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DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
CDU: 796:37
CDU: 796:37
Maria de Fátima de Jesus Moreira - Bibliotecária - CRB-5/1120
Dedico este trabalho à minha vovó Luzia (em
memória). Crescida na roça, analfabeta, com
visão bastante limitada pela catarata, de
memória incrível, parceira de muitos risos e
brincadeiras, que viveu 92 anos bem vividos.
Curiosa que só ela, sempre quis entender o que
tanto seu neto estudava enfurnado no quarto
do andar de cima. “Meu filho vai ser doutor
é?”, perguntava. “Não vai estudar demais,
mente de gente é coisa fina”, alertava. Pois é
vó, seu neto não se tornou doutor, mas agora é
mestre, e continua com a “mente sã”, ao
menos por enquanto. Obrigado por todos os
sorrisos!
AGRADECIMENTOS
Antes de agradecer um alerta: a pós-graduação não precisa ser tão dolorosa como
tem sido. Não são poucos os casos de adoecimento durante o período de mestrado e
doutorado. A obrigação pela produção, da forma como ocorre, aliena tanto como as demais
atividades na sociedade capitalista que a gente busca superar e limita as possiblidades de
produções qualitativas. Assim, agradeço a todos aqueles que de alguma maneira contribuíram
para tornar esse processo mais humano.
Agradeço à turma 2016 e aos amigos que fiz durante o curso que mesmo com
pensamentos divergentes proporcionaram debates fraternos e apoio mútuo diante das
angústias e ansiedades desse período. Como diz um poema do Mauro Iasi: “O conhecimento é
assim: ri de si mesmo e de suas certezas. É meta da forma, metamorfose, movimento, fluir do
tempo, que tanto cria como arrasa, a nos mostrar que para o voo é preciso tanto o casulo como
a asa”.
Agradeço aos camaradas da vida e da luta cotidiana, militantes de hoje e de ontem da
Intersindical, ASS, LS e Outubros. Numa conjuntura em que o amanhecer por vezes parece
mais noite que a noite (Drummond), é mais que necessário consolidarmos nossos
instrumentos de luta e acreditarmos que é possível transformar essa sociedade. SEMPRE
FIRMES!
Agradeço às amigas e amigos que passaram ou estão passando por esse processo e
que de mãos dadas contribuíram para que cada passo dado fosse realizado com a certeza de
que o caminho era duro, mas cada vez mais curto (Habren Saint). São eles: Taílla, Luisa, Liz,
Elvira, Eva, Ariana, Luiz, Alan John, Nívia e Iza Rizental.
Agradeço aos colegas e alunos das escolas por onde passei nesses dois anos e meio –
Colégio Geovânia Nogueira Nunes, Escola Pero Vaz Velho e Escola Barão do Rio Branco.
Hoje sou um professor muito melhor, graças ao aprendizado que tive e tenho com todos
vocês.
Agradeço, por fim, aos meus pais e minhas irmãs “queridinhas” – estendendo aos
demais familiares – pelo apoio incondicional nas minhas escolhas, pelo carinho sempre
presente e pela educação que me foi dada. Continuo aprendendo muito com cada um de
vocês. Aos meus pais, aproveito para agradecer pelos ensinamentos que contribuíram para que
eu me tornasse o ser humano que sou hoje, que se indigna diante de qualquer injustiça e
gostaria de dizer que “nossa luta é por uma pátria sem dúvidas nem dívidas; é por um país
sem donos nem danos. Tá pensando que é mole?” (Damário Dacruz).
EPÍGRAFE
A fome/2
Um sistema de desvinculo: Boi sozinho se
lambe melhor... O próximo, o outro, não é seu
irmão, nem seu amante.
O outro é um competidor, um inimigo, um
obstáculo a ser vencido ou uma coisa a ser
usada.
O sistema, que não dá de comer, tampouco dá
de amar: condena muitos à fome de pão e
muitos mais à fome de abraços.
INTRODUÇÃO
“Como sei pouco, e sou pouco, faço o pouco que me cabe me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver o homem que quero ser.”
Thiago de Mello
1
Entre 2010 e 2013 participei ativamente do Movimento Estudantil de Educação Física (MEEF) através do
Diretório Acadêmico de Educação Física da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e por duas
gestões como corneador da Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física (ExNEEF).
2
Ao utilizar o termo “Educação Física” em maiúsculo, seguimos a argumentação de Soares (1994), que utiliza o
termo em maiúsculo para se referir às sistematizações científicas dos conteúdos da Educação Física.
3
Lema pedagógico denominado pelo professor Newton Duarte e que abarca um amplo e heterogêneo conjunto
de pedagogias, tais como: o construtivismo, a pedagogia das competências, a pedagogia do professor reflexivo, a
pedagogia dos projetos, entre outros.
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INTRODUÇÃO
4
Há um conjunto de estudos na área a respeito da formação/atuação do professor de Educação Física.
Destacamos as contribuições de Taffarel (1993), Lacks (2004), Nozaki (2004) Santos Júnior (2005), Almeida
(2005), Silva (2006), Rodrigues (2007), Cruz (2009), Alves (2010), Dutra (2011; 2013), Pinto (2012), Azevedo
(2012), etc., além das contribuições dadas pelo Movimento Estudantil de Educação Física (MEEF) ao longo de
mais de trinta anos de debate, e pelo Movimento Nacional Contra a Regulamentação do Profissional de
Educação Física (MNCR) há pelo menos 20 anos.
5
Partido dos Trabalhadores (PT).
6
Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que era denominado até recentemente de Partido do Movimento
Democrático Brasileiro (PMDB),
15
INTRODUÇÃO
A saúde pública no Brasil vem ganhando novos contornos desde a década de 1970,
quando, em meio ao contexto de luta contra a ditadura militar nasceu o movimento da reforma
sanitária, que gerou diversas discussões políticas relacionadas à saúde e que teve como marco
a 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986. Os esforços realizados pelo
movimento da reforma sanitária resultaram na redefinição a atenção à saúde no país, que é
compreendida desde a Constituição Federal de 1988 como “direito de todos e dever do
Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação”.
O advento do Sistema Único de Saúde (SUS), através da Lei nº 8.080 de 1990 (Lei
Orgânica da Saúde), trouxe um salto qualitativo na concepção e atenção à saúde no país, ao
compreender que há diversos fatores determinantes na saúde como a alimentação, a moradia,
o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer, a
organização social e econômica do país, entre outros. Na atenção básica, por se pautar pela
universalização das ações de saúde, descentralização, integralidade e regionalização no
atendimento e por colocar a família, no seu contexto físico e social, como foco principal no
processo de promoção da saúde através da Estratégia Saúde da Família (ESF).
criado em 2011, entre outros. Esses espaços estão contribuindo para inserção do professor de
Educação Física no SUS, mas também tem apontado para a necessidade de pensar a formação
para a saúde.
Com essa proposta o NASF incorpora todos os profissionais que atuam no campo da
saúde, entre eles, os professores e professoras de Educação Física7. Segundo Santos (2012
apud MARTINEZ; SILVA; SILVA 2014), o profissional de Educação Física está presente em
cerca de 49,2% das equipes do NASF em todo o Brasil. Encontra-se entre as cinco profissões
mais escolhidas pelos municípios na formação dos núcleos, o que demonstra ser um campo de
grande inserção. No município de Feira de Santana-Ba existem 18 equipes do NASF, cada
uma delas conta com um(a) professor(a) de Educação Física.
7
Embora se tenha muito debate na área quanto a denominação do profissional que se forma em Educação Física,
não há consenso entre ser chamado de “professor de Educação Física” ou “profissional de Educação Física”, e
no NASF essa questão se agrava, pois aparecem sete classificações diferentes, sendo “profissional de Educação
Física” e “avaliador físico” as mais utilizadas. A portaria nº 256, da Secretaria Nacional de Saúde, de 11 de
março de 2013, tentou resolver esse problema criando a classificação provisória de “profissional de educação
física na saúde”.
Todavia, essa portaria desconsidera todo o debate realizado na área em torno dessa questão ao criar mais uma
denominação. Desconsidera também a realidade concreta dos trabalhadores que atuam no NASF, pois na
pesquisa realizada por Santos (2012) apud Martinez, Silva e Silva (2014), depois de entrevistar 296 profissionais
em todo o país, constatou-se que 74,7% são formados em Licenciatura, ou seja, são professores.
Ademais, não obstante esses elementos citados, utilizaremos aqui a denominação de “professores de Educação
Física”, por compreender que somos professores em qualquer espaço de atuação, já que nossa intervenção é
pedagógica.
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INTRODUÇÃO
Estudos como os de Pasquim (2009)8, Anjos e Duarte (2009)9, Pinho (2011)10 e Pinto
(2012)11 Santiago, Fe e Pedrosa (2014)12 demonstram que seja em cursos de licenciatura ou de
bacharelado, a formação em Educação Física não tem dado subsídios para uma atuação
qualificada na saúde pública. Os currículos dos cursos analisados por Anjos e Duarte (2009),
por exemplo, apresentam a predominância de disciplinas cujo enfoque é curativo, terapêutico
ou prescritivo, tais como: Primeiros-Socorros e Atividade Física para grupos especiais. As
autoras endossam a tese de que os cursos de Educação Física ainda estão fundamentados no
modelo médico-centrado, restrito às patologias e acometimentos, ao invés de estarem
direcionados à melhoria do estado de saúde da população.
