratamento do sujeito humano – que constitui-se como
um indivíduo integrado e singular.
Na compreensão de Lobosque (2003), tal prática em saúde mental define-se como uma
clínica em movimento – em convivência com a loucura – gerada por ações e estratégias
sócio-políticas que exigem transformação a partir da proposta da reforma psiquiátrica
e do movimento antimanicomial:
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O MODELO UNIDADE II
PSICOSSOCIAL
CAPÍTULO 1
Atitude psicossocial
Atitude psicossocial
Na área da saúde mental, a abordagem psicossocial possibilita articular ciência,
práticas clínicas e sociopolíticas, compreendendo os atores em seu cotidiano, o
que envolve as dimensões psíquicas, sociais e culturais por meio das quais os
protagonistas, individual e coletivamente, se posicionam. (...) Assim, o sentido da
intervenção psicossocial, no espaço da saúde mental, busca superar a dualidade
sujeito/objeto, saúde/doença, individual/social, questionando a verticalidade do
tratamento e o poder biomédico. Nessa dinâmica, a clínica ampliada na saúde
mental realiza intervenções com vistas à promoção de espaços de invenção e
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UNIDADE II │ O MODELO PSICOSSOCIAL
Uma clínica ampliada exige uma atitude ética diferenciada, que compreendemos como
atitude psicossocial – no contexto do movimento de transformação social. Segundo
abordagem de uma psicologia social, devemos compreender o indivíduo na trama de suas
relações e situações sociais. Assim, uma clínica social com tal atitude e posicionamento
ético revela-nos uma rede de relações e cuidados situados numa dinâmica social e coletiva.
Conforme Bendassolli e Soboll (2011), a psicologia social clínica tem interesse pelo
vínculo social e suas variações – intersubjetivas e relacionais – e manifestações ou
expressões sociais, isto é, conflitos, dominação, exclusão, solidariedade, cooperação,
aliança, troca, dentre outras.
O grupo social veicula o sentido de uma expressão coletiva assim como as instituições
que são formadas a partir de seus valores, costumes, atitudes e comportamentos sociais:
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O MODELO PSICOSSOCIAL │ UNIDADE II
Conforme Bendasolli e Sobol (2011) o social é caracterizado não somente pelo conjunto
de seu imaginário social ou pelo sistema simbólico de troca, mas sim e principalmente
pelo conjunto dinâmico de suas relações de transformação da realidade, ou seja, de
construção social.
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UNIDADE II │ O MODELO PSICOSSOCIAL
Assim, temos a ação do psicólogo em Saúde Mental no contexto de uma prática multi e
interdisciplinar que possa acolher e congregar todas as áreas de formação, assim como
os campos de saber e as abordagens de atenção e cuidado:
Nesse âmbito, temos três desafios numa prática de atenção psicossocial que são
lançados – a seguir - como tópicos de reflexão e exercício profissional:
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O MODELO PSICOSSOCIAL │ UNIDADE II
Temos que o trabalho em equipe numa Clínica Ampliada em Saúde Mental retoma
alguns requisitos fundamentais, tais como:
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UNIDADE II │ O MODELO PSICOSSOCIAL
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O MODELO PSICOSSOCIAL │ UNIDADE II
Segundo Souza (2010), as equipes podem ser definidas como multi, inter ou
transdisciplinares - conforme seu modo de organização, configuração, dinâmica de
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UNIDADE II │ O MODELO PSICOSSOCIAL
Nesse âmbito, temos um desafio na prática em equipe de Saúde que é estipulado pela
complexidade e diversidade de suas áreas de formação profissional, no sentido de
congregar e integrar tais práticas num único campo de exercício e serviço de atenção e
cuidado em saúde coletiva:
»» Rede de acolhimento.
»» Cuidado humanizado.
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UNIDADE II │ O MODELO PSICOSSOCIAL
Vimos - mais uma vez – reiterados, com o processo da humanização- aspectos e questões
levantados no trabalho de uma clínica ampliada que envolve uma atitude psicossocial.
Para tanto, para que um cuidado humanizado seja possível e posto em prática, alguns
critérios são estabelecidos pelos SUS, a saber:
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UNIDADE II │ O MODELO PSICOSSOCIAL
Temos que a Saúde Pública ou Saúde Coletiva constitui-se como um campo de saber
diversificado e complexo, isto é, são várias as disciplinas, ciências e experiências do
saber que contribuem para a formação da Saúde (Mental) no Brasil. No campo que nos
interessa aqui podemos citar a Psiquiatria, a Enfermagem, a Psicologia, a Sociologia,
a Epidemiologia, a Ciência Política, a Economia, a Ecologia, a Educação e a Ética –
dentre tantas mais, como ciências que se preocupam com a Saúde Coletiva.
