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MUSEUS Artistas latino-americanos na Paris modernista: a dificil consagra¢do! Latin American arlsts in modernist Paris: a difficult consecration hips:/ /o g/10,1590/1982.0267202162917 a 7 poi da Fapesp C6524 bre ds Fondation Maison ‘ANA PAULA CAVALCANTI SIMIONF es Scones oe Homme: hips://crcd.ong/0000.0002:98056139 2 tam gnu, om versdade de Sho Paulo (USP, mera edoutor ‘to em Soca pela mes dlo-sandwich aa Boole des Hautes Ber en Scences Siig (USP) € rotesora Universidade de Sao Paula / Sao Paulo, SP, Brasil RESUMO: Ese artigo busca problematizar as possibiidades de reconhecimento objidas por ats latinoamericanos na Paris modeinisi. A parr das avis sobre consagiaréo arisen, SihSaon dlp cnalisase principalmente © procasso de musealizagéo das obras de arfisias latinoamericanas de po graduacio Inter ue passaram a compor os acervos pilblicos francesas ene a década de 1910 e o fundagao. wee Blac iste one do Musée National d'Art Moderne, em 1947. A pesquisa realizada nos Archives Notionales orienta atualmente alnos pormitiy identificar quantos © quais, dente os mais de trezentos artistas laincomericanos aivantes cee ie aera 6m Paris, foram escolhides para comporem tis colores. Como se ver, foram realents poucos de Nas (202125). er coqueles que conseguiram ter svas obras inseridas rum: colegdo péblica francesa, e mesmo assim, do sro de ex isso no garantiu visiblidade na época, como as flagranies auséncias no MNAM bem revelam. ene (GAD. E-mail ‘Sinposuspa PAIAVRASCHAVE: Atisas latinoamericanos. Modemismo, Paris, Museolizacdo, Musée National d'Art Modeme. ABSTRACT: This aticle sacks o problematize the recognition possiilies of Latin American ats, in modernist Pats. Based on theories of arse consecration, this atcle analyzes the process of rmuseaiization of waiks by lain American crisis, who became part of French public collections between the 1910s and the founding of he Musée National d'Art Modene in 1947. The research, ‘ANAIS DO MUSEU PAUUSTA Sao Paulo, Now Séie, vol. 29, 2021. p. 199. €17 1 cared out in the Archives Notionalas, made t possible to identify how mary and which, among tho more than three hundked Latin American artists who doveloped their workin Pris, wore chosen to become part ofthese cllactions. As we wil se, only a minuscule few actualy managed to have thair works included in a French public collection. Even whan they did, this was hardly @ guarantee of visibly, as revealed by certain bltont absences in the MNAM collection. KEYWORDS: Latin American artisis. Modernism. Paris, Musealization, Musée National d'Art ‘Moderne, [ANAIS DO MUSEU PAULISTA — vol. 29, 2021 Uma visita hoje ao Centre Pompidou, sede atual do Musée National d’Aa Modeme da Franga, permite que o piblico admire um dos mais conhecidos autorretrates de Frida Kahlo, pintura que esta frequentements em destaque no peICUISO expositivo.* Por sinal, a visiblidade dos artistas origindrios da América Laline foi propositalmente frisada na exposicéo ‘Modernités Plurielles’ lavada & cabo por essa instivigéo, entre 2013 © 2015, sob a curadoria de Catherine Grenier. Nessa polémica exposicao, o madernismo brasileiro foi aleade a uma centralidade incomum nas nartativas interacionais sobre arte medema, chegando mesmo a prolagonizar um dos niclecs cenirais da mostra, inttulado “Os Realismos” * No entanto, ess0 centralidade, ou esse reconhecimento, nem sempre estiveram presoniss na insivigdo, como protendo discuir nas préximas péginas. Desde meadas do século XIX Paris se consolidou como metrdpole artistica, aticindo milhares de artistas estrangeitos.S Para os attistas latino-americanos de orientagdo ccadémica, desde ao menos 1860 @ chamada "Cidade luz" sobrepujara a importéincia de Roma como centro preferide pare consolidarem suas formagées e almejarem aigum tipo de reconhacimento internacional. Tal situagéo ndo s¢ alterou nas primeiras décadas do século XX, mesmo com a perda do centralidade da academia, ¢ a cidade passou a atrair também artistas de orientagdo modetnisia. E isso se manteve ao longo do século KX, ainda que com a Segunda Guerra Mundicl Nova lorque tenha desponlado como um centro potente, Paris se manleve como um destino importante de latinoamericanos.° Diversos estudos jd discutiram esse tema. Em Artistas modemistas em Paris, década de 1920, Marta Rossetti Batista analisou minuciasamente as permanéncias: de varios artistas brasileros na capital francesa durante a década cited,” Apesar da contiibuigéo inesimavel da pesquisa, de sev pioneirismo e dos dados fundamentais mobilizados, « autora exclui do campo analitico os artisias néo afinados com as cortentes percebidas por ela como de vanguarda. Marcia Camarges soluciona parte de tal lacuna ao dedicarse co estudo do Pensionato Artistico do Estado de Sao Paulo, 6:40 criado em 1914, cujo papel era fomentar © aprimoramento atistico no exterior de pintores, escultores e musicistas paulistas, muitos deles de orientagéo mais conservadora. Entre 1914 © 1930, foram oulorgadas catorze bolsas para arisias plasticos se aprimorarem em Paris.® Em pesquisa anterior, abordando também os arlisias provenientes de outros esiados ue ndo apenas Sao Paulo, cheguei ao niimero de 25 artistas brasileiros em Paris, apenas durante os anos 1920.° Esses trabalhos se dedicaram, especialmente, a recuperar as rajetérias dos aristas na capital francesa, focolizando os locais de formagdo, os esparos de exposigéo pelos quais circularam ¢ o modo com que foram percebidos pela critica e pela historiografia ‘ANNALS OF MUSEU PAULISTA - vol, 29, 2021 3. Ck ehatpay/h ISH, 4. ese espto CL eh Ipssbiy esac. A xe Pnido no fol comers mente bem vist, para tena tentado rar went rari mo euros, ts pincipinseticos, ‘tas rafimaram o chnone arog do que 0 conti. Neste sentido, consulta Mors; Parkmane (2015), Maro 2013). 5m 186 tse fla e+ dade, segundo Letheve {4968 p17. Lee ame ‘onnart: lebowes 07. 6 Guilbautt (1983). Vale, gorem,notar que pho funda meeade do seculo AOC Como 2010) Sodre Plate (2015. 