8
Analisou os cursos de bacharelado e licenciatura da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE), da
Universidade de São Paulo (USP) e os cursos de bacharelado e licenciatura da Faculdade de Educação Física
(FEF), da Universidade de Campinas (UNICAMP).
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Também analisaram universidades paulistas: os cursos de licenciatura e bacharelado da EEFE/USP e da
FEF/UNICAMP, além do curso de licenciatura da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e o curso de
bacharelado da Universidade São Judas Tadeu.
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Também analisou o currículo dos cursos da FEF/UNICAMP.
11
Analisou os cursos de educação física de universidades federais do nordeste: Universidade Federal do Ceará
(UFC), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Universidade Federal de Alagoas (UFAL),
Universidade Federal de Sergipe (UFS), Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia (UFRB).
12
Analisaram o curso de educação física da Universidade Federal do Piauí (UFPI)
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INTRODUÇÃO
Por mais que essas pesquisas nos permita inferir a respeito da formação para a saúde
na Educação Física, esse debate é bastante novo na área e carece de contribuições. Fizemos
algumas buscas no banco de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES) utilizando as palavras chaves “Formação, Educação e
Saúde” e “Educação Física e Sistema Único de Saúde (SUS)” no período entre 2008 – ano em
que o NASF foi criado – e 2016 – último ano possível no banco de dados. Detemo-nos apenas
aos primeiros 200 trabalhos que surgiram através de cada busca, ou seja, um total de 400
trabalhos. Destes, somente 13 tratam da relação entre a formação de professores de Educação
Física e Saúde. Também foram encontradas outras 14 pesquisas que problematizam a
intervenção do professor de Educação Física no SUS.
13
Estamos falando da fase imperialista do capital que se refere ao processo de acumulação capitalista em escala
mundial na fase do capitalismo monopolista (BOTTOMORE, 2012, p. 298) e do caráter neoliberal que os
Estados capitalistas assumiram a partir das décadas do fim da década de 1970 (ANDERSON, 1995). Esse estágio
também é marcado por uma profunda crise econômica que impulsionou transformações na base técnica do
trabalho, e, consequentemente, na redefinição do processo formativo do trabalhador, que, no Brasil de 2018,
ganha novos contornos com a reforma trabalhista e do ensino médio.
20
INTRODUÇÃO
Física, enquanto uma condição primordial para que seja possível elevar o padrão cultural da
classe trabalhadora.
14
Segundo dados do IBGE divulgados no dia 29 de agosto de 2018 e disponível em www.ibge.gov.br
21
INTRODUÇÃO
Sendo assim, tivemos como objetivo: Identificar a relação entre os marcos teórico-
conceituais do NASF e os projetos formativos dos cursos de Educação Física de Feira de
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INTRODUÇÃO
A última fase, a interpretação inferencial, foi o momento de se apoiar nos dados dos
materiais de informação, garantir uma reflexão aprofundada e apontar “proposições básicas de
transformações nos limites das estruturas específicas e gerais” (TRIVIÑOS, 1987, p. 162).
23
INTRODUÇÃO
Entendemos que essas etapas não são lineares, pois todas elas se relacionam ao longo do
desenvolvimento da pesquisa.
Desse modo, tentamos desenvolver uma reflexão filosófica, que segundo Saviani
(2004) é o ato de se debruçar sobre os problemas que se apresentam na realidade concreta e
objetiva e que abre o caminho para a ciência sob três preceitos básicos: i) ser radical, ii)
rigorosa e iii) e de conjunto.
Ser radical implica ir à raiz do problema, até seus fundamentos, operando uma
reflexão em profundidade. Dessa forma, buscamos compreender o processo de reordenamento
do mundo do trabalho na sociedade capitalista e suas implicações na formação de professores
de Educação Física. Buscamos também discutir as determinações sociais sobre a saúde, as
diferentes explicações a respeito do processo saúde-doença e problematizar a relação entre
Educação Física e Saúde.
A reflexão para ser radical também necessita ser rigorosa, ou seja, ser desenvolvida
sistematicamente, a partir de métodos determinados, que busque questionar o senso comum e
as generalizações que pode ocorrer na ciência. Nesse caso, nos embasamos no materialismo
histórico e dialético, que segundo Frigotto (2000), não é somente um método de análise da
realidade, mas é também uma concepção de mundo ou postura e uma práxis. Dessa forma,
nossa pesquisa parte de uma perspectiva de mundo que visa a superação da sociedade de
classes. É a partir dela que buscamos analisar a realidade concreta e apreendê-la no plano do
pensamento e apontar transformações e novas sínteses para a formação de professores.
concreto pela mediação do abstrato, e do todo através da mediação da parte. Portanto, são as
categorias que direcionaram nossa investigação, análise e exposição.
Em que pese ser verídico afirmar que os animais também transformam a natureza, a
exemplo das habitações feitas por pássaros, abelhas, castores e formigas, os animais, porém,
modificam a natureza sempre da mesma forma e para suprir uma necessidade imediata sua
e/ou de sua cria. Dessa forma, o animal produz “unilateral[mente]” e sob o domínio imediato
da carência física, enquanto o ser humano produz “universal[mente]”, ampliando para além
da carência física imediata, podendo reproduzir a natureza inteira e sob diferentes formas, e se
defrontar “livre[mente]” com o seu produto (MARX, 2004).
O trabalhador cada vez mais se empobrece enquanto a força criativa do seu trabalho
passa a se constituir frente a ele como força do capital, como “potência estranha” e
ele “se aliena do trabalho como força produtiva da riqueza”. Todos os progressos da
civilização, todo aumento das forças produtivas, enriquecem o capital e não o
trabalho, acrescentam apenas o poder que domina o trabalho, e daí decorre como
processo necessário que suas próprias forças se coloquem perante os trabalhadores
como estranhas (MANACORDA, 2000, p. 50).
Assim, segundo Frigotto (2005), essa atividade assume duas dimensões distintas e
sempre articuladas: o trabalho como mundo da necessidade e o trabalho como mundo da
liberdade.
Desde já está claro que, em virtude desse ciclo de rotações conexas, que abarca uma
série de anos e no qual o capital está preso por uma parte fixa, tornam-se uma base
material para as crises periódicas em que os negócios passam por fases sucessivas de
depressão, animação média, auge, crise. São bem diversos e díspares os períodos em
que se aplica capital. Entretanto, a crise constitui sempre o ponto de partida de
grandes investimentos novos e forma assim, do ponto de vista de toda a sociedade,
com maior ou menos amplitude, nova base material para o novo ciclo de rotações
(MARX, 1987 apud COGGIOLA E MARTINS, 2006, p. 36).
Para Antunes (1997) essa foi uma crise mais profunda do que suas antecessoras, pois
demandou intensas modificações no processo de trabalho e de produção capitalista. Trata-se
então de uma crise de caráter estrutural, a mais aguda do século XX. Muito embora esse
caráter estrutural ou permanente seja questionado por alguns autores como Coggiola e
Martins (2006), é consenso que algo muito significativo se alterou na forma que o regime
capitalista vinha funcionando até então. O que não se alterou foi a essência do capital. A
mesma continua – hoje mais do que nunca – cindida em duas classes antagonicamente
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REORDENAMENTO DO MUNDO DO TRABALHO E AS MEDIAÇÕES NA EDUCAÇÃO FÍSICA
De modo mais geral, o período de 1965 a 1973 tornou cada vez mais evidente a
incapacidade do fordismo e do keynesianismo de conter as contradições inerentes ao
capitalismo. Na superfície, essas dificuldades podem ser melhor apreendidas por
uma palavra: rigidez. Havia problemas com a rigidez dos investimentos de capital
fixo de larga escala e de longo prazo em sistemas de produção em massa que
impediam muita flexibilidade de planejamento e presumiam crescimento estável em
mercados de consumo invariantes. Havia problemas de rigidez nos mercados, na
alocação e nos contratos de trabalho (especialmente no chamado setor
“monopolista”) (HARVEY, 2010, p. 135).
A acumulação flexível, como vou chamá-la, é marcada por um confronto direto com
a rigidez do fordismo. Ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos
mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo
surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de
fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente
intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação
flexível envolve rápidas mudanças dos padrões do desenvolvimento desigual tanto
entre regiões geográficas, criando, por exemplo, um vasto movimento no emprego
no chamado “setor de serviços”, bem como conjuntos industriais completamente
novos em regiões até então subdesenvolvidas (tais como a “Terceira Itália”,
Flandres, os vários vales e gargantas do silício, para não falar da vasta profusão de
atividades dos países recém-industrializados) (HARVEY, 2010, p. 140).