Assim como tais disciplinas, temos também nossas ações e políticas públicas que são
constituídas e avançam em prol de uma saúde pública digna no Brasil, que têm como
instrumento principal o SUS, suas diretrizes e serviços de atenção em saúde. Nesse
contexto, emerge a Saúde Mental no país e suas repercussões socioculturais.
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O MODELO PSICOSSOCIAL │ UNIDADE II
Nesse contexto, notamos que os grupos e as organizações sociais são formados pelas
próprias pessoas e pelos profissionais envolvidos com determinada disciplina do saber
e assim podem transformá-los.
A Clínica Social – ou a Clínica Ampliada como vimos - assim pode ser desenvolvida e
articulada conforme saberes e experiências de cada profissional ou disciplina do saber,
em cada serviço ou instituição de saúde.
O que queremos ressaltar aqui é a peculiaridade com que cada área do saber constitui
sua perspectiva sobre o sujeito e sua rede de relações. Aqui, em Saúde, temos os usuários,
os profissionais, as equipes - todos envolvidos numa rede complexa e única de atenção –
formando um trabalho multi, inter e transdisciplinar.
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UNIDADE II │ O MODELO PSICOSSOCIAL
No que tange às experiências e ciências do saber, temos também uma distinção que é
estabelecida – por alguns autores - entre Campo e Núcleo do Saber. Segundo Campos
(2000), essa distinção pode ser assim compreendida:
Temos que essa distinção concerne dois conceitos fundamentais que são:
O núcleo do saber diz respeito à identidade da prática profissional, enquanto que o campo
delimita uma área de exercício profissional que é multideterminada ou multidisciplinar.
São dois conceitos que se articulam aqui: identidade e campo de atuação profissional.
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O MODELO PSICOSSOCIAL │ UNIDADE II
»» autonomia do sujeito;
»» (des)institucionalização.
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UNIDADE II │ O MODELO PSICOSSOCIAL
Em relação à Economia propriamente, podemos dizer que, ainda conforme Capra (1998):
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O MODELO PSICOSSOCIAL │ UNIDADE II
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UNIDADE II │ O MODELO PSICOSSOCIAL
Vimos assim como todas essas práticas do saber estão interligadas e entrelaçadas numa
rede organizacional única e complexa de atenção e cuidado.
Como você articula sua prática em Saúde Mental com sua identidade profissional
e espaço ou campo do Saber? Eles se encontram em sua experiência profissional?
Estigma e discriminação
“Liberdade de expressão
independente do momento.
e o sonho de liberdade.”
(Ceciliano Ramos, 2010)
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O MODELO PSICOSSOCIAL │ UNIDADE II
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UNIDADE II │ O MODELO PSICOSSOCIAL
Goffman (1975) afirma que o estigma pode ocorrer devido a três circunstâncias:
abominações do corpo, como as diversas deformidades físicas; culpas de caráter
individual, como: vontade fraca, desonestidade, crenças falsas; e estigmas
tribais de raça, nação e religião que podem ser transmitidos pela linguagem.
Em todas essas tipologias pode-se encontrar a mesma característica sociológica:
“um indivíduo que poderia ser facilmente recebido na relação social quotidiana
possui um traço que se pode impor atenção e afastar aqueles que ele encontra,
destruindo a possibilidade de atenção para outros atributos seus” (GOFFMAN,
1975:14) (SIQUEIRA; CARDOSO, 2011).
No contexto que nos interessa aqui, cabe avaliar as relações de trabalho que ocorrem
nas equipes e entre os profissionais de saúde, assim como entre usuários e profissionais,
e também entre gestores e profissionais na área. Sobre tais relações ou vínculos
de trabalho, precisamos estar atentos também aos processos de estigmatização e
discriminação ou violência simbólica que possam ser gerados. Segundo Maksud
(2014), Octavio Bonet – antropólogo social – levanta uma questão a esse respeito:
[...] como lidar com o paradoxo que se apresenta em relação a esses dois
modos de violência, estrutural e simbólica, nas politicas e programas
de APS como a ESF, que ao mesmo tempo que ajudam a diminuir as
desigualdades de acesso a saúde, e portanto a violência estrutural –
evitando que se produzam mortes evitáveis, por exemplo –, instauram
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O MODELO PSICOSSOCIAL │ UNIDADE II
Notamos assim – mais uma vez–, que no contexto da atenção e cuidado em Saúde
Mental, precisamos estar atentos a tais processos sociais de estigmatização e
discriminação que tantas vezes, no histórico dos manicômios e instituições fechadas,
acontecem e se repetem e que são, veementemente, os motores ou instrumentos da luta
antimanicomial. Mais precisamente, conforme a compreensão que nos aponta Parker,
trata-se nesse caso mais de uma questão de estigmatização da doença mental, já que a
discriminação está mais associada ao racismo.