7 wats 2012) 1 Todavia, a pesquisa de Maria Camargos concen tree no cise do areas suencionados pelo Pen Sonato Arstico, portato orig pis 0 ie tien que as igen dos 35 Fluminense, pat teados por scus esta, ‘lo foram considera, 9. Simons 2016 10, Canta de Tosa para bo de 1920, Chad Amal 2005, 9.48. Os tiés textos mencionades abordam 0 caso dos attisias brasileiros, especificamente durante as décadas de 1910 e 1920. Jé a pesquisa de Michele Greet, Transatlantic encounters: Latin American artists in Paris between the wars, que resuliou em um livio e um site, amplia consideravelmente 0 foco pare mais de trezenlos arislas proveniontes de diversos paises do América latinc, que realizaram estadios em Paris entre 1910.6 1940. A autora invesiga as condigdes de formacdo a que fiveram acesso; as participagdes nos salées e nas galerias; © modo com que foram percebidos pela critica; e o nivel de reconhecimento alcancado. O presente artigo dialoga com tais pesquisas procurando, porém, avangor em um dado que foi pouco invesiigado, ov pouco destacado, pelas autoras citadas: a presenca das obras latinoomericanas nas colesées museais francesas no periodo am questéo Os artistas latinc-americanes nao formaram um grupo coeso ou uma escola. Nesse sentido, diferitam de outtas colénias de artistas estrangeiros, como os russos, conhecidos por sua produgdo junto aos ballets de Diaghilev, pelas obras construtivistas © agrupades em forno de academias privadas, como a Académie do La Paletia; ov dos ialianos, que co menos duas vezes organizaram mostras em galetios procurando promover sua visiblidade, tal como Pointe italions do Paris, no Salon de |'Escalier (em 1928), ¢ Un group d'‘taliens de Paris, na Galerie Zak [em 1929]. Em uma época em que o pertencimento a grupos era um critério significativo para @ notabilizacdo ne meio, como bem evidenciam os manifestos cuja proliferagéo se devia & importéncia de explicitarem um determinado partido esiético, 0 faio de ndo se destacarem como grupo pode ter consituido um ébice €m fermos de reconhecimento. Num universo altamente concorrencial, no qual, como bem lembra Tarsila, “eram muitos os chamados mas pouco so as eleitas”, consolidar um nome e uma carreira eram desafios ndo negligencidveis. A dificuldade em identificar uma escola latinoamericana espelha uma quesido maior, a saber, o que se enlende por América Latina. A prépria nogao & bastante complexa, ort dafinindo-se a partir de uma certa unidladle genaréfia, que aglutina diversos paises abaixo dos Estados Unidos (México, paises América Central, da América do Sul e alguns patses do Caribe); ou ainda mais histérica uma vez que fais paises passaram por processos de colonizagéo impettades contra suas populagdes nativas, os quais implicaram certas afinidades linguisticas, pois, de mode geral, trouxeram consigo a imposigéo do espanhal e do portugués como linguas nacionais; havende excerses pontuais como a impasioae do francés & inglés em alguns paises e até mesmo do holandés no caso Suriname. E também. um fetmo muilas vezes usado em um sentido “distinfivo", em conhaposigao aos paises da América do Norte, como os Estados Unidos e 0 Canada; contraposigaio essa derivada de processes coloniais diversos, que lrouxeram consigo outtas linguas [ANAIS DO MUSEU PAULISTA — vol. 29, 2021 (inglés e francés} ¢ religiées, mesmo que de mattizes cristés, mas ndo caldlicas, como prevaleceu nos impérios espanhol e portugués. No entanlo, esse cardter dislintivo ndo espelha apenas diferencas, mas também desigualdades, pois ds nogées de América do Norte e de América latina associanrse a represeniagées muito distintas sobre graus de “cilizagao", modemizagéo ¢ desenvolvimento. Nesto sentido, 6 interessante vor que América Latina fol também um termo cunhado e “desejado" pelos proprios atores latinoamericanos em busca de projelos, de idenfidade, emancipacdo e valorizagéo que desponiaram em diversos momentos ao longo dos séculos XIX e XX."" E preciso sublinhar que, no periodo aqui estudado, 88501 noo ndo estava pronta, mas sim em consttucGo. Q sistema artstico participou profundamenie desse processo, escolhendo os artistas, as obras e um conjunto de nartativas que identficam © que se pade denaminar por “arte latineamericana’.!? © presente artigo analiso as possibilidades de alcangar sucesso arfistico na Poris, modemista, o partir de duas variaveis: em primeiro lugor a nacionalidade, tendo em vista que 0 escopo da pesquisa diz respeito aos artistas oriundos de paises da América Latina e, em segundo lugar, procura-se refletir se 0 género dos (e das) artistas desempenhou algum tipo de impacto nas chances de reconhecimento, ‘Mas antes de entiarmos no tema propriamente dito, & preciso explicitar © que se entende por éxito ou sucesso artistico. Alguns autores, especialmente provenientes da sociologia da arte, 18m debatide © quanto sucesso dos artistas, no é algo arbittario, ou exclusivamente derivado de seus talenios individuais. Para tanto tem-se procurado apontar que existem indices relativamente constantes, estéveis e dotados de certa objetividade. E possivel mensurar o grau de reconhecimento de um artista por meio de elementos concreios como a presenca em colecées (piblicas e privadas); em grandes mostras ¢ exposicbes, as quais podem ser hierarquizadas conforme © local em que ocorrem e/ou por serem individuais ou coktivas; ov ainda por suas paricipagées nos meios de comunicagéio {jorais, revisias, TV, cinema, sites de internet etc.|e, finalmente, por serem objelos de resenhas ou comentérios na literalura especializada. ' Tais elementos podem set cadificados e ranqueades, como bem demonsiram as lslagens produzidas pelo Kunsicompass e Artprice, relativos ao sucesso dos arlstas em temos de visibilidade @ preco das obras alcangado no mercado secundéirio, tal como foi estudado & discutido por Alain Quemin."* J6 0 terme consagracao significa 0 grav de raconhacimento acumulado que determina a aceitagdo dos aristas e obras pelas instancias legttimadoras;'® ou seja, consagragao significa o ponto final, & culminante, do processo de reconhacimento. Nessa direst, 0 modelo dos circulos de reconhecimenio desenvolvido por Alan Bowness (1989), relomado e carrigide por Nathalie Heinich (1998) e, ‘ANNALS OF MUSEU PAULISTA - vol, 29, 2021 HA cue reper Ses eats, 12. ois poms incre tex par cn decussto mas Ahr neste momento 0, Franca, Expastion dre Amércaintatin, contd fm 1924 1a Manon de Amérique Tatine, 2 aust comgrepo 260 ota, de 42 tists de vintages ate teas © origens nacionais intas, provenients de Sicko do teve grande a co aso ua inci Ponera. A ese fespeito tee Squelt (2015). Mate portant fo sem divas, 0 Investment do MoNIs ace Src, Para tanto con- sult COTA J, Eastiguio Cencas. A jormactio da clea latino americana {do aMA.Sko Paulo Pace tril 2019. ator de ont como a categoria sormando dentro do Mo- 1959 6 1945. lncalnente, fm 1981, stay atcadn 3 Pimores’ mexicans, igae, way conju aor de arenas panes Mas aos poucos ss 11 se dersando, em tango dos Imeresses geopoltiens do peniodo, connecidos comm Ftc de Boa Vizinhanga co papel awe as artes, par tiularmemte@ MoM, ect 18. Bowness (1989); Hea «ch (198 ojzman 205). 14. Quemia 2015, 15, Rojzman 2005, 9.1. 16 No sistema contemport- frandes muses alums fnstiwigoes privaa, ow fundaes ou sind cents tam com espces de vst faqio e que posuem ato fr de vse © le timacao. No Brasil © Tat ‘Ohtake, nhotim sio exem los Essa intiiges po dem compre papel sme: 17 Fur 2012, p41, rife ose) posleriormente, por Nuria Peist Rojzman (2005) consitui uma baliza metodolégica frutifera. A ideia & que entre a produgdo da obra, considerada como 0 tempo zero, €.a sua consagrardo, ha um processo de construgao de visibilidade, legitimidade @ reconhecimento, dimensoas que envolvem diversos agentes € insténcias Inicialmente so os mais préximos aos artistas, seus pares imediatos, grupo que pode compreender outros airistas, amigos efticos = os primeitos colecionaicores, que constituem seu primeiro circulo de apoio. Esse “nucleo”, como define Nuria Peist, 6 fundamental por chancelar 0 produtor simbdlica e economicamente, mas possui um baixo poder de legitiméo. Ao longo do tempo, o reconhecimento se amplia 4 medida que @ obra vai sendo mais conhecida, analisada, adquitida, exposta por grupos sociais mais distantes do arista no tempo € no espaso {tetmo aqui compreendido em um sentido sociolégico © nao geografico). Assim, a consagracao, implica um processo de acimulo de reconhecimento, cujo ponto final depende da integracdo das obras e dos artistas que as produziram aos grandes museus. Is80 porque essas instluigdes sG0 apontadas pelos autores citados como aquelas com maior capacidade de legitimar as obras e 0s/as artistas diante do grande piblico, além de fornecerem uma visibilidade ampliada deles/as."