Esse não foi um processo unicamente de ruptura com o modelo de produção anterior,
pois, carrega elementos de continuidade e descontinuidade, a acumulação flexível é algo
relativamente distinto do modelo de produção anterior. Antunes (2002) elenca alguns traços
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REORDENAMENTO DO MUNDO DO TRABALHO E AS MEDIAÇÕES NA EDUCAÇÃO FÍSICA
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Que Antunes (1997) chama de classe-que-vive-do-trabalho.
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REORDENAMENTO DO MUNDO DO TRABALHO E AS MEDIAÇÕES NA EDUCAÇÃO FÍSICA
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Embora o pioneirismo em medidas de cunho neoliberal tenha sido sob a ditadura chilena de Pinochet, quase
um decênio antes dos governos Britânico e Norte-americano.
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REORDENAMENTO DO MUNDO DO TRABALHO E AS MEDIAÇÕES NA EDUCAÇÃO FÍSICA
Após os oito anos do governo FHC, a cartilha seguiu a mesma. Por mais que os
governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef tenham surgido do enraizamento do PT
na classe trabalhadora e, até certo ponto, tenham garantido o crescimento dos direitos sociais
através de diversas medidas – bolsa família, bolsa escola, Programa Universidade Para Todos
(PROUNI), etc. –, não romperam com a lógica neoliberal. Muito pelo contrário. Os governos
de conciliação de classes do Partido dos Trabalhadores intensificaram a transferência de
verbas da iniciativa pública para a privada, as privatizações e as reformas trabalhistas,
sindical, previdenciária e universitária (MACIEL, et al., 2011).
Contudo, por mais que tenha ocorrido uma grande mudança na capacidade de
intervenção estatal em todo mundo a partir do neoliberalismo – com cada país tendo sua
particularidade – isso não significa que o intervencionismo estatal tenha diminuído de modo
geral, pois, em alguns aspectos a intervenção do Estado alcança hoje um grau bem mais
fundamental, por exemplo, no tocante ao controle do trabalho (HARVEY, 2010).
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REORDENAMENTO DO MUNDO DO TRABALHO E AS MEDIAÇÕES NA EDUCAÇÃO FÍSICA
A burguesia trata da educação da classe trabalhadora com grande interesse, pelo fato
desta ser um instrumento fundamental para a manutenção da própria burguesia enquanto
classe dominante (MÉSZÁROS, 2005). Isso porque a educação está situada como importante
mediadora de alguns objetivos da classe dominante, como o de “fornecer os conhecimentos e
o pessoal necessário à maquinaria produtiva em expansão do sistema capitalista” (Idem, p.15).
Dessa forma, para a burguesia é necessário qualificar a formação trabalhador, mas não muito,
pois á ela – a burguesia – é interessante que esse novo tipo de trabalhador atenda apenas às
novas demandas da sociedade capitalista, haja visto que o conhecimento é também uma força
na concretização dos interesses dos trabalhadores (FRIGOTTO, 2003).
17
De acordo com Arce (2005) “o ideário irracionalista pós-moderno nega a continuidade temporal, a história, a
universalidade. Nele a realidade não é mais objetiva, mas agora é constituída por diferenças, onde subgrupos
com subculturas disciplinam e regulam a vida social com seus micro poderes invisíveis. A objetividade dar lugar
a subjetividade impossibilitando que o individuo possa compreender as medidas e ideias dominantes que regem
seu cotidiano.”
18
Duarte (2005) afirmar que as teorias pedagógicas que compõem o lema do “aprender a aprender” pertence ao
mesmo universo ideológico do pós-modernismo. Um exemplo é a secundarização da ciência na escola, bem
como, a ausência de referências, já que nessa lógica a incerteza passa a se referenciar como a única verdade.
Duarte (2005) ainda estabelece quatro princípios ou posicionamentos valorativos que demonstram realmente o
que significa o lema do “aprender a aprender”. São eles: i) o de que aprender sozinho é melhor do que aprender
com as outras pessoas; ii) que a função da educação escolar não é a de transmissão do conhecimento socialmente
existente, mas sim de levar o aluno a adquirir um método de aquisição – ou construção – de conhecimentos; iii) é
o de que toda atividade educativa deve ser norteada e dirigida pelos interesses e necessidades dos alunos; iv) é o
de que a educação escolar deve levar o aluno a “aprender a aprender”, pois apenas assim ele estará apto a se
adaptar constantemente às exigências da sociedade contemporânea, marcada por um intenso ritmo de mudanças.
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REORDENAMENTO DO MUNDO DO TRABALHO E AS MEDIAÇÕES NA EDUCAÇÃO FÍSICA
corpo feminino era “preparado” para o desempenho de sua “nobre tarefa” de reprodução dos
filhos da pátria.
Como não poderia ser diferente, a formação em Educação Física se inicia dentro das
instituições militares, com a criação de um curso provisório de Educação Física do Exercito
ao final da primeira década do século XX. Os primeiros cursos civis foram criados na década
de 1930, em São Paulo e no Rio de Janeiro, mas, ainda sob supervisão dos militares.
A segunda fase começa a ser germinada com o golpe civil-militar em 1964, mas se
inicia, de fato, com a Resolução CFE-69/1969 que institui as primeiras diretrizes do então
Conselho Federal de Educação (CFE). Tal diretriz extingue a certificação de técnico
esportivo, que passa agora é ser uma função inerente ao licenciado e estabelece duas formas
de licenciatura, a curta – um ano de duração – e a plena – três anos –, com algumas distinções
para intervenções no campo de trabalho (VENTURA et al., S/D).
Após o fim da segunda guerra (em 1945), o mundo assumiu uma nova configuração,
qual seja a divisão em dois blocos, o capitalista liderado pelos EUA e o comunista
pela extinta URSS. O avanço tecnológico na física, química, astronomia foi enorme,
incidindo diretamente na economia e na forma do Estado gerir os investimentos.
Essa polaridade repercutiu também na Educação Física, por meio da formação de
atletas de alto rendimento, a busca pela quebra de recordes, o desenvolvimento de
técnicas que otimizassem o rendimento dos atletas principalmente russos e norte-
americanos (ginástica, basquetebol, voleibol, por exemplo). Estes elementos
contribuíram para o redimensionamento da formação de professores da área (CRUZ,
2009).
Nesse sentido, a Educação Física ainda calcada na perspectiva da aptidão física foi
permeada por uma noção competitivista que privilegiava a formação de professores com base
no tecnicismo, em detrimento de outras competências, como: pedagógica, histórica, política e
crítica (CRUZ, 2009).
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REORDENAMENTO DO MUNDO DO TRABALHO E AS MEDIAÇÕES NA EDUCAÇÃO FÍSICA
Dessa forma, sob o governo militar ditatorial foi destinado grande esforço para que o
desenvolvimento do esporte no Brasil seguisse a lógica mundial. Mas, o empenho dos
militares foi também para que o esporte, através da Educação Física, servisse como
importante instrumento ideológico para camuflar os recorrentes crimes e repressões ocorridas
no período. Assim, o esporte serviu para canalizar em torno de si, os anseios, frustações e
esperanças dos brasileiros, bem como para desarticular as organizações dos trabalhadores, e,
claro, como forma de tornar os trabalhadores mais produtivos nos locais de trabalho
(CASTELLANI FILHO, 2013).
espaços – escolar e não escolar – o que retirava o sentido da existência do bacharelado. Além
disso, os currículos não expressavam diferença, aumentando o desinteresse das instituições de
ensino em oferecer essa modalidade (SILVA E SOUZA, 2010).
A quarta fase, dá-se no início do século XXI, com a aprovação de diretrizes para as
licenciaturas no geral, pelas Resoluções CNE 01 e 02/2002 e no âmbito da Educação Física
com a Resolução CNE 07/2004. O quadro abaixo ilustra as legislações para a formação em
Educação Física ao longo das fases tratadas aqui:
A atual fase, que tem como marco a instituição das DCNEF a partir da Resolução
CNE 07/2004 é composta por um conjunto de polêmicas e contradições, o que nos coloca a
necessidade de aprofundar um pouco mais em algumas questões.
20
A regulamentação da profissão da Educação Física era discutida desde a década de 1940, mas, ainda não sido
forjada a condição ideal para o ataque conservador (NOZAKI, 2011).
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REORDENAMENTO DO MUNDO DO TRABALHO E AS MEDIAÇÕES NA EDUCAÇÃO FÍSICA
Em síntese, o “consenso possível” foi formado justamente em cima dos pontos que
se apresentavam como mais divergentes da área: 1) a fragmentação na formação com a
possibilidade de mais de uma titulação; 2) o “movimento humano” enquanto objeto de estudo;
e 3) a concepção de formação por competências – que aprofundaremos no próximo capítulo.
(TAFFAREL; LACKS, 2005). Como não havia – e ainda não há – consenso nesses pontos,
podemos afirmar que a ausência de consenso aliada à escassa discussão na formulação das
DCNEF não pode resultar em um “consenso possível”, o que se configura como um falso
consenso.