Isto é, o estigma social surge aqui como um dos desafios a serem avaliados e
implementados – enquanto recurso de enfrentamento em prol da saúde mental – no
trabalho em equipe interdisciplinar e em rede social.
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UNIDADE II │ O MODELO PSICOSSOCIAL
Trata-se aqui então dos conceitos e representações histórico-sociais que foram gerados
e que permanecem sendo formados a respeito da doença mental e do sujeito portador,
sua abordagem e seu tratamento em saúde mental.
(...) Por fim, Bastos faz uma observação sociológica afirmando que, no
mundo social, o estigma se repete, se atualiza e se reinventa, demonstrando
a persistência de diferenciações e hierarquias nas sociedades. (MAKSUD,
2014)
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O MODELO PSICOSSOCIAL │ UNIDADE II
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MODELOS DE GESTÃO UNIDADE III
CAPÍTULO 1
Arranjos organizacionais e
gestão compartilhada
Arranjos organizacionais
A instituição e gestão em Saúde Mental, assim como seus serviços e tratamentos,
também são revistos e rearranjados a partir do movimento da reforma psiquiátrica.
No cerne desta questão encontra-se o saber médico como núcleo centralizador
do trabalho em equipe em saúde e que, com novas propostas de gestão coletiva e
organização, também é transformado e assim descentralizado; modificando também
o processo do trabalho em equipe.
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MODELOS DE GESTÃO │ UNIDADE III
Deste modo, um dos arranjos organizacionais que acontece nas equipes de saúde é
a equipe de referência em Saúde, que se articula em torno da noção de vínculo
terapêutico:
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UNIDADE III │ MODELOS DE GESTÃO
Temos aqui então um arranjo organizacional que viabiliza uma articulação entre
equipe, profissionais e usuários em Saúde, de modo a propor um trabalho conjunto
e acordado entre todos – uma concordância trilateral, no mínimo. Tal arranjo,
contudo, funciona como um dispositivo de conduta e trabalho, isto é, um recurso
transitório que visa introduzir um processo novo, com a instauração de novas técnicas
de funcionamento a favor da promoção e tratamento em saúde.
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MODELOS DE GESTÃO │ UNIDADE III
O que acontece nesse arranjo é uma combinação de fatores e aspectos que viabilizam o
reconhecimento e o tratamento do sujeito em sua singularidade existencial e circunstancial.
Isto é, todos são considerados em suas peculiaridades de sofrimento, desenvolvimento
humano e especialização profissional, assim como dentro de uma proposta de integração
de disciplinas, saberes e responsabilidades.
O vínculo terapêutico como diretriz que reorganiza o trabalho em saúde entre equipe e
usuários – segundo Campos (1999) – dispõe assim de alguns aspectos fundamentais:
2. Coprodução da saúde.
3. Gestão colegiada.
4. Transdisciplinaridade.
Portanto, esse novo arranjo institucional encontra a proposta de uma clínica ampliada
em saúde mental, por meio de práticas de atenção a uma saúde integral do ser humano.
»» disponibilidade de recursos.
Neste sentido, cada território tem certa autonomia de organização e gestão de seus
serviços e equipes de referência. Como por exemplo, a Estratégia Saúde da Família –
ESF – é uma estratégia de ação e gestão em saúde que cresce e articula-se com êxito nas
unidades básicas de saúde.
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UNIDADE III │ MODELOS DE GESTÃO
Contudo, tais recursos também se apresentam como desafios à equipe e a cada instituição
ou unidade de saúde, pois – segundo Campos (1999) – depende de alguns quesitos,
tais como:
»» Acolhimento que viabilize aproximação entre usuário, família e profissionais
de referência.
A transferência define-se assim como recurso técnico analítico que viabiliza o surgimento
de um sujeito que precisa ser visto e tratado em suas experiências subjetivas peculiares.
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UNIDADE III │ MODELOS DE GESTÃO
Pode-se acrescentar que adoecer é, muitas vezes, como o grito dos órgãos no silêncio
do sujeito.