* Nessa diregdo © comentario de Viceng Furid sobre a célebre tela les demoiselles Avignon de Picasso, hoje considerada fundadora do cubismo, é bastante interessante: A prinfpios del siglo XX, e reconocimiento dal arto de vanquadia empez6 en el Gmbito prt ‘odo del mercodo. los muses fueron muy eros y reacos en acephar ks nuswas formas cis ficos. Pero a parr de las décadas do 1950 y, especialmente, de 1960, el ate de vanguor dia. mds ransgyesor two en ol Esiado y ls insttuciones su principal valedor y su mas répido sallo de reconacimiento La histor del importer ugar que ocupan las demeisalles Avignon db Picasso on el desarllo del ars medemo no empieza on 1907, sino en 1939, cuando ol ‘Museo de Arte Modomno de Nueve York presents la obra en una de sus solos Parlindo de tais postulados sobre a consagracdo atisica e, dentro desse proceso, sobre o espaco reservado aos grandes museus de arte, este estudo iomou como ebxo central « presenga de obras de artistas latino-americanos nas colegées piblicas francesas, ene as décadas de 1920 © meados da decade do 1940, Aborda, cinds, a integracéo de obras dasses artistas naquele que foi o principal marco de todo um processo de institucionalizago da arte moderna na Franca, « saber: a formagao do acervo de obras de arte do Musée National d’Art Moderme, criado inicialmente em 1942, durante a Ocupagao Alema, e oficialmente inaugurado em 1947, [ANAIS DO MUSEU PAULISTA — vol. 29, 2021 (© LUGAR DOS ESTRANGEIROS NA ESCOLA DE PARIS Na Paris modomniste, a proveniéncia dos arlisias era uma condigéo significativa 6, por vezes, desigual. Muito embora alguns aistas estrangeiros tenham se notabilizado imensamente j@ antes da Segunda Guerra Mundial, como Pablo Picasso, e com isso ajudaram a divulgar uma certa mitologia da cidade como uma "terra de oportunidades", a realidade para « maior parte dos artistas 21a bam outta. A condicdo de esrangeiro era um marcador social concreto, bem como ume condi¢do cambiante, cujo paso sofreu variagées durante © longo petiodo designado como modernismo. Ser estrangeiro na cosmopolita Paris da “Belle Spoque" ndo era em si um abstéculo, muito diverso do que ocorrera no poriodo pésPrimeira Guerra, marcado pelo acirramento dos nacionalismos atravessado por uma crise econémica que atingiu, evidentoments, o campo da cultura, Ser estrangeiro — ao que se somam as varidveis de pais, de regido e de religiGo — toava a permanéncia na Franga algo complicado ou até mesmo perigoso durante os anes finais da década de 1920, apés a invasdo nazista. A xenofobia enlao se transformou em politica de Estado, 0 que afetou inclusive o meio artisico, como bem atestam os estudos de Laurence Bertrand Dorléac que se debrucaram sobre © governo de Vichy, "® A hostlidade conta 0s “de fora’ jé havia se manifestado mesmo antes da Primeira Guerra Mundial (1914-19181, mais precisomento em 1912, quando o conselheiro municipal parisionse ladoué enderecou uma carta ao subsecretério de Belas Artes, léon Bérard, acusando © Salon d’Automne de ter sido invadido por uma arte de qualidade questionével, associade ao cubismo, que, segundo ele, era resultado do impacto negative causado pela presenca dos estrangeiros nos circulos dai are francesc. Tal manifestacéo provocou diversas reagdas de apoio na imprensa, como a do critico Louis Vauxcelles (1870-1943) que associava a mé qualidade da arte moderna 4 influéncia proveniente do exterior Outros ainda culpavam o jéri do salon, visto como tomado por estrangeiros, pelas caracteristicas decadentes das obras [a acolhidas premiadas. Finda @ Primeira Guerra Mundial, 0 incémodo com os forasteiros ndo desopareceu por completo, talvez tenha mesmo aumentado. Nesse momento, um fato chama @ atengo para o quanto a animosidade se encontrava pulsante. Em 1921, decide-se desmembrar em duas partes o Musée du Luxembourg, que era © inslivigao que acolhia a arte contemporénea na Franga, entéo denominada “art vivant". Por um lado, surgiv o museu dedicado as “Escolas Estrangeiras", doravante chamado de Musée du Jeu de Paume, e, de outto, restava o Musée du Luxembourg, cuja funcéo passava a ser expor apenas as ‘ANNALS OF MUSEU PAULISTA - vol, 29, 2021 18. Aca reap consul tar expetalment, Beran Dente 1980) 18 Joyeur-Pranet 107, 20, Joyeus-Pranet 2017, ne. Nationale «Art Newer 2018, p-0), 22. Joyous Pranel (201 6) 25, Warn (1925 pnd MD TA VILLE DE PARIS, 9.8 teaducto nose) No ral Moke de Pasevie. Pi pourtom, meus que Hous, endef cantor “erleselemens qa com {ovjours aimer son exis {gf venir es nee Sets monde ener Teuton consider comme Jndcamble late pou qi Pars esa Tere proms, t seulpuwes.P- 28, No ongina: “Thee ate eators who. ge back tore than they take They fy foe the ars, the hans scthersan remain fn pace ard coment therm selves with coming 10 ‘rance o sdy the fine ats, eturing home ight away {0 exploit the goods they Just have acquired and oy Sword the soxereigaty of French at Greet (2015, 1.152153 eavto nas), 25. Asse respeto cons Ge Kangastaht (2009, pfstID. obras dos artisias nascidos na Franga, com vistas a realear a visibilidade da contribuigao francesa para © desenvolvimento da arte moderna.”° Em 1930, 0 ‘Musée du Jeu de Paume ganharia aulonomia administraiiva, sendo desvinculado da instituigdomae.?" Ainda durante os anos 1920 outros episédios foram marcantes. Em 1923, © comité do Salon des Indépendants decidiu expor os ariistas por nacionalidade. No ano seguinte, decide-se "separar os franceses dos estrangeiros, os dltimos devendo ser reagrupados por nacionalidade ou raca”.2? Como resultado, diversos artistas estrangeitos importantes como Foujita, Van Dongen, Zadkine, Alice Halicka, enire outros, se desligam do Salon des Indépendanis, que teve seu prestigio abalado Otermo "Ecole de Paris”, cunhado pelo critico André Warnod, em 1925, 6 um dos principais resultados desse complexo momento. Em dois arligos publicades no mesmo ano, © crilico afirmava a exisiéncia do conceito de “Escola de Paris” como um agrupamento de tendéncias contemporaneas, de carater antiacadémico © por vezes como sinénimo de arte independent, para o qual contribuiam artistas de diferentes origens, mas que atuavam na Franca A Escola de Paris exist. Mais tarde os hstoriadores da arte poderéo, melhor que nés, de fiir seu cardier ¢ estudar