Desse modo, a conformação atual das DCNEF reafirma a lógica da diretriz anterior
de seguir as determinações do mercado de trabalho ao manter a duplicidade na formação –
licenciatura e bacharelado21. As ingerências inconstitucionais do conselho profissional
serviram para intensificar ainda mais essa divisão, pois diante das proibições aos profissionais
licenciados de exercerem seu trabalho no âmbito não escolar, “forçaram” as instituições a
implementarem cursos de bacharelado. Ademais, as DCNEF estão inteiramente alinhadas às
determinações do momento atual do capitalismo:
21
Segundo Dutra (2011), o termo “curso de Graduação em Educação Física” utilizado na Resolução CNE/CES
07/2004 corresponde, ou deveria corresponder, aos cursos de bacharelado em Educação Física, entretanto, a
Resolução não menciona em nenhum momento os cursos de Bacharelado. Dessa forma, a lei ratifica que tanto
os egressos do curso de Licenciatura quanto os do curso de Bacharelado podem atuar no âmbito não escolar, já
que ambos são cursos de graduação. Apesar disso, CONFEF disseminou a ideia de que de que apenas o Bacharel
pode atuar fora da escola numa tentativa de delimitar/limitar o campo de atuação do Licenciado.
41
REORDENAMENTO DO MUNDO DO TRABALHO E AS MEDIAÇÕES NA EDUCAÇÃO FÍSICA
ambas as formações, o que poderia levar a crer em mesmos perfis de professores, mesmos
conhecimentos e mesmas práticas” (SILVA, 2011, p. 81).
Nesse sentido, os estudos e a prática social apontam que não há justificativa plausível
para a não unificação dos cursos. Aqueles que defendem a fragmentação precisam, antes de
qualquer coisa, responder cientificamente se há diferença epistemológica na “natureza” e
finalidade do conhecimento dos cursos de licenciatura e bacharelado. Conforme afirma
Nozaki (2017):
Isso significa que somos professores em qualquer que seja nosso campo de atuação,
pois é o trabalho pedagógico que baliza nossa intervenção, seja em escolas, academias,
clínicas, clubes, hotéis e outros (TAFFAREL, 1993). Um exemplo dado por Santos Júnior
(2005) é o trato com a ginástica:
Vejamos o exemplo da ginástica. Esta pode ser tratada de forma idealista, calcada na
perspectiva tradicional de ensino, numa concepção de aprendizagem inatista ou
ambientalista. Como seria esta ginástica? Que diferença terá se for trabalhada na
escola, no clube, na academia, no hotel? As respostas a estas questões levarão,
inevitavelmente, a um conjunto de possíveis diferenças aparentes com profunda
simetria na essência. Em qualquer destes elementos ela será trabalhada sob a
perspectiva instrumentalista, utilitarista (SANTOS JÚNIOR, 2005, p. 129).
expandir as possibilidades de diálogo com as demais áreas que dividem o espaço de trabalho
conosco e compreender essa relação em um patamar mais qualificado.
Segundo Santos Junior et al. (2009), a formação em Educação Física deve se dar com
base no domínio de três eixos chave, que se não estiverem articulados comprometerão as
possibilidades de atuação dos futuros professores: i) o domínio dos macro-conceitos da área
(esporte, saúde, lazer, ginástica, etc); ii) o domínio dos fundamentos para o trato com o
conhecimento (teoria do conhecimento X teoria da aprendizagem – como o conhecimento é
produzido e como o ser humano aprende); iii) o domínio dos elementos específicos da
docência (organização do trabalho pedagógico/teoria pedagógica X metodologias específicas).
É necessário que o currículo possa dar conta de uma reflexão pedagógica ampliada e
comprometida com as camadas populares, possibilitando a constatação, interpretação,
compreensão e explicação da realidade complexa e contraditória, e, consequentemente, uma
melhor intervenção nos locais de trabalho do professor de Educação Física. Para tanto, é
necessário que haja uma organização dos conteúdos a partir da lógica dialética, questionando
o objetivo e a função social de cada disciplina, buscando situar sua contribuição particular
para a explicação da realidade social (COLETIVO DE AUTORES22, 2012).
22
Coletivo de Autores diz respeito a o livro Metodologia do Ensino de Educação Física formulado por um
conjunto de autores no início dos anos de 1990 de superar o paradigma dominante na Educação Física e
apresentar uma proposta crítico-superadora para área e que até hoje é tida como grande referência. São sete os
autores com compunha esse coletivo: Carmen Lúcia Soares, Celi Nelza Zulke Taffarel, Elizabeth Varjal, Lino
Castellani Filho, Micheli Ortega Escobar e Valter Bracht.
45
CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS CONCEPÇÕES DE SAÚDE E SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO FÍSICA
23
“A população pesquisada compreendeu moradores de domicílios particulares do Brasil, exceto os localizados
nos setores censitários especiais (quartéis, bases militares, alojamentos, acampamentos, embarcações,
penitenciárias, colônias penais, presídios, cadeias, asilos, orfanatos, conventos e hospitais). A amostra da
Pesquisa Nacional de Saúde - PNS é uma subamostra da Amostra Mestra do Sistema Integrado de Pesquisas
Domiciliares - SIPD do IBGE, cuja abrangência geográfica é constituída pelos setores censitários da Base
Operacional Geográfica do Censo Demográfico 2010, exceto aqueles com número muito pequeno de domicílios
e os setores especiais” (IBGE, 2014).
46
CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS CONCEPÇÕES DE SAÚDE E SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO FÍSICA
Dessa forma, os dados aqui apresentados nos fazem levantar questões que, para nós,
são fundamentais para a problematização da relação entre Educação Física e que vão
direcionar as discussões neste capítulo trabalho: As possibilidades de contribuições para a
saúde se limitam ao cuidado com doenças crônicas? A prática de atividade física por si só
garante saúde? Quem tem acesso às práticas corporais/atividade física no Brasil? Tais
24
O Pnad decorre da experiência desenvolvida pela pesquisa Diagnóstico Nacional do Esporte (DIESPORTE)
realizada em 2013 por encomenda do Ministério do Esporte e executada por uma rede de seis universidades
públicas federais. Disponível em: http://www.esporte.gov.br/diesporte/2.html.
47
CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS CONCEPÇÕES DE SAÚDE E SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO FÍSICA
Para essa primeira questão, apresentamos novos dados com relação ao grau de
instrução, a renda mensal e tempo livre dos brasileiros e sua relação com a prática de
exercícios físicos. Ainda segundo o levantamento feito pelo IBGE, 82,7% das pessoas
maiores de 15 anos, sem instrução escolar, não realizam qualquer tipo de esporte ou exercício.
Essa proporção é menor entre os brasileiros com ensino fundamental completo, 63,4%, e
reduz ainda mais entre aqueles com ensino superior completo, 43,3%.
A autora constatou que estas mulheres têm baixa escolaridade; têm que realizar suas
próprias tarefas domésticas (segunda jornada de trabalho); levam três horas para
chegar ao trabalho e quatro para retornar à residência; saem de casa por volta de
quatro e meia da manhã e chegam entre nove e dez da noite; trabalham seis dias na
semana; e, cujo discurso sobre o que fazem no lazer ou tempo livre é: “o cansaço
não deixa fazer outra coisa”, além de dormir ou assistir TV. A autora revela, então,
como estas mulheres trabalhadores têm uma enorme dificuldade de acesso ao lazer
(PALMA, 2000, p. 101).
48
CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS CONCEPÇÕES DE SAÚDE E SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO FÍSICA
O que procuramos demonstrar com os dados acima é que as condições de vida das
pessoas não só limita o acesso ao lazer, mas desloca as condições concretas que possibilitam
essa relação, que possibilitam a prática de exercícios. Em outras palavras, podemos dizer que
o atual modo de produção e reprodução da vida, baseado na propriedade privada dos meios de
produção e no trabalho assalariado, tem feito com que a cultura corporal se torne, cada vez
mais, artigo de luxo e distinção de classe, materializada em suas condições de acesso, seja
através das aulas de educação física nas escolas ou através da intervenção do professor nos
espaços públicos de saúde.
Nesse sentido, a condição material passa a ser o critério para ter o direito de acessar
os serviços do professor de Educação Física. Critério esse excludente, restritivo e injusto, tal
como é a sociedade capitalista e que expõe um paradoxo, pois de um lado temos centenas de
profissionais desempregados ou mal remunerados e, de outro, milhares de pessoas
necessitando da informação e do conhecimento específico, sem acesso (CARVALHO, 2001b).
Segundo Marx (2013), o modo de produção capitalista aparece como uma “imensa
coleção de mercadorias”. As mercadorias são objetos externos, que através de suas
propriedades, satisfazem as necessidades humanas, sejam necessidades materiais ou
espirituais. A utilidade de cada coisa produzida pelo trabalho humano (material e imaterial)
faz dela um valor de uso que se realiza no uso ou no consumo. Ao passo que essa “coisa” é
produzida para satisfazer a necessidade de outrem mediante a troca por outra “coisa” ou a
venda, então essa “coisa” dispõe de um valor de troca. “A mercadoria é a unidade que
sintetiza valor de uso e valor de troca” (NETTO E BRAZ, 2006, p. 80).