A medicina psicossomática é a medicina bio-psico-histórico-social, ou
‘medicina da pessoa’. Os seres vivos são seres históricos, no sentido de
que representam o resultado de uma longa sequência de modificações
estruturais.” (GERALDO CALDEIRA, “Relação Médico-paciente na
visão psicossomática”, em site: Psiquiatria Geral)
Deste modo, podemos destacar o grupo operativo como mais uma modalidade
organizacional do processo de trabalho em Saúde. Nesse caso, o grupo reúne-se em
torno de um tema ou tarefa comum, de modo a viabilizar a elaboração de conteúdos
psíquicos no grupo, como objetivo de mudança ou realização de uma tarefa proposta:
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UNIDADE III │ MODELOS DE GESTÃO
Deste modo, podemos articular aqui o trabalho de grupo com o trabalho da equipe
de Saúde, visando uma construção coletiva que reintegre as dimensões vistas neste
capítulo – verticalidade e horizontalidade - de um arranjo organizacional dinâmico
e dinamizador:
Mais um exemplo de arranjo organizacional em Saúde Mental que podemos citar aqui é
o modelo da atenção básica, articulado em torno da Estratégia Saúde da Família – ESF:
Deste modo, a ESF estabelece um eixo organizacional que articula gestão e prática de
atenção à saúde, através de equipes multi e interdisciplinares, fortalecendo o vínculo
institucional e terapêutico.
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MODELOS DE GESTÃO │ UNIDADE III
Gestão compartilhada
Isto posto, considera-se ainda que uma equipe pode ser denominada
como multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar... (SOUZA,
2010, p.17)
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UNIDADE III │ MODELOS DE GESTÃO
E ainda mais:
Conforme Morin e Aubé (2009, apud SOUZA, 2010), as equipes podem diferenciar-se
conforme seus propósitos e objetivos – que são distintos – e assim os comportamentos
de seus membros podem ser agrupados em sete dimensões:
1. Cooperação.
2. Apoio psicológico.
3. Administração de conflitos.
4. Planejamento-organização do trabalho.
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MODELOS DE GESTÃO │ UNIDADE III
6. Apoio à inovação.
Dimensões essas que podem ser arranjadas em duas dimensões maiores: Gestão do
trabalho e Apoio interpessoal:
Carmello (2013) ressalta três características fundamentais para a gestão, que precisam
estar conectadas e articuladas entre si:
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UNIDADE III │ MODELOS DE GESTÃO
Nesse âmbito, a Educação Permanente surge como mais uma estratégia em Saúde –
política adotada pelo próprio governo federal – que tem como meta a reestruturação
das práticas de formação, gestão e controle social nesse setor:
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MODELOS DE GESTÃO │ UNIDADE III
Temos aqui, portanto, a articulação da Saúde com a Educação em seu aspecto prático e
contingente no SUS, de modo a caracterizar a Educação Permanente como:
Portanto, o que a gestão coletiva em saúde nos viabiliza aqui é uma gestão que compartilha
seus principais aspectos de direcionamento e funcionalidade do processo de trabalho de
uma instituição, de uma equipe de trabalho e seus gestores, assim como de seus usuários,
a saber:
8. Gestão colegiada.
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UNIDADE III │ MODELOS DE GESTÃO
Todos esses aspectos passam a integrar o “modus operandi” do sistema de saúde como
um todo – de tal maneira que todos são responsáveis pelo seu bom funcionamento e
pela sua gestão. De uma rede social integrada, coletiva e autônoma. Todos precisam
estar capacitados e articulados nessa rede.
Quando se menciona a rede que, necessária, deve amparar as ações das equipes,
se remete a um sistema que irá se constituir em áreas e setores distintos entre si
em características e objetivos, mas interligados compondo um todo complexo.
(SOUZA, 2010, p. 68)
Que mais aspectos você pode evocar numa rede de atenção à saúde? Como esses aspectos
são implementados em seu trabalho profissional e cotidiano em saúde mental?
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Para (não) Finalizar
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PARA (NÃO) FINALIZAR
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Referências
ALVES, Edvânia dos Santos; FRANCISCO, Ana Lúcia. Ação psicológica em saúde
mental: uma abordagem psicossocial. Psicologia: Ciência e Profissão, 2009; 29(4).
______. Loucos pela vida: A trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. 2. ed. Rio
de Janeiro: Ed. Fiocruz, 1995.
BIRMAN, Joel. Estilo e modernidade em psicanálise. São Paulo: Ed. 34, 1997.
GUEDES, A. D.; KANTORSKI, L. P.; PEREIRA, P. M.; CLASEN, B. N.; LANGE, C.; MUNIZ,
R. M. A mudança nas práticas em saúde mental e a desinstitucionalização:
uma revisão integrativa. Rev. Eletr. Enf. 2010; 12 (3).
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 14. ed. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2001.
64
REFERÊNCIAS
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2001.
SILVA, Ana Luisa.; FONSECA, Rosa Maria. Processo de trabalho em saúde mental
e o campo psicossocial. Rev.Latino-Am. Enf. Vol.13.n.3. Ribeirão Preto:mai/
jun,2005.
SILVA, Damião Cosme (Ceciliano Ramos). Desafios poéticos. Edição II. Brasília:
Editora Independente, 2010.
Sites
<www.saude.gov.br>
<www.fotosearch.com>
<www.psiquiatriageral.com.br>
66