os elementos que a compem, mas nés podemos sempre afmar suo exiséncia e sua forca de atta, que fz vir até nds artistas do mundo todo [..].Po- demos considerar como indesejvelo asks para quem Paris é @ tera prometida, o fora abencoada dos pintores © esculores[...2* E, mais adiante, ele detalha a contribuigdo diferenciada entre essa ampla comunidade artistica Ha entto eles grandes atistas, criadores que devolvem mais do que oles tomam. Els por gam pelos outos, os sequidores, os fabrcantes de pastiche, os comercianies de segunda Imo, para que esses possam permanecer no lugar e se contenfarem com a chegada & Franca para estudar as belos ares, volundo pora casa e explorando os bens que acabor ram de adguiti,# lealmente espolhando por edo © mundo a soberania da rte francesa.” © termo Ecole de Paris cunhado por Weinod apresentava, assim, uma solugéo para inlograr os artistas estrangeiros numa totalidade cultural cuja sede 270 @ capital francesa. Isso significava que eles eram inclvidos nessa “escola” eclética, mas suas poténcias criatives estavam submetidas @ uma instancia superior: a metrépole que os acolhia e propiciava suas criagdes.* O texto de Warned teve grande repercussdo, « ponto da expressGo se lornar uma categoria [ANAIS DO MUSEU PAULISTA — vol. 29, 2021 empregada para abarcar toda a produgéo arlistica produzida na Paris modemisia, cuja marca era o ecletismo e a diversidade. Dionte desse ambienie que ao mesmo tempo acolhia e hierarquizava os esirangeiros diante daguilo que se enlendia por pintura francesa,” quais eram as possibilidades de reconhecimenio disponiveis? Consagrarse na Franga passava por trihar alguns caminhes que poderiam se entrecruzar, como pela participagtio nos sales, pela realizagdo de exposigdes em golerias @, finalmente, por ter obras adquitidas pelos insivicgdes oficiais, como o Musée du Luxembourg, ou sua verséio “esirangeira” recentemenle criada, o Musée du Jou de Paume: Os salbes anvais que enido estavam em operagdo eram cinco: a Société des Artistes Francais, fundada em 1881; a Société Nationale des Beaux-Arts, inaugurada em 1890; 0 Salon des Indépendants, surgido em 1884; o Salon d’Automne, funcionando desde 1903; e, finalmente, o Salon des Tuileries, criado em 1923. Com excegdo do primeiro, todos os demais aceitavam estrangeltos dentre seus expositores. No entanto, os perfis @ prestigios desses salées eram distinlos. © Salon de la Nationale, como era conhecido aquele promovido pela Sociéié Nationale des BeauxAris, era nilidamente mais, conservador, caudatirio da tradigGo da Ecole des Beaux-Arts; ao passo que 0 Salon d’Aulomne @ © Salon des Indépendanis eram os mais aberlos as vanguardas. Dentre eles, 0 primeiro possuia mais prestigio no campo, por possuir um [dri @, portant, ser mais seletivo [insténcia que o Salon des Indépendants propositalmente refutaval e, também, por ter realizado exposicées notérias, como a de 1905, onde estrearam os fauves. O Salon des Tuileries despontou apenas em 1923, como uma tentative de congregar todos os *modernos” num tinico lugar, procuranda ser um espaco de conciliagéo, isso em uma época em que a crise dos saldes jd se fazia sentir® Os saldes ofereciam uma oportunidade impar para os artistas latino- americanos participarem do circuito artistico francés. Segundo Michele Greet, cerca de sessenta artistas latinc-omericanos enviaram obras para os salées no periodo estudado, alguns deles expondo com regularidade.” Embora poucos tenham conseguido conquistar prémios e distingdes nesses espagos, para muitos foi a oportunidade de terem suas obras vistas e comentadas por criicos. Com feito, c repercussdo na imprensa era fundamental para a carreira, aumentando as chances de serem aceitos por galerias. O sucesso nos salbes se traduzia também em repercussées importantes em seus paises de origem, o que lhes possibilitava prestigio quando de seus relomos Ao lado dessas instituigées, a participacae no mercado attistico era importante para se fazer notar. Cada vez mais expor a obra numa galeria se ‘ANNALS OF MUSEU PAULISTA - vol, 29, 2021 2 Herta Done (196) 2, Soe a eres mi ties © dates do que 50 camera endo poe pura (op. dt,» 6465). 0 ator fexpic e x ies de mt “col face de pair madera er deri poe vero tins do period omportando desde waa ‘io carmen omnis fe pata e xensto, como 2 eer pt etic C= tulle Maucl até uma ver So aberta participa fos esranaciras, com sas tcc de oie, fultur, rl eso, mas ra media em que prod diam soho atepicioe de Pare negra tbuigdes 40 “spit fea pogo deni poe Andre Wao Noreen, epuidores ov aquela epre- fentada por amt como Yauncls, part os quis ‘reside mao france St sctia devetors tts Je ‘ero unis pla Yoni edo ovo, dove por um iso onan de ag cena on pertenciment> fenioo. Do pont de ist ttc, ota rope pats um ems ‘oar sco ce fag da each a (era frances 2 Maingon (2010 29. Greet 201, 30, Joyeur-Pronet 2017, po. 51. Greet 2017, 9.129) 232. Sobre as galerie de Pa tisk Sain Raymond: Maw prow Gaver (2016) 33.8 Gree 2017), tomnava um elemento crucial para algar visibilidade na Paris modemnisia.°° Alguns criticos cobriam constantemente as expasigdes dos sales por meio de artigos em periddices, como fazia Waldemar George em l’Amour de l'art, ov ainda Maurice Raynal em seus textos publicades no ['Intransigeani, e, especialmente, 0 crtico Raymond Cognit, que cobria as exposigées dos latine americanos na Revue de I'Amérique Latine.*' Foram eles os intermedidrios decisivos para a notabilizagao de alguns artistas latino-americanos. Durante os anos 1920, como bem demonstra Michele Greet, Claire Maignon ¢ Béatrice JoyeuxPrunel, os saldes haviam perdido © monopélio de consagragdo, enquanto o sistema de galerias crescera de modo vertiginoso, chegando a 130 estabelecimentas em funcicnamento nessa década. Cerca de Irinta artistas latino-americanos realizaram individuais em galerias de prestigio fem Paris,2? pouco menos de um dacimo dos cerca de 330 artistas que reolizaram estadias na cidade nesse periodo. Esse pequeno nimero de expositores evidencia a seletividade desse sistema, bem como a dificuldade enfrentada por essa populagdo de estrangeiros para efetivar um passo to decisivo para aleancar vistbilidade e reconhecimento arfstco. No concorridissima rue la Boétie, Max Jimenez, Tarsila do Amaral Joaquin Torres Garcia expuseram obras na Galerie Percier; enquanto na prestigiosa galeria [Effort Modeine, Vicente do Rago Monteiro, Emilio Pettorut @ Tarsila do Amaral foram exibidos entre os anos 1920 © 0 comego dos 1930.