Como tudo no capitalismo está passível de se tornar mercadoria, a saúde não foge a
essa lógica, como afirma Almeida Filho (2011):
25
O Art. 196. Da constituição brasileira de 1988 diz que “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.
50
CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS CONCEPÇÕES DE SAÚDE E SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO FÍSICA
artísticos; 2) ou quando o produto não é separado no ato de produção, como uma aula, seja ela
dada em uma escola, clube ou academia.
Desse modo, podemos dizer que a atividade do professor de Educação Física é não
material e “situa-se na esfera produtiva que transforma serviço em mercadoria”
(CARVALHO, 2001a, p.98). De acordo a noção marxista “serviço não é, em geral, senão uma
expressão para o valor de uso particular do trabalho, na medida em que este não é útil como
coisa, mas como atividade” (MARX, 1978, p. 78).
Tratado da saúde como mercadoria, mesmo que brevemente, vamos para a segunda
questão levantada: a relação atividade física e saúde.
A segunda questão aqui levantada não está dissociada da primeira. Muito pelo
contrário. É a compreensão de que a prática de exercício físico resulta diretamente no ganho
de saúde, desenvolvida nas universidades e disseminada na população, que possibilita
impulsionar a cultura corporal como uma mercadoria necessária de ser adquirida, mesmo que
para isso tenha que se pagar um preço alto por ela. Mas esse argumento também serve para
aquele que não pode pagar ou não tem tempo para realizar exercícios, pois basta realizar 30
minutos de atividade diária – como descer um ponto antes e ir andando para casa quando
estiver retornando do trabalho – que se tornará mais saudável.
26
Programa criado no Estado de São Paulo para aumentar o nível de atividade física e combater o sedentarismo.
51
CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS CONCEPÇÕES DE SAÚDE E SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO FÍSICA
voltado para o âmbito escolar tinham como principal conteúdo o exercício físico com
orientações higienistas e militaristas. Como também abordam Anjos e Duarte (2009):
Soares (1994) confirma o exposto, ao apontar que nos tempos da ditadura, sob os
preceitos higienistas e militares, as atividades físicas destinavam-se ao
fortalecimento e doutrinação dos corpos, e a isso, sobretudo, se resumia à atuação
dos profissionais de Educação Física, o que regia sua formação essencialmente
técnico-científica, utilitarista, alienada e alienante. Em outras palavras, Carvalho
(2001 apud FREITAS, 2007) coloca que a área fora moldada pelos anseios sociais e
dos tempos, sendo geralmente associada à atividade física, o que reduzia seus
conteúdos e limitava suas possibilidades de ação. (ANJOS; DUARTE, 2009, p.
1131).
A prática da atividade física que se veicula hoje reproduz, portanto, o “deus” das
culturas arcaicas, haja vista que o homem hoje parece que só se reconhece como
“real” no momento em que se contenta em imitar e repetir, no caso, os movimentos
de um outro. Porém, o que sustenta esta reprodução é o padrão de beleza, saúde e
juventude quase mítico em sua conformação (CARVALHO, p. 37-38, 2001a – grifos
da autora).
É evidente que o exercício físico, desde que tomado os cuidados necessários, pode
contribuir beneficamente para a saúde, argumento que, como vimos, é ratificado por
constatações científicas que indicam a inatividade física como fator de risco para doenças
crônico-degenerativas e que apontam como estratégia de promoção da saúde a utilização das
práticas corporais/atividade física em sua prevenção e tratamento à nível mundial (JESUS;
27
O “mito” da atividade física e saúde é um conceito desenvolvido por Carvalho (2001a). A alusão ao “mito”
se dá, pois essa noção de saúde “arcaica”, “foi, como todo ‘mito’, permeado pela realidade moderna” […]
“Transferem-se para padrões humanos, a serem conquistados, as características da divindade ou do ‘extra-
humano’. O padrão estético almejado de beleza, saúde, conservação do corpo torna-se um ‘mito’, que afeta
os desejos dos indivíduos quando estes pretendem corresponder ao padrão mítico” (CARVALHO, p. 37,
2001a).
52
CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS CONCEPÇÕES DE SAÚDE E SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO FÍSICA
COSTA, 2016). Porém, cabe problematizar esse conceito de promoção da saúde28, na medida
em que em posse desse discurso sustenta-se uma política conservadora que reporta a um
determinado padrão (um “mito”) a ser alcançado, “uma dimensão moral que responsabiliza
cada pessoa por seu próprio adoecimento e ignora a dinâmica sistêmica e variada que
influência os estados de enfermidade humana” (BAGRICHEVSKY; ESTEVÃO; PALMA,
2006, p. 26).
28
A promoção da saúde é um conceito tradicional, definido como um dos elementos do nível primário de
atenção em medicina preventiva. Foi retomado recentemente com um novo discurso, o pensamento médico
social do século XIX, afirmando as relações entre saúde e condições de vida. Tornou-se uma proposta
governamental em alguns países buscando ampliar os enfrentamentos dos problemas de saúde pública para
além de uma abordagem exclusivamente médica (CZERESNIA, 2009).
53
CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS CONCEPÇÕES DE SAÚDE E SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO FÍSICA
e individual. Mesmo uma pequena mudança de hábito requer condições mínimas. Muitas
pessoas não estão em condições de optar por um ‘estilo de vida ativo’, pois estão lutando
apenas para sobreviver, e, como afirma Palma (2000), nesse contexto de extrema pobreza a
atividade física não tem o menor sentido.
Por outro lado, para aqueles que possuem condições concretas de realizar exercícios
físicos com periodicidade e orientação, seja através dos serviços privados ou dos ainda
escassos serviços públicos, há certa tendência em manter uma relação de dependência dos
praticantes para com os professores, equipamentos e instalações (MATIELLO JUNIOR,
2002). É preciso que o professor de Educação Física atue na perspectiva de deslocar o
“sujeito” de uma posição secundária para situá-lo em primeiro plano (CARVALHO, 2001a).
Essa é uma tarefa levantada também pelas diretrizes do NASF, que aponta como um
dos objetivos “desenvolver ações de educação em saúde reconhecendo o protagonismo dos
sujeitos na produção e apreensão do conhecimento e da importância desse último como
ferramenta para produção da vida” (BRASIL, 2009, p.147). Ressaltam também a necessidade
de desenvolver atividades da cultura corporal de maneira coletiva, articulando essas
atividades com problemáticas que perpassam as relações sociais dessas pessoas tendo em
vista a contribuição para uma formação crítica.
Não é difícil constatar que a prática dos profissionais da saúde seguem essas
simplificações teóricas. Mendonça (2012) ao investigar a atuação de professores de Educação
Física do NASF de Londrina/PR, observou que também na Educação Física ainda é bastante
presente uma visão meramente biológica do processo de saúde-doença. O trabalho
pedagógico desses profissionais a partir dessa concepção de saúde se resumiu ao
aprimoramento das capacidades físicas, sem a troca de saberes necessárias para que haja
criação, reflexão e contextualização das propostas. Isso demonstra a complexidade dessa
concepção e a dificuldade de compreensão por parte de nossa categoria profissional acerca
das determinações do processo de saúde-doença.
54
CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS CONCEPÇÕES DE SAÚDE E SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO FÍSICA
Segundo Solomon (1991, p.48) apud Matiello Junior (2002, p. 58), ideias
intuitivamente atraentes, impregnadas de qualidades ao mesmo tempo lógicas e mágicas, são
difíceis de se dissipar”. Tendo isso em voga, é preciso discutir as concepções de saúde que
perpassam a prática desses profissionais.
De antemão é importante salientar que definir saúde é uma tarefa bastante difícil,
pois é preciso levar em consideração a multiplicidade de determinações que há nesse
fenômeno. Tal dificuldade é reconhecida desde a Grécia antiga (COELHO E ALMEIDA
FILHO, 2003 apud SCLIAR, 2007). Trata-se de um problema filosófico, científico,
tecnológico, político, prático (ALMEIDA FILHO, 2011) e também econômico.
sim de doença, o que está presente também nas práticas de saúde dos dias atuais
(CZERESNIA, 2009).
Segundo Oliveira e Egry (2000), até o século XIX, o modo de interpretar a saúde foi
dividido em duas grandes abordagens: a ontológica29 e a dinâmica. A primeira entendia a
saúde como algo sobrenatural que adentra o corpo humano. A segunda, dinâmica, entendia
como resultado da falta de equilíbrio entre elementos vitais do organismo.
Assim, a relação com o mundo natural era permeada por uma cosmologia que
envolvia deuses e espíritos bons e maus. A região era o ponto de partida para a compreensão
do mundo e de cuidado (CRUZ, 2011). Desse modo, a cura ou as medidas para que as
doenças não se propagassem, eram atribuídas aos deuses e/ou líderes religiosos.
29
Em alguns autores podemos encontrar outras terminologias, como Modelo mágico-religioso ou Xamanístico.