*8 Ainda na na Rive Droits, © uruguaio Carlos Castellanos realizou uma individual na Galerie Durand Ruel em 1927, enquanto seu compatriota, © pintor Padko Figari, expds na Galerie Drust em 1923, 1925 2 1927. Uma das telas de Figari expostas em 1927, intitulada Danse créole (Figuras 1 © 2) foi adquirida pelo governo e enviada ao Musée Jeu de Paume, que entéo abrigava as colecées de arte estrangeita contemporanea. Trata'se da jnica obra do arfsta comprada no periodo entreguerras hoje perlencente ao Musée d'Orsay. Temos aqui um bom exemplo de um processo de consagraséo que se completou ‘Mas quantos latin ameticanos consequiram tal feito? [ANAIS DO MUSEU PAULISTA — vol. 29, 2021 Figura | - Recibo de compra da obra la Danse Créole, Pasta de Figari. Archives Notioneles, Pasta F/21/4208. Foto: Autora ‘ANNALS OF MUSEU PAULISTA - vol, 29, 2021 Figura 2 ~ Manusctio assinade por Pedro Figari declarando envio da tela adapts para © Musée du Jeu de Paume. Archives Nationsles. Pasta F/21/4208, Archives Notionales. Foto: Autor. [ANAIS DO MUSEU PAULISTA — vol. 29, 2021 A PRESENCA DOS ARTISTAS LATINO-AMERICANOS NAS COLECOES PUBLICAS FRANCESAS: AA parir de levantamentos feitos em diversas bases e fontes, chegouse & cifra de 333 artistas latinoamericanos aluanies na Paris modemisia.* Dente esses, apenas 23 homens ¢ cinco mulheres conseguiram ter ao menos uma de suas obras incluidas em uma coledo poblica francesa. Isso significa que 305 artistas néo objiveram esse giau de consagragéo, ou seja, o imensa maioria (91, 5%]. A cira de &xilo, neste Ambito, & ainda inferior aos 9,0% de artisias que puderam expor em galetias privadas, uma vez que o indice de musealizagio alcangaria modesies 8.5%. 333 motes ndo adkpiddos — mhomens odguridos — mmulhores adquidos Figue 3 Gréfcoreferente 6 aquisiodo de obra de artistas loin-americanos polos museus kanceses Frisese que © levantamento indica que @ quantidade de obras femininos musealizadas discretamente menor que as produzidas por homens. Em fermos absolutes, apenas cinco atistas foram retidas polasinsttvigSes [as brasileira Anita Malfatie Tarsila do Amaral; « peruana Carmen Sacco; o mexicana Frick Kahlo a venezuelana Emile Boggio). Mas é preciso nuancar esse dado, pois a quanlidade de mulheres artistas latino-americanas em Paris no periodo era, também, consideravelmente inferior & masculina. Dente os 333 artisias atvantes na cidade, 263 eram do sexo masculine, sendo que 23 deles tiveram obras musealizadas (8,7%), a0 passo que 240 (91,3%) no. No mesmo periodo, cerce de setenta mulheres artistas estiveram em Paris, e apenas cinco delas obtiveram obras ingressando em museus (7, 1%, enquanto 65 (92,97) nao lograram tal feito, ‘ANNALS OF MUSEU PAULISTA - vol, 29, 2021 34 Ui as segues ne CGNAP. Réunion des Musée Nationa Joconde, ai a, coms presencia 28 pst dow ate ag {es dlaponilzdas pelos Tramattanic Encounters, constrido por Michele Greet foi wad como grade preiso de 333, excl eases thovidsos ow que compor tavam eros Opt mo sm (qucataram muito a0 Bast cram mit bea a na Franc, tis como sor. Embora oe considers fundaments por deso- ‘ovimento aren es 0 escopo aqui abordado, ty ato tra como ombrsar ts coma odes 40 heram paps equalets em outs pies como Me- eo, Argemting, Fe, Che fe Porno, actbelopeand oe una vst rest ca ma oigem on macions- Fede, que oque a bases deo ees Aca de [Sha mie fidedigna poe five mae pode ter eat as munca com noras pesquas fue 13 135, Carta de Anita Maat imeados de novembro de 1925. Arguvo do last de Estudos Beason a Tais dados quantitativos podem ser contrapostos a narrativas habitvais da histéria da arte, tracadas a partir de casos individuais de arlstas que, de algum modo, perfizeram estadias “bem-sucedidas” em Paris, Quantos textos de poca ov mesmo trabalhos académicos celebraram 0 “sucesso” de Tarsila em Paris, coroado por sua exposicGo na Galerie Percier, independentemente de so saber so as obras foram realmente vendidas ov no? Ou ainda © caso de Anita Malfatti, que om missive trocada com Mario de Andrade, seu amigo pessoal © critico afamado em Séo Paulo, comentava feliz a compra de uma de suas pinturas pelo Estado francés. Dizia ela Por aqui chs novidades. Mardi a fal ela de que i foe a voce para o Solon du Frane. Hou ve 0 célebre lilo apuroram com 147 telas, quase 800,000 francas. Mino fla foi rematacks palo ‘ia, de modo que ficaré para algum museu da Franga. Que ta heim? Era o meu dessjo, Pensei no principio que fosse algum comprodor particu, mas depois & que soube « baa rafcia. Sempre fica bem ter uma tela comprada pelo govemno da Franca. Pode darme um vaso abrago. Acho que mereco. Conte a voc8 que por causa desta toa o Fujia pedi uma ‘preseniardo® “Ca commence & gazar” como diz 0 parsione[...]* No enfanto, como se verd, essa tela jamais foi exposta © alé hoje seu paradeito & desconhacido. Esses sucessos epissdicos tenderam a ser muito valerizades pelos prdprios artistas e eccaram positivamente em seus paises de origem. Mas uma perspectiva ompliada permite perceber que, de mado geral, maioria dos artistas latinoamericanos ndo se notabilizou em Paris. Considerando-se © critério da musealizacae das obras como © ponte final do processo de consagragéo, isso se toma bastante evidente, Como se mostrou, o indice de mmusealizasdo foi inferior a 10% dos artistas, entre homens e mulheres. Devese ainda ressallar que, no enreguertas, as obras foram adguiridas por compre ou por doasae, realizado pelo préprio artista, por colecionadores ou por familiares, postumamento, Essas modalidades possuem hierarquias de presligio distinias, sondo @ aquisi¢o por compra a modalidade mais respeitivel, posto que consisle em uma escolha realizada por um conjunto de especialistas, cuja avioridade foi lagitimada pelo Estado e por suas instituicdes culturais. Apesar das falhas documentais nos processes de aquisigdo erquivades, no caso do contingents de aristas latinocmericanos aqui estudado pode-se chegar ao seguinte quadro: [ANAIS DO MUSEU PAULISTA — vol. 29, 2021 Obres adqui Nome do ridas/Ano | Modalidade ‘e , ortista Ogem Ide aquisigdo | de transagio | Proveniéncia | Desina da obra « Nessus sé Proveniene . Acuita, Wis | oy, localizacéo . Colombia | sant Dejonte/ | Compra | do Salon dv ‘Nena en ges desconrecido Musée do eo de Pave Saintfoarde- Tansferido Barreda, Too uz, fopor/ Compa | Sake Cr | a Musso i. 1928 pe des Beaux Ass Neurhest Mozale Tea Duchewse Stora Peenot Mal de ladquiid om 1983) BolranMas: | Cuba/Espe- |L'Otfondo | Sem informa | Som informa | Réuon des ses, Fe nha s60 S80 * : Porai co ue navigator Akin Gerba todas sem inlomago de ana) ‘Musée Jou de dae ee Brochoret, a, ‘Amazeneso1 | Doane de |Deasao do | ree Vieor le Groupe/ | aris oii er Rochesurton depois de 1954 Nao consta na bose 7 Goleie | Arcade, Som Caner, Sem informe: | Comes Cabo Che |TS/TeG9 |Conee —|Bonbemr | omecto parade da obra ‘ANNALS OF MUSEU PAULISTA - vol, 29, 2021 6, Na ase Acide lo ht thease ait em coledes bts, mas no site do Musée Pompidou/Réunion ft norma 15 Obras adqui- Nomo do i ridas/Ano | Modalidade ‘ancia | Desi cortto OFigem | de aquisigsio | de ransacao |/roveniéncia | Destino da obra To pormine eau/ 1919 (os chasours (sud omérique . sepkal/— |Compa | Faane | nnbong Caxolanos 1919 Carlos Urgval Marchands dowecux/ 1919 Ep09705 | son infommon | Salon dy | Paradeio des surpis par des | Sem infermar | Salon dy or hecido, lndions/ 1926 | °° me Dossié vazio Sem informa Cora, Boni | passe Nature mer | Sem informa: | Solon ay | 9; Anbu nin w/1926 | ga0 Franc Vinysurtore on 1997 care | pow Inprecion | Sem inksma- | Salon ch | Sem wore More [e!