56
CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS CONCEPÇÕES DE SAÚDE E SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO FÍSICA
Na Idade Média, houve um relativo retrocesso desse conceito, pois, ainda que
mantidos os princípios Hipocráticos, o Cristianismo retomou a preocupação com a salvação
do espírito (OLIVEIRA E EGRY, 2000). Era a igreja católica que cuidava dos doentes e que
administrava os hospitais não como um lugar de cura, mas como um espaço de exclusão dos
enfermos do convívio social, assim como de abrigo e conforto dos enfermos (SCLIAR, 2007).
política e econômica, há a substituição do poder religioso pelo dos médicos nos hospitais. A
partir daí os doentes passaram a ser classificados de acordo com os sintomas, sendo
registrados de forma sistemática e permanente (BATISTELLA, 2007).
Almeida Filho (2011) apresenta uma crítica a essa noção, pois a considera
insuficiente diante da complexidade do processo saúde-doença.
Para o senso comum, a pessoa que tem saúde é justamente aquela que não está
doente. Porém, Batistella (2007) nos alerta que nem sempre a ausência de sinais e sintomas
indica a condição saudável. Muitas pessoas se consideram normais mesmo tendo algum tipo
de doença. Ademais, a concepção Boorsiniana exclui as dimensões econômicas, social,
cultural e psicológica do processo saúde-doença (ALMEIDA FILHO E JUCÁ, 2002).
Dessa forma, as críticas feitas a essa concepção referem-se, geralmente, ao fato dela
aparecer como algo absoluto e indivisível, que utiliza de um termo estático como "estado"
para designar um fenômeno que está em constante movimento e de outro termo pouco preciso
como "bem-estar" (OLIVEIRA E EGRY, 2000).
O próprio conceito ampliado de saúde avança com relação à noção da OMS. Esse
conceito foi fruto das mobilizações em resposta aos regimes autoritários em diversos países da
América Latina nos anos de 1970 e 1980, que no Brasil se expressou no movimento da
reforma sanitária. A síntese desse pensamento foi formulada durante a VIII Conferência
Nacional de Saúde desenvolvido, em 1986, em meio ao processo de redemocratização do
país. A saúde passou a ser compreendida como resultante das condições de alimentação,
habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade,
acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde. Assim, é resultado das formas de
organização social, de produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de
vida (BRASIL, 1986).
Dessa forma, deve-se atuar tomando como objeto os aspectos sociais, subjetivos e
biológicos, direta e indiretamente, dos sujeitos e coletivos de um dado território. Isso implica
um conhecimento ampliado com relação ao processo saúde-doença, para além do modelo de
atenção hegemônico no país, baseado no biologicismo, com ações hospitalocêntricas e
centradas na doença e no médico/profissional da saúde, o que também gera uma demanda
para a formação de profissionais com base nas diversas áreas do conhecimento.
autores que têm estabelecido a crítica ao conceito da promoção, como por exemplo, Lefévre e
Lefévre, que afirma que a responsabilização desses outros setores sobre a saúde pode esvaziar
a ação específica do setor saúde em detrimento de ações políticos globais com alto grau de
generalidade (LEFÉVRE E LEFÉVRE, 2004 apud BATISTELLA, 2007). Todavia, alguns dos
autores que estabelecem essa crítica, como Canguilhem (2005) apud (BATISTELLA, 2007),
concede certa primazia à dimensão individual do processo saúde-doença, excluindo os
determinantes sociais de suas preocupações.
são produzidas biologicamente, mas sim pela organização social (WHITEHEAD, 1992 apud
BREIHL, 2008).
uma necessidade básica de qualquer ser humano, uma vez que ela é um requisito
para que os sujeitos possam alcançar as metas que considerem importantes, bem
como para ter uma participação com êxitos na vida social, pelo que, a desigualdade
social em saúde implica um ato imoral e injusto, dado que vários setores da
sociedade não podem satisfazer essa necessidade básica (BREILH, 2008, p. 06).
Asa Cristina Laurell, outra autora que nos ajuda a pensar a saúde a partir dos
determinantes socioeconômicos, define a saúde como uma necessidade humana cuja
satisfação "associa-se imediatamente a um conjunto de condições, bens e serviços que
permitem o desenvolvimento individual e coletivo de capacidades e potencialidades,
conforme aos recursos sociais existentes e aos padrões culturais de cada contexto específico"
(LAURELL, 1997, p. 86).
Também esse conceito não é isento de críticas. Batistella (2007) levanta uma crítica a
essa concepção – que também é utilizada ao conceito ampliado de saúde – realizada por
Nascimento (1992):
Nesse sentido, a Educação Física, em qualquer que seja seu espaço de intervenção,
não pode ficar isenta da realidade concreta da qual emergem seus alunos e alunas; crianças,
jovens, adultos ou idosos; trabalhadores e filhos dessa classe que sofrem com as condições de
trabalho, moradia, educação e acesso aos serviços de saúde. Lembrando os dizeres de Frei
Betto, Silva (1999) apud Quint et al. (2005) alerta justamente para essa questão.
31
Essa concepção incorpora a ideia de todo, de contribuição de diferentes elementos do ecossistema no processo
saúde-doença, ao passo que ocorre uma mudança em um determinado elemento, todos os outros também se
modificam. Ao incorporar a noção de todo, essa perspectiva busca um contraponto à visão unidimensional e
fragmentada do modelo biomédico (CRUZ, 2011).
32
Esse modelo visa o acompanhamento do processo saúde-doença em sua regularidade. Busca compreender as
inter-relações do agente causador da doença, do hospedeiro da doença e do meio ambiente e o processo de
desenvolvimento de uma doença, mas não aprofundam em aspectos sociais (CRUZ, 2011).
65
CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS CONCEPÇÕES DE SAÚDE E SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO FÍSICA
Vimos também que é bastante perceptível essas modificações demandas pelo mundo
do trabalho ao olharmos para o percurso histórico da formação em Educação Física. Ademais,
a relação entre a Educação Física e saúde é um ponto não resolvido dentro dos cursos, pois a
compreensão do processo saúde-doença se apresenta de modo raso, sendo a saúde ainda
pensada em termos negativos. Dessa forma, ainda hoje é negligenciado o debate sobre a
transformação da saúde em mercadoria e sobre as determinações sociais no processo
saúde/doença, limitando as possibilidades de compreensão da realidade e, consequentemente,
do fenômeno saúde.
Diante desses elementos, buscamos analisar a relação entre Educação Física e Saúde
nos cursos de Educação Física da cidade de Feira de Santana – BA, motivados pela inserção
do professor de Educação Física no NASF o que demandou novas questões para a formação
profissional. Tomamos como orientação epistemológica o materialismo histórico dialético
objetivando ultrapassar o conteúdo aparente dos documentos oficiais que orientam os cursos
de três instituições do referido município.
Passamos pela fase de Interpretação referencial, que fora precedida pela pré-análise e
pela descrição analítica (TRIVIÑOS, 1987). Assim, após o levantamento e organização do
material a partir de categorias, buscamos investigar a respeito das concepções que balizam
esses cursos. Fizemos isso a partir da identificação das contradições presentes nos
documentos oficiais dos cursos, ou seja, elencando a categoria “contradição” enquanto
categoria do método dialético. No que tange as categorias de conteúdo, buscamos identificar a
67
ANÁLISE DOS CURSOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE FEIRA DE SANTANA (BA)
Concordamos com Taffarel (2010) apud Pinto (2012) quanto à compreensão de que a
produção da saúde está intimamente ligada à produção da vida. Isso significa dizer, que para
entender o processo saúde-doença é necessário compreender como se dá a produção da
própria vida, que por sua vez, está vinculada ao modo de produção e reprodução de bens
matérias e imateriais, à estrutura social atual. Assim, para avançar na compreensão da saúde é
preciso compreender a sociedade, o próprio ser humano, bem como as ideias produzidas nesse
contexto.
O profissional de Educação Física precisa ter clara sua concepção de ser humano a
nortear sua atuação, bem como defendê-la como princípio orientador do
planejamento, da avaliação e das proposições. Assim, frente à conjuntura atual do
mundo, onde se recrudescem as diferenças sociais e econômicas, e do País, onde o
sistema de saúde se propõe como único, além de universal, integral, equitativo e
participativo, a atuação profissional, orientada pela construção e pelo fortalecimento
33
Refere-se ao gênero humano.
68
ANÁLISE DOS CURSOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE FEIRA DE SANTANA (BA)
Para obter os materiais de análise fomos até as instituições para explicar a pesquisa e
entregamos um ofício às coordenações dos cursos, no qual as coordenadoras assinaram se
comprometendo a colaborar com a pesquisa e a disponibilizar os materiais necessários para o
estudo. Esse movimento só não foi realizado na Instituição A, a única instituição pública
analisada, pois já tínhamos acesso à versão digital do Projeto Político e Pedagógico. Assim,
tivemos acesso à versão digital do Projeto Pedagógico do Curso da Instituição B contendo
planos de ensino, ementas e grade curricular. Da instituição C tivemos acesso a uma parte do
material impresso, contendo grade curricular e ementas das disciplinas e outra parte digital
contendo apenas fragmentos do Projeto Pedagógico do Curso, mas esse fato não
comprometeu nossa análise.
Dessa forma, em nossa análise, nos debruçamos sobre os mais recentes materiais
desses cursos que expressam as concepções necessárias para identificar os marcos teóricos
conceituais. Assim, analisamos a Matriz Curricular, o Projeto Político Pedagógico e as
ementas das disciplinas, que por se tratarem de mensagens escritas nos permitem retornar ao
material sempre que necessário, a partir do método de análise de conteúdo.
69
ANÁLISE DOS CURSOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE FEIRA DE SANTANA (BA)
O currículo inicial, de numeração 523, era regido pela Resolução CFE 03/1987. No
entanto, com o estabelecimento das novas diretrizes para a formação de professores através
das Resoluções CNE/CP nº 01 e CNE/CP nº 02 e também das novas diretrizes para a
formação de professores de Educação Física através da Resolução CNE/CP nº 07/2004 foi
necessária a construção de um novo currículo, dando origem ao atual currículo, de numeração
528. Esse novo currículo busca avançar em diversos aspectos com relação ao currículo
34
Atual Núcleo Territorial de Educação (NTE) – 19.
70
ANÁLISE DOS CURSOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE FEIRA DE SANTANA (BA)
Neste cenário, a Educação Física vem se destacando como uma das áreas de maior
expansão nos mais variados contextos (saúde, cultural, social-comunitária,
organizacional, saúde da família, na área não escolar, esportes radicais, atividade
física para grupos específicos, atividade física para adultos e idosos, esportes de
aventuras, esportes da iniciação ao rendimento, atividades alternativas, recreação,
lazer e etc.). As demandas existentes atualmente possibilitam um crescente
reconhecimento social dos resultados oriundos das intervenções específicas da área
da Educação Física, o que contribui para o desenvolvimento da profissão do ponto
de vista acadêmico, científico, cultural, social e ético (INSTITUIÇÃO B, 2017, p.
24).
71
ANÁLISE DOS CURSOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE FEIRA DE SANTANA (BA)
O curso conta com uma carga horária de 3,260 horas, em atendimento ao disposto na
Resolução CNE/CES nº 04/2009, que dispõe sobre a carga horária mínima dos cursos de
graduação considerados da área de saúde, bacharelados em modalidade presencial. Contempla
em sua estrutura curricular conteúdos e atividades que contemplam três dimensões
interdependentes: a dimensão da prática de atividades físicas, recreativas e esportivas; a
dimensão do estudo e da formação acadêmico-profissional e; a dimensão da intervenção
acadêmico-profissional.
A Instituição B não foge muito a essa lógica. Não apresenta com clareza sua
concepção de mundo, mas em alguns momentos demonstra qual a sua visão de mundo.
Apresenta como princípios gerais que norteia sua missão: qualidade e busca de excelência;
autonomia; preservação dos valores da ética; da vida e da cultura; compromisso com o
desenvolvimento sustentável e auto-sustentabilidade. Assim, tem por missão
Nota-se que o curso indica uma formação crítica, ética e solidária tendo como
horizonte a construção de uma sociedade autossustentável. Complementa essa visão
almejando a formação de profissionais dotados de habilidades relacionadas à sua área, mas,
sobretudo, que sejam conscientes de sua cidadania e “comprometidos com os valores éticos
da República, inserindo-se no mercado para construir uma sociedade livre, justa e solidária,
que possibilite plenamente a vida com dignidade” (INSTITUIÇÃO B, 2017, p. 19). Ainda,
pretende que os egressos participem ativamente como agentes transformadores do processo de
desenvolvimento nacional, contribuindo assim, para a redução das desigualdades sociais e
regionais. Encerra esse pensamento com uma citação de Fernandes (1999):
redução das desigualdades sociais, mas não desenvolve com mais profundidade esses
conceitos. De resto, a concepção apresentada no documento oficial do curso não apresenta
nenhuma ação mais radical – no sentido de ir à raiz do problema – frente às desigualdades
sociais ou nenhum modelo alternativo de sociedade diante do modo de produção capitalista.
Nos chama bastante atenção o fato de nenhuma das três instituições aprofundarem
em suas concepções de mundo. A defesa da cidadania e de uma sociedade democrática
35
Substituímos o nome da instituição pelo termo instituição C.
76
ANÁLISE DOS CURSOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE FEIRA DE SANTANA (BA)
tornam-se defesas muito vagas caso seus elementos não sejam aprofundados, gerando
interpretações equivocadas sobre a visão de mundo apresentada no currículo ou a
compreensão de que as instituições não se colocam na tarefa de superação da sociedade
capitalista, sendo este o nosso entendimento.
Para não ficar em apenas um exemplo, em outro trecho apontam que o egresso
deverá ser capaz de refletir, assim como, de atribuir sentido a sua reflexão, pois
diante dos desafios da sociedade aprendente e da sociedade da informação ele
deverá ser capaz de aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a ser,
transformando informações em conhecimentos a serem mobilizados em sua prática
docente (INSTITUIÇÃO A, 2010, p. 28).
Entendem que esse modelo de formação contribui para que os alunos desenvolvam
pensamento crítico e para a formação integral e humana dos alunos. Há um eixo no currículo
designado para estruturar aspectos da formação humanística que contribuam para desenvolver
as habilidades e competências já citadas acima. Além de que, os componentes curriculares de
formação humanística buscam fornecer
uma sólida base de conhecimentos gerais que permitem uma compreensão mais
ampla da formação profissional, estimulando o pensamento crítico e sensibilizando
o estudante para as questões sociais, políticas, direitos humanos, culturais, étnico-
raciais e éticas que envolvem sua atuação como cidadão, pessoa e profissional
(INSTITUIÇÃO C, 2016, p. 8).
a construção das competências encontra-se intimamente ligada a prática social e não a ações
isoladas e descontínuas, ou seja, a partir de situações vividas ou resolutas pelo individuo.
Dessa forma, a formação orientada pelas competências se caracteriza por essa relação
indivíduo-situação que influi sobre os conhecimentos necessários para o individuo resolver as
demandas sociais, que por sua vez, giram em torno das velozes mudanças da sociedade
contemporânea e das adaptações que o mercado de trabalho exige do trabalhador (MARTINS,
2004).
Alguns estudiosos que têm tratado da questão das Competências, como MACHADO
(1998); FREITAS (2000); RAMOS (2001), entre outros, indicam que tal referência
constitui-se no braço pedagógico do neoliberalismo à medida que tem como
características – latentes ou patentes – a ênfase no individualismo
(responsabilizando cada uma na sua formação); exacerbação da competição
(quebrando a noção de categoria visto que não há mais uma política global de
formação, mas sim, um rol de competências para se disputar a fim de estar “melhor
qualificado” no sentido da empregabilidade); o fetiche do indivíduo (esta crença
bizarra de que é possível tornar o indivíduo descolado das relações sociais); a
flexibilização e o aligeiramento da formação (entendido como radicalização da
desqualificação da formação dos professores); a ideia do mercado como grande
regulador da qualidade (posto que é “quem” vai dizer no final quem é mais ou
menos competente) e a simetria invertida (desenvolver habilidades que o mercado
exige já na formação acadêmica) (SANTOS JÚNIOR, 2005, p.56-57).
Assim, segundo Taffarel e Santos Júnior (2005), a formação de professores com base
nas competências assume um papel estratégico para a garantia de desenvolvimento
subordinado dos países periféricos, a partir da lógica de ter a educação como um instrumento
de “alívio a pobreza” nesses países, e mais especificamente no Brasil, onde a grande
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ANÁLISE DOS CURSOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE FEIRA DE SANTANA (BA)
estratégia é prometer nos documentos e nunca cumprir na prática. Nessa lógica o sentido da
educação modifica-se. Se antes o professor contribuía na formação para o trabalho, agora
deve ter a capacidade de “transformar o aluno em cidadão mutante, proativo, aspirante ao
trabalho e tolerante nos momentos em que se encontre sem emprego” (SHIROMA;
EVANGELISTA, 2003, p. 86 APUD TAFFAREL; SANTOS JÚNIOR, 2005).
Assim, o primeiro aspecto em referência à concepção filosófica que dará base à nova
formação do Licenciado em Educação Física, trás em seu bojo a compreensão da
Educação Física como uma área de intervenção historicamente construída que têm
seu eixo epistemológico de estudo nos elementos da Cultura Corporal de
Movimento.
Ao considerarmos a Cultura Corporal de Movimento como eixo epistemológico
deste curso, defende-se que tal matriz teórica constitui-se como totalidade formada
pela interação de distintas práticas sociais da atividade humana, tais como a dança, o
jogo, a ginástica, as lutas, a capoeira e o esporte que, por sua vez, ganham forma
através das práticas corporais. Como práticas sociais, refletem a atividade produtiva
humana de buscar respostas às suas necessidades. Compete assim à Educação Física,
dar tratamento pedagógico, na escola ou em outros espaços educativos, aos temas da
Cultura Corporal de Movimento, reconhecendo-os como dotados de significado e
sentido, portanto construídos historicamente, tendo, dessa forma, como objeto de
estudo a expressão corporal como linguagem (INSTITUIÇÃO A, 2010, p. 21-22).