/1926 | co0 Franc co Galera Di Cavelean, Sosne brs Museu do Jou ie a fieme/1939 [Compa | Biles Wor oe Pau . To danse oo Sem informa | Musée duou FigarPodko |Uugici | [240 [Compa | Sm Mesto dy ta fontaine de Casiaie Sem informa: | Sem informa SDaphes/ [EP — | cao so F 1923 onseca, | Bail Goson de Tak cem infor Sem informa | Sem forma mnapa0/1933 |S" | a0 so Femme éla Sem informe guitae/1936 |" | cao - Douleeuse/ Sem forma | Musée du logos, Alberto | Argentina | Dou Compra | Sm eee [ANAIS DO MUSEU PAULISTA — vol. 29, 2021 Obres adqui Nome do ridas/Ano | Modalidade ‘e , ortista Ogem Ide aquisigdo | de transagio | Proveniéncia | Desina da obra Newer | oa, | Seminfora | Sem informa morta/ 1926 |S" so sto. a ‘Sem informer Musée du Zar Ohi Fieus/1929 |Compra | 9" nenbeang Dom Quixote som nk dela man | Compra em informe: | ae de Tam cha/ 1937, ee Tes Boxours/ : Galea | Musée de Peso Mom eos 1928 Compra Berhai: jaune | Grenoble of Tévon? oa, ~ Musée du jou 1937 Compra de Paume Musée de Rendon, |. Femmes | Sem informa | Salon ds Mamet — |F04" —| Nies71926 | ca0 Franc Gecko Exposigaao Fam/1928 [Compa | Cuede | Sem ema Roz0, Rémulo | Colémbia tome Som intomer [Sem informer Salon dy |g 80/1926 | ¢a0 Franc pee wae Sangroniz, Sem informer ‘Sem informa | Sem informa luis Albena de | Cie soo/i924 [COMPO | ca sao Transfer po Sicre,ion | cy, Fee ise | Sem informa. | Solon dy | 2a Novel José “ee 1326) | sse precisa | Franc Calédonie em 1920 Ta naine che . 7 | compre | Gale Char | Massed ee pontior Luxembourg Terry jose Colorne Obra onco- Antonio Argentina 60 mabe mendada | Maite famentio Vcanpra— adontn a | dEvinles Sine we Celdode | Bons grant 1987 on Toledo Fiza, | 2.) Paysage de | Coney | Seminfommer | Musée du jeu Domingos V,_| Bes! neige/1934_| COMP so de Poume ‘Quinquela fet dorage/ Galerie Char Musée du joo Martin, Benito [9° | 1926 Compra pentior de Pune ‘ANNALS OF MUSEU PAULISTA - vol, 29, 2021 37, Ak das tls cats, Vicente do Reo Montcieo eve otras tn ais termcate gover fraces apd 0 mateo tm pal da presente ess, Sot ram des ar 1959, Le Buco, em 1964 7 38, Fie Boao (1857 1920), arnt de origem sencricins, evens bray aquirdas pelo” Estado (tances antes do period ‘io uma ata de orien (s/foy/Ae400. 39m ss meme, Ani ‘bra compada po B= tad, Porm, em sou dossié foe Archives, Nationale ‘cia’ @ dome, tal co smo outosprovencntes do Stlon Fane est va, Sem filo Sem informa Sem informa Volonzusle | oy, 1913 Compa | cao so anos, Albero | “Absauxon| c,, Galerie Geor | Musée du fleurs/ 1924 “ro ges Petit Luxembourg Sem informa [Salon do | Musée du ev 4921/1920 | co Frane de Paumne No lEude beatae Sem informe- | Atriouicéo do. crchtacixe | Compra ° doamue sao Estado RMN Penretl/1937, (a partie de | Doogie da foabal/—|arisiaao | Sem Mm | pray Yams, |e 1926 Exado gel forroiide | Doacdo do | Colocdo René | pray ime Zar | René Pilon | Philipon ga/ 1924 ipo ip Porta de — Tmeten | Destede | Cobsbo Rint yyy Fama ton «| René Pipon | Pifpon {a boignade/ | Doogie René | Colegio René 1925 Phiipon | Phlipon | RN Rorroitde M. | Doogie René | Colegio René Philipon Philipon Prilipon RMN mulHeres | o,, Obras/Data i IRISIAs. OMe | RENTS | Modaldads | Proveniécia | Desino ‘Amaral, Tosi Compo’ saeae.da| Solon. | Musée de lado Boal sion TA, | os Frone Grenoble cxcal/1926 | « Un prior de 5 ; Beas, — | venancta | meno a | Compo | Sailer | Murdo du mie sobif 1919 ao ixembourg Mone Porto de Gale Renov | Musée du ou Kahlo, Frida | Monco | fatte/1930 [CM | etColls | de Paume ‘Obra ndo Malfatti, Anita | Brosi Figura/ 1926 Serene folon do Iecatzade/ perdido” [ANAIS DO MUSEU PAULISTA — vol. 29, 2021 (MULHERES: Obras/Data ARTISTAS |O%™ — | Go caniacse |Modalidade | Proveniéncia | Desine Em 1930 obra & nransferide Sem informa | Salon du ey Fran Siéna dans Sacco, Cor | pary on bal mae qus/1926 ppora @ Mario de Noumea, Nowvalle Calldoni Tabela 1 ~ Aristas cjas obras foram musealizadas na Franga, c. 1910-1947 Ainda que cada um desses processos possua sua histéria propria possa ser analisado em sua especifcidade, hé elementos que se repetem. Em primeiro lugar, em termos de modalidades de aquisicéo, embora em varios casos as lransagdes sejam desconhecidas, as compras so mais regulares que as doagdes dos artistas ou de colecionadares.4° Em termos de proveniéncia, ha uma reiterada mengéo ae pouco conhecido Salon du Franc, dado esse que levou a uma pesquisa mais pontual sobre ele, que seré abordado a seguir. De acordo com a quantificagéo, em segundo lugar encontramse as obras que foram notadas om exposicdes realizadas em galerias. Apenas em um caso, 0 das trés pinturas de Carles Castellanos adquiridas em 1919, 0 Salon d‘Automne foi apontado como espaco de proveniéncia Jé no que diz tespeito ao destino dado és obras adquitidas, a maior parte foi designada ao Musée du Jeu de Paume, que constituia um brago do Musée du Luxembourg dedicado & arte contemporanea estrangeira até 1930, quando so tornou independents. Algumas foram endoregados ao Musée de Grenoble, que teve um papel picneito no colecionismo pilblico de arte modeina para a Franca desde os anos 1920, sob a direcdo renovadora de Andryfarcy.*' Ja em 1928, © Musée de Grenoble adauiriv uma tela de Vicente do Rego Monteiro, Les Boxeuss, datade de 1927. No mesmo ano ingressaram ainda duas pinturas, por meio de designacao do Estado, a tela Cuca, doada por Tarsila do Amaral (ver Tabela 1), © a pintura Femme nue do equatoriano Manvel Rendon, ambas exibidas no jé mencionado Salon du Franc Vale lembrar que outras obras foram enviadas para destinos periféricos, para decoracéio de embaixadas e consulados franceses, em instiuicSes no ultramar colonial (como a Nova Caledénia ou sedes de prefeituras na propria Franga (tal como a obra de Benjamin Coria, encaminhada & mairie de Vitry- ‘ANNALS OF MUSEU PAULISTA - vol, 29, 2021 40. Na wala, 9 peso dh estado apna Angel ‘aeraga eve obras dos por eatcsnadores No pe ‘oop 1947 eas reas, come montra 0 fo de Joaquin Torres (arcs, que note aco ima obra adquirida neste momento, mae a partir dt Aeeads de 1950 recebe guides edaagoes diver 135 para museus ranceses. seb adizeao de Andy Far 4919-1949) exercew um Dupe! pionciro na ranch Sic, museatiacio econ Saracto da arte moderna Foi price instruin sian, Chana Orlof, entre fates, em S08 cokG20 & {xpos 20 pubico a aoe soe 1920, Dera tela © trangcios fram adi fas, desde 0 | tds, ate belorusso Ossip Zadkine Sire 0 mse: Le Mi sede Grenoble 198). 