36
Segundo Silva (2011), a abordagem crítico-emancipatória foi desenvolvida nos anos 1980 e 1990 enquanto
perspectiva que se conta hegemônica na área, tendo em vista fomentar um prática pedagógica com interesses
transformadores da realidade circundante. O principal precursor dessa abordagem é o professor Elenor Kunz
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ANÁLISE DOS CURSOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE FEIRA DE SANTANA (BA)
essa concepção está vinculada a concepção de unilateral de homem, uma vez que delimita a
educação apenas à formação da consciência dos homens como fica evidente a partir da ideia
de “uma educação de crianças e jovens para a consciência crítica e emancipada” (KUNZ,
2004b, p. 9-10 apud SILVA, 2011). Segundo o autor, essa perspectiva apresenta o projeto
histórico que baliza a concepção e evita citar termos como “dialética” e “projeto histórico”, no
entanto, compreende que a estrutura social tem papel preponderante no destino do ser humano
e que mudanças realmente concretas somente acontecem de forma juntamente com o conjunto
de mudanças na estrutura sócio-político-econômica (KUNZ, 2004 apud SILVA, 2011).
A Instituição B, por sua vez, também deixa evidente sua concepção e se baseia na
perspectiva do Movimento Humano, compreendendo que a prática de suas manifestações e
expressões culturais devem orientar a formação e atuação profissional na educação física em
suas diversas possibilidades.
A formação do Bacharel em Educação Física está baseada nos três Pilares que
configuram as macro áreas de atuação do Bacharel, a saber: Esporte, Lazer e Saúde,
todos permeados pelos conteúdos da cultura corporal de movimento historicamente
vinculados à Educação Física que são a ginástica, o jogo, as lutas, a dança e os
esportes (INSTITUIÇÃO C, 2016, p. 5).
38
A abordagem Desenvolvimentista tem como o Go Tani principal teórico. Entre os principais livros está
“Educação Física Escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista” (1988), escrito por Tani e
colaboradores.
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ANÁLISE DOS CURSOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE FEIRA DE SANTANA (BA)
As três instituições analisadas ainda que, em alguns momentos dos seus respectivos
documentos, usem termos que dão a entender uma posição de ruptura com o modelo
biomédico de pensar a saúde, também usam termos que nos permitem inferir uma concepção
reducionista no modo de compreender o processo saúde-doença. Novamente, há ausência de
uma defesa clara e aprofundada da concepção de saúde que baliza a formação nesses cursos
de Educação Física, interfere diretamente.
O documento do curso cita que o eixo “Atividade Física e Saúde” deve tratar de
“aspectos da relação atividade física e saúde inserida na superação do entendimento dos
elementos de causa e efeito será a tônica desta área” (INSTITUIÇÃO A, 2010, p. 38) o que
indica a compreensão de uma noção ampla de saúde/doença, mas que não é desenvolvida,
nem sequer mencionada em nenhum outra passagem do texto.
A promoção, bem como a prevenção da saúde, são conceitos que pressupõem a saúde
como algo amplo e dependente de vários condicionantes. No entanto, segundo Czeresnia
(2009), a compreensão do conceito de promoção da saúde pode se dar em duas perspectivas:
progressista ou conservadora. A concepção progressista ressalta o papel do Estado na
construção de políticas públicas intersetoriais, voltadas à melhoria da qualidade de vida das
populações. Desse modo, promover saúde abrange diversos aspectos, de maneira global, e
incorpora elementos físicos, psicológicos e sociais. A concepção conservadora enfatiza uma
dimensão liberal da promoção da saúde, reforçando a tendência de diminuição das
responsabilidades do Estado, delegando aos sujeitos, progressivamente, “a tarefa de tomarem
conta de si mesmos” (CZERESNIA, 2009, p. 44).
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ANÁLISE DOS CURSOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE FEIRA DE SANTANA (BA)
A par das evidências de que o homem contemporâneo utiliza-se cada vez menos de
suas potencialidades corporais e de que o baixo nível de atividade física é fator
decisivo no desenvolvimento de doenças degenerativas, sustenta-se a proposição da
necessidade de conscientizar a população acerca da necessidade de mudanças no seu
estilo de vida, levando-as a incorporar a prática de atividades físicas ao seu cotidiano
(INSTITUIÇÃO B, p. 27, 2017).
Essa ideia ignora a dinâmica sistêmica e variada que influência diretamente o estado
de enfermidade humana e através de uma dimensão moral, responsabiliza cada individuo pelo
seu próprio adoecimento (BAGRICHEVSKY; ESTEVÃO; PALMA, 2006). Sabemos que boa
parte dos brasileiros não têm condições materiais concretas para sobreviver ou sobrevivem de
maneira tão precária que falar em um “estilo de vida ativo” a ser seguido soa de forma
utópica, pois para essas pessoas as possibilidades de escolha são mínimas.
Ademais, a noção de “estilo de vida ativo” está vinculada a uma concepção de saúde
que supervaloriza os aspectos biológicos em detrimento dos demais elementos que interferem
no processo saúde-doença, ou seja, uma concepção que se distancia da compreensão da saúde
de maneira ampliada. Essa proposta tem origem ainda no movimento eugênico e higienista do
início do século XX no Brasil e posteriormente foi fortalecida pelos “movimentos da saúde”
que contribuiriam para a adoção de programas privadas e a produção de bens de consumo
88
ANÁLISE DOS CURSOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE FEIRA DE SANTANA (BA)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nossa pesquisa teve como objetivo principal identificar a relação entre os marcos
teórico-conceituais do NASF e os projetos formativos dos cursos de Educação Física de Feira
de Santana (BA). Nesse sentido, elaboramos a seguinte pergunta síntese: Qual a relação entre
os marcos teórico-conceituais do NASF e os projetos formativos dos cursos de Educação
Física de Feira de Santana (BA)?
O resultado final a que chegamos, e que, uma vez obtido, contribui para o embate de
projetos que direcionam a formação humana, bem como, servirá de base para novos estudos
em torno da formação de professores de Educação Física, é o de que, os documentos oficiais
dos cursos de Educação Física de Feira de Santana (BA) não expressam a concepção de saúde
presente nas diretrizes do NASF e na lei orgânica do SUS, a saber: a noção ampliada de
saúde, que inclui determinantes econômicos e sociais, tais como, alimentação, trabalho,
emprego, renda, habitação, educação, meio ambiente, transporte, lazer, acesso a posse da terra
e aos serviços de saúde como condições necessárias para se garantir a saúde.
39
Tomar posição pela neutralidade significa contribuir para a manutenção das concepções hegemônicas.
90
CONSIDERAÇÕES FINAIS
crítica ora adequação ao modelo capitalista de sociedade e suas mediações. Ao fim e ao cabo,
não apresentam uma crítica radical ao capitalismo, demonstrando por vezes convergência à
manutenção do modo de produção atual.
Alguns destes problemas não são nada recentes, pois desde os primeiros cursos de
Educação Física no Brasil, orientados por médicos e militares, a saúde é tratada de modo
restrito, se limitando ao conhecimento das ciências biológicas e médicas. É nessa época que
surge a ideia do “estilo de vida ativo”, disseminado no imaginário popular até os dias atuais
que somente com uma “vida ativa” é possível adquirir saúde, consolidando assim um padrão
de beleza, saúde e juventude quase mítico.
necessário congelar os investimentos nos serviços públicos, ignora dívidas bilionárias das
empresas multinacionais.
Este cenário aponta para a desumanização dos seres humanos, sobretudo, da classe
trabalhadora e é referendado pela política pública de educação no Brasil. As atuais Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Formação de Professores e as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Formação de Professores de Educação Física privilegiam a formação acelerada,
fragmentada e calcada na construção de competências e habilidades para atender as demandas
do mundo do trabalho. Nesse bojo, também se encontra a maioria das diretrizes para os cursos
considerados da área de saúde, o que demonstra a uniformização na concepção de formação
dos cursos do ensino superior.
Na relação entre Educação Física/Saúde isso significa uma formação que considere a
saúde como síntese das múltiplas determinações a que submetem os seres humanos. Como
Pinho (2011) utilizando as contribuições de Pistrak (2009):
40
Outros princípios são: 1) trabalho pedagógico como base da identidade profissional; 2) compromisso social da
formação na perspectiva da superação da sociedade de classes; 3) sólida e consistente formação teórica e
interdisciplinar, em que o trabalho de pesquisa seja um meio para essa formação; 4) articulação entre ensino,
pesquisa e extensão; 5) indissociabilidade entre teoria e prática; 6) tratamento coletivo, interdisciplinar e
solidário na produção do conhecimento científico; 7) avaliação em todos os âmbitos e dimensões; 8) formação
continuada; 9) respeito à autonomia institucional e gestão democrática; 10) condições objetivas e adequadas de
trabalho.
94
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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