19 $2.65 apse Aree vo. 20 surloite), destinagdes essas que néo contribuitam para sua visibilidade e para © amplo reconhecimento dos artistes. Tal opacidade revelase mesmo no presente, pois essas obras, em geral, ndo estéo reproduzidas nas bases vituais francesas de obras de arle musealizadas. Nesse cenério pouco consagrador, © caso do Musée de Grenoble particularmente relevante para os artistas latino-americanos, pois ele foi, até a criagéo do MNAM, uma instituigéo referenciel para a arte moderne na Franca No que diz respeito &s mulheres, entre as cinco mencionadas na Tabela , das quais quatro séo de otientacéo modemniste, 8s tiveram obras musealizadas a partir de sua exibicéo no Salon du Franc, o que sublinha a importéncia desse evento ccorride em 1926 para os artistas latino-americanos, E preciso notar que a pesquisa sobre mulheres encontra um desafio maior junto as bases de dados dos Archives Nationales. Embora exista uma rubrica especialmente dedicada cos “noms ¢'artistes femmes" (arlstas mulheres|,¢? apenas Tarsila do Amaral foi encontrada nessa classificagéo especifica. As demais aristas estao na listagem geral, dedicada aos “nom d’artist” (nome de ailistas, podendo ser confundidas com homens). Provavelmente isso se deve & barreira linguistica © @ dificuldade de identificagéo dos nomes préprios femininos em outro idioma, Anita Malfatti e Carmen Sacco aporecem na lista de arlistas gerais e esido inlroduzides por M., abreviatura de monsieur, ou seja, senhor. © caso de Frida Kahlo merece ainda comentérios particulares, pois aparece lisiada como "mme. Kahlo" de Rivera e, portanto, na lista R, como “Rivera, ainda que precedida com *mme.”, ou seja, senhora, No dossié, a sitvacdo 6 ainda mais problemdtica, pois 6 mencionada como Frida de Rivera Aié onde se sabe, Frida jamais assinou seu nome como “senhora Kahlo Rivera’, mas esse deslize compreensivel quando se [8 o parecer que embasou a compra da tela. © texlo assinado por And:é Dezarrois, conservador responstivel pelo Musée du Jeu de Paume ‘A esposa do mais importante pintor vvo das duas Américas, Diego Rivera, ele: mesma uma asta curisa o tlertosa, acaba de relizar uma exposicdo em Paris, na Galera Rencu ot Coll, sob © patrecinio do posta André Breton, obras de cardtersurealst, clgumas das unis charmosas, especialmente um auiorreato; antes de regressar ola props que @ det vata pora as colegdes do fev de Paume cade a are mexicana é, por assim dize,inexisten fs, por uma soma de 1.000 frances. Tenho assim a henra de Ihe propor essa oquisico. [ANAIS DO MUSEU PAULISTA — vol. 29, 2021 Figura 4— Foto da copa do dessé de Frida Kahlo, Archives Nationales. FX21\6743. Foto: Avera. ‘ANNALS OF MUSEU PAULISTA - vol, 29, 2021 2) 22 Figura 5 — Pareeer assinado por Andké Dezexrois sugerindo a compra de obra de Frida Kahlo. Pas to/dossié de Frida Koblo- F\21\6743. Archives Nationales. Foto: Autor No entanto, so poucos os artistas latinoamericanos cuja documentaséo ‘eferente ds obras musealizadas trazem pareceres como os de Frida Kahlo. Esses, de algum modo, sinalizam a cbtengao do tte sonhado “nome proprio” no campo arfisico. Podese citar outtos casos, como os de Carlos Castellanos, Vicente do Rego Monteiro € ainda Di Cavalcanti, cuja compra de Scénes bresiliénnes foi proposta também por André Desarroiz, em 1939, com vistas a enriquecer a colegdo do Musée du Jeu de Paume com uma obra do Brasil, pats que foi [ANAIS DO MUSEU PAULISTA — vol. 29, 2021 apontado por ele como praticamenie ausente dos acervos (Figua 6). Porém, divetsos oultos processos dos Archives Nationales néo possuem nada além da capa — so dossiés vazios. Em geral eles possuem um elemento em comum: esto ligados a0 j& mencionado Salon du Franc BEERS slam, | ferns EBL Sanviye oe Figua 6 —Porecer assinado por Andké Dazattos recomendando @ aquisicdo de uma tals de Di Cav cari, Seine Brésiionne, Archives Nationals Dessié/Pasta de Di Cavalcanti F\21\6730. Foto: avira. ANNALS OF MUSEU PAULISTA - vol. 29, 2021 23 43. Walt (1926, ap, duce pons) No orig “Pars est abité pa Tes pines seupteurs dt monde enter Quand is ‘roient voit vers Ia rane flu Macha tie: pour {acontsnitionvoomtaie 3 ln defense financier dsl cu um grat la’ 24 © SALON DU FRANC Enire 0s 28 artistas mencionados na Tabela |, onze tiveram obras expostos no Salon du Franc. O evento foi realizado em 1926 no Palais Galliera, congregando 142 aristas provenientes de 36 paises © contou com © patrocinio do jomnal Paris Midi, alam de receber o apoio de diversas embaixadas e consulados, O Salon du Franc foi um evento colelivo de carder bonemérito em que os pinturas « esculturas expostas tiveram seus valores de venda convertides para 0 beneficio da Franca. © objetivo era colaborar na reconstrucée do pais, que vivenciava ainda as consequéncias do pésPrimeita Guerra Mundial. Algumas obras ali expostas foram doadas para insitvigdes francesas, enriquecendo suas coledes ©, como se pretende aqui sugerit, também prestigiando seus doadores. No prefacio do catélogo assinado por Maurice de Weleffe, secretério da imprensa da Europa Latina e Amética do Sul, © autor afirma que: Paris 6 habitada por pintores © esculores do mundo inisiro que oqui vem estudor. Quando cles 56 tornam célebres, créem tor contraido para com a Franca uma divida intelectual. O pelo do Marechal Jofte pela contibuicdo voluntéric & defesa financsira do solo francés provocou neles um grande élan.® © comité organizador do salon foi presidido pelo artista sueco Rolf de ‘Maré, sendo ainda composto por Wolelfe, seu viceppresidente, e por um secretério, © atsta portugués Canelas da Silva Quilhéa. O comité fot assistido para « vende das obras pelo st. Schoeller, responsével pela galeria Georges Petit. © evento conlou ainda com o apoio de diversas autoridades politicas e culturais francesas, como 0 Ministto das Relagdes Estrangeiras, 0 directeur de Beaux Aits, Paul Léon; além de personalidades do grand monde, representanies de fortunas internacioncis, como 0 barde custriaco Eugéne de Rothschild; senhora Reginald Vanderbilt; a colecionadora italiana Marquesa Casati, entre outros. Pode-se compreender o Salon du Frane como uma resposta ao texto de Warned, mencionado no comeco deste artigo dedicado a Escola de Paris e que fora publicado apenas um ano anies. O autor se referira ao modo come os arfstas estrangeitos poderiam saldar as dividas assumidas pare com a “pata artistica” que 0s acolhera @ estimulara. Segundo o caldlogo, tal divida seria saldada por meio do entusiasmo na patticipagdo nessa empreitada que, até onde se saiba, foi © Unico evento no periodo a ter esse cardler assumidamente benemétito. [ANAIS DO MUSEU PAULISTA — vol. 29, 2021 Entre os 142 artistas presentes, muitos eram russos, alemaes, belgas, 44 Base aspecto taht poloneses, espanhdis, italicnos ete. Havia também alguns latinc-americanos: fal 200s. p 24820, ‘os peruanos Luis Alberto Acufia, Jean Manuel Cardenas Castro e Carmen Sacco; os mexicanos Benjamin Coria e Angel Zérraga; os uruguaios Carlos Alberto Castellanos e Pedro Figari; 2, ainda, os brasileiros Toledo Piza, Anita ‘Malfatti ¢ Tarsila do Amaral. Estavam eles ao lado de nomes de grande sucesso naquele momento como Foujita, que assinou @ vinheta do catélogo, Chagall, Van Dongen, Juan Gris ¢ algumas mulheres como Alice Halicka, Chana Orloff Maria Mela Muter, entre outtas. Certamente, suas parlicipagées no salon demonsiram que gozavam de boa reputagéo nos meios franceses, alguma inseredo e respeitabilidade, e, também, de que aquiesciam com a ideia de que nutriom uma divida para com a Franga: No entanio, essa doagao pode ter trazide ganhos ndo apenas para os receplores, mas para os proprios docdores. A consulta és pastas dos artistas brasileiras nos Archives Nationales, em especial és de Anita Matfatti ¢ Torsilo do Amaral, tornou perceptivel que foi justamente gragas esse salon que ambas passaram a fer obras em colecées pblicas francesas, o que significa que passaram também a serem mencionadas na documeniago oficial. Ambos os dossiés estéo, eniretanto, vazios, razendo, na capa, apenas a informagGo sobre a proveniéncia da obra (Salon du Franc, sem imagens, documentos ou notes. Ja no caso de Tarsila, as informagées mais minuciosas sobre a obra estéo disponiveis apenas no Museu de Grenoble. Por meio da documentacdo ali arquivada, compreende-se que a tela ali intitulada Composition (na verdade, «2 Cuca) foi futo de uma doagde da arlsta, ¢ néo de ume aquisigao, como por vezes se acredita.”4 Tratase de um gesto estratégico, pois, por meio dele, a artlista logrou inclvir uma de suas obras numa colesdo piblica francesa, A doasao ao Salen du Franc consituia, assim, uma boa [e tara) oportunidade de inser¢G0 que tais artistas souberam aproveitar. As aquisigdes de obras de arte moderna por compra praticamente inexistiam nos anos 1920, tornando-se um pouco mais relevantes nos anes 1930, durante o Front Populaire. Mas nao. havia como, obviamente, o grande contingente de latino-americanos atvantes na década de 1920 preverem que os anos posteriores seriam mais amistosos ds aquisicdes onerosas — doar e7a, portanto, uma excelente estratégia naquale momento para obter insergdio nas colegdes piblicas. AAs doagées fellas por colecionadores eram aié mais raras que as fetas por arlstas, pois pressupunham trés condicdes indispensaveis: « exisléncia de obras junto € uma colecdo privada {mas poucos gozavam dessa possibilidade); de um doador que quisesse se desfazer de obras suas em prol das colesées pablicas; e, ANNALS OF MUSEU PAULISTA - vol. 29, 2021 25 26 finalmente, que as comissées dos museus julgassem as obras oferecidas por um colecionador como de interesse piblico, Nesse sentido, oferecer trebalhos para © Salon du Franc surgi come uma oportunidade quase coletiva pora os estrangeitos poderem doar suas obras © os verem aceitas pelos museus piblices. Esse atalho era copaz de oferecer um elemento de presigio, que os atisias podertam mobilizar em suas cartelios @ que se fornae ‘elevanie em seus paises de origem, signo do sucesso alcangado no exterior Figura 7 — Pasta do dossié de Anita Mati. Archives Notionales. Detahes: absixo,dieita, manuscito: "Dossié vide". Archives Nationales. F/21/4241. Foto: Aulora [ANAIS DO MUSEU PAULISTA — vol. 29, 2021 Figura 8 ~ Copa do dessié/pasta do Tarsila do Amaral. Archives Nationcles. F\21\4725. Foto: Auta Infelizmente, as pastas de attisias atteladas ao Salon du Franc esto completamente vazias, ndo sendo algo exclusivo a Anita e Tasila, Nao hé pareceres, textos cticos ou quaisquer outs notas em tals processos, 0 que inviabllza andlises mais aprofundados sobre os mites @ manifastacdes de métio sobre fais doagbes. © Salon du Franc & um episédio menor na hisléria da ce francesa, sendo raramente lembrando ou alé mesmo mencionado nos estudos sobre saldes do perfodo; no dbstante, para a histéria dos artistas alinoamericanos na Franca faker se de um evento nada neglgenciavel, cuja compreensdo mais aprofundada esbarra hoje, porém, no carder lacunar das fontes disponiveis. ‘ANNALS OF MUSEU PAULISTA - vol, 29, 2021 27 45, reins Art Vine foi tno contesto frances dom nos de 1920 a comegon ft ser eta cm 1926 po ser ple en 1939. Se undo Beate Jeu Pre fh cra uma das ts pei ‘inals revs de ates Trang: "Tois revbescomp- tique pascnne dass ea teedetegvertes» Eamon de Var (fond en 1920), Art vivant (1925) eb es aber 44 1925. Towes twos apparences sia es ormat tune quaran es eepradtions), cles se ‘isinzuien parler peo fiotecmenetle po es dire pour Lr vieand, eur pe (LAr cian etant ‘moins cher, dane par Ie par Tart qu‘etis sou int. les ne fvoneint pas parsclerement inn tation” Joyous Pronel Gory, p. 46. Michaud (1996. Fagor da at, oi dict do Muse du Liem foe 1992. 1925 48. A revit 0 presenta como “eiique dat, mae hand de tableau ond {curd soe Der Que nit Propretaie de flees dst a Dussldod, eri, Cologne, Frinton’ 28 A PRESENCA DOS ARTISTAS LATINO-AMERICANOS NO MUSEE NATIONAL D‘ART MODERNE (1942/1947) Desde os anos 1920, discutiase a necessidade de se criar um museu dedicado especialmente & arte moderna na Franca. Em 1925, por exemplo, a tevisla Art Vivant promoveu uma pesquisa junio @ artistas, ctiticos, colecionadores, infelectuais & comissérios de museus, que entdo respondiam as duas pergunias estabelecidas pelo periédico: (] se se fazia necessdria a criagdo de um muscu dedicado 4 cate moderna®: (2 quem seriam os dez pximeiros artistas ferem obras adquiridas pela instvigaoe® ‘A enguete foi uma reacdo 4 crise do Musée du Luxembourg, deflograda com © processo de sucessdo de sou diroor, lsonce Bénédite.”” Desde o inicio, a sitvagao cess instvigdo estava um fanto incerla, pois por vezes era parcebido como “um museu de passagem’, posto que, apés dez anos do falecimento do artista, suas obras al expostas deveriam ser ranspostes para o Leute, onde petmanecetiam definivamente. A fragilidade do Luxembourg se acenluou & medida em que sa politica aquistiva continuou a seguiro “gosto oficial” duran as primeitas décadas do sculo XX, quando a Academia ja perdera muito de sua importéncia. Com o falecimento de Bénédite, em 1925, ctiouse ume acasiée propicia para discutir © devir do museu. Havia duas questdes em jogo por rés da ideia de um museu de arte moderna francesa. Em primeiro lugar, o termo modemo. Come defini © que seria a “art vivant2 O problema néo era simples. Como escolher as obras mais representativas do presente, diante de uma iéo grande pluralidade de estils © escolas® Para aqueles mais afinados com as prerrogativas da arte modema, boa parle da producao adguiride pelo museu nos times decénios era uma arte ulrapassade que s6 perpetuava uma tradigéo vista como obseleta. Para outros, porém, a produgto que soguia os cénones da Escolo de Belas Arles congregava 0 verdadeiro saber fazer, que escapava das regras do presente, visas como simples modisme. Em segundo lugar, @ néo menos importante, impunhase a quesiée de quem deveria estar representado no museu de arle moderna francesa. Essa ere uma questo sensivel ao menos desde 1922, quando as obras de artistas estrangeiros do Musée du Luxembourg foram alocadas no Musée du Jeu de Paume © passaram a ter um lugar para si; j@ que a produgao contemporéines francesa de orlentagéo modeinista ainda néo possuia um espaco prdprio, como vimos anterlormente. Além disso, acreditavarse que as obras modemas francesos de melhor qualidade haviam side adquiridas por colecionadores ou insttvigses eslrangeiras , por conseguinte, néo mais estariam no pais. Os comentrios do galerisa Albert Flachtheim® sao primorosos nesse sentido. Diz ele: [ANAIS DO MUSEU PAULISTA — vol. 29, 2021

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